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Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 1 DIREITO ADMINISTRATIVO I DIREITO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TEMA DA AULA: PRINCÍPIOS PROF. JOÃO RODOLFO LIMA Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 2 Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 3 1 PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO 1.1 Objetivos de Aprendizagem 1. Identificar o papel dos princípios no direito contemporâneo 2. Analisar conteúdo e consequências jurídicas dos princípios elencados no art. 37, caput, da CF 3. Analisar conteúdo e consequências jurídicas de outros princípios aplicáveis à Administração Pública 2 INTRODUÇÃO 2.1 Definição: Princípio: Início, premissa primeira, alicerces, bases, contornos do Direito Administrativo; Normas gerais que a doutrina identifica como condensadores dos valores fundamentais de um sistema. Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 4 2.2 Função dos princípios: As normas de Direito Administrativo não estão em um único texto legal; Os princípios servem para sistematizar e harmonizar essas leis. Há uma função sistematizadora! 2.3 Dupla função Função Hermenêutica: para esclarecer o conteúdo das normas; Função Integrativa: para auxiliar na supressão de eventuais lacunas, mantendo a coesão do texto. Princípios Função Hermenêutica Esclarecer conteúdo das normas Integrativa Auxiliar na supressão de lacunas legais Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 5 2.4 Regime jurídico-administrativo: Conjunto formado por todos os princípios e normas do Direito Administrativo; Há quem diga: ser também o conjunto de normas de Direito Público e Privado aplicáveis à Administração Pública. 3 PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS: Categorias: o Essenciais (Pedras de Toque) – Bandeira de Mello; o Expressos – LIMPE – Art.37, CF; o Implícitos – Demonstram a supremacia da Administração; Princípios Administrativos Essenciais Expressos Implícitos Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 6 3.1 Princípios essenciais (ou supraprincípios) do direito administrativo: Também chamados de Princípios Essenciais do Direito Administrativo Celso Antonio Bandeira de Mello “Pedras de Toque” do Dir. Administrativo. São dois: (1) Supremacia do Interesse Público sobre o Privado; e (2) Indisponibilidade do Interesse Público. o Parte da doutrina os classificam como Princípios Implícitos. Princípios Administrativos Essenciais Supremacia do Interesse Público sobre o Privado Indisponibilidade do Interesse Público Expressos Implícitos Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 7 3.1.1 Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado (SIPSP): o Os interesses coletivos são mais importantes e por isso se sobrepõem aos interesses privados. Isso confere poderes à Administração Pública. o A relação entre o Estado e o Particular é VERTICAL (HIERARQUIZADA) o O Estado IMPÕE a sua vontade ao particular Exemplos: o Desapropriação Permite ao Estado adquirir a propriedade, mesmo sem a anuência do particular proprietário. o Cláusulas Exorbitantes Permitem ao Estado modificarem unilateralmente as cláusulas de um contrato administrativo, independentemente da concordância da vontade da outra parte contratada. PERGUNTA: Como seria nas relações privadas? o Alguém pode impor que a outra parte lhe venda um imóvel? o Ou pode modificar unilateralmente as cláusulas de um contrato? Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 8 SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO Premissa: finalidade do Estado é a promoção do bem comum, e não do bem individual. Por isso, deve prevalecer o interesse público, o interesse comum, e não o interesse particular que cada um tem. Celso Antônio Bandeira de Mello define interesse público como o "interesse resultante do conjunto dos interesses que os indivíduos pessoalmente têm quando considerados em sua qualidade de membros da Sociedade e pelo simples fato de o serem" (Curso de Direito Administrativo, p. 59). Aliás, o interesse público pode ser: PRIMÁRIO (verdadeiro interesse público) ou SECUNDÁRIO, interesse que diz respeito apenas à pessoa jurídica estatal (que não é verdadeiro interesse público), como o interesse de arrecadar mais tributos. Hely Lopes Meirelles, por sua vez, entende por interesse público as "aspirações ou vantagens licitamente almejadas por toda a comunidade administrada, ou por uma parte expressa de seus membros" (Direito Administrativo Brasileiro, p. 81). Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 9 PRERROGATIVAS DA ADMINISTRAÇÃO DECORRENTES DESTA SUPREMACIA: a) presunção de legitimidade dos atos administrativos; b) prazos maiores no processo civil; c) prazo prescricional menor contra o Estado; d) imperatividade, exigibilidade, coercibilidade e autoexecutoriedade de boa parte dos atos administrativos, atributos esses que permitem a autotutela da Administração, que não precisa buscar o Poder Judiciário para a imposição de grande parte de seus atos. Veja que estamos diante de situações de proteção ao Estado. O Estado é protegido, assim como seus bens e interesses. Isso por se tratar de interesse da coletividade. Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 10 3.1.2 Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público (IIP): o O interesse público é indisponível, não podendo os agentes públicos, no exercício de sua função administrativa, agir de forma contrária ao interesse público (que consta na lei). o Eles devem agir em conformidade com a lei e não em conformidade com os seus interesses particulares. Cabe ao Estado zelar pelos bens e interesses do povo. A vontade pública deve estar expressa na lei. Os agentes públicos somente podem fazer o que a lei determina (interesse público consubstanciado na lei). É o chamado Princípio da Legalidade (Art.5, III, CF). Os atos da administração pública devem buscar as melhores condições para o Estado. Consequência: licitação para aquisição de material ou contratação de serviços. Bens públicos: São patrimônio da Administração pública e são utilizados para o interesse público (prestação de serviços públicos, funcionamento da Administração, etc.) Possuí interesse coletivo relacionado aos bens públicos Eles possuem proteção legal, sendo: inalienáveis, impenhoráveis e imprescritíveis. Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 11 PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO: Decorre da ideia de República (coisa de todos). Indica que os interesses públicos não podem ser objeto de disposição, devendo o Poder Público velar por sua proteção e promoção. A ordem jurídica trará o perfil do que é interesse público, cabendo à Administração Pública buscar seu atendimento. O interesse está na lei. A lei é uma expressão da vontade do povo. Decorrem desse princípio os seguintes: a) princípio da legalidade; b) princípio da isonomia; c) princípio da motivação; d) princípio da publicidade, dentre outros. Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 12 3.1.3 PRINCÍPIOS REGENTES DO REGIME DE DIREITO PRIVADO: Princípios Regentes: (1) O Princípio da Igualdade; e (2) O Princípio da Autonomia da Vontade. 3.1.3.1 Princípio da igualdade Nasrelações entre os particulares existe uma igualdade de condições, havendo uma relação horizontal, onde inexiste hierarquia entre os particulares. Em regra, não é possível a imposição da vontade de um particular sobre a vontade do outro. Assim, NÃO É ADMITIDA A AUTOTUTELA (apenas nos casos expressamente previstos em lei) Um particular não pode impor a sua vontade frente a outro particular para adquirir um imóvel. Um contrato não pode ser unilateralmente alterado sem a anuência da parte contrária. Deve-se observar o PRINCÍPIO DA IGUALDADE nas relações particulares. Igualdade tratar os iguais igualmente; e os desiguais desigualmente. Eventualmente haverá “preferências” com vistas a proteger determinadas pessoas que são tidas como vulneráveis pelo nosso ordenamento. É o caso de CRIANÇAS, INCAPAZES e de IDOSOS. Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 13 3.1.3.2 Princípio da autonomia da vontade Ao contrário dos agentes públicos e da Administração Pública em geral que somente podem fazer o que a lei determina; no âmbito das relações privadas, o que vale é a autonomia. Assim, o particular pode fazer tudo aquilo que a lei não lhe veda. Se não houver vedação, os particulares podem agir livremente. Então temos: E como saber se a relação é de Direito Público ou Privado? Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 14 E como saber se a relação é de Direito Público ou Privado? o Regra Presença do ESTADO (Adm. Pública). Sempre que o ESTADO estiver presente estaremos diante de relações de DIREITO PÚBLICO? Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 15 Sempre que o ESTADO estiver presente estaremos diante de relações de DIREITO PÚBLICO? Veja que não basta a presença do ESTADO o É necessário que estejam presentes o Princípios Norteadores do Direito Público para estarmos diante de uma relação jurídica de direito público. Tem que haver: Supremacia e Indisponibilidade do Interesse Público Existem relações jurídicas que o ESTADO participa, mas que tais princípios não estão presentes: o Emissão de Cheques; Contratos de locação de imóveis (para o funcionamento de determinado órgão público), etc. Então: Estado pode ter relações de Dir. Público e de Dir. Privado. Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 16 3.1.4 Crítica à Supremacia do Interesse Público Falamos o que é Interesse Público, mas vale relembrar: o Interesse Público são o conjunto de interesse que a coletividade (ou maioria) têm em relação as aspirações para as realizações coletivas a serem realizadas pela Administração Pública. Onde está esse interesse? o Normalmente está descrito na lei (Princípio da Legalidade). O Interesse Público pode ser: Primário ou Secundário: Interesse Primário É o verdadeiro interesse público (interesse da coletividade); Interesse Secundário Não é necessariamente a representação do interesse da coletividade em si, mas o interesse relacionado à pessoa jurídica estatal (o governo ou administrador). Majorar tributos: o Interesse da coletividade? o Interesse da Administração? Aumentar a arrecadação com multas de trânsito? o Interesse coletivo? Ou interesse da Administração? Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 17 A grande crítica que se faz ao referido princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado está justamente relacionado a isso. Na prática: o O que é interesse público? o Quem define o que é interesse público? O conceito é variável em razão de muitos fatores: o Contexto histórico, político, econômico, jurídico, social, etc. O que era Interesse Público pode não ser mais! E o que é pode deixar de ser! Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 18 Esses interesses devem ser harmônicos entre si. Devem coincidir. Mas caso colidam? O que fazer? Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 19 Caso colidam: o O interesse público PRIMÁRIO deve prevalecer. o É o interesse da coletividade, o interesse do povo. o Neste caso, o interesse secundário nem mesmo representa interesse público! o Trata-se de mero interesse administrativo ou governamental ilegítimo. Exemplos de interesse secundários contrários aos interesses primários: Majoração da tributação; Redução da remuneração dos servidores públicos; Não pagamento de indenizações cíveis decorrentes de danos de atos administrativos; Não pagamento ou pagamento irrisório de indenizações em desapropriações. Quem define o interesse público? Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 20 Quem define o interesse público? É a lei. Quem faz a lei? Quem administra o Estado? Tudo isso muda de tempos em tempos? Essa é crítica que se faz ao Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado. Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 21 Certo, já falamos dos Supraprincípios do Direito Administrativo: Também falamos da crítica da doutrina ao “INTERESSSE PÚBLICO” Agora vamos prosseguir com nosso estudos, incialmente falando sobre os princípios expressos do direito administrativo e, posteriormente, falando dos princípios implícitos do direito administrativo. Princípios Administrativos Essenciais Supremacia do Interesse Público sobre o Privado Indisponibilidade do Interesse Público Expressos Implícitos Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 22 3.2 Princípios expressos do Direito Administrativo Princípios Explícitos ou Princípios Expressos do Direito Administrativo São os constantes no texto de nossa Constituição Federal: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos PRINCÍPIOS DE LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, PUBLICIDADE E EFICIÊNCIA e, também, ao seguinte: (...) Trata-se do chamado: “LIMPE”. Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 23 3.2.1 Princípio da Legalidade A administração pública só pode praticar condutas autorizadas por lei. Dele decorrem: finalidade, razoabilidade, isonomia e proporcionalidade. É o mais importante princípio entre os explícitos, pois vincula toda a atividade administrativa. Previsão Constitucional: arts. 5º, II, 37, caput e art. 84, IV; Art. 5º [...] II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; [...] Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...] Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: [...] IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; [...] Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 24 O Art.84, IV, da CF nos apresenta a necessidade de, muitas vezes, haver uma regulamentação da lei. Isso para que possa ocorrer a atuação da Administração Pública SENTIDOS DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: sentido positivo e sentido negativo Sentido Positivo: Princípio da Reserva Legal ou legalidade em sentido positivo, informa que os atos administrativossó podem ser praticados mediante autorização legal. A Administração só pode fazer ou deixar de fazer o que está expressamente determinado ou autorizado pela lei. Sentido Negativo: Neste sentido, o princípio da legalidade ou Princípio da Primazia de Lei diz que os atos administrativos não podem contrariar a lei. Legalidade Sentido Positivo Princípio da Reserva Legal Atos administrativos Necessitam de autorização Legal Deve haver lei anterior autorizando Sentido Negativo Primazia da Lei Atos administrativos Não podem contrariar a lei Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 25 ALCANCE: Quais leis devem ser seguidas pelo princípio da legalidade? o Apenas leis ordinárias? o Leis complementares? Qual o alcance do princípio da legalidade? O princípio atinge a Lei Lato Sensu, de modo que abrange não apenas a lei em sentido estrito, mas todas as normas legais tais como: o Constituição Federal o Emendas à Constituição; o Constituições Estaduais; o Leis Orgânicas Municipais; o Medidas Provisórias; o Tratados e Convenções Internacionais; o Costumes; o Atos Administrativos normativos (decretos e regimentos internos); o Decretos legislativos e resoluções (Art. 59, da CF) o Princípios gerais do direito Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 26 Princípio da Legalidade para os particulares e para a Administração Pública: PRINCÍPIO DA LEGALIDADE CRITÉRIO LEGALIDADE PRIVADA LEGALIDADE PÚBLICA Destinatário Particulares Agentes Públicos Fundamento Autonomia da Vontade Subordinação Significado Podem fazer tudo que a lei não proíbe Só podem fazer o que a lei autoriza Silêncio Legislativo Equivale a permissão Equivale a proibição Sentido da Norma Específica Normas permissivas são exceções às proibições e/ou reforçam liberdades Normas proibitivas excepcionam permissões gerais ou reforçam vedações Norma Geral Implícita Permissiva Proibitiva Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 27 3.2.2 Princípio da Impessoalidade Impõe o dever de imparcialidade na defesa do interesse público, impedindo perseguições ou privilégios indevidamente dispensados à particulares no exercício da função administrativa. Fundamento Constitucional: arts. 37, caput; e Art.5º, caput: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...] Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...] Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 28 Celso Antônio Bandeira de Mello pondera: “Nele se traduz a ideia de que a Administração tem que tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas ou detrimentosas... O princípio em causa não é senão o próprio princípio da igualdade ou isonomia.” A Professora Lúcia Valle diverge de Celso e assevera: “A impessoalidade caracteriza-se, pois, na atividade administrativa, pela valoração objetiva dos interesses públicos e privados envolvidos na relação jurídica a se formar, independentemente de qualquer interesse político.” (...) “Impessoalidade é, por conseguinte, imparcialidade.” Em decorrência do Princípio da Impessoalidade a Administração Pública deve servir a todos, sem favoritismos ou perseguições (sejam estas pessoais, partidárias ou pautada em qualquer outro fundamento), vez que o fundamento para o exercício de sua função é o interesse público; Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 29 Dele decorre o SUBPRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DA PROMOÇÃO PESSOAL: Veda promoção pessoal aos agentes ou autoridades publicas (Art. 37, §1º, CF) Art. 37. (...) § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. (...) Os atos não podem ser vinculados aos agentes públicos, mas apenas à própria Administração Pública. Placas constantes em obras e serviços públicos devem conter informações de caráter informativo ou de orientação social: Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 30 Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 31 3.2.3 Princípio da Moralidade O terceiro princípio expresso é o da moralidade. MORALIDADE: exige respeito aos padrões éticos, de boa-fé, lealdade, honestidade e probidade, incorporados pala prática diária ao conceito da boa administração pública. Fundamento Constitucional: arts. 37, caput e § 4º; 85, V; e 5º LXXIII: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] § 4º - Os ATOS DE IMPROBIDADE administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. [...] Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: [...] V - a probidade na administração; [...] Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 32 Art. 5º [...] LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor AÇÃO POPULAR que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má- fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; [...] De acordo com esse princípio: A Administração e seus agentes devem agir segundo pautas éticas. Os agentes públicos devem não apenas decidir entre o que é legal e ilegal, mas também entre o que é moral e imoral. Segundo Lúcia Valle Figueiredo: “... o princípio da moralidade vai corresponder ao conjunto de regras de conduta da Administração que, em determinado ordenamento jurídico, são consideradas os “standards” comportamentais que a sociedade deseja e espera.” O Administrador que atua contra a moralidade está sujeito à Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992) Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 33 Atos de improbidade (desonestidade) administrativa podem ser punidos conforme dispõe o Art. 37, § 4º, CF: Art. 37. [...] § 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. [...] SANÇÕES PASSÍVEIS Suspensão Direitos Políticos Resp. Política Perda Função Pública Resp. Disciplinar Indisponibilidade Bens Resp. Patrimonial Ressarcimento Ao Erário Resp. Patrimonial Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 34 Pra promover o controle dos atos que atentem contra a moralidade o CIDADÃO poderá propor AÇÃO POPULAR (CF, art.5º, LXXIII): Art. 5º [...] LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má- fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; [...] AP Lei 4.717/65 (Link): Quem é cidadão? Como comprovar a cidadania? Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 35 Quem é cidadão? Como comprovar a cidadania? Lei 4.717/65 Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos. (...) § 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda. (...) E se o cidadão promover a ACP e depois esta ação for julgada improcedente? Ele arcará com os custos da sucumbência? Tal como previsto no CPC?1 1 Código de Processo Civil: Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. (...) Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 36 E se o cidadão promover a ACP e depois esta ação for julgada improcedente? Ele arcará com os custos da sucumbência? Tal como previsto no CPC?2 Não, somente se houve comprovada má-fé. CF, art. 5º, LXXIII: Art. 5º [...] LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má- fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; [...] Isenção de custas e ônus de sucumbência, salvo comprovada má-fé. 2 Código de Processo Civil: Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. (...) Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 37 3.2.4 Princípio da Publicidade Quarto princípio expresso Fundamento Constitucional: arts. 37, caput, 5º, XXXIII e XXXIV, “b”: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, PUBLICIDADE e eficiência e, também, ao seguinte: [...] Art. 5º [...] XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: [...] b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; [...] Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 38 Impõe à Administração o dever de manter plena transparência em seus comportamentos. Exige a ampla publicação dos atos praticados pela Administração Pública, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas em lei. Na esfera administrativa, o sigilo só se admite, a teor do art. 5º, XXXIII, precitado, quando “imprescindível à segurança da Sociedade e do Estado”, bem assim quando necessário à defesa da intimidade e proteção do interesse social (art. 5º, LX). E se o Estado se recusar a fornecer alguma informação que você está solicitando? O que fazer? Qual medida tomar? Constituição Federal: Art. 5º (...) LXXII - conceder-se-á HABEAS DATA: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; (...) Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 39 Neste caso, deve-se promover o HABEAS DATA (art. 5º, LXXII c/c Lei 9507/97). Veja que estamos falando de: o Informações relativas à pessoa do impetrante; o Dados constantes em registros ou banco de dados governamentais ou de caráter público. E se você verifica que em um registro ou banco de dados públicos há dados seus que estão errados? O que fazer se você pedir para corrigir e houver recusa? CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ART. 5º (...) LXXII - conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; E qual o valor das custas de um Habeas Data? Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 40 CONSTITUIÇÃO FEDERAL: Art. 5º (...) LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania. (...) Outros pontos a serem observados relacionados ao Princípio da Publicidade: E se você quiser receber de um órgão público informações de seu interesse particular, tais informações devem ser disponibilizadas? E se as informações forem de interesse coletivo ou geral, tal como informações com gastos públicos, a administração tem que disponibilizar? E se positiva a afirmativa, é toda e qualquer informação que pode ser disponibilizada? Vejamos o disposto no Art.5º, XXXIII, CF: Art. 5º (...) XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; (...) Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 41 Existe, por exemplo, direito a ver o quanto ganha um servidor? Um juiz? Um desembargador? Ou mesmo um Ministro (STF, STJ, TST...)? “Direito à informação de atos estatais, neles embutida a folha de pagamento de órgãos e entidades públicas. (...) Caso em que a situação específica dos servidores públicos é regida pela 1ª parte do inciso XXXIII do art. 5º da Constituição. Sua remuneração bruta, cargos e funções por eles titularizados, órgãos de sua formal lotação, tudo é constitutivo de informação de interesse coletivo ou geral. Expondo‑ se, portanto, a divulgação oficial. Sem que a intimidade deles, vida privada e segurança pessoal e familiar se encaixem nas exceções de que trata a parte derradeira do mesmo dispositivo constitucional (inciso XXXIII do art. 5º), pois o fato é que não estão em jogo nem a segurança do Estado nem do conjunto da sociedade. Não cabe, no caso, falar de intimidade ou de vida privada, pois os dados objeto da divulgação em causa dizem respeito a agentes públicos enquanto agentes públicos mesmos; ou, na linguagem da própria Constituição, agentes estataisagindo ‘nessa qualidade’ (§6º do art. 37). E quanto à segurança física ou corporal dos servidores, seja pessoal, seja familiarmente, claro que ela resultará um tanto ou quanto fragilizada com a divulgação nominalizada dos dados em debate, mas é um tipo de risco pessoal e familiar que se atenua com a proibição de se revelar o endereço residencial, o CPF e a CI de cada servidor. No mais, é o preço que se paga pela opção por uma carreira pública no seio de um Estado republicano. (...) A negativa de prevalência do princípio da publicidade administrativa implicaria, no caso, inadmissível situação de grave lesão à ordem pública.” (SS 3.902‑AgR‑segundo, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 9‑6‑2011, Plenário, DJE de 3‑10‑2011.) Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 42 E se houver o interesse particular em solicitar algo a algum órgão público? O que fazer? CONSTITUIÇÃO: Art. 5º (...) XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 43 Se houver recursa a dar a informação ou certidão? “O direito à certidão traduz prerrogativa jurídica, de extração constitucional, destinada a viabilizar, em favor do indivíduo ou de uma determinada coletividade (como a dos segurados do sistema de previdência social), a defesa (individual ou coletiva) de direitos ou o esclarecimento de situações. A injusta recusa estatal em fornecer certidões, não obstante presentes os pressupostos legitimadores dessa pretensão, autorizará a utilização de instrumentos processuais adequados, como o mandado de segurança ou a própria ação civil pública. O Ministério Público tem legitimidade ativa para a defesa, em juízo, dos direitos e interesses individuais homogêneos, quando impregnados de relevante natureza social, como sucede com o direito de petição e o direito de obtenção de certidão em repartições públicas.” (RE 472.489 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 29 4 2008, Segunda Turma, DJE de 29 8 2008.) No mesmo sentido: RE 167.118 AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 20 4 2010, Segunda Turma, DJE de 28 5 2010. Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 44 3.2.5 Princípio da Eficiência O quinto e último princípio expresso é o da eficiência. Fundamento Constitucional: art. 37, caput, CF: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e EFICIÊNCIA e, também, ao seguinte: [...] Di Pietro: “O princípio da eficiência impõe ao agente público um modo de atuar que produza resultados favoráveis à consecução dos fins que cabem ao Estado alcançar.” Hely Lopes Meirelles: Dever da Administração Pública; Deve pautar todas as atividades com presteza, perfeição e rendimento funcional; Direito Administrativo I – Princípios do Dir. Administrativo – Prof. João Rodolfo Lima Página | 45 Maria Sylvia Zanella Di Pietro: Apresenta 02 aspectos: Atuação do agente público melhor desempenho possível com a finalidade de melhores resultados; Organização Administrativa a organização e estruturação devem buscar os melhores resultados na prestação dos serviços públicos; Princípios Administrativos Essenciais Expressos L Legalidade Restringir à lei I Impessoalidade Sem favoritismos ou perseguições M Moralidade Ética P Publicidade Sem segredos (salvo sigilo necessário. Segurança nacional) E Eficiência Melhores resultados Implícitos
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