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2011 Contabilidade avançada Prof. Fabio Darci Kowalski Copyright © UNIASSELVI 2011 Elaboração: Prof. Fabio Darci Kowalski Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 657.046 K884 c Kovalski, Fabio Darci Contabilidade avançada / Fabio Darci Kowalski. Indaial : Uniasselvi, 2011. 227 p. il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-449-2 1. Contabilidade avançada I. Centro Universitário Leonardo da Vinci III apresentação Caro(a) acadêmico(a)! Iniciamos os estudos de Contabilidade Avançada. Vamos mergulhar num universo mágico, onde as tecnologias da informação nos permitem a utilização de técnicas da aprendizagem de maneira a trilhar com mais eficiência os caminhos do saber fazer. É você quem deve controlar o seu processo de aprendizagem. Deverá seguir caminhos que, em parte, estão estabelecidos, tais como os encontros presenciais, os encontros midiáticos, o período de autoestudo, a realização de autoatividades e caminhos de aprendizagem traçados por você, que terão convergências momentâneas com os caminhos de outros aprendizes, momentos em que as interações serão necessárias, possíveis e, certamente, intensas. Você deverá vivenciar situações nas quais os Sistemas de Informação serão usados como recursos educacionais. A Contabilidade Avançada abrange determinados temas que auxiliam diariamente o contador na tomada de decisão. Por se tratar de um assunto mais técnico, a contabilidade avançada somente é apresentada nas disciplinas finais dos cursos de graduação em Ciências Contábeis, uma vez que o acadêmico, nesta fase, já possui uma visão mais ampla sobre a sistemática contábil. A contabilidade avançada permite ao contador se diferenciar no mercado de trabalho, pois abrange temas que podem gerar grande economia para as empresas. O Caderno de Estudos da disciplina de Contabilidade Avançada foi construído com esta intenção. Apresentamos, na sua Unidade 1, o custo de oportunidade e o método de avaliação de empresas. Na Unidade 2, os juros sobre capital próprio e a avaliação de investimentos e sociedades controladoras, controladas e coligadas. E, por fim, na Unidade 3, apresentamos a consolidação das demonstrações financeiras e a contabilidade de matriz e filial. Então, mãos à obra! Prof. Fabio Darci Kowalski IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1: CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS ........................................................................................................... 1 TÓPICO 1: CUSTO DE OPORTUNIDADE ................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 3 2 A EVOLUÇÃO E CONCEITOS DO CUSTO DE OPORTUNIDADE .................................... 3 3 ENFOQUE ECONÔMICO E CONTÁBIL ................................................................................. 9 4 TAXA DE OPORTUNIDADE ......................................................................................................... 11 5 PROCESSO DECISÓRIO ................................................................................................................ 11 6 A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CUSTO DE OPORTUNIDADE ................................... 12 7 MODELOS DE APLICAÇÃO DO CONCEITO DE CUSTO DE OPORTUNIDADE ......... 12 8 A TEORIA DA UTILIDADE E OS CUSTOS DE OPORTUNIDADE .................................... 14 9 APLICABILIDADE DO CONCEITO DE CUSTO DE OPORTUNIDADE ........................... 16 10 PREÇO DE TRANSFERÊNCIA E CUSTO DE OPORTUNIDADE ...................................... 17 11 CUSTO DE OPORTUNIDADE NOS ESTOQUES .................................................................. 20 12 APLICAÇÃO DO CUSTO DE OPORTUNIDADE ÀS DECISÕES DE PREÇO ................ 21 13 A NATUREZA ECONÔMICA DOS CUSTOS .......................................................................... 22 13.1 CUSTOS SOCIAIS ................................................................................................................... 22 13.2 CUSTOS EXPLÍCITOS ........................................................................................................... 22 13.3 CUSTOS IMPLÍCITOS OU DE OPORTUNIDADE ........................................................... 23 13.4 CUSTO DO CAPITAL ............................................................................................................ 23 14 CONTROVÉRSIAS DO CUSTO DE OPORTUNIDADE ....................................................... 23 15 EVA – ECONOMIC VALUE ADDED ............................................................................................ 24 16 EXEMPLOS DIVERSOS ................................................................................................................ 26 RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 34 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 35 TÓPICO 2: MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS ........................................................... 41 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 41 2 AVALIAÇÃO DE EMPRESAS ........................................................................................................ 41 3 MÉDODO DO VALOR CONTÁBIL COMO BASE PARA A AVALIAÇÃO ........................ 42 4 MÉTODO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO CORRENTE COMO BASE PARA A AVALIAÇÃO .................................................................................................................................. 45 5 MÉTODO DE CAPITALIZAÇÃO DE LUCROS COMO BASE PARA AVALIAÇÃO ........ 47 5.1 CUSTO MÉDIO PONDERADO DO CAPITAL ...................................................................... 50 5.2 HORIZONTE E PREVISÃO DO LUCRO PROJETADO ........................................................ 56 5.3 CUSTO DEOPORTUNIDADE E O PATRIMÔNIO LÍQUIDO INICIAL ........................... 57 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 62 RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 65 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 66 UNIDADE 2: JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO E AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS E SOCIEDADES CONTROLADORAS, CONTROLADAS E COLIGADAS ......................................................................... 71 sumário VIII TÓPICO 1: JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO .......................................................................... 73 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 73 2 CONCEITUALIZAÇÃO DOS JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO .................................... 73 3 TRATAMENTO LEGAL .................................................................................................................. 76 3.1 IMPOSTO DE RENDA ................................................................................................................ 77 3.2 CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO ..................................................... 80 4 REGISTRO COMO DESPESA FINANCEIRA ............................................................................ 81 5 RESERVA DE REAVALIAÇÃO E AJUSTE DE AVALIAÇÃO PATRIMONIAL ................... 82 6 IMPOSTO DE RENDA NA FONTE .............................................................................................. 85 7 JUROS SOBRE JUROS .................................................................................................................... 85 8 REFLEXOS NAS INVESTIDORAS ............................................................................................... 88 8.1 INVESTIDORES DIVERSOS E SUA FORMA DE TRIBUTAÇãO ........................................ 91 8.2 CONVENIÊNCIA DA DISTRIBUIÇÃO DO PONTO DE VISTA DO ÔNUS TRIBUTÁRIO ..................................................................................................................................... 92 9 CÁLCULO DOS JUROS PRO RATA ............................................................................................ 95 10 IMPUTAÇÃO DOS JUROS AOS DIVIDENDOS OBRIGATÓRIOS .................................. 98 RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 100 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 101 TÓPICO 2: AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS E SOCIEDADES CONTROLADORAS, CONTROLADAS E COLIGADAS ................................................................................................... 107 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 107 2 MÉTODO DE CUSTO ..................................................................................................................... 107 2.1 PARTICIPAÇÕES EM OUTRAS EMPRESAS .......................................................................... 109 2.2 NOTAS EXPLICATIVAS ............................................................................................................. 110 2.3 DIVIDENDOS OU LUCROS RECEBIDOS .............................................................................. 111 3 MÉTODO DE EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL ..................................................................... 112 3.1 ASPECTOS LEGAIS .................................................................................................................... 116 3.2 MÉTODO DO CUSTO X MÉTODO DA EQUIVALÊNCIA ................................................. 116 3.3 QUEM DEVE APLICAR A EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL ........................................... 118 3.3.1 Coligadas ............................................................................................................................ 119 3.3.2 Equiparadas às coligadas ................................................................................................. 119 3.3.3 Controladas ........................................................................................................................ 120 3.3.4 Variações no patrimônio líquido da investida .............................................................. 120 3.4 AQUISIÇÃO DE INVESTIMENTOS COM ÁGIO OU DESÁGIO ...................................... 121 3.4.1 Fundamento econômico do ágio e do deságio .............................................................. 124 3.4.2 Amortização do ágio e deságio ....................................................................................... 125 3.5 LUCRO OU PREJUÍZO NÃO REALIZADO .......................................................................... 127 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 129 RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 133 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 134 UNIDADE 3: CONSOLIDAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E CONTABILIDADE DE MATRIZ E FILIAL .......................................................... 143 TÓPICO 1: CONSOLIDAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS .......................... 145 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 145 2 CONCEITUALIZAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS CONSOLIDADAS ........................................................................................................................... 145 3 TRATAMENTO LEGAL .................................................................................................................. 147 4 O QUE SÃO DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS CONSOLIDADAS ................................... 147 IX 5 EMPRESAS OBRIGADAS A ELABORAR AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS CONSOLIDADAS ........................................................................................................................... 149 6 DEMONSTRAÇÕES CONSOLIDADAS E EM SEPARADO (INDIVIDUAL) CONFORME A RESOLUÇÃO 1.262/2009 DO CFC ................................................................... 151 7 PROCESSO DE ELABORAÇÃO ................................................................................................... 152 8 NOTAS EXPLICATIVAS ................................................................................................................. 157 9 EXEMPLOS DE CONSOLIDAÇÃO .............................................................................................. 157 RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 171 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 172 TÓPICO 2: CONTABILIDADE DE MATRIZ E FILIAL ............................................................... 187 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 187 2 CONCEITUALIZAÇÃO DE MATRIZ .......................................................................................... 187 3 CONCEITUALIZAÇÃO DE FILIAIS, SUCURSAIS E AGÊNCIAS....................................... 188 4 FORMAS DE CONTABILIZAÇÃO ENTRE MATRIZ E FILIAL ............................................ 189 5 APURAÇÃO FISCAL E TRIBUTÁRIA ......................................................................................... 190 6 EXEMPLOS ........................................................................................................................................ 194 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 207 RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 211 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 212 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 222 X 1 UNIDADE 1 CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade você será capaz de: • interpretar o custo de oportunidade em relação a investimentos; • conhecer algumas das principais formas de avaliação de empresas. Esta unidade de estudo está dividida em dois tópicos. Neles, você encontrará a definição e interpretação do custo de oportunidade, bem como uma abordagem acerca dos métodos contábeis de se avaliar uma empresa, além de vários exemplos práticos e exercícios de fixação, que serão desenvolvidos no decorrer dos estudos de cada tópico. TÓPICO 1 – CUSTO DE OPORTUNIDADE TÓPICO 2 – MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CUSTO DE OPORTUNIDADE 1 INTRODUÇÃO Neste primeiro tópico, identificaremos e interpretaremos o custo de oportunidade. Veremos os principais conceitos do custo de oportunidade, sua aplicabilidade no mercado por meio de exemplos práticos em investimentos diversos e a diferenciação entre seu enfoque econômico e contábil. Constataremos que para todo e qualquer investimento, faz-se necessário um estudo prévio, uma comparação entre o custo benefício, financeiro e/ou econômico, além da consideração do fator risco. 2 A EVOLUÇÃO E CONCEITOS DO CUSTO DE OPORTUNIDADE Sabe-se que a Contabilidade, em geral, tem a função de controlar a movimentação patrimonial, em que se registram as alterações dos valores de bens, direitos e obrigações e demonstrar a posição financeira da empresa. Estas informações são direcionadas aos usuários externos, como, por exemplo, acionistas, credores e autoridades governamentais. Os dados analisados são passados, ou seja, fatos que já ocorreram, sem deixar qualquer argumento ou ferramenta para uma tomada de decisão errônea, executada pelos administradores. Neste contexto, a Contabilidade pode ser visualizada como um sistema a fim de fornecer informações financeiras e operacionais direcionadas para os usuários internos – administradores, funcionários etc. – melhorando, então, a tomada de decisão. UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 4 NOTA O custo de oportunidade é um método utilizado pelos gestores. Sua finalidade é analisar as diversas formas de maximizar seus resultados. Estas análises podem verificar se o retorno sobre o capital investido é positivo ou não, pois se verifica o custo benefício de determinadas mudanças ou acontecimentos existentes na empresa. As empresas que disponibilizam recursos financeiros para determinados investimentos, ficam de frente com diversas alternativas e possibilidades de sua aplicação. Sabe-se que estes recursos para investimento são bastante escassos e, por esta razão, os gestores devem analisar a melhor alternativa de investimento, utilizando-se das ferramentas existentes para tal tomada de decisão. Quando a empresa tem mais de uma alternativa para tomada de decisão, pode estar diante do conceito de custos de oportunidade. Neste contexto, verifica- se a importância da análise antes da tomada de decisão, pois, caso esta decisão seja errada, a empresa arcará com seus reflexos, que na maioria das vezes resultam em prejuízos capazes de comprometer o equilíbrio financeiro. UNI Na busca de informações sobre o resultado das organizações, sentimos ser necessário abordar também o EVA (Economic Value Added), pois seria uma alternativa de operacionalizar este conceito e avaliar o resultado esperado pelos acionistas. A conceitualização do EVA será analisada no decorrer deste tópico. As empresas estão diante da necessidade da informação. Muitas vezes, a contabilidade financeira não consegue satisfazer a necessidade de seus usuários sob a ótica da informação gerencial, ou seja, da informação voltada à maximização dos resultados. Pode-se ainda dizer que a tradicional contabilidade prepara informações para os usuários externos, que têm objetivos bem diferentes dos usuários internos. As decisões dos gestores estão relacionadas às alternativas existentes para a aplicação de recursos. Neste sentido, ressalta-se a necessidade da análise das alternativas antes da tomada de decisões. Desta forma, diminuem as possibilidades de investimento em alternativas com menos rentabilidade. TÓPICO 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE 5 NOTA Pode-se entender então que o custo de oportunidade ocorre quando existirem no mínimo duas alternativas possíveis para a tomada de decisão. Na concepção de Beuren (1993, p. 2), “um aspecto relevante é que a opção de uma alternativa implica o abandono ou sacrifício da(s) não escolhida(s). Assim, o custo de oportunidade da alternativa escolhida é o custo da alternativa abandonada que lhe proporcionaria maior satisfação”. Então, este custo equivale ao valor de um recurso e à sua melhor utilização, ou seja, é o custo de escolher a melhor alternativa, com condições de obter um maior benefício. Neste sentido, percebe-se que as empresas estão utilizando o conceito do custo de oportunidade em todos os momentos, pois os gestores estão optando por determinadas alternativas no seu dia a dia. O custo de oportunidade não está relacionado apenas às alternativas de investimento, mas, sim, em qualquer decisão que o gestor tenha que optar podendo ser em compras, vendas, estoques etc. O custo de oportunidade é um tema relativamente antigo, tendo seu desenvolvimento na teoria econômica. Atualmente existem vários conceitos sobre o tema, principalmente na área contábil, onde tem sido muito discutidos, principalmente, no meio acadêmico. Segundo Nascimento (1998, p. 34), A trajetória de estudo dos custos de oportunidade tem sua origem no resultado das observações dos pensadores da Teoria Econômica. Não obstante o assunto ter se tornado um tema relativamente discutido pelas Teorias Contábil, de Administração e Econômica, foi na Economia Clássica, a partir das discussões acerca da Teoria do Valor, que o assunto teve seu berço e uma de suas fases mais importantes. Para que as decisões da empresa sejam cuidadosamente analisadas e que resultem em resultado positivo, faz-se necessário entender o conceito de custo de oportunidade. Representa o custo de oportunidade o quanto a empresa sacrificou em termos de remuneração por ter aplicado seus recursos numa alternativa ao invés de em outra, implicando a sua apuração na comparação entre os resultados de diferentes alternativas de aplicação de recursos. (MARTINS, 1998, p. 250). UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 6 Neste sentido, o custo de oportunidade não representa saída de dinheiro do caixa, como, por exemplo, os demais custos existentes na empresa. Para melhor interpretação compara-se com o custo de mão de obra, sendo que neste sim ocorre um efetivo desembolso, ou seja,uma saída de dinheiro. O custo de oportunidade poderia ser a diferença ao menor preço que se obtém em decidir investir em determinada alternativa ao invés de optar por uma segunda possibilidade de investimento. Imagine que determinada empresa efetuará um investimento na primeira alternativa existente em seu contexto, e que este resulte em um lucro $ 10. Caso esta mesma empresa invista a mesma expressão monetária na segunda alternativa teria um lucro $ 15. Sendo assim, a alternativa que será deixada para trás seria o custo de oportunidade. Pode-se concluir neste simples exemplo que se a empresa optar pela primeira alternativa o custo de oportunidade será $ 15, pois este é o valor que se está desprezando, porém, se a empresa optar pela segunda alternativa, o custo de oportunidade será $ 10, pois este é o valor que se está desprezando. Beuren (1993, p. 1) faz algumas considerações sobre custo de oportunidade, entre elas a seguinte: Um ponto que deve ser ressaltado é que a contabilização do custo de oportunidade não se limita apenas à sua importância na apuração do resultado econômico da empresa. A aplicação efetiva do conceito de custo de oportunidade na Contabilidade está, também, voltada a fornecer subsídios importantes para a avaliação de desempenho dos gestores, taxa de retorno nas decisões sobre investimentos, decisões do tipo comprar x fabricar, formação e acompanhamento do cálculo do preço de venda etc. Nos dias atuais, os recursos para investimento são cada vez mais escassos. As empresas, os investidores etc. devem ter todas as ferramentas possíveis para avaliar o desempenho do capital investido, eliminando, assim, as possibilidades ou as alternativas que resultem em prejuízos. Por esta razão os gestores devem não só conhecer o conceito do custo de oportunidade, como, também, utilizá-lo no processo decisório. Para Pereira e Oliveira (apud CATELLI, 2001, p. 389), “O custo de oportunidade corresponde ao valor de um determinado recurso em seu melhor uso alternativo. Representa o custo da escolha de uma alternativa em detrimento de outra capaz de proporcionar um maior benefício, ou seja, é o custo da melhor oportunidade a que se renuncia quando da escolha de uma alternativa”. Nascimento (1998, p. 110) cita diversas definições de custos de oportunidade por outros autores: Glautier e Underdown: Pode ser medido como o valor da próxima melhor alternativa abandonada, ou o recebimento líquido de caixa TÓPICO 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE 7 perdido como resultado da escolha de uma alternativa em vez da melhor seguinte. Dopuch e Birnberg: O custo de oportunidade de qualquer ativo é o valor que pode ser recebido se o ativo for usado em sua próxima melhor alternativa. Shillinglaw: Custo diferencial mensurado pela entrada líquida de caixa, que se perderá se este for desviado de seu melhor uso alternativo. Esse custo diferencial é conhecido como o custo de oportunidade. Matz e Frank: Custo de oportunidade é o valor mensurável de uma oportunidade secundária pela rejeição de um uso alternativo de recurso. Benke e Edwards: É a medida de sacrifício feito no sentido de seguir um curso particular de ação. Entretanto, segundo Nascimento (1998), com relação ao atributo que deve ser imputado ao custo de oportunidade – lucro abandonado, o recebimento que poderia ter sido obtido, o valor da melhor alternativa abandonada etc. – converge na essência do conceito, ou seja, a decisão por um curso de ação implica a renúncia de outras alternativas e dos benefícios delas decorrentes. Dessa forma, o custo de oportunidade representa a escolha da melhor alternativa dentre duas ou mais possíveis, é o comparativo do benefício da alternativa escolhida com o benefício possível das demais. Fischer (1971, p. 25) comenta que “um processo de escolha racional não pode levar em consideração apenas a comparação dos benefícios com seus custos, num sentido restrito. O verdadeiro resultado da escolha aparecerá com o julgamento do resultado de alternativas de decisões rejeitadas”. NOTA De fato, os custos de oportunidade existem em razão da consequência comparativa de diversas alternativas, e que estas, por sua vez, possuem características distintas, o que poderá elevar o grau de dificuldade na sua escolha. Deste modo, Nascimento (1998, p. 105) entende que A questão da diferenciação dos riscos existentes em cada alternativa de aplicação de recursos é um fator de dificuldade para a implementação plena do conceito de custos de oportunidade. Essa reconhecida limitação tem levado os estudiosos das áreas financeira e contábil a buscarem meios alternativos que permitam a aplicação prática do conceito. Os riscos existentes nas alternativas são subjetivos, pois o retorno pode ser positivo como também negativo. Esses riscos devem ser julgados diante de UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 8 várias alternativas, como, por exemplo, uma aplicação segura, como no caso da poupança que limita o rendimento à correção atual, ou uma aplicação na bolsa de valores, na qual os rendimentos podem ser bem superiores à poupança, o que faz o risco aumentar consideravelmente. Martins (1998, p. 255) também faz uma reflexão sobre os riscos, pois diz que “normalmente esse tipo de comparação tende a ser um pouco difícil, em função, principalmente, do problema do risco”. Vamos considerar a definição de Pindyck e Rubinfeld (1994) citado por Santos (1995, p. 9), para que depois possamos exemplificar os riscos existentes nas alternativas. [...] considere uma empresa que possua um edifício, portanto que não paga aluguel pelo espaço ocupado por seus escritórios. Será que isto estaria significando que o custo do espaço ocupado pelos escritórios é zero para a empresa? [...] um economista observaria que a empresa poderia ter recebido aluguéis por tal espaço, caso o tivesse alugado a uma outra companhia. Este aluguel não realizado corresponde ao custo de oportunidade de utilização do espaço dos escritórios, devendo ser inserido como parte dos custos econômicos das atividades da empresa. Considerando esta definição poderíamos dar o seguinte exemplo: uma empresa vai utilizar seus recursos na compra de um prédio para alugar. O valor que ela ganharia de aluguel é uma boa maneira de medir o custo de oportunidade em comparativo, por exemplo, com o investimento numa outra fábrica de ramo diferente ou até mesmo igual ao que já atua. O grau de risco de um e outro empreendimento é bastante diferente. Por isso a comparação entre os retornos é também sem muito sentido. Segundo Pereira e Oliveira (apud CATELLI, 2001, p. 390), Os pontos abordados a seguir estão implícitos ao conceito de custo de oportunidade: a) o custo de oportunidade de um fator representa, economicamente, o seu verdadeiro valor; b) o problema da decisão consiste na escolha de duas ou mais alternativas viáveis de uso dos recursos; c) usos alternativos dos mesmos recursos podem propiciar diferentes resultados; e d) o que é sacrificado quando da opção por uma alternativa é a possibilidade de obtenção de melhores resultados em outras oportunidades. Esses pontos sustentam algumas definições do Modelo de Gestão Econômica relativamente à adoção do conceito: a) as alternativas consideradas devem ser viáveis e possíveis diante da estrutura operacional do negócio; b) a diferença entre o custo de oportunidade dos recursos consumidos no processo de obtenção de produtos/serviços e o custo efetivamente incorrido espelha o valor adicionado pela atividade (resultado econômico); TÓPICO 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE 9 c) as alternativas devem considerar a natureza, o estado atual e futuro da situação em avaliação; d) para avaliação de desempenhos das áreas, devem ser consideradas as alternativas que estão dentro dos limites de autoridadee responsabilidade dos seus respectivos gestores; e e) o mercado desempenha importante papel na determinação do custo de oportunidade. Considera-se então, que não basta apenas analisar duas ou mais alternativas. Para que se possa verificar o custo de oportunidade é preciso que essas alternativas tenham certa afinidade, que propiciem um horizonte de tempo de retorno de investimento parecido e que não haja excessiva diferenciação de mercado, como, por exemplo, produto, ponto comercial, carteira de clientes fatores macroeconômicos etc. Simplificando, pode-se dizer que analisar o custo de oportunidade em se investir numa fábrica de sorvete ou numa metalurgia pode dificultar e até neutralizar a eficácia do resultado desse custo de oportunidade, seja pela diferenciação operacional ou pelos demais fatores que poderiam ser relacionados às duas alternativas propostas. 3 ENFOQUE ECONÔMICO E CONTÁBIL O custo de oportunidade pode ter dois enfoques, ou seja, o enfoque econômico e o contábil. Pode-se verificar que o enfoque econômico é muito mais utilizado, enquanto que o contábil fica um pouco de lado em razão de não ter uma forma específica de ser contabilizado na contabilidade financeira, sendo, principalmente, utilizado na contabilidade de custos e gerencial. Sob o enfoque econômico o custo de oportunidade, ou custo alternativo, surge quando o decisor opta por uma determinada alternativa de ação em detrimento de outras viáveis e mutuamente exclusivas, sendo assim representa o benefício que foi desprezado ao se escolher uma determinada alternativa em função de outras. Sob o enfoque contábil, diversos pesquisadores contábeis procuraram operacionalizar o conceito de custo de oportunidade, sob diversos ângulos, dentre os quais a aplicação do conceito de custo de oportunidade como uma informação relevante no processo decisório, por meio de sua incorporação nos modelos de decisão dos gestores, de forma paralela ao sistema formal de informação contábil, notadamente na Contabilidade de Custos e na Contabilidade Gerencial. (SANTOS, 1995, p. 2). Assim, o enfoque econômico no custo de oportunidade é direcionado a opção que foi aceita num comparativo daquilo que se deixou para trás, seus possíveis benefícios. O enfoque contábil, por sua vez, representa as informações contábeis geradas, capazes de proporcionar ao tomador da decisão uma visão mais ampla de sua gestão. UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 10 Segundo Santos (1995 p. 5), para melhor esclarecimento do conceito de custo de oportunidade, sob o ponto de vista econômico, apresentam-se em ordem cronológica, algumas definições expressas por diversos economistas sobre o tema: WIESER (1860): Renda líquida gerada pelo uso de um bem ou serviço no seu melhor uso alternativo; MEYERS (1942, p.194): Custo de produção de qualquer unidade de mercadoria é o valor dos fatores de produção empregados na obtenção desta unidade – o qual se mede pelo melhor uso alternativo que se poderia dar aos fatores se aquela unidade não tivesse sido produzida; BILAS (1967, p.168): Os custos dos fatores para uma empresa é igual aos valores destes mesmos fatores em seus melhores usos alternativos; LIPSEY E STEINER (1969, p. 215): O custo de se utilizar alguma coisa num empreendimento específico é o benefício sacrificado (ou custo de oportunidade) por não utilizá-lo no seu melhor uso alternativo; LEFTWICH (1970, p. 123): O custo de uma unidade de qualquer recurso usado por uma firma é o seu valor em seu melhor uso alternativo. Da mesma forma, mas sob o enfoque contábil, Santos (1995) apresenta em ordem cronológica uma resenha de várias definições expressas nesta área: MORSE (1978, p. 32): É o recebimento líquido de caixa esperado, que poderia ser obtido se o recurso fosse usado na outra ação alternativa mais desejável; KAPLAN (1982, p. 28): O Custo de oportunidade de um ativo é o seu valor quando o mesmo é utilizado na próxima melhor alternativa; BACKER E JACOBSEN (1984, p. 10): É o custo resultante de uma alternativa a qual se tenha renunciado; HORNGREN (1986, p. 528): É o sacrifício mensurável da rejeição de uma alternativa; é o lucro máximo que poderia ter sido obtido se o bem, serviço ou capacidade produtivos tivessem sido aplicados a outro uso operacional; GLAUTIER E UNDERDOWN (1986, p. 638): Pode ser medido como o valor da próxima melhor alternativa abandonada, ou o recebimento líquido de caixa perdido como resultado de preferir uma alternativa ao invés da melhor seguinte; MARTINS (1990, p. 208): O quanto a empresa sacrificou em termos de remuneração por ter aplicado seus recursos numa alternativa ao invés de em outra. Ainda na visão de Santos (1995), a análise dos dois enfoques apresenta os seguintes pontos em comum: a) O conceito de custo de oportunidade pressupõe, pelo menos, a existência de duas ou mais alternativas viáveis e mutuamente exclusivas para o decisor. b) O custo de oportunidade refere-se a algum atributo específico do objeto de mensuração ou avaliação. c) O custo de oportunidade está associado ao valor dos bens e serviços utilizados. TÓPICO 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE 11 4 TAXA DE OPORTUNIDADE Para análise desta taxa devem-se levar em consideração as atividades de uma forma abrangente, ou seja, todas as atividades são capazes de gerar resultados econômicos e financeiros para a empresa. Neste sentido, é necessário definir quais as taxas de oportunidade, que servirão de padrão de comparação com as operações reais da empresa, podendo ser na remuneração dos recursos financeiros contidos no ativo e no passivo da empresa, decorrente dos investimentos dos sócios e acionistas. Esta comparação, através de seu resultado, é de grande importância para verificar se a empresa ganhou ou perdeu quando tomou determinada decisão. Também é possível avaliar se o gestor está agindo de maneira correta ou não. Sobre este entendimento, Guerreiro (1989, p. 15) diz que O custo de oportunidade do acionista sobre os ativos é calculado com base em taxa de juro real de captação no mercado financeiro, a responsabilidade do acionista sobre os passivos operacionais (fornecedores de bens e serviços) é calculada com base em taxa de juro real de aplicação no mercado financeiro, e a responsabilidade dos acionistas sobre os passivos exigíveis (empréstimos bancários) é calculada com base no juro real de captação do mercado financeiro. NOTA Quando o gestor tem que tomar determinadas decisões com relação a finanças em determinada área de atividade, ele deve considerar o custo de oportunidade e as variações na captação ou aplicação de recursos da empresa, em relação a esse custo, que poderá proporcionar receita ou despesa financeira da atividade de finanças, podendo ser uma atuação interna da empresa. 5 PROCESSO DECISÓRIO Com um mercado cada vez mais globalizado, faz-se necessário oferecer produtos e serviços com diferenciais (benefícios), que possam atrair um maior número de clientes possível. Cabe à empresa tomar decisões que influenciarão em seu futuro econômico. Dessa forma, escolher a opção mais vantajosa é questão de sucesso ou fracasso nas organizações. Segundo Nascimento (1998), em uma organização as decisões ocorrem de forma sistematizada. Do planejamento empresarial, formal ou não, até as fases de execução e controle, os passos mais comuns observados, em síntese, são: (I) a identificação do problema a ser solucionado; (II) o estudo das diversas alternativas de solução; (III) a opção pela melhor alternativa. UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 12 Ainda, segundo Nascimento (1998), Na empresa, toda vez que existirem problemas de escolha entre várias alternativas de ação, estará presente o conceito de custos de oportunidade. Quando analisa várias alternativas de decisão,o decisor, intuitiva ou propositadamente, sempre se perguntará se o benefício a ser obtido, em relação ao sacrifício de recursos correspondentes, será o melhor possível nas circunstâncias em que a decisão está sendo tomada. Essa é a exata essência do conceito de custos de oportunidade. 6 A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CUSTO DE OPORTUNIDADE Nascimento (1998, p. 54) apresenta uma síntese das principais contribuições dos autores da Economia Clássica destacados para o tema custos de oportunidade: Smith: Ao defender que o preço de uma mercadoria seria composto pelos elementos trabalho, capital e terra, entendeu que o trabalho era o elemento principal. O preço de um dado bem seria estabelecido pela quantidade de trabalho necessário para sua obtenção, ou seja, o trabalho seria uma unidade de troca, portanto, com vários empregos alternativos; Ricardo: Em suas discussões sobre as vantagens do comércio exterior, Ricardo alerta para o fato de que, se ao invés de destinarmos nossos esforços na produção dos bens “A” e “B”, conseguindo apenas resultados razoáveis, usarmos nossa capacidade para a obtenção somente do bem “A”, para o qual somos mais produtivos, o excedente gerado na produção nos permitirá adquirir maior quantidade de B do que aquela que poderíamos elaborar. Esse e outros entendimentos do autor induzem ao conceito de custos de oportunidade; Sênior: Sênior entendeu que o valor de um bem era composto não apenas por capital terra e trabalho. Existia um outro elemento – abstinência – que seria um fator determinante no preço. A abstinência era um termo utilizado para expressar a conduta de alguém que se abstém ou renuncia ao uso de algo, preferindo a produção de uma outra coisa. No entendimento do autor, esse fator seria o que proporciona a existência dos outros fatores componentes do preço de um produto. A teoria de Sênior tornou iminente a Teoria de Custos de Oportunidade. 7 MODELOS DE APLICAÇÃO DO CONCEITO DE CUSTO DE OPORTUNIDADE Ao longo do tempo, vários foram os modelos criados para o cálculo e a contabilização do custo de oportunidade. De acordo com Nascimento (1998), nem todos aplicam o conceito diretamente a cada decisão tomada na empresa e, sim, a um conjunto de decisões. Um dos caminhos preferidos para a aplicação do conceito é o reconhecimento dos juros sobre o capital empregado nas operações. TÓPICO 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE 13 Nascimento (1998, p. 188), resume os pontos mais representativos da evolução do conceito de custos de oportunidade: Solomons: Assume que os custos envolvidos numa decisão não se restringem aos desembolsos. Para ele, o custo de utilização de um ativo é o maior valor que poderia ser obtido se aquele ativo tivesse sido empregado em uma outra alternativa. Esse autor introduz o conceito de que a base de avaliação das alternativas, para fins de comparação de resultados, é o valor presente do fluxo de benefícios líquidos esperado para cada alternativa. Fisher: Buscou relacionar a essência dos custos de oportunidade com os custos efetivamente incorridos. Segundo esse autor, custos devem ser analisados sempre sob dois diferentes enfoques: como o valor da alternativa abandonada e como uma consequência direta de uma política ou programa executado. Apesar de essa parecer uma posição óbvia dos autores da Escola Contábil, poucos são os que buscam uma conciliação entre os dois conceitos de custos. Gray e Johnston: Esses autores entenderam que custo de oportunidade é um lucro que poderia ter sido obtido se um conjunto de recursos tivesse sido aplicado em um uso alternativo. Aqui, vemos introduzido o conceito de conjunto de recursos, o que nos parece lógico, pois, uma decisão, normalmente, envolve mais do que o consumo de um recurso, e a análise do conjunto parece mais razoável do que avaliar o custo de oportunidade de cada elemento componente. Os autores também introduzem o conceito de custos de oportunidade positivos e negativos, sendo positivos quando, num processo de escolha, deixa-se de conseguir algum lucro e, negativo, quando simplesmente se evita uma despesa em função de alguma política ou decisão adotada. Martins: Também para Martins, os custos de oportunidade representam o quanto a empresa sacrificou, em termos de remuneração, por ter aplicado seus recursos numa alternativa ao invés de em outra. Entretanto, esse autor ressalva que, no momento de cada decisão, as alternativas podem ter níveis diferentes de riscos, o que dificulta a comparação direta entre os resultados potenciais. O autor defende que os custos de oportunidade devem ser vistos a partir de dois diferentes enfoques: custo de oportunidade em relação a alternativas de igual risco, ou, para efeito de comparação de resultados, tomando-se como base o investimento de risco zero, ou seja, a taxa de juros praticada pelo mercado para papéis governamentais. Martins observa ser necessária a comparação dos resultados das alternativas com moedas de mesmo poder aquisitivo, isto é, deve ser considerado o efeito inflacionário. Leininger: Propõe que os custos de oportunidade sejam analisados com base em duas dimensões diferentes: sob a situação de lucro e sob a situação de custo. Para a situação de lucro, o custo de oportunidade é a diferença entre o lucro, se a política correta tivesse sido adotada, e o lucro resultante da política empregada. Para a situação de custo, o custo de oportunidade é a diferença UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 14 entre o custo incorrido e o custo que poderia incorrer caso tivesse sido adotada a política correta. A contribuição desse autor consiste principalmente na tentativa de recortar a abrangência das definições existentes sem afetar a essência do conceito de custos de oportunidade. Schlatter e Schlatter: Propõem um modelo de aplicação do conceito de custos de oportunidade através do custo do capital próprio, calculado através de uma taxa de juros aplicada sobre o valor do ativo fixo. Anthony: Também aplica o conceito de custo de oportunidade através do custo do capital próprio, mensurado através de taxa ponderada pela estrutura de capital da organização, próprio e terceiros. Diferentemente de Schlatter & Schlatter, entretanto, a base para a obtenção do valor dos juros é o valor dos recursos consumidos nas operações. Catelli: Aplica o conceito de custos de oportunidade na apuração dos preços de transferência entre atividades. Ele define que o valor a ser transferido é o do menor preço de mercado à vista, por entender que essa seria a melhor oportunidade de compra que uma “área-cliente” teria se adquirisse o material necessário às suas atividades diretamente do mercado. A essência do conceito é também aplicada para o financiamento de ativos, nesse caso, as áreas remuneram à área financeira o custo do capital utilizado. Os juros são calculados através da menor taxa de captação de mercado por representar o melhor negócio possível para as áreas, caso tivessem de captar os recursos diretamente do mercado. O conceito de margem operacional também representa um enfoque dos custos de oportunidade. Se positiva, representa que a decisão correta foi tomada, se negativa, significa um custo de oportunidade em decorrência de a decisão tomada não ter sido a mais apropriada. Catelli também emprega o conceito de juros sobre o capital próprio concomitantemente ao de custos de oportunidade. Stewart III: Associou o conceito de custo de oportunidade do investidor à taxa de retorno do investimento. Desenvolveu um modelo de mensuração voltado à avaliação de administradores com a aplicação direta do conceito de custos de oportunidade. 8 A TEORIA DA UTILIDADE E OS CUSTOS DE OPORTUNIDADE A teoria da utilidade está ligada ao grau de satisfação que o ser humano tem ao suprir determinada necessidade. Quanto maior o número de pessoasque tendem a adquirir determinado produto ou serviço, consequentemente, podem se tornar escassos. A escassez está relacionada com a lei da oferta e da procura. Quanto maior for a procura maior será o preço de venda, dessa forma, quanto maior for a oferta menor será o preço de venda. TÓPICO 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE 15 NOTA Os custos de oportunidade estão intimamente ligados a esta questão, pois a parir do momento que determinado produto ou serviço estiver em falta, poderá ser uma alternativa vantajosa sobre as demais, em se tratando do fator preço. Assim, Nascimento (1998, p. 83) apresenta as principais contribuições dadas por diversos autores onde são tratados o tema utilidade e o custo de oportunidade: Menger: Promoveu grandes mudanças na Teoria do Valor existente até então. Para ele, o valor de um bem é derivado de sua capacidade de satisfazer as necessidades humanas, de sua utilidade. Menger abriu caminho para que a alocação de recursos produtivos fosse estudada a partir do enfoque do grau de importância, ou de utilidade, que tais recursos têm para quem os possui e os deseja aplicar. Pareto: Também esse autor entendeu que o valor de um bem está diretamente ligado a sua utilidade. Em termos de avaliação entre o consumo de um ou outro produto, entretanto, as utilidades de ambos não devem ser simplesmente comparadas. A satisfação plena pelo consumo de um produto pode estar ligada ao consumo de outros. Além de existir essa interdependência, que impede que o valor de um produto seja simplesmente parametrizado por outro não consumido, Pareto afirmou que o grau de utilidade de um bem é dinâmico, ou seja, depende das circunstâncias em que a análise é feita. Samuelson: O autor entendeu que o termo satisfação não se aplica diretamente às empresas que adquirem matérias-primas para transformá-las e venderem os bens decorrentes. A satisfação deve ser vista apenas sob o ponto de vista do consumidor final, e deve ser entendida como o meio que a empresa tem para estabelecer o preço que cobrará por seus produtos. Hicks: Relacionou a satisfação gerada pelo consumo de um bem a seu preço, à demanda pelo mesmo e à renda de quem toma a decisão de consumo. O autor introduziu o conceito de utilidade do dinheiro. Wieser: Defendeu que o valor de um fator de produção, em qualquer uso, é a utilidade abandonada de outros bens que poderiam ter sido produzidos com os mesmos fatores. Esse autor dedicou-se ao estudo da alocação de recursos produtivos à luz da Teoria da Utilidade. Em seu entendimento, os custos se originam da própria limitação do ato de produzir, pois à medida que se toma uma decisão de produção, dada a escassez de recursos, os fatores de produção UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 16 ficam comprometidos com aquele uso particular, sendo importante, a partir daí, conhecerem-se os valores dos bens que poderiam ter sido produzidos com aqueles recursos e não o foram. Esse raciocínio promoveu o interesse dos autores da Teoria Econômica para o que, mais tarde, se chamaria custos de oportunidade. Green: A “Lei de Wieser”, como era conhecida a teoria defendida por aquele autor, enfim, foi “batizada” por Green como custos de oportunidade, mediante artigo no qual ele se refere a custos como uma combinação de fatores, dentre os quais, o sacrifício de oportunidades. Wicksteed: Entendeu que os custos de oportunidade não influenciavam o preço do bem. O conceito, porém, era importante para a decisão de alocação de recursos. Dessa forma, esse autor procurou vincular o conceito a decisões futuras, minimizando sua importância no resultado de decisões passadas. Davenport: O autor se dedicou a um estudo detalhado dos conceitos de custos. Concluiu haver tipos diferentes de custos de oportunidade. Em sua opinião, o conceito deve variar de acordo com o enfoque do problema econômico sob análise; por exemplo, numa decisão de investimento, o custo de oportunidade pode ser o juro que seria obtido sobre o capital consumido. Segundo Davenport, custos de oportunidade sempre existirão, a menos que não haja aplicações alternativas para o recurso em questão. Em suas observações, também enfatizou o uso do conceito de custos de oportunidade como um fator a ser considerado pelo decisor antes da tomada de decisão. 9 APLICABILIDADE DO CONCEITO DE CUSTO DE OPORTUNIDADE Ao longo do tempo, vários foram os modelos criados para o cálculo e a contabilização do custo de oportunidade. Mas sabe-se que na contabilidade, de acordo com os princípios contábeis, não existe, pelo menos até o momento, espaço para uma conta específica do custo de oportunidade. Muitas empresas utilizam os juros sobre capital próprio para remunerar seus acionistas, entende-se então, que este procedimento se aproxima muito do conceito do custo de oportunidade, pois, desta forma, o acionista pode verificar qual está sendo o retorno do capital que foi investido na empresa, conseguindo comparar com outras alternativas que o mercado oferece. Poder-se-ia dizer que o acionista quando investiu na empresa, provavelmente, desprezou alternativas que no momento existiam para aplicar seu capital e que, então, ele estava diante do conceito do custo de oportunidade. De acordo com Nascimento (1998, p. 129), são evidenciados “vários modelos para o cálculo e contabilização dos custos de oportunidade. Nem todos aplicam o conceito diretamente a cada decisão tomada na empresa e, sim, a um TÓPICO 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE 17 conjunto de decisões. Um dos caminhos preferidos para a aplicação do conceito é o reconhecimento dos juros sobre o capital, empregado nas operações. Diante da legislação brasileira até 31/12/1995, existia a correção monetária de balanço em que eram corrigidos os direitos dos acionistas. Com sua extinção em janeiro de 1996, surge a forma de remunerar o capital social investido pelos acionistas, através dos juros sobre o capital próprio. Então, mesmo que na contabilidade tradicional financeira não se reconhece o custo de oportunidade, ele tenta se desenvolver através dos juros sobre o capital próprio, mensurado através de taxa determinada pelo mercado (TJLP – Taxa de juros de Longo Prazo). Nascimento (1998, p. 162) define que “Juros sobre o Capital Próprio corresponde ao ‘custo de oportunidade’ do acionista, calculado sobre o valor do patrimônio líquido do balanço imediatamente anterior”. ESTUDOS FU TUROS O tópico Juros sobre Capital Próprio será apresentado na Unidade 2 deste Caderno de Estudos. Com relação à aplicação do conceito do custo de oportunidade na pessoa jurídica, poderíamos descrever que ela própria consome seu capital quando este é aplicado em determinadas ações da companhia. Desta forma, estaria utilizando o conceito do custo de oportunidade através da remuneração sobre o capital próprio. 10 PREÇO DE TRANSFERÊNCIA E CUSTO DE OPORTUNIDADE Nas atividades operacionais das empresas, devem-se levar em consideração as entradas de recursos, processamento e a saída dos produtos. No seu desenvolvimento operacional, a empresa é considerada como uma área, e cada atividade desenvolvida uma etapa do processo. Cada empresa tem seu produto que é transferido para outra área ou empresa – são etapas que completam o produto até o seu término. Pereira e Oliveira (apud CATELLI, 2001, p. 392), “preço de transferência é definido como o valor pelo qual são transferidos bens e serviços entre as atividade e áreas internas de uma organização”. UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 18 Neste sentido, é necessário, entretanto, conhecer o preço de transferência do produto ao sair de cada empresa ou área, para depois poder avaliar o modo correto de realizar estas atividades, ou seja, avaliar o nível de eficiência. Ainda Pereira e Oliveira (apudCATELLI, 2001, p. 393), o conceito de preço de transferência fundamenta-se nas seguintes premissas: a) toda empresa é um processo de transformação de recursos em produtos/serviços, composto de diversas atividades que interagem entre si; b) as atividades possuem caráter econômico, que se materializam pelo consumo de recursos e geração de produtos/serviços; c) os recursos consumidos, por serem escassos, possuem valor econômico (custos), e os produtos/serviços gerados, por satisfazerem necessidades ambientais, também o possuem (receitas); e d) as atividades contribuem para os resultados econômicos da empresa. Assim, toda a atividade pode ser considerada distinta, desde que haja controles necessários para seu gerenciamento. De acordo com Pereira e Oliveira (apud CATELLI, 2001, p. 393), sob esse enfoque, entende-se que a incorporação do conceito de preço de transferência ao sistema de informações da empresa deve apoiar a gestão no sentido de: a) permitir uma constante avaliação dos níveis de eficiência e eficácia da empresa, a partir das relações econômicas entre as suas atividades; b) permitir avaliações de desempenhos justas, a partir da correta mensuração da contribuição das atividades e das áreas para o resultado global da empresa; c) suportar e permitir simulações e avaliação das decisões tomadas na empresa; d) induzir comportamentos adequados dos gestores; e) não permitir o repasse de ineficiências entre as áreas; f) promover a capacidade competitiva da empresa. O preço de transferência deve ser analisado em cada área para que se tenha noção de qual alternativa seria mais viável supondo, como exemplo, que a empresa tenha a alternativa de produzir ou adquirir de terceiros um determinado produto ou serviço. Segundo Pereira e Oliveira (apud CATELLI, 2001, p. 397), nesse sentido, entende-se que o emprego do conceito de custo de oportunidade na intermediação das relações econômicas entre as áreas guarda as seguintes conotações: a) o mercado representa a fonte alternativa de obtenção de bens e serviços; b) os efeitos das decisões tomadas pelos gestores são fixados em suas próprias áreas, evitando-se o repasse de ineficiências entre as mesmas; c) orienta os gestores para a tomada das decisões que mais interessam à empresa como um todo e não à sua área específica; d) incorpora um parâmetro de alta qualidade ao processo decisório dos gestores; TÓPICO 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE 19 e) contempla a noção de valor econômico, consubstanciado pela melhor oportunidade identificada no mercado para obtenção dos produtos, tendo em vista a missão das áreas; f) restringe a amplitude da noção de preços, visto que a oportunidade (preço) é específica para a entidade em questão, devendo considerar as particulares dificuldades ou facilidades enfrentadas para adquirir ou colocar os bens e serviços demandados, frente à alternativa de produzi-los internamente; g) permite avaliações corretas da evolução do patrimônio da entidade; e h) os preços praticados por outras empresas no mercado, ao serem incorporados à estrutura de resultados internos de uma empresa, confrontados com os custos incorridos para produzi-los internamente, fornecem uma ideia da capacidade da atividade interna em suportar condições competitivas. NOTA Considerando essas conotações, o preço de transferência deve ser o custo de oportunidade, representado pelo menor custo de mercado, ou seja, é o custo que a empresa necessitaria incorrer, caso não desenvolvesse a atividade que gerou aquele produto, ou até no caso de terceirizar aquela atividade. Conforme Pereira e Oliveira citado por Catelli (2001, p. 398), O modelo de preço de transferência, conforme utilizado no Sistema de Gestão Econômica baseia-se no conceito de custo de oportunidade. Estrutura-se a partir da premissa de que o valor dos produtos e serviços transacionados entre as unidades deveria refletir o valor do benefício possível de ser auferido na melhor alternativa econômica de obtenção dos bens e serviços demandados. Por melhor alternativa econômica, devemos entender aquela que possibilite à organização o maior incremento de resultado econômico possível. Desse modo, a melhor alternativa será sempre escolhida à luz dos resultados possíveis de serem obtidos, a partir das opções de uso alternativo do produto de uma determinada área, lembrando que o produto de uma área constitui o recurso ou insumo da área que o recebe. UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 20 11 CUSTO DE OPORTUNIDADE NOS ESTOQUES Com a atual economia, sabe-se que os estoques merecem uma atenção especial. É no estoque que pode estar o testemunho do desequilíbrio financeiro das empresas, visto que muitos produtos ou mercadorias não têm a necessidade de serem estocados em grandes quantidades. NOTA Caso as empresas tenham estes estoques em quantidade desnecessária estariam com um capital parado ao invés de investido em uma segunda alternativa, podendo ser até mesmo em estoque, mas com características diferentes da primeira opção. Deve levar em consideração o custo de oportunidade na forma da compra destes estoques, principalmente quando se tratar quantidade (x) preço e também forma de pagamento (x) preço. O Estoque exige capital que pode ser utilizado para outros investimentos. Para estabelecer o custo de oportunidade do capital empatado nos estoques, no caso de uma indústria, deve-se buscar apenas o montante correspondente ao desembolso feito pela empresa na aquisição de materiais, mão de obra direta e outros que variam em relação ao volume de produção. Outros custos de fabricação que são absorvidos no custo do produto, e não variam em relação ao produto não devem ser considerados como base de cálculo do custo de oportunidade do capital investido em estoques, por não considerarem um desembolso direto de estoques. (FARIA; COSTA, 2005, p. 43). A alternativa que a empresa renuncia ao investir ou manter os estoques não é registrada na contabilidade tradicional, porque não resulta em saída de caixa especificamente, mas, sim, na renúncia de uma rentabilidade meio a esta. Nesta mesma linha de pensamento, Faria e Costa, (2005) comentam que ao investir em estoques, a empresa renuncia a taxa de retorno que poderia obter com tais investimentos em outras alternativas. A determinação da taxa de oportunidade mais adequada ao custo de oportunidade de manter estoques é inerente ao tipo de investimento que se faria, caso os recursos não fossem aplicados em estoques. Para que a empresa consiga identificar a taxa de oportunidade para tais estoques, deve considerar qual a segunda opção ou alternativa de investimento, caso contrário não consegue fazer tal comparação. Para uma melhor visualização, apresenta-se a Figura 1 do Balanço Patrimonial, que identificará as fontes de recurso e sua aplicação. TÓPICO 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE 21 FIGURA 1 – FONTES DE RECURSO E SUA APLICAÇÃO FONTE: Faria e Costa, 2005 Através da Figura 1, pode-se observar a origem e o destino dos recursos. O mesmo também pode ser observado na contabilidade tradicional. 12 APLICAÇÃO DO CUSTO DE OPORTUNIDADE ÀS DECISÕES DE PREÇO De acordo com Santos (1995), os gestores de preço devem desenvolver um modelo de decisão de preço de venda que leve em consideração o conceito de custo de oportunidade que pode ser aplicado em duas diferentes situações: (I) na apuração do custo do objeto de custeio; e (II) na remuneração dos investimentos realizados pelos acionistas na empresa. A apuração do custo do objeto de custeio pode ser definida como os desembolsos realizados, como, por exemplo, materiais, mão de obra, alugueis etc., como também gastos que poderiam ter sido despendidos de forma útil em outro lugar. Outro caso é o estoque que permanece parado nas empresas, ou seja, este investimentoem materiais poderia ser utilizado de forma útil em outro lugar. De acordo com Santos (1995), Durante este período, todos os insumos agregados ao produto permanecem estocados na empresa, que suporta com os custos de financiar estes estoques até o momento da venda. Este custo de estocagem é calculado multiplicando-se o custo do insumo por uma taxa de remuneração capitalizada pelo período de tempo que permaneceu imobilizado na empresa. Esta taxa de remuneração é o custo de oportunidade, isto é, o rendimento alternativo máximo que a empresa obteria se tivesse aplicado seus recursos em outra atividade, como, por exemplo, no mercado financeiro. UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 22 Mesmo a remuneração dos investimentos realizados pelos acionistas na empresa pode ser definida pelo custo de se aplicar em outro investimento, como, por exemplo, fundos de investimento, mercado de capitais etc., ou seja, o comparativo dos benefícios que este teria se os acionistas deixassem de aplicar na empresa. De acordo com Santos (1995, p. 24), Conceitualmente, as taxas ideais a serem utilizadas no cálculo do custo de oportunidade dos investimentos realizados seriam ou o retorno exigido pela empresa, ou o seu custo de capital. No entanto, em uma atitude conservadora, por razões operacionais e de disponibilidade de informações, diversos gestores de preços têm se utilizado das taxas médias de captação de recursos no mercado financeiro, ou das taxas de captação conseguidas pela empresa no mercado financeiro. Por outro lado, os investimentos realizados devem estar mensurados segundo critérios econômicos adequados, de tal forma que possam refletir a respectiva capacidade potencial de geração de benefícios ou serviços futuros. Estes investimentos realizados pela empresa correspondem ao conceito de ativo, segundo a ciência contábil. 13 A NATUREZA ECONÔMICA DOS CUSTOS Segundo Nascimento (1998), para a Economia, os custos são de natureza complexa e até mesmo subjetiva e estão subdivididos em várias categorias. Os conceitos de custo mais comumente observados na literatura econômica moderna apresentam dois tipos de custo: os sociais e aqueles de naturezas econômicas – explícitos e implícitos, ou custos de oportunidade. 13.1 CUSTOS SOCIAIS São os custos originados em decorrência das atividades operacionais da empresa. Estes custos podem afetar tanto a empresa como a sociedade. Um exemplo deste tipo de custo é o que afeta o meio ambiente. Segundo Nascimento (1998, p. 84), “[...] existem limitações para a mensuração, mas, estatisticamente, há mecanismos que possibilitam a criação de modelos de mensuração desta natureza de custo, ainda que num estágio primário, de forma que as organizações que externalizam seus custos possam refleti-los nos resultados de suas operações”. 13.2 CUSTOS EXPLÍCITOS Podem ser definidos como a diferença entre o custo apurado pela contabilidade tradicional e o custo econômico, ou seja, podemos levar em consideração, neste caso, por exemplo, o custo de reposição. De acordo com Nascimento (1998, p. 92), “há concordância de que devem ser agregados aos custos as matérias-primas, a mão de obra, as depreciações e outros fatores levados em conta pela Contabilidade. Questiona-se, porém, o fato de esses fatores serem considerados por seus valores históricos [...]”. TÓPICO 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE 23 13.3 CUSTOS IMPLÍCITOS OU DE OPORTUNIDADE São os custos que envolvem o processo de escolha de uma alternativa ou outra. De modo que somente as alternativas escolhidas são contabilizadas, o restante passa a ser não mensurado pela contabilidade. Segundo Heymann e Bloom citado por Nascimento (1998, p. 95), “A ocorrência desse tipo de custo implica desembolsos futuros ou diminuição do resultado líquido potencial das organizações onde ocorrem”. Estes custos são importantes elementos no processo decisório, em função de as decisões envolverem permanentemente um processo de escolha, e de que todo o ato de escolha envolve um ato de sacrifício, conforme já visto no decorrer desta unidade. 13.4 CUSTO DO CAPITAL O custo do capital pode ser conceituado como o valor de retorno obtido pelo investimento feito para que o mesmo (investimento) permaneça, no mínimo, preservado. O custo do capital está intimamente ligado à maneira como este capital foi obtido, pois isso pode variar de empresa para empresa. Conforme Nascimento (1998, p. 96), “sob esse ponto de vista, sempre que a implementação de um projeto implicar retorno econômico superior ao custo do capital, o valor da empresa será aumentado, ocorrendo o inverso quando a implementação de projetos leve à obtenção de retorno econômico inferior”. 14 CONTROVÉRSIAS DO CUSTO DE OPORTUNIDADE De acordo com Nascimento (1998), o interesse gerado pelo assunto custos de oportunidade, entre os autores, leva ao aparecimento de controvérsias quanto a sua conceituação. Além das pequenas divergências contidas nas definições, surgem, na literatura, termos diferentes para o conceito, gerando controvérsias quanto a seus reais significados. Um exemplo disso são os casos dos custos diferenciais, custos incrementais e custos de oportunidade. Segundo Nascimento (1998) “ [...] em 1970, McRae, professor de Contabilidade na University of Witwatersrand, África do Sul, publicou artigo criticando as opiniões de diversos autores que tratam os termos custos de oportunidade e diferenciais, ou incrementais, como sinônimos”. Mas, de acordo com Nascimento (1998), trata-se de conceitos sinônimos que deveriam ser empregados sempre com os mesmos objetivos. Se isso é verdade, o que constatamos é que os custos de oportunidade ganham na literatura outros UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 24 termos que originam discussões acadêmicas, nem sempre férteis, e que desviam a atenção que deveria ser absorvida por tentativas de se entender todos os aspectos que envolvem o fenômeno, para permitir sua aplicação sistemática. 15 EVA – ECONOMIC VALUE ADDED O conceito do EVA (Economic Value Added), ou Valor Econômico Agregado, apesar de ter se popularizado nas ultimas décadas, na verdade, não é nenhuma novidade nos meios acadêmico e empresarial, pois se originou na primeira década do século XX, teoria neoclássica, em que representa uma tentativa de operacionalizar o conceito de custo de oportunidade. O termo EVA está registrado por Stern Stewart e Co., uma firma de consultoria americana. A Stern Stewart e Co. desenvolveu o EVA para gestores incorporarem dois princípios básicos de finanças dentro de suas tomadas de decisões. O primeiro é que o objetivo financeiro primordial de qualquer empresa deve ser maximizar a riqueza de seus acionistas. O segundo é que o valor da companhia depende de extensão do que os investidores esperam como retorno futuro: exceder o custo do capital. Assim, o EVA apura o valor que foi criado por uma organização durante um determinado período para seus acionistas. Sabe-se que o valor econômico adicionado (EVA), avalia uma linha de produtos financeiramente desejável, usando seu lucro residual, ou seja, esta ferramenta avalia o desempenho de uma empresa. Para KASSAI (2000, p. 193), “ [...] o valor econômico agregado, ou EVA, é, pois, o valor que a empresa agrega após remunerar todos os recursos investidos, quer sejam financiados pelo custo de capital de terceiros (Ki) ou pelo custo de capital próprio (Ke)”. Então, para calcular o EVA é necessário identificar qual o retorno desejado pelos acionistas, ou o Custo do Capital Próprio. Diversas são as formas de interpretar o EVA, Erbhar (1999) entende que Quando empresas utilizam o EVA plenamente, que é o que devem fazer para mudar comportamento, este se torna muito mais do que apenas mais uma maneira de somar custos e calcularlucro. O EVA é: a) Uma medida de desempenho empresarial; b) A única medida de desempenho que oferece a resposta certa no sentido de que mais EVA é sempre definitivamente melhor para os acionistas; c) A estrutura que subjaz um novo e abrange sistema de gestão financeira empresarial; d) Um método simples e eficaz de alfabetizar em negócio até mesmo os trabalhadores menos sofisticados. TÓPICO 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE 25 e) A variável chave num sistema singular de remuneração variável que pela primeira vez realmente alinha os interesses de gerentes com os de acionistas; f) Uma estrutura que empresas poderão utilizar para comunicar suas metas e realizações a investidores. NOTA O principal objetivo do EVA é determinar o valor que foi criado de riqueza em um determinado período de tempo. Este período de análise geralmente é de um ano. Mas isto não quer dizer que a empresa vai medir o seu desempenho apenas uma vez por ano; este acompanhamento deve ocorrer mês a mês, e ser comparado no decorrer do período, ou seja, no decorrer do ano. Carvalho, (1999, p. 9) comenta que “o EVA é a versão moderna de lucro operacional menos o custo do capital. Se a empresa agregou valor, o EVA é positivo e os acionistas terão feito um bom negócio”. Entende-se, então, que o EVA é um instrumento que se propõe a medir a criação de valor (ou destruição) centrada num período determinado. Sua base de cálculo é o lucro operacional da empresa menos o custo do capital investido. Segundo G. Bennett Stewart III, citado por Denardin (2004, p. 7), “[...] o EVA é a única medida de performance que está totalmente consistente com a regra padrão de orçamento de capital: aceitar todos os investimentos cujos valores presentes líquidos são positivos e rejeitar todos os negativos”. O EVA considera todos os custos existentes, até mesmo o custo de oportunidade. O capital é considerado toda expressão monetária aplicado em ativos, como os imobilizados em geral, acrescentando as disponibilidades de caixa e os investimentos a longo prazo. O resultado desta ferramenta não se restringe apenas a avaliar o desempenho da empresa, mas também a incentivar o desempenho de seus colaboradores, pois isto resultará em aumento da riqueza, como consequência o desempenho da organização terá maior eficácia. Segundo Saurim, Mussi e Cordioli, citado por Denardin (2004, p. 9): A implantação do EVA como medida de desempenho pode levar a uma serie de mudanças, destacando-se as seguintes: a) Maior conscientização da gerência quanto ao valor do capital que é por ela gerido e, principalmente, do valor associado ao patrimônio líquido; b) Gestão mais empreendedora, principalmente, no que tange à busca de formas alternativas[...]; UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 26 c) Possibilidade de desdobramento do EVA, um indicador principalmente financeiro em indicador de gestão de unidades de negócios (Ex.: vendas, custos etc.), associados a este, indicadores de desempenho operacional (ex.: margem de vendas dos produtos, porcentagem de refugo de produtos etc.). Nota-se, então, que o EVA é de extrema importância para qualquer organização, pois possibilita um eficiente entendimento de oportunidade. Esta poderosa ferramenta de gestão está dividida em quatro pilares, conforme segue na Figura 2. FIGURA 2 – QUATRO PILARES DE GESTÃO DO EVA EVA NOPAT (Custo do Capital Capital) FONTE: Denardin (2004, p. 10) O primeiro pilar, o operacional, faz com que aumente o capital através da minimização de custos e a maximização dos lucros ou economia de impostos, já no segundo pilar o objetivo é reduzir os custos de capital e no terceiro é investir capital adicional em projetos com valor presente líquido positivo e no último pilar ocorre o contrário. 16 EXEMPLOS DIVERSOS Abordaremos, a seguir, diversos exemplos relacionados a este tópico para melhor interpretar este assunto. Exemplo 1 – EVA – Baseado no Modelo de Nascimento (1998) Situação 1 (base para as demais situações) Suponhamos uma situação em que o lucro operacional líquido da empresa seja de $ 250, o capital $ 1.000, e C* (custo de oportunidade arbitrado pelo investidor) 15%. O valor calculado do EVA seria: EVA = Lucro operacional líquido – C* X capital, ou EVA = $ 250 – 15% X $ 1.000 = $ 100. TÓPICO 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE 27 A seguir, as hipóteses relacionadas com este cenário: a) criação de valor Imaginemos que, em decorrência de ganhos de produtividade, ou de eficiência administrativa, o lucro fosse aumentado de $ 250 para $ 300. EVA = Lucro operacional líquido – C* X capital, ou EVA = $ 300 – 15% X $ 1.000 = $ 150. Como se vê, o lucro em relação ao capital aumentaria de 25% para 30%, e o EVA subiria para $ 150, refletindo a eficiência da gestão dos recursos. b) Investimento com retorno sustentável Continuando o caso base, consideremos agora a decisão de adotar ou não um projeto que requeira um investimento de $ 1.000, e que, se implementado, represente um aumento de $ 200 no lucro, ou 20% de retorno, de forma sustentável: EVA = Lucro operacional líquido – C* X capital, ou EVA = $ 450 – 15% X $ 2.000 = $ 150. Nessa hipótese, a consequência seria um aumento no EVA. Ainda que a taxa consolidada de retorno diminuísse para 22,5%, o projeto deveria ser implementado, pois maximizaria o EVA. Na aplicação do conceito, a taxa de retorno nunca deve ser analisada individualmente. Nesse caso, embora menor, é calculada sobre uma base maior, gerando um ganho superior ao custo de oportunidade do investidor. c) Retirada de capital de usos não produtivos Ainda tendo como referência o caso base, imaginemos que $ 333 de excesso de capital de giro pudesse ser retirado do negócio sem afetar o lucro operacional líquido, assim, teríamos: EVA = Lucro operacional líquido – C* X capital EVA = $ 250 – 15% X $ 667 = $ 150. A retirada do capital de um uso não produtivo, portanto, permite um aumento tanto no EVA quanto na taxa de retorno, refletindo o acerto da decisão. Situação 2: Decisões sobre implementações de projetos Imaginemos, agora, um cenário onde uma empresa apresente lucro líquido operacional de apenas $ 50 para um capital de $ 1.000. Com um retorno de apenas 5%, o EVA resulta num déficit de -$ 100, conforme os cálculos demonstrados a seguir: UNIDADE 1 | CUSTO DE OPORTUNIDADE E MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS 28 EVA = LL – C* X capital, ou EVA = $ 50 – 15% X $ 1.000 = $ (100). Prosseguindo, se a empresa adotar um projeto que requeira capital adicional de $ 1.000, estima-se que este investimento lhe permitiria, de forma sustentável, acréscimo de $ 130 no lucro operacional líquido, mas como consequência, a taxa de retorno requerida pelos acionistas subiria para 9%. O cálculo do EVA seria: EVA = Lucro operacional líquido – C* X capital, ou EVA = $ 180 – 15% X $ 2.000 = $ (120). Mesmo que o retorno de capital praticamente dobrasse (de 5% para 9%), o EVA seria ainda mais negativo, como se observa acima, representando um empobrecimento do investidor, ou seja, o projeto não deve ser implementado. Em outras palavras, a última coisa a ser feita em uma empresa são investimentos que não recompensem o capital nela investido. Situação 3: fechamento de uma unidade fabril Suponha que uma unidade fabril ineficiente possa ser vendida e sua produção parcialmente transferida para outra unidade da mesma empresa. Assuma, também, que a venda da unidade fabril permitirá uma retirada de $ 500 líquidos de capital do negócio, e que seu fechamento significará uma diminuição permanente de $ 25 no lucro operacional líquido. O quadro demonstrativo dessa decisão seria: QUADRO 1 – DEMONSTRATIVO DO FECHAMENTO DE UMA UNIDADE FABRIL Situação original Valores residuais Lucro Líquido Operacional $ 250 $ 225 Capital $ 1.000 $ 500
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