Buscar

Psicologia do trabalho e Taylorismo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

PSICOLOGIA DO TRABALHO E TAYLORISMO 
 
Milton Athayde, 2000 
 
 Através da manufatura, o “sistema de fábrica” capitalista deu mais um passo 
significativo na subordinação do trabalhador (dominação psico-sócio-política e 
exploração econômica). O controle do processo de trabalho pelo capital vai se 
dando de fora (controle sobre o mercado e o produto transformado em 
mercadoria) para dentro do processo de trabalho (sobre o objeto de trabalho, 
sobre os meios de trabalho e em seguida sobre a força de trabalho). Entretanto, 
não se encontra aí uma subordinação integral, apenas uma subordinação formal da 
força de trabalho, pois no plano afetivo e cognitivo os trabalhadores ainda 
mantinham um significativo controle sobre o saber-fazer. Esse conhecimento 
técnico-prático sobre o processo de trabalho era usado como poderoso 
instrumento de resistência, colocando limites ao capital. Foi exatamente o que 
Taylor no início do século detectou como barreira a ser transposta, questão a ser 
enfrentada. 
 Pretende-se aqui chamar atenção para as novas experimentações 
desenvolvidas a partir do final do século XIX/inicio do século XX – tendo como 
laboratório os EUA – e que configuraram o que se denomina “taylorismo”. Foi no 
interior dessas novas experiências que se operou um dado modo de pensar-agir 
em Psicologia do Trabalho, até hoje predominante no imaginário das práticas psi. 
 
1. TAYLOR E SEU CONTEXTO 
 Frederick Winslow Taylor (1856-1915), considerado por muitos o fundador 
da moderna Teoria da Administração, nasceu nos EUA, filho de família rica, de 
formação puritana (em que a dedicação ao trabalho tem um papel decisivo). Ao 
 2 
invés de fazer sua imediata entrada na Universidade1, decide iniciar sua 
profissionalização de modo pouco usual em sua classe social: como aprendiz 
numa pequena oficina da Filadélfia, cujos proprietários eram amigos da família. Aos 
22 anos emprega-se na Midvale Steel Company, uma das mais avançadas 
empresas do ramo siderúrgico, tornando-se sucessivamente chefe-ferramenteiro, 
2º contramestre, contramestre, chefe-mecânico, diretor de pesquisas e aos 26 
anos engenheiro (neste período resolvera fazer o curso de engenharia). 
 Escreve textos em 1895, 1903 e 1906, onde expõe as idéias que estava 
experimentando. É importante ler estes materiais (temos em português um livro – 
Princípios de Administração Científica – que foi publicado em 1966 pela editora 
Atlas, trazendo um apanhado de suas idéias) para que possamos entender suas 
idéias, nem confundindo os princípios com as técnicas, nem misturando suas 
propostas com as de seus “seguidores”. Entre estes podem ser citados Gantt, 
Emerson, Barth, mas deve-se destacar o casal de psicólogos Franck e Lilian 
Gilbreth, que publicam em 1917 seu livro Applied Motion Study, apresentando um 
conjunto de técnicas que se tornaram referência com o nome de “Estudo de 
Tempos e Movimentos”. 
 A experiência que Taylor pôde ter com o mundo do trabalho fabril, a partir 
de um contato mais próximo com o chão de fábrica junto aos operários, torna-o 
particularmente sensível à realidade social vigente: 
* Por um lado, um processo de concentração e centralização de capital nos países 
mais industrializados, intensificado pela fase monopolista do capitalismo, refletindo-
se no crescimento cada vez maior das fábricas, buscando-se maior produtividade, 
reunindo milhares de trabalhadores em um mesmo espaço. 
* Por outro lado, a presença do conflito entre o processo produtivo cada vez mais 
complexo e o poder residual do trabalhador, exercido através do controle sobre o 
conhecimento técnico-prático do trabalho. 
 
1 As razões? Há versões. A mais divulgada informa que ele não conseguiu entrar para o curso de 
direito da Harvard University (desejo de família) devido a problemas de visão. Há quem afirme que 
de fato ele foi reprovado, isto porque não pretendia mesmo seguir tal orientação familiar. 
 3 
O taylorismo tem aí suas raízes, dando por estas razões maior visibilidade 
para o conflito entre a demanda de expansão do capital e o forte obstáculo no 
retardo do ritmo de trabalho que conseguia impor o movimento operário. 
 
2. A “CERA” 
 Este bloqueio à intensificação do trabalho operado pelos trabalhadores vai 
ser o desafio enfrentado por Taylor. Qual o seu significado? 
 
- Remédio ao desemprego 
 O final do século XIX foi cenário de uma das crises econômicas do 
capitalismo, com o desemprego que lhe é inerente, somado a suas repercussões 
internacionais: grande número de imigrantes chegados aos EUA, à procura de 
emprego. E mais, com a mecanização expulsando uma massa considerável de 
operários manufatureiros, foi natural que se alastrasse a idéia de que se todos 
evitassem trabalhar mais, haveria maior oferta de empregos. Assim, após se dirigir 
contra determinadas máquinas (movimento luddista), a luta pelo emprego assume 
a forma de disputa pela negociação de um número preciso e limitado de tarefas 
por ofício. 
 Além do que, na quase ausência de formas de seguro social, a 
sobrevivência da força de trabalho de cada um precisava ser garantida 
cotidianamente, resistindo à intensificação do trabalho provocadora do seu 
desgaste precoce. 
 Afinal, o que Taylor chamou de “indolência sistemática” do trabalhador, 
“perda sistemática”, “cera” em nossa gíria, corresponde à situação em que o 
trabalhador produz muito menos do que poderia, proposital e sistematicamente, 
encontra aí sua compreensão. Mas na medida em que se configurava como 
obstáculo à expansão do capital, Taylor a ela reage, envolvido na ilusão de que 
uma maior produtividade do trabalho traria ganhos semelhantes para patrões e 
trabalhadores. 
 4 
 Mas foi também em relação aos salários, sua forma de cálculo e fixação, que 
se faz a resistência dos trabalhadores e a crítica de Taylor. 
 
- Remédio ao sistema de salário 
 Taylor afirma: “Não se pode encontrar, em qualquer empresa moderna 
importante, qualquer que seja a forma de pagamento dos salários, um operário 
competente que não dedique uma importante parte de seu tempo ao estudo de 
qual é a lentidão limite com que pode trabalhar, sempre convencendo o seu patrão 
de que está em seu ritmo normal”. 
 Com o sistema de pagamento de “salário por peças”, a resistência era 
maior: ora, se num primeiro momento este sistema pode fazer o operário produzir 
mais (querendo ganhar mais), este empenho se frustra. Na medida em que os 
“melhores tempos” são depois tomados como base para o estabelecimento do 
“salário base”, o operário vê aumentada a intensificação do trabalho sem aumento 
salarial correspondente. Daí que os operários mais experientes e conscientes 
vigiam, para que os ritmos negociados referentes a cada ofício sejam respeitados. 
 
- Fruto da “anarquia” da produção 
 Taylor estava muito preocupado com o que considerava desperdício (e 
conseqüente limitação do lucro), apontando para o essencial – o que ele qualifica 
de “anarquia” das formas de produção. Desde as manufaturas já se introduzira a 
separação entre o trabalho de concepção e o de execução, mas as tarefas 
específicas de cada trabalhador ainda eram deixadas nas “mãos” dos operários: o 
trabalho era ensinado verbalmente pelos próprios trabalhadores entre si, levando a 
coexistirem inúmeras formas de se fazer uma tarefa, uma grande diversidade dos 
métodos de trabalho, grande variedade de ferramentas utilizadas. 
 Aí é que está! Esta variedade de práticas e ferramentas ocultava à direção 
da fábrica o essencial, possibilitando ao operário continuar trabalhando “à sua 
maneira”, definindo o ritmo da produção. Este aspecto é fundamental, pois 
favorecia o que Taylor entendia como “cera”, tornando-a possível e eficaz. 
 5 
3. CENTRO DAS CRÍTICAS 
 O olhar sobre o obstáculo à expansão da produtividade (e do capital) 
representando pela “cera”, permite a Taylor perceber claramente a chamada“anarquia” das formas de produção e seus limites. Daí sua dura crítica àquele tipo 
de organização do trabalho e a ignorância da direção da produção, pondo o dedo 
no essencial: o estratégico papel do saber e do saber-fazer técnico-prático do 
trabalhador na sua resistência, apontando para uma luta contra o poder operário 
ao nível do conhecimento (que era então o tropeço do capital). 
 
4. A BUSCA DE EXPROPRIAÇÃO SISTEMÁTICA DO SABER OPERÁRIO 
 A chamada “Organização Científica do Trabalho” busca ir além da 
submissão formal do trabalhador, que se estabelecera com a configuração inicial 
do sistema de fábrica: as primeiras manufaturas (controle sobre os meios de 
trabalho, sobre a jornada). A busca de subordinação real é implementada através 
de técnicas, entretanto não se pode entender o taylorismo nas técnicas que dele 
se desenvolveram. São seus princípios que ordenam, hierarquizam e dispõem 
estas diferentes práticas. O sistema é o essencial: 
I. expansão do capital  obstáculo: saber-fazer do operador 
II. que fazer?  dissolver o obstáculo, metodicamente 
- de onde vem este saber (este poder)?  é conseqüência de uma larga 
acumulação de saber prático, transmitido oralmente de geração para geração. Mas 
não é um saber sistematizado. Ao contrário, é múltiplo, como suas ferramentas, 
fruto da transmissão oral na prática (da aprendizagem). Torna-se o grande 
instrumento de resistência à dominação capitalista. 
- Dissolver  expropriar os operários de seu saber. Como? Aí estava uma tarefa 
para a qual a nova Psicologia que se pretende científica – a Psicofísica, em seguida 
a Psicologia Diferencial e a Psicometria – dá suporte às práticas psi no mundo 
industrail. Vejamos os momentos desta empreitada: 
 
 
 6 
1º momento - Taylor afirma: “A primeira destas obrigações (de uma direção 
científica) é a coleta deliberada, feita por aqueles que fazem parte da direção, da 
grande massa de conhecimentos tradicionais que, no passado, estava na cabeça 
dos operários e que se exteriorizava pela habilidade física que eles tinham 
conseguido pelos anos de experiência. Esta obrigação de registrá-la, classificá-la e, 
em numerosos casos, de reduzi-la finalmente a leis e regras, até mesmo expressas 
por fórmulas matemáticas, é assumida voluntariamente por diretores científicos. 
(...) (Este princípio) pode ser considerado como o desenvolvimento de uma ciência 
que substitui o velho sistema de conhecimentos empíricos dos operários, 
conhecimentos que os operários têm, e que em numerosos casos, é tão exato 
como aquele ao qual a direção chega finalmente, mas que os operários, em 
novecentos e noventa e nove casos em mil, conservam unicamente no próprio 
espírito, mas do qual não existe texto explícito, permanente e completo”. 
 Observando e registrando todos os gestos, movimentos do trabalhador no 
desempenho de cada tarefa, assim como dos tempos em que se operam, constitui-
se um mapeamento completo das tarefas, reduzindo o saber operário complexo a 
seus elementos simples. “A cada movimento corresponde um tempo”, descrição 
cronometrada, viabilizando a construção da prescrição. 
2º momento – na medida em que todos os movimentos estejam catalogados, pode-
se então dar um novo perfil ao que restava do ofício, configurando “the best way”: 
em um trabalho de laboratório, escolhe-se entre os modos operatórios 
catalogados, os que melhor se adequem aos desígnios de maior produtividade. 
Suprime-se todo aquele movimento considerado supérfluo, equivocado, que 
aumente o desgaste (segundo a lógica do analista). Pode-se mesmo interferir no 
lay-out da oficina. 
 
3º momento – analisada cada fração, encontrada sua melhor forma, pode-se 
treinar rapidamente operários não-qualificados, “analfabetos” no ofício, para 
tornarem-se especialistas no detalhe. 
 7 
 Nestes termos, a proposta taylorista pode ser mais bem compreendida se 
estudamos seus quatro princípios, cuja aplicação tem sido constantemente 
reformulada por seus seguidores. 
 
a. Princípios do Taylorismo 
I. “Fracionamento” do trabalho 
 Apesar do trabalho já estar parcelado e já haver alguma separação entre 
concepção e execução, restava ainda ao trabalhador o comando do ritmo de 
trabalho e o conhecimento das partes do ofício. Este princípio propõe a 
desapropriação deste saber, bem como a definição dos melhores modos 
operatórios de trabalho, substituindo o critério individual do trabalhador, sua 
improvisação e operação técnico-prática, pelos métodos considerados racionais 
pela gerência a partir de seus estudos. 
 Estudando o movimento elementar de cada operação, decifrando quais 
seriam úteis para eliminar os que na racionalidade taylorista seriam inúteis, 
aumentando assim a produtividade e intensificando o trabalho. Tal análise é 
acompanhada do registro dos tempos com o intuito de identificar o tempo ótimo 
para realizar uma tarefa. Existia também a preocupação de adequar-padronizar os 
instrumentos ao novo modo de produzir. 
 Embora houvesse a idéia de determinar o melhor rendimento diário que 
pudesse ser realizado durante anos seguidos, sem gerar fadiga contraproducente 
em termos de produtividade, não se considerava, contudo, o quanto movimentos 
considerados supérfluos poderiam representar modos compensatórios em termos 
psico-físicos: Taylor ignorava os conhecimentos científicos que destacam a 
importância de relaxamentos e alongamentos na atividade física intensa e 
sistemática. Não considerava o desgaste psicológico conseqüente a um trabalho 
repetitivo, sob pressão, que pretendia tornar dispensável a inteligência e o 
pensamento. Sua preocupação com a fadiga física não poderia estar separada do 
aspecto psíquico, pois na verdade o bloqueio sobre a atividade cognitiva 
desorganiza a economia psicossomática, desprovendo-a de seu mediador. Se os 
 8 
efeitos visíveis aparecem sobre o corpo, na verdade é porque uma primeira 
violência já incidira sobre o aparelho cognitivo, fragilizando a capacidade de luta do 
organismo contra ao adoecimento, vulnerabilizando o trabalhador. 
 
II – Preparo heterônomo do trabalho: recrutamento, seleção e treinamento 
 Se o trabalho já foi observado, registrado, analisado, simplificado, 
padronizado, o trabalhador a ser recrutado e selecionado já não é mais alguém 
que tenha domínio de um ofício ou que tenha várias habilidades para desenvolver 
qualquer trabalho. O processo produtivo pretende já não mais estar a reboque de 
“homens extraordinários”, profissionais qualificados, demanda apenas habilidades 
pessoais muito específicas, de acordo com dadas aptidões humanas, para atender 
à exigência de um trabalho fracionado em uma tarefa prescrita, em um posto de 
trabalho. Por exemplo, em um caso uma “força bovina”, em outro a rapidez de 
percepção e reação na inspeção de qualquer objeto. 
 Estando sob domínio dos empresários (da gerência) o conteúdo inteligente 
do trabalho, o recrutamento e seleção de trabalhadores mudam de características, 
já não precisam (nem devem) ser executados por mestres de ofício. Pode ser feita 
a partir de uma investigação psicológica – nos moldes do que era aceito como 
científico naquele momento (Psicofísica, depois Psicologia Diferencial, Psicometria) 
– sobre as habilidades específicas do trabalho fracionado e os instrumentos para 
detectá-las, medi-las. Vai se constituindo uma dada Psicologia Industrial neste 
circuito, permitindo escolher “racionalmente” os trabalhadores em um mercado de 
mão de obra muito mais amplo. O treinamento, a “qualificação”, passa a ser 
controlada pela gerência, executando-a “on the job”, rapidinha, em uma tarefa 
reduzida, cuja repetitividade formaria a “especialização”. 
 
III – “Colaboração” e controle 
 Taylor propôs a reformulação do papel da programação e controle do 
trabalho, individualizando-o. O trabalho é “aprontado”, pré-projetado pela gerência 
 9 
para cada operário individualmente, controlando o trabalhotanto nos movimentos 
operatórios quanto no tempo padrão de execução. 
 Dividir para reinar, individualizar para dificultar a organização e 
solidariedade operária, fragmentar e ter sob controle os fragmentos, também 
significavam ganhos de produção, em uma visão estreita. Entretanto, Taylor a 
apresenta como uma forma de colaboração da gerência com os operários, 
dispensando-os desta faina de concepção. 
 Taylor afirma: “graças à (...) instrução minuciosa, o trabalho torna-se tão 
cômodo e fácil para o operário que, à primeira vista, parece que o sistema tende a 
convertê-lo em mero autômato, em verdadeiro boneco de madeira. Os operários 
observam habituadamente, ao trabalharem pela primeira vez sob o novo sistema: 
por que não me permitem pensar ou agir? Há sempre alguém intervindo ou 
fazendo por mim”. Não há como aceitar tal contribuição da gerência em silêncio: 
obrigado a excluir a atividade pensante do cotidiano de seu trabalho, o operário 
exercita a divisão da sua vida psicológica, desorganiza sua economia 
psicossomática. 
 Além do caráter político de dominação sobre o operário – tornando-o 
dependente -, do caráter de perturbação psicossomática, a eliminação do trabalho 
qualificado e da iniciativa e autonomia operária, permitiu o pagamento de salários 
em defasagem com relação aos ganhos de produtividade e dos lucros com a 
intensificação do trabalho conquistada. 
 
IV – Execução: fixação de tarefas e divisão de responsabilidades 
 Diretamente articulado ao princípio anterior (para muitos trata-se do mesmo 
princípio), Taylor fala em dividir eqüitativamente o trabalho e as responsabilidades 
entre a direção e os operários. Ou seja, a direção incumbe-se de todas as 
atribuições, imaginando-se um membro da direção para cada três operários. 
Embora cada operário vá trabalhar muito, suas tarefas já lhe são entregues 
prontas, já teria sido previsto com um dia de antecedência o que deve fazer, como 
e o tempo concedido para faze-lo. 
 10 
 Dividir “quase igual” significa mesmo é pretender colocar em um pólo a 
concepção, em outro a execução das tarefas, sujeitando os trabalhadores ao 
processo de trabalho, somatório de tarefas prescritas. 
 Vemos surgir duas novas figuras na fábrica (a serem dispensadas com a 
linha de montagem fordista) que atraem para si o ódio dos trabalhadores: 
 o analista de tempos e movimentos, que calcula a performance ideal; 
 o apontador, encarregado de mensurar a produtividade de cada operário, 
individualmente, premiando os mais produtivos, punindo os “preguiçosos”, 
concretizando o plano de individualização dos salários. 
 Quanto à denominação incorporada pelo taylorismo – organização científica 
do trabalho – analisemos suas pretensões. Para alguns trata-se de simplificação do 
trabalho, economizando tempo (“tempo é dinheiro”), intensificando a produção. A 
denominação científica supõe a idéia de uma racionalidade inerente ao processo 
produtivo, como se este fosse dotado de leis naturais a que os homens e sua 
ciência devessem subordinar-se. A própria denominação funciona como uma 
legitimação da perspectiva taylorista, afinal a idéia de organização científica implica 
dispor em ordem segundo princípios racionais e objetivos que estariam fora dos 
homens, inscritos de uma maneira neutra no mundo, cabendo à ciência observar e 
sistematizar. O taylorismo seria fruto da ordem da verdade, opondo-se à anarquia 
dos métodos empíricos tradicionais. Vemos aqui uma operação ideológica que 
permite mascarar o conteúdo político da técnica de uma forma hábil, ocultando o 
caráter de tecnologia disciplinar adequada a um dado momento de acumulação de 
capital, visando construir um trabalhador adequado, dócil sócio-politicamente e 
rentável economicamente. 
 
5. PARADOXOS E CONFLITOS 
 Taylor apresenta um razoável entendimento das dificuldades para 
implementar esta nova lógica. Neste sentido talvez se possa apontar que a grande 
inovação taylorista estaria na proposta de um pacto aos trabalhadores: submeter-
se ao trabalho prescrito em troca de menor fadiga, maior produtividade e maior 
 11 
salário. Ou seja, só conquistando a adesão dos trabalhadores seria possível 
encaminhar tal tipo de funcionamento da produção. 
 Já a pretensão de completo domínio do processo produtivo esbarra na 
complexidade do funcionamento de um sistema sócio-técnico. Se o objetivo era 
impedir qualquer tipo de comunicação horizontal entre os operadores, a própria 
realidade do trabalho conduzia ao fracasso. Pois a complexidade da vida no 
trabalho exige a intervenção do trabalhador, na medida em que são solicitados a 
darem respostas aos problemas cotidianos que emergem no circuito da produção. 
O planejamento de laboratório, a prescrição construída distante da realidade 
imediata da produção nem sempre consegue dar conta do necessário, levando os 
operadores a se unirem espontaneamente para a descoberta de modos 
operatórios reguladores da variabilidade e dos limites da prescrição. A mobilização 
social e subjetiva para a construção do trabalho efetivamente realizado emerge 
como um elemento fundamental a ser considerado, o que vai ser explorado por 
diversas abordagens, como veremos.

Continue navegando