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TEORIA GERAL DOS CONTRATOS (ATÉ EVICÇÃO)

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TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
1. Conceito de Contrato:
Trata-se de um acordo de vontades entre duas ou mais pessoas mediante a celebração de um negócio jurídico objetivando promover a criação, modificação ou extinção de direitos, nos termos e limites do ordenamento jurídico vigente.
2. Características: 
2.1. Bilateralidade: uma vez que se exige a participação de dois ou mais sujeitos. Obs.: o contrato para ser válido precisa de cumprimento de sua bilateralidade, ou seja, faz-se necessário o envolvimento de duas ou mais pessoas externando o seu consentimento na celebração do negócio jurídico. Cabe ressaltar que, a mencionada característica não exige obrigações onerosas entre os sujeitos envolvidos na relação jurídica de natureza econômica, conforme podemos citar o contrato de doação.
2.2. Negócio Jurídico: Art. 104 do CC; por se tratar de um negócio jurídico, para que ele tenha validade é necessário o preenchimento de alguns requisitos: agente capaz; objeto lícito, possível, determinado ou determinável; forma prescrita ou não defesa em lei (tenha previsão legal ou não haja vedação estabelecida no ordenamento jurídico).
2.3. Finalidade: o contrato trata-se de uma fonte de obrigação, nestes termos, podemos concluir que o contrato traz consigo a finalidade de criar, modificar ou extinguir direitos mediante o estabelecimento de obrigações de dar, fazer ou não fazer. 
OBS: a doutrina civilista contemporânea mediante uma análise constitucionalista dos contratos tem preceituado a devida observância a função social dos contratos, mitigando a autonomia dos agentes envolvidos em sua celebração.
3. Conceito de contrato à luz da jurisprudência dos tribunais:
Hodiernamente é defino como sendo um negócio jurídico por meio do qual as partes envolvidas, mediante autonomia da vontade convergem o seu interesse, criando um dever jurídico principal de dar, fazer ou não fazer, bem como deveres acessórios, tendo em vista a devida observância aos princípios da boa-fé e da função social dos contratos.
4. Princípios: 
4.1. Conceito: são alicerces que vão indicar o caminho a ser seguido por todo um ordenamento jurídico, são ideias genéricas que vão interpretar e trazer significado às normas.
Para Sarlet et al. (2019), os princípios são tipos do gênero normas jurídicas, compostos de um importante grau de abstração, vagueza e indeterminação, bem como de normatividade jurídica e, portanto, de eficácia. 
4.2. Princípios que regem os contratos: 
4.2.1. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE: o referido princípio resguarda a liberdade que as partes envolvidas no negócio jurídico têm para contratar. 
OBS: Hodiernamente o princípio da autonomia da vontade não é absoluto, encontrando exigência mitigadora na função social dos contratos, o respeito da dignidade da pessoa humana, bem como na boa-fé contratual. 
 4.2.2. PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE CONTRATUAL: o referido princípio impõe aos agentes envolvidos na celebração contratual o cumprimento do que fora pactuado. Nesse contexto, a doutrina civilista dispõe que o contrato faz lei entre as partes (pacta sunt servanda).
4.2.3. PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS DO CONTRATO: quanto ao referido princípio, a doutrina civilista auxiliada pela jurisprudência dispõe que o negócio jurídico materializado através da celebração de um contrato produz efeito apenas entre os contratantes. 
4.2.4. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS: O princípio da função social dos contratos tem a sua fundamentação nos termos do artigo 421 do CC, trazendo consigo o escopo de limitar autonomia privada em prol de valores coletivos previstos na Constituição Federal. 
OBS²: Ainda cabe ressaltar que o mencionado princípio servirá de balizador para solução de conflito envolvendo o interesse particular e o coletivo, devendo este último prevalecer. 
· Fundamentação Jurídica: 
Art. 421. A liberdade será exercida nos limites da função social do contrato.
Parágrafo Único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.
4.2.5. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ: o princípio da boa-fé tem o seu regramento estabelecido nos termos do artigo 422 do CC, criando para os contratantes a exigência de um padrão ético de cultura, sob pena do negócio jurídico celebrado não surtir efeito. 
A jurisprudência dos tribunais superiores tem firmado o entendimento em que os pactuantes do negócio jurídico celebrado, além de atender a função social do contrato, devem atuar de forma honesta/proba, ética e seguindo os padrões da boa-fé.
Nesse mesmo sentido, a doutrina civilista tem elevado o princípio da boa-fé como cláusula geral. 
4.2.6. PRINCÍPIO DA EQUIVALÊNCIA MATERIAL: o princípio citado tem como fundamento de validade o equilíbrio entre os agentes envolvidos na relação jurídica, devendo assim haver um equilíbrio nas prestações estabelecidas entre os contratantes, evitando o estabelecimento de cláusulas abusivas ou exorbitante.
5. Fases de formação dos contratos:
Introdução: A formação do contrato enseja a ocorrência de alguns momentos específicos, sendo assim denominado pela doutrina civilista de fases de formação dos contratos.
Momentos específicos para formatação do contrato enquanto negócio jurídico:
5.1. Negociações preliminares ou puntuação: 
5.1.1. CONCEITO: trata-se da fase de formação dos contratos na qual as partes envolvidas no negócio jurídico começam a considerar a possibilidade de contratar mediante a formatação das tratativas, antecedendo a oferta propriamente dita.
5.1.2. VÍNCULO ENTRE AS PARTES: a doutrina auxiliada pela jurisprudência tem firmado que as negociações preliminares não geram vínculos entre os participantes pois antecede a oferta propriamente dita.
5.1.3. RESPONSABILIDADE CIVIL PRÉ-CONTRATUAL: a doutrina civilista majoritária tem admitida a obrigatoriedade de indenização por rompimento da expectativa criada, denominando assim de responsabilidade pré-contratual, desde que haja comprovação do efetivo dano causado.
5.1.4. Sujeitos: 
		1 – Aquele que faz a oferta: ofertante ou policitante.
2 – Aquele que pode fazer a aceitação: aceitante ou oblato. 
5.2. Proposta/oferta/policitação/oblação: 
5.2.1. CONCEITO: trata-se da declaração de vontade dirigida a alguém com quem se quer contratar, contendo todas as cláusulas essenciais do negócio, de modo que com a simples aceitação o contrato já se aperfeiçoa. 
5.2.2. CARACTERÍSTICAS: A doutrina civilista dispõe que para a proposta ser válida precisa do preenchimento dos seguintes requisitos: precisão, clareza, seriedade e definitividade. 
5.2.3. PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO DA PROPOSTA: art. 427, primeira parte, CC – A proposta obriga o proponente. 
OBS: O proponente, de acordo com o princípio acima referido, encontra-se obrigado a cumprir o que fora ofertado sob pena de reparar perdas e/ou danos gerados. 
5.2.4 EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO DA PROPOSTA: 
1. Art. 427, segunda parte, CC – se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.
2. Art. 428, CC – Proposta sem prazo: 
· a pessoa presente (considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante): não foi imediatamente aceita
· a pessoa ausente: tiver decorrido tempo suficiente para a resposta chegar ao conhecimento do proponente.
		- Proposta com prazo:
· feita a pessoa ausente: não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado. 
· Se antes dela, ou simultaneamente: chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.
5.2.5. OFERTA PÚBLICA: o legislador infraconstitucional nos termos do artigo 429 do CC, estabeleceu uma equivalência entre a oferta ao público e a proposta quando preenchidos os requisitos essenciais ao contrato. Ainda cabe ressaltar que a oferta pública poderá ser revogada pela mesma via de sua divulgação desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.
6. Aceitação: 
6.1. Conceito: Trata-se da manifestação de vontade dentro do prazo aderindo à outra integralmente à proposta. 
6.2. Conforme preceituao artigo 431, CC, a aceitação fora do prazo com adições, restrições ou modificações, importará em nova proposta.
							Contraproposta.
6.3. Arrependimento eficaz: trata-se de um instituto jurídico que torna inexistente a aceitação.
	 Hipóteses: 
1. Se antes da aceitação, chegar ao proponente a retratação do aceitante. (Art. 433, CC)
2. Com a aceitação chegar à aceitação. 
 6.4. Contrato entre presentes (inter presentes): É aquele em que as partes pessoalmente ou por representantes manifestam seu consentimento mesmo que estejam distanciados, desde que a proposta e aceitação aconteçam em ato contínuo e sem intermediários (ex: telefone). 
	 Formação do contrato: se formará com a imediata aceitação do oblato. 
 6.5. Contrato entre ausentes (inter absentes) – Contratos Epistolares: É aquele celebrado entre duas ou mais pessoas propondo-se, aceitando-se e concluindo-se por meio de cartas, telegramas e e-mails e outros meios semelhantes. 
	 Formação do contrato: o legislador infraconstitucional adotou a seguinte teoria: a) Regra Geral: teoria da agnição ou da declaração na modalidade da expedição. Para a referida teoria não basta escrever a resposta favorável, é preciso remete-la. (Art. 434, CC). Portanto, podemos concluir que o vínculo contratual se torna obrigatório no momento da expedição da aceitação, salvo algumas exceções no próprio ordenamento jurídico, são elas: 
	 Teoria da recepção:
a. Arrependimento eficaz: se antes dela ou com ela chegar a proponente a retratação do aceitante. 
b. Se o proponente houver se comprometido a esperar a resposta. 
c. Se ela não chegar no prazo convencionado. 
Lugar de celebração do contrato: reputa-se o contrato no lugar em que foi proposto – art. 435, CC.
Lugar de celebração de contrato eletrônico: reputa-se o contrato no lugar onde o proponente se encontra.
7. Vícios Redibitórios: 
7.1. Conceito: São defeitos ocultos que diminuem a qualidade ou quantidade de um bem, tornando-o improprio ao uso a que é destinado ou diminuindo o seu valor.
7.2. Regramento jurídico: arts. 441 ao 446, CC.
7.3. Requisitos: 
7.3.1. Deve ser um contrato comutativo – marcado pela presença de prestações conhecidas e equivalentes a serem prestadas pelos sujeitos envolvidos no negócio jurídico. 
a. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas.
7.3.2. Tem que se tratar de um vício/defeito oculto – não seja conhecido pelo adquirente.
7.3.3. Diminuição da qualidade ou quantidade do produto, tornando-o improprio para o uso a que se destina, ou, diminuindo o seu valor
7.4. Direitos resguardados ao contratante:
5.4.1. Poderá rejeitar a coisa, redibindo o contrato, art. 441, CC;
5.4.2: Abatimento no preço, art. 442, CC.
OBS: Art. 503, CC. Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma não autoriza a rejeição de todas. 
7.5. Obrigação do alienante: 
7.5.1. Alienante conhecia o vício ou defeito da coisa – má-fé: Restituirá o que recebeu com perdas e danos.
7.5.2. Alienante não conhecia o vício ou defeito da coisa – boa-fé.
Restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato.
OBS: Perecimento da coisa por vício oculto em poder do alienatário.
Art. 444, CC. A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição.
7.6. Prazo para se pleitear as consequências decorrentes do vício redibitório: Tempo decadencial em razão do bem e do tempo da constatação do defeito.
7.6.1. Vício constatável desde logo: prazo contado da entrega efetiva.
7.6.1.1. BEM MÓVEL: 30 dias
7.6.1.2. BEM IMÓVEL: 1 ano (se adquirente já na posse, 6 meses contados da alienação).
7.6.1.3. Regramento Jurídico: art. 445, CC.
7.6.2. Vício, por sua natureza, constatável só mais tarde (oculto): prazo contado da ciência do defeito.
7.6.2.1. BEM MÓVEL: Até 180 dias 
7.6.2.2. BEM IMÓVEL: 1 ano
7.6.2.3. Regramento Jurídico: art. 445, §1º, CC.
8. Evicção: 
8.1. Conceito: Consiste na perda da posse ou propriedade de um bem em virtude de uma decisão judicial que o atribui a outrem.
8.2. Regramento jurídico: art. 447 a 457, CC. 
8.3. Sujeitos da evicção: 
8.3.1. Evicto: é aquele que sofre os efeitos da evicção; é a parte prejudicada; é o adquirente do bem pertencente a terceiro.
8.3.2. Evictor: é a pessoa que irá reivindicar a coisa; o terceiro interessado.
8.3.3. Alienante: é quem vai suportar as consequências da decisão judicial.
8.4. Natureza Jurídica: trata-se de uma garantia jurídica pois a legitimidade da alienação é garantida pela proteção da evicção, dessa forma, sempre que alguém vier a perder a propriedade de um bem em razão de uma determinação judicial cuja causa é anterior à aquisição, o alienante deverá ressarcir os prejuízos advindos dessa situação ao adquirente. 
· Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.
8.5. Requisitos: 
8.5.1. Contrato oneroso: 
8.5.2. Perda do objeto por sentença 
8.5.3. Causa seja anterior
8.6. Cláusula de garantia da evicção: Art. 488. Podem as partes, mediante cláusula expressa, poderão reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção.
8.6.1. Indenização residual ao limite da coisa: mesmo constando o afastamento da garantia contra evicção.
Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
8.7. Consequências jurídicas da evicção
8.7.1. Direito do Evicto: 
Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço ou das quantias que pagou:
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção;
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.
Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.
8.7.1.1. Caberá ao alienante promover o ressarcimento ao agente que sofrer a evicção quanto as benfeitorias necessárias ou úteis. Porém, quanto as benfeitorias voluptuárias ou de aformoseamento, o legislador infraconstitucional não exigiu o ressarcimento obrigatório. 
Art. 453 e 454, CC. 
8.7.1.2. Vedação para demandar pela evicção pelo adquirente:
O adquirente não poderá demandar pela evicção quando conhecia a existência de litígio quanto ao proprietário originário do bem ou até mesmo quando sabia que a coisa pertencia a pessoa distinta de seu alienante. 
Art. 457, CC.

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