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Versão eBook brasileira baseada em trechos extraídos e traduzidos, adaptados e ilustrados do livro: IKIGAI Los secretos de Japón para una vida larga y feliz (Ed. Urano) de Héctor Garcia (Kirai) e Francesc Miralles, que autorizou o uso não comercial dos textos, e outras fontes. Parte I - Conceitos e Vivências 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 2 Índice PARTE 1: CONCEITOS E VIVÊNCIAS Introdução RAZÃO DE SER Ikigai: Uma palavra misteriosa 3 Capítulo 1 CONSCIÊNCIA Como viver mais e envelhecer sempre jovem, produtivo e feliz 7 Capítulo 2 PROPÓSITO Como encontrar sua razão de ser e dar sentido a sua vida 14 Capítulo 3 FLUIDEZ Como converter trabalho e tempo livre em crescimento interior 29 Capítulo 4 ENTUSIASMO Como enfrentar problemas e mudanças sem stress e ansiedade 57 Capítulo 5 IKIGAI Uma arte de viver (Viver em Ikigai) 71 Obs. Vá para página 74 para acessar a parte 2 deste eBook. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 3 Razão de Ser Estamos vivendo um momento ideal para abordar temas filosóficos e psicológicos que nos permitam entender este atual quadro social, político e econômico, angustiante, caótico e deprimente. Assim, as questões existenciais assumem um lugar importante nas nossas reflexões diárias e escolhas conscientes sobre nossas opções de felicidade e qualidade de vida, que dispomos nesta sociedade cada vez mais fria e materialista. Na busca pela minha razão de ser, descobri há algum tempo esta palavra japonesa: IKIGAI. Logo comecei a pesquisar profundamente sobre o assunto e fiquei surpreso com a falta de informação e raríssima literatura existente no mundo sobre este tema. Era como se o IKIGAI fosse um segredo guardado a sete chaves. Este conceito da cultura oriental faz parte da essência das pessoas de lá e é tão difícil explicá-lo a um ocidental como quando, nós brasileiros, tentamos explicar a um estrangeiro o que é “saudade” e definir a alegria e tristeza que contagia a todos em nosso país, quando falamos de carnaval ou futebol. Ao finalmente encontrar um livro falando de IKIGAI de uma forma simples, agradável e fácil de entender, não resisti a tentação de traduzí-lo e incorporar ilustrações, textos complementares e links para estudo. Começei esse trabalho objetivando meu próprio desenvolvimento, sob um ímpeto que depois soube que era puro fluxo (flow), mas na medida em que fui incorporando uma atitude IKIGAI, decidi compartilhar esse conteúdo com todos que se interessarem pelo tema, e assim ajudar a propagar esta maravilhosa filosofia pelo mundo, através desta pequena contribuição para a conscientização de todos que buscam sua razão de ser. Este livro não pretende ser um tratado filosófico ou psicológico sobre IKIGAI. É apenas uma compilação de vários conceitos que mesclam a cultura oriental com a ocidental e constitui a base para entender melhor esta forma de viver com propósito. Com o tempo, pretendo incluir novos textos, mais comentários, links e tudo que for interessante e pertinente ao tema IKIGAI. Caso você leitor, precise mais informações sobre o assunto ou queira discutir temas ou ainda, contribuir com textos, artigos e comentários, por favor, entre em contato pelo meu e-mail: fredlar.br@gmail.com Vamos juntos viver em IKIGAI. Frederico Lobato Mentor e Conselheiro IKIGAI mailto:fredlar.br@gmail.com 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 4 Ikigai: Uma palavra misteriosa Este livro começou a ser escrito em uma noite chuvosa em Tóquio, quando dois amigos psicólogos, Héctor Garcia e Francesc Miralles, se encontraram em um dos minúsculos bares que proliferam na cidade. Lá eles conversaram sobre correntes psicológicas, especialmente sobre a logoterapia, que quer dizer, a terapia do significado da vida, e nessas conversas surgiu o nome de Victor Frankl e a pouca presença de sua abordagem nas consultas, em comparação com outras escolas psicológicas, sendo que pessoas continuam buscando um significado a respeito do que fazem e vivem, e fazendo questionamentos como: - Qual o sentido da minha vida? - Estou apenas contando os dias da minha existência ou tenho uma missão mais elevada no mundo? - Por que existem pessoas que sabem o que querem e vivem com paixão, enquanto outras mergulham e definham na confusão? Em algum momento da conversa, surgiu a palavra misteriosa: ikigai. Eles constataram que este conceito japonês, que se traduz de uma forma simples como: “a felicidade de estar sempre ocupado”, tem íntima relação com a logoterapia, porém vai mais além, pois parece este conceito seria uma das razões que explica a extraordinária longevidade dos japoneses, sobretudo na ilha de Okinawa. O número de centenários em Okinawa por cada 100.000 habitantes é de 23,55, ou seja, muito superior à média mundial. Quando se estudam os motivos pelos quais os habitantes desta ilha ao sul do Japão vivem mais que nenhum outro lugar do mundo, acredita-se que, além da alimentação, a vida agradável ao ar livre, o 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 5 chá verde ou o clima subtropical (a temperatura média é parecida com o Havaí), uma das principais razões é o ikigai que rege sua vida. Investigando sobre este conceito, os dois psicólogos se deram conta que nunca havia sido publicado, seja do ponto de vista da psicologia ou de desenvolvimento pessoal, um trabalho que estudasse esta filosofia para transportá-la ao ocidente. É o ikigai responsável pelo fato de que em Okinawa exista mais centenários que em nenhum outro lugar? Como seus habitantes são inspirados a permanecer ativos até o fim de suas vidas? Qual é o segredo de uma existência longa e feliz? Enquanto explorávam este conceito, Héctor Garcia e Francesc Miralles constataram que em Okinawa há um povo em especial que vive ao norte da ilha, em uma localidade rural com 3.000 habitantes chamada Ogimi, que detém o maior índice de longevidade do mundo e é conhecida como “a aldeia dos centenários”. Assim, os dois psicologos foram até Ogimi para pesquisar os segredos desse povo, cujos anciões vivem ativos e satisfeitos até o fim dos seus dias. Nesta aldeia, além de falarem uma língua ancestral, os nativos praticam uma religião animista que tem como figura central um duende mitológico do bosque com longa cabeleira: o Bunagaya. A falta de infraestrutura obrigou-os a ficar a 20 quilômetros do povoado. Ao lá chegar, eles já perceberam a extraordinária amabilidade dos seus habitantes, que riam e brincavam o tempo todo, em meio as verdes encostas regadas por água pira e cristalina. Em Ogimi cresce a maior parte da shikuwasa do Japão, os limões de Okinawa, aos quais se atribui um grande poder antioxidante. Seria 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 6 esse o segredo da longevidade dos habitantes de Ogimi? Ou seria a água pura com a qual eles fazem o chá de moringa? Enquanto faziam as entrevistas com os mais velhos do lugar, eles descobriram que havia algo muito mais profundo que o poder da água, dos limões e de quaisquer outros produtos da terra. Um dos motivos essenciais estava na alegria incomum que irradiava dos nativos e guiava suas vidas por um caminho longo e prazeroso. Novamente surge a palavra misteriosa: ikigai. Porém, o que ela exatamente significa? Onde e como se pode adquiri-la? O surpreendente é que em Okinawa, este tranquilo lugar de vida quase eterna, 200.000 vidas inocentes foram ceifadas no final da Segunda Guerra Mundial. Em vez de guardar rancor dos invasores, os okinawenses recorrem a “ichariba chode”, uma expressão local que pode ser traduzida assim: “trate a todos como se fossem seus irmãos mesmo que seja a primeira vez que os conhecerem”. Outro dos segredos dos habitantesde Ogimi é seu sentido de pertencer a sua comunidade. Desde pequenos praticam o yuimaaru, o trabalho em equipe, que os leva a ajudarem-se uns aos outros. Além de cuidar das amizades, alimentação leve, descanso adequado e exercício suave, os pesquisadores descobriram que no centro dessa “joie de vivre” (alegria de viver que motiva a celebração de cada amanhecer por anos seguidos), está o ikigai pessoal de cada um. Entre os vários segredos desses centenários japoneses para uma vida saudável e feliz, este livro apresenta métodos e ferramentas para inspirar quem quer descobrir seu ikigai, pois quem o encontra carrega dentro de si tudo que é necessário para ter uma vida significativa, produtiva, longa e feliz. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 7 CONSCIÊNCIA Como viver mais e envelhecer sempre jovem, produtivo e feliz Qual a sua razão de ser? Segundo os japoneses, todo mundo tem um ikigai, o que um filósofo francês traduziria como raison d´être. Alguns o encontraram e são conscientes de seu ikigai, outros o carregam dentro de si, mas ainda o estão buscando. O ikigai está escondido em nosso interior e requer uma paciente exploração para chegar ao ponto mais profundo do nosso ser e encontrá-lo. Segundo os naturais de Okinawa, o ikigai é a razão pela qual nos levantamos pela manhã. Ter um ikigai claro e definido, uma grande paixão, dá satisfação, felicidade e significado para a vida. Neste livro você vai entender como encontrá-lo, além de descobrir muitas chaves da filosofia japonesa para uma longa saúde do corpo, mente e espírito. Um dos aspectos que surpreendem quando se vive por um tempo no Japão é ver como as pessoas são ativas, mesmo depois de se aposentarem. Na verdade, um grande número de japoneses nunca se aposenta, seguem trabalhando naquilo que gostam, sempre e até quando a sua saúde permitir. Não existe uma palavra em japonês que signifique aposentar-se com o exato significado de “deixar de trabalhar para sempre”, como temos aqui no ocidente. Assim, como afirma Dan Buettner, jornalista da National Geographic que conhece bem o Japão, “ter um propósito vital é tão importante nesta cultura que, por isso, eles não têm nosso conceito de aposentadoria”. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 8 A ilha da (quase) eterna juventude Estudos sobre a longevidade sugerem que a vida em comunidade e ter um ikigai claro são tanto ou mais importantes que a saudável dieta japonesa. O conceito que vamos explorar neste livro está especialmente arraigado em Okinawa, uma das chamadas “zonas azuis”, os lugares do mundo onde as pessoas são mais longevas. Nesta ilha existem mais pessoas com mais de 100 anos por 100.000 habitantes do que em qualquer outra região do planeta. As pesquisas médicas em curso têm levantados dados muito interessantes a respeito das características destes seres humanos extraordinários. • Além de viverem muitos anos a mais do que o resto da população mundial, eles padecem menos enfermidades crônicas como o câncer ou doenças cardíacas. As infecções inflamatórias também são menos comuns. • Existem numerosos centenários com um invejável nível de vitalidade e um estado de saúde que seria impensável para anciões de outras regiões do mundo. Arquipélago de Okinawa O arquipélago é dividido em três grupos menores de ilhas: Okinawa - - onde estão a capital Naha e as ilhas Kerama, Tokashiki, Ie e Kume --, Miyako e Yaeyama -- formada pelas ilhas Iriomote e Ishigaki. Cada uma tem uma arquitetura um tanto distinta das demais, seus próprios costumes e palavreado próprio. As ilhas oferecem uma cultura bem distinta do resto do Japão, com vários ateliês de cerâmica e artesanato, academias de karatê (Okinawa é a pátria do esporte), oficinas que produzem o sanshin e construções históricas belíssimas. Saiba Mais: http://www.utinapress.com.br/cultura_6.html http://www.utinapress.com.br/cultura_6.html 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 9 • Seu sangue apresenta um nível mais baixo de radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento celular, devido à cultura do chá e ao costume de ingerir somente 80% da quantidade de comida necessária para saciar seu estômago. • A menopausa nas mulheres é muito mais suave e, em geral, homens e mulheres mantém um nível elevado de hormônios sexuais até idades muito avançadas. • Os casos de demência apresentam também um índice notavelmente mais baixo que a média da população mundial. Todos estes aspectos serão aqui abordados, porém os pesquisadores ressaltam que um dos itens que mais contribui para a saúde e longevidade dos habitantes de Okinawa é a sua atitude “ikigai” perante a vida, com sua incessante busca diária de sentido profundo. Caracteres do IKIGAI Os dois primeiros caracteres significam “vida”. Os dois seguintes juntos significam “valer a pena” e individualmente o primeiro significa “armadura”, “número um”, “ser o primeiro a ir (na frente da batalha levando a iniciativa e liderança)”, o final significa “elegante”, “belo”. As cinco zonas azuis Pesquisando as regiões onde existem muitos casos de longevidade alta, Dan Buettner identificou cinco zonas, onde a número um fica em Okinawa, no Japão, onde especialmente as mulheres são as que têm uma existência mais longa, e sem enfermidades, do mundo. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 10 As cinco regiões identificadas e analisadas por Buettner são: 1. Okinawa, Japão (em particular, ao norte da ilha). Sua dieta inclui muitas verduras e tofu. Comem em pratos pequenos. Em seu estilo de vida, além da filosofia ikigai, é importante o conceito de moai, que veremos a seguir. 2. Sardenha, Itália (especialmente em Nuoro e Ogliastra). Consomem muitas verduras e vinho. São comunidades muito unidas, nas quais se verifica grande incidência de longevidade. 3. Loma Linda, California. Foi estudado um grupo de adventistas do Sétimo Dia, que estão entre os mais longevos dos Estados Unidos. 4. Península de Nicoya, Costa Rica. Muitos nativos superam os 90 anos com uma vitalidade incomum. Grande parte dos anciãos se levantam às 05:30 para realizar as tarefa do campo sem grandes dificuldades. 5. Icaria, Grécia. Próximo à costa turca, um em cada três habitantes desta ilha têm mais de 90 anos, o que lhe valeu o apelido de “ilha da longevidade”. Supõe-se é que o segredo dos nativos desta ilha remonta a um estilo de vida que existe desde 500 A.C. As Zonas Azuis O livro, ainda sem edição em português, trata dos locais no mundo onde as pessoas são mais longevas. Revela a receita misturando na fórmula o estilo de vida saudável com as últimas descobertas científicas para mostrar para o leitor que todos podem adicionar alguns anos em sua existência. Saiba Mais: https://pt.wikipedia.org/wiki/Zonas_Azuis https://pt.wikipedia.org/wiki/Zonas_Azuis 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 11 Fatores comuns nestas zonas parecem conter as chaves da longevidade. Okinawa, que conta com a chamada “aldeia de centenários”, é parte significativa desse estudo. Interessante notar que três destas zonas são localizadas em ilhas, onde existem menos recursos e as comunidades devem ajudar-se entre si. Ter que ajudarem-se uns aos outros pode se constituir para muitos um ikigai suficientemente poderoso para seguir vivendo. Segundo os cientistas que compararam as vidas nas cinco zonas azuis, as chaves de uma vida longa são a dieta, o exercício, ter um propósito de vida (um ikigai) e manter boas conexões sociais, ou seja, contar com muitos amigos e boas relações dentro da família. Estas comunidades gerenciam bem seu tempo para reduzir o stress, comem pouca carne e alimentos processadose bebem álcool com moderação. O exercício que praticam não é extremo, porém se movimentam todos os dias para passear e trabalhar na horta. Os habitantes das zonas azuis preferem caminhar a subir num carro. Em todas elas é muito comum a atividade de jardinagem, que requer movimento físico a cada dia, porém de baixa intensidade. Saiba Mais: https://eduardojunior.wordpress.com/tag/moai/ O segredo dos 80% Um dos refrãos mais populares em Okinawa é “Hara hachi bu”, que se fala antes ou depois de comer e significa algo assim como “barriga nos 80 por cento”. A sabedoria ancestral recomenda não comer até incharmos. Por isso, eles deixam de comer quando sentem que seu https://eduardojunior.wordpress.com/tag/moai/ 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 12 estomago está a 80% de saciar-se, evitando assim que o corpo se desgaste e acelere a oxidação celular, com uma longa digestão. Talvez algo tão simples como isto seja um dos segredos de vida longa dos okinawenses. Sua dieta é rica em alimentos saudáveis e antioxidantesm tais como: tofu, batatas doces, peixes (três vezes na semana) e muitas verduras (300 gramas ao dia). A forma que servem a comida também é importante. Ao dividi-la em vários pratinhos, os japoneses tendem a comer menos e mesmo os ocidentais no Japão tendem a perder peso e se manterem esbeltos. Estudos recentes de nutricionistas revelam que o consumo diário dos okinawenses é de aproximadamente 1.800 a 1.900 calorias e seu índice de massa corporal oscila entre 18 e 22, enquanto que nos Estados Unidos a média é de 26 ou 27. MOAI: laços para uma longa vida Esta é uma tradição de Okinawa – e também de Kagoshima – para formar laços fortes nas comunidades locais. O moai é um grupo informal de pessoas com interesses comuns e que se ajudam entre si. Para muitos, o serviço à comunidade se converte em seus ikigais. Moai Grupos de quatro ou cinco amigos que têm muita confiança entre si e emprestam dinheiro ou alimentos uns aos outros. Em Okinawa os moais modernos servem para promover encontros regulares com os amigos. Segundo estudo da Universidade Drexel (EUA), idosos com menos vida social são mais propensos a morrer de doenças cardíacas e câncer. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 13 A origem dos moais vêm de tempos difíceis, quando os agricultores se juntavam para trocar informações sobre as melhores formas de cultivar, assim como para ajudarem uns aos outros no caso de que a colheita não fosse boa naquele ano. Os membros de um moai pagam um valor mensal estabelecido. Este pagamento permite participar de reuniões, jantares, partidas de go, shogi (xadres japonês) e desfrutar de qualquer passatempo comum. O dinheiro de todos é usado nas atividades e, se for acumulado em demasia, um membro (rotativo) recebe uma quantidade de dinheiro. Saiba Mais: http://tupidataba.blogspot.com.br/2005/04/tanomoshi-consrcio-de-dinheiro.html O moai ajuda a manter a estabilidade financeira e emocional do grupo. Se alguém ficar com dificuldades financeiras, o grupo pode adiantar o pagamento da poupança para ajudar um membro. As regras específicas da contabilidade de cada moai variam segundo o grupo e suas possibilidades econômicas. A contabilidade do moai se registra em um livreto chamado moaicho. Este sentimento de pertencimento e ajuda, fornece segurança à pessoa e contribui para aumentar sua espectativa de vida. “Somente em atividade você irá desejar viver cem anos” Provérbio Japonês http://tupidataba.blogspot.com.br/2005/04/tanomoshi-consrcio-de-dinheiro.html 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 14 PROPÓSITO Como encontrar sua razão de ser e dar sentido à sua vida A razão de ser na Logoterapia Um colega de Frankl definiu a psicanálise assim: “Na psicanálise, o paciente se deita em um divã e lhe fala coisas que, às vezes, são muito desagradáveis de dizer”. Quando ele pediu que Frankl definisse a logoterapia em uma só frase, ele respondeu: “Pois bem, na logoterapia, o paciente fica sentado, ereto, e você tem que escutar coisas que, às vezes, são muito desagradáveis de ouvir”. Uma das perguntas iniciais que Frankl que fazia a seus pacientes era: “Por que você não se suicida?”. Geralmente os pacientes encontravam bons motivos para não fazê-lo e seguir adiante. Então, o que faz a logoterapia? A resposta é bem clara: encontrar motivos para viver. A logoterapia impulsiona o paciente a descobrir conscientemente o sentido da sua vida para enfrentar suas neuroses. A luta pessoal para alcançar seu destino irá motivar o paciente a os obstáculos que encontrar pelo caminho. Em Busca de Sentido Esta magnífica obra de Viktor Frankl (1946) retrata suas experiências como prisioneiro em um campo de concentração e descreve seu método psicoterapêutico de como encontrar uma razão para viver. A primeira parte do livro constitui as experiências de Frankl nos campos de concentração, e a segunda parte é uma introdução à Logoterapia. Saiba Mais: https://www.youtube.com/watch?v=e5878lMpVkc https://pt.wikipedia.org/wiki/Logoterapia https://www.youtube.com/watch?v=e5878lMpVkc 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 15 Em busca de sentido Considerando que para Frankl o homem é capaz de viver e morrer por seus princípios e ideias, a busca do sentido se converte em uma força primária e pessoal que permite ao homem atingir os seus objetivos. Podemos resumir o processo da logoterapia em cinco passos: 1. O paciente sente um vazio, uma frustração ou ansiedade 2. Começa a sentir um desejo por ter uma vida significativa 3. Descobre o sentido de sua existência (nessa sua fase de vida) 4. Voluntariamente, escolhe entre aceitar ou não esse destino 5. Esse novo impulso vital o faz enfrentar problemas e obstáculos A experiência vital de ser prisioneiro em Auschwitz, fez com que Viktor Frankl entendesse que "tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa, a última das liberdades humanas: a escolha do seu próprio caminho." Era um processo que ele tinha que viver ele mesmo e sem ajuda, mas que o inspirou para o resto da sua vida. Lutar por si mesmo A frustração existencial aparece quando se detecta a ausência ou distorção de sentido sobre a vida. Porém para Frankl, esta frustração não é anormal ou um sintoma de neurose, e pode ser até, em certo grau, um estímulo positivo para modificar aspectos da própria vida. A logoterapia não considera esta frustração uma doença mental, como outras terapias, senão uma angústia espiritual. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 16 Para Frankl, o conflito espiritual é um fenômeno natural e benéfico para o ser humano, porque estimula quem sofre a buscar um remédio, seja com ajuda externa ou pelos seus próprios meios, e assim alcançar uma maior satisfação vital. Em suma, ajuda a transformar o próprio destino. Quando uma pessoa necessita de apoio, a logoterapia entra em ação ajudando o paciente a descobrir o sentido da sua vida, o guiando através do seu conflito, e avançando até atingir seu objetivo. Frankl sempre citava um frase célebre de Nietzche, que dizia que “quem sabe porquê se vive, suporta qualquer tipo de como se vive”. Segundo sua própria experiência, Frankl opinava que é saudável ter certas doses de tensão natural, que surgem quando se analisa o que se alcançou até o momento e o que se quer conseguir alcançar para frente. “O ser humano não necessita de uma existência tranquila, e sim de desafios pelos quais terá que usar sua capacidade e lutar.” O vazio existencial, por outra parte, é típico das sociedades modernas nas quais os homens fazem o que os outros homens lhe dizem para fazer, em vez daquilo que eles desejariam fazer.Muitas vezes este vazio tenta se preencher com poder econômico, prazer físico ou entorpecimento mental. Pode inclusive levar ao suicídio. A neurose do domingo, por exemplo, aparece quando, ao suspender as obrigações e a rotina apressada da semana, a pessoa se dá conta do vazio que há no seu interior. Então ao vivenciar esta situação surge a conscientização de que é preciso buscar soluções e, sobretudo, um “propósito”, um motivo pelo qual tenha que se levantar da cama. Entrevista com Viktor Frankl A descoberta de um sentido no sofrimento https://www.youtube.com/watch?v=ilRNmwNvuWk https://www.youtube.com/watch?v=ilRNmwNvuWk 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 17 10 DIFERENÇAS ENTRE A PSICANÁLISE E A LOGOTERAPIA PSICANÁLISE LOGOTERAPIA O paciente se deita em um divã, como um paciente a ser tratato O paciente se senta em frente ao terapeuta, o qual o guia sem julgar É retrospectiva, olha o passado Olha em direção ao futuro É introspectiva, analisa a neurose. Não investiga a neurose do paciente A vontade é a do prazer A vontade é a do sentido É centrada na dimensão psicológica. Adentra na dimensão espiritual. Funciona para a neurose psicogênica (impulsos-instintos) Funciona também para as neuroses noógenas (princípios-princípios). Analisa a origem inconsciente dos conflitos (dimensão instintiva) Trata os conflitos desde onde e quando eles surgem (dimensão espiritual) Se limita aos atos instintivos Engloba também as realidades espirituais É essencialmente incompatível com a fé É compatível com a fé e os princípios cristãos sobre a essência humana Busca conciliar os conflitos e satisfazer os impulsos e instintos. Busca que o homem dê sentido a sua vida e satisfaça seus princípios morais. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 18 Encontrar o significado da vida, como defende a logoterapia, dá ao ser humano razões para preencher esse vazio. Para Frankl, o homem que enfrenta seus problemas e converte os seus objetivos em atividades, ao ficar mais velho, pode olhar para trás com paz em seu interior. Ele não irá invejar o vigor dos jovens, porque terá um tal acúmulo de vivências e experiências, que lhe darão a certeza de que ele viveu por e para algo significativo. Algumas chaves da logoterapia para uma vida melhor • O homem não inventa o sentido da sua existência, como declara Sartre, ele o descobre. • O sentido da vida é próprio de cada indivíduo, e pode reconverter- se e mudar muitas vezes ao longo dos anos. • Da mesma forma que o medo faz com que se produza aquilo que se teme, a excessiva atenção/confiança (hiperatenção) sobre aquilo que se deseja, faz com que não se alcance o objetivo desejado. • O humor ajuda a desbloquear círculos viciosos e liberar ansiedades. “Me Sinto Vazio” Depois de fazer um estudo no Hospital Policlínico de Viena, a equipe de Frankl descobriu que 55% dos pacientes pesquisados demonstravam algum grau de vazio existencial. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 19 • O ser humano tem a capacidade de agir de forma nobre e de forma vil indistintamente. A postura adotada dependerá de suas decisões e não de suas condições. Em seguida, veremos quatro casos do consultório de Viktor Frankl para entender sua terapia para a busca de sentido. O caso do próprio Frankl Tanto nos campos de concentração alemães como posteriormente nos japoneses e coreanos, os psiquiatras puderam constatar que os detentos com mais probabilidades de sobrevivência eram os que tinham metas para cumprir fora dos campos, e que sentiam a necessidade de sair dali com vida. Esse foi o caso de Frankl, que antes de ser solto e desenvolver com êxito sua escola da logoterapia, se deu conta de que ele mesmo havia sido paciente de sua própria terapia. Frankl tinha um objetivo a cumprir que o fez seguir adiante. Ao ser preso inicialmente no campo de Auschwitz, lhe confiscaram um manuscrito onde ele tinha desenvolvido suas teorias e pesquisas, e que estava pronto para ser publicado. Ao perder de vez seu manuscrito, Frankl sentiu a necessidade de reescrevê-lo, e aquilo lhe deu um impulso e um sentido na sua vida entre os horrores e as incertezas constantes dos campos de concentração. Tanto assim que ao passar dos anos, especialmente quando esteve doente de tifo, foi anotando em pedaços de papel que encontrava os fragmentos e palavras chave da obra perdida. Veremos a seguir os casos mais célebres que Frankl atendeu em suas consultas, e que nos permitem entender a prática da logoterapia. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 20 O caso do diplomata americano Um importante diplomata norte-americano procurou Frankl para dar continuidade a um tratamento iniciado cinco anos atrás em seu país de origem. Frankl lhe perguntou por que ele iniciou essa terapia tempos atrás, o diplomata respondeu que se sentia desgostoso com seu trabalho e com a política exterior de seu país, que devia cumprir e fazer cumprir. Seu psicanalista americano, com quem havia feito anos de terapia, tinha insistido que ele se reconciliasse com o seu pai, considerando que o seu trabalho no governo lhe parecia tão desagradável, por se constituira em representações da figura paterna. Após poucas sessões, Frankl lhe fez ver que sua frustração era porque ele desejava dedicar-se a outra profissão, e o diplomata terminou seu tratamento com essa ideia em mente. Cinco anos depois, Frankl soube por um colega que o ex-diplomata estava trabalhando há tempos em outra área e se sentia muito feliz. Frankl afirmava que este homem, além de não ter necessidade de cinco anos de psicanálise, também não podia sequer se considerar um “paciente” com necessidade de terapia. Simplesmente estava em busca de um propósito que daria um novo sentido à sua vida. No momento que o encontrou, sua vida adquiriu um significado profundo. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 21 O caso da mãe suicida A mãe de um garoto que tinha morrido aos onze anos foi internada na clinica de Frankl depois de tentar suicídio e tentar levar com ela um outro filho. Foi este outro filho, paralítico desde a infância, quem lhe impediu o ato. Ele já tinha encontrado sentido para sua existência, e se sua mãe matasse os dois, não poderia cumprir sua missão. Em uma sessão de grupo, a mulher contou sua história. Para ajudá-la, Frankl pediu a uma outra mulher que ela imaginasse uma situação hipotética, na qual se encontrava em seu leito de morte, velha e rica, porém sem filhos. A mulher afirmou que nesse caso ela consideraria que sua vida teria sido um fracasso. Ao pedir a mãe suicida a mesma reflexão imaginando-se em seu leito de morte, ela se deu conta de que havia feito tudo o que era possível pelos seus dois filhos. E que havia dado a seu filho paralítico uma boa qualidade de vida, e ele se tornou uma ótima pessoa, razoavelmente feliz. E acrescentou chorando: “Quanto a mim, posso contemplar minha vida passada, e ver que ela estava carregada de sentido e eu tentei buscá-lo com todas as minhas forças. Eu fiz o melhor que eu sabia, fiz o melhor que pude por meu filho. Minha vida não foi um fracasso!”. Desta forma, ao imaginar-se em seu futuro leito de morte e olhar para trás, a mão suicida encontrou o significado que, sem sabê-lo, estava dando razão à sua existência. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 22 O caso do triste médico Um médico experiente procurou Frankl para uma consulta porquê não estava superando o trauma da morte da sua esposa, assim estava sofrendo de uma profunda depressão que já fazia dois anos. Em vez de dar-lhe conselhos ou analisar seu sofrimento,Frankl perguntou ao médico o que haveria acontecido se em vez dela, tivesse sido ele que falecesse em primeiro lugar. Espantado, o médico respondeu que para ela teria sido horrível, que sua pobre esposa teria sofrido ao extremo. Frankl lhe respondeu: “Está vendo, doutor? Você a poupou de todo esse sofrimento; porém agora tem que pagar por isso, sobrevivendo e chorando sua morte”. O médico não disse mais nada, porém saiu do consultório tranquilo, depois de segurar a mão de Frankl entre as suas. O próprio sofrimento, padecido no lugar de sua amada esposa, havia dado um sentido para a vida do médico. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 23 A terapia Morita Na mesma década que nascia a logoterapia, na verdade alguns anos antes da sua criação, o japonês Shoma Morita criava sua própria terapia baseada no propósito vital, destinada a tratar neuroses, transtornos obsessivos compulsivos e stress pós traumático. Shoma Morita era budista zen, além de psiquiatra, e sua terapia exerceu grande influência espiritual no Japão. Muitas terapias ocidentais buscam controlar ou modificar as emoções e sentimentos dos pacientes. No ocidente geralmente aceitamos que nossos pensamentos influem em como nos sentimos (sentimentos) e estes influem em como atuamos. Por outro lado, a terapia Morita busca nos ensinar a aceitar seus sentimentos sem tentar controlá-los, já que os sentimentos irão mudar através da ação. O fundamento da terapia Morita e também do zen é que “a ação é a causa da mudança e, por conseguinte, não devemos tentar controlar os pensamentos e sentimentos”. É um enfoque oposto ao ocidental, que nos induz a primeiro controlar e modificar nossos maus pensamentos, para depois mudar a forma como nos comportamos. A Terapia Morita Criada por Morita Shoma (contemporâneo de Sigmund Freud) é um ramo da psicología clínica fortemente influenciada pelo zen budismo. Consiste em um tratamento psicológico sistemático baseado na filosofía oriental para tratar transtornos de ansiedade. Saiba Mais: http://www.francescmiralles.com/article/263 http://www.francescmiralles.com/article/263 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 24 A terapia Morita, além de aceitar as emoções, busca “criar” novas emoções com base na ação. Segundo Morita, “Estas emoções se aprendem através de experiências e a base de repetição”. A terapia Morita não tenta eliminar os sintomas diretamente, visto que ensina a aceitar com naturalidade nossos desejos, ansiedades, medos e preocupações. Este terapeuta revolucionário dizia que “em matéria de sentimentos, é melhor ser rico e generoso”, no sentido de aceitá-los e deixá-los seguir seu caminho. Sobre a questão de “deixar ir” os sentimentos negativos, Morita explicava com esta fábula: “Se um burro está amarrado a um poste, continua andando para tentar escapar, porém começa a dar voltas e no final acaba imobilizado junto ao poste. O mesmo acontece com as pessoas quando têm pensamentos recorrentes e obsessivos e tentamos bloqueá-los com outros pensamentos”. Princípios fundamentais da terapia de Morita 1. Aceite seus sentimentos. Se tivermos pensamentos obsessivos, não devemos tentar controlá-los ou ignorá-los. Ao tentar fazer isso, eles voltarão mais intensos. Um mestre zen, falando dos sentimentos e emoções humanas, dizia: “Se tentamos eliminar uma onda com outra onda de forma contínua, criaremos um mar infinito de ondas”. Os sentimentos vêm a nós e devemos aceitá- los. A chave está em lhes dar boas vindas. Morita costumava dizer que as emoções são como o clima meteorológico: não podemos exatamente prever nem controlar, simplesmente observar. Vale citar o monge vietnamita Thich Nhat Hanh, que dizia: “Olá solidão, como está hoje? Vem, senta aqui comigo que eu cuidarei de ti”. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 25 2. Faça o que deve ser feito. Não há necessidade de querer eliminar sintomas, visto que a recuperação virá de forma espontânea. Trata-se de focar o presente e, se estamos sofrendo, aceitar esse sofrimento. E, sobretudo, evitar intelectualizar a situação. A missão do terapeuta é provocar a atitude no indivíduo para que ele possa enfrentar qualquer situação, e a atitude se forma com o que se faz (ação). A terapia de Morita não explica nada aos pacientes, deixa que eles mesmos aprendam através de suas ações e atividades. Não te diz como meditar, nem como escrever um diário... como fazem outras terapias ocidentais. É o paciente que deve descobrir por si mesmo através de suas experiências. 3. Descubra seu propósito vital. Embora não possamos controlar emoções, podemos estar no comando das ações de fazemos a cada dia. Por isso devemos ter claro nosso propósito e ter sempre presente o mantra de Morita: “O que necessitamos fazer agora? Qual ação devemos praticar agora?”. A chave é ter a ousadia de olhar para dentro de si mesmo para descobrir o próprio ikigai. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 26 As quatro fases da terapia Morita O tratamento original de Shoma Morita, que durava de quinze dias a três semanas, constava das seguintes fases: 1. Isolamento e Descanso (5 a 7 dias). A primeira semana de tratamento, o paciente descansa em uma habitação sem nenhum tipo de estímulo exterior. Sem televisão, sem livros, sem família, sem amigos, sem falar. A única coisa que o paciente tem são os próprios pensamentos. Está deitado durante a maior parte do dia. Nesta fase, se recupera mental e fisicamente. O paciente é visitado regularmente pelo terapeuta, que tenta evitar interação. Simplesmente, aconselha o paciente a seguir observando os altos e baixos das suas emoções enquanto está deitado. Quando o paciente se cansa da situação e tem vontade de fazer coisas de novo, estará pronto para passar para a fase seguinte da terapia. 2. Terapia Ocupacional Rápida (5 a 7 dias). Nesta segunda fase, o paciente realiza tarefas monótonas em silêncio. Uma delas é escrever um diário descrevendo seus pensamentos e sentimentos. O paciente vai para fora depois de passar uma semana trancado, dá passeios pela natureza e faz exercícios de respiração. Também começa a realizar atividades simples como, por exemplo, jardinagem ou desenho e pintura. Nesta fase, o paciente ainda não pode falar com outros, exceto com seu terapeuta. 3. Terapia Ocupacional (5 a 7 dias). O paciente realiza tarefas que requerem movimento físico. O doutor Morita gostava de levar seus pacientes para cortar lenha na montanha, por exemplo. Além 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 27 de tarefas físicas, o paciente também se envolve em outras atividades como escrever, pintar, cerâmica.... O paciente já pode falar com os demais, porém só se permite que ele fale sobre as tarefas que está executando no momento. 4. Retorno ao mundo “real” e a vida social. O paciente sai do hospital e se reintegra na vida social, porém mantendo as práticas de meditação e terapia ocupacional que estava desenvolvendo no hospital. A ideia é voltar para a sociedade como uma nova pessoa, com um propósito próprio e sem ser controlado pela sociedade e as emoções como uma marionete. A meditação Naikan Morita era um grande mestre zen de meditação introspectiva naikan. Muitas das ideias de sua terapia foram extraídas do seu domínio e conhecimento desta escola, que se baseia em três simples perguntas que o praticante tem que fazer: O que eu recebi desta pessoa? O que dei para esta pessoa? Quais problemas eu causei a esta pessoa? Através desta exploração, deixamos atribuir aos outros a causa dos nossos problemas e aprofundamos a própria responsabilidade. Como afirmava Morita, “Se estiver com raiva e quiseragredir alguém, pense durante três dias antes de brigar. Ao fim de três dias, a intensa emoção de querer brigar já haverá desaparecido de forma natural”. Saiba Mais: http://naikan.tumblr.com/ http://naikan.tumblr.com/ 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 28 E agora, ikigai Os princípios da Logoterapia e da Terapia Morita apontam para uma experiência pessoal, intransferível, e que pode realizar-se sem terapeutas e nem retiros espirituais: a missão de achar seu próprio ikigai, teu combustível existencial para a vida. Uma vez descoberto, se trata de ter coragem e fazer o esforço para não se perder no caminho. Em seguida veremos algumas ferramentas básicas para empreender esta jornada, fluindo com as tarefas que você definiu, alimentando-se de modo equilibrado e consciente, praticando exercícios suaves e aprendendo a não desmoronar perante as dificuldades. Para isso é só aceitar que o mundo é um lugar imperfeito, como todos que nele habitam, porém cheio de possibilidades de crescimento e realização. Você está preparado para se dedicar àquilo que você AMA, a sua paixão, como se não existisse nada mais importante no mundo? Descubra Faça Melhore Seja 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 29 FLUIDEZ Como converter trabalho e tempo livre em crescimento interior Fluir com a experiência Imagine que você está esquiando em uma das suas pistas favoritas. No seu caminho, flocos de neve saltam no ar como areia branca e imaculada. As condições são perfeitas. Toda sua atenção está concentrada no uso das suas habilidades para esquiar o melhor possível. Você sabe exatamente qual movimento fazer em cada momento. Não há passado nem futuro, só presente. Você sente a neve, os esquis, teu corpo e tua consciência. Tudo se une em uma só entidade. Está totalmente imerso na experiência, sem pensar nem distrair-te com nenhuma outra coisa. Teu ego se dilui e te converte em parte daquilo que está fazendo. Este tipo de experiência é a que Bruce Lee descreveu com seu famoso “Seja água, meu amigo”. Entrevista com Bruce Lee Seja água, meu amigo https://www.youtube.com/watch?v=bz9iJoqC18k Todos nós sentimos que perdemos a noção de tempo quando nos deixamos envolver em uma atividade que amamos fazer. https://www.youtube.com/watch?v=bz9iJoqC18k 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 30 Começamos a cozinhar um jantar romântico e, quando nos damos conta, várias horas se passaram. Se estivermos concentrados lendo um bom livro, nos esquecemos das preocupações da vida e acabamos até perdendo a hora do almoço. Quando estamos praticando surf, não nos damos conta do número de horas que estivemos desfrutando as ondas até o dia terminar. Mas também pode acontecer justamente o oposto. Se temos que realizar um trabalho ou uma tarefa que não gostamos, cada minuto parece interminável e não paramos de olhar o relógio. Einstein teria dito: “Se alguém senta em uma chapa quente por um segundo, parecerá uma hora. Porém se uma bela mulher sentar no seu colo por uma hora, parecerá um segundo. Isso é relatividade.” O curioso é que se uma pessoa goste de fazer uma tarefa, outra pode querer terminá-la o quanto antes, porque detesta fazê-la. Porque gostarmos tanto de fazer algo, tanto que até nos esqueçemos das preocupações diárias que temos em nossas vidas? Quais são estes momentos em que as pessoas ficam tão absorvidas e tão felizes? O poder do “fluxo” Estas perguntas Mihaly Csikszentmihalyi buscou responder em seu estudo sobre o estado mental no qual as pessoas entram quando imergem totalmente em uma tarefa. Ele chamou isso de estado de fluir, flow em inglês, e o definiu assim: “O prazer, deleite, criatividade e o processo no qual estamos imersos totalmente na vida”. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 31 Não há nenhuma receita mágica para conseguir a felicidade, para viver o próprio ikigai, porém um dos ingredientes fundamentais é a capacidade que temos de entrar neste estado de fluir para, através dele, vivenciar uma “excelente experiência”. Para isto, devemos dedicar mais tempo em atividades que nos façam entrar em estado de fluir, em vez de nos deixarmos levar por aquelas que nos dêem prazeres imediatos como: comer em excesso, abusar de drogas e álcool ou nos empanturrar de chocolate vendo televisão. O autor de Flow diz: “Fluir é o estado em que as pessoas entram quando estão imersas em uma atividade e nada mais importa. A experiência em si mesma é tão agradável que as pessoas a continuam fazendo mesmo que tenham que sacrificar outros aspectos da vida, somente pelo fato de fazê-la”. Não são apenas as profissões criativas que requerem grandes doses de concentração e promovem a capacidade de fluir. A maioria dos atletas, jogadores de xadrez ou engenheiros podem passar boa parte do seu tempo em atividades que os fazem entrar no estado de fluir. Segundo os estudos de Csikszentmihalyi, um jogador de xadrez sente o mesmo quando entra em “fluxo” que um matemático tratando de resolver um problema ou um cirurgião em plena operação. Este professor de psicologia analisou dados de pessoas que viviam em Flow Com o intuito de compreender o que leva o indivíduo a seu estado pleno de satisfação e motivação intrínseca, o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi desenvolveu a teoria do estado de flow, que representou grande contribuição no campo da psicologia positiva e ainda hoje é considerada uma das principais ferramentas para obtenção da felicidade e bem-estar. Saiba Mais: https://www.youtube.com/watch?v=_4zK8fz_gi8 https://www.youtube.com/watch?v=_4zK8fz_gi8 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 32 diversas culturas e lugares do mundo, e descobriu que a experiência de fluir é igual para qualquer pessoa, cultura e idade. Seja em Nova York ou Okinawa, os nossos estados de fluir funcionam de forma semelhante. O que acontece em nossa consciência quando estamos nesse estado? Ao fluir, estamos concentrados em uma tarefa muito concreta sem nos deixarmos distrair por nada. Nossa consciência está “em ordem”. O contrário ocorre quando tentamos fazer algo e temos a mente distraída pensando em outras coisas. Se você se questiona frequentemente ou demora muito tempo para começar algo importante, exite uma série de técnicas que podemos utilizar para maximizar as possibilidades de entrar em “flow”. Saiba Mais: http://www.ibccoaching.com.br/portal/metas-e-objetivos/como-alcancar-estado-de-fluxo/ Sete condições para entrar em “FLOW” Segundo o pesquisador Owen Shaffer, algumas condições devem acontecer para que possamos fluir em uma atividade: 1. Saber o que fazer 2. Saber como fazê-lo 3. Saber o quão bom o estamos fazendo 4. Saber aonde ir (se isso implica em uma jornada) 5. Ter desafios ambiciosos 6. Utilizar nossos melhores recursos pessoais 7. Estar livres de distrações Saiba Mais: https://www.ted.com/talks/mihaly_csikszentmihalyi_on_flow?language=pt-br http://www.ibccoaching.com.br/portal/metas-e-objetivos/como-alcancar-estado-de-fluxo/ https://www.ted.com/talks/mihaly_csikszentmihalyi_on_flow?language=pt-br 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 33 Técnicas para Fluir 1. Escolher um desafio relativamente difícil, mas não em demasia. De acordo com o ponto 5 de Schaffer, se trataria de assumir uma tarefa que temos possibilidade de terminar, porém que ao mesmo tempo está um pouco acima de nossas capacidades. Toda tarefa realizada por pessoas segue uma série de regras, e necessita de certas habilidades para executá-la. Se as regras para completar a tarefa são muito simples e a missão é fácil comparada com as nossas habilidades, é provávelque fiquemos entediados. As atividades muito fáceis conduzem à apatia e tédio. Se, pelo contrário, começamos com algo muito difícil, nos faltarão conhecimentos para completar a atividade e com certeza iremos desistir na primeira oportunidade e nos sentiremos frustrados. O ideal é encontrar um meio termo, algo que esteja de acordo com nossas habilidades, porém um pouco acima delas para que a tarefa seja considerada um desafio. Ernest Hemingway se referia a isso quando afirmava: “Às vezes escrevo melhor do que sei”. Estes tipos de atividades são as que nos motivam seguir com elas até o final, já que curtimos sentir que estamos nos superando. Bertrand Russel afirmava que: “Para poder concentrar-se durante um longo tempo é essencial ter um desafio difícil diante de nós”. Um designer gráfico deveria estudar um novo software para que este constitua em um desafio para ser usado em um próximo projeto. Um programador deveria utilizar uma nova linguagem de programação. Uma dançarina deveria introduzir um novo passo ou movimento que lhe parecia impossível de fazer há anos. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 34 A dica é agregar algo extra, que tire a pessoa da zona de conforto. Ler pode parecer fácil, porém é uma tarefa que precisa seguir algumas regras. Necessitamos uma série de habilidades e conhecimentos para continuar lendo. Se formos ler um livro sobre mecânica quântica para físicos sem sermos especialistas em física, iremos logo abandonar a leitura porque não estaremos entendendo nada. Por outro lado, se já conhecemos tudo que está exposto no livro, isso nos levará ao tédio. Porém, se o livro se adequa aos nossos conhecimentos e habilidades e agrega novos conhecimentos ao que já sabemos, nos deixaremos imergir na leitura e o tempo passará rápido. Ler é uma das atividades humanas na qual muitas pessoas entram em fluxo a cada dia. SE O DESAFIO ... ENTÃO ELE ... É fácil Torna-se enfadonho É ligeiramente difícil Faz entrar em fluxo Está além das possibilidades Gera ansiedade 2. Ter objetivos concretos e claros. Os vídeogames, sem abuso, os jogos de mesa e os esportes em geral são atividades ideais para entrar em “flow” porque o objetivo geralmente é muito claro: superar-se e superar o seu rival seguindo uma série de regras claramente definidas. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 35 Infelizmente, na grande maioria das situações da vida, os objetivos não estão claros. Segundo uma pesquisa da Boston Consulting Group, a maior queixa dos empregados de grandes empresas sobre seus chefes é a seguinte: “Meu chefe não comunica com clareza qual é a missão de nossa equipe, realmente não sei quais são os meus objetivos no trabalho”. É frequente ver nas grandes empresas, a obsessão que os executivos têm pelo planejamento, perdendo-se em inúmeros detalhes, criando estratégias em torno do alvo sem ter claro o objetivo final. É como navegar no oceano com um mapa sem saber para onde ir. Joichi Ito do MIT Media Lab, sempre diz: “É mais importante ter uma bússola apontando para um objetivo concreto do que ter um mapa”. Seja em empresas como em profissões criativas ou na área de educação, é importante refletir sobre a missão que teremos que cumprir, antes de começar a trabalhar, estudar ou “criar algo” sem ter uma direção definida. Devemos fazer perguntas do tipo: - Qual o teu objetivo de estudo para esta tarde? - Quantas páginas irá escrever hoje para o artigo do mês que vêm? - Qual é missão da sua equipe? Ter objetivos claros é importante para entrar em fluxo, porém temos que saber deixá-los de lado quando estamos em ação. Um atleta que está competindo na reta final pela medalha de ouro, não pode ficar pensando sobre o valor da medalha, ele tem que estar presente no momento, tem que fluir. Se ele se desconcentra um instante, pensando no momento que irá mostrar a medalha aos seus amigos, pode cometer um erro no final e não ganhar a competição. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 36 Um caso típico é o “bloqueio do escritor”. Imagine, por exemplo, que um escritor deve terminar uma novela em três meses. Ele sabe muito bem seu objetivo e não pára de pensar nele. Todo dia se levanta e pensa “tenho que escrever a novela” e vai ler o jornal e a limpar a casa. De noite fica frustado e faz novos planos para o dia seguinte. Passam os dias, semanas e meses e ele não escreve nada, quando o que deveria fazer é, simplesmente, sentar-se diante de uma página em branco e escrever a primeira palavra, a segunda.... e assim fluir com o projeto e dar expressão ao seu ikigai. Ao fazer isso, a ansiedade desaparecerá e irá fluir prazerosamente com a atividade. Retornando a Albert Einstein, “uma pessoa feliz está tão satisfeita com o presente que não fica pensando no futuro”. 3. Concentração em uma só tarefa. Este é talvez um dos maiores obstáculos que nós enfrentamos hoje em dia, com tanta tecnologia e distrações ao nosso redor. Estamos vendo um vídeo no You Tube enquanto escrevemos um e- mail, aí aparece uma janela de um chat para respondermos. Aí vibra o smartphone no bolso e, voltando para o computador depois de 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 37 responder a mensagem do smartphone, abrimos o Facebook. Meia hora depois esquecemos que estávamos escrevendo um e-mail. Podemos ainda estamos jantando enquanto vemos um filme e nem sentimos o paladar do salmão até que damos a última garfada. Muitas pessoas pensam que fazendo várias tarefas elas economizam tempo, porém a evidência científica indica o contrário. Mesmo as pessoas que dizem ser “multitarefas” são pouco produtivas. Na verdade, elas são as menos produtivas. Nosso cérebro pode filtrar milhões de bits de informação, porém podem processar apenas algumas dezenas de bits em série por segundo. Na realidade, o que fazem as pessoas que se dizem “multitarefas”, é alternar rapidamente de uma tarefa para outra. Infelizmente, não somos computadores que podem trabalhar em vários processos em paralelo. Gastamos todas as nossas energias para alternar tarefas em vez de nos centrarmos em fazer bem uma delas. Concentrar-se em uma só atividade é talvez a condição mais importante para entrar em fluxo. Segundo Csikszentmihalyi para estar concentrado em uma atividade necessitamos: 1. Estar em um ambiente que não nos distraia 2. Ter controle, a todo o momento, sobre o que estamos fazendo As novas tecnologias são boas se temos controle sobre elas. Deixam de ser boas se elas passam a nos controlar. Por exemplo, se você tiver que escrever um artigo de pesquisa, pode fazê-lo diante do computador, buscando no Google cada vez que se 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 38 necessita de algum tipo de informação. Se você for indisciplinado, talvez fique navegando por outros sites em vez de escrever o artigo. O Google e a Internet assumiram o controle de sua mente e te tiraram do fluxo. É demonstrado cientificamente que, se o cérebro está continuamente mudando de tarefas, perde tempo, aumenta o número de erros e a retenção da memória é pior. Um estudo realizado por Stanford, afirma que a nossa geração sofre de uma epidemia da multitarefa. Para demonstrar os efeitos nocivos desta epidemia, se analizou o comportamento de centenas de estudantes enquanto estudavam, para logo dividi-los em grupos segundo a quantidade de coisas que costumavam fazer de cada vez. Os estudantes com mais propensão à multitarefa geralmente fazem mais de quatro coisas por vez. Por exemplo: tomam notas enquanto lêem um livro, escutam um podcast, enviam e respondem mensagens no smartphone de vez em quando e olham a timeline do Facebook. Osestudantes foram divididos em vários grupos e colocados diante de telas com várias flechas vermelhas e várias flechas azuis. O objetivo do exercício era contar o número de flechas vermelhas. No início todos acertaram em pouco tempo sem dificuldade, porém conforme se adicionavam o número de flechas azuis (sem adicionar flechas vermelhas, só as mudando de posição), os estudantes que eram multitarefas tiveram sérias dificuldades para contar as flechas vermelhas no tempo requerido. Não podiam contá-las tão rápido como os estudantes que não eram habitualmente multitarefas, por uma razão muito simples: se distraiam olhando as flechas azuis! 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 39 Seus cérebros estavam treinados para prestar atenção a qualquer tipo de estímulo, mesmo sem importancia. Os cérebros dos outros estudantes estavam treinados para concentrar-se em uma única tarefa, neste caso contar as flechas vermelhas ignorando as azuis. Outros estudos indicam que ao trabalhar em várias coisas ao mesmo tempo, reduz nossa produtividade em pelo menos 60% e que nosso coeficiente intelectual se reduz em mais de 10 pontos. Uma pesquisa realizada na Inglaterra descobriu que, depois de analisar as vidas de mais de três mil garotas adolescentes viciadas em smartphones, elas dormiam menos horas, se sentiam menos integradas na escola e eram mais propensas a ter depressão. Concentração em uma única tarefa Multitarefa Aumenta possibilidade de fluir Impossível fluir Aumenta a produtividade Reduz a produtividade (em 60%) mesmo que não pareça Aumenta nossa capacidade de retenção Reduz nossa capacidade de memorizar Reduz a probabilidade de se equivocar Mais probabilidades de nos equivocarmos no que estamos fazendo Permite o controle sobre a única atividade a qual estamos prestando atenção. Calma. Stress porque temos a sensação de perder o controle. A multiplicidade de tarefas nos controla. Faz com que a pessoa fique mais atenta e preste atenção aos demais Afeta todos ao redor pelo “vicio” de ficar sempre atento a todo estímulo: olhando mensagens no celular, checando redes sociais Aumenta a criatividade Reduz a criatividade 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 40 O que podemos fazer para evitar ser parte da epidemia que nos impede de fluir? O que podemos fazer para treinar nosso cérebro para se concentrar em uma única tarefa? A seguir é apresentada uma série de ideias para definir seu próprio tempo e espaço sem distrações, aumentando as possibilidades de entrar em fluxo: • Não olhar para nenhuma tela na primeira hora do dia nem na última hora do dia. • Desligar o telefone antes de entrar em “fluxo”. A sua atividade é o mais importante do mundo neste tempo que você reservou pra si. Se você achar exagero, coloque-o no modo onde só possam te contatar as pessoas próximas e casos de emergência. • Em um determinado dia na semana, não use dispositivos eletrônicos. Por exemplo, o sábado e domingo, com exceção para o Kindle e equipamentos musicais. • Ir a uma cafeteria sem wi-fi. • Ler e responder e-mails apenas uma ou duas vezes por dia. Definir essas duas vezes e cumpri-las. • Técnica Pomodoro. Use um relógio de cozinha (algumas tem a forma de tomate) e comprometa-se a trabalhar em uma só tarefa durante esse tempo. A técnica pomodoro recomenda 25 min de trabalho por 5 min de descanso. Trabalhe no seu ritmo, o importante é cumprir com rigor cada ciclo pomodoro. • Inicie sua missão fazendo um ritual que te motive e goste de fazer e termine-a sempre com uma pequena recompensa. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 41 • Treine sua consciência para voltar ao presente quando ficar distraido. Mindfulness (atenção plena), meditação, caminhada, natação ou qualquer atividade que te ajude a se concentrar. • Trabalhe em um ambiente onde as pessoas não possam te interromper. Se não puder usar seu espaço habitual, vá para uma biblioteca ou uma cafeteria. Se notar coisas ao teu redor que te distraiam, mude até encontrar o lugar ideal. • Divida cada atividade em grupos de tarefas relacionadas e separe cada grupo em lugares e tempos diferentes. Por exemplo, para escrever um artigo para uma revista, pesquise e tome notas pela manhã em casa, escreva de tarde em uma biblioteca e edite a noite em seu sofá. • Junte tarefas rotineiras para realizá-las todas em determinada hora do dia. Por exemplo: enviar faturas, fazer telefonemas etc. Quando você encontra um significado para sua vida, a tarefa mais rotineira se converte num feliz fluxo, como um pintor diante de sua tela ou um cozinheiro que segue preparando com amor, por quase meio século, o sushi para seus comensais, como veremos adiante. O controle da consciência determina a qualidade de vida. Mihaly Csikszentmihalyi 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 42 Vantagens de Fluir Desvantagens da Dispersão Mente concentrada Mente dançante Só existe o presente Pensando no passado e no futuro Nada nos preocupa Preocupações da nossa vida cotidiana e pessoas do nosso redor invadem nossa consciência As horas passam voando Cada minuto parece interminável Sentimento de controle Perda de controle. Não conseguimos completar a tarefa. Outras pessoas e preocupações não nos deixam trabalhar com liberdade. Alto nível de preparação Atuamos sem estarmos preparados Sabemos o que temos de fazer em qualquer momento Não damos continuidade e não sabemos como seguir adiante Mente clara que elimina todo obstáculo no fluxo de pensamento Preocupações, dúvidas constantes, baixa autoestima Prazeroso Chato e sufocante Ambiente livre de distrações Ambiente pleno de distrações: Internet, televisão, telefone, pessoas ao redor... O ego se dissolve. Não somos nós que controlamos a tarefa ou atividade na que estamos imersos, é a tarefa que nos conduz Autocrítica contínua. Ego presente e sentimento de frustração. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 43 O “Fluxo” no Japão: artesãos, takumis, engenheiros, gênios e otakus O que têm em comum os takumis (artesãos), engenheiros, inventores e otakus (os fans da animação e dos mangás)? Todos eles conhecem intuitivamente o poder que é fluir a todo o momento com seu ikigai. O povo nipônico é conhecido internacionalmente pela sua fama de trabalhadores e muito dedicados, embora no Japão se diz que eles aparentam trabalhar muito, mas na realidade não é bem assim. Indubitável é sua capacidade de se deixarem absorver pela tarefa que têm em mãos, esquecendo-se do tempo, e sua perseverança na hora de resolver um problema. Costumam se envolver em tarefas concretas, por pequenas que sejam até o limite da obsessão. É uma característica comum, encontramos desde “aposentados” cuidando até o último detalhe de seus campos de arroz nas montanhas de Nagano, até universitários desenvolvendo trabalhos de fim de semana em um “combini” (loja 24 hs). A atenção ao detalhe no atendimento ao cliente não é algo exclusivo das lojas 24 horas; se pode vivenciar esta preocupação em quase todo serviço de atendimento ao público quando se viaja pelo Japão. Quando se visita Naha, Kanazawa ou Kioto e entramos em alguma de suas lojas de artesanato, você se dá conta da variedade de artesanato tradicional. O Japão tem uma capacidade especial para inovar com novas tecnologias e, ao mesmo tempo, manter tradições e técnicas artesanais. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 44 A arte dos “takumi” A Toyota emprega “artesãos” que são capazes de criar manualmente certos tipos de parafusos. Para Toyota, estes takumi (especialistas em realizar certas tarefas manuais) são muito importantese são muito difíceis de serem substituídos, porque alguns deles são os únicos que sabem fazer esta tarefa e parece que não irá haver uma nova geração. Outro exemplo é o processo de fabricação de agulhas para toca discos de vinil, trabalho que se perdeu em quase todo mundo, porém que continua se fazendo no Japão. Cerca de 90% da produção é realizada pelas últimas fábricas japonesas que restaram, onde podemos encontrar umas poucas pessoas que sabem utilizar o maquinário para criar estas agulhas de alta precisão e que gostariam de passar este conhecimento aos seus descendentes. Visitando Kumano, um pequeno povoado perto de Hiroshima, conhecemos uma takumi. Passamos um dia inteiro fazendo fotos para uma das marcas de pincéis de maquiagem mais conhecidas no Ocidente. Embora a marca seja estrangeira, a fabricação de todo tipo de pincéis, não só para maquiagem, e outros utensílios é realizada neste pequeno povoado cheio de fábricas de pincéis. Ao chegar a Kumano, o cartaz que dá boas-vindas aos visitantes mostra uma cachorrinha mordendo um grande pincel. Além dos prédios das fábricas se veem muitas casinhas com hortas ao redor e, conforme avançamos pelas ruas, se veem alguns templos sintoístas à margem das montanhas que rodeiam o povoado. Depois de várias horas fazendo fotos nas fábricas onde havia muitas pessoas alinhadas fazendo cada qual uma só tarefa, desde colorir o cabo dos pincéis até colocá-los em caixas dentro dos caminhões. Em 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 45 determinado momento, nos demos conta que não havia ninguém colocando os pelos na cabeça dos pincéis. Depois de perguntar várias vezes e receber sorrisos, por fim o gerente de uma das empresas concordou em nos ensinar com o faziam, e nos levou em seu carro particular a um pequeno galpão que ficava a cinco minutos da fábrica. Chegando lá, entramos em uma pequena sala com muitas janelas que forneciam uma forte e natural iluminação. No centro da sala havia um homem que estava tão concentrado selecionando pelos para os pincéis, um por um, movendo as mãos e os dedos habilidosamente, usando tesoura e pentes para filtrar pelos, que nem sequer notou nossa entrada na sala. Seus movimentos eram tão rápidos que era muito difícil entender o que estava fazendo. O gerente o interrompeu para lhe dizer que íamos fazer fotos enquanto trabalhava. Ele aparentava que estava feliz e orgulhoso enquanto falava sobre sua tarefa e responsabilidade. Para fotografar suas mãos foi preciso utilizar altas velocidades do obturador para captar os movimentos. Suas mãos dançavam e fluíam em comunhão com as ferramentas e pelos que tinha que selecionar. Este takumi, embora isolado neste galpão, era uma das pessoas mais importantes na empresa. Todos os pelos dos milhares de pincéis que eram ali fabricados passavam por suas mãos. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 46 Steve Jobs no Japão O cofundador da Apple, e fanático pelo bom gosto e estilo, era um grande fan do Japão. Além de visitar as fábricas da Sony nos anos 80 e trazer muitos de seus métodos para Apple, também foi surpreendido pela simplicidade e qualidade da porcelana japonesa em Kioto. Porém foi um kiotota quem se tornou o favorito de Steve Jobs. Seu nome é Yukio Shakunaga, um takumi de Toyama que utiliza uma técnica conhecida como Etsu-Seto-yaki que muito poucos dominam. Durante uma visita a Kioto, Jobs descobriu que havia uma exposição de Yukio Shakunaga. Logo aprendeu a apreciar a porcelana de Yukio pelo que ela tinha de especial. De fato, comprou vários xicaras, jarros e pratos e retornou à exposição três vezes naquela semana. Steve Jobs visitou várias vezes Kioto durante o resto de sua vida, em busca de inspiração, e terminou conhecendo Yukio Shakunaga em pessoa. Dizem que quase tudo que Steve Jobs perguntava a Yukio era sobre os detalhes de fabricação e o tipo de porcelana que utilizava. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 47 Steve Jobs ficou tão impressionado que pensou em ir a Toyama para ver a montanha de onde Yukio extraia a porcelana, porém desistiu quando soube que ela estava mais de quatro horas de trem de Kioto. Em uma entrevista com Yukio depois da morte de Steve Jobs, ele disse que se sentia muito orgulhoso de saber que sua arte era apreciada pelo criador da Apple e do iPhone, e disse que a última compra que Steve Jobs fez foram 12 xicaras de chá. Jobs pediu que estas 12 xícaras fossem especiais e que seguissem “um novo estilo”. Para consegui-lo, Yukio conta que fez 150 xícaras para testar novas ideias e, ao terminar, selecionou as 12 melhores e as enviou à família Jobs. Desde sua primeira visita ao Japão, Steve Jobs ficou fascinado e inspirado por seus artesãos, pela sua engenharia (especialmente a Sony), por sua filosofia (especialmente o zen) e também por sua cozinha (especialmente o sushi). O Japão é muito interessante. Algumas pessoas pensam que eles copiam as coisas. Eu não penso assim de maneira alguma. Eu penso que o que fazem é reinventar coisas. Eles pegam alguma coisa que já foi inventada e a estudam até entendê-la completamente. Em alguns casos, eles a entendem melhor do que o próprio inventor original. (Steve Jobs) 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 48 Uma simplicidade sofisticada O que tem de comum a cozinha, o zen, a engenharia e os artesãos japoneses. A atenção para o detalhe e uma simplicidade sofisticada, que busca novas fronteiras, sempre levando o objeto criado, o corpo, a mente ou a comida, a um nível superior. Como diria Mihaly, sempre mantendo um alto nível de desafio na atividade para se superar, para poder estar sempre em fluxo. No documentário JIRO, SONHOS DE SUSHI, se pode ver outro exemplo de takumi, neste caso na cozinha. Jiro faz sushi todos os dias por mais de 80 anos. Ele tem um pequeno restaurante de sushi no metro de Ginza. Ele e seu filho vão pessoalmente ao mercado de peixes (Tsuki-ji) e selecionam o melhor para levar ao restaurante. O documentário mostra o filho de Jiro aprendendo a fazer tortilhas (para o sushi de tortilha) e, por mais que pratique, o pai não lhe dá aprovação. Segue praticando anos e anos até que um dia, finalmente, consegue a aprovação do pai. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 49 Tanto Jiro como seu filho são artesãos da comida. Fluem ao cozinhar e não se cansam nunca. Quando estão cozinhando estão desfrutando ao máximo, para eles é pura felicidade, seu ikigai. Aprenderam a amar o seu trabalho, a convertê-lo em um prazer que detém o tempo. Além da relação estreita pai e filho, que os ajuda a manter o desafio diário, também trabalham em um ambiente tranquilo e sem stress, que permite maior concentração. Inclusive, depois de ser nomeado pela Michelin como o melhor restaurante de sushi do mundo, nunca cogitaram abrir outros restaurantes ou expandir o negócio. Só servem a dez clientes por dia em um balcão, num pequeno local que fica na estação de metro de Ginza. A família Jiro põe acima do dinheiro, as condições e ambiente na qual podem fluir cozinhando, produzindo o melhor sushi do mundo. Saiba Mais: https://www.youtube.com/watch?v=l0_jkEHvQcc Tanto Jiro, o cozinheiro de sushi, como Yukio Shakunaaga, o artesão das louças, se importam com a “origem” do seu trabalho. Jiro vai ao mercado de peixe para escolher o melhor atum; Yukio vai para as montanhas para selecionar a melhor porcelana. Ao trabalhar, ambos se unem ao objeto. No Japão, a união com o objeto ao fluir assume uma dimensão especial porque, segundo o sintoísmo, os bosques, as árvores e os objetos tem um kami (espirito de Deus) dentro deles. A responsabilidade do criador de algo, seja ele artista,engenheiro ou cozinheiro, é usar a natureza para “dar-lhe vida”, respeitando-a a todo o momento. Durante o trabalho, o artesão se une ao objeto e flui com ele. Um ferreiro diria “o ferro tem vida”, um ceramista diria que “a argila tem vida”. Os japoneses são bons unindo a natureza com a tecnologia; não é o homem contra a natureza, mas a união de ambos. https://www.youtube.com/watch?v=l0_jkEHvQcc 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 50 A pureza do Studio Ghibli Alguns dizem que os valores do sintoísmo de união com a natureza estão se perdendo. Um dos maiores críticos desta perda é outro criador nascido com um ikigai muito definido, Hayao Miyazaki, o diretor de filmes de animação do Studio Ghibli. Em quase todos seus filmes se vê tecnologia, humanos, fantasia e natureza em conflito e, no final, tudo anda de mãos dadas. No filme “A Viagem de Chihiro”, umas das metáforas mais importantes é a da contaminação dos rios, representada por um deus gordo e sujo. Saiba Mais: https://www.youtube.com/watch?v=SgZI655GgHk&list=PL-5pOq42Ej- luWiHRRWQQVldNSLy4BZ7b Nas películas de Miyazaki, os bosques tem personalidade, as árvores têm sentimentos, os robôs fazem amizade com os pássaros. Ele é considerado como tesouro nacional vivo pelo governo japonês. Além de pregar a reconexão com a natureza, Hayao Miyazaki é um desses artistas que se deixa levar pela tarefa presente. Não tem computador, usa um celular dos anos 90 e obriga toda sua equipe a desenhar manualmente. Hayao Miyazaki “dirige” seus filmes, criando e desenhando em papel nos mínimos detalhes. Desenhar faz com que Miyazaki entre em fluxo, os computadores não. Graças a essa obsessão, o Studio Ghibli é um dos únicos do mundo onde quase a totalidade do processo de produção de animação se faz seguindo as técnicas tradicionais. Quem teve a sorte de visitar o Studio Ghibli, sabe que aos domingos sempre havia alguém trabalhando em um canto. Um homem simples que te saudava com um Ohayo (bom dia) sem levantar a cabeça. https://www.youtube.com/watch?v=SgZI655GgHk&list=PL-5pOq42Ej-luWiHRRWQQVldNSLy4BZ7b https://www.youtube.com/watch?v=SgZI655GgHk&list=PL-5pOq42Ej-luWiHRRWQQVldNSLy4BZ7b 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 51 Este homem, que ganhou vários Oscars da academia, passa seu domingo desenhando. Sua paixão é tal, que ele passa muitos domingos alí, desfrutando o fluxo, vivendo seu ikigai acima que qualquer outra coisa. Porém não é recomendável pertubar Hayao sob nenhuma hipótese. Ele tem a fama de resmungão, principalmente se o interrompem quando ele está desenhando. Em 2013, Hayao anunciou que iria se “aposentar”. Para celebrar, o canal de televisão NHK fez um documentário especial que mostrava Hayao Miyazaki durante seus últimos dias de trabalho. Em quase todas as cenas do documentário ele está desenhando. Em uma delas, vários companheiros de trabalho estão em reunião e ele está em um canto desenhando, absorvido sem escutar os demais. Em outra cena, ele aparece indo para o trabalho no dia 30 de dezembro (feriado nacional no Japão) e passar o dia desenhando sozinho. Um dia depois de sua “aposentadoria”, em vez de ir viajar o ficar em casa, foi ao Studio Ghibli e se sentou para desenhar. Os companheiros de trabalho ficaram com caras de bobos sem saber o que dizer. Alguém realmente se aposenta quando é apaixonado pelo que faz? Hayao Miyazaki não pode deixar de desenhar. Um ano depois de sua “aposentadoria”, declarou que não ia mais fazer longa metragens, porém que “continuaria desenhando até o dia da sua morte”. Hayao Miyazaki É um dos mais famosos e respeitados criadores do cinema de animação japonesa, alcançando sucesso e reconhecimento em todo o mundo. Iniciou sua carreira em 1963 na Toei Animation. Em 83, começou a se dedicar exclusivamente aos longas metragens e funda o seu próprio estúdio de animação, o Estúdio Ghibli, no qual ele viria a produzir as suas mais premiadas e reconhecidas animações. Saiba Mais: http://super.abril.com.br/studio-ghibli-relembre-as-21-animacoes-do-estudio- japones-dirigido-por-hayao-miyazaki http://super.abril.com.br/studio-ghibli-relembre-as-21-animacoes-do-estudio-japones-dirigido-por-hayao-miyazaki http://super.abril.com.br/studio-ghibli-relembre-as-21-animacoes-do-estudio-japones-dirigido-por-hayao-miyazaki 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 52 Ermitãos do ikigai Não são somente os japoneses que desfrutam desta capacidade de fluir; também existem artistas e cientistas de outras partes do mundo com ikigais muito fortes e definidos. Por isso nunca se aposentam realmente. Fazem o que gostam até o último dia da sua morte. A última coisa de Eistein escreveu pouco antes de fechar os olhos pela última vez, foi uma de suas fórmulas tentando unificar todas as forças do universo. Morreu fazendo aquilo pelo qual tinha paixão. Se não fosse físico, Eistein dizia que teria sido feliz sendo músico. Quando não estava centrado na física e na matemática, se deleitava tocando violino. Fluir trabalhando em suas fórmulas ou tocando um instrumento, ambos seus ikigais, lhe dava uma grande felicidade. Muitos destes artistas e cientistas podem parecer rabugentos ou eremitas, porém o que fazem é proteger seu tempo de felicidade, às vezes sacrificando outros aspectos da vida. São exemplos de pessoas descoladas que aplicam de forma radical o fluir ao seu estilo de vida. Outro exemplo destes eremitas é o escritor Haruki Murakami. Pelo que dizem, é muito difícil acessá-lo. Solitário, tem um círculo de amigos muito restrito e raramente aparece em público no Japão. Os artistas sabem o importante que é proteger o seu espaço, seu ambiente, estar livre de distrações para poder fluir com seu ikigai. 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 53 Microfluir: o desfrutar das tarefas rotineiras O que passa quando temos que, por exemplo, lavar pratos, cortar o gramado do jardim ou preencher formulários? Podemos converter estes trabalhos cotidianos em atividades agradáveis? Na estação de Shinjuku, um dos centros nevrálgicos de Toquio, existe um supermercado onde os ascensoristas continuam trabalhando. São elevadores normais que poderiam ser operados pelos clientes, porém eles prestam este serviço abrindo-lhes a porta, apertando o botão do andar para onde eles vão e fazendo reverência ao saírem do elevador. Se pesquisar melhor, você irá descobrir que existe uma ascensorista que está fazendo o mesmo trabalho desde, pelo menos, 2004. É um profissional que sempre está sorridente e executa seu trabalho com entusiasmo. Como ela faz para desfrutar esta tarefa tão simples a primeira vista? E depois de tantos anos fazendo a mesma coisa, ela não fica entediada? Ao observar melhor, você se dá conta que a ascensorista não só aperta os botões. Mas, executa toda uma sequência de movimentos. Começa com uma saudação dos clientes entoando a voz como se estivesse cantando, continua com reverências e saudações com as mãos, e aperta o botão do elevador movendo o braço de forma graciosa como se fosse uma geisha manipulando uma taça de chá. Csikszentmihalyi se refere a esta dimensão do cotidiano como microfluir. Nós todos ficamos entediados em uma aula do colégio, na universidade ou em uma conferência e passamos a desenhar alguma coisa para não dormir. Assoviamos enquanto estamos pintando uma 12-06-2016 “Ikigai’ Ver. 1.0 Pág. 54 parede. Quando não somos verdadeiramente “desafiados”, ficamos entediados e necessitamos de mais complexidade para nos motivar. Converter uma tarefa rotineira em microfluir, em algo que podemos desfrutar, é uma habilidade crítica para sermos “felizes”, já que todos nós temos que executar tarefas
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