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CAPÍTULO 2: CLASSICAL REALISM: CARR, MORGENTHAU AND THE CRISIS OF COLLECTIVE SECURITY INTRODUCTION > O pensamento político é influenciado pelo contexto histórico no qual é formulado (...). O começo das RI é marcado por um momento idealista, em si mesmo uma reação contra as práticas diplomátricas do século XIX. > A disciplina das RI nasceu com a preocupação normativa de entender as origens da paz e da guerra. Os idealistas "found the causes for armed conflicts not in the inherently war-prone international enviroment, but in the irrational breakdown of a potential world community of nations". Esse período entre guerras idealista posteriormente viu a emergência de uma crítica realista e da disciplina das RI (...). > O debate realista-idealista é chamado o primeiro debate das RI, mas é mais do que isso: o realismo deriva sua interna lógica da constante contraposição de um constante idealizado idealismo. De fato, o realismo é impensável sem o plano de fundo de uma posição anterior idealista, profundamente comprometida com o universalismo do Iluminismo e a teoria da política democrática. > Os pais da disciplina, E. H. Carr e Hans J. Morgenthau representam a expressão clássica do realismo derivado do anti-idealismo. - A posição mitigada realista de Carr foi menos bem sucedida que a de Morgenthau em Política entre nações; - A aborgadem de Morgenthau se tornou paradigmática por duas razões: 1. Ele se esforça em definir um campo de política independente da pesquisa social; 2. Mais do que qualquer outro texto, ele exemplifica a tentativa de reviver o conhecimento prático do século XIX na diplomacia europeia, e torná-la uma teoria explicatória das RI. 1. THE RISE AND FALL OF IDEALISM AFTER THE FIRST WORLD WAR > What came to be called idealism in the inter war period was based upon three major tenets: 1 - A natureza humana não é redutível à motivação egoísta e necessidades materiais; ela requer também objetivos e ideais; 2 - Esses ideias, que afetam os objetivos e o comportamento humano, são potencialmente universais no que elas representam o verdadeiro interesse dos indivíduos no longo-termo, como muitos dos Estados e a comunidade mundial. 3 - Central para esse filosofia política está contudo a razão e a comunicação racionada, de modo a assegurar que a harmonia de interesses seja alcançada. > Em resumo, o idealismo afirma que através da razão apenas a humanidade pode sair do estado de natureza nas relações inter-estatais. Com razão, princípios universais podem ser entendidos e transformados em normas, leis, e comportamento humano e governamental. A política deveria assim encorajar tanto a educação das pessoas de modo a fazê-los entender seus interesses de longo-termo, e a democratização da esfera política. Essas assunções dão espaço à concepção das relações internacionais e a política externa. Diferia da diplomacia tradicional, e posteriormente realismo, em como ele entendia o que poderia ser chamado as causas objetivas e subjetivas da guerra. > Causas objetivas da guerra geralmente se referem à imutabilidade da natureza humana e a natureza da política. - No idealismo, considerando a humanidade potencialmente boa, deve existir ao menos uma possível harmonia de interesses. Assim, a guerra deve ser a falha ou colapso da comunicação racional que a política deveria prover em lugar de traduzir princípios universais harmoniosos na realidade. Assim não o sistema mas os governos são responsáveis pelas guerras. Eles as começam, contra os interesses de seus cidadãos. - Governos não democráticos ou ilegítimos são as causas primárias da guerra. A guerra pode ser prevenida através da democratização da política, começando do local para o nacional e finalmente para o nível internacional. NO ambiente internacional não democrático do século XIX, egoísmo se tornou nacionalismo, e inevitavelmente levou à guerra. > Já as causas subjetivas, a velha diplomacia se mostra como a primeira causa. - Na crítica idealista, essa diplomacia tinha várias falhas. 1º, diplomatas tomavam decisões acima das cabeças de seus povos. Em vez disso, política estrangeira deveria se tornar democratizada e responsável pela vontade do povo soberano. 2º, a primazia da política externa justificava suas atividades mantidas em segredo tanto da esfera doméstica e do outros diplomatas. Ainda assim, a política secreta evitava o debate racional que é requirido para fazer as soluções mais razoáveis prevalecerem. De fato, a diplomacia secreta era entendida como o gatilho que destrinchou a guerra. 3º, o balanço de poder, longe de ser o principal meio de prevenir a guerra, era uma das principais razões para a sua explosão. Power balancing depends on the very possibility of conflict. O idealismo vê a velha diplomacia como a encarnação da arrogância da elite usando a arena internacional como playground. > Se baseando na falha da diplomacia convencional para garantir paz, o idealismo tentava introduzir novos princípios e práticas à política internacional. - Em vários prismas, o idealismo é tentado transpor os princípios da do regime doméstico liberal-democrático para o âmbito internacional. - Por outro lado, isso incluiria o direito da autodeterminação como reconhecimento do papel negativo que os impérios multinacionais interpretaram com a explosão da IGM. - No nível internacional, com suas alianças mudando e eventualmente se desestabilizando, o poder político seria substituído por um sistema de segurança coletiva onde a comunidade internacional como um todo deteria com mais eficiência e se oporia a qualquer uso ilegítimo da violência. Não o balanço de poder, mas um corpo internacional, a Liga das Nações, deveria ser o meio da diplomacia internacional. - Em resumo, ao levar a sério os direitos nacionais e remover as causas nacionalistas do conflito internacional, um sistema internacional de segurança poderia ser designado a sobrepor esses interesses nacionais em detrimento da prevenção da guerra. A precondição da aceitação de tal sistema seria uma publicidade que daria razoável tempo para fazer as opções políticas se ajustarem. > Ainda assim a política internacional do período entre guerras não parecia conformar-se à visão global do idealismo. A crise de 1929 colocou um fim ao sistema monetário internacional do período (padrão ouro) e levou ao início de uma cooperação internacional econômica. Em vez de um regime de trocas livres, o sistema internacional econômico se caracterizou: primeiro, pelo protecionismo (política nacional que privilegiava mercados e produtores domésticos), e segundo, o mercantilismo (política que subordina a economia aos objetivos da política externa nacional). Tentativas individuais a exportar problemas econômicos através das políticas de "beggar-thy-neighbour" resultaram numa piora da crise internacional. Trazendo a visão de mundo idealista em questão, conferências de desarmamento falharam. Quando a Itália invadiu a Etiópia em 1935, a Liga das Nações provou-se incapaz de prover segurança mesmo para seus membros africanos mais antigos. > O sistema colapsou inteiramente quando a Alemanha nazista obteve parte da Checoslováquia, um país soberano, por pressão militar. Contudo, esse ato foi ironicamente legitimado em termos de autodeterminação idealista no Acordo de Munique (1938) com as grandes potências europeias (incluindo a URSS), assinado na esperança de prevenir uma guerra maior. A propaganda nazista ludibriou os poderosos de 1918 em sua própria lógica: o governo alemão clamava agir em direito de defesa dos sudetes alemães. Os ideais de ordem pacífica se tornaram parte da máquina de guerra alemã. A estratégia das democracias de prevenir outra guerra maior contra a Alemanha foi uma série de concessões que simbolizavam a compra das restrições feitas à Alemanha (???). Mas sob condiçõesem que a resistência era necessária, essa estratégia acabou colaborando com a guerra. O apaziguamento se tornou o símbolo político internacional mais importante e poderoso no pós IIGM. As lissões aprendidas de sua manifesta falha compuseram a maior parte do plano de fundo do pensamento atrás do pensamento realista ascendente. 2. THE REALIST CRITIQUE OF IDEALISM: E. H. CARR'S ATTACK ON THE HARMONY OF INTERESTS > O idealismo era inspirado pelo desejo de prevenir a recriação de condições que poderiam levar à guerra. - Os realistas também queriam limitar a guerra, embora eles mantivessem que a guerra é às vezes é um meio necessário da política externa. > O idealismo pressupunha o princípio subjacente da diplomacia do século XIX, a moderação, e tentou aplicá-la em um novo contexto, onde a guerra não mais era considerada um meio possível da política. Almejava um sistema de segurança coletiva para moderar os Estados. - O realismo, por outro lado, se esforçava para ajustar a política internacional ao fenômeno da guerra total que resultava do reverso do ditado de Clausewitz, nomeadamente que a paz se torna a prolongação da guerra por outros meios. Para os realistas, o poder político não é acidente histórico, mas, como Morgenthau chamou, um fato humano e uma necessidade lógica. 2.1. British realism vs Britain's idealism > O principal objeto da crítica de Carr era a inexistente harmonia de interesses. O idealismo tem três máculas principais: Prioridade dada à razão acima dos interesses, à ética sobre a política e teoria sobre a prática. > Carr via o realismo começando de premissas opostas. A ação e análise política é informada não pelo que o mundo poderia ser, mas pelo que ele é. Realismo assim tem uma forte base utilitarista e empiricista. Não se dirige a possíveis mudanças de interesses dos atores, os tem como constantes. A política é designada a adaptar-se a determinados interesses - e não baseada na errônea assunção de que eles podem ser alterados. > Carr introduziu seu famoso conceito de harmonia de interesses do pensamento liberal econômico; ele corresponde ao princípio da mão invisível nas economias de mercado (...). > Carr também arguiu que valores são derivados de poder, e a ética da política. O apelo a uma harmonia de interesses nada mais é do que o resultado de uma configuração específica de poder que é poderosa suficiente para implementar os ditados de seus interesses particulares e fazê-los parecer universal. > Na medida em que os interesses dos grupos sociais menos poderosos estão vinculados aos interesses de sua elite, também existe um fundamento objetivo no qual ambos os conjuntos de interesses coincidem. No entanto, esse fundamento não é a natureza universal desses interesses, mas o poder absoluto dos privilegiados que não deixa à comunidade outra alternativa senão vincular seus interesses aos deles. Ademais, Carr viu outra origem menos pacífica do credo liberal de uma harmonia de interesses - que chamo de darwinismo econômico, a ideia de que, para a economia, é melhor a longo prazo se apenas as empresas mais aptas sobreviverem. > Aplicada à política internacional, a harmonia de interesses de fato corresponde à poderosa ideologia do status quo que 'ajudou políticos e escritores políticos em toda parte a evadir o fato de uma divergência fundamental entre nações desejosas de manter o status quo e nações desejosas de mudá-lo. - A política da segurança coletiva utilizada pelos vencedores de 1918 não gerenciava as possibilidades de conflito, mas sim negava que o conflito pudesse existir. Ainda assim, se a paz significasse nada mais do que manter o status quo dos benefícios e do poder, então ela estaria fadada a falhar. - Para Carr, a política externa deve em vez disso se basear na mudança preventiva pacífica, sempre que possível, e na gestão de conflitos militares, quando necessário. 2.2. Carr's sceptical critique of realism > A teoria materialista das ideologias de Carr não está sem falhas. Isso pode ser exemplificado pela maneira como ele trata as ideologias internacionalistas. Seguindo a abordagem realista (e materialista) usual de que as condições sociais determinam regras, princípios e ideologias inteiras, Carr alegou que todas as ideologias internacionalistas eram meras racionalizações dadas pelos poderes do status quo dominantes, a fim de proteger sua posição privilegiada. Mas essa afirmação é inconsistente em seus próprios termos: mesmo se assumirmos que todas as idéias derivam de interesses particulares, nem todos os interesses hegemônicos foram automaticamente acompanhados por uma ideologia internacionalista que repousa sobre uma harmonia de interesses. > Para Carr, o governo da Alemanha nazista deveria ser entendido como só mais uma força revisionista, cujos clamores por mudança nas relações internacionais eram boa ou más como todos os clamores de poderes ascendentes. Ainda assim sua ideologia racial, que por definição só poderia incluir uma certa parte da Europa, produziu uma internacionalização que nunca alegou assumir uma harmonia de interesses. Mesmo se assumirmos que todos os governos em posições internacionais privilegiadas compartilham legitimação universalista de seus status, existem diferenças qualitativas entre essas legitimações. Para liberais e aqueles que assumem uma potencial harmonia de interesses, internacionalismo significa a realização de uma filosofia universalista que também pode e se restringe. Para nacionalistas ou racistas, que buscam uma legitimação internacionalista, o último não pode ser controlado por um apelo universal: nada mais é do que a imposição internacional de uma ideologia particularista. > Negligenciando a diferença de ideologias e sistemas domésticos, Carr não conseguiu distinguir entre as tentativas de Stresemann de revisar os tratados de Versalhes, mantendo os princípios do regime internacional intocados, e os de Hitler, que queriam mudá-los. (...) Em outras palavras, seu ceticismo criticou o status quo através de argumentos que poderiam ser perfeitamente reaplicados àqueles que querem mudar isso. > Essa crítica unilateral é um exemplo curioso de uma percepção verdadeiramente central que o próprio Carr desenvolveu em seu livro. Realismo e uma teoria cética que desmascara a aparente inocência da verdade do dia. > É curioso que Carr continue sendo celebrado apenas por sua crítica realista do idealismo (...). 3. THE NEW PARADIGM: MORGENTHAU'S POLITICS AMONG NATIONS > A posição de Carr era ambígua e seu estilo era polêmico para fundar uma escola de pensamento, para fornecer uma disciplina emergente com um exemplo paradigmático; mas ele preparou o terreno. (...) O idealismo passou a ser entendido não apenas como uma abordagem equivocada quando levado ao extremo (como também era realismo para Carr), mas como um sinal da "decadência final do liberalismo" que não poderia conceber uma guerra legítima nem mesmo contra o fascismo. O liberalismo foi a origem de uma doença que assolou o pensamento político ocidental. (...) O mundo recebeu outra chance de ser curado do liberalismo racionalista nas relações internacionais. > Apesar de Morgenthau não ser o maquiavélico que às vezes se diz que é, seu tom e abordagem definitivamente diferem de Carr. - Enquanto Carr tinha pouco a dizer sobre a natureza do poder, Morgenthau enfatizava fortemente o brutal e obscuro, bem como o "inevitável fato da política do poder". - Morgenthau criticou mais fortemente o movimento geral de aplicar conceitos da esfera doméstica à internacional, enquanto o próprio Carr usou essas analogias domésticas como, por exemplo, quando propôs a conciliação entre as classes sociais como modelo de gestão internacional de conflitos ou quando comparou configurações revolucionárias com a comunidade internacional. > A "política entre as nações"de Morgenthau foi publicada quando a Guerra Fria acabara de começar. Isso explica em parte porque as diferentes sombras de seu pensamento foram perdidas e apenas algumas características ganharam destaque no tipo de política de contenção anti- comunista simplista que era o desespero dos realistas, incluindo Morgenthau. Em outras ocasiões, sua crítica do quadro hobbesiano e da solução do estado de natureza e do maquiavelismo não teria sido esquecida tão rapidamente. Em vez disso, foi e ainda é sua ênfase na luta pelo poder que impressionou a maioria dos leitores. > Mas essa recepção unilateral também se deveu em parte ao próprio Morgenthau. Uma vez que ele queria influenciar e aconselhar a política externa do país mais poderoso, mas supostamente internacionalmente inexperiente, ele criou e enfatizou um conjunto realista de axiomas que inevitavelmente tinha que ser seguido. Essas "necessidades" devem ser a base para qualquer política externa "verdadeiramente racional". Desta forma, ele criou a impressão de certeza no estudo e na prática da política internacional; uma certeza cuja impossibilidade ele era tão apto a demonstrar em seus exemplos históricos. De qualquer forma, essa certeza se mostrou necessária para o renascimento da ciência e da disciplina das Relações Internacionais em seu novo ambiente. > O estágio central de seu livro é ocupado pela política de poder, ou pela necessidade de tal política. O conceito e a realidade do poder entram em todas as etapas de seu argumento. Ele define o plano de fundo objetivo, as opções possíveis, os meios mais significativos e, em circunstâncias particulares, os fins da política externa, onde o poder precisa ser equilibrado. Embora seja difícil imaginar como um fenômeno e conceito poderiam fazer tudo isso, Morgenthau uniu um pacote teórico que parecia funcionar e certamente atraiu. A seção a seguir discutirá os elos causais na teoria explicativa de Morgenthau, que vão desde seus fundamentos antropológicos até a política externa real. 3.1. The struggle for power: from human nature to national actors > Os realistas definem a esfera política por relações de poder e de autoridade. Indivíduos, grupos e nações lutam pelo poder são entendidos como o controle efetivo de meios de coerção e relações de autoridade baseadas na legitimidade. A história segue em ciclos eternos, e nenhuma catarse pode pôr um fim a essas lutas permanentes. > O poder parecia tão evidente e a política de poder, tanto o domínio das relações internacionais, que os teóricos realistas raramente remontam as origens de seu conceito-chave. Morgenthau foi um dos poucos escritores que enraizou e definiu o conceito de poder e de política. Ele deu a ela um fundamento psicológico universal. Para ele, havia três pulsões básicas de todos os homens: a pulsão de viver, a pulsão de se reproduzir e a pulsão de dominar. Em um mundo de recursos escassos, sua agregação deve inevitavelmente levar a uma luta pelo poder. Essa 'vontade de poder' é a natureza da política e da guerra, embora a primeira não use violência física. Ele diferencia o observador e o praticante político de advogados ou economistas. > Depois de ter enraizado sua teoria na natureza humana, Morgenthau enfrentou o problema realista clássico de tratar não indivíduos, mas estados, como os atores das Relações Internacionais. O problema é agravado pelo empirismo frequentemente subjacente dos realistas: como os estados (ou nações) não podem ser empiricamente sentidos, eles não existem realmente, embora existam ideias e símbolos sobre eles. > Uma solução consiste em simplesmente se referir à elite política quando se fala de estados. De fato, Morgenthau frequentemente se referia a representantes do estado, e não a entidades coletivas, quando ele falava sobre política externa ou poder nacional. Mas o advento das sociedades de massa (e exércitos de massa) expande o cálculo do poder nacional. Possível em um contexto político aristocrático, o crescente lugar da soberania popular torna a mera referência às elites políticas como uma abreviação para um Estado menos convincente. A concepção de um ator nacional unitário continua sendo um grande problema para qualquer teoria realista baseada na natureza humana. > Morgenthau ofereceu outra solução. Ele discutiu o fenômeno do nacionalismo que encobriu a lacuna entre a população maior e a elite do estado. Aqui o nacionalismo serve como uma ponte conceitual entre o indivíduo e um ator estatal unitário. As origens da solidariedade nacionalista com a elite da política externa são, por sua vez, derivadas da luta pelo poder. Ele argumentou que em nível nacional, o estado central era capaz de controlar a luta pelo poder - mas não para erradicá-lo. O frustrado impulso por energia foi exportado para o nível internacional. "Não sendo capaz de encontrar plena satisfação de seu desejo de poder dentro das fronteiras nacionais, as pessoas projetam essas aspirações insatisfeitas no cenário internacional". > Consequentemente, os estados, em sua luta pelo poder, poderiam ser tratados como indivíduos, sem, no entanto, o estado ser reduzido a um ator unitário (embora, às vezes, Morgenthau tenha saltado do nível individual para o estado unitário). Ou, em outras palavras, Morgenthau poderia reaplicar a "luta pelo poder", fundada na natureza humana, ao nível do estado, que é o principal ator das relações internacionais. A referência à natureza humana saiu do texto. > Essa abordagem permitiu a Morgenthau enfrentar também outro problema analítico. Poderia ser usado para definir e enfatizar a especificidade do âmbito internacional. Aqui, nenhuma autoridade abrangente, comparável ao estado em nível nacional, lida com a luta pelo poder. A esfera internacional é caracterizada pela multiplicidade, ou o que mais tarde foi chamado de anarquia, ou seja, a falta de um governo mundial. Sem árbitro acima deles, os estados são apanhados em uma luta contínua pela sobrevivência. Embora Morgenthau tenha uma definição essencialmente uniforme de política como luta pelo poder, os diferentes ambientes em que é travada permitem distinguir categoricamente a política doméstica da política internacional. Depois de separar a política de outros campos, a abordagem de Morgenthau definiu um campo de estudo independente e seus atores competentes. Estabeleceu os limites paradigmáticos da disciplina. No fenômeno de unir o nacionalismo, Morgenthau ofereceu não apenas uma ponte conceitual entre o indivíduo e a elite política, entre a natureza humana e o nível do estado, mas também uma possível explicação para o fenômeno da guerra total no século XX. Para ele, a guerra total foi o resultado de uma forma particularmente virulenta de nacionalismo, possível com o advento das sociedades de massa. As sociedades de massa, totalitárias ou democráticas, contam com uma base cada vez mais ampla de legitimidade política. Em tempos de desintegração social e insegurança pessoal, um número cada vez maior de aspirações populares, em casa insatisfeitas, mas agora legítimas, são projetadas no exterior: Morgenthau defendeu um vínculo estreito entre o advento das sociedades de massa, a ferocidade das potências nacionalistas modernas e a intransigência guerra. Para ele, essa universalização do nacionalismo os impulsos, ou o que ele chama de "universalismo nacionalista", foram os maiores perigos da política mundial do século XX, uma vez que minaram a força moderadora das normas compartilhadas pela Internacional Aristocrática". 3.2. National power and international mechanisms of order O nível internacional é caracterizado por uma luta pelo poder que opõe-se àqueles que querem manter e àqueles que querem mudar a atual distribuição de poder. Existem duas características principais da ordem mundial: o necessário equilíbrio de poder e, para o sistema funcionar de maneiramais pacífica, mecanismos normativos. Morgenthau explicou longamente a articulação do equilíbrio de poder: o trabalho das potências centrais (e grandes), estados-tampão, protetorados e, o que ele chama de estados de interesse, isto é, estados que são importantes em termos da competição da grande potência . Ele fornece exemplos de métodos de equilíbrio de poder, como "dividir e governar", acordos de compensação, corridas de armas, alianças ou o papel do "equilibrador". Nas passagens iniciais de seu capítulo sobre o equilíbrio de poder, Morgenthau atacou o idealismo afirmando que o equilíbrio de poder não era uma questão de escolha de políticas, mas natural e inevitável. Análogo ao equilíbrio de preços em um mercado, o equilíbrio de poder foi a conseqüência natural da luta pelo poder. Seu objetivo é a estabilidade e a preservação de todos os elementos do sistema. Essas passagens deram origem ao entendimento científico do realismo, que será abordado no próximo capítulo. Morgenthau, no entanto, não acreditava que o equilíbrio de poder funcionaria inevitavelmente: para ele, o equilíbrio de poder era incapaz de garantir limitação eficiente de conflitos. A razão está na natureza do poder: não pode ser medido. A avaliação das oito bases do poder está viciada por três falácias principais. O poder não é uma categoria absoluta. É relativo e deve ser avaliado em comparação com outros poderes nacionais. Também não é permanente, porque as bases de poder mudam. Finalmente, não existe um fator único a partir do qual se possa obter poder, em particular a força militar. Morgenthau concluiu que "o cálculo racional da força relativa de várias nações, que é a própria força vital do equilíbrio de poder, torna-se uma série de suposições sobre a correção do que pode ser afirmado apenas em retrospecto". Portanto, Morgenthau considerou os argumentos a favor do funcionamento do equilíbrio de poder para preservar a paz como inexistentes, uma vez que não havia provas de que ele tivesse evitado a guerra enquanto certamente era uma causa de guerra. Da mesma forma, segundo Morgenthau, defender o equilíbrio de poder como um instrumento eficiente para a limitação de conflitos era inadequado, porque seu funcionamento pressupunha que fosse comumente aceito como tal. Este último ponto deve ser enfatizado. Além de algumas passagens sobre o equilíbrio de poder abordadas no próximo capítulo, e além de sua tentativa de produzir uma teoria das Relações Internacionais baseada em categorias universais, pelas quais ele se tornou famoso e criticado, Morgenthau argumentou que o equilíbrio de poder não era mecânico , mas emanava 'de vários elementos, de natureza intelectual e moral' (...). No trágico século XX, esse código de conduta está sob ataque permanente das forças incompatíveis e intransigentes do universalismo nacionalista. "Enquanto a seleção democrática e a responsabilidade dos funcionários do governo destruíram a moralidade internacional como um sistema eficaz de restrição, o nacionalismo destruiu a própria sociedade internacional na qual a moralidade havia operado". Portanto, qualquer sistema internacional, para ser ordenado e, portanto, pacífico, deve contar com mecanismos normativos. Morgenthau distinguiu três mecanismos diferentes, em ordem crescente de impacto real: ética, incluindo costumes e direito; então opinião pública mundial; e, finalmente, direito internacional. Se sua criação falhar, o sistema sempre recairá sobre o choque brutal das forças nacionais. Essas lutas estabelecerão mecanismos de equilíbrio que, por sua vez, exigem mecanismos normativos para funcionar, e assim por diante. A política nacional de poder e o equilíbrio de poder são as consequências de qualquer sstema internacional: esta é a posição realista básica - não se pode evitar a luta pelo poder. Mas, para evitar grandes tragédias em uma era do nacionalismo universalista, para fazer o equilíbrio de poder funcionar como uma restrição da guerra, arranjos ou instituições normativas devem substituir o código de conduta aristocrático em declínio. Com toda sua ênfase analítica na inevitável luta pelo poder e no necessário equilíbrio de poder, Morgenthau, que se preocupa com a política, reservou um papel para normas e controle público que estava longe de ser insignificante; foi a força cultural (normativa) necessária que permitiu que um sistema de equilíbrio de poder funcionasse como um mecanismo de preservação da paz. Desde que a política internacional foi democratizada, as novas políticas externas devem aprender a seguir os papéis estabelecidos. Como não se pode mais confiar na tradição aristocrática, o observador esclarecido precisa convencer essas elites de uma política externa que reflete e reproduz a cultura diplomática tradicional. Essa é a tensão básica entre o Morgenthau analítico e o Morgenthau preocupado com a política, uma tensão que é fundamental para muitos realistas. Por um lado, Morgenthau entende a cultura diplomática como o produto de uma tradição sócio-histórica específica. Como tradição, é praticamente adquirido. Por outro lado, a diplomacia atual é conduzida por profissionais sem essa tradição. Para esses formuladores de políticas, adquirir as máximas da diplomacia tradicional exige uma justificativa racional sem fim. Para fazer a tradição encontrar a razão, é grande a tentação de transformar essas máximas, as lições da história, em leis científicas. Nas edições posteriores de seu livro, Morgenthau atualizou a abordagem. A nova introdução deu a toda a empresa uma visão mais unilateral, apesar da sutileza histórica de Morgenthau ao longo do resto do livro. As regularidades das relações internacionais e a permanência da natureza humana tornaram-se necessidades às quais toda a política externa racional, no interesse nacional, deve obedecer. Morgenthau precisava adaptar o quadro das práticas realistas aos discursos acadêmicos e políticos de seu público principalmente americano. Em sua própria tentativa de comunicar lições realistas, ele as mudou. Ele transformou o realismo da experiência histórica e do conhecimento compartilhado de uma cultura diplomática em uma teoria das ciências sociais que é entendida como 'governada por leis objetivas que têm suas raízes na natureza humana'. CONCLUSION O contexto histórico de Munique e o apaziguamento deram um real apelo ao realismo, em oposição às abordagens idealistas que prevaleciam no período entre guerras. Carr e Morgenthau contribuíram para minar os princípios básicos do que foi chamado de idealismo (o utopismo de Carr). Morgenthau foi crucial para garantir a ascensão do realismo na recém- fundada especialização acadêmica de Relações Internacionais. Carr usou o ceticismo realista para criticar um grande poder de sua época, sua terra natal, a Grã-Bretanha. Ele desmascarou a harmonia aparentemente universal de interesses como uma ideologia do status quo do poder. No entanto, o ceticismo de Carr produz um círculo inquieto de críticas que, como ele reconheceu, são contraditórias. Além disso, o ceticismo de Carr não é capaz de definir sua mistura exata de realismo e idealismo, nem propor positivamente uma política coerente. Morgenthau, em sua tentativa de ensinar as lições diplomáticas do passado, ficou dividido entre suas críticas anteriores (1946) a idealistas que confundiam política com ciência, e sua própria tentativa de substituir o idealismo por 8o reivindicação à superioridade científica do realismo (1948, 1960). O resultado é uma teoria que deve encontrar pontes conceituais a partir das eternas leis da natureza humana, através do estado como ator unitário, até um equilíbrio necessário da teoria do poder. É muito mais complexo e contraditório do que se costuma reconhecer. Para dar apenas um exemplo, Kenneth Waltz (1959) propôs uma distinção famosa entre três imagenspara entender as causas da guerra. A primeira imagem é baseada na natureza humana, a segunda na natureza do regime político e a terceira nas características específicas do domínio internacional (anarquia). A valsa claramente colocou Morgenthau dentro a primeira categoria. No entanto, embora Morgenthau derivasse o poder e, portanto, as características essenciais de toda política, incluindo a guerra, de natureza, ele também poderia se qualificar para as outras duas imagens. Ele argumentou que a guerra típica do terrível século XX foi resultado da democratização e, portanto, da nacionalização da política internacional. Foi assim que ele chamou a mudança para sociedades de massa cujos governantes têm que responder a grandes constituintes. Esta é uma forma de explicação da segunda imagem. E, finalmente, embora seja verdade que a política trata da luta pelo poder com base na natureza humana, a especificidade do âmbito internacional, o que ele chamou de multiplicidade, explica por que a luta pelo poder pela guerra, embora domesticada no nível doméstico, é endêmica a nível internacional. Como Carr e Morgenthau, tão diferentes em estilo e conteúdo, e cujas abordagens são preenchidas com tantas tensões internas, tornam-se pontos de referência importantes para uma escola de pensamento? Obviamente, eles eram percebidos principalmente pelo que tinham em comum, pela crítica ao idealismo e pela prioridade dada ao poder e à política. Portanto, este capítulo também deve servir como um alerta: por mais que o idealismo fosse idealizado para permitir uma crítica realista, o realismo foi muitas vezes demonizado por seus adversários e mal utilizado por amigos reacionários. A oposição binária do realismo e do idealismo serve mais frequentemente para fornecer aos observadores e profissionais uma identidade do que para fornecer clareza analítica. A visão realista do mundo quer ser pragmática, não cínica. Seu principal objetivo é evitar grandes guerras através do gerenciamento e limitação de conflitos por um equilíbrio de poder de trabalho suplementado por arranjos normativos. No entanto, para os realistas, a luta pelo poder sempre surgirá. Conflitos não podem ser abolidos. Para os realistas, a política externa geralmente traz escolhas que ninguém quer fazer. Os diplomatas podem às vezes ter que jogar, mas não porque gostam de fazê- lo. No cenário da política mundial, onde forças brutas podem colidir sem restrições, diplomatas entram em um teatro de tragédia. Esse é o destino do estadista, que, nos escritos de Morgenthau, mas também de Kennan e Kissinger, aparece como uma figura heroica romantizada. Frequentemente incompreendida também pelos realistas autoproclamados, a política realista não é a projeção externa de uma ideologia militar ou mesmo reacionária; é o constante ajuste a uma realidade amarga. Para os realistas, o Realpolitik não é uma escolha que pode ser evitada, é uma necessidade que os atores responsáveis devem moderar.
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