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considerados produtos finais do processamento de diversas áreas cerebrais que, trabalhando juntas, proporcionariam a função re- querida, cada zona cerebral individual contribuiria com um fator espe- cífico ao processo. A plasticidade cerebral poderia ser encarada como consequência dessa mobilidade característica de todo sistema funcional. Na medida em que áreas específicas do sistema funcional são lesionadas, ou de alguma forma impossibilitadas, outras áreas possibilitariam a reestru- turação da função perdida, modificando os mecanismos relacionados àquela função, porém mantendo o objetivo final do processo. Em ter- mos de reabilitação cognitiva, esse modelo se apresenta como alternati- va viável para o restabelecimento de uma função psicológica perdida ou incapacitada por situações diversas. Em 1878, Paul Broca, neurologista francês, observou que na su- perfície medial do cérebro dos mamíferos, logo abaixo do córtex, existe uma região constituída por núcleos de células cinzentas (neurônios), à qual ele deu o nome de lobo límbico, uma vez que ela forma uma espé- cie de borda ao redor do tronco encefálico. Esse conjunto de estruturas, mais tarde denominado sistema límbico, surgiu com a emergência dos mamíferos inferiores (mais antigos), por comandar alguns comporta- mentos necessários à sobrevivência de todos, além de criar e modular funções mais específicas, que permitem ao animal distinguir entre o que lhe agrada ou desagrada. Educ_Inclus.indd 136 1/6/2011 10:30:33 02 3aPROVA -01/06/2011 - Page 136 of 180 Capítulo 2 Educação Inclusiva Capítulo 2 137 Nesse sistema ainda desenvolvem-se as funções afetivas, como a que induz as fêmeas a cuidarem atentamente de suas crias, ou a que promove a tendência desses animais desenvolverem comportamentos lúdicos. Emoções e sentimentos, como ira, pavor, paixão, amor, ódio, alegria e tristeza, são criações mamíferas, originadas no sistema límbico, também responsável por alguns aspectos da identidade pessoal e por importantes funções ligadas à memória. Com a chegada dos mamífe- ros superiores ao planeta, desen- volveu-se, finalmente, a terceira unidade cerebral: o neopálio ou cérebro racional, uma rede com- plexa de células nervosas alta- mente diferenciadas, capazes de produzir uma linguagem simbó- lica, permitindo ao homem de- sempenhar tarefas intelectuais, como leitura, escrita e cálculo matemático. Em outras palavras, é o gerador de ideias. Nessa abordagem mais recente da divisão cerebral e de seu funcio- namento, podemos encontrar grandes respostas e possibilidades para o desenvolvimento do homem, de suas emoções e racionalidade. Pesqui- sas realizadas nos últimos dez anos revelam que, em resposta aos jogos, estimulações e experiências, o cérebro exibe o crescimento de conexões neuronais, por exemplo. Assim, temos o estudo das funções cerebrais como um instrumen- to para, além de reabilitar sujeitos que sofreram lesões em partes de seus cérebros, transformarmos as abordagens educacionais. A educação de crianças em um ambiente sensorialmente enrique- cedor, desde a mais tenra idade, pode ter um impacto sobre suas capa- cidades cognitivas e de memórias futuras. A presença de cores, música, sensações (como a massagem no bebê), variedade de interação com co- legas e familiars, parentes das mais variadas idades, exercícios corporais e mentais podem ser benéficos. Sistema límbico – estruturas principais. Giro cingulado Bulbo olfatório Hipotálamo Amigdala Corpo mamilar Hipocampo Fornix Septum Educ_Inclus.indd 137 1/6/2011 10:30:36 02 3aPROVA -01/06/2011 - Page 137 of 180 Educação Inclusiva FAEL 138 Afetividade segundo a visão psicanalista Ao reconhecer a importância dos fatores emocionais e afetivos na aprendizagem, teremos profissionais mais sensíveis às dificuldades e talentos de nossas crianças, propiciando maior segurança a elas. Para sobreviver, o bebê humano precisa estabelecer uma relação estável com os sujeitos à sua volta, essa relação fornece a base a partir da qual podem ocorrer transformações no comportamento da criança. Nessa interação, ela construirá seus primeiros esquemas (perceptuais, motores, cogniti- vos, linguísticos) e sua afetividade. A presença do sujeito adulto propor- ciona à criança segurança física e emocional, de maneira a fazê-la tentar experimentar o seu ambiente e, dessa forma, aprender. Para Sigmund Freud, o bebê e a criança pequena têm pouco con- trole sobre as forças biológicas e sociais que agem sobre eles, é por meio da experiência que aprenderão a lidar com essas forças e forma- rão sua personalidade. Kangussu (2003) descreve que Freud afirma em sua teoria que o sujeito é levado a agir pela sua excitação energética, os seus instintos – entendamos como energia biológica. O instinto é o aspecto que se encontra no cerne de todos os com- portamentos, motivos e pensamentos humanos. Todos eles seriam go- vernados a partir de três energéticas: a sexualidade (chamada por Freud de libido), os impulsos de autoconservação e a agressão. Quando agem, os sujeitos procuram descarregar a energia neles acumulada e que lhes causa desprazer. Tal descarga diminui a tensão interna, trazendo, como consequência, o prazer. Para agir, o recém-nascido dispõe apenas de uma estrutura psíqui- ca, intitulada id, que age como um reservatório de energia instintiva. Como no caso de um adulto, as ações do bebê visam satisfazer suas necessidades imediatas e se dirigem, portanto, para a busca do prazer. No início da vida, a sobrevivência da criança depende funda- mentalmente da mãe (figura materna). À medida que ela cresce, vai gradativamente conferindo energia a outros elementos que passam a representar, também, fontes de prazer. Nesse processo formam-se duas outras estruturas derivadas do id e, denominadas por Freud como ego e superego. Educ_Inclus.indd 138 1/6/2011 10:30:36 02 3aPROVA -01/06/2011 - Page 138 of 180 Capítulo 2 Educação Inclusiva Capítulo 2 139 O ego é a parte da psique que contém as habilidades, os dese- jos aprendidos, os medos, a linguagem, o sentido de si próprio e a consciência; desse modo, ele é o elemento de organização da perso- nalidade. O superego, espécie de censura, de controle sobre o poder dos impulsos em um determinado contexto, é o responsável pelo adiamento do prazer por parte do sujeito. A relação entre id, ego e superego (impulsos, realizações e censura) é fonte de tensão e de an- siedade. O ego busca continuamente aliviar essa ansiedade por meio de medidas realistas. O indivíduo aprende, com isso, a satisfazer os seus impulsos de maneira culturalmente aprovada. Um conceito importante em Freud é o de inconsciente. Segun- do ele, o comportamento dos homens não é influenciado apenas por metas e objetivos dos quais se tem consciência; atuam também sobre nós desejos e ideias inconscientes, impulsos e fantasias, experiências que estão “esquecidas”, aspectos que não se encontram sob domínio da consciência. Esses elementos guardados nos recônditos espaços da alma humana, Freud denominou inconsciente. Para o psicanalista, o desenvolvimento da personalidade segue um padrão fixo, com estágios determinados, em um aspecto, pelas mudan- ças maturacionais no corpo e, por outro, pelo tipo de relacionamento que a criança estabelece com os adultos que lhe são significativos (pai e mãe, por exemplo). Assim, fica destacada a interação entre as necessi- dades e desejos da criança e o tratamento que a mãe ou outros adultos lhe dispensam. Nesse conjunto, a criança constrói não apenas sua personalidade, mas também sua identidade, ou seja, aquilo que a diferencia dos outros indivíduos e que ela percebe como o seu Eu. O desenvolvimento de sua identidade ocorre mediante a construção de significados a respeito das ligações que ela estabelece