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AULA 3 FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA Prof. Felipe Freitas 02 CONVERSA INICIAL Uma parte fundamental para o aproveitamento da energia eólica é saber como convertê-la da forma mais eficiente possível, e para isso existem normas que regem as melhores práticas em medição de vento, fabricação e desenvolvimento de aerogeradores, bem como a medição do seu desempenho. CONTEXTUALIZANDO Toda máquina desenvolvida pelo homem possui uma eficiência máxima, seja um aerogerador, uma turbina de avião, um gerador hidráulico, um gerador solar ou uma máquina a vapor. Fisicamente, em qualquer processo de conversão e utilização de energia, é possível converter uma parcela da energia de entrada, e o resto normalmente é desperdiçado. Isso não significa que as máquinas existentes são ineficientes, mas sim que, fisicamente, o homem chegou próximo do máximo de eficiência teórica que pode ser alcançada em diversos processos. TEMA 1 – LIMITE DE BETZ Para um aerogerador ser 100% eficiente, ele precisaria provocar uma paragem total na massa de ar em deslocamento que ocupa a área A1 mostrada na Figura 1. Nesse caso, em vez de pás seria necessária uma massa sólida cobrindo 100% da área de passagem e o rotor não rodaria e, portanto, não converteria a energia cinética em mecânica. Foi um físico alemão que, em 1919, concluiu que nenhuma turbina eólica pode converter mais do que 16/27 (59.3%) da energia cinética do vento em energia mecânica no rotor. Até aos dias de hoje isso é conhecido como Limite de Betz ou Lei de Betz. Esse limite nada tem a ver com ineficiências no gerador, mas sim com a própria natureza das turbinas eólicas. Na Figura 2 é mostrada a potência disponível no vento por metro quadrado e a potência utilizável por metro quadrado (considerando o Limite de Betz). 03 Figura 1 – Mudança da velocidade do vento após a passagem por um aerogerador Fonte: Villena, 2011. Figura 2 – Potência disponível no vento e potência utilizável do vento em função da velocidade do vento Fonte: CTGÁS-ER, 2012. TEMA 2 – DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIA A forma mais utilizada para apresentar o comportamento de velocidade do vento durante um ano é distribuição de frequência. Nesse gráfico são mostradas as horas de vento por ano em função de cada velocidade de vento. Então, analisando-se o gráfico da Figura 3, podemos observar que durante um ano foram registradas aproximadamente 320 horas com uma velocidade média de 1 m/s e 04 570 horas com uma velocidade média de 2 m/s. É importante ressaltar que para o cálculo desse gráfico são consideradas 8.760 horas para um ano. Figura 3 – Distribuição de frequência das velocidades do vento durante um ano Fonte: CTGÁS-ER, 2012. TEMA 3 – CURVA DE POTÊNCIA DE UM AEROGERADOR Na Figura 4 é mostrada a curva de potência para um aerogerador. Analisando a curva de potência do aerogerador, podemos observar três parâmetros importantes de um aerogerador: a. Velocidade de partida: é a velocidade em que o aerogerador começa a gerar potência (2 m/s, no caso da Figura 4). b. Velocidade da potência nominal: é a velocidade na qual o aerogerador atinge a potência nominal (13 m/s, no caso da Figura 4). c. Velocidade de parada: é a velocidade em que o aerogerador deixa de gerar para evitar danos estruturais resultantes das velocidades elevadas de vento (25 m/s, no caso da Figura 4). 05 Figura 4 – Curva de potência do aerogerador E82 Fonte: Wobben, 2017. A curva de potência de um aerogerador mostra que potência é gerada para cada velocidade. Um mesmo fabricante pode ter um aerogerador com diversos modelos e curvas diferentes. Os principais fatores que influenciam na curva de potência são densidade do ar e design das pás. Geralmente a curva de potência é apresentada também como uma tabela, como a apresentada a seguir. 06 Tabela 1 – Curva de potência do aerogerador E82 Velocidade do vento m/s Potência (kW) Coeficiente de potência (-) 1 0.0 0.0 2 3.0 0.12 3 25.0 0.29 4 82.0 0.40 5 174.0 0.43 6 321.0 0.46 7 532.0 0.48 8 815.0 0.49 9 1,180.0 0.50 10 1,580.0 0.49 11 1,810.0 0.42 12 1.980,0 0.35 13 2,050.0 0.29 14 2,050.0 0.23 15 2,050.0 0.19 16 2,050.0 0.15 17 2,050.0 0.13 18 2,050.0 0.11 19 2,050.0 0.09 20 2,050.0 0.08 21 2,050.0 0.07 22 2,050.0 0.06 23 2,050.0 0.05 24 2,050.0 0.05 25 2,050.0 0.04 Fonte: Wobben, 2017. TEMA 4 – CÁLCULO DA ENERGIA ANUAL GERADA Para poder calcular a produção de um determinado aerogerador turbina em um lugar específico é necessário conhecer duas coisas: a curva de potência do aerogerador e como se comporta o vento nesse local. A informação acerca do vento deve ser bastante detalhada. Não é suficiente conhecer a velocidade média anual, também é preciso conhecer a distribuição de frequências: quantas horas por ano a velocidade do vento será 1, 2, 3, 4 metros por segundo. Além da velocidade do vento, deve-se conhecer a altura de cubo. Se essa informação está disponível, é bastante simples realizar o cálculo. Multiplica-se a potência para cada velocidade do vento pela quantidade de horas que esse vento ocorre. As distribuições da frequência de vento podem estar disponíveis tanto em horas por ano como em porcentagem de tempo. No segundo 07 caso, simplesmente se multiplica a percentagem pelo número de horas em um ano: 8.760. A Tabela 2 mostra o cálculo da potência gerada por um aerogerador utilizando os dados de distribuição de frequências mostrada na Figura 3 e os valores da curva da potência de um aerogerador da Tabela 1. Para uma grande quantidade de dados são necessárias ferramentas matemáticas que façam o rápido tratamento dos dados para obtenção dos resultados. Tabela 2 – Cálculo da energia anual para um aerogerador Velocidade do vento (m/s) Potência (kW) Horas/ano Potência anual (kWh/ano) 1 0,0 320,0 0 2 3,0 570,0 1710 3 25,0 740,0 18500 4 82,0 870,0 71340 5 174,0 900,0 156600 6 321,0 930,0 298530 7 532,0 870,0 462840 8 815,0 800,0 652000 9 1180,0 680,0 802400 10 1580,0 580,0 916400 11 1810,0 430,0 778300 12 1980,0 330,0 653400 13 2050,0 230,0 471500 14 2050,0 190,0 389500 15 2050,0 90,0 184500 16 2050,0 80,0 164000 17 2050,0 50,0 102500 18 2050,0 40,0 82000 19 2050,0 30,0 61500 20 2050,0 20,0 41000 21 2050,0 7,0 14350 22 2050,0 3,0 6150 23 2050,0 0,0 0 24 2050,0 0,0 0 25 2050,0 0,0 0 Total 8760,0 6329020 08 Na Tabela 2 observa-se que o aerogerador, nessas condições de vento, gerará 6,3 GWh/ano. Na Figura 5 são mostradas as curvas da potência disponível no vento, potência utilizável do vento e a potência gerada por um determinado aerogerador em função da velocidade do vento. Figura 5 – Potência disponível no vento, potência utilizável e potência realmente convertida em função da velocidade do vento Fonte: CTGÁS-ER, 2012. TEMA 5 – NORMALIZAÇÃO DA ENERGIA EÓLICA Segundo a apostila elaborada para o CTGÁS-ER (2012), normalização é uma atividade coletiva de elaboração de documentos contendo conhecimentos técnicos em forma de regras, diretrizes, ou características com um alto grau de ordenação que sejam destinados ao uso comum e repetitivo. O principal produto desta atividade é a norma, que deve ser estabelecida por consenso e aprovada por um organismo reconhecido. Menciona-se ainda que normalização desenvolve-se fundamentalmente através de organismos nacionais, regionais e internacionais. Os organismos nacionais buscam a harmonização dos interesses do governo, indústria, consumidores e 09 comunidade científica de seu país enquanto que os internacionais unem ações normativas resultantes de cooperações e acordos entre diferentes países. Há ainda algumas organizações e empresas que possuem seu sistema de normalização próprio. De uma forma geral, quantomais restrito o âmbito de elaboração da norma, mais restritiva é a norma elaborada, por trazer mais especificidades locais. Normas internacionais tendem a ser mais genéricas. (CTGÁS-ER, 2012) Observa-se ainda que, na área de energia eólica, a Agência Internacional de Energia (International Energy Agency – IEA) publicou várias recomendações técnicas a partir dos anos 1980 que tiveram grande influência nas práticas adotadas pela indústria e vieram a ser adotadas por normas desenvolvidas posteriormente. As principais recomendações técnicas da IEA voltadas para a indústria eólica são: 1. Desempenho de Geração (Power Performance), 1990 2. Custo da Energia de Aerogeradores (Cost of Energy from WECS), 1994 3. Carregamentos de Fadiga (Fatigue Loads), 1990 4. Medição da Emissão de Ruídos (Measurement of Noise Emission), 1994 5. Interferência Eletromagnética (Electromagnetic Interference), 1986 6. Segurança Estrutural (Structural Safety), 1988 7. Qualidade de Energia (Quality of Power), 1984 8. Glossário de Termos (Glossary of Terms), 1993 9. Proteção contra Raios (Lightning Protection), 1997 10. Medição da Exposição ao Ruído (Measurement of Noise Emmision), 1997 11. Medição da velocidade do vento (Wind Speed Measurement), 1999. (CTGÁS-ER, 2012) Segundo o CTGÁS-ER (2012), atualmente, as normas técnicas internacionais de energia eólica englobam requisitos de segurança, técnicas de medição e procedimentos de testes de equipamentos são desenvolvidas pelo Comitê Técnico 88 da Comissão Eletrotécnica Internacional (International Electrotechnical Commission - IEC). Este comitê é formado por representantes de 25 países, tendo ainda a participação de 13 países observadores. O Brasil é um dos países observadores na IEC, sendo representado pelo COBEI, Comitê Brasileiro de Eletricidade, Eletrônica, Iluminação e Telecomunicações através de um acordo com a ABNT. As normas e especificações técnicas (TS) atualmente em vigor sob responsabilidade do TC 88 são: • IEC 61400-1: Requisitos de projeto (Design requirements) - Edição 3.0 (2005). É a principal norma sobre o assunto, define os requisitos de projeto para aerogeradores de grande porte. • IEC 61400-2: Requisitos de projeto para turbinas eólicas de pequeno porte (Design requirements for small wind turbines) - Edição 2.0 (2006). É equivalente a norma parte 1, porém voltada para aerogeradores de pequeno porte, ou seja, com raio do rotor inferior a 8 m e nível de tensão de geração inferior a 1.000 V em corrente alternada, ou 1.500 V em corrente contínua. • IEC 61400-3: Requisitos de projeto para turbinas eólicas offshore (Design requirements for offshore wind turbines) - Edição 1.0 (2009). Também é equivalente a norma parte 1, porém voltada para aerogeradores fabricados para serem instalados no mar • ISO 81400-4: Projeto e especificação de caixas de engrenagens (multiplicador de velocidade) (Design and specification of gearboxes) - Edição 1.0 (2006). Esta norma traz requisitos para projeto, fabricação e verificação de caixas de engrenagem com objetivo de garantir uma alta confiabilidade operacional. Sua elaboração foi iniciada em 1993, quando a Associação Americana de Fabricantes 010 de Engrenagens – AGMA, tornou-se responsável pela secretaria do comitê técnico 60 da Organização Internacional de Normalização - ISO, sendo publicada inicialmente como a recomendação AGMA/AWEA 6006-A03 em 1996 e como uma norma nacional americana em 2003. Além disso, afirma-se ainda que apesar de normas internacionais sobre engrenagem serem normalmente escopo da ISO, por se tratar de um tema estratégico sobre aerogeradores, foi montado um grupo misto entre o TC60 da ISO e o TC88 da IEC, passando a ser adotada pela ISO a partir de 2005 de forma reconhecida pela IEC. Esta norma está em revisão e deverá ser publicada como IEC 61400-4 a partir de 2012. • IEC 61400-11: Técnicas de medição de ruído acústico (Acoustic noise measurement techniques) - Edição 2.1 (2006). Define a metodologia para medição da emissão de ruído acústico dos aerogeradores. • IEC 61400-12-1: Medições de desempenho de geração (Power performance measurements of electricity producing wind turbines) - Edição 1.0 (2005). Define as técnicas para medição da potência de geração da turbina eólica e definição da sua curva de potência. • IEC/TS 61400-13: Medição de carregamentos mecânicos (Measurement of mechanical loads) - Edição 1.0 (2001). Esta especificação técnica apresenta os procedimentos para medição dos carregamentos mecânicos com a finalidade de efetuar a validação dos cálculos de projeto e determinação da magnitude dos carregamentos atuantes no aerogerador sob condições específicas. O procedimento divide as condições de medição em duas categorias: regime permanente e eventos transientes, equivalentes às premissas de projeto definidas na IEC 61400-1. (CTGÁS-ER, 2012) A apostila acrescenta ainda: as medições dos principais esforços devem ser realizadas preferencialmente por extensômetros (“strain gauges”) aplicados em locais adequados da pá, do eixo e da torre do aerogerador, os quais devem ser calibrados após instalação e suas grandezas medidas, verificadas. Além das medições de esforços, também devem ser medidas as condições do vento (velocidade, turbulência, direção e densidade) e os parâmetros operacionais do aerogerador (velocidade de rotação, erro de yaw, potência elétrica e ângulo de passo). • IEC/TS 61400-14: Declaração do nível de potência sonora aparente e dos valores de tonalidade (Declaration of apparent sound power level and tonality values) - Edição 1.0 (2005). Especificação técnica que define os métodos para a declaração do nível de potência sonora e os valores das componentes tonais emitidos pelas turbinas eólicas. • IEC 61400-21: Medição e avaliação das características de qualidade de energia de aerogeradores conectados a rede (Measurement and assessment of power quality characteristics of grid connected wind turbines) - Edição 2.0 (2008). Define os métodos para medir a qualidade do sinal elétrico produzido por turbinas eólicas. • IEC 61400-22: Ensaios de conformidade e certificação (Conformity testing and certification) - Edição 1.0 (2010). Define as regras e procedimentos para certificação de tipo da turbina eólica e para certificação de projetos de parque eólico instalado em terra ou no mar. • IEC/TS 61400-23: Testes estruturais das pás do rotor em escala real (Full-scale structural testing of rotor blades) - Edição 1.0 (2001). Cada novo tipo de pá fabricado deve ser testado em escala real para verificação de seu projeto estrutural e da adequação dos processos de fabricação. Os testes descritos nesta especificação técnica têm 011 como objetivo verificar se a pá resiste às tensões estáticas e de fadiga definidas em seu projeto. • IEC/TR 61400-24: Proteção contra raios (Lightning protection) - Edição 1.0 (2010). Este relatório técnico da IEC traz vários aspectos sobre a proteção contra descargas atmosféricas em turbinas eólicas, desde o status atual do conhecimento sobre o fenômeno e seus impactos sobre aerogeradores, tendo como base o histórico de vários casos de equipamentos atingidos por raios. Até o procedimento para avaliação de risco e aplicação de métodos apropriados para proteção contra descargas atmosféricas. • IEC 61400-25-1 a 6: Comunicações para monitoramento e controle de usinas eólicas (Communications for monitoring and control of wind power plants). Conjunto de seis normas que definem os protocolos de comunicação para medição e controle remoto de parques eólicos. • IEC/TS 61400-26-1: Disponibilidade baseada no tempo para aerogeradores (Time-based availability for wind turbine generating systems) - Edição 1.0 (2011). Especificação técnica recente que define termos genéricos para descrever a disponibilidade do aerogerador e seus componentes, a expectativa de vida, reparos e critérios para determinar os intervalos demanutenção. (CTGÁS-ER, 2012) Destaca-se ainda que “deve-se adicionar a este grupo de documentos a norma IEC 60050-415: Vocabulário Eletrotécnico Internacional para Aerogeradores, elaborada pelo TC01, responsável por sancionar os termos e definições utilizados pelos diferentes comitês da IEC” (CTGÁS-ER, 2012). O CTGÁS-ER (2012) menciona que em 2005, o COBEI (Comitê Brasileiro de Eletricidade) criou uma comissão técnica para elaborar as normas brasileiras na área de energia eólica e aproximar-se do comitê técnico 88 da IEC, aumentando a participação brasileira neste segmento. Atualmente, 3 normas do TC88 já foram traduzidas para o português e adotadas pela ABNT, são elas: ABNT NBR IEC 61.400-1:2008, ABNT NBR IEC 61.400-21:2010 e ABNT NBR IEC 61.400- 12-1:2012. FINALIZANDO Nesta aula foi possível conhecer mais sobre o desempenho das turbinas eólicas e também sobre as principais normas que regem seu desenho, sua construção e seu monitoramento. A partir desses conhecimentos é possível escolher a melhor turbina para cada terreno e dessa forma maximizar a geração de energia, consequentemente garantindo a viabilidade econômica do projeto. 012 REFERÊNCIAS ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Energias Alternativas. Disponível em: <http://www.abnt.org.br/noticias/4991-energias- alternativas>. Acesso em: 27 dez. 2017. CTGÁS-ER – CENTRO DE TECNOLOGIAS DO GÁS E ENERGIAS RENOVÁVEIS. Aspectos Técnicos da Energia Eólica. Natal, 2012. Disponível em: <http://ead2.ctgas.com.br/a_rquivos/aperfeicoamento/AspectosTecnicosEnergia Eolica/Apostila_Aspectos_Tecnicos_Daniel_Faro_v1.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2018. CUSTÓDIO, R. S. Energia Eólica Para Produção de Energia Elétrica. Rio de Janeiro: Centrais Elétricas Brasileiras S.A./Eletrobrás, 2009. INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL COMMISSION. Wind Power. Disponível em: <http://www.iec.ch/renewables/wind_power.htm>. Acesso em: 27 dez. 2017. VILLENA, J. E. N. Tecnologia de Geração Eólica. [S.l.]: CTGÁS-ER, 2011. WOBBEN WINDPOWER. Disponível em: <http://www.wobben.com.br/pagina- inicial/>. Acesso em: 27 dez. 2017.
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