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Nessa aula, trataremos de algumas especi�cidades do psicodiagnóstico. Veremos nessa aula algumas especi�cidades, tais como: diagnóstico em equipe multipro�ssional, diagnóstico e intervenção em PCDs e o diagnóstico extra consultório. Especi�cidades em psicodiagnóstico Diagnóstico e Equipe Multipro�ssional Antes de falarmos em equipe multipro�ssional, convém deixar claro o signi�cado de alguns conceitos importantes. Às vezes usamos o conceito “multipro�ssional” e “interdisciplinar” como sinônimos. Não são. Multipro�ssional diz respeito a uma equipe compondo um serviço ou atendendo a uma �nalidade única, sendo que nessa equipe há pro�ssionais de diversas áreas. Multipro�ssionais. Cada um atua em sua área, mas a �nalidade é a mesma. Um exemplo é uma unidade básica de saúde, onde há odontólogos, médicos e psicólogos. Todos buscam levar saúde aos munícipes atendidos pelo equipamento público, mas cada um na sua área. Por exemplo, o psicólogo não entra na sala do dentista, e o dentista não está junto com o médico quando este está diagnosticando uma criança febril. Cada um no seu quadrado, mas com um objetivo que os une. A atuação interdisciplinar é feita quando os pro�ssionais de diferentes disciplinas de formação atuam conjuntamente, compartilhando seus conhecimentos e formação em vista do objetivo em comum naquele dado momento. Um exemplo da área médica é uma cirurgia, em que ao mesmo tempo estão presentes na sala cirúrgica o enfermeiro instrumentador, o médico cirurgião e o médico anestesista. Outro exemplo é na área do SUAS, em que um psicólogo e um assistente social, por exemplo, realizam uma visita técnica domiciliar juntos e depois discutem a impressão que cada um teve lançando mão, cada um deles, dos conhecimentos de sua área de formação. Diagnóstico e Equipe Multipro�ssional: interdisciplinar Considerando o trabalho do psicológico em equipe multipro�ssional e interdisciplinar, algumas considerações precisam ser feitas. O objetivo do trabalho é diagnosticar a complexidade do sujeito avaliado por isso vários pro�ssionais participam do trabalho. Num exame admissional, por exemplo, vários pro�ssionais avaliam as diversas áreas e competências do sujeito. O psicodiagnóstico, contudo, é restritivo do psicólogo e só ele pode fazê-lo. A partilha dos resultados do psicodiagnóstico obedece o princípio de partilhar com a equipe apenas o que for necessário para compor a complexidade diagnóstica, sempre com o consentimento da pessoa submetida ao psicodiagnóstico. A devolutiva à pessoa avaliada acerca de seu desempenho e resultados também é dever do psicólogo. Diagnóstico e Intervenção em PCDs Diagnóstico e Intervenção em Psicologia Temas clássicos e atuais em psicodiagnóstico Você sabia que seu material didático é interativo e multimídia? Isso signi�ca que você pode interagir com o conteúdo de diversas formas, a qualquer hora e lugar. Na versão impressa, porém, alguns conteúdos interativos �cam desabilitados. Por essa razão, �que atento: sempre que possível, opte pela versão digital. Bons estudos! Para falarmos sobre diagnóstico e intervenção com pessoas com de�ciência, cabe antes uma discussão de nomenclatura. Atualmente, não se usa termos como pessoa portadora de de�ciência, ou mesmo pessoa com necessidades especiais, pessoas especiais, excepcionais, etc. Utiliza-se o termo “pessoa com de�ciência, abreviado pela sigla PCD. Termos como “portador” não fazem sentido pois a pessoa não está portando uma de�ciência, ela tem uma de�ciência. Termos como especial, excepcional também não são mais utilizados pois soam como um eufemismo, uma espécie de negação da de�ciência. E a pessoa tem a de�ciência. Por isso o termos Pessoa com de�ciência. As de�ciências podem ser físicas ou intelectuais. De�ciência física é aquela de�ciência causada por ausência ou comprometimento em funções motoras ou sensitivas. Por exemplo, cegueira, surdez, paraplegia, tetraplegia, etc. De�ciência intelectual envolve a incapacidade de pensamento so�sticado e abstrato, que geralmente é sintoma de diversas condições sindrômicas como Down, os autismos diversos, etc. É comum também a associação de ambas as de�ciências, como no caso de pacientes com paralisia cerebral. O psicólogo que atua com PCDs deve valer-se de instrumentais adaptados para o tipo de público, como testes em braile, teste aplicados em libras, testes validados para de�ciências intelectuais, etc. Mais importante é destacar que o psicólogo precisa de formação especí�ca para lidar com o tipo de público diante do qual exercerá sua pro�ssão. Por exemplo, com de�cientes auditivos, é necessário que o psicólogo conheça Libras e esteja inserido no mundo dos surdos. Diagnósticos extra consultório Falamos quase que exclusivamente do psicodiagnóstico feito para consultório, ou então do psicodiagnóstico como etapa para ingresso num novo trabalho, mas o psicodiagnóstico se aplica em outros contextos também. Por exemplo, na área social o diagnóstico se aplica à comunidade, em termos de identi�cação de potencialidades e vulnerabilidades do território. Também é comum o diagnóstico organizacional, em que prevalecem os diagnóstico de cultura, que são os valores que circulam pela organização, e o diagnóstico de clima, que seria a percepção dos colaboradores acerca da organização. Duração do psicodiagnóstico e remuneração Sobre a duração do psicodiagnóstico e a remuneração por ele, são perguntas interessantes e objetivas, mas a resposta não é tão simples e tão objetiva assim. Considerando que o psicólogo tem autonomia para elaborar seu processo psicodiagnóstico, não há tempo exato nem remuneração exata. O que é importante ter em mente é que, sobre a duração do psicodiagnóstico, o objetivo é que �que pronto o mais rápido possível, pois o diagnóstico é sempre um ponto de partida. Porém essa pressa não pode levar o psicólogo a realizar muitas atividades no mesmo dia. Por exemplo, realizar entrevistas e baterias de testes no mesmo dia cansa a pessoa e compromete seu desempenho. Sobre a remuneração, depende também das estratégias utilizadas, pois testes psicológicos custam caro e o preço deles varia. Contudo, alguns conselhos regionais de psicologia disponibilizam tabela de honorários em seu site. O CRP da 6ª região, por exemplo, que é o CRP de São Paulo, atualiza anualmente a tabela de honorários, e lá há limite inferior e superior para cada atividade que o psicólogo realiza, incluindo atividades de psicodiagnóstico. Depois dessa aula, vale a pena dar uma olhadinha lá. Teste Rorschach Hermann Rorschach (1884-1922) Antes de falarmos sobre o teste, troquemos algumas palavras seu fundados, Hermann Rorschach. Rorschach era um psiquiatra suíço e seguidor das ideias de Freud, que já faziam sucesso na Europa nas primeiras décadas do século XX. Como psicanalista, foi um dos fundadores da sociedade psicanalítica de Zurique e a psicanálise é a base sobre a qual desenvolveu seu famoso teste de personalidade, que começou a ser desenhado a partir de seus estudos e pesquisas realizados desde 1911. Hermann Rorschach morreu jovem, aos 37 anos, de forma inesperada, o que interrompeu o desenvolvimento de seus estudos sobre o psicodiagnóstico a partir do Rorschach. Seus trabalhos permaneceram desconhecidos por cerca de dez anos após sua morte, sendo posteriormente reconhecido, difundido e estudado principalmente na Europa e nos Estados Unidos, onde fez muito sucesso. A hipótese projetiva – fundamento do Rorschach Um teste projetivo, como é o caso do Rorschach, é um tipo de teste psicológico que se baseia na chamada hipótese projetiva. De acordo com essa hipótese, a pessoa a ser testada, ao procurar organizar uma informação ambígua (ou seja, sem um signi�cado claro, como as pranchas do teste de Rorschach), projeta aspectos de sua própria personalidade. O intérprete (ou seja, o psicólogo que aplica o teste) teria assim a possibilidade de, trabalhando por assim dizer "de trás para frente", reconstruir os aspectos da personalidade que levaram às respostas dadas. A hipótese projetiva - fundamentopsicanalítico Por trás da hipótese projetiva que fundamenta o teste de Rorschach está o conceito psicanalítico freudiano de projeção. Projeção, para Freud, é um dos mecanismos de defesa do Ego e sua ação consiste em, de forma inconsciente, projetar em outra pessoa características indesejadas da própria pessoa que projeta. Por exemplo, o marido diz que sua vida não dá certo porque sua esposa não tem paciência. Ele não tem paciência alguma, mas não reconhece sua impaciência, e a projeta em sua esposa, que até pode ser impaciente também, mas a projeção faz com que ele não reconheça a impaciência em si, só no outro, em quem é projetada sua característica, tal qual um Datashow faz com a parece para a qual se volta. Teste Rorschach O teste Rorschach consiste em dez pranchas em que aparecem manchas ou borrões disformes de tinta. Hermann Rorschach inicialmente criou 25 pranchas, mas a editora exigiu que se reduzissem para 10. Você provavelmente já deve ter visto as pranchas do teste Rorschach na cultura popular. Elas aparecem, por exemplo, no �nal do �lme “Laranja Mecânica”, quando o personagem principal está sendo submetido a uma avaliação psicológica. A aplicação do teste sempre é individual e a técnica de aplicação consiste em pedir para o paciente descrever o que vê em cada prancha, momento no qual espera-se que este paciente projete sua personalidade para tornar as manchas ininteligíveis em algo inteligível. Teste Rorschach: requisitos para utilização Cabe lembrar que o teste é, no Brasil, restritivo do psicólogo, como todo teste psicológico. Por ser fundamentado na psicanálise requer conhecimentos psicanalíticos por parte do psicólogo, bem como formação especí�ca para o teste, sobretudo para a correção, que é bastante complexa. Aplicação e interpretação do teste Rorschach - introdução O teste Rorschach Antes de falarmos sobre a aplicação e interpretação do teste Rorschach, convém retomarmos alguns pontos importantes sem os quais não faz sentido falarmos em aplicação e interpretação desse teste. É um teste projetivo de personalidade, ou seja, é utilizado para diagnóstico de personalidade a partir da hipótese projetiva psicanalítica. É, já dito, baseado na teoria psicanalítica, sobretudo no conceito de projeção, e foi desenvolvido pelo psiquiatra e psicanalista Hermann Rorschach entre as décadas de 10 e de 20 do século passado. O teste consiste basicamente em 10 pranchas com manchas de tinta, lembrando que incialmente Hermann Rorschach criou 25 pranchas, mas por demandas editoriais reduziu para 10. O teste Rorschach – considerações para aplicação Para se aplicar o Rorschach, algumas considerações se fazem importantes. Primeiro, é um teste de personalidade, então será usado quando se tratar de avaliação de personalidade, ou seja, identi�cação de per�s, de interesses, de rações esperadas frente a situações ambientais, etc. Como todo teste, deve ser associado a outros instrumentos para que o psicodiagnóstico seja completo. Em outras palavras, para avaliar personalidade, além da aplicação do Rorschach é preciso utilizar-se de entrevistas, anamnese, etc. Como se trata de um teste complexo, seu uso requer familiaridade com o teste em si e com a teoria subjacente ao teste. É um teste que requer formação especí�ca para aplica-lo, e aqui veremos em linhas gerais alguns informações sobre aplicação e interpretação, mas para que o psicólogo o aplique é necessário uma formação mais sólida do que essa aula, obviamente. Essa aula funciona como um primeiro contato com o instrumento. O teste Rorschach: aplicação A aplicação do teste é feita sempre de forma individual. O psicólogo vai exibindo as dez pranchas, uma de cada vez, e orienta o paciente a verbalizar o que vê em cada prancha, sem censura do conteúdo a ser verbalizado. O teste Rorschach: durante a aplicação Durante o teste, o psicólogo observa o comportamento geral do paciente: percepção, postura, atenção, memória, lógica etc. Também são levados em conta dezenas de detalhes, como o tempo de reação, o número de respostas e a área da imagem interpretada. Conforme vai mostrando os cartões, o psicólogo também faz perguntas mais especí�cas sobre as respostas do paciente, para entender melhor sua interpretação. Ele quer saber, por exemplo, que elementos do borrão levaram a determinada resposta. O teste Rorschach: interpretação Para chegar ao resultado, o psicólogo preenche uma tabela com várias categorias.. Cada uma representa um de muitos quesitos como os movimentos da pessoa, os sentimentos demonstrados etc. A interpretação �nal vem de uma comparação dessa tabela com padrões obtidos em pesquisa. Situação-problema Caracterização do caso Preso por crimes diversos, a sua maioria roubo seguido de morte. Considerando seu tempo de detenção mais o bom comportamento na penitenciária, seu advogado pede progressão de pena para regime semiaberto. O Ministério Público manifesta-se pela manutenção do regime fechado, dada a periculosidade do detento. Juiz solicita perícia técnica da psicologia. Perito técnico: psicólogo Psicólogo clínico e jurídico. Tem experiência em consultoria judiciária como assistente técnico e como perito. Tem formação psicanalítica e experiência em avaliação psicológica à luz da psicanálise. Experiência em psicologia aplicada à criminologia. Perito técnico: psicólogo Psicólogo clínico e jurídico. Tem experiência em consultoria judiciária como assistente técnico e como perito. Tem formação psicanalítica e experiência em avaliação psicológica à luz da psicanálise. Experiência em psicologia aplicada à criminologia. Estratégias do psicólogo Anamnese do caso. Entrevista com agentes penitenciários. Entrevista com o detento. Entrevista com os familiares que o receberiam. Aplicação de teste psicológico. Anamnese do caso Ao debruçar-se sobre o caso a partir dos materiais constantes do processo judiciário e matérias jornalísticas, o psicólogo constata que se trata de um criminoso cujos atos denotam frieza e impulsividade, ambos compatíveis com psicopatia. Entrevista com agentes penitenciários Em entrevista com agentes penitenciários, os mesmos descrevem o detento em tela como alguém obediente e de bom comportamento, solícito e subordinado. Embora quieto, é educado, cortês e nunca “deu trabalho”. Entrevista com o detento O mesmo declara que tem consciência de que praticou atos graves em seu passado, e que era uma pessoa diferente. Hoje, por ter estado preso, tido contato com o mundo religioso no presídio e ter conversado com a psicóloga do presídio, considera-se uma pessoa diferente e não mais fará o que fez no passado. Ao contrário, pretende voluntariar-se no trabalho preventivo com jovens para orientá-los a não entrar no mundo do crime. Entrevista com familiares que o receberiam Entrevista não realizada. Nenhum familiar demonstrou interesse em recebê-lo. Os pais do detento são falecidos, e seu único irmão não se interessa em manter contato. Aplicação de teste psicológico Interessado em analisar a personalidade do detento em tela, o psicólogo opta pela aplicação do teste Rorschach, pois tem experiência com o mesmo. Orienta o detento a verbalizar o que vê em cada prancha. O detento acha bem interessante o teste e acaba se demorando em cada prancha, detalhando o que vê. O resultado do Rorschach mostra-se crucial para o parecer �nal do psicólogo. No teste, �ca claro que o detento continua muito impulsivo, afetivamente frio, egocêntrico e dissimulador, o que explica suas respostas na entrevista e seu comportamento junto aos agentes penitenciários. Em seu parecer, o psicólogo aponta que nesse momento o detento será um risco para a sociedade se reinserido, o que embasa a decisão do juiz.
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