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PSICOLOGIA DO TRABALHO E TAYLORISMO Milton Athayde, 2000 Através da manufatura, o “sistema de fábrica” capitalista deu mais um passo significativo na subordinação do trabalhador (dominação psico-sócio-política e exploração econômica). O controle do processo de trabalho pelo capital vai se dando de fora (controle sobre o mercado e o produto transformado em mercadoria) para dentro do processo de trabalho (sobre o objeto de trabalho, sobre os meios de trabalho e em seguida sobre a força de trabalho). Entretanto, não se encontra aí uma subordinação integral, apenas uma subordinação formal da força de trabalho, pois no plano afetivo e cognitivo os trabalhadores ainda mantinham um significativo controle sobre o saber-fazer. Esse conhecimento técnico-prático sobre o processo de trabalho era usado como poderoso instrumento de resistência, colocando limites ao capital. Foi exatamente o que Taylor no início do século detectou como barreira a ser transposta, questão a ser enfrentada. Pretende-se aqui chamar atenção para as novas experimentações desenvolvidas a partir do final do século XIX/inicio do século XX – tendo como laboratório os EUA – e que configuraram o que se denomina “taylorismo”. Foi no interior dessas novas experiências que se operou um dado modo de pensar-agir em Psicologia do Trabalho, até hoje predominante no imaginário das práticas psi. 1. TAYLOR E SEU CONTEXTO Frederick Winslow Taylor (1856-1915), considerado por muitos o fundador da moderna Teoria da Administração, nasceu nos EUA, filho de família rica, de formação puritana (em que a dedicação ao trabalho tem um papel decisivo). Ao 2 invés de fazer sua imediata entrada na Universidade1, decide iniciar sua profissionalização de modo pouco usual em sua classe social: como aprendiz numa pequena oficina da Filadélfia, cujos proprietários eram amigos da família. Aos 22 anos emprega-se na Midvale Steel Company, uma das mais avançadas empresas do ramo siderúrgico, tornando-se sucessivamente chefe-ferramenteiro, 2º contramestre, contramestre, chefe-mecânico, diretor de pesquisas e aos 26 anos engenheiro (neste período resolvera fazer o curso de engenharia). Escreve textos em 1895, 1903 e 1906, onde expõe as idéias que estava experimentando. É importante ler estes materiais (temos em português um livro – Princípios de Administração Científica – que foi publicado em 1966 pela editora Atlas, trazendo um apanhado de suas idéias) para que possamos entender suas idéias, nem confundindo os princípios com as técnicas, nem misturando suas propostas com as de seus “seguidores”. Entre estes podem ser citados Gantt, Emerson, Barth, mas deve-se destacar o casal de psicólogos Franck e Lilian Gilbreth, que publicam em 1917 seu livro Applied Motion Study, apresentando um conjunto de técnicas que se tornaram referência com o nome de “Estudo de Tempos e Movimentos”. A experiência que Taylor pôde ter com o mundo do trabalho fabril, a partir de um contato mais próximo com o chão de fábrica junto aos operários, torna-o particularmente sensível à realidade social vigente: * Por um lado, um processo de concentração e centralização de capital nos países mais industrializados, intensificado pela fase monopolista do capitalismo, refletindo- se no crescimento cada vez maior das fábricas, buscando-se maior produtividade, reunindo milhares de trabalhadores em um mesmo espaço. * Por outro lado, a presença do conflito entre o processo produtivo cada vez mais complexo e o poder residual do trabalhador, exercido através do controle sobre o conhecimento técnico-prático do trabalho. 1 As razões? Há versões. A mais divulgada informa que ele não conseguiu entrar para o curso de direito da Harvard University (desejo de família) devido a problemas de visão. Há quem afirme que de fato ele foi reprovado, isto porque não pretendia mesmo seguir tal orientação familiar. 3 O taylorismo tem aí suas raízes, dando por estas razões maior visibilidade para o conflito entre a demanda de expansão do capital e o forte obstáculo no retardo do ritmo de trabalho que conseguia impor o movimento operário. 2. A “CERA” Este bloqueio à intensificação do trabalho operado pelos trabalhadores vai ser o desafio enfrentado por Taylor. Qual o seu significado? - Remédio ao desemprego O final do século XIX foi cenário de uma das crises econômicas do capitalismo, com o desemprego que lhe é inerente, somado a suas repercussões internacionais: grande número de imigrantes chegados aos EUA, à procura de emprego. E mais, com a mecanização expulsando uma massa considerável de operários manufatureiros, foi natural que se alastrasse a idéia de que se todos evitassem trabalhar mais, haveria maior oferta de empregos. Assim, após se dirigir contra determinadas máquinas (movimento luddista), a luta pelo emprego assume a forma de disputa pela negociação de um número preciso e limitado de tarefas por ofício. Além do que, na quase ausência de formas de seguro social, a sobrevivência da força de trabalho de cada um precisava ser garantida cotidianamente, resistindo à intensificação do trabalho provocadora do seu desgaste precoce. Afinal, o que Taylor chamou de “indolência sistemática” do trabalhador, “perda sistemática”, “cera” em nossa gíria, corresponde à situação em que o trabalhador produz muito menos do que poderia, proposital e sistematicamente, encontra aí sua compreensão. Mas na medida em que se configurava como obstáculo à expansão do capital, Taylor a ela reage, envolvido na ilusão de que uma maior produtividade do trabalho traria ganhos semelhantes para patrões e trabalhadores. 4 Mas foi também em relação aos salários, sua forma de cálculo e fixação, que se faz a resistência dos trabalhadores e a crítica de Taylor. - Remédio ao sistema de salário Taylor afirma: “Não se pode encontrar, em qualquer empresa moderna importante, qualquer que seja a forma de pagamento dos salários, um operário competente que não dedique uma importante parte de seu tempo ao estudo de qual é a lentidão limite com que pode trabalhar, sempre convencendo o seu patrão de que está em seu ritmo normal”. Com o sistema de pagamento de “salário por peças”, a resistência era maior: ora, se num primeiro momento este sistema pode fazer o operário produzir mais (querendo ganhar mais), este empenho se frustra. Na medida em que os “melhores tempos” são depois tomados como base para o estabelecimento do “salário base”, o operário vê aumentada a intensificação do trabalho sem aumento salarial correspondente. Daí que os operários mais experientes e conscientes vigiam, para que os ritmos negociados referentes a cada ofício sejam respeitados. - Fruto da “anarquia” da produção Taylor estava muito preocupado com o que considerava desperdício (e conseqüente limitação do lucro), apontando para o essencial – o que ele qualifica de “anarquia” das formas de produção. Desde as manufaturas já se introduzira a separação entre o trabalho de concepção e o de execução, mas as tarefas específicas de cada trabalhador ainda eram deixadas nas “mãos” dos operários: o trabalho era ensinado verbalmente pelos próprios trabalhadores entre si, levando a coexistirem inúmeras formas de se fazer uma tarefa, uma grande diversidade dos métodos de trabalho, grande variedade de ferramentas utilizadas. Aí é que está! Esta variedade de práticas e ferramentas ocultava à direção da fábrica o essencial, possibilitando ao operário continuar trabalhando “à sua maneira”, definindo o ritmo da produção. Este aspecto é fundamental, pois favorecia o que Taylor entendia como “cera”, tornando-a possível e eficaz. 5 3. CENTRO DAS CRÍTICAS O olhar sobre o obstáculo à expansão da produtividade (e do capital) representando pela “cera”, permite a Taylor perceber claramente a chamada“anarquia” das formas de produção e seus limites. Daí sua dura crítica àquele tipo de organização do trabalho e a ignorância da direção da produção, pondo o dedo no essencial: o estratégico papel do saber e do saber-fazer técnico-prático do trabalhador na sua resistência, apontando para uma luta contra o poder operário ao nível do conhecimento (que era então o tropeço do capital). 4. A BUSCA DE EXPROPRIAÇÃO SISTEMÁTICA DO SABER OPERÁRIO A chamada “Organização Científica do Trabalho” busca ir além da submissão formal do trabalhador, que se estabelecera com a configuração inicial do sistema de fábrica: as primeiras manufaturas (controle sobre os meios de trabalho, sobre a jornada). A busca de subordinação real é implementada através de técnicas, entretanto não se pode entender o taylorismo nas técnicas que dele se desenvolveram. São seus princípios que ordenam, hierarquizam e dispõem estas diferentes práticas. O sistema é o essencial: I. expansão do capital obstáculo: saber-fazer do operador II. que fazer? dissolver o obstáculo, metodicamente - de onde vem este saber (este poder)? é conseqüência de uma larga acumulação de saber prático, transmitido oralmente de geração para geração. Mas não é um saber sistematizado. Ao contrário, é múltiplo, como suas ferramentas, fruto da transmissão oral na prática (da aprendizagem). Torna-se o grande instrumento de resistência à dominação capitalista. - Dissolver expropriar os operários de seu saber. Como? Aí estava uma tarefa para a qual a nova Psicologia que se pretende científica – a Psicofísica, em seguida a Psicologia Diferencial e a Psicometria – dá suporte às práticas psi no mundo industrail. Vejamos os momentos desta empreitada: 6 1º momento - Taylor afirma: “A primeira destas obrigações (de uma direção científica) é a coleta deliberada, feita por aqueles que fazem parte da direção, da grande massa de conhecimentos tradicionais que, no passado, estava na cabeça dos operários e que se exteriorizava pela habilidade física que eles tinham conseguido pelos anos de experiência. Esta obrigação de registrá-la, classificá-la e, em numerosos casos, de reduzi-la finalmente a leis e regras, até mesmo expressas por fórmulas matemáticas, é assumida voluntariamente por diretores científicos. (...) (Este princípio) pode ser considerado como o desenvolvimento de uma ciência que substitui o velho sistema de conhecimentos empíricos dos operários, conhecimentos que os operários têm, e que em numerosos casos, é tão exato como aquele ao qual a direção chega finalmente, mas que os operários, em novecentos e noventa e nove casos em mil, conservam unicamente no próprio espírito, mas do qual não existe texto explícito, permanente e completo”. Observando e registrando todos os gestos, movimentos do trabalhador no desempenho de cada tarefa, assim como dos tempos em que se operam, constitui- se um mapeamento completo das tarefas, reduzindo o saber operário complexo a seus elementos simples. “A cada movimento corresponde um tempo”, descrição cronometrada, viabilizando a construção da prescrição. 2º momento – na medida em que todos os movimentos estejam catalogados, pode- se então dar um novo perfil ao que restava do ofício, configurando “the best way”: em um trabalho de laboratório, escolhe-se entre os modos operatórios catalogados, os que melhor se adequem aos desígnios de maior produtividade. Suprime-se todo aquele movimento considerado supérfluo, equivocado, que aumente o desgaste (segundo a lógica do analista). Pode-se mesmo interferir no lay-out da oficina. 3º momento – analisada cada fração, encontrada sua melhor forma, pode-se treinar rapidamente operários não-qualificados, “analfabetos” no ofício, para tornarem-se especialistas no detalhe. 7 Nestes termos, a proposta taylorista pode ser mais bem compreendida se estudamos seus quatro princípios, cuja aplicação tem sido constantemente reformulada por seus seguidores. a. Princípios do Taylorismo I. “Fracionamento” do trabalho Apesar do trabalho já estar parcelado e já haver alguma separação entre concepção e execução, restava ainda ao trabalhador o comando do ritmo de trabalho e o conhecimento das partes do ofício. Este princípio propõe a desapropriação deste saber, bem como a definição dos melhores modos operatórios de trabalho, substituindo o critério individual do trabalhador, sua improvisação e operação técnico-prática, pelos métodos considerados racionais pela gerência a partir de seus estudos. Estudando o movimento elementar de cada operação, decifrando quais seriam úteis para eliminar os que na racionalidade taylorista seriam inúteis, aumentando assim a produtividade e intensificando o trabalho. Tal análise é acompanhada do registro dos tempos com o intuito de identificar o tempo ótimo para realizar uma tarefa. Existia também a preocupação de adequar-padronizar os instrumentos ao novo modo de produzir. Embora houvesse a idéia de determinar o melhor rendimento diário que pudesse ser realizado durante anos seguidos, sem gerar fadiga contraproducente em termos de produtividade, não se considerava, contudo, o quanto movimentos considerados supérfluos poderiam representar modos compensatórios em termos psico-físicos: Taylor ignorava os conhecimentos científicos que destacam a importância de relaxamentos e alongamentos na atividade física intensa e sistemática. Não considerava o desgaste psicológico conseqüente a um trabalho repetitivo, sob pressão, que pretendia tornar dispensável a inteligência e o pensamento. Sua preocupação com a fadiga física não poderia estar separada do aspecto psíquico, pois na verdade o bloqueio sobre a atividade cognitiva desorganiza a economia psicossomática, desprovendo-a de seu mediador. Se os 8 efeitos visíveis aparecem sobre o corpo, na verdade é porque uma primeira violência já incidira sobre o aparelho cognitivo, fragilizando a capacidade de luta do organismo contra ao adoecimento, vulnerabilizando o trabalhador. II – Preparo heterônomo do trabalho: recrutamento, seleção e treinamento Se o trabalho já foi observado, registrado, analisado, simplificado, padronizado, o trabalhador a ser recrutado e selecionado já não é mais alguém que tenha domínio de um ofício ou que tenha várias habilidades para desenvolver qualquer trabalho. O processo produtivo pretende já não mais estar a reboque de “homens extraordinários”, profissionais qualificados, demanda apenas habilidades pessoais muito específicas, de acordo com dadas aptidões humanas, para atender à exigência de um trabalho fracionado em uma tarefa prescrita, em um posto de trabalho. Por exemplo, em um caso uma “força bovina”, em outro a rapidez de percepção e reação na inspeção de qualquer objeto. Estando sob domínio dos empresários (da gerência) o conteúdo inteligente do trabalho, o recrutamento e seleção de trabalhadores mudam de características, já não precisam (nem devem) ser executados por mestres de ofício. Pode ser feita a partir de uma investigação psicológica – nos moldes do que era aceito como científico naquele momento (Psicofísica, depois Psicologia Diferencial, Psicometria) – sobre as habilidades específicas do trabalho fracionado e os instrumentos para detectá-las, medi-las. Vai se constituindo uma dada Psicologia Industrial neste circuito, permitindo escolher “racionalmente” os trabalhadores em um mercado de mão de obra muito mais amplo. O treinamento, a “qualificação”, passa a ser controlada pela gerência, executando-a “on the job”, rapidinha, em uma tarefa reduzida, cuja repetitividade formaria a “especialização”. III – “Colaboração” e controle Taylor propôs a reformulação do papel da programação e controle do trabalho, individualizando-o. O trabalho é “aprontado”, pré-projetado pela gerência 9 para cada operário individualmente, controlando o trabalhotanto nos movimentos operatórios quanto no tempo padrão de execução. Dividir para reinar, individualizar para dificultar a organização e solidariedade operária, fragmentar e ter sob controle os fragmentos, também significavam ganhos de produção, em uma visão estreita. Entretanto, Taylor a apresenta como uma forma de colaboração da gerência com os operários, dispensando-os desta faina de concepção. Taylor afirma: “graças à (...) instrução minuciosa, o trabalho torna-se tão cômodo e fácil para o operário que, à primeira vista, parece que o sistema tende a convertê-lo em mero autômato, em verdadeiro boneco de madeira. Os operários observam habituadamente, ao trabalharem pela primeira vez sob o novo sistema: por que não me permitem pensar ou agir? Há sempre alguém intervindo ou fazendo por mim”. Não há como aceitar tal contribuição da gerência em silêncio: obrigado a excluir a atividade pensante do cotidiano de seu trabalho, o operário exercita a divisão da sua vida psicológica, desorganiza sua economia psicossomática. Além do caráter político de dominação sobre o operário – tornando-o dependente -, do caráter de perturbação psicossomática, a eliminação do trabalho qualificado e da iniciativa e autonomia operária, permitiu o pagamento de salários em defasagem com relação aos ganhos de produtividade e dos lucros com a intensificação do trabalho conquistada. IV – Execução: fixação de tarefas e divisão de responsabilidades Diretamente articulado ao princípio anterior (para muitos trata-se do mesmo princípio), Taylor fala em dividir eqüitativamente o trabalho e as responsabilidades entre a direção e os operários. Ou seja, a direção incumbe-se de todas as atribuições, imaginando-se um membro da direção para cada três operários. Embora cada operário vá trabalhar muito, suas tarefas já lhe são entregues prontas, já teria sido previsto com um dia de antecedência o que deve fazer, como e o tempo concedido para faze-lo. 10 Dividir “quase igual” significa mesmo é pretender colocar em um pólo a concepção, em outro a execução das tarefas, sujeitando os trabalhadores ao processo de trabalho, somatório de tarefas prescritas. Vemos surgir duas novas figuras na fábrica (a serem dispensadas com a linha de montagem fordista) que atraem para si o ódio dos trabalhadores: o analista de tempos e movimentos, que calcula a performance ideal; o apontador, encarregado de mensurar a produtividade de cada operário, individualmente, premiando os mais produtivos, punindo os “preguiçosos”, concretizando o plano de individualização dos salários. Quanto à denominação incorporada pelo taylorismo – organização científica do trabalho – analisemos suas pretensões. Para alguns trata-se de simplificação do trabalho, economizando tempo (“tempo é dinheiro”), intensificando a produção. A denominação científica supõe a idéia de uma racionalidade inerente ao processo produtivo, como se este fosse dotado de leis naturais a que os homens e sua ciência devessem subordinar-se. A própria denominação funciona como uma legitimação da perspectiva taylorista, afinal a idéia de organização científica implica dispor em ordem segundo princípios racionais e objetivos que estariam fora dos homens, inscritos de uma maneira neutra no mundo, cabendo à ciência observar e sistematizar. O taylorismo seria fruto da ordem da verdade, opondo-se à anarquia dos métodos empíricos tradicionais. Vemos aqui uma operação ideológica que permite mascarar o conteúdo político da técnica de uma forma hábil, ocultando o caráter de tecnologia disciplinar adequada a um dado momento de acumulação de capital, visando construir um trabalhador adequado, dócil sócio-politicamente e rentável economicamente. 5. PARADOXOS E CONFLITOS Taylor apresenta um razoável entendimento das dificuldades para implementar esta nova lógica. Neste sentido talvez se possa apontar que a grande inovação taylorista estaria na proposta de um pacto aos trabalhadores: submeter- se ao trabalho prescrito em troca de menor fadiga, maior produtividade e maior 11 salário. Ou seja, só conquistando a adesão dos trabalhadores seria possível encaminhar tal tipo de funcionamento da produção. Já a pretensão de completo domínio do processo produtivo esbarra na complexidade do funcionamento de um sistema sócio-técnico. Se o objetivo era impedir qualquer tipo de comunicação horizontal entre os operadores, a própria realidade do trabalho conduzia ao fracasso. Pois a complexidade da vida no trabalho exige a intervenção do trabalhador, na medida em que são solicitados a darem respostas aos problemas cotidianos que emergem no circuito da produção. O planejamento de laboratório, a prescrição construída distante da realidade imediata da produção nem sempre consegue dar conta do necessário, levando os operadores a se unirem espontaneamente para a descoberta de modos operatórios reguladores da variabilidade e dos limites da prescrição. A mobilização social e subjetiva para a construção do trabalho efetivamente realizado emerge como um elemento fundamental a ser considerado, o que vai ser explorado por diversas abordagens, como veremos.
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