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TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO II Fernanda da Luz Ferrari Teoria do desenvolvimento organizacional Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Analisar o desenvolvimento organizacional (DO) no contexto histórico- -social das teorias administrativas. � Identificar as variáveis que estão relacionadas ao DO. � Criticar os avanços e limitações do DO. Introdução O desenvolvimento organizacional visa a promover mudanças planeja- das, sejam elas comportamentais, sejam profissionais, de maneira que tanto o colaborador quanto a organização possam se adaptar melhor a um conjunto de mercados, tecnologias e desafios. Aumentam assim as chances de sucesso na busca de maior eficiência e eficácia organizacional. Neste capítulo, você irá analisar o desenvolvimento organizacional no contexto histórico-social das teorias administrativas, identificar as variáveis que estão relacionadas ao desenvolvimento organizacional e conhecer as principais críticas relacionadas aos seus avanços e limitações . O desenvolvimento organizacional no contexto histórico-social das teorias administrativas O desenvolvimento organizacional (DO) surgiu a partir de 1962 com o objetivo de promover mudanças dentro das organizações. Nessa época, as empresas começaram a perceber que somente a capacitação individual ou em grupo não trazia à organização todos os resultados almejados. Bennis define o desenvolvimento organizacional da seguinte maneira: Assim, o desenvolvimento organizacional é uma estratégia organizacional adotada para trazer à tona uma mudança organizacional planejada, exigida pelas demandas às quais a organizações tentam responder e que enfatiza o comportamento com base na experiência (BENNIS, 1969 apud MOTTA; VASCONCELOS, 2006, p. 249). O desenvolvimento organizacional não é uma teoria administrativa, mas sim o somatório de movimentos coordenados por vários autores com o ob- jetivo de ampliar a Teoria Comportamental, proporcionando e facilitando o crescimento profissional nas organizações. Seu surgimento pode ser atribuído a uma série de fatores. São eles: a) Ampliação da abordagem comportamentalista, cujo objetivo era promo- ver a flexibilidade e a mudança organizacional, com a justificativa de que apenas treinar individualmente ou em grupo não seria o suficiente para promover mudanças. b) Aumento do conhecimento sobre os estudos relacionados à motiva- ção humana e sua interferência direta nos resultados da organização. As teorias das relações humanas comprovaram que era preciso uma nova abordagem, uma nova concepção sobre o homem na sua atuação profissional. c) Criação da National Training Laboratory em 1947, cujo objetivo era pesquisar o comportamento do profissional nas suas atuações em grupo. Posteriormente, em 1964, foi lançado o livro com o resultado das pesquisas e treinamentos realizados. O coordenador desse livro é considerado o precursor do DO – Leland Bradford (Figura 1). Figura 1. Leland Bradford. Fonte: Desenvolvimento Organizacional (2016). Teoria do desenvolvimento organizacional2 d) Aceleração das mudanças ocorridas no mundo e que deram origem ao DO: ■ aumento do tamanho das organizações; ■ constante e inesperada transformação do ambiente organizacional; ■ gradativa complexidade da tecnologia e sua crescente diversificação, exigindo competências diferentes dos trabalhadores. e) Integração por meio de um tratamento sistêmico: o estudo da estrutura de um lado e o estudo do comportamento humano nas organizações de outro, com a fusão de duas tendências. O desenvolvimento organizacional foi criado como uma subárea da Teoria das Organi- zações, que atua e opera com o objetivo de implantar seus conceitos. Ele surgiu como uma especialidade da Psicologia e uma continuação do behaviorismo, estando como intermediário entre a Teoria Comportamental e a Teoria de Sistemas. Todas as atividades são oriundas das descobertas teóricas e empíricas do comportamento organizacional. Para o DO, foram decisivas as mudanças ocorridas no contexto social, político e econômico. Com essas mudanças, as empresas despertaram para: � promover o bem-estar social, proporcionando qualidade de vida e mo- tivação aos funcionários; � investir em responsabilidade socioambiental, através da excelência em qualidade; � oportunizar um ótimo clima organizacional. Modelo de desenvolvimento organizacional Muitos pesquisadores propagaram diversos modelos de DO com o objetivo de estudar as possibilidades de implantar programas de mudança de forma planejada. Beckhard (1969) foi um dos pesquisadores a propor um modelo de DO. Após analisar o contexto histórico das teorias administrativas na década de 1960, ele concluiu que o DO se preocupa com a mudança e o aperfeiçoamento de sistemas de subsistemas, relacionados com metas de curto e médio prazo 3Teoria do desenvolvimento organizacional para a organização. A partir dessa conclusão, ele propôs o modelo que você pode acompanhar na Figura 2. Figura 2. Fases do esforço de DO. Fonte: Beckhard (1969, p. 29) Diagnóstico da situação atual Planejamento da estratégia para mudança Educação Consultoria e treinamento Avaliação O diagnóstico da situação atual refere-se ao processo de exame da ne- cessidade de mudança e do estado do sistema. Ele deve ser realizado em duas áreas da organização (BECKHARD, 1969): 1. Diagnóstico dos subsistemas que compõem o sistema total da organiza- ção, que podem ser equipes/grupos ou níveis hierárquicos. Ele identifica, por exemplo, as atitudes e capacidade para lidar com a mudança. 2. Diagnóstico dos procedimentos em vigor na organização, como padrões e estilos de comunicação, relações entre grupos, administração de conflitos, estabelecimento de metas e métodos de planejamento. O planejamento da estratégia definida para a mudança ocorre com base nos resultados do diagnóstico realizado. Beckhard (1969) menciona os tipos de intervenções e táticas que poderão fazer parte da estratégia: desenvolvimento de equipes; aprimoramento das relações intergrupais; estabelecimento de metas e planejamento; treinamento. Teoria do desenvolvimento organizacional4 Na fase educação, o autor se refere a atividades como as apresentações sobre as melhorias da eficiência organizacional e as participações em seminário sobre o desenvolvimento organizacional. Já na fase seguinte, consultoria e treinamento, refere-se à consultoria e planejamento para novas práticas relacionadas a atividades de treinamento. Na última fase, avaliação, o autor sugere o processo constante de avaliação do programa de mudanças sobre a empresa de forma geral. Para complementar o modelo, o autor apresenta alguns itens que podem contribuir com o fracasso do modelo. Acompanhe: � falta de comprometimento da administração em relação aos problemas que são apresentados e suas respectivas soluções; � dependência de auxílio de especialistas internos ou externos; � ausência de metas de mudança, que pode comprometer o programa existente; � falta de clareza quanto aos objetivos da mudança. Os objetivos são fundamentais para justificar os meios a serem implementados e, se não estiverem claros, existe um grande índice de comprometimento; � desconexão entre discurso e prática; � falta de simultaneidade entre os esforços e as ações no nível médio e na alta administração; � investimento em um processo de mudança organizacional em uma empresa com estrutura retrógrada. Variáveis do desenvolvimento organizacional A capacidade de inovar e se adaptar às mudanças está relacionada diretamente com a produtividade e a competitividade da empresa no mercado. Por isso, é fundamental identificar as variáveis que estão relacionadas com o desenvol- vimento organizacional. Apesar de haver diversos modelos de desenvolvimento organizacional, todos apresentam basicamente quatro variáveis que podem ser amplamente utilizadas pelas organizações: 1. Meio ambiente: a explosão doconhecimento, a turbulência ambiental, a explosão tecnológica e das comunicações e os impactos dessas mudanças sobre as instituições e valores sociais, etc. 5Teoria do desenvolvimento organizacional 2. A organização: para sobreviver em um ambiente em constante dina- mismo e flexibilidade ambiental, aborda o impacto sofrido em decor- rência da desordem do mesmo. 3. O grupo social: nos aspectos que se referem a comunicação, liderança, conflitos e relações interpessoais, etc. 4. O indivíduo: ressaltando suas motivações e atitudes necessárias, etc. Vamos agora explorar essas variáveis com o objetivo de exemplifica-las, trazendo referências do mundo corporativo. Quando pensamos no meio ambiente, podemos verificar o quanto as em- presas se modernizaram e utilizam a tecnologia a seu favor. Por exemplo, documentos antes emitidos via correio hoje são armazenados e enviados por sistemas e internet. Na variável organização, percebe-se que as empresas flexibilizam e modificam regras para que estejam adaptadas ao meio am- biente. Os grupos que se formam na empresa sofrem diversas influências, seja por meio de outros colaboradores ou até mesmo da gestão. Já na variável indivíduo, aparecem as questões relacionadas às relações e às trocas entre gerações, por exemplo. A cultura organizacional norteia essas variáveis, com seu conjunto de valores, tradições, relacionamentos sociais e hábitos. Idalberto Chiavenato define a cultura organizacional, ou corporativa, como o “[...] conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos através de normas, valores, atitudes e expectativas compartilhadas por todos os membros da organização” (CHIAVENATO, 2010, p. 172). Ela não é estática, não é permanente e sofre muitas alterações ao longo do tempo. Para algumas empresas, torna-se fácil mudar a cultura constantemente: elas mudam os sistemas dentro dos quais os profissionais trabalham e, mesmo assim, conseguem manter sua integridade. Para outras, entretanto, a cultura permanece amarrada a formalismos e comportamentos totalmente ultrapassados. Muitos autores relacionam a cultura organizacional ao bom clima organizacional, uma vez que ambos levam em conta o comportamento humano. O clima organizacional está ligado à satisfação das necessidades dos co- laboradores, e para ser considerado bom ou saudável, é preciso saber como o funcionário se sente em relação à empresa. Por meio de pesquisa com os colaboradores, muitas empresas já constataram alguns dos fatores capazes de influenciar e afetar de forma negativa o clima organizacional. São eles: Teoria do desenvolvimento organizacional6 � quando a empresa não dissemina sua cultura organizacional, ela deixa de ter uma identidade, ficando prestes a perder sua identidade e a dos seus colabores; � a única maneira de sentir o clima organizacional é estando próximo aos colaboradores. À medida que a empresa deixa de pesquisar e avaliar o clima organizacional, ela pode estar perdendo a chance de mudar algo ou algumas coisas que não estão ocorrendo como deveriam; � liderar não é uma tarefa simples e fácil. O líder tem um papel funda- mental na equipe, e quando um gestor assume um cargo de liderança, trabalhando com um grupo de profissionais sem estar preparado, a empresa corre o risco de ter sérios problemas; � toda e qualquer instituição que deseja ter sucesso precisa instituir uma gestão de pessoas com alto desempenho, engajada, motivada e parti- cipativa. Infelizmente, na correria do dia a dia, muitos detalhes são deixados de lado, mudanças não são feitas, pessoas não são escutadas, processos não são revistos. Esses e outros indicadores são processos simples que poderiam fazer toda a diferença para a empresa; � hoje a Justiça do Trabalho acumula inúmeros processos, e uma das prin- cipais reclamações é a falta de respeito com o ser humano e a exposição em determinadas situações (assédio moral), culminando, em alguns casos, em afastamento por falta de saúde. Alguns gestores, infelizmente, percebem seus colaboradores como números de matrículas e custos para a organização, enquanto deveriam se preocupar em respeitar o ser humano, acompanhando, valorizando e motivando o profissional; � outro fator extremamente impactante no clima organizacional é o pro- cesso de comunicação. Quando a empresa não se comunica internamente de forma clara, ela abre uma linha de comunicação muito comum nas organizações, em que os profissionais acabam deduzindo, recebendo informações de outros colegas e aumentando a margem de erro nesse processo. Os ruídos na comunicação podem trazer graves consequências, pois a conhecida “rádio peão” não será uma fonte totalmente verídica de informações; 7Teoria do desenvolvimento organizacional � quando se refere à cobrança de metas, é preciso que a empresa ofereça condições de trabalho e tempo para que os colaboradores possam exe- cutar suas atividades com qualidade. O que acontece muitas e muitas vezes, em muitas empresas, é o estabelecimento de metas muito difíceis de serem alcançadas em um curto período de tempo, afetando o clima organizacional; � é por meio da avaliação de desempenho que o colaborador recebe feedback da empresa, avalia e redireciona seu trabalho, identifica seus pontos fortes e fracos. Cada vez que a empresa deixa de realizar essa atividade, seja por omissão ou por escassez de tempo, ela estará in- fluenciando diretamente no clima organizacional; � o feedback, ou retorno ao funcionário sobre seu desempenho, deve ser feito por quem está preparado e disposto a continuar acreditando no potencial do colaborador. Caso contrário, esse retorno pode ser visto como um “puxão de orelha”, afetando diretamente a autoestima e a motivação do funcionário; � ações simples podem influenciar no bom clima de trabalho, trazendo qualidade de vida ao trabalhador. No que se refere ao ambiente fí- sico, torna-se difícil pensar em qualidade de vida se a empresa não se preocupar com limpeza, higiene, temperatura e ruídos. Por outro lado, sem outras ações, como um e-mail de feliz aniversário ou alguns eventos comemorativos por metas alcançadas, boas instalações não serão significativas. Todos esses fatores afetam o clima organizacional. Outro fator que pode ser somado a essa lista é o processo de mudança. Por exemplo, Luz (2003) afirma que as mudanças ocorridas na economia brasileira na década de 1990 levaram muitas empresas brasileiras à redução do quadro de pessoal e muitos trabalhadores “[...] acabaram agindo com indiferença, não mais ‘vestindo’ a camisa, como faziam antigamente” (LUZ, 2003, p. 7). Dessa forma, percebe-se que as variáveis básicas são fundamentais para que as empresas possam diagnosticar a situação e intervir em variáveis es- truturais e comportamentais com o objetivo de obter a mudança e alcançar os objetivos pessoais e organizacionais, dando sempre ênfase na gestão de pessoas e processos. Teoria do desenvolvimento organizacional8 Se você quiser aprofundar seus conhecimentos sobre cultura organizacional, os links a seguir trazem duas fontes de pesquisa. No primeiro link, você pode acessar o artigo “A importância da cultura organizacional para a sua empresa”. No segundo, você pode acessar um vídeo que aborda diversas questões relacionadas à cultura organizacional. https://goo.gl/QkSlqP https://goo.gl/5mmuoF Avanços e limitações do desenvolvimento organizacional O desenvolvimento organizacional representa um dos mais importantes campos de atuação para a melhoria das empresas e para o desenvolvimento dos cola- boradores. Todavia, ele apresenta limitações que devem ser constantemente avaliadas, criticadas e pensadas. Com relação às críticas, é possível pensar o seguinte: � O desenvolvimento organizacional é permeado por alguns mitos, a saber: o mito da disciplina, o mito das variáveis não pesquisáveis, o mito da novidade e o mito da eficácia aumentada. � Se for afastado dos reais objetivos da organização, enfatizando o treina- mento direcionado exclusivamenteao comportamento organizacional, o DO corre o risco de se transformar em uma técnica eminentemente terapêutica. 9Teoria do desenvolvimento organizacional � Em algumas organizações, o desenvolvimento organizacional acaba sendo utilizado como instrumento de promoção de gestores que estão preocupados com seu status quo. Em relação às limitações, pode-se pensar o seguinte: � A medição da eficácia dos programas de desenvolvimento nas empresas é uma tarefa extremamente difícil e subjetiva. � Os programas de desenvolvimento acabam tendo uma grande demanda de tempo para que todas as suas etapas sejam realizadas, um aspecto relevante para a sua avaliação. � Os objetivos dos programas de desenvolvimento são muitas vezes con- siderados vagos. � Os custos de um programa de desenvolvimento são difíceis de avaliar e mensurar. Esses limitadores não justificam a eliminação do programa de desenvol- vimento organizacional, eles apenas trazem pontos que devem ser avaliados constantemente, buscando qualificar os esforços para que mais objetivos sejam alcançados. Isso pode ser feito, por exemplo, por meio de ajustes nos programas e da conscientização dos profissionais sobre como o programa pode facilitar o processo de mudança – seja ela organizacional, seja pessoal ou profissional. Atualmente, não existem mais espaços para ações individuais, simplistas, em que poucos colaboradores participam e outros tantos não cooperam, pois apresentam resistências e dificuldade de adaptação às situações de mudanças. O processo de desenvolvimento pessoal, interpessoal e coletivo, assim como o desenvolvimento tecnológico e regional de onde a organização está inserida, é fundamental para a sobrevivência das organizações. As empresas são or- ganismos vivos em constate transformações e o seu sucesso ou fracasso está diretamente ligado às ações e motivações dos sujeitos que dela participam. Teoria do desenvolvimento organizacional10 BECKHARD, R. Desenvolvimento organizacional: estratégias e modelos. São Paulo: Edgard Blucher, 1969. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organi- zações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL. Principais percursores: Leland Bradford. 2016. Disponível em: <http://desenvorg.blogspot.com.br/p/principais-precursores.html>. Acesso em: 07 maio 2018. LUZ, R. Gestão do clima organizacional. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003. MOTTA, F. C. P.; VASCONCELOS, I. F. G. Teoria Geral da Administração. 3. ed. São Paulo: Thomson, 2006. 11Teoria do desenvolvimento organizacional Conteúdo:
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