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AN02FREV001/REV 4.0 1 ROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE SEXOLOGIA E A TERCEIRA IDADE Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE SEXOLOGIA E A TERCEIRA IDADE MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MODULO I 1 INTRODUÇÃO 2 OBJETIVO 3 SEXOLOGIA E A TERCEIRA IDADE 3.1 TABUS E PRECONCEITOS DA SOCIEDADE 3.2 INSATISFAÇÃO SEXUAL NA TERCEIRA IDADE 3.3 LIMITAÇÕES FÍSICAS OU EMOCIONAIS PREJUDICIAIS 3.4 EJACULAÇÃO COM O AVANÇO DE IDADE MÓDULO II 4 ATIVIDADE SEXUAL NA TERCEIRA IDADE 4.1 CLIMATÉRIO E MENOPAUSA 4.2 SEXO NA VISÃO DOS IDOSOS BRASILEIROS 4.3 CONFIANÇA E ACOLHIMENTO ENTRE PARCEIROS IDOSOS PARA UMA VIDA SEXUAL MAIS ATIVA 4.4 A NÃO ACEITAÇÃO E FRUSTAÇÕES DAS MUDANÇAS SEXUAIS DO HOMEM NA TERCEIRA IDADE MÓDULO III 5 SEXO UMA NOVA REVOLUÇÃO PARA A TERCEIRA IDADE 5.1 TRATAMENTOS PARA MELHORAR A QUALIDADE SEXUAL DOS IDOSOS 5.2 DIFICULDADES E CONTRAINDICAÇÃO DO SEXO NA TERCEIRA IDADE 5.3 FERTILIDADE NA TERCEIRA IDADE 5.4 DESENCANTO DO CORPO PARA A MULHER IDOSA AN02FREV001/REV 4.0 4 MÓDULO IV 6 RISCOS E BENEFÍCIOS DO SEXO NA TERCEIRA IDADE 6.1 SEXO E QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE 6.2 DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS NA TERCEIRA IDADE 6.3 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL QUANTO À SAÚDE SEXUAL DOS IDOSOS MÓDULO V 7 COMPANHEIRISMO OU SEXO PARA A TERCEIRA IDADE? 7.1 A DIFERENÇA DE PRESSÃO SOBRE O DESEMPENHO SEXUAL DAS MULHERES E DOS HOMENS COM O PASSAR DOS ANOS 7.2 VIUVEZ 7.3 SEXO ENTRE PESSOAS COM DIFERENÇA DE IDADE SIGNIFICANTE: DIFICULDADES OU APRENDIZAGEM? 7.4 EDUCAÇÃO SEXUAL NA TERCEIRA IDADE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 5 MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO FIGURA 1 - SEXOLOGIA E A TERCEIRA IDADE FONTE: Banco de imagens do Portal Educação. Olá, seja bem-vindo ao curso de Sexologia e a Terceira Idade. Todos os conteúdos desse tema trarão a você, aluno, informações enriquecedoras e inovadoras; poucos cursos trazem conteúdo tão diversificado e aprofundado como este. Teremos um público-alvo neste nosso estudo que é da terceira idade, grupo este muitas vezes deixado de lado quando o assunto é sexo, pois a sociedade atual ainda encara a velhice como “fins dos dias”, em que a incapacidade está presente no lugar da capacidade e uma vida ativa não cabe mais para esta idade. AN02FREV001/REV 4.0 6 Apesar de o Brasil ser um país onde cada vez mais a sua população caminha para o envelhecimento, ainda existe um despreparo da sociedade em geral em aceitar e respeitar a autonomia da velhice. Autonomia essa que deve ser respeitada não somente pelos anos que esta população já viveu, mas como forma de respeito como cidadãos comuns que possuem suas opiniões, emoções e desejos de afetos. O prazer sexual que muitas vezes é uma necessidade e que se encontra ainda presente na velhice é interrompido em razão das limitações físicas, medo do preconceito e julgamento da sociedade. Os idosos que ainda carregam como herança seus preceitos, morais e tradições mais a “risca”, muitas vezes escondem este comportamento pela responsabilidade atribuída desde as sociedades mais antigas. Outro fator que pode ser citado quanto a não compreensão da sociedade em relação à sexualidade na velhice está relacionado à reprodução. Todos esses conceitos ou julgamentos ainda não foram totalmente rompidos ou reformulados na sociedade atual, onde a terceira idade ainda carrega este “fardo” principalmente quando o assunto é sexo. É fundamental que a população e os profissionais da saúde conheçam ou busquem conhecer mais a fundo o comportamento sexual na terceira idade, para que possam, assim, entender melhor e ajudar a manter liberdade e qualidade sexual nesta fase da vida que ainda mantém-se ativa. Neste contexto, este material pretende ajudar/complementar o entendimento da sexualidade na velhice, pois este grupo precisa ser orientado e ser mais compreendido neste aspecto. AN02FREV001/REV 4.0 7 2 OBJETIVO Este curso tem como objetivo apresentar e discutir o comportamento sexual na terceira idade de maneira clara, visto que este grupo é visto e encarado de forma preconceituosa. Muitos veem o idoso como incapaz de realizar ou viver algumas coisas nesta fase de suas vidas. 3 SEXOLOGIA E A TERCEIRA IDADE Com certeza você já ouviu ou leu algumas ou muitas matérias cujo assunto era relacionado ao sexo. Quando falamos de sexualidade, imaginamos jovens, pois este assunto é ainda encarado como “normal” pela sociedade até certa idade. Entretanto, quem disse que o sexo não está presente na terceira idade? Apesar das diferenças da prática sexual entre esses dois grupos, os idosos continuam fazendo sexo, oferecendo prazer e sensação de bem-estar. A sociedade se esquece de que o mais velhos continuam tendo desejos e afetos, e precisam também receber orientação profissional quanto a sua qualidade de vida sexual. Infelizmente, a velhice ainda é vista somente como uma fase de invalidez em que muitas funções são comprometidas e umas delas é a sexualidade. Os profissionais da saúde são preparados durante sua formação para lidarem com as doenças mais frequentes na velhice, ou seja, prestar cuidados ou intervenções relacionados com as mudanças fisiológicas do corpo responsáveis pela maioria das doenças ou a incapacidade nesta idade. Infelizmente, os profissionais acabam esquecendo que a vida sexual na terceira idade permanece ativa e que precisa ser respeitada e orientada. A discriminação da velhice é uma violação dos seus direitos. Atualmente a população do Brasil pode ser considerada uma população que a cada dia mais envelhece. Por isso é essencial o melhoramento da qualidade de vida. Com a redução dos nascimentos de crianças devido ao planejamento familiar, AN02FREV001/REV 4.0 8 principalmente de algumas regiões brasileiras, ainda não estamos preparados para esta nova mudança. Hoje a atividade sexual na terceira idade sofreu mudanças. Com o início da vida sexual cada vez mais cedo entre os jovens, esta também tem sido interrompida cada vez mais tarde na velhice. Com a liberdade e espaço que a mulher tem conquistado nestas últimas décadas, alguns tabus a respeito do sexo têm sido quebrados e ajudado na liberdade sexual em geral. Na velhice são encontrados vários tabus e preconceitos na sociedade que precisam ser revistos e trabalhados para que os idosos possam usufruir desta fase. 3.1 TABUS E PRECONCEITOS DA SOCIEDADE Antes de iniciarmos este nosso assunto, vamos dar uma breve pesquisada na representação da nossa população idosa hoje no Brasil para que você possa entender melhor a importância deste tema. Como referimos anteriormente, o Brasil não pode ser considerado um país muito jovem como há alguns anos. O IBGE divulgou em 2008 por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2007, que existia cerca de quase 20 milhões de idosos, 10,5% do total da população. Esta população brasileira considerada envelhecida no período de 1997 a 2007 apresentava um crescimento em torno de 21,6%, como revela o IBGE em 2008. Chama atenção o valor superior e significativo na população de 80 anos ou mais de idade com 86,1% quando comparado coma população de 60 anos com 47,8% do total dos idosos do Brasil (Gráfico 1). AN02FREV001/REV 4.0 9 GRÁFICO 1 – CRESCIMENTO RELATIVO DA POPULAÇÃO TOTAL E DOS IDOSOS POR GRUPO DE IDADE – BRASIL – PERÍODO 1997/2007. FONTE: IBGE (2007 apud IBGE 2008, p. 165). Este aumento de pessoas com 80 anos ou mais de idade se dá principalmente devido aos avanços da medicina e dos meios de comunicação (IBGE 2008). Em um levantamento mais recente do IBGE, divulgado em 2012, referente ao período de 2001 a 2011, relacionado ao crescimento do número de idosos de 60 anos ou mais de idade, é citado um “termo absoluto marcante”, que revela que o número desse grupo passou de 15,5 milhões para 23,5 milhões de pessoas. A população idosa segundo este estudo aumentou de 9,0% para 12,1%, sendo que a população do grupo de 80 anos ou mais chegou a 1,7% da população em 2011, correspondendo a pouco mais de 3 milhões de indivíduos. A maioria da população idosa é composta por mulheres – 55,7% (Figura 2). Esta prevalência no gênero feminino se dá devido aos fatores das diferentes causas de mortes entre os dois sexos (IBGE, 2012). AN02FREV001/REV 4.0 10 QUADRO 1 – DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DAS PESSOAS DE 60 ANOS OU MAIS DE IDADE, SEGUNDO AS CARACTERÍSTICAS SELECIONADAS – BRASIL (2011) FONTE: IBGE (2012, p. 41). AN02FREV001/REV 4.0 11 O aumento da população idosa, como foi apresentado anteriormente, e a redução no número de crianças, adolescentes e de jovens no período de 1997 a 2007 (Gráfico 2) sendo mais significativo no grupo de 0 a 6 anos de idade, pode ser explicado devido à perda da importância e falta de políticas sociais com foco nestes últimos grupos, como é citada pelo IBGE (2008). GRÁFICO 2 – DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DA POPULAÇÃO, POR GRUPOS DE IDADE BRASIL – 1997/2007 FONTE: IBGE (2007 apud IBGE 2008, p. 129). Em 2011, o estudo do IBGE (2012) diz que o grupo com até 24 anos de idade era de 78,5 milhões de pessoas, o que representava 40,2% da população brasileira total, sendo que este grupo em 2001 representava praticamente a metade da população, ou seja, 48,2% (Gráfico 3). AN02FREV001/REV 4.0 12 GRÁFICO 3 – PROPORÇÃO DE CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS, SEGUNDO OS GRUPOS DE IDADE – BRASIL – 2001/2011. FONTE: IBGE (2012, p. 34). Agora, retornando ao nosso assunto principal, mesmo com o aumento no número de idosos no país, como foi apresentado anteriormente, os tabus e preconceitos da sociedade ainda persistem. Segundo o estudo de Berzins e Mercadante (2012, p. 7), as pessoas idosas são vítimas diariamente de violações aos direitos fundamentais, onde a sociedade que deveria proteger e respeitá-las, cria meios de discriminação e preconceito. Neste estudo, os autores apresentam como exemplo as propagandas, as músicas, histórias infantis e piadas como meios para transmissão de atitudes preconceituosas em relação a este grupo. Uma crítica importante que os autores Berzins e Mercadante (2012, p. 9) descrevem em relação ao preconceito e aos tabus no cenário social, onde as pessoas idosas se tornam “vítimas de rituais de agressões”, como expressam esses dois estudiosos, são os significados e as atribuições negativas direcionadas a esta classe. AN02FREV001/REV 4.0 13 Constantemente, grupos da terceira idade são vítimas de preconceitos em vários contextos sociais. A forma como os idosos são tratados pela sociedade reflete os mitos e os estereótipos sobre a velhice e os velhos. Apesar do aumento do número de pessoas idosas na população revelada no Censo 2010 (21 milhões de pessoas), um contingente significativo da sociedade associa à velhice atributos negativos: os idosos são feios, doentes, infelizes, ranzinzas, improdutivos, são seres assexuados, solitários, conservadores e improdutivos. Todos desejam viver muito, mas não querem ficar velhos. (BERZINS; MERCADANTE, 2012, p. 9). Para Freitas e Miranda (2006 apud REIS, 2011, p. 16), ser velho não é uma das melhores ideias, pois ser velho remete a um processo pelo qual a pessoa passa e que está relacionado às diminuições de capacidades de adaptação do organismo, e também dos seus aspectos psicossociais. Segundo estes autores, o envelhecimento é o processo biológico interno, progressivo, declinante e universal no qual se reconhecem as marcas físicas e fisiológicas ligadas à idade do indivíduo. Para que possamos quebrar todos os conceitos negativos que estão presentes na velhice, teríamos que atribuir um olhar mais positivo da vida na velhice sem esquecer-se das diminuições das nossas funções orgânicas ao chegar da idade. Encarar o envelhecimento com mais alegria e sem pensar que envelhecer é significado de doença, é contribuir para que a imagem negativa em relação à velhice seja apagada (REIS, 2011, p.16). Um estudo do Ministério da Saúde relacionado à Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, realizado em 2008, faz uma importante abordagem dos direitos sexuais e direitos reprodutivos. A pesquisa destaca que o idoso tem o direito de continuar uma atividade sexual ativa, mesmo depois da fase de reprodução humana. Em relação à velhice, cabe resgatar as pessoas idosas como sujeitos de direitos sexuais, reconhecendo que o exercício da sexualidade não necessariamente é interrompido com o avanço da idade. A sexualidade não se reduz à meta reprodutiva, e assim sendo é possível que a experiência do prazer seja mantida, sem estar reduzida também ao coito genital. A sexualidade é uma importante dimensão da vida subjetiva, afetiva e relacional das pessoas, sendo necessário superar a sua compreensão como possibilidade apenas do adolescente, jovem e adulto. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008, p.20). AN02FREV001/REV 4.0 14 As mudanças, principalmente as visíveis fisicamente como as marcas da idade na pele (rugas e flacidez), são sinais na maioria das vezes encarados com certo preconceito pela sociedade. Em um mundo atual, onde a aparência do corpo em termos estéticos e beleza é padronizada, as modificações que a idade traz a uma pessoa fazem com que os idosos passem a ser vistos somente como uma matéria, que com o passar dos anos se “deteriorou”, perdendo a sua forma e beleza. Este exemplo do olhar de uma sociedade padronizada, onde uma pessoa na velhice passa a ser vista como uma matéria que se deteriorou e perdeu sua forma e beleza com o passar dos anos, citado no parágrafo anterior, faz com que os idosos se inibam e se sintam impotentes para manter uma vida normal. Frequentar uma festa ou certos ambientes que gostariam, usar um determinado estilo de roupa, expressar ou possuir certos comportamentos passam a ser atividades complicadas. Esta retirada do idoso do ciclo social é uma das causas para doenças como estresse, depressão dentre outras. Diversos estudos relacionados ao envelhecimento tratam os idosos que se tornam dependentes como se estes representassem um “fardo” para a família (OLIVEIRA e SILVA, 2012). Para Serrão (2007, p. 70), entender a sexualidade é um processo complexo, complicado, com representações enraizadas. Na terceira idade, é ainda mais difícil, constrangedor e preconceituoso. Em relação à sexualidade na terceira idade, o Manual de Boas Práticas das pessoas mais velhas, criado pelo Instituto de Segurança Social de Portugal na cidade Lisboa, em 2005, confirma que a atividade sexual na velhice não deve ser objeto de desprezo, vergonha ou vista de forma diferente quando comparada à sexualidade das pessoas mais novas. Frente a esta discriminação da sexualidade na velhice, o manual relata um caso de preconceito de um casal de idosos moradores de um lar, ou estrutura residencial como é descrito no estudo, onde se conheceram e eram constantemente criticados ou ridicularizados comações de preconceitos quando trocavam gestos de carinho, como um simples beijo. AN02FREV001/REV 4.0 15 António M., de quem falámos anteriormente, e Juliana S. são ambos viúvos e residem há cerca de três anos numa estrutura residencial. Não sabem dizer quando começou a sua amizade, mas afirmam que sempre simpatizaram um com o outro. Ultimamente, contudo, nasceu entre eles uma relação mais profunda, que identificam como amor. Costumam dizer que o amor é uma partilha afetiva e emocional e que não querem perdê-la, sobretudo na etapa final da vida. No entanto, as manifestações amorosas de Juliana e António são cada vez mais fortes e manifestam-se efusivamente. O casal troca carícias e beijos sempre que pode, o que lhes têm trazido problemas. Alguns residentes da estrutura residencial criticam- nos e até houve uma senhora que lhes gritou, há dias: “Parem com essa pouca vergonha!”. Também há colaboradores da estrutura residencial que brincam com a situação, chegando mesmo a ridiculizar o casal. (INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, 2005, p. 66). O preconceito é uma realidade para mulheres e homens idosos. Apesar de outros fatores para o preconceito, como raça, etnia, condições socioeconômicas, aparência etc., a idade, principalmente acima de 60 anos, é um alvo de exclusão social e de intolerância (BEZINS; MERCADANTE, 2012, p. 9). O comportamento sexual na terceira idade difere do comportamento sexual da juventude quando se trata do vínculo afetivo. Nos jovens, o relacionamento sexual está mais ligado à paixão dos primeiros tempos, a descobertas, sendo muitas vezes relacionado mais à busca pelo prazer sexual imediato do que a um vínculo. Já na velhice, isso acontece de maneira contrária, pois estão à procura de uma relação amorosa duradoura, de companheirismo, ou seja, um vínculo afetivo com quem pode contar para a vida toda. Neste contexto, uma situação que demonstra bem este fato é o relato do casal de idosos abordado anteriormente pelo Instituto da Segurança Social (2005, p. 66), onde o casal idoso menciona suas relações como “amor profundo de partilha efetiva e emocional, sobretudo na etapa final da vida”. Serrão (2007, p. 71) faz uma importante abordagem do papel profissional aos conceitos da sociedade em relação à terceira idade, onde diz que a ajuda profissional é importante para que o idoso obtenha sua autonomia e capacidade para enfrentar os preconceitos presentes nesta fase da vida. AN02FREV001/REV 4.0 16 3.2 INSATISFAÇÃO SEXUAL NA TERCEIRA IDADE Como foi descrito no assunto anterior, o preconceito e os tabus em relação aos idosos em geral e à sexualidade nesta idade ainda permanecem. Contudo, levando em conta estes obstáculos que impedem este grupo de levar uma vida sexual ativa comum, há também outros problemas presentes que impedem que isso aconteça. Os comprometimentos das patologias frequentes nesta fase ou até mesmo as intervenções e tratamentos no combate a essas doenças influenciam na atividade sexual. Muitos idosos ainda teriam uma vida sexual estável pela frente, mas por estes fatores são obrigados a evitar o sexo antes do desejado. A sexualidade não é somente a prática do ato sexual e a satisfação orgástica, como explica o estudo de Ferreira et al. (2010, p. 183), e sim uma “integração harmoniosa dos aspectos intelectuais e sociais do ser sexuado, enriquecendo sua personalidade, comunicação e o amor”. Segundo este estudo, o sexo é um aspecto importante na saúde e, se for vivido satisfatoriamente, é um meio de equilíbrio e harmonia para a pessoa, favorecendo uma atitude positiva em relação a si mesmo e aos outros. Ainda em relação ao estudo de Ferreira et al. (2010), o mesmo faz uma importante comparação entre a mulher e o homem em relação a preocupação da atividade sexual na velhice. A pesquisa relata que as mulheres em geral na velhice preocupam-se com a perda da parte estética, diferente dos homens que se preocupam excessivamente com as mudanças fisiológicas da sexualidade no envelhecimento, provocando a aparição de ansiedade. Enquanto nos homens idosos o interesse e desejo sexual são maiores do que a própria atividade sexual, nas mulheres já existe um declive tanto no desejo quanto no desempenho (BALLONE, 2002 apud FERREIRA et al., 2010, p. 183). No decorrer da idade, as mudanças biopsicossociais também refletem no comportamento sexual dos casais. Para Cardoso (2012, p. 35), as alterações biológicas, principalmente nos sistema reprodutor, cardiovascular e muscular, aceleram a partir dos 70 anos de idade. Além dessas alterações, o autor comenta AN02FREV001/REV 4.0 17 que as modificações culturais nos valores morais, conjugais e sociais impostas aos idosos afetam na sua capacidade sexual. As mudanças no homem relacionadas à função sexual, como ereção espontânea, não acontecem de uma forma tão rápida como na mulher. No sexo feminino, além das mudanças da idade, a redução do hormônio sexual, o estrogênio, que acontece no momento da menopausa, traz vários desconfortos e outros fatores emocionais, físicos e psicológicos que estão sujeitos neste período, que interferem na sua vida sexual (GRADIM; SOUSA; LOBO, 2007, p. 205). Além das mudanças físicas naturais nos homens e nas mulheres quando idosos, estes dois grupos estão mais sujeitos a problemas de saúde, como diabetes e hipertensão, que podem reduzir ou impedir o interesse pelas atividades sexuais, devido à má circulação provocada por essas patologias que influenciam na libido sexual (GRADIM; SOUSA; LOBO, 2007, p. 205). A insatisfação sexual na velhice se dá pelas alterações com o passar dos anos, como foi abordado anteriormente, onde este próprio grupo reconhece esta questão. Neste contexto, é demonstrado na entrevista de alguns dos idosos no estudo de Gradim, Sousa e Lobo (2007). Segundo os autores, a diminuição do desejo sexual e do orgasmo pode acontecer devido à insegurança de não conseguir uma ereção, bloqueios emocionais, uso de medicamentos e doenças. Entretanto, mesmo com a redução da atividade sexual, o indivíduo é ainda capaz de manter o interesse pelo sexo em idades avançadas como é citado neste estudo. Quando eu era mais jovem, eu me relacionava sexualmente e, suponhamos alguns minutos após eu completava o ato sexual. O orgasmo era completo. Até tinha a capacidade de segurar para que a parceira também sentisse satisfação... Hoje, eu não sou mais capaz de fazer isso. Quando a gente chega a fazer o ato sexual, daí a alguns instantes o membro não fica mais ereto. Isso não é só propaganda não, isso é verdade (Simão, 72 anos). Quando eu falo, a libido, é o tesão. Isso eu nunca perdi. Até escutar uma voz de uma pessoa me excita! Mas a frequência diminui, porque o meu próprio organismo, meus braços, meus membros, tudo em mim hoje, ele está mais enfraquecido! Porque aí também hoje já advém a doença. Hoje eu faço uso de medicamentos que interferem na parte orgânica. Antes eu não tomava [...] hoje eu tomo cinco medicamentos (Lúcio, 61 anos). (GRADIM, SOUSA E LOBO 2007, p. 208). No trabalho quantitativo de Cardoso et al. (2012, p. 36) acerca da sexualidade, no qual participaram 31 homens e 131 mulheres, concluiu-se que além da frequência sexual ser reduzida com a idade para homens e mulheres, a AN02FREV001/REV 4.0 18 frequência e a satisfação sexual dos homens é maior do que nas mulheres, tanto na juventude quanto na velhice. Neste estudo comparativo entre os idosos fisicamente ativos com os fisicamente não ativos percebeu-se a importância do exercício físico em relação à qualidade da sexualidade. O mesmo também explica que as doenças mais comumente encontradas na amostra foram, em primeiro lugar, o aparelho circulatório com 49,3%, em segundo, o sistema osteoarticular com 37,6%, e, por último, as doenças endócrinas ou metabólicas com 25,3%. A insatisfação sexualde um casal pode acontecer da seguinte forma: somente um está insatisfeito ou com ele mesmo ou então com o parceiro, ou ambos estão insatisfeitos sexualmente no relacionamento. O estudo de Gradim, Sousa e Lobo (2007) descreve bem essa insatisfação sexual no relato de uma idosa. Parece que a vida está tão bela... Acho que eu sou a mesma coisa. Ele sim [...] no homem geralmente é difícil [...] às vezes ele toma um remédio e fica bonzinho [...]. Mas comigo não, comigo não tem erro não. Mas eu faço o que eu posso para ele, mas se não der certo, dá raiva. Dá vontade de tacar umas pesadas! Porque a gente está ali para aquele fim, então a gente quer que dê certo (Toninha, 71 anos). (GRADIM; SOUSA; LOBO, 2007, p. 208). A importância de uma orientação profissional e apoio político voltado para a sexualidade na velhice devem ser estudados mais a fundo e com respeito, para que possa servir de ajuda para a qualidade de vida desse idoso, como também para que esta seja mantida. Este grupo ainda tem vontade sexual só estão impedidos devido a várias limitações, medo ou vergonha. AN02FREV001/REV 4.0 19 3.3 LIMITAÇÕES FÍSICAS OU EMOCIONAIS PREJUDICIAIS Com o avanço da idade algumas limitações presentes no corpo e na mente dificultam a qualidade de vida do idoso no seu dia a dia, e também interferem na sua vida sexual. Como foi possível perceber nos relatos dos idosos no tópico anterior, este grupo ainda possui a vontade sexual, porém com dificuldades devido a algumas limitações. Na velhice, as funções orgânicas decorrentes do processo de envelhecimento em consequência dos agravos ao longo da vida passam a ser mais presentes na redução funcional (VIRTUOSO JUNIOR, 2011, p. 2542). Segundo Ostensen (2009, p. 639) as doenças reumatológicas afetam todos os aspectos da vida dos pacientes, incluindo sexualidade e reprodução. A dor crônica, fadiga e reposta física à doença crônica, como a depressão e baixa autoestima, podem reduzir o interesse sexual dos pacientes e também reduzir a frequência e o prazer da relação sexual. Neste estudo, é questionada a não abordagem rotineira por médicos ou profissionais de saúde em relação ao impacto das doenças reumáticas na função sexual (os questionários utilizados para avaliar a função física ou a qualidade de vida não contemplam esse tema). Ainda em relação ao estudo de Ostensen (2009, p. 640), o mesmo deixa uma opinião muito interessante, onde além do questionário para avaliação da função física ou a qualidade de vida, é sugerido também pelo autor um questionário sobre a sexualidade na rotina do atendimento ao paciente. A relação sexual, ou melhor, atividade sexual, é vista somente como algo que traz bem-estar, faz bem à saúde ou é um momento onde as pessoas envolvidas trocam sentimentos. Na verdade é isto mesmo, mas como um dos próprios nomes diz, é uma “atividade” sexual e toda atividade como sabemos exige esforço físico, tensões emocionais e psicológicas, sendo alguns indivíduos limitados a essas questões. Stein e Hohmann (2006, p. 61) explicam que, para uma relação sexual acontecer é necessária uma série de alterações cardiovasculares, neurais e metabólicas. Essas alterações acontecem pela associação entre o aumento da AN02FREV001/REV 4.0 20 frequência cardíaca e da pressão arterial sistêmica com a ereção peniana, ou seja, a ereção está intimamente ligada ao sistema cardiovascular e ocorre quando o tecido erétil relaxa, acontecimento esse ocasionado pela liberação de noradrenalina. O maior gasto de energia durante a relação sexual ocorre no orgasmo. Para Stein e Hohmann (2006, p. 62), na maioria das vezes as repostas cardiovasculares e metabólicas na atividade sexual parecem estar mais relacionadas à excitação do que ao esforço físico. Neste contexto, os autores fazem uma observação: é importante avaliar a capacidade cardiovascular paro o sexo. As doenças cardiovasculares interferem como um fator complicado na atividade sexual. As razões desta interferência vão desde as implicações psicológicas, como o medo da morte, restrição nas atividades físicas, como também o uso de diversos fármacos utilizados no tratamento dessas doenças que podem causar alterações na atividade sexual de maneira insatisfatória (STEIN; HOHMANN, 2006, p. 62). Os fármacos que mais causam disfunções sexuais, como referem os autores, são os anti-hipertensivos e os diuréticos (Tabela 1). AN02FREV001/REV 4.0 21 TABELA 1 – TIPOS DE ALTERAÇÕES SEXUAIS E FÁRMACOS IMPLICADOS FONTE: STEIN, Ricardo e HOHMANN, Clarisse (2006, p. 63). Um paciente com problemas cardíacos corre três vezes mais risco de sofrer infarto do miocárdio durante a atividade sexual do que com a prática de outras atividades físicas semelhantes (STEIN; HOHMANN, 2006, p.64). 3.4 EJACULAÇÃO COM O AVANÇO DE IDADE Em relação a este tópico, também ocorre preconceito direcionado às pessoas mais velhas. Acredito que alguns dos leitores já ouviram “brincadeiras” do tipo “não dá no couro”, “fica velho a coisa não funciona”, etc. Esse tipo de expressão “maldosa” é também atribuído a homens principalmente com idade avançada e que apresenta algum tipo de problema na ejaculação. AN02FREV001/REV 4.0 22 No estudo realizado por Finotelli Junior e Capitão (2011) em uma clínica de psicologia sobre as disfunções sexuais em homens com queixa de disfunção erétil e ejaculação rápida, com idade entre 18 e 62 anos, os resultados mostraram que estar em um relacionamento sexual satisfatório melhora a qualidade das funções, inclusive eretivas. Por mais que a ereção ocorra até o final da vida, com o avançar da idade a pessoa precisa ser mais estimulada. Em uma pessoa jovem ocorre mais rápido, enquanto em um indivíduo mais velho acontece com mais dificuldades. A ejaculação no idoso tende a ser mais tardia. A ansiedade pode reduzir o foco da relação e, consequentemente, diminuir o estímulo, interferindo no ciclo sexual normal, prejudicando a ereção masculina e a lubrificação feminina (VACANTI e CARAMELLI, 2005, p. 112). Segundo alguns estudos, os problemas de ejaculação no homem podem ser classificados como dificuldade ou impossibilidade de ejacular. Entretanto, estes homens têm desejo, excitação e ereção. Não são somente os homens que sofrem com a disfunção sexual, as mulheres também, principalmente com a chegada da fase do climatério e da menopausa. Entre os principais problemas estão falta do desejo sexual, ausência ou atraso de orgasmo, dor na penetração, todos estes fatores estão relacionados principalmente com questões psicológicas, físicas e até mesmo sociais (TOMÁS, Jornal do Centro de Saúde, 2005, p.1). Nas mulheres diabéticas também ocorre a disfunção sexual. Há redução da lubrificação vaginal e diminuição da libido devido à síndrome depressiva que esta doença provoca (JADZINSKY,1992 apud SANT’ ANA, 1997, p. 33). A impotência nos homens diabéticos requer um pouco mais de atenção pelo fato da neuropatia, ou seja, dos danos nos nervos causados em todo o corpo inclusive o no pênis, provocar a disfunção erétil (BRUNNER e SUDDARTH, 1982 apud SANT’ ANA, 1997, p.33). Homens com neuropatia autônoma, segundo SANT’ ANA (1997, p. 33), apresentam uma função erétil normal e são capazes de ter orgasmo, mas não ejaculam. FIM DO MÓDULO I
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