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GESTÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoras: Célia Regina Appio Cristina Danna Steuck 372 A647g Appio, Célia Regina. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais/ Célia Regina Appio [e] Cristina Danna Steuck. Centro Universitário Leonardo da Vinci –: Indaial, Grupo UNIASSELVI, 2010.x ; 106.p.: il Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-314-3 1. Educação pré-escolar 2. Anos Iniciais do Ensino I. Centro Universitário Leonardo da Vinci II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Profa. Katia Solange Coelho Rafaeli Revisão Gramatical: Profa. Márcia Maria Junkes Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2010 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Célia Regina Appio Graduada em Pedagogia, com habilitação em Supervisão Escolar pela UNIPLAC – Universidade do Planalto Catarinense (1991) e Mestre em Educação pela FURB - Universidade Regional de Blumenau (2007). Atualmente é coordenadora pedagógica de uma escola de Educação Básica. Tem experiência na Educação Infantil, Anos Iniciais, Ensino Médio e Pós-Graduação. Atua como tutora interna na Pós- Graduação da Uniasselvi. Publicou os artigos: Propósito das gentilezas triviais - apontamentos em torno do projeto político pedagógico; A construção do projeto político pedagógico nas escolas estaduais do município de Blumenau - SC; Bases, políticas e práticas da gestão da aprendência; Excluídos da trilha: considerações sobre a avaliação da avaliação; Educação jesuítica: contexto, surgimento e desdobramentos. Cristina Danna Steuck Graduada em Normal Superior – Educação Infantil pela UNIASSELVI – Associação Educacional Leonardo da Vinci (2002), Especialista em Psicopedagogia pelo ICPG – Instituto Catarinense de Pós-Graduação (2004) e Mestre em Educação pela FURB – Universidade Regional de Blumenau (2008). Tem experiência na Educação Infantil e atua como Professora Tutora Interna da Graduação e Pós-Graduação da UNIASSELVI. Publicou: A escola e as diferenças; O controle do corpo na Educação Infantil. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil ..... 9 CAPÍTULO 2 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais na Escola .. 35 CAPÍTULO 3 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Movimento de Construção da Gestão Democrática . 53 CAPÍTULO 4 Gestão Administrativa, de Pessoas e de Infraestrutura 77 7 APRESENTAÇÃO Caro (a) Pós-Graduando (a)! Estamos começando um novo desafio. Este caderno de estudos foi preparado com muito cuidado para que se compreenda o processo de evolução da gestão da educação infantil e anos iniciais e como se administra estas modalidades de educação na contemporaneidade. A gestão da educação é um processo contínuo que começa em cada um de nós. A partir de nossas atitudes, ações e percepções tecemos a educação. Construí-la é acreditar noutra educação possível, numa educação voltada para a construção de relações humanas, em que os princípios humanos sobrepõem-se aos princípios do capital, portanto, uma educação centrada no respeito às diferenças. O respeito às diversas culturas traduz um dos princípios da gestão da educação. Construímos a educação numa primeira dimensão em nós mesmos, depois para o outro. Implica num movimento contínuo de crescimento pessoal e profissional. Não nascemos prontos e acabados. A construção humana perpassa pelo modo como concebemos o mundo. Se o mesmo se apresenta como uma janela fechada, também a educação que fazemos todos os dias, da qual somos responsáveis se manifesta fechada. Abrir espaços para administrar a educação, é acreditar que a escola e a gestão da mediação pedagógica implicam em ousadias, em ser e fazer diferente. A gestão da educação infantil e anos iniciais envolve o desejo de construir um mundo mais humano e justo para todos os que nele habitam, contribuindo para que as crianças e adolescentes sejam mais felizes. Parafraseando Vieira (2005) o sucesso de uma gestão escolar, em última instância, só se concretiza mediante o sucesso de todos os alunos. Daí porque é preciso manter como norte a “gestão para uma comunidade de aprendizes.” A educação é um processo que vai além das aparências físicas. É um processo que toca a alma, que eleva o ser, que o faz querer ser melhor, mais gente. É o aprimorar-se dos relacionamentos. Construir a educação, tanto na educação infantil quanto nos anos iniciais, consiste numa tomada de decisão, ou seja, precisa de profissionais atuantes e responsáveis, com iniciativa, para que as boas ideias surjam e se materializem no processo de gestão da mediação pedagógica. Este caderno contém quatro capítulos, assim distribuídos: 8 O primeiro capítulo apresenta alguns conceitos sobre gestão e os movimentos da trajetória histórica da gestão da educação infantil e anos iniciais no Brasil. O segundo capítulo apresenta a evolução teórica e prática da administração da educação e sobre a gestão da qualidade na construção de um ambiente de gestão da educação. O terceiro capítulo aborda a gestão da educação infantil e anos iniciais e a construção da gestão democrática nas escolas. O quarto capítulo traz discussões sobre a gestão administrativa/financeira das escolas, a gestão de pessoas e apresenta os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil elaborados pelo MEC. Assim, convidamos você pós-graduando(a) a ampliar seus conhecimentos e tornar-se um profissional atualizado para atender às demandas de um tempo em constante mudança. Bons estudos! As autoras. CAPÍTULO 1 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Analisar os conceitos de gestão da educação infantil e anos iniciais. 3 Conhecer a construção histórica da gestão da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental no Brasil. 3 Discutir os movimentos que impulsionaram as mudanças teóricas e práticas na gestão da educação infantil e anos iniciais. 11 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Capítulo 1 Contextualização Caro(a) pós-graduando(a)! Neste capítulo discutiremos alguns conceitos básicos do tema: gestão da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. Você terá a oportunidade de conhecer um pouco da história da gestão da educação infantil e anos iniciais no Brasil e os movimentos que impulsionaram estas mudanças na sociedade brasileira. Cabe salientar que a educação infantil é fruto de um processo histórico que teve início no começo do século XX com alguns movimentos sociais e políticos, os quais consideramos importantes destacar para compreendermos na atualidade a gestão da educação infantil e anos iniciais em nosso país. Desejamos que você amplie seus conhecimentos e tenha sucesso nos estudos desta disciplina. Conceitos de Gestão Você já parou para pensar sobre o que é gestão? O que significa gestão da educação? O que quer dizer gestão da educação infantil e anos iniciais? Pois é, caro(a) pós-graduando(a), iniciamos nossos estudos abordando conceitos importantes para a compreensão deste tema. Apresentamos o conceito de gestão proposto por Ferreira (2004, p. 306): Gestão é administração,é tomada de decisão, é organização, é direção. Relaciona-se com a atividade de impulsionar uma organização a atingir seus objetivos, cumprir sua função, desempenhar seu papel. Constitui-se de princípios e práticas decorrentes que afirmam ou desafirmam os princípios que as geram. Estes princípios, entretanto não são intrínsecos à gestão como a concebia a administração clássica, mas são princípios sociais, visto que a gestão da educação se destina à promoção humana. Segundo Ferreira (2004), podemos dizer que a gestão está relacionada com o modo de administração, de organização e de construção de práticas visando atingir ao objetivo da instituição que é educar e, fundamentalmente, cumprir seu papel e função social. A gestão está presente nas relações que ocorrem em sala de aula, na mediação pedagógica e no processo de ensino e aprendizagem, ou seja, a gestão da educação está presente em todas as relações e deve ter como propósito central a busca pela formação humana. Segundo Wittmann e Gracindo (2001, p.1) gestão é “[...] a instância A gestão está relacionada com o modo de administração, de organização e de construção de práticas visando atingir ao objetivo da instituição que é educar e, fundamentalmente, cumprir seu papel e função social. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 12 ou a dimensão de organização e funcionamento de uma instituição ou de acompanhamento e controle da execução de um projeto ou plano. É uma categoria teórico-prática, objeto crescente de pesquisa”. Constitui um aspecto da administração, juntamente com a política, o planejamento e a avaliação. A partir desta citação de Wittmann e Gracindo, pode-se afirmar que a gestão da educação ocorre em todos os espaços do ambiente educacional, principalmente, na sala de aula onde se constrói as práticas pedagógicas em consonância com o projeto pedagógico da instituição de ensino. De acordo com Wittmann (2001, p. 2) a gestão da educação constitui “a coordenação de instituições e de processos de formação humana, como objeto tanto de pesquisa, quanto de docência e de prática”. Tais conceitos, ajudam no entendimento de que a gestão da educação envolve tanto a coordenação de instituições, como os processos de formação humana. Consiste na construção de espaços voltados para a socialização, produção e apropriação de conhecimentos e, fundamentalmente, para a construção de relações humanas. A gestão da educação infantil e anos iniciais envolve os princípios contidos nas diretrizes legais, entre eles, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96; o documento Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil, vol. 1 e 2; as Diretrizes Curriculares Nacionais – DCNs e os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs; o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil; bem como, as Propostas Curriculares. Tanto as Diretrizes, quanto os Parâmetros e a Proposta Curricular orientam a construção das práticas pedagógicas em todas as áreas do conhecimento. Nesse mesmo sentido das diretrizes legais sobre a gestão da educação infantil e anos iniciais, Franco e Wittmann (1998, p. 27) observam ainda que a administração da educação é “[...] uma instância inerente à prática educativa que abrange o conjunto de normas/diretrizes e práticas/atividades que garantem, de um lado, o significado ou o sentido histórico do que se faz e, de outro lado, a unidade do conjunto na diversidade de sua concretização”. Caro(a) pós-graduando(a), a partir das definições das palavras gestão e administração da educação, você percebeu alguma relação com a prática educativa e com o funcionamento de uma instituição escolar? A partir destas reflexões percebemos que a gestão está relacionada também, com a construção da prática educativa, além do modo de organização e funcionamento das instituições escolares. Em A gestão da educação ocorre em todos os espaços do ambiente educacional, principalmente, na sala de aula onde se constrói as práticas pedagógicas em consonância com o projeto pedagógico da instituição de ensino. A gestão está relacionada também, com a construção da prática educativa, além do modo de organização e funcionamento das instituições escolares. 13 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Capítulo 1 se tratando de gestão de educação infantil e anos iniciais, lembramos que estes níveis de escolaridade integram a educação básica. A expressão “Educação Básica” surgiu entre a década de oitenta e noventa quando começou a ser divulgada a ideia de educação para todos. Mais especificamente após a Conferência Mundial de Educação para Todos, ocorrida em Jomtien, na Tailândia, em março de 1990. Naquela ocasião, foi elaborado um documento intitulado “Declaração Mundial sobre Educação para Todos”. Esse documento concebe a educação básica como “a base para a aprendizagem e o desenvolvimento humano permanentes, sobre a qual os países podem construir, sistematicamente, níveis e tipos mais adiantados de educação e capacitação” (UNESCO, 1990, p. 3). O termo educação básica apareceu pela primeira vez, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96. Sobre a atuação de um gestor, numa instituição de ensino, faz- se necessário refletir sobre a especificidade de sua função. Sob este aspecto Boaventura (2008, p.52) adverte que, “a atuação do gestor numa perspectiva de gestão democrática e participativa envolve três áreas de gestão: A Gestão Política, a Gestão Administrativa e a Gestão Pedagógica”. Conforme apontamos na figura que segue: Figura 1 – Áreas da Gestão Democrática Fonte: Elaborado pelas autoras. Na Gestão Política, existe a necessidade do gestor ter conhecimentos técnicos, pedagógicos e administrativos. Além de estar sempre incentivando a comunidade escolar a participar de trabalhos inovadores. No que se refere à Gestão Administrativa, são envolvidas diversas ações e trabalhos burocráticos, objetivando o funcionamento da escola. A Gestão Pedagógica ocorre fundamentalmente no GESTÃO DEMOCRÁTICA GESTÃO POLÍTICA GESTÃO ADMINISTRATIVA GESTÃO PEDAGÓGICA A atuação do gestor numa perspectiva de gestão democrática e participativa envolve três áreas de gestão: A Gestão Política, a Gestão Administrativa e a Gestão Pedagógica. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 14 processo de ensino e aprendizagem é o momento em que os educadores e os alunos interagem buscando além da integração, a inclusão de todos os alunos no processo de construção e de apropriação de conhecimentos. Estas áreas precisam estar interligadas para que o processo de gestão da educação infantil e anos iniciais ocorra de modo democrático, visando à inclusão de todos no processo educativo. Essas questões e outras que ainda vão surgir serão discutidas na próxima seção quando abordaremos os movimentos que impulsionaram mudanças na prática da gestão da educação infantil e anos iniciais. Nos capítulos II e III, veremos um pouco mais sobre a gestão pedagógica. Já a gestão administrativa e a gestão política, serão abordadas no capítulo IV. História da Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Prezado(a) pós-graduando(a)! Nesta seção, vamos apresentar os principais fatos históricos da educação brasileira que são essenciais para compreender a evolução da gestão da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental no país. Os estudos sobre políticas e gestão da educação no Brasil constituem-se por uma longa história. Uma história que iniciou com os portugueses no período colonial, mais ou menos em 1530, com o início da colonização propriamente dita, baseada no surgimento das capitanias hereditárias e na monocultura da cana de açúcar. Naquela época, a educação não era uma prioridade, pois não havia necessidade de formação de mão de obra específica para trabalhar na agricultura.Mesmo assim, as metrópoles europeias enviaram religiosos ao Brasil, aproximadamente em 1549, com a intenção de converter os índios (gentios) e impedir que os colonos se desviassem da fé católica. Nesse sentido, vamos a seguir, estudar os distintos períodos da Educação no Brasil: chegada dos Jesuítas ao Brasil; a expulsão dos Jesuítas; a vinda da família real para o Brasil; independência do Brasil; a Primeira República; a Segunda República; o Estado Novo; a Nova República; o Regime Militar; a constituição de 1988 e a nova LDB – 9394/96. a) Chegada dos Jesuítas ao Brasil Os estudos sobre políticas e gestão da educação no Brasil constituem- se por uma longa história. Uma história que iniciou com os portugueses no período colonial, mais ou menos em 1530. 15 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Capítulo 1 Os jesuítas da Companhia de Jesus, que chegaram ao Brasil encabeçados pelo Padre Manuel da Nóbrega, em apenas quinze dias fizeram funcionar, em Salvador, a primeira escola de ler e escrever. De acordo com Aranha (1996, p. 99), É o início do processo de criação de escolas elementares, secundárias, seminários e missões, espalhados pelo Brasil até o ano de 1759, quando os jesuítas foram expulsos pelo marquês de Pombal. Neste período de 210 anos, eles promovem uma ação maciça na catequese dos índios, educação dos filhos dos colonos, formação de novos sacerdotes e da elite intelectual, além do controle da fé e da moral dos habitantes da nova terra. A Companhia de Jesus foi oficializada pela Igreja em 1540. Nasceu em uma época caracterizada por conflitos e divisões dentro da Igreja, sendo a Reforma Protestante a principal delas. Era também a época da expansão das fronteiras geográficas, com a descoberta da América e a abertura de novas rotas comerciais na África, assim como, a época das mudanças radicais no campo das ciências e das letras. A Companhia tentou dar uma resposta positiva a esses desafios, atuando em três campos: defesa e promoção da fé cristã; propagação da fé nos territórios coloniais; educação da juventude. A atividade educativa tornou-se a principal tarefa dos jesuítas. A gratuidade do ensino da Companhia favoreceu a expansão dos seus colégios (GIRALDELLI JUNIOR, 2006). Desde que os jesuítas chegaram ao Brasil, perceberam que não conseguiriam agir sobre os índios adultos. Assim, os padres investiram na conquista das crianças indígenas (curumins), ensinando- lhes a ler e escrever. Para cativá-los, usavam diversos recursos como o teatro, a música, a poesia, os versos, entre outros. No entanto, começou a haver um choque entre a cultura dos indígenas e dos missionários jesuítas. “Os padres ridicularizam a figura do pajé e os ensinamentos da tribo, condenam a poligamia, pregando a forma cristã de casamento e, dessa maneira, começam a abalar o sistema comunal primitivo” (ARANHA, 1996, p. 101). Lembre-se que as primeiras escolas fundadas pelos jesuítas, tinham por base o ensinamento aos índios e aos filhos dos colonos, porém de forma separada. Afinal, aos índios destinava-se o trabalho de catequese, ou seja, a cristianização e a pacificação. Esta catequização tinha por intuito tornar Os padres investiram na conquista das crianças indígenas (curumins), ensinando-lhes a ler e escrever. Para cativá-los, usavam diversos recursos como o teatro, a música, a poesia, os versos, entre outros. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 16 os índios dóceis para o trabalho. Já para os filhos dos colonos, a educação era mais ampla, estendendo-se até a escola elementar de ler e escrever. Todas as escolas jesuítas eram regulamentadas pelo Ratio Studiorum (Ordem dos Estudos), documento escrito por Inácio de Loyola. De acordo com Ghiraldelli Junior (2006, p. 25-26), “o objetivo dessa ordem era o de ‘formação do homem cristão’, de acordo com a fé e a cultura daquele tempo. Esse plano de estudos articulava um curso básico de humanidades com um de filosofia seguido por um de teologia”. No curso de Letras, estudava-se Gramática Latina, Humanidades e Retórica; e no curso de Filosofia estudava-se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Já, o curso de Teologia e Ciências Sagradas, destinava-se à formação de sacerdotes. Esse modelo funcionou de forma plena e absoluta por pelo menos 210 anos, de 1549 a 1759, quando os jesuítas foram expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal. b) A expulsão dos Jesuítas Como você pode perceber, depois de terem implantado escolas em diversos estados brasileiros e terem administrado a educação no Brasil por diversos anos, os jesuítas foram expulsos das colônias. Isso aconteceu, porque haviam diversas diferenças de objetivos, que iam contra aos interesses da Corte. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer Portugal da decadência que se encontrava diante de outras potências europeias da época. Não bastasse isso, Lisboa havia passado recentemente por um terremoto que destruiu diversas partes importantes da cidade e precisava ser reerguida com urgência. Proselitismo é o empenho em converter as pessoas a uma ideia, crença ou religião. Noviciado é o período da formação de um religioso ou de uma religiosa que precede a emissão de seus votos. A educação jesuítica não interessava comercialmente para Pombal. Suas escolas tinham por objetivo servir aos interesses da fé. Para Pombal, a escola Catequização tinha por intuito tornar os índios dóceis para o trabalho. Já para os filhos dos colonos, a educação era mais ampla, estendendo- se até a escola elementar de ler e escrever. 17 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Capítulo 1 deveria ser organizada de tal forma, a fim de servir aos interesses do Estado. Desta forma, em 1772, foi implantado no Brasil, o ensino público oficial. De acordo com Aranha (1996, p. 134), As vantagens proclamadas pelo ensino reformado decorrem da intenção de oferecer aulas de línguas modernas, como o francês, além de desenho, aritmética, geometria, ciências naturais, no espírito dos novos tempos e contra o dogmatismo da tradição jesuítica. Porém são inúmeras as dificuldades. Os colégios estão dispersos, não há mais a formação de mestres nem uniformidade de ensino, portanto. Existem queixas quanto à incompetência dos mestres leigos, que são muito mal pagos. O centro de decisões está no reino, o que torna a máquina administrativa extremamente morosa e ineficaz. Portugal, percebendo que a educação no Brasil havia regredido e estava estagnada, tentou encontrar uma solução. Instituiu o subsídio literário para manutenção do ensino primário e médio. Criado em 1772 o subsídio era uma taxação, ou um imposto, que incidia sobre a carne verde, o vinho, o vinagre e a aguardente. De qualquer forma, naquela época o subsídio nunca foi cobrado com regularidade e os professores ficavam longos períodos sem receber, a espera de uma solução vinda de Portugal. Devido às mudanças estabelecidas por Pombal, a educação brasileira foi reduzida a praticamente nada. Acabou-se com o sistema jesuítico, porém, tudo o que foi organizado posteriormente, era diminuto frente à educação jesuítica, sendo esta época, um grande retrocesso para a educação brasileira. c) A Vinda da Família Real para o Brasil Depois da catastrófica atuação de Pombal, no que dizia respeito à administração escolar, tivemos uma nova fase na educação brasileira: a vinda da Família Real, em 1808, para o Brasil. Você já teve ter estudado em História da Educação, no seu curso de graduação, que a vinda da família real ao Brasil, deu-se devido aos conflitos entre o Rei D. João VI e Napoleão Bonaparte. Por outro lado, a estadia da família real no Brasil, trouxe alguns benefícios para a colônia. D. João VI procurando melhorar sua estadiano Brasil, abriu Academias Militares, diversas Escolas de Direito e Medicina, uma Biblioteca Real, criou o Jardim Botânico e a Imprensa Régia. O surgimento da imprensa fez com que os fatos e as ideias Para Pombal, a escola deveria ser organizada de tal forma, a fim de servir aos interesses do Estado. Devido às mudanças estabelecidas por Pombal, a educação brasileira foi reduzida a praticamente nada. O surgimento da imprensa fez com que os fatos e as ideias acontecidos no Brasil, fossem divulgados e discutidos no meio da população letrada. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 18 acontecidos no Brasil, fossem divulgados e discutidos no meio da população letrada. Isso abriu terreno para as discussões políticas. No entanto, a educação continuou tendo pouca importância para o setor administrativo. Atividade de Estudos: 1) Até agora, vimos três períodos distintos da Educação Brasileira. Que tal revermos alguns dos pontos principais? Para isso, preencha a linha do tempo a seguir, escrevendo as principais características de cada período: 1530 1759 1808 1821 d) Independência do Brasil Em 1821, D. João VI volta a Portugal e deixa seu filho administrando a colônia brasileira. Em 1822, como você já deve saber, D. Pedro I proclama a Independência do Brasil e, em 1824, outorga a primeira Constituição Brasileira, que falava pela primeira vez sobre a gratuidade do ensino primário para todos os cidadãos. Tentando suprir a falta de professores, em 1823, foi instituído o Método Lancaster, conhecido por ser o método do ensino mútuo. Nesse modelo de ensino, um aluno treinado, chamado de decurião, ensinava um grupo de dez alunos (decúria), vigiados rigidamente por um inspetor. Em 1826, um Decreto criou quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias. Posteriormente, um projeto de lei, em 1827, propôs a criação de Pedagogias em todas as cidades e vilas, prevendo o exame seletivo de professores, Chegada dos Jesuítas ao Brasil Expulsão dos Jesuítas Vinda da família Real para o Brasil Tentando suprir a falta de professores, em 1823, foi instituído o Método Lancaster, conhecido por ser o método do ensino mútuo. Nesse modelo de ensino, um aluno treinado, chamado de decurião, ensinava um grupo de dez alunos (decúria), vigiados rigidamente por um inspetor. 19 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Capítulo 1 para nomeação. Esse projeto de lei propôs ainda, que fossem abertas escolas para meninas. Em 1834, um Ato Adicional a esta Constituição, tornou as províncias responsáveis pela administração do ensino primário e secundário. No entanto, devido às distâncias territoriais no Brasil, a educação brasileira obteve pouquíssimos resultados. Mesmo assim, em 1835, em Niterói, devido a esse ato adicional, surgiu a primeira Escola Normal do país. e) A Primeira República Em 1889 o Brasil foi Proclamado República, adotando-se o modelo político dos Estados Unidos, baseado no sistema presidencialista. Mas a organização escolar recebeu influências da filosofia positivista. Criado pelo francês Augusto Comte (1798 – 1857), o positivismo teve como principal característica a exaltação pelo avanço da Ciência Moderna, capaz de revolucionar o mundo com uma tecnologia cada vez mais eficaz: Saber é poder. De acordo com Aranha (1996, p. 139), “isso significa que, por meio da observação e do raciocínio, o homem torna-se capaz de descobrir as relações invariáveis entre os fenômenos, ou seja, suas leis efetivas”. Outro ponto é a concepção determinista, no qual, segundo o positivismo, o ser humano não era livre. Ele era sempre determinado por causas como a raça (determinismo biológico), o meio (determinismo geográfico) e o momento (determinismo histórico). Nesta época, aconteceu a Reforma de Benjamin Constant, que teve como princípios norteadores a liberdade e laicidade do ensino, assim como a gratuidade do ensino na escola primária. Princípios estes que baseavam-se na Constituição Brasileira da época. Um dos objetivos da Reforma era transformar o ensino brasileiro em formador e, não apenas, preparador de alunos para os cursos superiores. Outro objetivo era substituir a predominância literária do ensino pela científica. Esta Reforma foi muito criticada pelos positivistas, pois não respeitava os princípios pedagógicos de Comte. Recebeu críticas também dos que defendiam a predominância literária, já que o que aconteceu foi apenas o acréscimo de matérias científicas às tradicionais, tornando o ensino um tanto que enciclopédico. Já em 1911, uma reforma conhecida como a Reforma Rivadávia Um dos objetivos da Reforma era transformar o ensino brasileiro em formador e, não apenas, preparador de alunos para os cursos superiores. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 20 Correa, preconizava que o curso secundário passasse de, um simples promotor, a um nível seguinte, ou seja, para um ensino formador do cidadão. Retomou a orientação positivista, pregando a liberdade de ensino e de frequência. Pregou ainda, a abolição do diploma, trocando-o por um certificado de assistência e aproveitamento, transferindo os exames de admissão para o ensino superior, para as faculdades. Alguns fatos relevantes no que se refere à educação, aconteceram na década de 20: realizaram-se diversas reformas estaduais, como as de Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Teixeira, na Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas, em 1927, a de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928 e a de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928. f) A Segunda República A Revolução de 1930 marcou a entrada do Brasil no mundo capitalista de produção. Esta nova realidade brasileira exigiu mão de obra especializada, havendo a necessidade de investimentos na educação. Desta forma, em 1930, criou-se o Ministério da Educação e Saúde Pública, para administrar a educação e a saúde no Brasil, e, em 1931, o governo provisório sancionou decretos, conhecidos como a Reforma Francisco Campos, procurando organizar o ensino secundário e as universidades brasileiras que, na época, ainda nem existiam. Na década de 30, Getúlio Vargas assumiu o governo. Um grupo de intelectuais, encabeçados por Fernando de Azevedo, baseados nas ideias de Dewey e Durkheim, lançaram à nação, em 1932, o manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que contava com grandes nomes de nossa história pedagógica, como por exemplo, Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio Teixeira (1900-1971). A Escola Nova foi um movimento de renovação do ensino que se desenvolveu principalmente na Europa, na América e no Brasil, na primeira metade do século XX. O escolanovismo, como foi chamado, desenvolveu-se no Brasil permeado por importantes impactos e transformações políticas, sociais e econômicas. Os Pioneiros da Escola Nova eram favoráveis a uma educação pública, gratuita, mista, laica e obrigatória, ou seja, procuravam responsabilizar o Estado Em 1930, criou-se o Ministério da Educação e Saúde Pública, para administrar a educação e a saúde no Brasil. 21 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Capítulo 1 pelo dever de educar o povo, passando esta a ser função não apenas da família. Contrários aos costumes das escolas da época, os pioneiros pronunciaram-se favoráveis à escola mista, defendendo a educação laica em detrimento da educação católica, aproximando a escola das questões sociais, e não apenas religiosas, como era anteriormente, dando oportunidades iguais às pessoas de ambos os sexos, de diferentes credos e camadas sociais. A proposta dos Pioneiros sugeria a construção de práticas pedagógicas voltadas para a formação humana. Neste contexto, as escolas deveriam ser equipadas com laboratórios ehortas escolares visando a aproximar à vida do aluno. Para Fiori (1975, p.152), “a chamada Escola Nova afastava o tradicional ensino baseado na memorização dos alunos; apelava para a participação ativa e o desenvolvimento do pensamento reflexivo e criador dos discentes”. O manifesto dos Pioneiros da Escola Nova representou um importante movimento na educação brasileira, sendo a primeira geração de educadores a divulgar a ideia de participação e de gestão democrática no Brasil, exigindo do poder público prioridade na área educacional. Esse período caracterizou-se por forte centralismo administrativo, aumento das oportunidades educacionais e baixa qualidade de ensino. Em 1934, foi criada uma nova Constituição, a segunda deste período, que dispôs, pela primeira vez, que a educação era direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelo Poder Público. Atividade de Estudos: Que tal revermos alguns pontos importantes do que estudamos até agora? Então vamos lá! 1) Em que consistia o Método Lancaster, instituído em 1823? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Os Pioneiros da Escola Nova eram favoráveis a uma educação pública, gratuita, mista, laica e obrigatória, ou seja, procuravam responsabilizar o Estado pelo dever de educar o povo, passando esta a ser função não apenas da família. O manifesto dos Pioneiros da Escola Nova representou um importante movimento na educação brasileira, foi a primeira geração de educadores que divulgou a ideia de participação e de gestão democrática no Brasil. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 22 2) Qual foi o principal objetivo da Reforma de Benjamim Constante, por volta de 1890? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 3) Quais os princípios dos Pioneiros da Escola Nova? O que eles reivindicavam? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ g) O Estado Novo – 1937 a 1945 A expressão Estado Novo refere-se ao período compreendido entre 1937 a 1945, quando o Brasil viveu um regime ditatorial implantado por um golpe de Estado pelo Presidente Getúlio Vargas. Durante esse período, diminuiu consideravelmente a liberdade política no país: os partidos políticos foram abolidos; as eleições suspensas; e a estrutura federativa, esvaziada. Ao mesmo tempo, conquistas foram registradas no campo da legislação trabalhista e foram criadas as bases da indústria e da siderurgia nacional (PENIN; VIEIRA, 2002). Em 1937, é outorgada uma nova Constituição, que tem por base, em seu texto, a preparação de mão de obra para as novas atividades existentes no mercado, enfatizando o ensino pré-vocacional e profissional. A mesma Constituição propõe que a arte, a ciência e o ensino sejam livres à iniciativa individual, ou coletiva, podendo ser públicas ou particulares, tirando do Estado a responsabilidade sobre a educação. Dispõe sobre a gratuidade e obrigação do ensino primário, tornando obrigatório o ensino dos trabalhos manuais nas escolas normais, primárias e secundárias. Em 1937, é outorgada uma nova Constituição, que tem por base, em seu texto, a preparação de mão de obra para as novas atividades existentes no mercado, enfatizando o ensino pré- vocacional e profissional. 23 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Capítulo 1 De acordo com Ghiraldelli Júnior (2006, p. 79), A Carta de 1937 não estava interessada em determinar ao Estado tarefas no sentido de fornecer à população uma educação geral através de uma rede de ensino público e gratuito. A intenção da Carta de 1937 era manter, e talvez aprofundar, um explícito dualismo educacional: os ricos proveriam seus estudos através do sistema público ou particular e os pobres, sem usufruir deste sistema, deveriam ter como destino as escolas profissionais. [...] Assim, o artigo 129 determinou como primeiro dever do Estado a sustentação do ensino pré-vocacional e profissional destinado às classes menos favorecidas. Com isso o texto constitucional reconheceu e cristalizou a divisão entre pobres e ricos e, oficialmente, extinguiu a igualdade formal entre os cidadãos [...]. Em 1942, o então Ministro, Gustavo Capanema, iniciava outras reformas no ensino, conhecidas como Reforma Capanema, denominada oficialmente de Leis Orgânicas do Ensino, que reestruturam o curso secundário. Assim, o ensino ficou composto por cinco anos de curso primário, quatro de curso ginasial e três de colegial, podendo ser na modalidade clássica ou científica (ARANHA, 1996). Ainda, de acordo com Aranha (1996, p. 202), destacaram-se algumas regulamentações estabelecidas pelos decretos-leis: Em 1942, a Lei Orgânica do Ensino Industrial, a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), a Lei Orgânica do Ensino Secundário. Em 1943, a Lei Orgânica do Ensino Comercial e, em 1946, após a queda de Vargas, a Lei Orgânica do Ensino Primário, a Lei Orgânica do Ensino Normal, a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), a Lei Orgânica Agrícola. Percebe-se portanto, que a centralização administrativa vivenciada no governo Vargas, de certa forma, possibilitou maior homogeneidade e continuidade nas medidas educacionais. h) A Nova República Com o fim do Estado Novo, adotou-se uma nova Constituição, agora mias liberal e democrática. Na Educação, esta Constituição determinou como obrigatório o cumprimento do ensino primário, dando competência à União para criar uma lei sobre as diretrizes e bases da educação nacional. Esta nova Constituição, inspirada no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, na década de 30, privilegiou o preceito de que a educação é direito de todos. Na Educação, esta Constituição determinou como obrigatório o cumprimento do ensino primário, dando competência à União para criar uma lei sobre as diretrizes e bases da educação nacional. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 24 Tomando por base a Constituição de 1946, o então Ministro Clemente Mariani, criou uma comissão, presidida pelo educador Lourenço Filho, com o objetivo de elaborar um anteprojeto de reforma geral da educação nacional. Essa comissão era organizada em três subcomissões: uma para o Ensino Primário, uma para o Ensino Médio e outra para o Ensino Superior. Dois anos depois, em novembro de 1948, o anteprojeto foi encaminhado à Câmara Federal, iniciando-se, naquele momento, uma luta ideológica em torno das propostas apresentadas pela comissão. As discussões mais acirradas tiveram relação com o questionamento da responsabilidade do Estado em relação à educação. De acordo com Ghiraldeli Júnior (2006, p. 98), Conhecida como Lei 4.024/61, a nossa primeira LDB garantiu a igualdade de tratamento por parte do Poder Público para os estabelecimentos oficiais e os particulares, o que garantiaque as verbas públicas poderiam, inexoravelmente, ser carreadas para a rede particular de ensino em todos os graus. A lei que tramitou treze anos no Congresso, e que inicialmente destinava-se a um país pouco urbanizado acabou sendo aprovada para um Brasil industrializado e com necessidades educacionais que o Parlamento não soube perceber. Ao mesmo tempo em que as discussões em torno da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional aconteciam, outras iniciativas marcaram esse período da história da educação nacional: em 1950, em Salvador, no Estado da Bahia, Anísio Teixeira inaugurou o Centro Popular de Educação (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando início a sua ideia de escola-classe e escola-parque; em 1952, em Fortaleza, Estado do Ceará, o educador Lauro de Oliveira Lima iniciou uma didática baseada nas teorias científicas de Jean Piaget: o Método Psicogenético; em 1953 a educação passou a ser administrada por um Ministério próprio: o Ministério da Educação e Cultura; em 1961 iniciou-se uma campanha de alfabetização, tendo por base a didática criada pelo pernambucano Paulo Freire, a qual propunha alfabetizar em 40 horas adultos analfabetos; em 1962 foi criado o Conselho Federal de Educação, que substituiu o Conselho Nacional de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação e, ainda em 1962 foi criado o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização, pelo Ministério da Educação e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire. 25 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Capítulo 1 Para você conhecer um pouco mais sobre o Método Paulo Freire e sobre sua história, acesse os sites: http://www.paulofreire.ufpb.br/paulofreire/principal.jsp http://www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/ i) O Regime Militar O golpe militar de 1964, abortou todas as iniciativas de revolucionar a educação brasileira. O Regime Militar imprimiu na educação um caráter antidemocrático, idêntico à sua proposta governamental ideológica. Nessa época professores foram presos ou demitidos; os estudantes proibidos de se manifestarem e a União Nacional dos Estudantes proibida de funcionar; universidades foram invadidas; estudantes foram presos e feridos, e alguns até mortos nos confrontos com a polícia. Podemos afirmar que aquele foi um período conturbado para a Educação brasileira. Com a ideia de erradicar o analfabetismo criou-se o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização). Esse movimento procurou substituir o extinto Método Paulo Freire, aproveitando, no entanto, sua didática. Seu principal objetivo era extinguir o analfabetismo no Brasil, fato este, que não realizou-se. Após ser extinto o MOBRAL, criou-se em seu lugar a Fundação Educar. No entanto, foi no período mais cruel da ditadura militar, que foi instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971. Sua principal característica era tornar o ensino essencialmente profissionalizante. A gestão, nesse período, constituiu- se pela centralização e ausência de participação. Mas, foi a partir dos anos de 1980, que a política educacional no Brasil começou a sinalizar a construção de uma gestão democrática e participativa. Atividade de Estudos: Vamos rever alguns pontos importantes do que estudamos até agora? O Regime Militar imprimiu na educação um caráter antidemocrático, idêntico à sua proposta governamental ideológica. A gestão, nesse período, constituiu-se pela centralização e ausência de participação. Mas, foi a partir dos anos de 1980, que a política educacional no Brasil começou a sinalizar a construção de uma gestão democrática e participativa. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 26 1) A que se propõe a Constituição de 1937? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 2) Apresente os principais acontecimentos na educação durante o período da Nova República? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 3) Como podemos descrever a educação brasileira na época do Regime Militar? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ j) A Constituição de 1988 Em 1988, o Brasil ganhou uma nova Constituição, resultado de diversos debates, pressões, movimentos populares e elitistas na busca de verem seus interesses contemplados na nova constituição. Nela, a educação veio contemplada em diversas seções e não apenas na seção destinada à educação. Na seção sobre direitos e garantias fundamentais, a educação foi relatada como um direito social, junto com a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, entre outros. Já, na seção sobre a família, a criança, o adolescente e o idoso, determinou-se: “[...] ser dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente o direito à Educação como uma prioridade em relação a outros direitos” (GHIRALDELLI JUNIOR, 2006, p. 169). Educação aparece como direito de todos e dever do Estado e da família, sendo promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. 27 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Capítulo 1 Em seu capítulo próprio, no Título VIII – Da Ordem Social, a Educação aparece como direito de todos e dever do Estado e da família, sendo promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. O artigo 206 dispõe sobre a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais. No que diz respeito à educação básica, o texto da Constituição 1988, já com a Emenda Constitucional nº 64 de 04 de fevereiro de 2010, assim se posiciona: Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) [...] IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5(cinco) anos de idade; [...] VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola. (BRASIL, 2010 p. 42-43). Em relação à organização do ensino, cabe à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, em regime de colaboração, a organização dos seus sistemas de ensino, como determina o artigo 211: § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios,financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função O artigo 206 dispõe sobre a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 28 redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. § 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular (BRASIL, 2010, p. 43) Em suma, a Constituição de 1988, dispôs sobre diversos aspectos da Educação Brasileira, e serviu de base para novas discussões, determinando a elaboração de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que veremos a seguir. Para aprofundar seus estudos a respeito da Constituição de 1988, sugerimos que você acesse o site: http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/ CON1988_04.02.2010/CON1988.pdf l) A Nova LDB – Lei Nº 9394/96 Em 1988, encaminhou-se à Câmara Federal um Projeto de Lei, escrito pelo Deputado Octávio Elísio, visando à criação de uma nova LDB. No ano seguinte, o Deputado Jorge Hage enviou à Câmara um substitutivo ao Projeto e, em 1992, o Senador Darcy Ribeiro apresentou um novo Projeto que acabou sendo aprovado em dezembro de 1996, oito anos após o encaminhamento do primeiro projeto. Em relação à nova LDB, iremos nos ater ao conteúdo que diz respeito à educação infantil e ao ensino fundamental. Conforme descreve a lei: Seção II Da Educação Infantil Art. 29º. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, 29 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Capítulo 1 psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Art. 30º. A educação infantil será oferecida em: I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade. Art. 31º. Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental (BRASIL, 2004a, p. 12). A Educação Infantil, como uma das categorias de ensino, deve ser considerada um grande avanço, pois supera a ideia de creches (como depósitos de crianças) e torna-as um espaço educativo. A partir disso, começa-se a ver os profissionais dessa área como educadores e não apenas cuidadores, exigindo- lhes formação específica para atuação na área. Conforme dita a lei: Seção III Do Ensino Fundamental Art. 32º. O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito na escola pública, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. § 1º. É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em ciclos. § 2º. Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do A Educação Infantil, como uma das categorias de ensino, deve ser considerada um grande avanço, pois supera a ideia de creches (como depósitos de crianças) e torna-as um espaço educativo. O ensino fundamental visa a desenvolver no aluno a capacidade de aprender, o domínio da leitura, da escrita, do cálculo, desenvolver a capacidade de aprendizagem, o fortalecimento dos vínculos de família, de solidariedade e de tolerância recíproca na vida social. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 30 processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino. § 3º. O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. § 4º. O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais (BRASIL, 2004a, p. 12 e 13). Em suma, de acordo com a LDB, o ensino fundamental visa a desenvolver no aluno a capacidade de aprender, o domínio da leitura, da escrita, do cálculo, desenvolver a capacidade de aprendizagem, o fortalecimento dos vínculos de família, de solidariedade e de tolerância recíproca na vida social. O ensino fundamental pode ser dividido em ciclos e deve ser presencial, permitindo complementação dos estudos, por meio de ensino a distância. Após a Constituição de 1988 e a LDB/96, conforme foram surgindo novos direcionamentos para a política educacional, o estímulo à participação das comunidades nas instituições escolares e centros de educação infantil, bem como a descentralização do poder do diretor, foram aumentando a visão da escola como espaço de construção de cidadania, de práticas emancipadoras e de formação humana. Como forma de aprofundar os estudos a respeito da LDB, sugerimos que você acesse o site: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf O Ensino Fundamental de 9 Anos Vejamos agora, as principais mudanças na educação básica, com a implantação do ensino fundamental de nove anos de acordo com o documento do MEC: Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientações Gerais: FUNDAMENTAÇÃO LEGAL Conforme o PNE, a determinação legal (Lei nº 10.172/2001, meta 2 do Ensino Fundamental) de implantar progressivamente o Ensino Fundamental de nove anos, pela inclusão das crianças de seis anos de idade, tem duas intenções: 31 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Capítulo 1 “oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período da escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade”. O PNE estabelece, ainda, que a implantação progressiva do Ensino Fundamental de nove anos, com a inclusão das crianças de seis anos, deve se dar em consonância com a universalização do atendimento na faixa etária de 7 a 14 anos. Ressalta também, que esta ação requer planejamento e diretrizes norteadoras para o atendimento integral da criança em seu aspecto físico, psicológico, intelectual e social, além de metas para a expansão do atendimento, com garantia de qualidade. Essa qualidade implica assegurar um processo educativo respeitoso e construído com base nas múltiplas dimensões e na especificidade do tempo da infância, do qual também fazem parte as crianças de sete e oito anos. [...] (BRASIL, 2004b, p. 14-15). Assim, a partir da implantação do ensino fundamental de nove anos, sugere- se uma nomenclatura comum às diferentes formas de organização dos níveis de ensino, anteriormente chamados de séries, ciclos, entre outros, passando a denominar-se de: Quadro 1 – Nomenclatura atualdo ensino fundamental Ensino Fundamental de Nove Anos Anos Iniciais Faixa Etária 1º Ano 6 anos 2º Ano 7 anos 3º Ano 8 anos 4º Ano 9 anos 5º Ano 10 anos Anos Finais Faixa Etária 6º Ano 11 anos 7º Ano 12 anos 8º Ano 13 anos 9º Ano 14 anos Fonte: Elaborado pelas autoras com base no documento Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientações Gerais (BRASIL, 2004b). De acordo com o documento Ensino Fundamental de Nove Anos (BRASIL, 2004b), a opção pela faixa etária dos 6 aos 14, ao invés da faixa etária dos 7 aos 15 anos para o ensino fundamental de nove anos, tem como preceitos uma tendência atual das famílias e dos sistemas de ensino em incluir as crianças de 6 Oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período da escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 32 anos na instituição escolar. Esta inclusão, de forma antecipada, é uma medida contextualizada que pode contribuir para uma mudança na estrutura e na cultura escolar. No entanto, deixa claro “que não se trata de transferir para as crianças de seis anos os conteúdos e atividades da tradicional primeira série, mas de conceber uma nova estrutura de organização dos conteúdos em um ensino fundamental de nove anos, considerando o perfil de seus alunos” (BRASIL, 2004b, p. 17). O objetivo de um maior número de anos de ensino obrigatório é assegurar a todas as crianças um tempo mais longo de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem mais ampla. É evidente que a maior aprendizagem não depende do aumento do tempo de permanência na escola, mas sim, do emprego mais eficaz do tempo. No entanto, a associação de ambos deve contribuir significativamente para que os educandos aprendam mais. Seu ingresso no Ensino Fundamental obrigatório não pode constituir-se em medida meramente administrativa. O cuidado na sequência do processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças de seis anos de idade implica o conhecimento e a atenção às suas características etárias, sociais e psicológicas. As orientações pedagógicas, por sua vez, estarão atentas a essas características para que as crianças sejam respeitadas como sujeitos do aprendizado (BRASIL, 2004b, p. 17 e 18). Para ler o documento na íntegra, você pode acessar: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/noveanorienger.pdf Algumas Considerações Neste capítulo, você pôde conhecer alguns conceitos de gestão, tendo por base os estudos de Wittmann, Ferreira, Gracindo e Franco, os quais versam sobre uma gestão de educação que visa a formação humana. Pôde também, conhecer sobre o surgimento da expressão educação básica, entre a década de 80 e 90, mais especificamente após a Conferência Mundial de Educação para Todos, ocorrida em Jomtien, na Tailândia, em março de 1990. Sobre a atuação de um gestor em uma instituição de ensino, você conheceu um pouco sobre cada uma das suas funções: Gestão Política, Gestão Administrativa e Gestão Pedagógica, as quais serão aprofundadas no decorrer deste caderno de estudos. O objetivo de um maior número de anos de ensino obrigatório é assegurar a todas as crianças um tempo mais longo de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem mais ampla. 33 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais no Brasil Capítulo 1 Revisitou momentos históricos da educação brasileira, desde a chegada dos jesuítas ao Brasil até o surgimento da Constituição de 1988, da LDB 9394/96, e das mudanças ocorridas no Ensino Fundamental de Nove Anos. Estes aspectos são importantes para os estudos que realizaremos no próximo capítulo sobre a administração da Educação Infantil e Anos Iniciais, em que discutiremos o papel da gestão dos anos iniciais do ensino fundamental de 09 anos. Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006. ______. História da Educação: São Paulo: Moderna, 1996. BOAAVENTURA, Roberta Silva. A gestão escolar na perspectiva da inclusão. 2008. 122 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação, Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente, 2008. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Texto consolidado até a Emenda Constitucional nº 64 de 04 de fevereiro de 2010. Brasília: Ed. Senado Federal: Secretaria especial de editoração de publicações, 2010. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/ CON1988_04.02.2010/CON1988.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2010. ______. Lei de Diretrizes e bases da educação nacional: Lei n. 9.394. 8. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004a. (Coleção Legislação Brasileira) ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientações Gerais. Coordenação Geral do Ensino Fundamental. Brasília: MEC, SEB, 2004b. FRANCO, Maria Estela Dal Pai; WITTMANN, Lauro Carlos. Experiências inovadoras / exitosas em administração da educação nas regiões brasileiras. Brasília: ANPAE, 1998. FERREIRA, Naura Syria Carapetto. Gestão democrática da educação: ressignificando conceitos e possibilidades. In: FERREIRA, Naura Syria Carapetto; AGUIAR, Márcia Ângela da S. (Org.). Gestão da educação: impasses, perspectivas e compromissos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2004. p. 295- 317. FIORI, Neide Almeida. Aspectos da evolução do ensino público: ensino Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 34 público e política de assimilação cultural no estado de Santa Catarina nos períodos imperial e republicano. Florianópolis: EDEME, 1975. GIRALDELLI JUNIOR, Paulo. História da educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006. PENIN, S. T. de S.; VIEIRA, S. L. Refletindo sobre a função social da escola. In: DAVIS, C. et.al.; VIEIRA, S. L. (Orgs.). Gestão da escola: desafios a enfrentar. Rio de Janeiro DP&A, 2002. UNESCO. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem. Jomtien, 1990. Disponível em: <http:// unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2010. WITTMANN, L. C. Gestão da educação: nova configuração teórico-histórica – verbetes. Blumenau, FURB, PPGE/ME, EduPesquisas, 2001. (Texto fornecido em sala de aula) WITTMANN, L. C; GRACINDO, R .V. (Coords.). O estado da arte em política e gestão da educação no Brasil: 1991 a 1997. Brasília: ANPAE, Campinas: Autores Associados, 2001. CAPÍTULO 2 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais na Escola A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Compreender os fundamentos que norteiam o processo de construção da administração da educação infantil e anos iniciais. 3 Examinar os elementos constitutivos das práticas em administração da educação infantil e anos iniciais na escola. 3 Discutir o papel da gestão da educação infantil e anos iniciais no processo de evolução teórico prática da administração da educação. 37 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais na Escola Capítulo 2 Contextualização Para iniciar o nosso estudo, partimos do princípio de que todo ser humano ao nascer, não está pronto e acabado, mas vai se educando e constituindo-se à medida que cresce a partir das relações que estabelece e que são estabelecidas com o mundo à sua volta. Todas as relações estabelecidas, sejam a partir de contatos, estímulos e experiências contribuem para o processo educativo e deste para o evolutivo. Diante destas primeiras considerações, pesquisas têm demonstrado que o modo como as relações são construídas, muitas vezes, interferem na aprendizagem. Cada pessoa possui singularidades, característicasque diferenciam umas das outras. A partir das experiências de vida de cada pessoa e das relações que são construídas cotidianamente, é possível estabelecer alguns caminhos que auxiliam nos estudos e na compreensão da evolução teórico prática da gestão da educação infantil e anos iniciais. Neste sentido, este capítulo apresenta algumas reflexões diretamente relacionadas com o campo da gestão da educação infantil e anos iniciais na escola, a fim de ampliar seus conhecimentos e, possibilidades de atuação profissional. Nosso estudo está centrado na formação humana, na garantia da emancipação da pessoa e na qualidade social da educação como elementos constitutivos das práticas em administração da educação e de todos os profissionais que atuam na educação e, que por isso, fazem a Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais. Qual é o Sentido da Educação? Você já parou para pensar sobre o sentido de ser da administração da educação infantil e anos iniciais? Quais são os princípios que fundamentam esse período de educação? Neste capítulo, discutiremos os fundamentos que norteiam a gestão da educação infantil e anos iniciais, a partir do sentido de ser da educação. Entendemos que a educação constitui-se por um processo que leva as pessoas a se construírem mais autônomas, o qual ocorre a partir das relações que estabelecemos e que são estabelecioas com as outras pessoas. Nesta relação ampliam-se conhecimentos, valores, culturas e hábitos. Afinal, somos o resultado de todas as relações que nos constituem e que nos constituíram como pessoa. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 38 De acordo com Moran (2007, p. 59), A educação é fundamentalmente um processo de comunicação e de informação e de troca entre pessoas. Educar é colaborar para que professores e alunos - nas escolas e organizações - transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional, do seu projeto de vida, no desenvolvimento de habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e tornar-se cidadãos realizados e produtivos. Já a palavra sentido tem inúmeros significados e se relaciona com os motivos de quem busca algo. Segundo o dicionário eletrônico Houaiss (2001) da Língua Portuguesa, a palavra sentido significa aquilo que se pretende alcançar quando se realiza uma ação, um propósito. Em se tratando de educação podemos dizer que o sentido está vinculado diretamente com algo que se pretende alcançar, ou seja, tornar-se sujeito. Wittmann (2006, p.2) adverte que “a escola como instância de construção humana, tem especificidades radicalmente diferentes de outras instituições e organizações”. Assim, o sentido de ser da educação, está relacionado diretamente com a formação humana, formação de gente, de pessoas críticas, criativas e autônomas. Assumir o compromisso de educar significa materializar nas ações cotidianas os princípios constitutivos das práticas em administração da educação infantil e anos iniciais, ou seja, garantir a materialização de práticas voltadas para a formação humana. O ser humano não nasce pronto, vai se constituindo segundo o modo como as relações vão sendo estabelecidas. As práticas voltadas para a formação humana levam as pessoas a desenvolverem o espírito de equipe, de cooperação e amplia o nível de consciência do indivíduo. Para construí-las se faz necessário saber como ocorrem os processos de construção do conhecimento e de que modo o processo ensino aprendizagem pode contribuir nessa direção. Para Freire (1991, p.58) “ninguém começa a ser educador numa certa terça- feira às quatro da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática”. A partir das colocações de Freire, chegamos à conclusão de que para ser educador se faz necessário além da prática, um constante processo de reflexão sobre a mesma de modo que possibilite melhor qualificá-la. O sentido de ser da educação, está relacionado diretamente com a formação humana, formação de gente, de pessoas críticas, criativas e autônomas. 39 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais na Escola Capítulo 2 Na continuidade dessas reflexões utilizamos o conceito proposto por Moran (2007, p.59) o qual afirma que educar consiste em: [...] ajudar a desenvolver todas as formas de comunicação, todas as linguagens: aprender a dizer-nos, a expressar-nos claramente e a captar a comunicação do outro e a interagir com ele. É aprender a comunicar-nos verdadeiramente: a ir tornando-nos mais transparentes, expressando-nos com todo o corpo, com a mente, com todas as linguagens, verbais e não verbais, com todas as tecnologias disponíveis. Podemos acrescentar ainda que educar consiste em observar e considerar nas ações educativas, as várias dimensões constitutivas do ser humano. Entre elas, a cognitiva, emocional, espiritual, psicológica, social. Para auxiliar nas reflexões em torno da formação humana e do campo específico da construção das práticas em gestão da educação infantil e anos iniciais utilizamos o conceito de escola proposto por Wittmann (2006, p.2), o qual adverte que: [...] a escola é uma instância social indispensável e insubstituível para este desenvolvimento formativo do devir humano. Este é o sentido da educação básica: a construção do princípio humano, da radicalidade originante do devir humano como gente. Não nascemos gente, produzimo-nos e forjamo-nos gente, ativando nossa base biológica, na complexidade das relações sociais. A escola é a instituição social que tem por função oferecer condições objetivas para este desenvolvimento. Ela constitui o útero social para mediar, de um lado, a inscrição crítica da pessoa na cultura de seu tempo e espaço e, ao mesmo tempo, mediar a construção das competências para a inscrição original e autônoma no mundo. De acordo com as afirmações citadas, podemos dizer ainda, que a escola é uma instituição importante para aprender a conviver socialmente. Nela aprende-se, além dos conhecimentos escolares, o respeito por si e pelo outro. Por isso, é um ambiente propício para que os estudantes se construam conscientes de seus direitos e deveres. Nesse sentido ainda, observa-se que a formação humana implica em oportunizar condições para que as crianças e adolescentes se construam mais autônomos, vivenciem experiências que possibilitem ampliar a capacidade de pensar, de agir sobre o mundo. Destacamos que a gestão da mediação pedagógica no processo ensino aprendizagem é um movimento que possibilita perceber o aluno, Educar consiste em observar e considerar nas ações educativas, as várias dimensões constitutivas do ser humano. Entre elas, a cognitiva, emocional, espiritual, psicológica, social. Formação humana implica em oportunizar condições para que as crianças e adolescentes se construam mais autônomos, vivenciem experiências que possibilitem ampliar a capacidade de pensar, de agir sobre o mundo. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 40 e percebendo-o, passamos a conhecer melhor, o que amplia as possibilidades e condições para interagir com ele, possibilitando assim, realizar experiências que permitam promover aprendizagens significativas. Essas condições são importantes e imprescindíveis para todos os profissionais da educação que pensam e agem na direção da construção de uma educação de qualidade. Nesse contexto ainda, a prática da cooperação entre os envolvidos é de fundamental importância para o processo de gestão da educação infantil e anos iniciais na escola e centros de educação infantil; pois, reflete a responsabilidade e o compromisso assumidopelo grupo, além de expressar formas de interação e de relacionamento entre as pessoas. Você já parou para refletir sobre o que é cooperação? O que caracteriza a cooperação? De acordo com Macedo (2005, p. 138), a cooperação “é um princípio pedagógico pelo qual todos estão envolvidos, incluídos em uma mesma tarefa ou projeto. Cada qual colabora com sua parte ou função, mas todos estão envolvidos”. Segundo estas afirmações, podemos dizer que a cooperação consiste num movimento que se constitui pelo envolvimento de todos os profissionais na construção e articulação de um projeto pedagógico assumido por todos os integrantes do ambiente escolar. Entre eles, o diretor, coordenação pedagógica, professores, funcionários, estudantes, pais e comunidade local. Assumindo a responsabilidade de fazer da gestão da educação um processo que depende de todos os envolvidos. Destacamos ainda que, uma das características das práticas voltadas para a formação humana consiste em práticas que promovam a liberdade de expressão e a responsabilidade, porque impulsionam a construção da autonomia e a identidade do ser. A liberdade de expressão vivenciada em sala de aula requer o apoio indispensável do professor, que por sua vez, é um dos profissionais responsáveis pela condução do processo e pela gestão da educação na escola. As práticas de administração da educação que buscam caminhar no sentido da evolução teórica prática da educação, não podem ser autoritárias, submissas ou castradoras. São fundamentadas na busca da construção da autonomia do educando. De acordo com Morin (2007, p.62), “o autoritarismo na maior parte das relações interpessoais, grupais A prática da cooperação entre os envolvidos é de fundamental importância para o processo de gestão da educação infantil e anos iniciais na escola e centros de educação infantil; pois, reflete a responsabilidade e o compromisso assumido pelo grupo. A liberdade de expressão vivenciada em sala de aula requer o apoio indispensável do professor, que por sua vez, é um dos profissionais responsáveis pela condução do processo e pela gestão da educação na escola. 41 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais na Escola Capítulo 2 e organizacionais espelha o estágio atrasado que nos encontramos individual e coletivamente no desenvolvimento humano, no equilíbrio social, no equilíbrio pessoal no amadurecimento social”. Educar para a autonomia e para a liberdade envolve processos participativos e interativos, que respeitem as diferenças e que se apoiem em aprendizagens mais autônomas. Moran (2006), observa que nos diversos grupos e organizações que participamos, entre eles, os educacionais, profissionais, e familiares, é possível encontrar duas formas de gerenciamento. Uma delas tende para o autoritarismo e outra para a participação. No gerenciamento autoritário, as relações são construídas de cima para baixo, o controle pode ser pessoal ou burocrático, segundo ele “as interações autoritárias camufladas perpetuam o controle e dificultam a nossa evolução pessoal, grupal e institucional” (MORAN, 2006, p. 60). Por outro lado, no gerenciamento participativo, existe organização, transparência, as normas são claras e implícitas, há flexibilidade, comunicação, e o trabalho ocorre de modo cooperativo “Educadores e gestores mais abertos, confiantes, bem resolvidos podem compreender e implantar novas formas de relacionamento e de cooperação no processo de ensinar e aprender” (MORAN, 2006, p. 60). Atividade de Estudos: 1) Caro(a) pós-graduando(a), após o estudo sobre o sentido de ser da educação, crie um conceito de formação humana, considerando os conceitos estudados e a realidade em que vive. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ No gerenciamento participativo, existe organização, transparência, as normas são claras e implícitas, há flexibilidade, comunicação, e o trabalho ocorre de modo cooperativo. Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 42 Metas das Práticas da Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais As metas das práticas da gestão da educação infantil e anos iniciais e da educação básica como um todo, consistem num processo que envolve a construção da própria evolução da educação. Essas metas têm como propósito garantir, além da formação humana, a emancipação da pessoa e a busca pela qualidade social da educação. A figura 2 mostra a dimensão das metas. Figura 2 – Metas das práticas da gestão da educação infantil e anos iniciais Fonte: Elaborado pelas autoras. A partir da análise da figura 2 podemos observar que as metas das práticas da gestão da educação infantil e anos iniciais têm como propósito promover a formação humana, garantir a emancipação da pessoa e a busca pela qualidade social da educação. As teorias que envolvem as práticas da administração da educação infantil e anos iniciais, no Brasil, passaram por momentos e movimentos que impulsionaram mudanças teórico e práticas no modo de organização e de gestão da educação no Brasil, como já vimos no capítulo I. As práticas da gestão da educação infantil e anos iniciais no seu processo de evolução iniciou como um movimento distante da construção da prática pedagógica, sem a preocupação com o educar e o cuidar. Em decorrência Garantir a emancipação da pessoa A construção de práticas voltadas para a formação humana Qualidade Social da Educação Metas da Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais As metas das práticas da gestão da educação infantil e anos iniciais têm como propósito promover a formação humana, garantir a emancipação da pessoa e a busca pela qualidade social da educação. 43 Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais na Escola Capítulo 2 disso, muitas práticas foram sendo instituídas sem a preocupação com o desenvolvimento da infância e da aprendizagem. Saiba mais sobre a gestão da educação na América Latina. Leia: SANDER, Benno. Gestão da educação na América Latina: construção e reconstrução do conhecimento – Campinas, Autores Associados, 1995. KRAMER. S. A. A infância e sua singularidade. In: BRASIL. Ministério da Educação. Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientações para a inclusão de crianças de 6 anos de idade. Brasília, DF, 2006. p.19-21 Você já parou para pensar sobre o que constitui as teorias da administração da educação? Quais os princípios que fundamentam (que norteiam) a gestão da educação, na atualidade? Inicialmente, vamos abordar aspectos referentes à configuração histórica da administração da educação infantil e anos iniciais que vão orientar o debate sobre a evolução teórica e prática da administração da educação. Para início da discussão retomamos a história da educação escolar no Brasil, que por muitos e muitos anos foi entendida como campo ideal de aplicação das teorias gerais da administração. Nesse contexto, a escola era pensada e administrada como se fosse uma empresa. Essa perspectiva teórica da escola ser administrada como se fosse uma empresa passou por diversos paradigmas. Paradigma – Segundo Bordignon e Gracindo (2004) “paradigma representa uma visão de mundo, uma filosofia social, um sistema de ideias construído e adotado por um determinado grupo social.” Gestão da Educação Infantil e Anos Iniciais 44 A administração da educação teve início com as teorias da ciência administrativa
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