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Apostila Direito Internacional Tributário
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4 Ib, p. 53. Mais do que isso, verifica-se a dependência do Direito tributário internacional em relação ao Direito tributário, e do Direito internacional tributário em relação ao Direito internacional, ambos em relação ao próprio objeto e método utilizados. O certo é análises e perquirições sobre dupla tributação e casos de elisão ou evasão fiscal internacional demandará um aglomerado de compreensões, com verificação das fontes de Direito internacional e também do Direito interno. Por natural, mostra- se mais apropriado o esboço conjunto das normas internacionais e internas. A verdade é que somente se caracterizam como autônomos o Direito tributário internacional e o Direito internacional tributário quando do ponto de vista de uma didática reclamada pelo Direito tributário, este, sim, um ramo autônomo frente à Ciência do Direito, assim como o Direito internacional. Explica-se mais: se é sabido que a tributação é ato interno por parte de um ato de governo nacional (seja federal, estadual ou municipal nas nações que assim se organizem), mostra-se do mesmo modo correto que as normas internacionais somente terão eficácia (no nosso país) após serem devidamente internalizadas no nosso ordenamento. Nesse passo, carece de sentido prático a divisão entre normas internacionais e normas internas. De qualquer forma, serão normas são tributárias, seja contando com “elementos de estraneidade” ou mesmo com “situações tributárias internacionais”. São, portanto, todas elas normas internas. De outro lado, eventuais normas apenas “internacionais” não são aplicáveis tributariamente no Brasil. Faleceria de validade diante da necessidade de legalidade e, até mesmo, pelos motivos de tipicidade fechada que norteiam o pensamento tributário pátrio. Somente teriam validade interna com a dependência de uma prévia disposição existente no direito nacional. Portanto, a diferença entre Direito internacional tributário e Direito tributário internacional é apenas de nomenclatura, já que o objeto de estudo é o mesmo. Relação entre leis internas e leis internacionais Preliminarmente, é fundamental reconhecer que o estudo das relações entre o Direito internacional e o ordenamento interno se afigura um dos mais difíceis de se compreender, pois consiste em sabermos qual o tipo de relações que mantêm entre si. Isso porque as tradicionais formas de enxergar o fenômeno jurídico buscam uma solução adequada – se possível, com segurança jurídica, especialmente evitando (ou solucionando) o conflito entre as normas. Justamente por esse motivo, as dificuldades de compreensão dessas duas esferas normativas: as normas convencionadas de produção no Direito interno de cada país e aquelas resultadas de ajustes entre as pessoas jurídicas de Direito público externo. O ponto axial da questão recairia em determinar qual das normas deverá prevalecer em havendo conflito entre o produto normativo convencional (norma internacional) e a norma interna. De forma a identificar e solucionar a questão, duas grandes concepções doutrinárias surgiram: a monista e a dualista. O Dualismo Identifica a doutrina nacional5 que foi Alfred von Verdross quem apresentou a expressão “dualismo”, aceita por Triepel, em 1923.6 Por essa visão, o Direito interno de cada Estado e o internacional são dois sistemas independentes e distintos, embora igualmente válidos e aplicáveis. 5 Accioly, Hildebrando, Nascimento e Silva, Geraldo Eulálio do. Manual de direito internacional público. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 1996. 6 TRIEPEL, Heinrich. Les rapports entre le droit interne et le droit international. Recueil des Cours de l’Académie de Droit International. Paris, Hachette, tome 1, p. 77- 118, 1923. Justificado pelo fato de que, conceitualmente, tratariam de sistemas materiais distintos, entre eles não poderia haver conflito. Ou seja, um tratado internacional não poderia, em nenhuma hipótese, regular uma questão interna sem antes ter sido incorporado a este ordenamento por um procedimento receptivo que o transforme em lei nacional. E isso para ocorrer deveria ser operado pelos mecanismos de produção do Direito especificados na norma fundamental constitucional. Por esses motivos, para os adeptos da tese dualista, os tratados internacionais representam apenas compromissos exteriores do Estado, sem que isso possa influir no ordenamento interno desse Estado. No primeiro caso, tratar-se-ia de relações entre Estados, enquanto no segundo, as normas cuidariam, precipuamente, da regulamentação das relações entre indivíduos. Dessa forma, aqueles compromissos exteriores, para os dualistas, não teriam o condão de gerar efeitos automáticos na ordem jurídica interna do país, se todo o pactuado não se materializar na forma de diploma normativo típico do direito interno: uma lei, um decreto, uma lei complementar, uma norma constitucional etc. De forma sintética, afirma Triepel,7 Direito internacional público e Direito interno “são dois círculos em contato íntimo, mas que não se sobrepõem jamais”. Ilustra bem essa posição a figura trazida por Bobbio,8 em sua teoria do ordenamento, de dois conjuntos intocáveis, incomunicáveis, caracterizando uma situação de exclusão total. O Monismo Já os autores monistas partem da compreensão oposta. Para essa visão do relacionamento das normas, na medida em que determinado país celebra e ratifica um tratado internacional, se compromete juridicamente a assumir aquele conjunto de disposição; se tal compromisso envolve direitos e obrigações que podem ser 7 Ib. p, 83. 8 BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 10. ed. Brasília: Universidade de Brasília, 1999, p. 166. exigidos no âmbito interno do Estado, não se faz necessária, só por isso, a edição de um novo diploma, materializando internamente aquele compromisso exterior. Portanto, não existiriam duas ordens jurídicas distintas. Ao contrário, um só ordenamento que se completa e harmoniza, adotando tanto as normas produzidas internamente, como aquelas alienígenas, na medida em que as duas são resultantes de sua soberania. A posição monista divide-se em duas correntes: Monismo internacionalista, que sustenta a unicidade da ordem jurídica sob o primado do Direito internacional, a que se ajustariam todas as ordens internas. Monismo nacionalista, que expressa o primado do Direito nacional de cada Estado soberano, sob cuja ótica a adoção dos preceitos do Direito internacional reponta como uma faculdade discricionária. Aceitam a integração do produto convencional ao Direito interno, mas não em grau hierárquico superior. O Brasil, segundo o Supremo Tribunal Federal, enquadra-se nesse segundo sistema (monismo nacionalista). Há muito vigora na jurisprudência brasileira o sistema paritário, em que o tratado, uma vez formalizado, passa a ter força de lei ordinária, podendo, por isso, revogar as disposições em contrário, ou ser revogado (rectius: perder eficácia) diante de norma posterior. Assim ficou assentado no famoso julgamento acerca da Lei Uniforme de Genebra, debatido no STF por intermediário do Recurso Extraordinário 80.004, j. em 01.06.1977 e relatado pelo Min. Xavier de Albuquerque, com a seguinte ementa publicada: CONVENÇÃO DE GENEBRA, LEI UNIFORME SOBRE LETRAS DE CÂMBIO E NOTAS PROMISSÓRIAS – AVAL APOSTO A NOTA PROMISSÓRIA NÃO REGISTRADA NO PRAZO LEGAL – IMPOSSIBILIDADE DE SER O AVALISTA