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1 Em muitos casos, o primeiro indício de doença hepática surge nos resultados de exames laboratoriais realizados como parte de uma avaliação de rotina, ou por causa da presença de sintomas inespecíficos, ou por outras razões médicas. SINAIS E SINTOMAS DOENÇA HEPÁTICA Icterícia: sinal de doença hepática, pode ser parte da queixa principal, sendo referida como “olhos amarelos”. Indica alteração de alguma etapa do metabolismo da bilirrubina. Fadiga: pode ser o sintoma mais comum da doença hepática, às vezes está associada à lesão hepática aguda ou a uma condição crônica. A patogênese é desconhecida, e sua presença não parece estar relacionada com um comprometimento neurológico ou distúrbio musculoesquelético. Quando a fadiga é muito intensa, excluir condições como hipotireoidismo, anemia e depressão. Prurido: manifestação sobretudo das doenças hepáticas caracterizadas por colestase (deficiência na secreção de bile). Causado pelo acúmulo nos tecidos de substâncias que normalmente são excretadas na bile. Prurido e fadiga podem preceder o diagnóstico da doença hepática em anos. Diminuição do apetite: pode acompanhar o início da doença hepática aguda. Os pacientes com doença avançada também podem apresentar diminuição crônica do apetite, perda de peso ou de músculo. Perda de peso pode não ser indicador confiável, pois retenção de líquido pode compensar Dor abdominal: pacientes com doença hepática podem se queixar de dor abdominal mais que outros pacientes, e essa dor piora após refeições. Alterações do paladar: o comprometimento da função gustativa se dá devido as concentrações séricas reduzidas, o que mostra mediação central. Paciente pode parar de fumar em razão da alteração do paladar decorrente da hepatite. Encefalopatia hepática: uma das manifestações mais dramáticas, que tem como característica a neurotransmissão inibitória. Caracterizada por inversão do padrão de sono, confusão, deficiências cognitivas e alterações na personalidade (agressivo). Dispneia: redução da tolerância aos exercícios físicos e a falta de ar apresentadas pelos pacientes com doença hepática podem ser causadas pela síndrome hepatopulmonar, pela hipertensão portopulmonar ou cardiomiopatia. Também pode resultar da limitação da excursão diafragmática decorrente da ascite. Sangramento: história de hematêmese, melena ou hematoquezia pode identificar hipertensão porta. Acolia: icterícia associada a fezes descoradas, que resultam de menor quantidade de pigmentos biliares nas fezes, sugere presença de obstrução biliar. Distúrbios da visão: deficiência de vitamina A geralmente se manifesta na forma de má adaptação visual ao escuro. Os pacientes podem ter essa deficiência por má absorção ou disponibilidade reduzida da proteína transportadora do retinol. Além disso, a liberação de vitamina A dos depósitos hepáticos pode estar comprometida. Dor óssea: a queixa de dor nos ossos longos e nas articulações, ás vezes associada ao baqueteamento Insuficiência Hepatocítica e Hipertensão Portal Insuficiência Hepatocítica e Hipertensão Portal 2 de dedos, sugestiva de osteoartropatia hipertrófica é uma complicação da cirrose. Hiperpigmentação: complicação da doença hepática, principalmente do tipo colestático. Calafrios e tremores: manifestações de infecção Colúria: urina marrom-escura sugere presença de bilirrubinúria, que é reflexo da hiperbilirrubinemia. Esse achado pode preceder a icterícia. Disfunção: redução da libido e impotência são manifestações da cirrose nos homens. A diminuição dos níveis séricos da testosterona e o aumento dos níveis séricos das gonadotrofinas são complicações conhecidas da cirrose alcoólica. Cãibras musculares: afetam panturrilhas e os dedos das mãos e dos pés que ocorrem principalmente à noite podem agravar a cirrose hepática. A patogênese é desconhecida. FATORES DE RISCO Hepatite viral: contato com sangue e líquidos corporais – injeção intravenosa de drogas ilícitas, transfusões de sangue e hemoderivados, piercings e tatuagens com instrumentos contaminados e adoção de certos comportamentos sexuais. Cirrose hepática: consumo abusivo de álcool, suplementos dietéticos e medicamentos. Trombose vascular hepática e adenomas do fígado são complicações advindas do uso de estrógenos e esteroides anabolizantes. Indivíduos que viajam para áreas endêmicas podem ser expostos a doenças infecciosas que podem afetar o fígado, como a leptospirose, a malária, a febre Q, a amebíase e a equinococose EXAME FÍSICO A presença de febre em paciente com doença hepática deve levar à busca por infecções, entre elas a peritonite bacteriana nos pacientes com ascite e a colangite nos pacientes com obstrução biliar. Em pacientes descompensados de doença hepática, a pressão arterial tende a estar mais baixa que o normal por causa da vasodilatação arterial sistêmica. Hálito hepático: odor adocicado emanando da respiração dos pacientes com hepatopatia avançada. PELE, MEMBRANAS MUCOSAS E UNHAS Icterícia nas escleras pode ser sutil ou bastante evidente. A coloração amarelada da pele e das membranas mucosas caracteriza a icterícia, que pode ser secundária à obstrução do trato biliar, à hepatite aguda, à insuficiência hepatocelular ou à produção excessiva de bilirrubina decorrente de hemólise Na doença hepática avançada, a circulação torna-se hiperdinâmica e, como consequência, a pele fica quente. As telangiectasias aracnoides – formações vasculares arboriformes que adquirem uma coloração pálida quando submetidas à pressão. São encontradas na face, na parte superior das costas, no tórax e na parte superior dos braços. Estão associadas a um nível sistêmico excessivo de estrógeno combinado com desvios portossistêmicos decorrentes da cirrose. Hiperpigmentação é comum na colestase, sobretudo naqueles com cirrose biliar primária, que podem exibir o “sinal de borboleta”, uma área localizada entre escápulas que ao ser comparada com a região de pele circunjacente é hipopigmentada. Presença pele com aspecto de “papel moeda” que se caracteriza pela presença de telangiectasias na região das bochechas – pode ser um sinal de cirrose. A distribuição dos pelos corporais nos homens com cirrose assume padrão feminino. Unhas podem exibir linhas horizontais brancas “linhas de Muehrcke”. PARÓTIDAS, MAMAS E GENITÁLIA Aumento das parótidas pode ser detectado em 20% dos pacientes com cirrose alcoólica. Atrofia testicular e feminização, inclusive com a presença de ginecomastia (clássico em homens com cirrose), podem resultar do aumento da conversão periférica de andrógeno. SISTEMA CARDIOVASCULAR Insuficiência cardíaca pode causar hepatomegalia; os indícios de problema cardíaco incluem cardiomegalia, batimentos cardíacos em ritmo galope e distensão das veias do pescoço. Pulsos de grande amplitude são característicos de pacientes com doença hepática 3 descompensada e resultam de vasodilatação sistêmica associada a um aumento do débito cardíaco. SISTEMA RESPIRATÓRIO A diminuição dos sons respiratórios nas bases dos pulmões, mais comum na base direita, sugere presença de hidrotórax no paciente com doença hepática descompensada e, muitas vezes, ascite. Síndrome hepatopulmonar está associada à dilatação dos vãos intrapulmonares, é caracterizada por ortodesoxia e platipneia. ABDOME Presença de veias dilatadas na parede abdominal pode ser sinal de hipertensão porta intra-hepática. Resulta da recanalização das veias umbilicais ou paraumbilicais como um esforço para descomprimir o sistema portal – “cabeça de medusa”. Após breve compressão, há enchimento das veias a partir do umbigo. Ausculta abdominal pode revelar zumbido venoso sugestivo de hipertensão porta. Distensão acompanhada da protrusão dos flancos sugerea presença de ascite, uma complicação que determina a história natural da doença hepática por estar relacionada com aumento da morbidade e mortalidade. Fígado apresenta som maciço à percussão. Para palpação, é mais prático iniciar pelo quadrante inferior direito e seguir em direção ao gradeado costal direito de maneira que a borda do fígado seja palpada no movimento ascendente. A borda do fígado é lisa e às vezes um pouco sensível à palpação. Em geral, até 2cm abaixo do rebordo é considerado normal. Hepatomegalia pode indicar cirrose, doença infiltrativa ou lesões que ocupam espaço. A palpação de um fígado com consistência firme ou dura é compatível com a cirrose. Fígado pode estender-se para além da linha média, e seu lobo esquerdo pode ser palpado no epigástrio. Esplenomegalia sugere hipertensão portal. EXTREMIDADES Eritema palmar pode ser visto na mão de pacientes com cirrose. Baqueteamento adquirido dos dedos das mãos pode ser visto nos pacientes com cirrose e naqueles com síndrome hepatopulmonar. Edema dos membros inferiores agrava a retenção de líquidos observada na doença hepática. Edema geralmente depressível, mas, quando crônico ou agravado por insuficiência venosa, aparência semelhante à elefantíase. ALTERAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS Sinais de encefalopatia hepática: presença de apraxia construtiva e flapping/asterixe. EXAMES LABORATORIAIS Colestase: aumento da atividade sérica da fosfatase alcalina e gama-glutamil transpeptidase. Aminotransferase são liberadas quando há lesão de hepatócitos, como na hepatite aguda ou crônica. Aumento do tempo de protrombina, assim como a diminuição da concentração de albumina sérica, sugere um comprometimento da síntese hepática. Hemograma completo pode revelar pancitopenia resultante da supressão da medula óssea e do hiperesplenismo, que é causado pela hipertensão porta. Hematúria microscópica e proteinúria sugerem presença de glomerulopatia. A exclusão de uma obstrução biliar por meio de ultrassom percutâneo é decisiva na investigação que sucede o encontro de um perfil hepático anormal acompanhado ou não de hepatomegalia. Estudo ultrassonográfico do fígado também pode fornecer indícios da presença ou não de hepatopatia parenquimatosa e oportunidade para identificar lesões que ocupam espaço, entre elas os tumores e os cistos. Inclusão de estudos com Doppler durante o exame ultrassonográfico possibilita obtenção de informações sobre patência de vasos sanguíneos importantes e sobre a direção e as características do fluxo sanguíneo. O exame histológico do fígado (biópsia) permite o diagnóstico de uma doença específica ou a confirmação de um diagnóstico, a determinação do grau de lesão hepática e a avaliação da resposta ao tratamento, 4 Cirrose Doença crônica do fígado na qual ocorreu destruição difusa e regeneração de células parenquimatosas desse órgão e no qual o aumento difuso de tecido conjuntivo resultou em desorganização da arquitetura lobular e vascular. Qualquer doença hepática pode evoluir para a cirrose. A hepatite viral tipo C e a doença hepática alcoólica são as causas mais comuns de cirrose, seguidas pela doença hepática gordurosa não alcoólica e pela hepatite B crônica. Quando todas as causas foram investigadas e descartadas, a cirrose é considerada como “criptogênica”. Acredita-se que se deva à doença hepática gordurosa não alcoólica. A cirrose hepática pode ser dividida em morfológica e etiológica, algumas vezes funcional. CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA Micronodular: são observados nódulos de tamanho pequeno relativamente uniformes. O aspecto microscópico se caracteriza pela presença de septos fibrosos finos e de largura uniforme. Vasos aferentes e eferentes que suprem os nódulos estão nos septos fibrosos. Com o tempo, cirrose transforma-se em macronodular – 1ª fase etilistas crônicos. Macronodular: cirrose pós-necrótica, irregular e pós-colapso. Caracteriza-se pela presença de nódulos de tamanho variável. Os septos fibrosos variam quanto a sua espessura e são, frequentemente, extensos. Mista: forma mais frequente nos países ocidentais. Existência de áreas com aspecto morfológico micronodular e outras, macronodular Septal incompleta: proeminente, podendo o parênquima ter perfil acinar normal quando os nódulos são grandes. Alguns septos fibrosos terminam no parênquima sem qualquer conexão com septos adjacentes ou espaços portais. Os nódulos são geralmente maiores que os da micro e macronodulares. CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA ÁLCOOL O etanol é o agente causal mais comum de cirrose nos países ocidentais. Uma pequena porcentagem (cerca de 20%) entre etilistas desenvolvem cirrose. Fatores de risco: quantidade de etanol ingerida, tempo de ingestão (anos), continuidade, dano hepático “inicial”, sexo feminino, fator genético e desnutrição. 5 Em geral, a cirrose se forma após 10 ou mais anos de consumo alcoólico. A lesão, contudo, pode se estabelecer após um período mais curto, na dependência de vários fatores. Dano hepático “inicial” é de grande importância, pois deste dependeria a evolução para formas mais ou menos graves da doença. Formação da cirrose não dependeu da quantidade de etanol consumido, nem da duração dessa ingestão, mas no dano hepático inicial. O fator genético é considerado importante, foi encontrada a prevalência de um antígeno de histocompatibilidade B8 (HLA-B8) em pacientes com cirrose alcoólica, aumenta o índice de desenvolvimento da cirrose. VÍRUS Vírus da hepatite B pode causar hepatite aguda ou crônica. Após hepatite aguda, ocorreria resolução em 90% dos casos, estado de portador em 5%, evolução para hepatite crônica persistente em 3,5% e para hepatite crônica ativa em 1,5%. Portadores do vírus da hepatite B com hepatopatia crônica pelo vírus delta apresentam hepatite crônica ativa ou cirrose. Quando a hepatite B evolui para a cirrose, há sobrevida após 5 anos em 55% dos casos, sendo a insuficiência hepática e as denominadas complicações da cirrose as causas principais de mortalidade. Vírus hepatite C é uma das causas mais importantes, transmissão pós transfusional e evolui comumente para hepatite crônica. Os pacientes portadores desse vírus correm maior risco de evolução para a cirrose do que os com o vírus da hepatite B. Evolução para a cirrose pode ocorrer em pacientes assintomáticos. DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA A maioria dos pacientes é portadora de esteatose simples, que é comumente benigna e com baixo potencial de evolução para a cirrose. Outra parte é portadora de esteato-hepatite com risco substancial de evolução para as formas mais graves da doença. Representante das manifestações hepáticas da síndrome metabólica. Fatores de risco: diabetes mellitus, dislipidemia, obesidade e sedentarismo. Incidência na população geral seja de 20 a 30%. Já em obesos graves, há relatos de esteatose em até 100% da população. CIRROSE CARDÍACA Pacientes com insuficiência cardíaca congestiva direita de longa duração podem desenvolver lesão hepática crônica e cirrose cardíaca. Pressão venosa elevada que é transmitida pela veia cava inferior e pelas veias hepáticas até os sinusoides do fígado, que ficam dilatados e ingurgitados com sangue. Fígado aumenta de volume e torna-se tumefeito e, com a congestão passiva prolongada e a isquemia relativa devida a uma circulação precária, os hepatócitos centro lobulares podem tornar-se necróticos, evoluindo para fibrose pericentral. FISIOPATOLOGIA Mecanismos patológicos principais: morte de células, fibrose e regeneração. A característica patogênica subjacente à fibrose hepática e à cirrose é a ativação das células estreladas hepáticas. As células estreladas hepáticas estão localizadas entre os hepatócitos e as células endoteliaissinusoidais. Normalmente, são quiescentes e servem para armazenamento de retinoides (vitamina A). Em resposta a lesão, se tronam ativadas, como resultado da perda dos depósitos de vitamina A, proliferam, desenvolvem retículo endoplasmático granular proeminente e secretam matriz extracelular (colágeno tipo 1 e 3, proteoglicanos sulfatados e glicoproteínas). Além disso, elas se tornam miofibroblastos hepáticos contráteis. Os sinusoides hepáticos normalmente necessitam de uma membrana basal. As células endoteliais sinusoidais possuem extensas fenestrações que permitem a passagem de grandes moléculas. A deposição de colágeno no espaço de Disse (cirrose), leva à “defenestração” das células endoteliais sinusoidais. Assim, há alteração nas trocas entre o 6 plasma e os hepatócitos, resultando na diminuição do diâmetro do sinusoide, o que é exacerbado pela contração das células estreladas. COMPLICAÇÕES As duas consequências principais da cirrose são a hipertensão portal, acompanhada de um estado circulatório hiperdinâmico, e a insuficiência hepática. Manifestações Clínicas Geralmente, ocorre em indivíduos cuja idade varia entre 40 e 70 anos. As de causa genética são mais comuns na infância e adolescência. As cirroses alcoólicas, criptogenéticas e hemocromatose são mais frequentes em homens. Já a cirrose biliar primária e autoimune predominam nas mulheres. As manifestações clínicas da cirrose variam amplamente dependendo do estágio da mesma. A história natural da cirrose é caracterizada por uma fase inicial denominada cirrose “compensada”, seguida por uma fase progressiva rápida marcada pelo desenvolvimento de complicações da hipertensão portal ou disfunção hepática (ou ambas), denominada cirrose “descompensada”. À medida que a doença progride, a pressão portal aumenta e a função hepática diminui, o que resulta, consequentemente, no desenvolvimento de ascite, sangramento gastrointestinal, encefalopatia e icterícia. O desenvolvimento de qualquer uma dessas complicações caracteriza a transição da fase compensada para a fase descompensada. O desenvolvimento de carcinoma hepatocelular pode acelerar o curso da doença em qualquer estágio. A transição do estágio compensado para o descompensado ocorre em uma taxa de 5% a 7% por ano. A média de tempo para descompensação, o tempo no qual metade dos pacientes com cirrose compensada torna-se descompensada, é de cerca de 6 anos. CIRROSE COMPENSADA A cirrose é assintomática e é diagnosticada quando uma biópsia hepática é realizada durante avaliação da doença hepática crônica ou casualmente durante um exame médico de rotina, testes laboratoriais, exames por imagem por outras razões ou cirurgia abdominal. Fadiga inespecífica, libido diminuída ou distúrbios do sono podem ser as únicas queixas. Cerca de 40% dos pacientes possuem varizes esofágicas. As varizes gastroesofágicas não hemorrágicas são assintomáticas e sua presença (sem sangramento) não denota descompensação. CIRROSE DESCOMPENSADA Neste estágio existem sinais de descompensação: ascite, variz hemorrágica, icterícia, encefalopatia hepática ou qualquer combinação desses achados. A ascite, sinal mais frequente de descompensação, está presente em 80% dos pacientes com cirrose descompensada. HEMORRAGIA VARICOSA As varizes gastroesofágicas estão presentes em cerca de 50% dos pacientes com cirrose diagnosticada recentemente. As varizes grandes, a doença hepática grave e a presença de vergões vermelhos nas varizes são preditores independentes de hemorragia varicosa. Sangramento pode manifestar-se como uma hematêmese evidente ou melena, ou ambos. 7 ASCITE E SÍNDROME HEPATORRENAL É a causa mais frequente de descompensação. Os sintomas mais geralmente associados são circunferência abdominal aumentada e ganho de peso recente. Pode ser identificada no exame físico, quando presente de forma moderada, por um flanco protuberante, flanco macio e macicez móvel. Os pacientes com a síndrome hepatorrenal geralmente possuem ascite tensa que responde pouco aos diuréticos, mas nenhum sinal típico dessa entidade. PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA Cerca de um terço dos pacientes cirróticos são hospitalizados em decorrência de infecções bacterianas, ou as adquirem durante esta fase. Preditores do desenvolvimento da infecção: gravidade da doença hepática e o risco de hemorragia GI. Manifestações clínicas: febre, icterícia e dor abdominal. No exame físico, identifica-se dor abdominal, com ou sem dor à descompressão. ENCEFALOPATIA HEPÁTICA É de início gradual e raramente fatal. Caracterizada por alterações na consciência com variação comportamental de inversão do padrão sono/vigília. A sintomatologia também depende do estágio: 1. Transtornos de memória 2. Confusão, comportamento bizarro e desorientação. 3. Letargia e desorientação profunda. 4. Coma No exame físico, os estágios iniciais podem demonstrar somente tremor distal, mas a marca registrada é a presença de asterixe. Além disso, podem apresentar hálito com odor adocicado. (fetor hepaticus). COMPLICAÇÕES PULMONARES Síndrome hepatopulmonar está associada à dispneia de esforço, que pode levar à debilição extrema Exame físico: baqueteamento digital, cianose e “aranhas” vasculares. Diagnóstico A cirrose sempre deve ser considerada em pacientes com doença hepática crônica. O padrão ouro para o diagnóstico é a realização de biópsia para confirmação histopatológica. Em pacientes com sinais e sintomas de doença hepática crônica, a presença de cirrose pode ser confirmada com exames de imagem não invasivos. O diagnóstico etiológico pode constituir elemento fundamental para a orientação e a avaliação prognóstica. EXAME FÍSICO Atrofia muscular envolvendo principalmente as regiões musculares bitemporais e as eminências tenar e hipotenar – insuficiência hepática. Angiomas aracnoideos, mais habitualmente no tronco, face e membros superiores. Eritema palmar envolvendo as eminências tenar e hipotenar e as pontas dos dedos. Homens podem apresentar perda de cabelo no peito e abdome, ginecomastia e atrofia testicular. Petéquias e equimoses podem estar presentes como resultado da trombocitopenia ou tempo de protrombina prolongado. Contratura de Dupuytren, espessamento da fáscia palmar, ocorre comumente na cirrose alcoólica. Patognomônico: lobo hepático direito menor, com extensão de menos de 7 cm na percussão, e o lobo esquerdo palpável, nodular, com consistência mais densa. Esplenomegalia e circulação colateral na parede abdominal (“cabeça de medusa”) são indicadores de hipertensão portal. Ausência de qualquer achado físico não exclui cirrose. TESTES LABORATORIAIS Elevação do “índice de normalização internacional” (INR). A contagem baixa de plaquetas é um achado indicativo de doenças hepáticas crônicas, que ocorre como resultado da hipertensão portal e hiperesplenismo. Vasodilatação e circulação hiperdinâm ica 8 As bilirrubinas séricas podem estar aumentadas em consequência, geralmente, à deficiência funcional hepática. Na cirrose compensada, a bilirrubina está normal na maioria dos casos. A albumina é sintetizada exclusivamente pelas células parenquimatosas do fígado e tem vida média de aproximadamente 20 dias. A hipoalbuminemia pode ser consequente à diminuição de síntese ou perda excessiva Diminuição ocorre em indivíduos desnutridos ou que apresentam doença hepática crônica significativa. Hipoalbuminemia secundária à perda excessiva de albumina ocorre em pacientes com síndrome nefrótica, ou enteropatia com perda proteica. Testes para estudos da hemostasia devem sempre ser realizados em cirróticos. O único fator de coagulação não sintetizado no fígado é o VIII. A vida média desses fatores é curta, variandoentre 6 horas e 5 dias. Quando existe disfunção hepática, pode haver diminuição de síntese de fatores de coagulação. O tempo e a atividade de protrombina e o tempo de tromboplastina parcial podem estar alterados. EXAMES POR IMAGEM Os exames por imagem confirmatórios incluem a tomografia computadorizada, o ultrassom e a ressonância magnética. Os achados compatíveis com cirrose consistem em contorno hepático nodular, fígado diminuído com ou sem hipertrofia do lobo caudado/esquerdo, esplenomegalia e, em particular, a identificação de vasos colaterais intra-abdominais indicativos de hipertensão pulmonar. O ultrassom possibilita detectar a presença de veia porta dilatada e tortuosa, avaliar a permeabilidade de anastomoses portossistêmicas e para detectar a presença de ascite de pequeno volume. A biópsia possibilita confirmar o diagnóstico de cirrose, caracterizar seu tipo (macronodular ou micronodular), verificar intensidade e atividade, fornecer elementos para diagnóstico etiológico e ter resposta terapêutica. MEDIÇÃO DA PRESSÃO PORTAL As medições diretas da pressão portal implicam a cateterização da veia porta, são incômodas e podem estar associadas a complicações. As medidas da pressão portal são expressas como um gradiente de pressão venosa hepática: a diferença entre o gradiente entre a pressão venosa hepática ocluída e a pressão da veia cava inferior ou hepática livre. O gradiente é útil para diagnóstico diferencial da causa da hipertensão portal: ele estará normal nas causas pré-hepáticas de hipertensão portal, como trombose venosa portal e nas intra-hepáticas, com exceção das causas pré-sinusoidais, mas será anormal nas causas sinusoidais, como a doença venoclusiva. Gradiente de pressão venosa hepática prediz desenvolvimento das complicações da HP, e sua redução na terapia medicamentosa prediz um resultado favorável em pacientes com cirrose. Insuficiência Hepática ENCEFALOPATIA HEPÁTICA Alteração do estado mental e da função cognitiva que ocorre na presença de insuficiência hepática. As neurotoxinas que derivam do intestino e que não são removidas pelo fígado em razão de um shunt vascular e da massa hepática reduzida chegam ao cérebro e produzem os sintomas. A amônia acumula-se na circulação sistêmica por causa do desvio de sangue realizado pelos colaterais portossistêmicos e do metabolismo hepático reduzido. A presença de grande quantidade de amônia no cérebro danifica as células cerebrais de suporte ou astrócitos e desencadeia alterações estruturais características. Amônia resulta na suprarregulação de receptores benzodiazepínicos tipo astrocíticos periféricos, os estimulantes mais potentes da produção de neuroesteroides, que são os principais moduladores de um ácido aminobutírico, que resulta depressão cortical e encefalopatia hepática. Características clínicas: edema cerebral (possível complicação com herniação), confusão, alteração de personalidade (violência) e asterixe/flapping. Diagnóstico é puramente clínico. 9 ICTERÍCIA É um reflexo da incapacidade do fígado de excretar a bilirrubina e, consequentemente, resulta em insuficiência hepática. No entanto, nas doenças colestáticas que levam à cirrose (ex: colangite esclerosante primária ou síndrome do desaparecimento do ducto biliar), a icterícia deve-se mais provavelmente à lesão biliar do que à insuficiência hepática. ANORMALIDADES DA COAGULAÇÃO Quase universal nos pacientes com cirrose. Há menor síntese dos fatores de coagulação e depuração prejudicada dos anticoagulantes. Os fatores de coagulação que dependem da vitamina K são os fatores II, VII, IX e X. A vitamina K depende da excreção biliar para sua subsequente absorção. Assim, pacientes com síndromes colestáticas crônicas tem absorção reduzida de vitamina K, que pode ser corrigida pela vitamina K intravenosa ou intramuscular. Mais frequentemente, a síntese dos fatores de coagulação que dependem da vitamina K diminui em função de redução da massa hepática e, nessas condições, administração de vitamina K parenteral não corrige fatores de coagulação nem o tempo de protrombina. Hipertensão Portal É definida como elevação do gradiente de pressão venosa hepática para >5mmHg. Causada por uma combinação de dois processos hemodinâmicos que ocorrem de forma simultânea. Resistência intra-hepática aumentada à passagem do fluxo sanguíneo pelo fígado em função da cirrose e dos nódulos regenerativos Fluxo sanguíneo esplâncnico aumentado secundário à vasodilatação dentro do leito vascular esplâncnico. O sistema venoso portal drena o sangue vindo do estômago, dos intestinos, do baço, do pâncreas e da vesícula biliar, com a veia portal sendo formada pela confluência das veias mesentérica superior e esplênica. Assim, a veia porta recebe normalmente sangue proveniente de quase todo o trato GI. Veia mesentérica superior (VMS): sangue desoxigenado do intestino delgado, cabeça do pâncreas, cólon ascendente e parte do cólon transverso drenado. Veia esplênica: drena baço e pâncreas e se conecta com veia mesentérica inferior (VMI), que traz sangue proveniente dos cólons transverso e descendente assim como parte superior do reto Pode ser classificada em: Pré-hepática: afetam o sistema venoso portal antes de penetrar no fígado – trombose de veia porta e trombose da veia esplênica. Pós-hepática: afetam veias hepáticas e a drenagem venosa para o coração – SBC, doença venoclusiva e congestão cardíaca crônica do lado direito. Intra-hepática: 95% dos casos. Podem ser subdivididas em pré-sinusoidais (fibrose hepática congênita e esquistossomose), sinusoidais (cirrose e hepatite alcoólica) e pós- sinusoidais (doença venoclusiva). A obstrução da veia porta pode ser idiopática ou ocorrer em associação com cirrose ou com infecção, pancreatite ou traumatismo abdominal. VARIZES GASTROESOFÁGICAS Desenvolvimento dos colaterais portossistêmicos, dos quais os mais relevantes são aqueles que se formam a partir da dilatação das veias coronárias e gástricas e constituem varizes gastresofágicas. A formação inicial dos colaterais esofagianos depende da pressão portal, que é um gradiente limiar de pressão venosa hepática de 10 a 12mmHg, abaixo do qual as varizes não se desenvolvem. É comum o rastreamento de cirróticos conhecidos com endoscopia em busca de varizes esofágicas. Diagnóstico: em pacientes com cirrose que estão sendo acompanhados cronicamente, o desenvolvimento de hipertensão portal costuma ser revelado pela presença de trombocitopenia, pelo aparecimento de um baço aumentado; ou pelo desenvolvimento de ascite, encefalopatia e/ou varizes esofágicas com ou sem sangramento. A tensão em uma variz determina a ruptura varicosa e é diretamente proporcional ao diâmetro 10 da variz e à pressão intravaricosa e inversamente proporcional à espessura da parede da variz. ESPLENOMEGALIA Nesse processo, o baço cresce e sequestra plaquetas e outras células sanguíneas, o que leva ao desenvolvimento de hiperesplenismo. A presença de baço aumentado ao exame físico e o surgimento de trombocitopenia e leucopenia – redução dos níveis plaquetários. Alguns pacientes terão dor abdominal bastante significativa no lado esquerdo e no quadrante superior esquerdo relacionada com baço aumentado de volume e ingurgitado. ASCITE É secundária à hipertensão sinusoidal e à retenção de sódio. Leva à hipertensão sinusoidal pelo bloqueio do fluxo venoso hepático, anatomicamente pela fibrose e pelos nódulos regenerativos e funcionalmente pelos tônus vasculares pós-sinusoidal aumentado. O gradiente limiar da pressão venosa hepática necessária para a formação de ascite é de 12mmHg. A retenção de sódio é resultado da vasodilatação que, provavelmente, deve-se a um aumento na produção de NO. Com a progressãoda cirrose e a hipertensão portal, a vasodilatação é mais pronunciada e, assim, há a ativação adicional do sistema nervoso simpático e do sistema renina- angiotensina-aldosterona, o que resulta na retenção adicional de sódio (ascite refratária), retenção de água (hiponatremia) e vasoconstrição renal (síndrome hepatorrenal). A hipoalbuminemia e a pressão oncótica reduzida do plasma também contribuem para a perda de líquido pelo compartimento vascular e para sua penetração na cavidade peritoneal. Há um aumento da circunferência abdominal, acompanhado com frequência pelo desenvolvimento de edema periférico. A instalação da ascite costuma ser insidiosa. Os pacientes em geral têm pelo menos 1 a 2L de líquido no abdome antes de ficarem cientes de que houve um aumento. O diagnóstico de ascite é feito pelo exame físico e, muitas vezes complementado por exames de imagem do abdome. PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA Complicação comum e grave da ascite caracterizada por infecção espontânea do líquido ascético sem uma fonte intra-abdominal (ex: abscesso ou colecistite) e na ausência de perfuração de um órgão oco. O mecanismo é a translocação bacteriana, ou migração de bactérias do intestino para os linfonodos mesentéricos e outros locais extrainstestinais. Se forem identificados mais de dois organismos, deverá ser considerada uma peritonite bacteriana secundária devido uma víscera perfurada. Diagnóstico: nº absoluto de neutrófilos >250 SÍNDROME HEPATORRENAL Insuficiência renal funcional que ocorre na presença de hepatopatia grave, aguda ou crônica, sem doença estrutural renal. O aumento da resistência vascular renal com uma redução da resistência vascular sistêmica é um dos fatores, mas não o único. Diagnóstico: grande quantidade de ascite em pacientes que demonstram um aumento progressivo por etapas na creatinina. Pode ser dividida em: Tipo 1: deterioração progressiva da função renal e redução significativa da depuração da creatinina – pior. Tipo 2: redução da taxa de filtração glomerular e uma elevação do nível sérico de creatinina. A melhor terapia é o transplante de fígado. A recuperação da função renal é típica. O prognóstico é ruim, a menos que o transplante possa ser realizado dentro e um período muito curto. HIPERTENSÃO PORTOPULMONAR O leito pulmonar é exposto a substâncias vasoconstritoras que podem ser produzidas na circulação esplâncnica e passar pelo metabolismo hepático – aumento de gradiente alvéolo-arteriolar, que é consequente à vasodilatação no território microvascular pulmonar. 37[ 11 O resultado inicial é uma hipertensão pulmonar reversível. No entanto, como estes fatores resultam na proliferação endotelial, vasoconstrição, trombose in situ e obliteração dos vasos, segue-se uma hipertensão pulmonar irreversível. DESNUTRIÇÃO O fígado participa da regulação do metabolismo proteico e energético do corpo. Depois que os pacientes ficam cirróticos, passam a ser mais catabólicos, e a proteína muscular é metabolizada. Alguns fatores que contribuem são a ingesta dietética precárias, alterações na absorção intestinal de nutrientes e alterações no metabolismo das proteínas. 12 É a via final da maioria das cardiopatias, uma síndrome clínica complexa resultante de qualquer desordem cardíaca estrutural ou funcional, que compromete a capacidade ventricular de receber ou ejetar sangue, ocasionando inadequado suprimento sanguíneo para atender as demandas metabólicas teciduais. Influenciada por precursores como hipertensão, dislipidemia, diabetes e obesidade nas sociedades industrializadas, e pela melhora da sobrevida, a longo prazo de pacientes com doenças cardíacas isquêmicas e de outros tipos. Doença de alta prevalência, é a principal causa de internação por doença cardiovascular no Brasil. Apesar dos avanços terapêuticos, a IC permanece uma condição que carreia altas taxas de morbidade e mortalidade. Após diagnóstico, 80% dos homens e 70% das mulheres morrerão em 8 anos. Pode ser dividida em estágios: 1. Possuem o risco de desenvolver a IC, mas, até então, não tem sintomas ou anormalidades estruturais aparentes. Ex: hipertensos, doença aterosclerótica, diabetes, obesidade, síndrome metabólica ou ingestão excessiva de álcool, medicamentos cardiotóxicos e história familiar de miocardiopatia. 2. Assintomáticos que demonstraram anormalidades estruturais que os predispõem à insuficiência cardíaca. Ex: IM prévio, hipertrofia VE. 3. Pacientes que exibiram sintomas ou sinais de IC Fisiopatologia A insuficiência cardíaca é uma síndrome que pode resultar de muitas doenças cardíacas e sistêmicas. Nos países industrializados, a doença arterial coronariana (DAC) tornou-se a principal causa em homens e mulheres, sendo responsável por 60 a 75% dos casos de IC. A hipertensão arterial contribui para o desenvolvimento de IC em 75% dos pacientes, incluindo a maioria daqueles com DAC. ETIOLOGIAS INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Fração de ejeção reduzida (<40%): doença arterial coronariana, sobrecarga pressórica crônica, sobrecarga volumétrica crônica, doença pulmonar crônica e alterações pulmonares vasculares. Fração de ejeção preservada (>40 a 50%) hipertrofia patológica, envelhecimento, miocardiopatia restritiva, fibrose, distúrbios endomiocárdicos, infecção viral prévia e exposição a toxinas (quimioterápicos e álcool). Estados de alto débito: doenças metabólicas, distúrbios nutricionais, exigência de fluxo sanguíneo excessivo e anemia crônica. ANORMALIDADES DO FLUXO CARDÍACO Os principais determinantes do fluxo cardíaco são a função sistólica ventricular, função diastólica ventricular, relaxamento, rigidez, pré-carga ventricular, pós-carga ventricular, fluxo sanguíneo miocárdico, frequência e condução cardíacas. FUNÇÃO SISTÓLICA Clinicamente, é avaliada pela fração de ejeção do ventrículo esquerdo. A disfunção sistólica caracteriza-se por um volume de ejeção deprimido apesar da elevação nas pressões de enchimento ventricular. Os sintomas resultantes são congestão pulmonar ou sistêmica, intolerância à atividade e disfunção de órgãos. Na função sistólica alterada (contrátil), a patogênese pode ser por lesão ou disfunção isquêmica (ex: infarto do miocárdio), sobrecarga crônica da pressão (ex: doença valvar obstrutiva), sobrecarga crônica de volume (ex: shunt extracardíaco) ou miocardiopatia dilatada não isquêmica (ex: distúrbios genéticos, infecciosos e idiopáticos). Insuficiência Cardíaca Insuficiência Cardíaca 13 FUNÇÃO DIASTÓLICA No VE com disfunção diastólica, as pressões de enchimentos ventriculares esquerdas elevam- se devido às modificações na complacência, resultando em hipertensão atrial esquerda e congestão pulmonar. Débito cardíaco pode ser reduzido se o enchimento ventricular ficar suficientemente prejudicado. Assim, as anormalidades se potencializam, acarretando em dispneia aos esforços e intolerância ao exercício. Na função diastólica alterada (enchimento restrito e rigidez aumentada), a patogênese pode ser por hipertrofia miocárdica patológica, envelhecimento, fibrose isquêmica, distúrbios endomiocárdicos e miocardiopatia restritiva (ex: amiloidose e hemocromatose). PRÉ-CARGA VENTRICULAR Pressão ou volume diastólicos finais, que são indicadores indiretos do comprimento diastólico final da fibra. A redução da pré-carga, pela diurese ou pela redução no retorno venoso pulmonar com agentes venodilatadores, geralmente apresenta um efeito clínico benéfico na insuficiência cardíaca. PÓS-CARGA Tomada como pressão arterial ou como resistência vascular sistêmica. Entretanto, a medida mais precisa corresponde ao estresse parietal sistólico. EPS = (𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝑥 𝑟𝑎𝑖𝑜 𝑑𝑜 𝑉𝐸) (2 𝑥 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑠𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑜 𝑉𝐸) A pós-carga aumentada temefeito similar a contratilidade deprimida, de modo que a redução da pós-carga pode melhorar o desempenho cardíaco. FREQUÊNCIA CARDÍACA E RITMO CARDÍACO A FC afeta o desempenho cardíaco através de: 1. Ao aumenta-la, intensifica-se o estado ionotrópico, regulando-se para cima as concentrações do cálcio citosólico. 2. FC é um importante determinante do débito cardíaco. Taquicardia crônica prejudica o desempenho ventricular, e a função cardíaca geralmente melhora com o controle das taquiarritmias. O tempo normal de condução atrioventricular (0,16 a 0,20 segundo) intensifica a contribuição da contração atrial ao enchimento ventricular esquerdo, que é particularmente importante no ventrículo não complacente. Pacientes com IC comumente apresentam anormalidades na contração intraventricular, o que resulta em contrações dissincrônicas. FLUXO SANGUÍNEO MIOCÁRDICO O fluxo sanguíneo miocárdico é acoplado às necessidades de oxigênio e, em geral, não é fator determinante no desempenho cardíaco. No entanto, isquemia miocárdica está associada a um rápido declínio na função contrátil. Fluxo inadequado exerce papel importante na patogênese da disfunção cardíaca, ocasionalmente até em pacientes em doença coronariana obstrutiva. SÍNDROME DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA A insuficiência cardíaca se inicia quando um evento- índice produz o declínio inicial na capacidade de bombear do coração. Após esse declínio inicial, diversos mecanismos compensatórios são ativados, como o sistema nervoso adrenérgico, o sistema renina-angiotensina-aldosterona e o sistema das citocinas. Em curto prazo, esses sistemas são capazes de manter a capacidade da função cardiovascular dentro do limite da homeostase normal, fazendo o paciente se manter assintomático. Entretanto, com o passar do tempo, a ativação mantida de tais sistemas causa dano secundário no órgão-alvo do ventrículo, com agravamento do remodelamento ventricular e subsequente descompensação cardíaca. Manifestações iniciais da disfunção hemodinâmica são redução no volume de ejeção e elevação nas pressões de enchimento ventriculares. Essas alterações apresentam efeitos em cascata nos reflexos cardíacos e na perfusão e função dos órgãos sistêmicos, que, por sua vez, estimulam uma variedade de respostas compensatórias interdependentes, envolvendo o sistema cardiovascular, os sistemas neuro- hormonais e a fisiologia renal. Respostas levam à fisiopatologia característica da síndrome da IC. 14 RESPOSTAS NEURO-HORMONAIS A ativação inicial do sistema nervoso simpático resulta das pressões de pulso reduzidas, que estimulam os barorreceptores arteriais, e da hipoperfusão arterial. Há liberação aumentada de norepinefrina por vários órgãos, inclusive o coração. Com a deterioração da função cardíaca, a resposta à norepinefrina diminui, conforme evidenciado pela regulação para baixo dos receptores adrenérgicos cardíacos e dessensibilização do barorreceptor. Norepinefrina produz vasoconstrição, estimulando a frequência cardíaca e a contratilidade miocárdica. Elementos do sistema renina-angiotensina- aldosterona são ativados em um momento precoce na insuficiência cardíaca. Os mecanismos presuntivos de indução incluem a hipoperfusão renal, a estimulação do sistema B-adrenérgico e a hiponatremia. Angiotensina II aumenta fluxo sanguíneo pela vasoconstrição, intensifica filtração glomerular pelo aumento na pressão renal e mantém o fluxo glomerular pelos seus efeitos hemodinâmicos intra-renais. Aldosterona causa retenção do sódio, o que restabelece o débito cardíaco normal pelo aumento no volume intravascular. Vasoconstrição excessiva pode deprimir a função ventricular esquerda e a retenção de sódio piorar as pressões de enchimento do ventrículo esquerdo, j A endotelina e a arginina vasopressina são elevadas em muitos pacientes com IC, e a interferência em suas ações pode promover vasodilatação e diurese. Os níveis circulantes de muitas citocinas pró- inflamatórias, inclusive do fator de necrose tumoral-alfa, interleucina-B e a interleucina-6, são elevados em pacientes com IC relativamente grave. Citocinas podem induzir disfunção contrátil, fibrose miocárdica e necrose dos miócitos, talvez pela mediação de algumas das respostas deletérias às catecolaminas e à angiotensina II. Na insuficiência cardíaca crônica, barorreceptores tornam-se dessensibilizados, gerando respostas aferentes reduzidas. A sede e a ingestão de líquidos podem estar aumentadas como resultado de ativação do centro de sede cerebral. Apesar de IC geralmente estar associada à volume sanguíneo normal, paradoxalmente caracteriza-se pela ativação das mesmas respostas homeostáticas que as da hemorragia e choque; resultado é uma retenção anormal de sódio e de água. Após agravo inicial precipitar insuficiência cardíaca, alterações progressivas ocorrem na estrutura e na função miocárdicas devido a danos contínuos pelo processo subjacente, a respostas ao estresse hemodinâmico e à ativação neuro-hormonal. Ventrículo esquerdo dilata progressivamente. Essa “remodelação” é acompanhada por alterações no interstício cardíaco, levando a uma alteração na orientação das miofibrilas e fibrose progressiva resultando em contração mais descoordenada e menos eficaz. Diagnóstico O diagnóstico da insuficiência cardíaca é direto quando o paciente apresenta os sintomas clássicos e os achados físicos associados. Em pacientes com IC crônica, no entanto, o diagnóstico frequentemente é retardado ou deixa de ser estabelecido, visto que nenhum sinal ou sintoma isolado é diagnóstico. Fundamentado em anamnese e exame físico detalhado, nos quais procuram-se valorizar os sinais e sintomas decorrentes do baixo débito cardíaco e dos fenômenos congestivos pulmonar e sistêmico. Na anamnese, importante procura de elementos para que se possa chegar ao diagnóstico etiológico da disfunção ventricular, como: antecedentes de sopros ou defeitos cardíacos na infância, febre reumática, epidemiologia para Chagas, fatores de risco para doença coronariana, hipertensão, diabetes, alcoolismo, uso de drogas e tratamento com quimioterápicos. Critérios diagnósticos da IC diastólica são evidência clínica de IC, função sistólica preservada e evidência definitiva de disfunção diastólica ao ecocardiograma com Doppler. 15 Radiografia de tórax e ecocardiograma são ferramentas importantes para analisar o tipo de disfunção (sistólica ou diastólica) do paciente. EXAMES COMPLEMENTARES Apesar do diagnóstico ser essencialmente clínico, alguns exames são necessários para caracterização do quadro, diagnóstico diferencial com outras causas de dispneia e, principalmente, para quantificar o grau de disfunção ventricular e/ou de lesão valvular e para chegar a um diagnóstico etiológico, auxiliando na tomada de decisão terapêutica. EXAMES LABORATORIAIS Hemograma avalia presença de anemia, que pode causar ou agravar sintomas. Dosagem de creatinina importante para avaliar a função renal, visto que insuficiência renal é uma comorbidade importante. Urina 1 pode demonstrar a presença de infecção urinária ou proteinúria que indica lesão renal ou, ainda, glicosúria indicando diabetes. Dosagem do potássio pode evidenciar hipopotassemia (dose elevada de diuréticos) ou hiperpotassemia (insuficiência renal). Dislipidemia mostra a possibilidade de etiologia isquêmica da disfunção ventricular. Dosagem dos hormônios tiroidianos é recomendada, visto que ambos, hipertireoidismo ou hipotireoidismo, podem ser a causa primária ou agravar a disfunção ventricular. O eletrocardiograma geralmente está alterado nos pacientes com IC por disfunção sistólica. Apesar de ser inespecífico em relação à etiologia da disfunção ventricular, pode sugerir etiologias como doença de Chagas e cardiopatia isquêmica. A radiografia do tórax é importante para avaliação da área cardíaca e circulação pulmonar, podendo evidenciar sinais de congestão pulmonar, derrames nas cissuras e derrames pleurais. Além disso, também podem sugerir doenças pulmonares como causa de dispneia. O ecocardiograma bidimensional é exame obrigatório na avaliação de qualquer paciente com insuficiência cardíaca. Esse exame permite a avaliação precisa da anatomia cardíaca, afere o tamanho das cavidades, quantifica a disfunção sistólica (contratilidade) com aferição da fração de ejeção, avalia a anatomia e a dinâmica das válvulas, estima o grau de estenoses, medidas de área valvar, grau de refluxo, avalia o pericárdio e pode aferir a pressão na artéria pulmonar. Assim, permite diagnosticar com precisão a presença e o grau da disfunção cardíaca e sua provável etiologia. A coronariografia (cateterismo) é mandatória no diagnóstico etiológico quando existe suspeita de etiologia isquêmica. O cateterismo cárdico direito permite avaliação completa da hemodinâmica cardiovascular, com aferição das pressões de enchimento, pressão pulmonar, débito cardíaco e cálculos de resistências sistêmicas e pulmonares. A biópsia endomiocárdica é um procedimento invasivo, que pode ser útil no diagnóstico etiológico. Indicado na suspeita de miocardites, doenças infiltrativa (ex: hemocromatose e amiloidose) e doenças de depósito (miocardiopatia restritivas). Avaliação Clínica Sintomas mais comuns, dispneia e fadiga, não são específicas para insuficiência cardíaca, especialmente na população mais idosa. Os sintomas mais específicos de ortopneica, dispneia paroxística noturna e edema são ainda menos comuns. O segredo para estabelecer o diagnóstico da insuficiência cardíaca crônica no momento correto está em manter um elevado grau de suspeita, particularmente em pacientes de alto risco. Quando estes pacientes apresentam qualquer um desses sintomas ou achados clínicos sugestivos de insuficiência cardíaca, testes adicionais devem ser realizados, de preferência começando pela ecocardiografia. Pacientes de risco: doença arterial coronariana, hipertensão crônica, diabetes, história de uso intenso e abusivo de álcool e idade avançada Sintomas típicos da IC são bem conhecidos, mas, com frequência estão ausentes. Os sintomas geralmente refletem as perturbações hemodinâmicas das pressões elevadas do lado esquerdo e do lado direito do coração e o prejuízo do débito cardíaco, embora possam apresentar-se dissociados destas condições. 16 DISPNEIA Percepção da falta de ar é o sintoma mais comum. Na maioria, ocorre apenas com a atividade ou o esforço. Os mecanismos subjacentes são multifatoriais. O mais importante é a congestão pulmonar com líquido intersticial ou intra-alveolar aumentado, que ativa os receptores J justacapilares, estimulando um padrão rápido e superficial de respiração. A rigidez pulmonar aumentada pode elevar o trabalho respiratório, evidenciando, quadro de dispneia. Respiração de Cheyne-Stokes é comum na IC avançada, geralmente associada a estados de baixo débito, e pode ser percebida pelo paciente como perda transitória de respiração. Hipóxia é atípica em pacientes com insuficiência cardíaca a menos que esteja associado a doença pulmonar, sugere edema pulmonar. ORTOPNEIA E DISPNEIA PAROXÍSTICA NOTURNA A ortopneica é uma dispneia posicional, ocorrendo na posição ortostática ou semiortostática. Causada pela redistribuição de volume da circulação esplâncnica e dos membros inferiores para a circulação central quando o paciente permanece deitado, com o aumento da pressão capilar pulmonar Tosse noturna pode ser uma manifestação desse processo, apesar de ser pouco reconhecido. A ortopneica é relativamente específico da IC, mas pode ocorrer em pacientes com doença pulmonar. A dispneia paroxística noturna é um episódio de falta de ar agudo e grave, que desperta o paciente do sono, geralmente 1 a 3 horas depois de dormir. Resulta de retorno venoso aumentado e da mobilização do líquido intersticial das extremidades e de outras partes, com acúmulo de edema alveolar. Quase sempre representa IC, mas é um achado relativamente atípico. EDEMA PULMONAR AGUDO Resulta de transudação do líquido para dentro dos espaços alveolares devido a elevações agudas nas pressões hidrostáticas capilares decorrentes de uma depressão aguda da função cardíaca ou de elevação aguda no volume intravascular. Sintomas iniciais: tosse, dispneia progressiva e sibilo. Se não for tratado, paciente passa a tossir líquido róseo, espumoso, tornando-se cianótico e acidótico. INTOLERÂNCIA AO EXERCÍCIO Junto com a dispneia, a intolerância à atividade ou ao exercício é o sintoma mais característico. O exercício é limitado pela falta de ar devido ao aumento nas pressões venosas pulmonares em elevação e à congestão pulmonar. Além disso, o fluxo sanguíneo para os músculos em exercício fica prejudicado devido redução na reserva de débito cardíaco e da vasodilatação periférica prejudicada. Assim, a liberação de oxigênio é limitada seguindo- se uma sensação de cansaço fácil. Anormalidades no músculo esquelético: alterações bioquímicas e nos tipos de fibra, que aumentam a fadiga muscular e prejudicam a função muscular. FADIGA Queixa comum, mas inespecífica. Talvez a origem mais comum desta queixa seja a fadiga muscular. Também pode ser uma resposta inespecífica às manifestações sistêmicas da insuficiência cardíaca, como aumentos crônicos nas catecolaminas e nos níveis circulantes de citocinas, distúrbios de sono e ansiedade. EDEMA E RETENÇÃO DE LÍQUIDOS A pressões atriais direitas elevadas aumentam as pressões hidrostáticas capilares na circulação sistêmica, com uma resultante transudação. Edema geralmente se acumula nas extremidades e resolve-se durante a noite, quando as pernas não estão na posição dependente. Edema pode ocorrer apenas nos pés e tornozelos, mas, se for mais grave, pode acumular-se em coxas, escroto e parede abdominal. Mais provável e mais grave em pacientes com doença venosa associada. Líquido também pode acumular-se na cavidade peritoneal e nos espaços pleural e pericárdico. 17 Ascite ocorre como resultado depressões elevadas nas veias hepáticas, portais e sistêmicas que drenam o peritônio. A ascite, atípica na insuficiência cardíaca, quase sempre está associada a edema periférico. Os derrames pleurais são razoavelmente comuns na insuficiência cardíaca crônica, especialmente quando acompanhados por manifestações de cardiopatia do coração esquerdo e direito. Derrames resultam de um aumento na transudação do liquido para dentro do espaço pleural e uma drenagem linfática prejudicada devido a pressões venosas sistêmicas elevadas. SINTOMAS ABDOMINAIS E GASTROINTESTINAIS Congestão passiva do fígado pode levar à dor no quadrante superior direito e uma discreta icterícia Com elevações graves e agudas nas pressões venosas centrais, especialmente quando associadas à hipotensão sistêmica, pode ocorrer uma grave hepatopatia congestiva e isquêmica com elevações marcantes nos testes de função hepática e hipoglicemia. Recuperação normalmente é rápida e completa se as anormalidades hemodinâmicas forem corrigidas. Edema da parede intersticial pode levar a uma saciedade precoce (sintoma comum na IC), náusea, desconforto abdominal difuso, má absorção e uma forma rara de enteropatia perdedora de proteína. DISTÚRBIOS DO SONO E MANIFESTAÇÕES SNC Períodos de dessaturação noturna de oxigênio menores que 80% a 85% são relativamente comuns em pacientes com IC coincidem com episódios de apneia e frequentemente são precedidos ou seguidos por episódios de hiperventilação. O oxigênio suplementar parece reverter alguns destes distúrbios ventilatórios, enquanto os episódios de apneia respondem à ventilaçãonasal sob pressão positiva. CAQUEXIA Na insuficiência cardíaca crônica grave, pode ocorrer uma perda de peso crônica, não intencional, levando a uma síndrome de caquexia. Pode resultar de muitos fatores, como níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias (ex: fator de necrose tumoral), taxas elevadas no metabolismo, perda do apetite e má absorção. Exame Clínico Os achados clínicos refletem pressões de enchimento ventriculares elevadas e, em menor extensão, um débito cardíaco reduzido. Na insuficiência cardíaca crônica, muitos destes achados estão ausentes, não raro dificultando o diagnóstico correto. Pacientes compensados podem estar confortáveis, mas os que apresentam sintomas mais graves normalmente encontram-se inquietos, dispneicos e pálidos ou diaforéticos. As extrassístoles ou as arritmias são comuns. Pulso alternante (amplitude alternante de batimento sucessivo) constitui um sinal de falência cardíaca avançada. A pressão arterial pode ser normal ou alta, mas, na IC avançada, comumente encontra-se no limite inferior do normal ou abaixo. O exame das veias jugulares representa um dos aspectos mais úteis na avaliação de pacientes com insuficiência cardíaca. A pressão venosa jugular deve ser quantificada em cm de água, estimando- se o nível de pulsações acima do ângulo esternal. Para detectar a presença de refluxo abdominojugular deve-se pressionar o quadrante superior do abdome por 30 segundos. A elevação na pressão venosa jugular ou um refluxo abdominojugular anormal foram relatados em 80% dos pacientes com IC avançada. Esse achado é confirmado pelas pulsações hepáticas, que podem ser detectadas durante a determinação do refluxo abdominojugular. Os pulsos carotídeos devem ser avaliados quanto a evidência de estenose aórtica, assim como pesquisa de anormalidades tireoidianas. Os estertores, representando líquido alveolar, são marcadores de IC; quando ocorrem em pacientes sem doença pulmonar associada, são altamente específicos para o diagnóstico. Geralmente ausentes na IC crônica. A insuficiência ventricular esquerda não pode ser excluída pela ausência de estertores. 18 Os derrames pleurais, indicativos de IC bilateral em pacientes com sintomas apropriados, são relativamente raros. A avaliação do ictus pode fornecer informações relativas ao tamanho do coração (alargado se deslocado abaixo do 5º espaço intercostal ou lateral à linha hemiclavicular) e a sua função (se sustentando além de um terço da sístole ou palpável sobre dois interespaços). Primeira bulha (B1) pode estar diminuída em amplitude quando função de VE é ruim. Componente pulmonar da 2ª bulha cardíaca pode estar acentuado quando presente hipertensão pulmonar. A presença de B3 é indicativo forte de disfunção de VE significativa, mas se manifesta apenas em poucos pacientes com frações de ejeção baixas e pressões de enchimento ventricular elevadas. Sopros podem sugerir doença valvar significativa como causa da IC, mas insuficiência mitral e tricúspide também são manifestações secundárias comuns de dilatação e disfunção ventricular graves. Tamanho, pulsatilidade e dor na região do fígado devem ser avaliados como evidências de congestão passiva e de insuficiência tricúspide. Ascite e edema devem ser procurados e quantificados. Cor Pulmonale Ocorre em resposta a alterações agudas ou crônicas na vasculatura e/ou no parênquima pulmonar que sejam suficientes para causar hipertensão pulmonar. Identificação: ecocardiograma 2D/Doppler e no uso de marcadores biológicos (BNP). Uma vez que os pacientes com doenças crônicas do parênquima ou vasculatura pulmonar desenvolvam cor pulmonale, prognóstico piora. As DPOCs são responsáveis por quase 50% dos casos, mas qualquer doença que afete a vasculatura pulmonar ou o parênquima pulmonar pode causar cor pulmonale. O mecanismo fisiopatológico comum é uma hipertensão pulmonar que seja suficiente para alterar a estrutura do VD e a função. Leito circulatório é submetido a graus variáveis de remodelamento vascular, vasoconstrição e destruição. Consequentemente, a pressão arterial pulmonar e pós-carga de VD aumentam, estabelecendo quadro. Consequências sistêmicas estão relacionadas com alterações no débito cardíaco e homeostase do sal e da água. Cor pulmonale agudo ocorre após estímulo súbito e intenso, com dilatação e falência do VD, mas sem hipertrofia. Já o cor pulmonale crônico está associado a evolução mais lenta, com hipertensão pulmonar progressiva que causa hipertrofia inicial leve do VD seguida por dilatação. A descompensação aguda pode ser causa por hipóxia, acidemia, embolia pulmonar aguda, taquiarritmias atrial, hipervolemia e ventilação mecânica que levam a pressão compressiva sobre os vasos sanguíneos alveolares. Sintomas: dispneia, ortopneica, dispneia paroxística noturna, dor abdominal, ascite, edema nos músculos inferiores. Muitos dos sinais encontrados também estão presentes nos pacientes portadores de IC com diminuição na FE, incluindo taquipneia, aumento da pressão venosa jugular, hepatomegalia e edema nos músculos inferiores. A cianose é um achado tardio, sendo secundária ao baixo débito cardíaco com vasoconstrição sistêmica e desuniformidade ventilação-perfusão no pulmão. A causa mais comum de IC direita não são as doenças parenquimatosas ou vasculares dos pulmões, mas sim a IC esquerda. Por isso, é importante avaliar o paciente quanto às funções sistólica e diastólica do VE. 19 Uremia As concentrações séricas de ureia e creatinina são utilizadas para avaliar a capacidade excretora dos rins, mas o acúmulo dessas duas moléculas não explica por si só, muitos dos sinais e sintomas que caracterizam síndrome urêmica na insuficiência renal avançada. Numerosas funções metabólicas e endócrinas desempenhadas pelos rins são comprometidas, causando anemia, desnutrição, anormalidades do metabolismo dos carboidratos, das gorduras e proteínas. Níveis plasmáticos de muitos hormônios (PTH, FGF-23, insulina, glucagon, esteroides e prolactina) alteram-se na DRC em razão da excreção reduzida, de sua decomposição reduzida ou da regulação hormonal anormal. A fisiopatologia da síndrome urêmica pode ser subdividida em disfunções em 3 esferas: 1. Distúrbios secundários ao acúmulo das toxinas normalmente excretadas pelos rins, como os produtos do metabolismo das proteínas. 2. Anormalidades consequentes à perda de outras funções renais, como a regulação hormonal e a homeostase hidroeletrolítica. 3. Inflamação sistêmica progressiva e suas consequências vasculares e nutricionais. ALTERAÇÕES CLÍNICAS DA SÍNDROME URÊMICA Sistema nervoso: estupor, coma, polineuropatia, fadiga, convulsões, demência, fraqueza muscular, mal-estar inespecífico, asterixe, câimbras, cefaleia, distúrbios do sono e síndrome das pernas inquietas. Sistema gastrointestinal: estomatites, náuseas, vômitos, gastrites, úlceras e anorexia. Sistema hematológico: anemia e sangramento. Sistema cardiovascular: pericardite, edema, hipertensão, aterosclerose, cardiomiopatia, disfunção diastólica. Sistema respiratório: pleurite, edema pulmonar e pulmão urêmico. Pele: prurido, melanoses, fechamento de feridas retardado, melanoses e atrofia ungueal. Doença óssea: osteodistrofia, amiloidose, doença óssea dinâmica e hiperparatireoidismo. Miscelânea: sede, odor urêmico, hipotermia, emagrecimento e disfunção erétil. Crônica É definida como presença de disfunção renal presente por mais de 3 meses e é classificada de acordo com o grau de perda da taxa de filtração glomerular (TFG). Estágio 1: TFG normal que têm alterações no sedimento urinário persistentes, anormalidades da estrutura renal, documentadas através de radiografia ou anormalidades em biópsia renal. Estágio 2: dano renal com TFG levementealterada (entre 89 e 60%). Estágio 3: dano renal com TFG moderadamente reduzida (entre 59 e 30%). Estágio 4: TFG severamente reduzida (entre 29 e 15%). Estágio 5: falência renal, TFG abaixo de 15% As causas prevalentes da insuficiência renal crônica são diabetes mellitus, hipertensão, glomerulonefrites, doenças císticas, congênitas ou hereditárias, nefrite intersticial, neoplasias e causas idiopáticas. Pacientes com doença renal não diabética mostraram um declínio persistente da TFG de 4mL/minuto/ano. Já a queda da TFG em pacientes com nefropatia diabética não tratada atinge 12mL/minuto/ano. Fatores fisiológicos: hipertensão intraglomerular, vasodilatação de arteríola aferente, diminuição da renovação da matriz extracelular, progressiva perda de néfrons e fibrose tubulointersticial Insuficiência Renal Insuficiência Renal 20 Existe grande risco de doença cardiovascular em mediado pela presença de estado pró-inflamatório persistente. Os fatores que podem contribuir incluem a diminuição do clearanse renal de citocinas inflamatórias, acidose metabólica, aumento estresse oxidativo e sobrecarga do volume. A avaliação inicial deve ser dirigida para confirmação do diagnóstico de DRC e da sua causa, por meio da anamnese e do exame físico e, posteriormente, da determinação do clearance de creatinina para classificar estágio da DRC. A avaliação de pacientes com IRC deve ser iniciada com exame do sedimento urinário e ultrassom renal Estudos sorológicos como anticorpos antifatores nucleares, complemento sérico e eletroforese de proteínas são particularmente úteis em pacientes que apresentam vasculite sistêmica, proteinúria e hematúria. FISIOPATOLOGIA Caracteriza-se por dois amplos grupos gerais de mecanismos lesivos: (1) mecanismo desencadeante específico da etiologia subjacente; e (2) um conjunto de mecanismos progressivos que envolvem hiperfiltração e hipertrofia dos néfrons viáveis remanescentes, que são consequências comuns da redução prolongada da massa renal, independente da etiologia primária. As respostas à redução da quantidade de néfrons são mediadas por hormônios vasoativos, citocinas e fatores de crescimento. Por fim, essas adaptações de curto prazo (hiperfiltração e hipertrofia) tornam-se mal adaptativas à medida que as elevações da pressão e do fluxo sanguíneos dentro do néfrons predispõem à distorção da arquitetura dos glomérulos, função anormal dos podócitos e rompimento da barreira de filtração, levando a esclerose e a destruição dos néfrons remanescentes. As alterações glomerulares secundárias associadas à redução numérica dos néfrons, inclusive dilatação dos lúmens capilares e formação de aderências focais, que parecem ocorrer devido hiperfiltração e hipertrofia compensatória dos néfrons. QUADRO CLÍNICO Achados clínicas variam dependendo da doença de base e do estágio da doença renal. Nos estágios iniciais de DRC, paciente pode se queixar de urina espumosa (proteinúria), alteração da coloração da urina (hematúria) ou alterações do fluxo urinário (nictúria). Nefropatia diabética: manifestação inicial é a presença de microalbuminúria assintomática, porém aqueles com doença avançada podem atingir proteinúria nefrótica, com edemas frequentes e com evidências de retinopatia e neuropatia. Nefroesclerose hipertensiva: sedimento urinário é limpo (ausência de hematúria e leucocitúria) e, em geral, não há proteinúria elevada. Doença renal isquêmica: sopros na região sobre as artérias renais, assim como nos leitos vasculares. Frequentemente diagnosticada na avaliação clínica da hipertensão, pois é importante se notar que a doença renal é a principal causa de hipertensão secundária. CAUSAS E PRINCIPAIS ACHADOS Diabetes mellitus: DM de longa data, retinopatia diabética, proteinúria. Ultrassonografia com rins normais é um achado frequente. Hipertensão arterial: HAS de longa data, hipertrofia do VE, retinopatia hipertensiva. Em fases avançadas, a ultrassonografia mostra 21 rins reduzidos, hiperecogênicos e com perda de diferenciação corticomedular Glomerulonefrites: sedimento urinário ativo (hematúria, leucocitúria e proteinúria), em alguns tipos pode haver consumo de complemento. Doença renal policística do adulto: US de rins mostrando múltiplos cistos bilaterais, TC de abdome mostra cistos bilaterais e hematúria, Geralmente, os sintomas são súbitos e podem passar despercebidos até que a TFG cai para 5 a 10 ml/minuto, quando a fase de franca uremia já está presente e a terapia substitutiva renal já se faz necessária para manutenção da vida. Com a progressão da DRC, há perda da capacidade renal de concentração e diluição urinária, sendo comum a manutenção de volume satisfatório, mas com urina isostenúrica (osmolaridade próxima da plasmática que reflete inabilidade de concentração). Pacientes em estágio 3 ou 4 podem apresentar: Fadiga e cansaço – anemia devido à insuficiência relativa de eritropoietina; Alterações no metabolismo mineral e ósseo podendo levar a dores ósseas e fraturas patológicas – redução do cálcio, elevação do fósforo e do paratormônio (PTH); Acidose metabólica – dificuldade de excreção renal de ácidos. HAS e edema – balanço positivo de sal e água, secundários à redução do clearance de creatinina Nos estágios 4 (fase pré-dialítica) e 5 (fase dialítica) os sinais mais comuns são: hipertensão arterial, edema, dores ósseas e Náuseas, vômitos e dispepsia – devido retenção de toxinas Palidez cutânea e cansaço – reflete a anemia e a retenção de urocromo Perda de massa muscular – devido acidose metabólica e inapetência EXAME FÍSICO É oligossintomática por longo curso da doença. Da mesma forma, sinais clínicos aparecem tardiamente, nas fases 3,4 e 5, e, muitas vezes, esses achados refletem complicações da doença que está causando a DRC. Na pele, é possível encontrar ressecamento, hematomas, escarificações e outras lesões causadas pelo ato de coçá-la devido ao prurido que é secundário à hiperfosfatemia e à retenção de outras escórias. Na face, aparência de cansaço, olhos empapuçados e coloração amarelo-palha secundária à anemia. Edema de membros inferiores, mole, frio, depressível contra superfícies ósseas e bilateral pode ser encontrado em associação com HAS em fases mais avançadas. Nos músculos, observa-se hipotrofia de diversos grupamentos musculares, particularmente nas mãos. A perda de massa muscular é agravada pela acidose metabólica e inapetência. Deformidades ósseas e fraturas patológicas podem ser expressas por meio de dores ósseas, mudanças da postura e diminuição da estatura. Naqueles com hiperparatireoidismo secundário à DRC, as alterações ósseas na face podem ser marcantes, devido reabsorção de tecido ósseo. Exame cardíaco pode refletir consequências da HAS, como hipertrofia cardíaca e/ou insuficiência cardíaca, com ictus palpável e desviado, presença de B3 e estase jugular. 22 Exame pulmonar pode refletir acúmulo de líquidos, com estertores crepitantes em bases pulmonares e aumento da frequência respiratória. Aguda Síndrome caracterizada pela incapacidade do rim em excretar escórias nitrogenadas e manter o equilíbrio hidroeletrolítico, instalando-se num período variável de horas a dias. Atualmente, utiliza-se o termo lesão renal aguda para descrever um grupo heterogêneo de condições que têm em comum alguns elementos diagnósticos, sobretudo aumento da concentração da ureia (U) e/ou elevação da concentração plasmática ou sérica de creatinina (Cr), em geral associada à diminuição do volume urinário. Sistema RIFLE de definição e classificação da severidade: Risco: aumento na Cr basal x 1,5 ou diurese menor que 0,5 ml/kg/hora x 6 horas. Injúria: aumento na Cr basal x 2 ou diurese menor que 0,5 ml/kg/hora x 12 horas Falência: aumento na Cr basal x 3 ou diurese menor que 0,3 ml/kg/hora x 24 horas Perda: necessidade de terapia dialítica por período superior a 4 semanas. Estágio final da doença renal: necessidade de terapia dialítica por período superior a 3 meses. Problema dessa classificação é que um dos parâmetros é a medida de creatinina sérica, que não é um bom marcador de disfunção renal por ser afetado por diversos fatores. Atualmente, existem uma série de biomarcadores séricos/urinários que são mais sensíveis, mas ainda não estão em nenhuma classificação. PRÉ-RENAL É a causa mais comum, responsável por cerca de 50% dos casos. É resultante da redução na perfusão renal, levando à diminuição na filtração glomerular devido hipovolemia, mudança na resistência vascular ou redução no débito cardíaco. Hipovolemia: hemorragia, perda gastrintestinal, desidratação, diurese excessiva e perda para espaço extravascular. Mudanças na resistência vascular sistêmica: sepse, reação anafilática ou uso de drogas vasodilatadoras, como alguns analgésicos. Baixo débito cardíaco: choque cardiogênico, embolia pulmonar, tamponamento cardíaco, etc. Não há lesão estrutural e a histologia renal está habitualmente preservada, assim como os mecanismos funcionais de absorção e reabsorção. Se o estado de hipoperfusão persistir por muito tempo, a lesão pode progredir para forma intrínseca isquêmica, conhecida como necrose tubular aguda (NTA). Há aumento na reabsorção de sódio e água, com urina concentrada e baixo teor de sódio. Como a reabsorção de ureia também está aumentada, observa-se uma relação entre Ur:Cr > 20:1 e uma fração de excreção de sódio inferior a 1%. 23 INTRÍNSECA Ocorre dano estrutural, o exame de urina habitualmente demonstra cilindros granulares e celulares; e o rim perde sua capacidade funcional, eliminando uma urina diluída, com elevada concentração de sódio. A necrose tubular aguda é a forma mais frequente de apresentação, responsável por 85% dos casos. As duas causas principais de NTA são isquemia e nefrotoxicidade. Causas isquêmicas são as mais frequentes, geralmente persistência dos casos de pré- renal. As principais causas de NTA isquêmica são pós-operatório de grandes cirurgias, traumas, sangramentos e desidratação O rim é extremamente suscetível à toxicidade, uma vez que recebe 25% do débito cardíaco, além de apresentar grande capacidade de concentração de substâncias no interstício medular. Existe a NTA séptica cujos mecanismos vão muito além da isquemia, abrangendo mecanismos relacionados à cascata de coagulação, inflamatórios e imunológicos. Com a injúria tubular grave, há acúmulo de debris celulares dentro dos túbulos e podem obstruir a fluidez de líquidos e comprimir os capilares adjacentes peritubulares. A necrose do epitélio tubular permite a passagem do filtrado para o interstício renal. Rim lesado tem capacidade para se reconstituir., dependendo do tamanho da lesão. 24 PÓS-RENAL É a forma menos frequente de IRA, responsável por cerca de 5% dos casos. No entanto, é uma das mais importantes, pois pode ser rapidamente revertida. Necessário que ocorra obstrução entre o meato uretral e o colo vesical, obstrução ureteral bilateral (70% dos casos) ou obstrução ureteral unilateral em rim único. Em homens acima de 50 anos, hiperplasia prostática benigna é a causa mais comum de nefropatia obstrutiva, seguida de câncer de próstata. Litíase renal é a causa mais comum em homens jovens. Câncer de colo de útero é a causa mais comum de obstrução em mulheres. Massas retroperitoneais também podem causar obstrução, sendo as causas mais comuns os carcinomas metastáticos (cérvix, bexiga e útero). O exame de urina 1 é frequentemente normal, mas hematúria e piúria podem ser observadas, assim como proteinúria tubular (abaixo de 1,5g/dia). Após dois a três dias, o dano tubular começa a se instalar, a excreção urinária de sódio aumenta e o padrão característico é de perda de capacidade de concentração urinária. Raramente a nefropatia obstrutiva está presente sem dilatação, o que ocorre mais frequentemente nas fases muito precoces (primeiras 24 horas) ou em casos raros sem expansão da pelve renal, como nos tumores com invasão retroperitoneal. QUADRO CLÍNICO O curso clínico é altamente variável, variando de uma transitória alteração da função renal, autolimitada, até falência renal prolongada e frequentemente pões em risco a vida. O padrão clássico envolve três fases: Inicial: começa com um insulto renal específico, e continua até o início das alterações funcionais específicas. Manutenção: o tempo decorrido entre o início da injúria e a piora clínica depende da gravidade. Oligúria (volume urinário <500 ml/dia) ou anúria (volume urinário <100ml/dia) pode acompanhar essa fase. Em alguns casos, porém, o volume urinário pode permanecer normal, embora a qualidade da urina seja rim, a TFG seja baixa e a ureia e a creatinina sérica estejam altas. Geralmente, dura de 10 a 14 dias. Recuperação O pior prognóstico é relacionado àqueles pacientes com doença renal crônica preexistente, idade avançada no início da injúria renal aguda, e oligúria persistente. Aproximadamente 10% a 15% dos indivíduos não recuperam totalmente a função renal, insuficiência renal crônica ocorre em quase um terço dos pacientes. AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA A existência de LRA é inferida com base na elevação da concentração de creatinina sérica. Dosagens sanguíneas sequenciais com aumento significativo e persistente da creatinina são indícios claros de LRA. Após estabelecer o diagnóstico de LRA, é necessário definir sua etiologia. A diferenciação entre lesão renal aguda e doença renal crônica é importante para um diagnóstico e tratamento adequados. Essa diferenciação é fácil quando se dispõe de uma dosagem recente da concentração basal de creatinina, mas costuma ser mais difícil quando níveis basais são desconhecidos. Procura de indícios sugestivos de DRC nos estudos de imagem (rins pequenos < 10 cm com adelgaçamento cortical) ou laboratoriais (anemia normocítica ou hiperparatireoidismo). Nenhum conjunto de exames consegue excluir a possibilidade de haver LRA superposta à DRC, porque esta primeira condição frequentemente complica a evolução clínica dos pacientes com 25 DRC, dificultando ainda mais o diagnóstico diferencial. Exame de urina 1 deve ser solicitado em todos os pacientes, principalmente para afastar as causas glomerulares e túbulo-intersticiais, sugeridas pela presença de hematúria e proteinúria. Importante para diferenciar entre lesão renal aguda de origem pré-renal e necrose tubular aguda. Em que, a necrose tubular aguda apresenta cilindros granulosos e proteinúria. Grupo de exceção é o de pacientes sépticos. Ultrassonografia de rins e vias urinárias deve ser realizada em todo paciente com lesão renal aguda, a fim de avaliar a morfologia renal e afastar a presença de fatores obstrutivos. A complementação com Doppler nas artérias renais pode ser útil no diagnóstico de eventos tromboembólicos, principalmente em pacientes com fatores predisponentes como síndrome nefrótica, neoplasia e trombofilias. Outros exames complementares devem ser solicitados, conforme a necessidade: Tomografia computadorizada – avaliação de cálculos em ureter, pielonefrite aguda e massas Cintilografia com gálio e pesquisa de eosinófilos na urina – nefrite intersticial. Complemento e sorologia para investigação de secundarismo. A maioria dos pacientes não precisa de biópsia renal. As indicações são para persistência de oligúria acima de 4 semanas de evolução e IRA secundária a doenças sistêmicas (vasculite e colagenose) ou outra causa que não NTA. Síndrome Nefrótica É um grupo de doenças diferentes que dividem um sinal
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