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HIT ME_ DIRTY LOOPS final


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2
ETNOMUSICOLOGIA
Pós-Graduação – Escola de Música da UFMG
Glaura Lucas			 1º. Semestre/2020
“HIT ME” (DIRTY LOOPS): RELATO DE UMA PERFORMANCE
Francisco Adelino de Sousa Frazão
INTRODUÇÃO
O presente texto se configura como um relato/descrição da performance musical da canção “Hit me”[footnoteRef:1], de autoria do grupo musical Dirty Loops[footnoteRef:2], em uma de suas apresentações realizadas no Montreux Jazz Club, no dia 16 de julho de 2014. “Hit me” foi o primeiro single original da banda, sucesso em vários países do mundo, mas não foi a única obra a ganhar destaque pelo trabalho da banda Dirty Loops. Como exemplo, podemos citar a releitura de obras de outros artistas famosos como: "Baby", de Justin Bieber; "Rolling in the Deep", de Adele; "Circus", de Britney Spears; "SexyBack", de Justin Timberlake; e "Rude Boy", de Rihanna. A apresentação do Dirty Loops, e de várias outras atrações musicais[footnoteRef:3] como Pharrell Williams, Lee Ritenour, Van Morrison, Melanie de Biasio, dentre outros, fizeram parte da 48ª edição do Festival de Jazz de Montreux (Montreux Jazz Festival) que durou um pouco mais de duas semanas, iniciando no dia 4 de julho, indo até o dia 19 do mesmo mês. [1: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IDHHXJIrv4c. A canção “Hit me” faz parte do primeiro álbum da banda intitulado “Loopfied”, que foi lançado no mesmo ano do festival, em 2014.] [2: A tradução literal de “Dirty Loops” é “loops sujos”. Dependendo do contexto, o termo “loop” pode significar diferentes ações relacionadas a repetição. No contexto musical, a palavra loop arremete a repetição de um “sample” ou de uma gravação que retornará a ser executada tantas vezes forem necessárias para concretização de uma música. O termo “sujos” acrescenta um sentido de tratamento de áudio que pode resultar da equalização, compressão, adição de efeitos como distorção, “chorus”, “phaser”, “delay”, etc.] [3: Dentre os artistas que participaram do evento no dia 16/07/2014, podemos destacar: Stevie Wonder, John Scofield Uberjam Band, Earl Sweatshirt e Mac Miller.] 
Este grande festival anual, que promove variadas atrações dentre artistas, bandas e grupos musicais, foi fundado em 1967 por Claude Nobs, Géo Voumard e René Langel. Hodiernamente, é um dos mais importantes e conhecidos festivais de música da Suíça, sendo realizado na cidade de Montreux, ao longo do mês de julho, tendo as margens do Lago Léman como cenário desse acontecimento de ampla envergadura, que projeta a cidade no roteiro dos grandes festivais mundiais. Diferente das intenções iniciais dos criadores do festival de elencarem especificamente apresentações mais voltadas para o improviso jazzístico, nas últimas versões, talvez por conta de exigências do público, os produtores vêm selecionando e inserindo várias atrações instrumentais e cancionais de outros gêneros musicais como blues, rock, soul e pop, na programação do evento.
De acordo com a página principal do site oficial do festival[footnoteRef:4], cerca de quase 250.000 espectadores tem vindo ao Festival de Jazz de Montreux a cada ano, podendo experimentar desde shows, jam sessions e workshops. A cidade toda se prepara e é montada toda uma estrutura voltada para o acontecimento que dura 16 dias, com mais ou menos 380 shows (cerca de 250 deles, gratuitos), 55 barracas de comidas e bares, além de toda uma necessidade de adequação da rede de hotéis aos turistas, que vem de vários países, prestigiar o evento. O objetivo atual do evento é o de promover um verdadeiro “altar de contemplação” dos variados gêneros musicais que o compõem, em especial, do jazz, incentivando assim o desenvolvimento da chamada arte do som. [4: Disponível em: https://www.montreuxjazzfestival.com/fr/.] 
Foi neste cenário que aconteceu a performance do grupo musical que elencamos para esta descrição. Assim sendo, constata-se que a banda Dirty Loops é um grupo que apresenta uma musicalidade eclética, marcada pelo hibridismo de estilos/gêneros/ritmos musicais, presente em algumas das vertentes da música pop de artistas como Stevie Wonder e Pharrel Williams, ou da música instrumental, como as composições de Jesús Molina e Jacob Collier. Dessa maneira, tanto a sonoridade quanto a maneira como os membros da banda se apresentam, em termos visuais de figurino, de maquiagem e, até mesmo, de comportamento, se estabelecem como elementos essenciais para a construção de uma identidade peculiar do Dirty Loops, marcada pela jovialidade/versatilidade, perante o público presente/virtual.
Estudos como esse, que se propõem a elencar e entender os possíveis sentidos gerados e/ou perceptíveis ao longo de uma performance musical, são de grande importância para refletirmos sobre os papéis dos músicos, técnicos de som, programadores do evento e do público real/virtual em torno do “palco”: um lugar de mediações, negociações e práticas culturais (CAMPOS, 2020). É neste espaço onde toda uma equipe de técnicos de som, iluminação, filmagem, além dos músicos e do público, constroem a cena de um show. 
Se torna pertinente afirmar que o presente trabalho não é resultado de um estudo etnomusicológico e nem etnográfico, como entendemos na academia, posto que eu não estive no campo de estudo, não os gravei ou fiz registros in loco, nem tampouco interagi com os sujeitos que realizaram, participaram ou assistiram ao show presencialmente. Pois, de acordo com John Blacking (1973), a etnomusicologia não se define pelo objeto de estudo, mas pela sua metodologia que, no caso, careceria da imersão do pesquisador no contexto de produção/organização sonora do show. Essa é uma das limitações do presente estudo que, entretanto, não invalidam o esforço e a intenção em compreender alguns dos sentidos engendrados por meio do recurso audiovisual: clipe musical. Assim, as observações e descrições aqui realizadas se baseiam na análise criteriosa do videoclipe, disponível no YouTube, em diálogo com postagens em sites e textos que dialogam com o tema estudado.
Neste sentido, buscarei descrever especificamente “alguns” dos sentidos que podemos captar ao assistir o clipe musical da banda Dirty Loops, no palco do Montreux Jazz Club, onde, vários equipamentos serviram como meio utilizado pelos artistas/músicos para encenarem sua performance diante de um público e, simultaneamente, gravar um produto audiovisual que foi posteriormente divulgado no YouTube, possibilitando que mais de um milhão de pessoas pudessem assisti-lo pela internet. Ao relatar uma cena de música amplificada, nos termos empregados por Lúcia Campos (2020), buscaremos refletir sobre como e porque os músicos realizaram a sua performance de determinada forma, como são compostos os elementos audiovisuais da produção do clipe e qual a resposta do público diante da apresentação da banda.
RELATO 
Quando o clipe inicia, se tornam perceptíveis várias características de um ambiente de show, como se fosse um “ritual” à semelhança de outras apresentações musicais de bandas pop, como por exemplo: a presença dos músicos com seus respectivos instrumentos (teclados, baixo, bateria); palco iluminado com refletores e luzes; nome do espaço em luz neon (Montreux Jazz Club); retornos auriculares e de palco; microfones; recursos tecnológicos como pedais de efeitos, notebooks e tablets. Várias relações são ali construídas socialmente em torno do palco, como se este fosse o lugar e o momento de um “ritual estético”. Há um sentido quase “religioso” em que todos trabalham com extrema seriedade para a construção de um resultado sonoro/visual coerente com o que deve ter sido previamente idealizado.
O show parece já estar acontecendo a algum tempo, e a canção “Hit me”[footnoteRef:5] parece ser a música final da apresentação daquele dia. Segundo Jonah Nilsson[footnoteRef:6] (vocal/teclado), “Hit me” foi a pedra fundamental na construção do primeiro álbum da banda e Henrik Linder reflete que a letra da canção revela "o desespero que você sente quando não recebe a resposta que você quer de alguém que você gosta e você se perde no relacionamento".De fato, a letra da canção trata da relação amorosa conflituosa de um sujeito que espera obter respostas de sua amada e não obtém êxito em suas tentativas, apesar de ter enviado de cem a mil mensagens pelo celular. [5: “Hit me” é uma canção que se conforma como uma espécie de funk (presente no ritmo base da bateria e na levada do baixo) com elementos de jazz (em termos de harmonias e escalas, não pressupondo o princípio da improvisação, pois parece que ali tudo é ensaiado e estabelecido antes do acontecimento).] [6: As citações dos membros da banda constam no site oficial do grupo Dirty Loops, disponível em: http://dirty-loops.com/.] 
Segue a letra de “Hit me” (DIRTY LOOPS, 2014):
	Hit me 
First I came off alright just like a normal guy
But my tone changed round midnight
Left you message, one hundred
Wish that they all could be deleted, your number
Is hanging on a thread I'm sick and tired
But deep inside I know I'm screwed if you don't call me
(Hit me) Baby I'm goin crazy
(Hit me) You kill me with your absence
(Hit me) Baby I'm goin crazy
(Hit me) Call me up or this will be the end
Last time I saw your face You told me something like
How I can't be replaced 
I left you message, one thousand
I guess I must have broke the server, something
Cause all I'm getting is the silence, ringing
Quite honestly I'm screwed if you don't call me 
	Bata em mim (tradução minha)
De início eu me saí bem como um cara normal
Mas meu tom mudou por volta da meia noite
Deixei mensagem pra você, umas cem
Queria que todos elas fossem deletadas, seu número
Estou por um fio, enjoado e cansado
Mas, no fundo, sei que ficarei mal se você não me ligar
(Bata em mim) Baby, estou ficando louco
(Bata em mim) Você me mata com sua ausência
(Bata em mim) Baby, estou ficando louco
(Bata em mim) Me liga ou isso vai ser o fim
A última vez que vi seu rosto. Você me disse algo como,
Como: – Eu não posso ser substituída
Eu deixei mensagem pra você, umas mil
Acho que devo ter danificado o servidor, algo assim
Porque tudo que estou recebendo é silêncio, zumbindo
Sendo honesto, ficarei mal se você não me ligar
Apesar de acreditarmos que o ambiente da casa de shows seja climatizado, o cantor está suado e aparenta estar com a voz bem aquecida, pronta para executar as passagens ágeis e agudas que a canção lhe exige. Os músicos estão, desde o princípio da execução da canção, a postos e em pé, com exceção do baterista que, para tocar/percutir seu instrumento, composto por tambores e pratos de alguma liga metálica, deve manter-se sentado em um banco específico.
Consideramos antes de tudo que a apresentação musical da banda Dirty Loops pode ser considerada como uma “performance presentacional”, nos termos de Tomas Turino (2008, p. 21). Um tipo de expressão que pode implicar em um envolvimento físico e espiritual (como em um ritual) tanto por parte de quem pratica a ação de tocar ou cantar, assim como de quem aprecia[footnoteRef:7], a ponto de criarem uma experiência de fluxo, que pode ser caracterizada “por um envolvimento ainda mais profundo com os sinais sonoros que criam efeitos do sentimento e reação física e, portanto, integração pessoal” (tradução minha). [7: O apreciar aqui não deve ser confundido com uma atividade passiva, mas sim como uma escuta ativa, repleta de interações e de geração de sentidos por parte de um interlocutor.] 
Contudo, uma das coisas que me incomoda é a sensação de imobilidade do público em relação à banda que toca e canta num ritmo que se mostra tão empolgante e tão dançante. Dispostos à contra luz, na perspectiva de quem assiste o vídeo, poucas reações do público são perceptíveis. As palmas que surgem (da plateia?), não soam coerentes com a pequena quantidade de pessoas que levantam as mãos com esse intuito, nos dando a impressão de que foram gravadas em estúdio, após o show, no momento da edição do clipe sonoro/visual. 
Não sei ao certo se houveram adições de palmas em estúdio. Contudo, devido à minha experiência pessoal de trabalhar em várias produções e/ou gravações de shows ao vivo, em que editava os sons captados após os eventos ocorridos, tratando, mixando ou acrescentando outras trilhas que desejasse, posso afirmar, com quase plena certeza, que as palmas que se ouvem no clipe não foram captadas ali, naquele momento e local.
A filmagem ou a escolha de imagens em movimento que compõem o clipe musical também apresentam vários importantes detalhes que geram sentidos no contexto da performance. As câmeras de filmagem estão dispostas em lugares específicos e escondidos o expectador (não são vistas em momento algum do clipe): uma câmera plano frontal geral de maneira estática (mostrando todos os componentes da banda); laterais estáticas (com foco no rosto dos músicos); frontais em movimento (perfazendo pequenos deslocamentos e trazendo certa dinâmica ao vídeo); câmeras que focam nas mãos dos músicos e nos instrumentos (mostrando detalhes específicos da execução dos artistas). 
Não é visto o rosto de nenhuma pessoa do público ao longo das imagens do clipe musical. Seria isso por questões de privacidade, ou de alguma coisa relacionada a direito de imagem? O fato é que a ênfase da filmagem se mantém na banda e o público é mostrado sempre de forma geral, como figurantes anônimos da gravação de um clipe da banda. 
Em uma crítica tecida por Suzanne Cadgène (2014)[footnoteRef:8] sobre a reação das pessoas presentes à performance da banda, a colunista avalia que acreditava que o público estava gostando do “vocalista e tecladista […] bonito, enérgico e carismático, que oferecia ‘falsetes’[footnoteRef:9] que lembravam Michael Jackson” (tradução minha). Entretanto, ao perguntar para um profissional (que acredito ter estado presente no show), ela obteve a resposta de que a presença da banda seria um “erro de programação”, que eles não deveriam estar ali naquele festival de Jazz. Cadgène (2014) ainda complementa dizendo que “Dirty Loops teria sido um grande sucesso na discoteca Rock Cave, a cem metros de distância”. [8: Disponível em: http://www.elmoremagazine.com/2014/07/reviews/shows/dirty-loops-fall-flat-for-the-montreux -crowd.] [9: O falsete (do italiano falsetto) é um registro vocal, geralmente aplicado por vozes masculinas, que ocupa uma extensão de frequências vocais imediatamente acima das notas mais agudas que um cantor é capaz de executar. Alguns teóricos denominam o falsete de registro de cabeça (head register), registro leve (light register ou loft register), pelo fato de soar de modo suave e, simultaneamente, agudo (HOLLIEN, 1972). Vários artistas como Axl Rose e grupos musicais como Bee Gees utilizaram-se dessa técnica. Aqui no Brasil, a técnica do falsete está presente na voz de cantores como Milton Nascimento e Flávio Venturini, dentre outros.] 
Nas divulgações da banda Dirty Loops sempre aparecem apenas três músicos: Jonah Nilsson (vocal/teclado), Henrik Linder (baixo) e Aron Mellergardh (bateria). Mas, notamos a presença de um outro músico que não aparece nas publicações e propagandas do grupo musical. Um tecladista que, apesar de muita busca, não encontrei seu nome em lugar algum, nem na descrição e comentários do Youtube, nas críticas ao show, ou nas postagens do festival. Até mesmo a gravação das imagens do vídeo dá pouca ênfase ao músico convidado. Está clara assim a distinção entre dois planos, a principal, onde os membros oficiais da banda se encontram, um pouco mais à frente, e um plano secundário, onde o músico convidado pode ser visto no clipe.
Me soa estranho o fato de uma música tão dançante e alegre não conter, em sua instrumentação, uma guitarra. Ao invés disso, os pianos elétricos e sintetizadores digitais cumprem o papel de comporem as harmonias e solos da obra, construindo uma música a partir de vozes, instrumentos e sons elétricos (sintetizados ou sampleados). O que podemos inferir é que os membros da banda e/ou idealizadores do projeto Dirty Loops não tiveram a intenção de chamar atenção para um possível guitarrista, mantendo o foco na criação de uma música que se vale de elementosacústicos, sintéticos e tecnológicos, tanto ao vivo (executados em tempo real) quanto gravados (samples e/ou partes gravadas acionadas nos momentos da performance[footnoteRef:10]). [10: Atualmente, intérpretes ou grupos musicais de diversos gêneros utilizam sons gravados (loops, samples ou playbacks), que executam determinadas trilhas sonoras que podem ser somadas aos instrumentos executados ao vivo. Esta estratégia tem demonstrado eficácia, servindo como complemento instrumental, representando comodidade e economia no que diz respeito à contratação de mais músicos.] 
O tratamento do vídeo é tratado com um forte contraste, ressaltando os tons escuros. Todos os músicos são brancos e estão vestidos com roupas pretas simples (camisetas, calças compridas e tênis), o que reforçam uma imagem juvenil da banda e que serve, certamente, para definir seu espaço na cena do mercado fonográfico como um produto: uma banda sueca de brancos, jovens e bonitos, que se arruma e se comporta de uma maneira condizente com o mercado ao qual direcionam sua produção musical, se apresentando em vários países do mundo.
Os membros do grupo musical Dirty Loops são originários de Estocolmo, capital da Suécia, tendo sido amigos de escola e frequentado o Royal College of Music da sua cidade natal. Henrik Linder (baixista) pondera, no site oficial do grupo, que o intuito inicial de criar o grupo Dirty Loops, em 2008, foi apenas “por diversão” ou como meio de desenvolver o potencial e a liberdade criativa dos participantes na elaboração de arranjos de músicas de vários artistas da cena da pop music. Mas, após as publicações de alguns vídeos da banda tocando, o trabalho do grupo repercutiu tão positivamente nas mídias que o resultado foi a transformação de uma brincadeira em algo muito sério e profissional, que hoje galga destaque mundial. 
Observando Henrik Linder (baixista), de aparência “emo” ou “emocore” (do inglês: emotional hardcore), nota-se que ele é diferenciado grupo. Principalmente no que diz respeito à maquiagem (sombra nos olhos), piercings no lábio inferior, brinco de argola nas orelhas, esmalte preto nas unhas das mãos, cabelo liso e relativamente longo com penteado que chama atenção ao ser levemente caído no olho esquerdo, além de ser o único com uma camisa cinza por dentro. Sua habilidade técnica/expressiva no baixo de seis cordas impressiona pelo fato de não fazer apenas uma linha de acompanhamento simples no seu instrumento: inserindo arpejos e pequenos motivos rítmico/melódicos na sua execução; utilizando de capotraste[footnoteRef:11] e a realizando a técnica do slap[footnoteRef:12] no baixo de seis cordas (o que não é tão comum para este tipo de instrumento). Na performance, ele se destaca ao vir mais à frente do palco, demonstrando estar à vontade e confiante, numa atitude que comprova sua segurança no que está fazendo. [11: Capotraste é um dispositivo usado para modificar a configuração das alturas frequenciais de um instrumento musical de cordas como a guitarra, o violão, o bandolim ou o banjo, por meio de sua fixação em algum dos trastes do braço de um instrumento, tornando assim as notas mais agudas a partir de sua localização.] [12: O slap, slapping ou popping é uma técnica de produzir sons estridentes/percussivos puxando ou batendo as cordas contra o braço do contrabaixo ou baixo, mais comumente utilizadas em baixos de quatro ou cinco cordas.] 
A produção do show (composta por técnicos e profissionais diversos que mexem com os vários elementos sonoros e visuais), dispõe cada coisa seguindo certa hierarquia e ordem que se encaixa perfeitamente em uma ideia visual-sonora. Visualmente estabelecem: músicos à frente; retornos de som auriculares discretos; cubo de contrabaixo atrás; poucos cabos podem ser vistos e colunas do som geral (PA) que não se encontram à mostra no vídeo, talvez por estarem camuflados por algum tecido ou cortina do lado ou atrás do palco. 
Acusticamente, a equalização e a mixagem seguem a construção visual e são elaboradas com muito esmero, posto que conseguimos ouvir e definir todos os sons em sua faixa de frequência específica, com os volumes todos em um equilíbrio que privilegia a voz do cantor e dos backing vocals em relação aos outros instrumentos, além da não-presença de ruídos indesejáveis. Quanto à bateria, é utilizado na apresentação uma espécie de isolador/abafador acústico (comercialmente chamado de aquário) para que o som dos tambores e pratos da bateria não sejam captados pelos microfones dispostos no palco, sobretudo o do cantor principal, que deve ser regulado com maior sensibilidade que os demais.
Os microfones estão postos para todos os músicos, mas Jonah Nilsson, que é o cantor “de frente”, é o único com microfone sem fio, que serve para lhe permitir uma maior mobilidade no palco. Após o refrão da música, ele retira seu microfone, anda à frente do palco e passa a mão no cabelo, fazendo charme e olhando para o público, estabelecendo contato visual direto com a plateia, como se expressasse o “presente” no “aqui-agora da performance”. 
Apesar da energia transmitida pela batida do ritmo da canção “Hit me”, Jonah Nilsson não esboça movimentos de dança, apenas gestos objetivos com as mãos que reforçam o conteúdo da letra da canção. Sua voz leve de afinação precisa, aguda e ágil, que varia entre a voz plena e o falsete, numa mescla entre o belting[footnoteRef:13] e mix voicing[footnoteRef:14], lembram os tempos áureos de Michael Jackson, Stevie Wonder, Mariah Carey e Brian Micknight, ou de brasileiros como Ton Carfi, Rodrigo Magalhães e Leonardo Gonçalves. [13: De acordo com Silva e Herr (2016, p. 1), “o termo belting vem do verbo “to belt out”, que significa cantar de maneira forçada ou gritada. Todavia, hoje o belting é reconhecidamente um estilo ou técnica de se cantar em voz mista (mix) com predominância de sub-registro de peito, geralmente na região mais aguda da voz”.] [14: A voz mista ou mix é um tipo de técnica caracterizada pela utilização simultânea das ressonâncias da voz de cabeça, ou head-mix, e vox de peito, ou chest-mix.] 
Cabe frisar que tanto no início quanto no final da canção, Nilsson nem esboça a execução ao vivo dos melismas[footnoteRef:15] constantes na gravação do clipe original da canção “Hit me”, produzida em estúdio. Fato que, em certa medida, provocou reações contraditórias de alguns “fãs virtuais” que aguardavam a execução dos mesmos, de acordo com os comentários do vídeo no YouTube. Isto pode significar que o cantor não teria a intenção de forçar a voz, tendo em vista as notas agudíssimas dos tais melismas, o que poderia provocar algum problema vocal no caso do uso exaustivo da voz, prejudicando assim a agenda de shows da banda. Ao invés disso, o baterista preenche os espaços que seriam o lugar deste detalhe vocal, sendo que, para quem não conhece a primeira versão, não sente sua falta. [15: Os melismas são grupos de notas executadas por um cantor prolongando o soar de uma vogal.] 
A interação entre o baterista, Aron Mellergardh, e o tecladista convidado da banda, se configura como outro detalhe importante. Lembrou-me minhas participações como freelancer em algumas bandas, ou em grupos musicais formados para acompanhar artistas locais e/ou nacionais em shows na minha cidade. De certa maneira, era muito agradável me sentir acolhido na banda, tendo alguém pra dialogar por meio da expressão corporal, ou simplesmente pelo olhar, ao longo da execução do repertório. Há uma socialização de sentidos e sentimentos quando nos comunicamos sem palavras, quando a música, o ritmo, as harmonias e melodias compõem o vocabulário. Naquele momento em que os instrumentistas socializavam as sonoridades e as atitudes, a música acontecia, poderia se imaginar uma ligação de intenções de um fazer e de um participar-fazendo. Parafraseando Thomas Turino (2008, p. 18), a sensação que se tem “é que o som musical fornece feedback direto, imediato e constante” sobre como estamos desempenhando nosso papel enquanto artistas. Desta maneira é que o autor entende quandouma performance é boa, ou seja, quando o músico se conecta a “uma profunda sensação de unidade com as pessoas com quem está tocando”.
No clipe de “Hit me”, Jonah Nilsson e Henrik Linder se mantém concentrados na sua própria atuação. Em poucos momentos podem ser observadas trocas de olhares entre esses dois músicos e o resto da banda. Mas o prazer em tocar junto e a segurança que demonstram sentir mutuamente é uma marca constante no constructo audiovisual. Os olhares de toda a banda, acredito que também da plateia, se voltam para o baterista especialmente no final da música, quando o mesmo realiza um pequeno solo e demarca assim o final da performance cancional. Para além disso, acredito que este pequeno solo de bateria também demarca o fim do show.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Meu primeiro contato com arranjos e obras autorais deste conjunto de jovens músicos foi no ano de 2014 quando, por conta de necessidades profissionais docentes[footnoteRef:16], pesquisava sobre técnica vocal no YouTube. Mais especificamente, quando assistia vídeos sobre belting e/ou a mix voicing, artifícios evidentemente presentes na construção vocal da sonoridade do cantor da referida banda. A capacidade técnica do Dirty Loops me surpreendeu na época e ainda me surpreende, por isso tive a ideia e o desejo de pesquisar e saber mais sobre o grupo musical. [16: Na referida época, eu ministrava aulas de canto em um projeto de extensão do Instituto Federal do Piauí (IFPI), e estava escolhendo arranjos que desenvolveria com os participantes do mesmo.] 
Dentre as características performáticas do grupo, acredito na persistência de pelo menos quatro características que julgo elementares na construção da identidade do grupo musical Dirty Loops: 1- utilização de “loops” e/ou “samples”: sequências gravadas e sons sintetizados que atualmente se tornaram frequentes em várias apresentações que mesclam sons gravados em estúdio (e reproduzidos por computadores, tablets, smartphones ou outros tipos de reprodutores de mídias audiovisuais), com instrumentos e vozes executados ao vivo; 2- utilização de harmonias que soam pouco convencionais se comparada a inúmeras bandas do mesmo seguimento fonográfico do universo pop-jazzístico; 3- passagens rítmicas complexas, com uso de contratempos e sincopas, além de variações de compassos recorrentes ao longo das obras e arranjos que eles desenvolvem; e 4- colocação vocal e afinação muito precisa, tanto nas gravações quanto nas apresentações ao vivo, alcance de notas agudíssimas e grande agilidade na execução de melismas – por Jonah Nilsson (cantor e tecladista da banda) – que exigem muita perícia, preparo e precisão do trato vocal.
Por fim, creio que o exercício de descrever performances musicais nos provoca a refletir sobre as diversas possibilidades onde as práticas de organização sonora se inserem, levando em conta os sentidos que essas construções podem suscitar para um público, para os produtores e para os próprios músicos. Provocando o questionamento acerca dos seus valores e de seus papéis enquanto pessoas e/ou personagens atuantes dentro de um contexto histórico-social de um “ritual sonoro”. 
REFERÊNCIAS
BLACKING, John. Quão musical é o homem? Tradução: de Guilherme Werlang. Londres: Faber & Faber. 1976 [1973].
CAMPOS, Lúcia. Como capturar uma world music em circulação? Etnografia do grupo Siba e a Fuloresta em festivais europeus. Revista ECO-Pós, v. 23, n. 1, 2020.
Hollien, Harry (1972). On Vocal Registers. Florida Univ., Gainesville. Communication Sciences Laboratory Quarterly Report, Volume 10, No. 1. Disponível em: https://archive.org/ details/ERIC_ED087073/mode/2up. Acesso dia 24/08/2020.
SILVA, Luciano Simões e HERR, Martha. A técnica belting para vozes masculinas: bases fisiológicas e pedagógicas para barítonos e baritenores do teatro musical norte-americano. XXVI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – B. Horizonte – 2016. Disponível em: https://anppom.com.br/congressos/index.php/26anppom/ bh2016/paper/download/4367/1465. Acesso dia 23/08/2020.
TURINO, Thomas. Music as Social Life: the politics of participation. Chicago and London: The University of Chicago Press, 2008.
*Vídeos
Gravação do vídeo da canção “Hit me” no Festival de Jazz de Montreux disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IDHHXJIrv4c. Acesso dia 15/08/2020.
Videoclipe original da canção “Hit me” disponível em: https://www.youtube.com/watch? v=utn6TnORINM. Acesso dia 15/08/2020.
**Sites 
CADGÈNE, Suzanne. Dirty Loops se perdem para a multidão de Montreux: Críticas de shows ao vivo. Elmore Magazine, 2014. Disponível em: http://www.elmoremagazine.com/ 2014/07/reviews/shows/dirty-loops-fall-flat-for-the-montreux-crowd. Acesso dia 24/08/2020.
Página oficial da banda Dirty Loops, disponível em: http://dirty-loops.com/. Acesso dia 24/08/2020.
Site de divulgação da agenda do Festival de Música de Montreux, de 2014. Disponível em: https://viagemempauta.com.br/2014/07/06/viagem-em-pauta-acompanha-o-48o-montreux-jaz z-festival-na-suica/. Acesso dia 18/08/2020.
Site oficial do Festival de Jazz de Montreux (Montreux Jazz Festival) disponível em: https://www.montreuxjazzfestival.com/fr/. Acesso dia 24/08/2020.