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TRADUÇÃO RESUMIDA Stefano Guzzini - Realism in International Relations and International Political Economy (capítulo 2)

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CAPÍTULO 2: CLASSICAL REALISM: CARR, MORGENTHAU AND THE CRISIS 
OF COLLECTIVE SECURITY 
INTRODUCTION 
> O pensamento político é influenciado pelo contexto histórico no qual é 
formulado (...). O começo das RI é marcado por um momento idealista, em 
si mesmo uma reação contra as práticas diplomátricas do século XIX. 
> A disciplina das RI nasceu com a preocupação normativa de entender as 
origens da paz e da guerra. Os idealistas "found the causes for armed 
conflicts not in the inherently war-prone international enviroment, but in 
the irrational breakdown of a potential world community of nations". Esse 
período entre guerras idealista posteriormente viu a emergência de uma 
crítica realista e da disciplina das RI (...). 
> O debate realista-idealista é chamado o primeiro debate das RI, mas é 
mais do que isso: o realismo deriva sua interna lógica da constante 
contraposição de um constante idealizado idealismo. De fato, o realismo é 
impensável sem o plano de fundo de uma posição anterior idealista, 
profundamente comprometida com o universalismo do Iluminismo e a 
teoria da política democrática. 
> Os pais da disciplina, E. H. Carr e Hans J. Morgenthau representam a 
expressão clássica do realismo derivado do anti-idealismo. 
 - A posição mitigada realista de Carr foi menos bem sucedida que a de 
Morgenthau em Política entre nações; 
 - A aborgadem de Morgenthau se tornou paradigmática por duas razões: 
 1. Ele se esforça em definir um campo de política independente da 
pesquisa social; 
 2. Mais do que qualquer outro texto, ele exemplifica a tentativa de reviver 
o conhecimento prático do século XIX na diplomacia europeia, e torná-la 
uma teoria explicatória das RI. 
1. THE RISE AND FALL OF IDEALISM AFTER THE FIRST WORLD WAR 
> What came to be called idealism in the inter war period was based upon 
three major tenets: 
 1 - A natureza humana não é redutível à motivação egoísta e necessidades 
materiais; ela requer também objetivos e ideais; 
 2 - Esses ideias, que afetam os objetivos e o comportamento humano, são 
potencialmente universais no que elas representam o verdadeiro interesse 
dos indivíduos no longo-termo, como muitos dos Estados e a comunidade 
mundial. 
 3 - Central para esse filosofia política está contudo a razão e a 
comunicação racionada, de modo a assegurar que a harmonia de 
interesses seja alcançada. 
> Em resumo, o idealismo afirma que através da razão apenas a 
humanidade pode sair do estado de natureza nas relações inter-estatais. 
Com razão, princípios universais podem ser entendidos e transformados 
em normas, leis, e comportamento humano e governamental. A política 
deveria assim encorajar tanto a educação das pessoas de modo a fazê-los 
entender seus interesses de longo-termo, e a democratização da esfera 
política. Essas assunções dão espaço à concepção das relações 
internacionais e a política externa. Diferia da diplomacia tradicional, e 
posteriormente realismo, em como ele entendia o que poderia ser 
chamado as causas objetivas e subjetivas da guerra. 
> Causas objetivas da guerra geralmente se referem à imutabilidade da 
natureza humana e a natureza da política. 
 - No idealismo, considerando a humanidade potencialmente boa, deve 
existir ao menos uma possível harmonia de interesses. Assim, a guerra 
deve ser a falha ou colapso da comunicação racional que a política deveria 
prover em lugar de traduzir princípios universais harmoniosos na 
realidade. Assim não o sistema mas os governos são responsáveis pelas 
guerras. Eles as começam, contra os interesses de seus cidadãos. 
 - Governos não democráticos ou ilegítimos são as causas primárias da 
guerra. A guerra pode ser prevenida através da democratização da política, 
começando do local para o nacional e finalmente para o nível 
internacional. NO ambiente internacional não democrático do século XIX, 
egoísmo se tornou nacionalismo, e inevitavelmente levou à guerra. 
> Já as causas subjetivas, a velha diplomacia se mostra como a primeira 
causa. 
 - Na crítica idealista, essa diplomacia tinha várias falhas. 
 1º, diplomatas tomavam decisões acima das cabeças de seus povos. Em 
vez disso, política estrangeira deveria se tornar democratizada e 
responsável pela vontade do povo soberano. 
 2º, a primazia da política externa justificava suas atividades mantidas em 
segredo tanto da esfera doméstica e do outros diplomatas. Ainda assim, a 
política secreta evitava o debate racional que é requirido para fazer as 
soluções mais razoáveis prevalecerem. De fato, a diplomacia secreta era 
entendida como o gatilho que destrinchou a guerra. 
 3º, o balanço de poder, longe de ser o principal meio de prevenir a guerra, 
era uma das principais razões para a sua explosão. Power balancing 
depends on the very possibility of conflict. O idealismo vê a velha 
diplomacia como a encarnação da arrogância da elite usando a arena 
internacional como playground. 
> Se baseando na falha da diplomacia convencional para garantir paz, o 
idealismo tentava introduzir novos princípios e práticas à política 
internacional. 
 - Em vários prismas, o idealismo é tentado transpor os princípios da do 
regime doméstico liberal-democrático para o âmbito internacional. 
 - Por outro lado, isso incluiria o direito da autodeterminação como 
reconhecimento do papel negativo que os impérios multinacionais 
interpretaram com a explosão da IGM. 
 - No nível internacional, com suas alianças mudando e eventualmente se 
desestabilizando, o poder político seria substituído por um sistema de 
segurança coletiva onde a comunidade internacional como um todo 
deteria com mais eficiência e se oporia a qualquer uso ilegítimo da 
violência. Não o balanço de poder, mas um corpo internacional, a Liga das 
Nações, deveria ser o meio da diplomacia internacional. 
 - Em resumo, ao levar a sério os direitos nacionais e remover as causas 
nacionalistas do conflito internacional, um sistema internacional de 
segurança poderia ser designado a sobrepor esses interesses nacionais em 
detrimento da prevenção da guerra. A precondição da aceitação de tal 
sistema seria uma publicidade que daria razoável tempo para fazer as 
opções políticas se ajustarem. 
> Ainda assim a política internacional do período entre guerras não parecia 
conformar-se à visão global do idealismo. A crise de 1929 colocou um fim 
ao sistema monetário internacional do período (padrão ouro) e levou ao 
início de uma cooperação internacional econômica. Em vez de um regime 
de trocas livres, o sistema internacional econômico se caracterizou: 
primeiro, pelo protecionismo (política nacional que privilegiava mercados e 
produtores domésticos), e segundo, o mercantilismo (política que 
subordina a economia aos objetivos da política externa nacional). 
Tentativas individuais a exportar problemas econômicos através das 
políticas de "beggar-thy-neighbour" resultaram numa piora da crise 
internacional. Trazendo a visão de mundo idealista em questão, 
conferências de desarmamento falharam. Quando a Itália invadiu a Etiópia 
em 1935, a Liga das Nações provou-se incapaz de prover segurança mesmo 
para seus membros africanos mais antigos. 
> O sistema colapsou inteiramente quando a Alemanha nazista obteve 
parte da Checoslováquia, um país soberano, por pressão militar. Contudo, 
esse ato foi ironicamente legitimado em termos de autodeterminação 
idealista no Acordo de Munique (1938) com as grandes potências 
europeias (incluindo a URSS), assinado na esperança de prevenir uma 
guerra maior. A propaganda nazista ludibriou os poderosos de 1918 em 
sua própria lógica: o governo alemão clamava agir em direito de defesa 
dos sudetes alemães. Os ideais de ordem pacífica se tornaram parte da 
máquina de guerra alemã. A estratégia das democracias de prevenir outra 
guerra maior contra a Alemanha foi uma série de concessões que 
simbolizavam a compra das restrições feitas à Alemanha (???). Mas sob 
condiçõesem que a resistência era necessária, essa estratégia acabou 
colaborando com a guerra. O apaziguamento se tornou o símbolo político 
internacional mais importante e poderoso no pós IIGM. As lissões 
aprendidas de sua manifesta falha compuseram a maior parte do plano de 
fundo do pensamento atrás do pensamento realista ascendente. 
2. THE REALIST CRITIQUE OF IDEALISM: E. H. CARR'S ATTACK ON THE 
HARMONY OF INTERESTS 
> O idealismo era inspirado pelo desejo de prevenir a recriação de 
condições que poderiam levar à guerra. 
 - Os realistas também queriam limitar a guerra, embora eles mantivessem 
que a guerra é às vezes é um meio necessário da política externa. 
> O idealismo pressupunha o princípio subjacente da diplomacia do século 
XIX, a moderação, e tentou aplicá-la em um novo contexto, onde a guerra 
não mais era considerada um meio possível da política. Almejava um 
sistema de segurança coletiva para moderar os Estados. 
 - O realismo, por outro lado, se esforçava para ajustar a política 
internacional ao fenômeno da guerra total que resultava do reverso do 
ditado de Clausewitz, nomeadamente que a paz se torna a prolongação da 
guerra por outros meios. Para os realistas, o poder político não é acidente 
histórico, mas, como Morgenthau chamou, um fato humano e uma 
necessidade lógica. 
2.1. British realism vs Britain's idealism 
> O principal objeto da crítica de Carr era a inexistente harmonia de 
interesses. O idealismo tem três máculas principais: Prioridade dada à 
razão acima dos interesses, à ética sobre a política e teoria sobre a prática. 
> Carr via o realismo começando de premissas opostas. A ação e análise 
política é informada não pelo que o mundo poderia ser, mas pelo que ele 
é. Realismo assim tem uma forte base utilitarista e empiricista. Não se 
dirige a possíveis mudanças de interesses dos atores, os tem como 
constantes. A política é designada a adaptar-se a determinados interesses - 
e não baseada na errônea assunção de que eles podem ser alterados. 
> Carr introduziu seu famoso conceito de harmonia de interesses do 
pensamento liberal econômico; ele corresponde ao princípio da mão 
invisível nas economias de mercado (...). 
> Carr também arguiu que valores são derivados de poder, e a ética da 
política. O apelo a uma harmonia de interesses nada mais é do que o 
resultado de uma configuração específica de poder que é poderosa 
suficiente para implementar os ditados de seus interesses particulares e 
fazê-los parecer universal. 
> Na medida em que os interesses dos grupos sociais menos poderosos 
estão vinculados aos interesses de sua elite, também existe um 
fundamento objetivo no qual ambos os conjuntos de interesses coincidem. 
No entanto, esse fundamento não é a natureza universal desses interesses, 
mas o poder absoluto dos privilegiados que não deixa à comunidade outra 
alternativa senão vincular seus interesses aos deles. Ademais, Carr viu 
outra origem menos pacífica do credo liberal de uma harmonia de 
interesses - que chamo de darwinismo econômico, a ideia de que, para a 
economia, é melhor a longo prazo se apenas as empresas mais aptas 
sobreviverem. 
> Aplicada à política internacional, a harmonia de interesses de fato 
corresponde à poderosa ideologia do status quo que 'ajudou políticos e 
escritores políticos em toda parte a evadir o fato de uma divergência 
fundamental entre nações desejosas de manter o status quo e nações 
desejosas de mudá-lo. 
 - A política da segurança coletiva utilizada pelos vencedores de 1918 não 
gerenciava as possibilidades de conflito, mas sim negava que o conflito 
pudesse existir. Ainda assim, se a paz significasse nada mais do que manter 
o status quo dos benefícios e do poder, então ela estaria fadada a falhar. 
 - Para Carr, a política externa deve em vez disso se basear na mudança 
preventiva pacífica, sempre que possível, e na gestão de conflitos militares, 
quando necessário. 
2.2. Carr's sceptical critique of realism 
> A teoria materialista das ideologias de Carr não está sem falhas. Isso 
pode ser exemplificado pela maneira como ele trata as ideologias 
internacionalistas. Seguindo a abordagem realista (e materialista) usual de 
que as condições sociais determinam regras, princípios e ideologias 
inteiras, Carr alegou que todas as ideologias internacionalistas eram meras 
racionalizações dadas pelos poderes do status quo dominantes, a fim de 
proteger sua posição privilegiada. Mas essa afirmação é inconsistente em 
seus próprios termos: mesmo se assumirmos que todas as idéias derivam 
de interesses particulares, nem todos os interesses hegemônicos foram 
automaticamente acompanhados por uma ideologia internacionalista que 
repousa sobre uma harmonia de interesses. 
> Para Carr, o governo da Alemanha nazista deveria ser entendido como só 
mais uma força revisionista, cujos clamores por mudança nas relações 
internacionais eram boa ou más como todos os clamores de poderes 
ascendentes. Ainda assim sua ideologia racial, que por definição só poderia 
incluir uma certa parte da Europa, produziu uma internacionalização que 
nunca alegou assumir uma harmonia de interesses. Mesmo se assumirmos 
que todos os governos em posições internacionais privilegiadas 
compartilham legitimação universalista de seus status, existem diferenças 
qualitativas entre essas legitimações. Para liberais e aqueles que assumem 
uma potencial harmonia de interesses, internacionalismo significa a 
realização de uma filosofia universalista que também pode e se restringe. 
Para nacionalistas ou racistas, que buscam uma legitimação 
internacionalista, o último não pode ser controlado por um apelo 
universal: nada mais é do que a imposição internacional de uma ideologia 
particularista. 
> Negligenciando a diferença de ideologias e sistemas domésticos, Carr 
não conseguiu distinguir entre as tentativas de Stresemann de revisar os 
tratados de Versalhes, mantendo os princípios do regime internacional 
intocados, e os de Hitler, que queriam mudá-los. (...) Em outras palavras, 
seu ceticismo criticou o status quo através de argumentos que poderiam 
ser perfeitamente reaplicados àqueles que querem mudar isso. 
> Essa crítica unilateral é um exemplo curioso de uma percepção 
verdadeiramente central que o próprio Carr desenvolveu em seu livro. 
Realismo e uma teoria cética que desmascara a aparente inocência da 
verdade do dia. 
> É curioso que Carr continue sendo celebrado apenas por sua crítica 
realista do idealismo (...). 
3. THE NEW PARADIGM: MORGENTHAU'S POLITICS AMONG NATIONS 
> A posição de Carr era ambígua e seu estilo era polêmico para fundar uma 
escola de pensamento, para fornecer uma disciplina emergente com um 
exemplo paradigmático; mas ele preparou o terreno. (...) O idealismo 
passou a ser entendido não apenas como uma abordagem equivocada 
quando levado ao extremo (como também era realismo para Carr), mas 
como um sinal da "decadência final do liberalismo" que não poderia 
conceber uma guerra legítima nem mesmo contra o fascismo. O 
liberalismo foi a origem de uma doença que assolou o pensamento político 
ocidental. (...) O mundo recebeu outra chance de ser curado do liberalismo 
racionalista nas relações internacionais. 
> Apesar de Morgenthau não ser o maquiavélico que às vezes se diz que é, 
seu tom e abordagem definitivamente diferem de Carr. 
 - Enquanto Carr tinha pouco a dizer sobre a natureza do poder, 
Morgenthau enfatizava fortemente o brutal e obscuro, bem como o 
"inevitável fato da política do poder". 
- Morgenthau criticou mais fortemente o movimento geral de aplicar 
conceitos da esfera doméstica à internacional, enquanto o próprio Carr 
usou essas analogias domésticas como, por exemplo, quando propôs a 
conciliação entre as classes sociais como modelo de gestão internacional 
de conflitos ou quando comparou configurações revolucionárias com a 
comunidade internacional. 
> A "política entre as nações"de Morgenthau foi publicada quando a 
Guerra Fria acabara de começar. Isso explica em parte porque as 
diferentes sombras de seu pensamento foram perdidas e apenas algumas 
características ganharam destaque no tipo de política de contenção anti-
comunista simplista que era o desespero dos realistas, incluindo 
Morgenthau. Em outras ocasiões, sua crítica do quadro hobbesiano e da 
solução do estado de natureza e do maquiavelismo não teria sido 
esquecida tão rapidamente. Em vez disso, foi e ainda é sua ênfase na luta 
pelo poder que impressionou a maioria dos leitores. 
> Mas essa recepção unilateral também se deveu em parte ao próprio 
Morgenthau. Uma vez que ele queria influenciar e aconselhar a política 
externa do país mais poderoso, mas supostamente internacionalmente 
inexperiente, ele criou e enfatizou um conjunto realista de axiomas que 
inevitavelmente tinha que ser seguido. Essas "necessidades" devem ser a 
base para qualquer política externa "verdadeiramente racional". Desta 
forma, ele criou a impressão de certeza no estudo e na prática da política 
internacional; uma certeza cuja impossibilidade ele era tão apto a 
demonstrar em seus exemplos históricos. De qualquer forma, essa certeza 
se mostrou necessária para o renascimento da ciência e da disciplina das 
Relações Internacionais em seu novo ambiente. 
> O estágio central de seu livro é ocupado pela política de poder, ou pela 
necessidade de tal política. O conceito e a realidade do poder entram em 
todas as etapas de seu argumento. Ele define o plano de fundo objetivo, as 
opções possíveis, os meios mais significativos e, em circunstâncias 
particulares, os fins da política externa, onde o poder precisa ser 
equilibrado. Embora seja difícil imaginar como um fenômeno e conceito 
poderiam fazer tudo isso, Morgenthau uniu um pacote teórico que parecia 
funcionar e certamente atraiu. A seção a seguir discutirá os elos causais na 
teoria explicativa de Morgenthau, que vão desde seus fundamentos 
antropológicos até a política externa real. 
3.1. The struggle for power: from human nature to national actors 
> Os realistas definem a esfera política por relações de poder e de 
autoridade. Indivíduos, grupos e nações lutam pelo poder são entendidos 
como o controle efetivo de meios de coerção e relações de autoridade 
baseadas na legitimidade. A história segue em ciclos eternos, e nenhuma 
catarse pode pôr um fim a essas lutas permanentes. 
> O poder parecia tão evidente e a política de poder, tanto o domínio das 
relações internacionais, que os teóricos realistas raramente remontam as 
origens de seu conceito-chave. Morgenthau foi um dos poucos escritores 
que enraizou e definiu o conceito de poder e de política. Ele deu a ela um 
fundamento psicológico universal. Para ele, havia três pulsões básicas de 
todos os homens: a pulsão de viver, a pulsão de se reproduzir e a pulsão de 
dominar. Em um mundo de recursos escassos, sua agregação deve 
inevitavelmente levar a uma luta pelo poder. Essa 'vontade de poder' é a 
natureza da política e da guerra, embora a primeira não use violência 
física. Ele diferencia o observador e o praticante político de advogados ou 
economistas. 
> Depois de ter enraizado sua teoria na natureza humana, Morgenthau 
enfrentou o problema realista clássico de tratar não indivíduos, mas 
estados, como os atores das Relações Internacionais. O problema é 
agravado pelo empirismo frequentemente subjacente dos realistas: como 
os estados (ou nações) não podem ser empiricamente sentidos, eles não 
existem realmente, embora existam ideias e símbolos sobre eles. 
> Uma solução consiste em simplesmente se referir à elite política quando 
se fala de estados. De fato, Morgenthau frequentemente se referia a 
representantes do estado, e não a entidades coletivas, quando ele falava 
sobre política externa ou poder nacional. Mas o advento das sociedades de 
massa (e exércitos de massa) expande o cálculo do poder nacional. Possível 
em um contexto político aristocrático, o crescente lugar da soberania 
popular torna a mera referência às elites políticas como uma abreviação 
para um Estado menos convincente. A concepção de um ator nacional 
unitário continua sendo um grande problema para qualquer teoria realista 
baseada na natureza humana. 
> Morgenthau ofereceu outra solução. Ele discutiu o fenômeno do 
nacionalismo que encobriu a lacuna entre a população maior e a elite do 
estado. Aqui o nacionalismo serve como uma ponte conceitual entre o 
indivíduo e um ator estatal unitário. As origens da solidariedade 
nacionalista com a elite da política externa são, por sua vez, derivadas da 
luta pelo poder. Ele argumentou que em nível nacional, o estado central 
era capaz de controlar a luta pelo poder - mas não para erradicá-lo. O 
frustrado impulso por energia foi exportado para o nível internacional. 
"Não sendo capaz de encontrar plena satisfação de seu desejo de poder 
dentro das fronteiras nacionais, as pessoas projetam essas aspirações 
insatisfeitas no cenário internacional". 
> Consequentemente, os estados, em sua luta pelo poder, poderiam ser 
tratados como indivíduos, sem, no entanto, o estado ser reduzido a um 
ator unitário (embora, às vezes, Morgenthau tenha saltado do nível 
individual para o estado unitário). Ou, em outras palavras, Morgenthau 
poderia reaplicar a "luta pelo poder", fundada na natureza humana, ao 
nível do estado, que é o principal ator das relações internacionais. A 
referência à natureza humana saiu do texto. 
> Essa abordagem permitiu a Morgenthau enfrentar também outro 
problema analítico. Poderia ser usado para definir e enfatizar a 
especificidade do âmbito internacional. Aqui, nenhuma autoridade 
abrangente, comparável ao estado em nível nacional, lida com a luta pelo 
poder. A esfera internacional é caracterizada pela multiplicidade, ou o que 
mais tarde foi chamado de anarquia, ou seja, a falta de um governo 
mundial. Sem árbitro acima deles, os estados são apanhados em uma luta 
contínua pela sobrevivência. Embora Morgenthau tenha uma definição 
essencialmente uniforme de política como luta pelo poder, os diferentes 
ambientes em que é travada permitem distinguir categoricamente a 
política doméstica da política internacional. Depois de separar a política de 
outros campos, a abordagem de Morgenthau definiu um campo de estudo 
independente e seus atores competentes. Estabeleceu os limites 
paradigmáticos da disciplina. 
No fenômeno de unir o nacionalismo, Morgenthau ofereceu não apenas 
uma ponte conceitual entre o indivíduo e a elite política, entre a natureza 
humana e o nível do estado, mas também uma possível explicação para o 
fenômeno da guerra total no século XX. Para ele, a guerra total foi o 
resultado de uma forma particularmente virulenta de nacionalismo, 
possível com o advento das sociedades de massa. As sociedades de massa, 
totalitárias ou democráticas, contam com uma base cada vez mais ampla 
de legitimidade política. Em tempos de desintegração social e insegurança 
pessoal, um número cada vez maior de aspirações populares, em casa 
insatisfeitas, mas agora legítimas, são projetadas no exterior: Morgenthau 
defendeu um vínculo estreito entre o advento das sociedades de massa, a 
ferocidade das potências nacionalistas modernas e a intransigência guerra. 
Para ele, essa universalização do nacionalismo os impulsos, ou o que ele 
chama de "universalismo nacionalista", foram os maiores perigos da 
política mundial do século XX, uma vez que minaram a força moderadora 
das normas compartilhadas pela Internacional Aristocrática". 
3.2. National power and international mechanisms of order 
O nível internacional é caracterizado por uma luta pelo poder que opõe-se 
àqueles que querem manter e àqueles que querem mudar a atual 
distribuição de poder. Existem duas características principais da ordem 
mundial: o necessário equilíbrio de poder e, para o sistema funcionar de 
maneiramais pacífica, mecanismos normativos. 
Morgenthau explicou longamente a articulação do equilíbrio de poder: o 
trabalho das potências centrais (e grandes), estados-tampão, protetorados 
e, o que ele chama de estados de interesse, isto é, estados que são 
importantes em termos da competição da grande potência . Ele fornece 
exemplos de métodos de equilíbrio de poder, como "dividir e governar", 
acordos de compensação, corridas de armas, alianças ou o papel do 
"equilibrador". 
Nas passagens iniciais de seu capítulo sobre o equilíbrio de poder, 
Morgenthau atacou o idealismo afirmando que o equilíbrio de poder não 
era uma questão de escolha de políticas, mas natural e inevitável. Análogo 
ao equilíbrio de preços em um mercado, o equilíbrio de poder foi a 
conseqüência natural da luta pelo poder. Seu objetivo é a estabilidade e a 
preservação de todos os elementos do sistema. Essas passagens deram 
origem ao entendimento científico do realismo, que será abordado no 
próximo capítulo. Morgenthau, no entanto, não acreditava que o equilíbrio 
de poder funcionaria inevitavelmente: para ele, o equilíbrio de poder era 
incapaz de garantir limitação eficiente de conflitos. A razão está na 
natureza do poder: não pode ser medido. A avaliação das oito bases do 
poder está viciada por três falácias principais. O poder não é uma categoria 
absoluta. É relativo e deve ser avaliado em comparação com outros 
poderes nacionais. Também não é permanente, porque as bases de poder 
mudam. Finalmente, não existe um fator único a partir do qual se possa 
obter poder, em particular a força militar. Morgenthau concluiu que "o 
cálculo racional da força relativa de várias nações, que é a própria força 
vital do equilíbrio de poder, torna-se uma série de suposições sobre a 
correção do que pode ser afirmado apenas em retrospecto". Portanto, 
Morgenthau considerou os argumentos a favor do funcionamento do 
equilíbrio de poder para preservar a paz como inexistentes, uma vez que 
não havia provas de que ele tivesse evitado a guerra enquanto certamente 
era uma causa de guerra. 
Da mesma forma, segundo Morgenthau, defender o equilíbrio de poder 
como um instrumento eficiente para a limitação de conflitos era 
inadequado, porque seu funcionamento pressupunha que fosse 
comumente aceito como tal. Este último ponto deve ser enfatizado. Além 
de algumas passagens sobre o equilíbrio de poder abordadas no próximo 
capítulo, e além de sua tentativa de produzir uma teoria das Relações 
Internacionais baseada em categorias universais, pelas quais ele se tornou 
famoso e criticado, Morgenthau argumentou que o equilíbrio de poder não 
era mecânico , mas emanava 'de vários elementos, de natureza intelectual 
e moral' (...). 
No trágico século XX, esse código de conduta está sob ataque permanente 
das forças incompatíveis e intransigentes do universalismo nacionalista. 
"Enquanto a seleção democrática e a responsabilidade dos funcionários do 
governo destruíram a moralidade internacional como um sistema eficaz de 
restrição, o nacionalismo destruiu a própria sociedade internacional na 
qual a moralidade havia operado". Portanto, qualquer sistema 
internacional, para ser ordenado e, portanto, pacífico, deve contar com 
mecanismos normativos. Morgenthau distinguiu três mecanismos 
diferentes, em ordem crescente de impacto real: ética, incluindo costumes 
e direito; então opinião pública mundial; e, finalmente, direito 
internacional. Se sua criação falhar, o sistema sempre recairá sobre o 
choque brutal das forças nacionais. Essas lutas estabelecerão mecanismos 
de equilíbrio que, por sua vez, exigem mecanismos normativos para 
funcionar, e assim por diante. A política nacional de poder e o equilíbrio de 
poder são as consequências de qualquer sstema internacional: esta é a 
posição realista básica - não se pode evitar a luta pelo poder. Mas, para 
evitar grandes tragédias em uma era do nacionalismo universalista, para 
fazer o equilíbrio de poder funcionar como uma restrição da guerra, 
arranjos ou instituições normativas devem substituir o código de conduta 
aristocrático em declínio. 
Com toda sua ênfase analítica na inevitável luta pelo poder e no necessário 
equilíbrio de poder, Morgenthau, que se preocupa com a política, reservou 
um papel para normas e controle público que estava longe de ser 
insignificante; foi a força cultural (normativa) necessária que permitiu que 
um sistema de equilíbrio de poder funcionasse como um mecanismo de 
preservação da paz. Desde que a política internacional foi democratizada, 
as novas políticas externas devem aprender a seguir os papéis 
estabelecidos. Como não se pode mais confiar na tradição aristocrática, o 
observador esclarecido precisa convencer essas elites de uma política 
externa que reflete e reproduz a cultura diplomática tradicional. Essa é a 
tensão básica entre o Morgenthau analítico e o Morgenthau preocupado 
com a política, uma tensão que é fundamental para muitos realistas. 
Por um lado, Morgenthau entende a cultura diplomática como o produto 
de uma tradição sócio-histórica específica. Como tradição, é praticamente 
adquirido. Por outro lado, a diplomacia atual é conduzida por profissionais 
sem essa tradição. Para esses formuladores de políticas, adquirir as 
máximas da diplomacia tradicional exige uma justificativa racional sem fim. 
Para fazer a tradição encontrar a razão, é grande a tentação de 
transformar essas máximas, as lições da história, em leis científicas. 
Nas edições posteriores de seu livro, Morgenthau atualizou a abordagem. 
A nova introdução deu a toda a empresa uma visão mais unilateral, apesar 
da sutileza histórica de Morgenthau ao longo do resto do livro. As 
regularidades das relações internacionais e a permanência da natureza 
humana tornaram-se necessidades às quais toda a política externa 
racional, no interesse nacional, deve obedecer. Morgenthau precisava 
adaptar o quadro das práticas realistas aos discursos acadêmicos e 
políticos de seu público principalmente americano. Em sua própria 
tentativa de comunicar lições realistas, ele as mudou. Ele transformou o 
realismo da experiência histórica e do conhecimento compartilhado de 
uma cultura diplomática em uma teoria das ciências sociais que é 
entendida como 'governada por leis objetivas que têm suas raízes na 
natureza humana'. 
CONCLUSION 
O contexto histórico de Munique e o apaziguamento deram um real apelo 
ao realismo, em oposição às abordagens idealistas que prevaleciam no 
período entre guerras. Carr e Morgenthau contribuíram para minar os 
princípios básicos do que foi chamado de idealismo (o utopismo de Carr). 
Morgenthau foi crucial para garantir a ascensão do realismo na recém-
fundada especialização acadêmica de Relações Internacionais. 
Carr usou o ceticismo realista para criticar um grande poder de sua época, 
sua terra natal, a Grã-Bretanha. Ele desmascarou a harmonia 
aparentemente universal de interesses como uma ideologia do status quo 
do poder. No entanto, o ceticismo de Carr produz um círculo inquieto de 
críticas que, como ele reconheceu, são contraditórias. Além disso, o 
ceticismo de Carr não é capaz de definir sua mistura exata de realismo e 
idealismo, nem propor positivamente uma política coerente. 
Morgenthau, em sua tentativa de ensinar as lições diplomáticas do 
passado, ficou dividido entre suas críticas anteriores (1946) a idealistas que 
confundiam política com ciência, e sua própria tentativa de substituir o 
idealismo por 8o reivindicação à superioridade científica do realismo 
(1948, 1960). O resultado é uma teoria que deve encontrar pontes 
conceituais a partir das eternas leis da natureza humana, através do estado 
como ator unitário, até um equilíbrio necessário da teoria do poder. É 
muito mais complexo e contraditório do que se costuma reconhecer. Para 
dar apenas um exemplo, Kenneth Waltz (1959) propôs uma distinção 
famosa entre três imagenspara entender as causas da guerra. A primeira 
imagem é baseada na natureza humana, a segunda na natureza do regime 
político e a terceira nas características específicas do domínio internacional 
(anarquia). A valsa claramente colocou Morgenthau dentro a primeira 
categoria. No entanto, embora Morgenthau derivasse o poder e, portanto, 
as características essenciais de toda política, incluindo a guerra, de 
natureza, ele também poderia se qualificar para as outras duas imagens. 
Ele argumentou que a guerra típica do terrível século XX foi resultado da 
democratização e, portanto, da nacionalização da política internacional. 
Foi assim que ele chamou a mudança para sociedades de massa cujos 
governantes têm que responder a grandes constituintes. Esta é uma forma 
de explicação da segunda imagem. E, finalmente, embora seja verdade que 
a política trata da luta pelo poder com base na natureza humana, a 
especificidade do âmbito internacional, o que ele chamou de 
multiplicidade, explica por que a luta pelo poder pela guerra, embora 
domesticada no nível doméstico, é endêmica a nível internacional. 
Como Carr e Morgenthau, tão diferentes em estilo e conteúdo, e cujas 
abordagens são preenchidas com tantas tensões internas, tornam-se 
pontos de referência importantes para uma escola de pensamento? 
Obviamente, eles eram percebidos principalmente pelo que tinham em 
comum, pela crítica ao idealismo e pela prioridade dada ao poder e à 
política. Portanto, este capítulo também deve servir como um alerta: por 
mais que o idealismo fosse idealizado para permitir uma crítica realista, o 
realismo foi muitas vezes demonizado por seus adversários e mal utilizado 
por amigos reacionários. A oposição binária do realismo e do idealismo 
serve mais frequentemente para fornecer aos observadores e profissionais 
uma identidade do que para fornecer clareza analítica. 
A visão realista do mundo quer ser pragmática, não cínica. Seu principal 
objetivo é evitar grandes guerras através do gerenciamento e limitação de 
conflitos por um equilíbrio de poder de trabalho suplementado por 
arranjos normativos. No entanto, para os realistas, a luta pelo poder 
sempre surgirá. Conflitos não podem ser abolidos. Para os realistas, a 
política externa geralmente traz escolhas que ninguém quer fazer. Os 
diplomatas podem às vezes ter que jogar, mas não porque gostam de fazê-
lo. No cenário da política mundial, onde forças brutas podem colidir sem 
restrições, diplomatas entram em um teatro de tragédia. Esse é o destino 
do estadista, que, nos escritos de Morgenthau, mas também de Kennan e 
Kissinger, aparece como uma figura heroica romantizada. Frequentemente 
incompreendida também pelos realistas autoproclamados, a política 
realista não é a projeção externa de uma ideologia militar ou mesmo 
reacionária; é o constante ajuste a uma realidade amarga. Para os 
realistas, o Realpolitik não é uma escolha que pode ser evitada, é uma 
necessidade que os atores responsáveis devem moderar.

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