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Aula 08 Direito Empresarial p/ PC-MA (Delegado) Pós-edital Professor: Paulo Guimarães http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães AULA 08 PROPRIEDADE INDUSTRIAL. Sumário Sumário ................................................................................................. 1 1 – Considerações Iniciais ......................................................................... 3 2 – Introdução. Direito de Propriedade Intelectual X Direito de Propriedade Industrial ............................................................................................... 3 2.1. Introdução .................................................................................... 3 2.2. Aspectos históricos ......................................................................... 4 3 – Disposições constitucionais .................................................................. 4 4 – A Lei n. 9.279/1996 – Lei de Propriedade Industrial ................................ 5 5 – Instituto Nacional da Propriedade Intelectual – INPI ................................ 7 6 – Patentes ........................................................................................... 8 6.1. Definições básicas .......................................................................... 8 6.2. Requisitos e patenteabilidade ........................................................... 9 6.3. Pedido de patente ......................................................................... 12 6.4. Análise dos requisitos .................................................................... 15 6.5. Concessão da patente .................................................................... 17 6.6. Vigência da patente ....................................................................... 18 6.7. Proteção conferida pela patente ...................................................... 18 6.8. Nulidade da patente ...................................................................... 20 6.9. Cessão de patente ......................................................................... 21 6.10. Licenciamento de patente ............................................................. 22 6.11. Patente de interesse da defesa nacional .......................................... 26 6.12. Retribuição anual ......................................................................... 26 6.13. Extinção da patente ..................................................................... 27 6.14. Adição de invenção ...................................................................... 28 6.15. Patentes pipeline ......................................................................... 28 7 – Desenho Industrial ............................................................................ 29 7.1. Conceito de desenho industrial ........................................................ 29 7.2. Requisitos de registrabilidade .......................................................... 30 7.3. Procedimento de registro ................................................................ 30 http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães 7.4. Concessão do registro .................................................................... 31 7.5. Vigência do registro ....................................................................... 32 7.6. Nulidade do registro ...................................................................... 32 7.7. Retribuição quinquenal ................................................................... 33 7.8. Extinção do registro ....................................................................... 34 8 – Marca .............................................................................................. 35 8.1. Conceitos básicos .......................................................................... 35 8.2. Limitações de registro .................................................................... 36 8.3. Nome de domínio .......................................................................... 42 8.4. Espécies de marca ......................................................................... 43 8.5. Registro de marca ......................................................................... 45 8.6. Princípio da especialidade ou especificidade ...................................... 47 8.7. Marca de alto renome .................................................................... 49 8.8. Uso indevido de marca registrada .................................................... 50 8.9. Cessão e licenciamento do registro de marca .................................... 51 8.10. Nulidade do registro de marca ....................................................... 51 8.11. Extinção do registro de marca ....................................................... 52 9 – Indicações Geográficas ...................................................................... 55 10 – Trade Dress (conjunto-imagem) ........................................................ 57 11 – Questões ........................................................................................ 58 11.1. Questões sem Comentários ........................................................... 58 11.2. Gabarito ..................................................................................... 67 11.3. Questões comentadas .................................................................. 68 12 – Resumo da Aula .............................................................................. 88 13 – Jurisprudência Aplicável ................................................................... 92 14 – Considerações Finais ...................................................................... 101 http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães AULA 08 – PROPRIEDADE INDUSTRIAL. 1 – Considerações Iniciais Olá, futuro Delegado de Polícia! Hoje estudaremos a propriedade intelectual. É um tema que não aparece com tanta frequência provas de concursos, mas tem sido cada vez mais cobrado nos últimos anos. Não são termos complicados, mas você precisará dar uma atenção especial a este assunto para compreender todas as nuances desse interessante ramo da ciência jurídica. No final da aula, como de costume, teremos questões que o ajudarão a solidificar os seus conhecimentos. Bons estudos! 2 – Introdução. Direito de Propriedade Intelectual X Direito de Propriedade Industrial 2.1. Introdução O empresário, seja ele empresário individual ou sociedade empresária, precisará organizar um complexo de bens que servirão para o desempenho de sua atividade. Esse complexo de bens, como você já sabe, é chamado pelos doutrinadores de estabelecimento comercial. Importante mencionar, contudo, que o complexo de bens não envolve apenas objetos corpóreos, mas também bens e materiais, que muitas vezes são até mais importantes que os bens físicos. Tamanha importância desses bens materiais que ordenamento jurídico os confere proteção especial. Daí surgiu o chamado direito de propriedade industrial, que se presta a proteger bens materiais, a exemplo das marcas e desenhos industriais, além das invenções e modelos de utilidade. Alguns autores gastam páginas e páginas de suas obras tentando classificar tecnicamente o direito de propriedade industrial na qualidade de sub-ramo do direito empresarial. Particularmente, não considero esse esforço muito útil. Na minha modesta opinião, a única discussão que realmente importa diz respeito à nomenclatura adotada por esse sub-ramo. Podemos dizer que, segundo a maior parte da doutrina, o direito de propriedade industrial espécie do direito de propriedadeintelectual1, gênero que também incluiria o direito autoral, outros regimes de proteção de bens imateriais, e, segundo parte da doutrina, também o direito antitruste. O regime jurídico adotado depende da natureza do bem imaterial a ser protegido. A propriedade industrial deverá abarcar as invenções e as marcas, por exemplo, que certamente correspondem a obras do gênio humano. Por outro lado, uma 1 Esse entendimento é adotado por diversos doutrinadores, entre eles André Luiz Santa Cruz Ramos e Edilson Enedino das Chagas. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães composição musical, um romance ou um programa de computador também são expressões da imaginação e da criatividade, mas devem ser protegidas pelo regime do direito autoral. A diferenciação entre esses regimes será estudada por nós ao longo da aula de hoje, mas desde já você deve saber que o direito autoral protege a obra em si, enquanto o direito de propriedade industrial protege na técnica. 2.2. Aspectos históricos Aquela cidade humana obviamente sempre existiu, mas apontamos na Revolução Industrial o marco histórico a partir do qual ficou clara a realidade de que a criação é grande instrumento de poder e riqueza. O primeiro caso conhecido de proteção ao inventor, todavia, muito anterior a isso. Em 1236, na cidade de Bordeaux, na França, foi concedido à Bonafasus de Sancta e Companhia o direito de explorar com exclusividade, pelo período de 15 anos, o método flamengo de tecer e tingir tecidos de lã. Esse privilégio, porém, tal como outros concedidos ainda na Idade Média, não passavam da aplicação de critérios políticos de conveniência e oportunidade. Não havia ainda um regime jurídico instituído e aplicável à proteção das invenções. As mudanças de cenário começam a surgir com as codificações de patentes de Veneza (1474) e da Inglaterra (o statute of monopolies, de 1623/1624), que introduziram alguns princípios básicos até hoje observados no regime de propriedade industrial. O assunto, porém, somente ganhou corpo depois da Revolução Industrial. Em 1883 ocorreu a Convenção de Paris, ocasião em que diversas nações se reuniram para analisar e uniformizar o sistema internacional de proteção à propriedade industrial. O Brasil, diga-se de passagem, foi um dos países fundadores da Convenção de Paris, tendo sempre assumido posição de vanguarda no assunto. 3 – Disposições constitucionais Quase todas as concepções brasileiras, ao logo da história, concederam privilégio ao inventor para exploração de seus inventos. A Constituição Federal de 1988 trata da propriedade industrial na parte dos direitos e garantias individuais. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País; http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães Importante mencionar também que desde 1994 o Brasil é signatário do acordo conhecido como TRIPS, ou, em português, Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com Comércio (ADPIC). Aplicação desse acordo já gerou interessante polêmica na jurisprudência nacional. Isso porque o texto do Acordo TRIPS prevê a postergação da sua vigência por cinco anos nos países em desenvolvimento, a exemplo do Brasil. Os primeiros casos julgados a respeito do assunto, porém o Superior Tribunal de Justiça teve entendimento diferente. Segundo o Tribunal, a aplicação do acordo deveria ser imediata, já que o Brasil não havia manifestado expressamente a adesão à cláusula que previa A postergação da vigência do acordo. Devemos salientar, porém, que posteriormente o STJ alterou seu entendimento, adotando posicionamento no sentido de que a postergação da vigência do acordo seria válida para o Brasil independentemente de adesão expressa à cláusula do TRIPS. RECURSO ESPECIAL. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. PRORROGAÇÃO DO PRAZO DE PATENTE CONCEDIDA NOS TERMOS DA LEI N. 5772/71 POR MAIS CINCO ANOS. ACORDO TRIPS. VIGÊNCIA NO BRASIL. I - O Acordo Internacional TRIPS - inserido no ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto n. 1.355/94 -, na parte que prevê a prorrogação do prazo de patente de 15 anos - nos termos da Lei n. 5.772/71 - para 20 anos, não tem aplicação imediata, ficando submetida a observância de suas normas a pelo menos duas restrições, em se tratando de países em desenvolvimento, como o caso do Brasil: a) prazo geral de um ano, a contar do início da vigência do Acordo no país (art. 65.1); b) prazo especial de mais quatro anos para os países em desenvolvimento (art. 65.2), além do prazo geral. II - A ausência de manifestação legislativa expressa, no sentido de postergar a vigência do Acordo no plano do direito interno por mais cinco anos (na modalidade 1 + 4), não pode ser interpretada como renúncia à faculdade oferecida pelo art. 65 às nações em desenvolvimento, uma vez que não havia nenhum dispositivo obrigando o país a declarar sua opção pelo prazo de transição. Precedente: REsp 960.728/RJ, Relª. Minª. NANCY ANDRIGHI, DJ 17.3.09. Recurso Especial provido. REsp 806.147/RJ, Rel. Min. Sidnei Benetti, 3a Turma, j. 15.12.2009, DJe 18.12.2009. 4 – A Lei n. 9.279/1996 – Lei de Propriedade Industrial Atualmente a Lei n. 9.279/1996 regula os direitos e obrigações relativos à propriedade industrial no Brasil. Se escopo é declarado logo nos primeiros dispositivos. Art. 2º A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o seu interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, efetua-se mediante: I - concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade; II - concessão de registro de desenho industrial; III - concessão de registro de marca; http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães IV - repressão às falsas indicações geográficas; e V - repressão à concorrência desleal. Podemos dizer, portanto que são quatro os bens protegidos pelo direito de propriedade industrial: a invenção e o modelo de utilidade (protegidos mediante patente), e a marca e o desenho industrial (protegidos por meio de registro). Além disso, o direito de propriedade industrial também reprime as falsas indicações geográficas e a concorrência desleal. Como o Brasil é signatário tanto do TRIPS quanto da Convenção da União de Paris, é comum dizer que somos um país unionista no que se refere ao direito de proteção industrial. A Lei n. 9.279/1996 obedece justamente aos preceitos desses dois acordos internacionais. Art. 3º Aplica-se também o disposto nesta Lei: I - ao pedido de patente ou de registro proveniente do exterior e depositado no País por quem tenha proteção assegurada por tratado ou convenção em vigor no Brasil; e II - aos nacionais ou pessoas domiciliadas em país que assegure aos brasileiros ou pessoas domiciliadas no Brasil a reciprocidade de direitos iguais ou equivalentes. O art. 3o adota no ordenamento brasileiro ou os princípios da prioridade da assimilação. Além disso, a lei classifica os direitos de propriedade industrial como bens móveis, nos termos de seu art. 5o. Art. 5º Consideram-se bens móveis, para os efeitos legais, os direitos de propriedade industrial.PROTEÇÃO À PROPRIEDADE INDUSTRIAL Concessão de Patente De invençãoDe modelo de utilidade Registro De marcaDe desenho industrial Repressão às falsas indicações geográficas Repressão à concorrência desleal http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães 5 – Instituto Nacional da Propriedade Intelectual – INPI O INPI é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior de Serviços (MDIC), que tem por atribuição a concessão de privilégios e garantias aos inventores e criadores. Como estamos falando de uma autarquia federal, as decisões do INPI podem ser revistas pelo Poder Judiciário. Nesse sentido, o STJ entende que as ações ajuizadas contra o INPI devem correr perante a Justiça Federal, no foro do Rio de Janeiro, onde fica localizada a sede do Instituto. Por outro lado, o STJ também entende que quando houver litisconsórcio passivo (mais de um réu) a ação pode ser proposta no Rio de Janeiro ou no domicílio do outro réu. Processual civil. Recurso especial. Ação na qual o INPI figura como parte. Foro competente para julgamento. O foro competente para julgamento de ação em que o INPI figure como parte é o de sua sede, a princípio. Contudo, o Código de Processo Civil faculta que o autor ajuize a ação no foro do domicílio do outro demandado na hipótese de pluralidade de réus, se assim preferir. Inteligência do art. 94, § 4.º, do CPC. REsp 346.628/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3a Turma, j. 13.11.2001, DJ 04.02.2002, p. 355. O INPI é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior de Serviços (MDIC), que tem por atribuição a concessão de privilégios e garantias aos inventores e criadores. O STJ entende que as ações ajuizadas contra o INPI devem correr perante a Justiça Federal, no foro do Rio de Janeiro, onde fica localizada a sede do Instituto. Por outro lado, o STJ também entende que quando houver litisconsórcio passivo (mais de um réu) a ação pode ser proposta no Rio de Janeiro ou no domicílio do outro réu. Esse entendimento acerca da competência da Justiça Federal do Rio de Janeiro, porém, não se aplica aos litígios entre particulares em razão de registro junto ao INPI, já que nestes casos a autarquia não é parte, e por isso a competência é, em regra, da Justiça Comum Estadual. Outro aspecto jurisprudencial que deve ser mencionado é a controvérsia, dentro do próprio STJ, acerca da possibilidade de o juízo estadual declarar incidentalmente a nulidade de patente ou registo de marca ou desenho industrial. O entendimento da 4a Turma é no sentido de que isso seria possível, mas há julgados mais recentes da 3a Turma no sentido de que a parte interessada precisaria propor ação anulatória própria perante a Justiça Federal. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães 6 – Patentes A patente, instrumentalizada pela chamada carta-patente, é o instrumento jurídico de proteção da invenção e do modelo de utilidade. 6.1. Definições básicas A invenção é um ato original, fruto da criatividade humana. Segundo as regras da Lei de Propriedade Industrial, a invenção será patenteável desde que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. O modelo de utilidade, por sua vez, tem definição legal, no art. 9o da lei. Art. 9º É patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. Alguns autores dizem que o modelo de utilidade seria uma mini-invenção ou pequena-invenção, enquanto Edilson Enedino das Chagas o chama de “invenção melhorada”, dando como exemplo as novas tecnologias e carros elétricos e híbridos, que melhoram os automóveis, tradicionalmente movidos a combustão, mas que não representam exatamente um novo invento. Utilizando exemplos patenteados, podemos citar a cadeira de rodas vertical, utilizada para locomoção de pessoas com deficiência que não devam ficar sentadas, bem como o lacre para conservantes, muito comum em recipientes de tampa metálica, em que temos uma peça que é removida, geralmente no meio da tampa, que alivia a pressão interna e facilita a abertura da embalagem. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães Por outro lado, o art. 10 da Lei de Propriedade Industrial determina o que não pode ser considerado como modelo de utilidade. Art. 10. Não se considera invenção nem modelo de utilidade: I - descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos; II - concepções puramente abstratas; III - esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização; IV - as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética; V - programas de computador em si; VI - apresentação de informações; VII - regras de jogo; VIII - técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais. 6.2. Requisitos e patenteabilidade Para que o autor de uma invenção ou modelo de utilidade possa obter proteção por meio da patente, é necessário demonstrar o preenchimento dos requisitos de patenteabilidade: novidade, atividade inventiva, aplicação industrial (ou industriabilidade) e licitude (ou desimpedimento). Art. 11. A invenção e o modelo de utilidade são considerados novos quando não compreendidos no estado da técnica. O estado da técnica é tudo que está acessível ao público antes da data de depósito do pedido de patente, por descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior. O requisito da novidade, portanto, será preenchido quando a invenção ou modelo de utilidade for algo desconhecido até mesmo para a comunidade científica especializada. A atividade inventiva, aqui descrita como um outro requisito, será atendida quando, para um técnico no assunto, a invenção não decorrer da maneira óbvia do estado da técnica, e o modelo de utilidade não decorrer de maneira evidente ou vulgar do estado da técnica. Em outras palavras, é preciso demonstrar que inventor chegou a um resultado novo, como consequência de um ato de criação. Nesse sentido, a intenção deve ser diferenciada da mera descoberta. Os norte- americanos chamam esses requisito de non-obviousness. A aplicação industrial, terceiro requisito de patenteabilidade, é preenchido quando a invenção ou o modelo de utilidade possam ser adotados por qualquer http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães tipo de indústria. O invento, portanto, precisa ser útil e factível. Se alguém queria algo novo, mas que não é possível produzir industrialmente, não poderá haver patente. O Outro requisito é a licitude ou desimpedimento, objeto do art. 18 da Lei de Propriedade Industrial. Art. 18. Não são patenteáveis: I - o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à saúde públicas; II - as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-químicas e os respectivos processos de obtenção ou modificação, quando resultantes de transformação do núcleo atômico; e III - o todo ou partedos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que atendam aos três requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não sejam mera descoberta. Parágrafo único. Para os fins desta Lei, microorganismos transgênicos são organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante intervenção humana direta em sua composição genética, uma característica normalmente não alcançável pela espécie em condições naturais. Tome cuidado especialmente para não confundir o conteúdo do art. 18 com o do art. 10 da Lei de Propriedade Industrial. O art. 10 traz que a lei não considera como invenção bom modelo utilidade, enquanto o art. 18 tratar casos que até poderiam ser considerados como invenções ou modelos de utilidade, mas que o legislador preferiu não proteger por outras razões. Art. 229-C. A concessão de patentes para produtos e processos farmacêuticos dependerá da prévia anuência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. No regime anterior, não se previa a possibilidade de concessão de patente para inventos na área farmacêutica, sob a justificativa de universalizar o acesso da população aos avanços da ciência médica. A Lei de Propriedade Industrial, porém, prevê essa proteção, mas a concessão de patentes dependerá de prévia anuência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na época da implementação da lei surgiu controvérsia acerca da natureza da participação da Anvisa. A agência defendia que sua anuência consistiria na própria análise dos requisitos de patenteabilidade, enquanto o INPI argumentava que tal entendimento representava invasão de suas atribuições institucionais. O conflito de atribuições foi resolvido por meio do Parecer n. 210/PGF/AE/2009, da Procuradoria-Geral Federal, ratificado pelo Advogado-Geral da União. Segundo o referido parecer, não é atribuição da Anvisa promover exames (avaliação/reavaliação) dos critérios técnicos próprios da patenteabilidade (novidade, atividade inventiva e aplicação industrial) quando da atuação para anuência prévia (art. 229-C da Lei n. 9.279, de 1996), pois é uma atribuição http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães própria do INPI, conforme estabelecido pela própria lei (art. 2o da Lei n. 5.468/1970). Nesse sentido, a Anvisa deve atuar em conformidade com as suas atribuições institucionais (art. 6o da Lei n. 9.782/1999): impedir por meio do controle sanitário a produção e a comercialização de produtos e serviços potencialmente nocivos à saúde humana. Merece menção ainda o chamado “segundo uso” de substâncias farmacológicas, que se refere à reivindicação de patente de um fármaco já conhecido, mas para um novo uso terapêutico. O Escritório de Patentes Europeu sempre negava esse tipo de pedido em razão da proibição de patente de método de tratamento (proibição essa que também consta na Lei de Propriedade Industrial). Esse entendimento, porém, mudou com o caso Pharmuka, por ocasião do qual o Escritório de Patentes Europeu passou a entender que a questão poderia ser resolvida pela forma de reivindicação: em vez de “uso do composto A para tratar B”, o pedido deveria ser formulado como “uso do composto A para se obter um medicamento destinado ao tratamento de B”. Como essa solução surgiu inicialmente num caso tratado na Suíça, ficou conhecida como “fórmula suíça”, e esse entendimento também vem sendo adotado nos mesmos moldes pelo INPI. A Anvisa, por outro lado, tem manifestado oposição à patente do segundo uso, pois isso faz com que a exclusividade sobre um fármaco permaneça por mais tempo, prejudicando a entrada de genéricos no mercado e, em última análise, restringindo o acesso da população ao medicamento. Esse entendimento levou à apresentação de projeto de lei proibindo completamente a patente do segundo uso, e que ainda está em tramitação no Congresso Nacional. Outra controvérsia que merece menção específica é a que diz respeito à patente de biotecnologia. A Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU define biotecnologia como “qualquer aplicação tecnológica que utilize sistemas biológicos, organismos vivos, ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos para utilização específica”. Essas técnicas têm diversas aplicações hoje, a exemplo da produção de medicamentos, lavouras e combustíveis. A controvérsia aqui gira em torno do atendimento, ou não, do requisito da inventividade. Muitos dizem, por exemplo, que não se pode patentear uma sequência ou segmentos de DNA, pois isso configuraria mera descoberta, e não invento. Nos Estados Unidos, porém, o Escritório de Patentes e Marcas tem concedido patentes de DNA. O Acordo TRIPS prevê situações em que os países-membros poderão negar a patente nessa área: a)!Métodos diagnósticos, terapêuticos e cirúrgicos para o tratamento de seres humanos ou de animais; http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães b)!Plantas e animais, exceto micro-organismos e processos essencialmente biológicos para a produção de plantar ou animais, excetuando-se os processos não biológicos e microbiológicos. Podemos dizer que o Brasil adotou regras bastante restritivas no que se refere à patenteabilidade na área de biotecnologia. Releia os dispositivos a seguir. Art. 10. Não se considera invenção nem modelo de utilidade: [...] VIII - técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais. Art. 18. Não são patenteáveis: [...] III - o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que atendam aos três requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não sejam mera descoberta. Devemos ainda lembrar que, no caso das patentes de material biotecnológico, há uma exigência adicional na Lei de Propriedade Industrial, que é o depósito do material em instituição autorizada pelo INPI ou indicada em acordo internacional. Nesses casos, portanto, a mera descrição não é suficiente. Quanto aos limites éticos da manipulação biotecnológica, lembre-se de que a Lei de Propriedade Industrial prevê a negativa da patente nos casos contrários à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à saúde pública (art. 18, I). Os autores geralmente mencionam como exemplo desse tipo de negativa a clonagem humana. 6.3. Pedido de patente O ato de concessão da patente é precedido de um processo administrativo complexo e muitas vezes demorado. Art. 6º Ao autor de invenção ou modelo de utilidade será assegurado o direito de obter a patente que lhe garanta a propriedade, nas condições estabelecidas nesta Lei. [...] § 2º A patente poderá ser requerida em nome próprio, pelos herdeiros ou sucessores do autor, pelo cessionário ou por aquele a quem a lei ou o contrato de trabalho ou de prestação de serviços determinar que pertença a titularidade. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães § 3º Quando se tratar de invenção ou de modelo de utilidade realizado conjuntamente por duas ou mais pessoas, a patente poderá ser requerida por todas ou qualquer delas, mediante nomeação e qualificação das demais, para ressalva dos respectivos direitos. § 4º O inventor será nomeado e qualificado, podendo requerer a não divulgação de sua nomeação. O pedido de proteção deveráser feito ao INPI pelo próprio autor da invenção ou modelo de utilizado, ou ainda pelos herdeiros ou sucessores, pelo cessionário ou por aquele a quem a lei ou o contrato de trabalho ou de prestação de serviços determinar que pertença a titularidade. Se houver mais de um inventor, o pedido poderá ser feito por todos em conjunto ou por qualquer um deles isoladamente, desde que indique os nomes dos demais. Art. 7º Se dois ou mais autores tiverem realizado a mesma invenção ou modelo de utilidade, de forma independente, o direito de obter patente será assegurado àquele que provar o depósito mais antigo, independentemente das datas de invenção ou criação. Caso dois ou mais inventores pretendam a mesma patente, o critério utilizado para concessão da proteção será a data do depósito. Isso mesmo! Não importa quando houve o esforço de criação propriamente dito. O que importa é quando o inventor procurou o INPI. Esta é apontada pelos doutrinadores como a principal diferença entre a propriedade industrial e o direito autoral. Este é conferido desde o momento da criação da obra, tendo o seu registro efeito meramente declaratório. A propriedade industrial, por outro lado, toma por marco a data do depósito, tendo a patente ou registro efeito constitutivo da proteção jurídica. “Mas professor, e se o invento ou modelo de utilidade for de autoria de empregado de empresário? Como fica a proteção?” Esta é uma excelente pergunta, respondida pela Lei de Propriedade Industrial em seu art. 88. Art. 88. A invenção e o modelo de utilidade pertencem exclusivamente ao empregador quando decorrerem de contrato de trabalho cuja execução ocorra no Brasil e que tenha por objeto a pesquisa ou a atividade inventiva, ou resulte esta da natureza dos serviços para os quais foi o empregado contratado. Quando o empregado tiver a atividade criativa como sua atribuição prevista no contrato de trabalho, a invenção ou modelo de utilidade pertencem ao empregador. A não ser que haja disposição em contrário no contrato de trabalho, a retribuição pelo seu trabalho se resume ao salário. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães Conferindo proteção ainda maior ao empregador nestes casos, a Lei de Propriedade Industrial determina ainda que, salvo prova em contrário, consideram-se desenvolvidos na vigência do contrato a invenção ou o modelo de utilidade, cuja patente seja requerida pelo empregado até 1 ano após a extinção do vínculo empregatício. A invenção e o modelo de utilidade pertencem exclusivamente ao empregador quando decorrerem de contrato de trabalho cuja execução ocorra no Brasil e que tenha por objeto a pesquisa ou a atividade inventiva, ou resulte esta da natureza dos serviços para os quais foi o empregado contratado. Salvo prova em contrário, consideram-se desenvolvidos na vigência do contrato a invenção ou o modelo de utilidade, cuja patente seja requerida pelo empregado até 1 ano após a extinção do vínculo empregatício. É prática comum nas empresas que se dedicam a pesquisa que haja acordos que preveem participação percentual do empregado na exploração da sua invenção ou modelo de utilidade, nas condições que estamos estudando. A Lei de Propriedade Industrial traz previsão específica nesse sentido, determinando ainda que essa participação não se incorpora ao salário do empregado. Por outro lado, o art. 90 prevê o caso em que o invento pertencerá exclusivamente ao empregador. Isso ocorrerá quando a invenção ou o modelo de utilidade não tiver qualquer vinculação com o contrato de trabalho e não decorrer da utilização de recursos, meios, dados, materiais, instalações ou equipamentos do empregador. Art. 91. A propriedade de invenção ou de modelo de utilidade será comum, em partes iguais, quando resultar da contribuição pessoal do empregado e de recursos, dados, meios, materiais, instalações ou equipamentos do empregador, ressalvada expressa disposição contratual em contrário. Esta é uma situação intermediária, em que a propriedade do invento é comum. Isso ocorrerá quando o empregado tiver concedido sua contribuição pessoal, e o empregador tiver provido recursos, dados, meios, materiais, instalações ou equipamentos. Por fim, devemos ainda mencionar o art. 93, segundo o qual as disposições que estamos estudando também se aplicam às entidades da Administração Pública, direta, indireta e fundacional, federal, estadual ou municipal. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães 6.4. Análise dos requisitos Art. 19. O pedido de patente, nas condições estabelecidas pelo INPI, conterá: I - requerimento; II - relatório descritivo; III - reivindicações; IV - desenhos, se for o caso; V - resumo; e VI - comprovante do pagamento da retribuição relativa ao depósito. O procedimento de análise dos requisitos da patente se inicia com o depósito do pedido. Uma vez apresentado com todos os elementos previstos no art. 19, o pedido será submetido a análise formal preliminar e em seguida protocolizado. A data do depósito, que é útil por várias razões, será a data em que o pedido foi apresentado. Por outro lado, o INPI poderá identificar problemas do ponto vista formal, caso em que conferirá o prazo de 30 dias para que seja satisfeita a exigência, desde que estejam presentes os alimentos mínimos necessários para o pedido. Cumpridas as exigências formais, é possível passar à fase de análise das condições do pedido. Art. 22. O pedido de patente de invenção terá de se referir a uma única invenção ou a um grupo de invenções inter-relacionadas de maneira a compreenderem um único conceito inventivo. Art. 23. O pedido de patente de modelo de utilidade terá de se referir a um único modelo principal, que poderá incluir uma pluralidade de elementos distintos, adicionais ou variantes construtivas ou configurativas, desde que mantida a unidade técnico-funcional e corporal do objeto. Cada pedido deve corresponder a uma invenção ou a um modelo de utilidade, mas é possível que haja perigo conjunto quando as invenções ou modelos de utilidade forem partes de um todo. A Lei de Propriedade Industrial se preocupa ainda em estabelecer as condições para que os técnicos do INPI sejam capazes de avaliar a industriabilidade do invento, como podemos ver pela leitura do art. 24. Art. 24. O relatório deverá descrever clara e suficientemente o objeto, de modo a possibilitar sua realização por técnico no assunto e indicar, quando for o caso, a melhor forma de execução. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães Por fim, o autor do pedido deve também apresentar no relatório descritivo suas reivindicações e fundamentá-las detalhadamente, definindo de modo claro o objeto de proteção. Art. 29. O pedido de patente retirado ou abandonado será obrigatoriamente publicado. § 1º O pedido de retirada deverá ser apresentado em até 16 (dezesseis) meses, contados da data do depósito ou da prioridade mais antiga. § 2º A retirada de um depósito anterior sem produção de qualquer efeito dará prioridade ao depósito imediatamente posterior. Essa regra tem por finalidade evitar que o depositante do pedido o retire durante e seu período de sigilo e logo depois o deposite novamente, prolongando, dessa forma, o período de proteção. Como o pedido retirado ou abandonado é necessariamente publicado, passa automaticamente a integrar o “estado da técnica”, e um novo depósito então padeceria do requisito da novidade. Art. 30. O pedido de patente será mantido em sigilo durante 18 (dezoito) meses contados da data de depósito ou da prioridade mais antiga, quando houver, após o que serápublicado, à exceção do caso previsto no art. 75. Vencida a fase de analise das condições do pedido, passa-se então ao processamento e exame. Uma vez feito e admitido o pedido, caberá ao INPI manter seu sigilo durante o período de 18 meses, promovendo, ao fim desse prazo, a publicação na Revista da Propriedade Industrial, exceto quando se tratar de patente de interesse da defesa nacional, conforme arts. 30 e 75 da Lei de Propriedade Industrial. Se houver material biológico, este também se tornará acessível ao público por ocasião da publicação. Essa publicação também poderá ser antecipada a pedido do depositante. Como o período de sigilo é um benefício concedido ao inventor, para que ele possa organizar melhor sua criação, nada mais justo do que possibilitar que ele abra mão desse período, acelerando o restante do processo. Deverão constar na publicação os dados identificadores do pedido de patente, ficando cópia do relatório descritivo, das reivindicações, do resumo e dos desenhos à disposição do público no INPI. A publicação é importante porque, a partir dela, outros empresários e o público poderão tomar conhecimento das reivindicações do autor do pedido, e eventualmente opor alguma resistência. Por outro lado, a publicação faz com que qualquer pessoa tenha acesso aos detalhes do invento, e por isso pode surgir dúvida para o empresário entre requerer a proteção ao invento ou explorá-lo no regime de segredo de empresa. Se optar pelo segredo de empresa, o empresário assume o risco de outra pessoa requerer a proteção legal ao invento, mas se optar pela proteção, caberá apenas a ele fiscalizar o uso indevido de sua propriedade industrial. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães Art. 31. Publicado o pedido de patente e até o final do exame, será facultada a apresentação, pelos interessados, de documentos e informações para subsidiarem o exame. Parágrafo único. O exame não será iniciado antes de decorridos 60 (sessenta) dias da publicação do pedido. [...] Art. 33. O exame do pedido de patente deverá ser requerido pelo depositante ou por qualquer interessado, no prazo de 36 (trinta e seis) meses contados da data do depósito, sob pena do arquivamento do pedido. Parágrafo único. O pedido de patente poderá ser desarquivado, se o depositante assim o requerer, dentro de 60 (sessenta) dias contados do arquivamento, mediante pagamento de uma retribuição específica, sob pena de arquivamento definitivo. Feita a publicação, caberá ao depositante ou a qualquer interessado requerer o exame ao INPI. Esse requerimento deverá ser feito em 36 meses contados da data do depósito. Você deve estar se perguntando por que razão a lei exige que, após o depósito e a publicação, seja requerido o exame do invento. Na realidade isso ocorre para evitar o desperdício de energia por parte do INPI. O desenvolvimento tecnológico hoje é tão rápido, que depois do período de sigilo e da publicação, o invento pode não ser mais comercialmente interessante. O interessado pode não ser apenas o autor do invento, mas, por exemplo, alguém que tenha interesse em explorá-lo por meio do licenciamento da patente. Durante o período de exame, qualquer interessado também pode apresentar ao INPI documentos e informações capazes de auxiliar na análise do pedido. Se o prazo for ultrapassado sem que haja o requerimento de exame, o pedido será arquivado. É possível que seja pedido o desarquivamento, mas isso precisa ocorrer no prazo de 60 dias. Caso contrário, o arquivamento se tornará definitivo. Caso seja feito o requerimento de exame, o INPI analisará o pedido do autor, ocasião na qual será elaborado um parecer quanto à patenteabilidade, adaptação do pedido à natureza reivindicada, reformulação do pedido ou divisão, ou, ainda, exigências técnicas, nos termos do art. 35 da Lei de Propriedade Industrial. Se o parecer for pela não patenteabilidade, pelo não enquadramento do pedido na natureza reivindicada ou pela formulação de exigência, o depositante será intimado para manifestar-se no prazo de 90 dias. Não respondida a exigência, o pedido será arquivado. 6.5. Concessão da patente Art. 37. Concluído o exame, será proferida decisão, deferindo ou indeferindo o pedido de patente. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães Da decisão pelo deferimento ou indeferimento da patente não caberá recurso administrativo. É possível, contudo, que o terceiro interessado requeira a nulidade administrativa da patente, nos termos do art. 51 da Lei de Propriedade Industrial. Uma vez deferido o pedido e paga a retribuição correspondente, a patente será concedida, expedindo-se a carta-patente, na qual deverão constar o número, o título e a natureza respectivos, o nome do inventor, a qualificação e o domicílio do titular, o prazo de vigência, o relatório descritivo, as reivindicações e os desenhos, bem como os dados relativos à prioridade, nos termos do art. 39. 6.6. Vigência da patente Art. 40. A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos e a de modelo de utilidade pelo prazo 15 (quinze) anos contados da data de depósito. Parágrafo único. O prazo de vigência não será inferior a 10 (dez) anos para a patente de invenção e a 7 (sete) anos para a patente de modelo de utilidade, a contar da data de concessão, ressalvada a hipótese de o INPI estar impedido de proceder ao exame de mérito do pedido, por pendência judicial comprovada ou por motivo de força maior. Normalmente a patente de invenção dura 20 anos, e a de modelo de utilidade dura 15 anos, sempre contados da data do depósito. O legislador, porém, buscou garantir um período mínimo de vigência a partir da concessão, especialmente para os casos em que há uma demora excessiva na análise do pedido sem que haja culpa do autor, determinando que esse prazo de vigência não será inferior a 10 anos para a invenção e 7 anos para o modelo de utilidade, contados da data de concessão. Interessante mencionar aqui que está em tramitação junto ao Supremo Tribunal Federal uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra o parágrafo único do art. 40, que inclusive conta com parecer do Procurador-Geral da República pela procedência do pedido. A ação, contudo, ainda não foi julgada. A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 anos e a de modelo de utilidade pelo prazo 15 anos contados da data de depósito 6.7. Proteção conferida pela patente Art. 42. A patente confere ao seu titular o direito de impedir terceiro, sem o seu consentimento, de produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar com estes propósitos: I - produto objeto de patente; http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães II - processo ou produto obtido diretamente por processo patenteado. § 1º Ao titular da patente é assegurado ainda o direito de impedir que terceiros contribuam para que outros pratiquem os atos referidos neste artigo. § 2º Ocorrerá violação de direito da patente de processo, a que se refere o inciso II, quando o possuidor ou proprietário não comprovar, mediante determinação judicial específica, que o seu produto foi obtido por processo de fabricação diverso daquele protegido pela patente. Uma vez concedida a patente, seu detentor terá direito de exploração econômica exclusiva, e diante de exploração indevida por terceiros, poderá ingressar com ação judicial para obter indenização. Essa proteção, porém, não é absoluta. Há casos específicos em que a exploração da o invento ou modelo de utilidade é permitida, a exemplo da finalidade acadêmica ou meramente experimental, bem como da exploração não comercial, conforme previsão do art. 43. Art.43. O disposto no artigo anterior não se aplica: I - aos atos praticados por terceiros não autorizados, em caráter privado e sem finalidade comercial, desde que não acarretem prejuízo ao interesse econômico do titular da patente; II - aos atos praticados por terceiros não autorizados, com finalidade experimental, relacionados a estudos ou pesquisas científicas ou tecnológicas; III - à preparação de medicamento de acordo com prescrição médica para casos individuais, executada por profissional habilitado, bem como ao medicamento assim preparado; IV - a produto fabricado de acordo com patente de processo ou de produto que tiver sido colocado no mercado interno diretamente pelo titular da patente ou com seu consentimento; V - a terceiros que, no caso de patentes relacionadas com matéria viva, utilizem, sem finalidade econômica, o produto patenteado como fonte inicial de variação ou propagação para obter outros produtos; e VI - a terceiros que, no caso de patentes relacionadas com matéria viva, utilizem, ponham em circulação ou comercializem um produto patenteado que haja sido introduzido licitamente no comércio pelo detentor da patente ou por detentor de licença, desde que o produto patenteado não seja utilizado para multiplicação ou propagação comercial da matéria viva em causa. VII - aos atos praticados por terceiros não autorizados, relacionados à invenção protegida por patente, destinados exclusivamente à produção de informações, dados e resultados de testes, visando à obtenção do registro de comercialização, no Brasil ou em outro país, para a exploração e comercialização do produto objeto da patente, após a expiração dos prazos estipulados no art. 40. Outra exceção é a exploração de boa-fé por conta de terceiro que a iniciou antes do depósito do pedido de patente. Nesse caso a Lei de Propriedade Industrial assegura o direito de continuar a exploração, nos termos do art. 45. Art. 45. À pessoa de boa fé que, antes da data de depósito ou de prioridade de pedido de patente, explorava seu objeto no País, será assegurado o direito de continuar a exploração, sem ônus, na forma e condição anteriores. d http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães § 1º O direito conferido na forma deste artigo só poderá ser cedido juntamente com o negócio ou empresa, ou parte desta que tenha direta relação com a exploração do objeto da patente, por alienação ou arrendamento. § 2º O direito de que trata este artigo não será assegurado a pessoa que tenha tido conhecimento do objeto da patente através de divulgação na forma do art. 12, desde que o pedido tenha sido depositado no prazo de 1 (um) ano, contado da divulgação. 6.8. Nulidade da patente Apesar de não haver previsão legal de recurso administrativo contra a concessão de patente, é possível requerer sua nulidade total ou parcial, a depender de seu escopo: se a nulidade incidir sobre todas as reivindicações, será total; se incidir apenas sobre algumas, será parcial. O reconhecimento administrativo da nulidade da patente gera efeitos ex tunc. Em outras palavras, os efeitos da nulidade retroagem até a data do depósito do pedido. Uma peculiaridade é a possibilidade de adjudicação da patente, que ocorrerá quando for o caso de nulidade por ofensa ao art. 6o da Lei de Propriedade Industrial. Neste caso o argumento para a nulidade é o de que o beneficiário da patente não é seu legítimo titular. Diante desta situação será possível ingressar com ação judicial pedindo que a titularidade da patente seja modificada. O reconhecimento administrativo da nulidade da patente gera efeitos ex tunc. Em outras palavras, os efeitos da nulidade retroagem até a data do depósito do pedido. Art. 50. A nulidade da patente será declarada administrativamente quando: I - não tiver sido atendido qualquer dos requisitos legais; II - o relatório e as reivindicações não atenderem ao disposto nos arts. 24 e 25, respectivamente; III - o objeto da patente se estenda além do conteúdo do pedido originalmente depositado; ou IV - no seu processamento, tiver sido omitida qualquer das formalidades essenciais, indispensáveis à concessão. Parágrafo único. O processo de nulidade prosseguirá ainda que extinta a patente. Perceba que o art. 50 não determina que o INPI necessite de provocação para declarar a nulidade de patente quando estiverem presentes os requisitos necessários. Na realidade, o processo de nulidade poderá ser instaurado de ofício ou mediante requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse, desde que seja observado o prazo de 6 meses contados da concessão da patente. O parágrafo único do art. 50 determina ainda que o processo de nulidade prosseguirá ainda que extinta a patente. Isso ocorre porque, mesmo que já tenha b http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães sido extinta, a patente certamente produziu efeitos, e, se for o caso de nulidade da patente, esses efeitos também deverão ser anulados. Uma vez instaurado o processo administrativo, o titular da patente deverá ter a possibilidade de defender-se (contraditório). O procedimento está descrito nos arts. 52 a 54 da Lei de Propriedade Industrial. Art. 52. O titular será intimado para se manifestar no prazo de 60 (sessenta) dias. Art. 53. Havendo ou não manifestação, decorrido o prazo fixado no artigo anterior, o INPI emitirá parecer, intimando o titular e o requerente para se manifestarem no prazo comum de 60 (sessenta) dias. Art. 54. Decorrido o prazo fixado no artigo anterior, mesmo que não apresentadas as manifestações, o processo será decidido pelo Presidente do INPI, encerrando-se a instância administrativa. Quanto à possibilidade de ajuizamento da ação de nulidade, esta poderá ser proposta a qualquer tempo da vigência da patente, pelo INPI ou por qualquer pessoa com legítimo interesse. É possível também a declaração incidental da nulidade quando esta for tomada como matéria de defesa em outra ação judicial, ou, ainda, a suspensão cautelar dos efeitos da patente, atendidos os requisitos processuais próprios. Quando o INPI não for autor da ação de nulidade, deverá obrigatoriamente intervir no feito. Por isso a ação de nulidade deve ser proposta perante a Justiça Federal, como já mencionamos anteriormente. Lembre-se ainda de que, em regra, a competência é da seção judiciária do Rio de Janeiro, a não ser que haja outro réu, caso em que a ação também poderá ser proposta no domicílio deste. Art. 57. A ação de nulidade de patente será ajuizada no foro da Justiça Federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito. § 1º O prazo para resposta do réu titular da patente será de 60 (sessenta) dias. § 2º Transitada em julgado a decisão da ação de nulidade, o INPI publicará anotação, para ciência de terceiros. Aqui cabe observação acerca do prazo para resposta do réu, que é especificamente previsto pela Lei de Propriedade Industrial, maior do que o prazo previsto pelo Código de Processo Civil. 6.9. Cessão de patente Art. 58. O pedido de patente ou a patente, ambos de conteúdo indivisível, poderão ser cedidos, total ou parcialmente. 6 http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães Art. 59. O INPI fará as seguintes anotações: I - da cessão, fazendo constar a qualificação completa do cessionário; II - de qualquer limitação ou ônus que recaia sobre o pedido ou a patente; e III - das alterações de nome, sede ou endereço do depositante ou titular. Art. 60. As anotações produzirão efeito em relação a terceiros a partir da data de sua publicação. Como a patente, assim como os demais direitos de propriedade industrial, é considerada um bemmóvel, é perfeitamente possível que seu titular dela disponha da maneira que bem entender. É possível, portanto, a cessão da patente, ou mesmo do pedido de patente. Os atos de disposição da patente, porém, deverão ser objeto de anotação pelo INPI. 6.10. Licenciamento de patente A licença para exploração da patente pode ser voluntária ou compulsória, a depender da forma como se dá. Art. 61. O titular de patente ou o depositante poderá celebrar contrato de licença para exploração. Parágrafo único. O licenciado poderá ser investido pelo titular de todos os poderes para agir em defesa da patente. O art. 61 prevê a o licenciamento voluntário, que deve dar-se mediante contrato de licença para exploração, que deverá ser averbado junto ao INPI para que produza efeitos em relação a terceiros. A contraprestação pela exploração da patente licenciada é o que normalmente chamamos de royalty. Interessante mencionar que, apesar de o licenciamento do pedido de patente ser admitido, o INPI não vem admitindo a previsão contratual de pagamento de royalties neste caso. Art. 63. O aperfeiçoamento introduzido em patente licenciada pertence a quem o fizer, sendo assegurado à outra parte contratante o direito de preferência para seu licenciamento. Segundo a regra do art. 63, se uma determinada patente foi licenciada e, posteriormente, o antigo titular aperfeiçoou o invento, o licenciado terá preferência para obter o licenciamento relacionado ao aperfeiçoamento realizado. Art. 64. O titular da patente poderá solicitar ao INPI que a coloque em oferta para fins de exploração. 9 http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães § 1º O INPI promoverá a publicação da oferta. § 2º Nenhum contrato de licença voluntária de caráter exclusivo será averbado no INPI sem que o titular tenha desistido da oferta. § 3º A patente sob licença voluntária, com caráter de exclusividade, não poderá ser objeto de oferta. § 4º O titular poderá, a qualquer momento, antes da expressa aceitação de seus termos pelo interessado, desistir da oferta, não se aplicando o disposto no art. 66. Este é o caso em que o titular da patente não deseja negociar diretamente o seu licenciamento, delegando ao INPI a competência para promover uma oferta pública de licenciamento. Essa publicação da oferta será feita por meio da Revista da Propriedade Intelectual. Na falta de acordo entre o titular e o licenciado, as partes poderão requerer ao INPI o arbitramento da remuneração, que poderá ser revista decorrido 1 ano da sua fixação. Por fim, o titular da patente poderá requerer o cancelamento da licença se o licenciado não der início à exploração efetiva dentro de 1 ano da concessão, interromper a exploração por prazo superior a 1 ano, ou, ainda, se não forem obedecidas as condições para a exploração. Art. 68. O titular ficará sujeito a ter a patente licenciada compulsoriamente se exercer os direitos dela decorrentes de forma abusiva, ou por meio dela praticar abuso de poder econômico, comprovado nos termos da lei, por decisão administrativa ou judicial. § 1º Ensejam, igualmente, licença compulsória: I - a não exploração do objeto da patente no território brasileiro por falta de fabricação ou fabricação incompleta do produto, ou, ainda, a falta de uso integral do processo patenteado, ressalvados os casos de inviabilidade econômica, quando será admitida a importação; ou II - a comercialização que não satisfizer às necessidades do mercado. § 2º A licença só poderá ser requerida por pessoa com legítimo interesse e que tenha capacidade técnica e econômica para realizar a exploração eficiente do objeto da patente, que deverá destinar-se, predominantemente, ao mercado interno, extinguindo-se nesse caso a excepcionalidade prevista no inciso I do parágrafo anterior. § 3º No caso de a licença compulsória ser concedida em razão de abuso de poder econômico, ao licenciado, que propõe fabricação local, será garantido um prazo, limitado ao estabelecido no art. 74, para proceder à importação do objeto da licença, desde que tenha sido colocado no mercado diretamente pelo titular ou com o seu consentimento. § 4º No caso de importação para exploração de patente e no caso da importação prevista no parágrafo anterior, será igualmente admitida a importação por terceiros de produto fabricado de acordo com patente de processo ou de produto, desde que tenha sido colocado no mercado diretamente pelo titular ou com o seu consentimento. § 5º A licença compulsória de que trata o § 1º somente será requerida após decorridos 3 (três) anos da concessão da patente. 7 http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães Agora estamos falando do licenciamento compulsório, que será uma espécie de sanção, aplicada inicialmente ao titular da patente que abusa do privilégio geral de exploração a ele concedido. O processo de concessão da licença compulsória começa com o requerimento de um interessado, mas deve-se sempre dar oportunidade ao titular da patente para que se defenda de maneira adequada. Esta é a previsão do art. 69. Art. 69. A licença compulsória não será concedida se, à data do requerimento, o titular: I - justificar o desuso por razões legítimas; II - comprovar a realização de sérios e efetivos preparativos para a exploração; ou III - justificar a falta de fabricação ou comercialização por obstáculo de ordem legal. Há ainda uma outra hipótese de licenciamento compulsório, prevista no art. 70 da Lei de Propriedade Industrial. Art. 70. A licença compulsória será ainda concedida quando, cumulativamente, se verificarem as seguintes hipóteses: I - ficar caracterizada situação de dependência de uma patente em relação a outra; II - o objeto da patente dependente constituir substancial progresso técnico em relação à patente anterior; e III - o titular não realizar acordo com o titular da patente dependente para exploração da patente anterior. § 1º Para os fins deste artigo considera-se patente dependente aquela cuja exploração depende obrigatoriamente da utilização do objeto de patente anterior. § 2º Para efeito deste artigo, uma patente de processo poderá ser considerada dependente de patente do produto respectivo, bem como uma patente de produto poderá ser dependente de patente de processo. § 3º O titular da patente licenciada na forma deste artigo terá direito a licença compulsória cruzada da patente dependente. Neste caso as três condições devem ser observadas cumulativamente para que a licença compulsória seja concedida. Essa modalidade é chamada por alguns doutrinadores de licença de dependência. Art. 71. Nos casos de emergência nacional ou interesse público, declarados em ato do Poder Executivo Federal, desde que o titular da patente ou seu licenciado não atenda a essa necessidade, poderá ser concedida, de ofício, licença compulsória, temporária e não exclusiva, para a exploração da patente, sem prejuízo dos direitos do respectivo titular. Parágrafo único. O ato de concessão da licença estabelecerá seu prazo de vigência e a possibilidade de prorrogação. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães Esta é a chamada licença por interesse público, que ocorre diante de situações de emergência ou interesse público. Esta modalidade de licença ganhou notoriedade em um caso no qual se discutia o licenciamento compulsório para uso do medicamento Efavirenz, empregado no tratamento dos portadores do vírus HIV. A “quebra da patente” foi determinada pelo Decreto n. 6.108/2007, que garantiu o licenciamento compulsório para uso público não comercial do medicamento, prevendo inclusive o pagamento de royaltiesao laboratório titular da patente. Por outro lado, a medida sofreu críticas de instituições ligadas à pesquisa, sob o argumento de que afugentaria empresas que investem em pesquisa tecnológica de ponta. O procedimento para concessão de licenciamento compulsório consta nos arts. 73 a 74 da Lei de Propriedade Industrial. Art. 73. O pedido de licença compulsória deverá ser formulado mediante indicação das condições oferecidas ao titular da patente. § 1º Apresentado o pedido de licença, o titular será intimado para manifestar-se no prazo de 60 (sessenta) dias, findo o qual, sem manifestação do titular, será considerada aceita a proposta nas condições oferecidas. § 2º O requerente de licença que invocar abuso de direitos patentários ou abuso de poder econômico deverá juntar documentação que o comprove. § 3º No caso de a licença compulsória ser requerida com fundamento na falta de exploração, caberá ao titular da patente comprovar a exploração. § 4º Havendo contestação, o INPI poderá realizar as necessárias diligências, bem como designar comissão, que poderá incluir especialistas não integrantes dos quadros da autarquia, visando arbitrar a remuneração que será paga ao titular. § 5º Os órgãos e entidades da administração pública direta ou indireta, federal, estadual e municipal, prestarão ao INPI as informações solicitadas com o objetivo de subsidiar o arbitramento da remuneração. § 6º No arbitramento da remuneração, serão consideradas as circunstâncias de cada caso, levando-se em conta, obrigatoriamente, o valor econômico da licença concedida. § 7º Instruído o processo, o INPI decidirá sobre a concessão e condições da licença compulsória no prazo de 60 (sessenta) dias. § 8º O recurso da decisão que conceder a licença compulsória não terá efeito suspensivo. Art. 74. Salvo razões legítimas, o licenciado deverá iniciar a exploração do objeto da patente no prazo de 1 (um) ano da concessão da licença, admitida a interrupção por igual prazo. § 1º O titular poderá requerer a cassação da licença quando não cumprido o disposto neste artigo. § 2º O licenciado ficará investido de todos os poderes para agir em defesa da patente. § 3º Após a concessão da licença compulsória, somente será admitida a sua cessão quando realizada conjuntamente com a cessão, alienação ou arrendamento da parte do empreendimento que a explore. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães 6.11. Patente de interesse da defesa nacional Art. 75. O pedido de patente originário do Brasil cujo objeto interesse à defesa nacional será processado em caráter sigiloso e não estará sujeito às publicações previstas nesta Lei. § 1º O INPI encaminhará o pedido, de imediato, ao órgão competente do Poder Executivo para, no prazo de 60 (sessenta) dias, manifestar-se sobre o caráter sigiloso. Decorrido o prazo sem a manifestação do órgão competente, o pedido será processado normalmente. § 2º É vedado o depósito no exterior de pedido de patente cujo objeto tenha sido considerado de interesse da defesa nacional, bem como qualquer divulgação do mesmo, salvo expressa autorização do órgão competente. § 3º A exploração e a cessão do pedido ou da patente de interesse da defesa nacional estão condicionadas à prévia autorização do órgão competente, assegurada indenização sempre que houver restrição dos direitos do depositante ou do titular. A Lei de Propriedade Industrial não dá maiores explicações acerca do que seria a patente de interesse da defesa nacional, mas podemos imaginar que se trata de um invento ou modelo de utilidade considerado importante para as Forças Armadas, guarda de fronteiras ou outras atividades que envolvam a segurança nacional. 6.12. Retribuição anual Art. 84. O depositante do pedido e o titular da patente estão sujeitos ao pagamento de retribuição anual, a partir do início do terceiro ano da data do depósito. § 1º O pagamento antecipado da retribuição anual será regulado pelo INPI. § 2º O pagamento deverá ser efetuado dentro dos primeiros 3 (três) meses de cada período anual, podendo, ainda, ser feito, independente de notificação, dentro dos 6 (seis) meses subsequentes, mediante pagamento de retribuição adicional. Art. 85. O disposto no artigo anterior aplica-se aos pedidos internacionais depositados em virtude de tratado em vigor no Brasil, devendo o pagamento das retribuições anuais vencidas antes da data da entrada no processamento nacional ser efetuado no prazo de 3 (três) meses dessa data. Art. 86. A falta de pagamento da retribuição anual, nos termos dos arts. 84 e 85, acarretará o arquivamento do pedido ou a extinção da patente. O art. 84 prevê a obrigação do titular da patente ou depositante do pedido de pagar um valor a título de retribuição anual, a partir do terceiro ano contado do depósito. Trata-se de uma espécie de taxa cobrada pelo INPI para custear suas atividades. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães 6.13. Extinção da patente Art. 78. A patente extingue-se: I - pela expiração do prazo de vigência; II - pela renúncia de seu titular, ressalvado o direito de terceiros; III - pela caducidade; IV - pela falta de pagamento da retribuição anual, nos prazos previstos no § 2º do art. 84 e no art. 87; e V - pela inobservância do disposto no art. 217. Parágrafo único. Extinta a patente, o seu objeto cai em domínio público. Quanto à extinção pela expiração do prazo de vigência, você já sabe que a vigência da patente é improrrogável. Quanto à renúncia, a própria Lei de Propriedade Industrial determina que ela só será admitida se não prejudicar direito de terceiros (art. 79). Quanto à caducidade, esta atingirá a patente, de ofício ou a requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse, se, decorridos 2 anos da concessão da primeira licença compulsória, esse prazo não tiver sido suficiente para prevenir ou sanar o abuso ou desuso, salvo motivos justificáveis (art. 80). Trata-se de mais uma hipótese de instauração de processo administrativo junto ao INPI, com previsão de ampla defesa e contraditório para o titular da patente. Quando estivermos diante da extinção da patente por falta de pagamento da retribuição anual, é interessante notar que o STJ entende que deve haver a notificação do titular, para que ele possa, ou não, exercer o direito de restauração previsto no art. 87. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. PATENTES. FALTA DE PAGAMENTO DE RETRIBUIÇÃO ANUAL. OBRIGATORIEDADE DE NOTIFICAÇÃO DO ARQUIVAMENTO DO PEDIDO OU DA EXTINÇÃO DA PATENTE. RESTAURAÇÃO GARANTIDA PELO ART. 87 DA LEI N. 9.279/96 ATÉ TRÊS MESES CONTADOS DA NOTIFICAÇÃO. Discute-se acerca da necessidade de notificação prévia da extinção da patente pela falta de pagamento de duas retribuições anuais. Inicialmente, cabe pontuar que esse pagamento configura requisito imprescindível para que o titular de uma patente goze do monopólio, garantido pelo Estado, de exploração comercial do objeto patenteado durante o seu prazo de vigência. De acordo com o art. 84 da Lei de Propriedade Industrial (Lei n. 9.279/96), a retribuição anual é devida a partir do início do terceiro ano do depósito e deve ser paga nos três primeiros meses de cada período anual. Nesse contexto, a falta do pagamento da retribuição acarreta, como regra, o arquivamento do pedido de patente, ou, caso já concedida, a sua extinção. Porém, a regra do art. 87 do referido diploma legal prevê, como forma de preservar o direito do titular da patente, o instituto da restauração. Estabelece o dispositivo aludido que, notificado do arquivamento do pedido ou da extinção da patente em razão do não pagamento da retribuição anual, o depositante ou o titular pode, no prazo de três meses contados dessa notificação, restaurar o pedido ou apatente, por meio do pagamento de retribuição específica. Infere-se desse dispositivo legal que, na hipótese de inadimplemento da retribuição anual, a notificação do arquivamento do pedido ou da http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães extinção da patente é obrigatória, porquanto necessária para o exercício do direito à restauração. REsp 1.669.131-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 27.06.2017, DJe 01.08.2017. 6.14. Adição de invenção Art. 76. O depositante do pedido ou titular de patente de invenção poderá requerer, mediante pagamento de retribuição específica, certificado de adição para proteger aperfeiçoamento ou desenvolvimento introduzido no objeto da invenção, mesmo que destituído de atividade inventiva, desde que a matéria se inclua no mesmo conceito inventivo. § 1º Quando tiver ocorrido a publicação do pedido principal, o pedido de certificado de adição será imediatamente publicado. § 2º O exame do pedido de certificado de adição obedecerá ao disposto nos arts. 30 a 37, ressalvado o disposto no parágrafo anterior. § 3º O pedido de certificado de adição será indeferido se o seu objeto não apresentar o mesmo conceito inventivo. § 4º O depositante poderá, no prazo do recurso, requerer a transformação do pedido de certificado de adição em pedido de patente, beneficiando-se da data de depósito do pedido de certificado, mediante pagamento das retribuições cabíveis. Art. 77. O certificado de adição é acessório da patente, tem a data final de vigência desta e acompanha-a para todos os efeitos legais. Parágrafo único. No processo de nulidade, o titular poderá requerer que a matéria contida no certificado de adição seja analisada para se verificar a possibilidade de sua subsistência, sem prejuízo do prazo de vigência da patente. A adição de invenção serve para proteger o conceito inventivo do inventor, ou seja, sua criação em si. Diante de um aperfeiçoamento ou desenvolvimento introduzido no invento, este poderá ser protegido por meio do procedimento de adição. 6.15. Patentes pipeline Art. 230. Poderá ser depositado pedido de patente relativo às substâncias, matérias ou produtos obtidos por meios ou processos químicos e as substâncias, matérias, misturas ou produtos alimentícios, químico-farmacêuticos e medicamentos de qualquer espécie, bem como os respectivos processos de obtenção ou modificação, por quem tenha proteção garantida em tratado ou convenção em vigor no Brasil, ficando assegurada a data do primeiro depósito no exterior, desde que seu objeto não tenha sido colocado em qualquer mercado, por iniciativa direta do titular ou por terceiro com seu consentimento, nem tenham sido realizados, por terceiros, no País, sérios e efetivos preparativos para a exploração do objeto do pedido ou da patente. [...] http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães Art. 231. Poderá ser depositado pedido de patente relativo às matérias de que trata o artigo anterior, por nacional ou pessoa domiciliada no País, ficando assegurada a data de divulgação do invento, desde que seu objeto não tenha sido colocado em qualquer mercado, por iniciativa direta do titular ou por terceiro com seu consentimento, nem tenham sido realizados, por terceiros, no País, sérios e efetivos preparativos para a exploração do objeto do pedido. No regime de propriedade industrial anterior não era permitida a patente de produtos farmacêuticos ou alimentícios, mas a atual Lei de Propriedade Industrial os permite. Diante dessa situação, após a entrada em vigor da nova lei, os inventores que haviam requerido essas patentes no exterior poderiam requerer as chamadas patentes pipeline. Os arts. 230 e 231 preveem essa possibilidade, mas há muita controvérsia, incluindo aí o ajuizamento de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade ainda não julgada pelo STF. Na prática, muitos titulares de patentes pipeline (em sua maioria laboratórios) tentam estender o prazo de vigência da patente brasileira quando tais prazos, no país de origem, são mais longos ou são prorrogados por algum motivo. O entendimento do STJ, porém, é no sentido de que as patentes pipelines revalidadas no Brasil vigoram pelo prazo remanescente no país de origem, mas limitado ao prazo máximo previsto em nossa legislação, que atualmente é de 20 anos para patentes de invenção e de 15 anos para patentes de modelo de utilidade. 7 – Desenho Industrial Enquanto a proteção do invento e do modelo de utilidade se dá mediante concessão de patente, a proteção do desenho industrial se dá mediante registro, da mesma forma que ocorre com as marcas. 7.1. Conceito de desenho industrial Art. 95. Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial. O primeiro ponto aqui é saber diferenciar o desenho industrial da obra de arte, e já quero deixar claro que isso é importante porque essas obras estão, como você já sabe, protegidas por diferentes regimes jurídicos. A grande diferença está na chamada função utilitária do desenho industrial, que nada mais é do que a sua aplicação mercadológica. A obra de arte, por outro lado, é uma figura meramente estética ou decorativa. http://www.iceni.com/infix.htm DIREITO EMPRESARIAL – PC-MA (DELEGADO DE POLÍCIA) Teoria e Questões Aula 08 – Prof. Paulo Guimarães É importante ainda salientar que, diferentemente do modelo de utilidade, o desenho industrial não guarda nenhuma relação com a funcionalidade do produto, já que é uma criação estética. 7.2. Requisitos de registrabilidade Os requisitos necessários para o registro do desenho industrial são: a)!novidade; b)!originalidade; c)! aplicação industrial; e d)! licitude (ou desimpedimento). A novidade é o requisito atendido quando o desenho industrial não está compreendido no estado da técnica. Já tratamos do tema quando estudamos os inventos e os modelos de utilidade, então não precisamos mais nos aprofundar e explicar o que isso significa, não é mesmo!? O requisito da originalidade, por sua vez, será cumprido quando do desenho industrial resultar uma “configuração visual distintiva, em relação a outros objetos anteriores” (art. 97). É importante salientar ainda que esse resultado original poderá ser decorrente da combinação de elementos conhecidos. Em palavras mais simples, o desenho industrial precisa ser significativamente diferente dos outros existentes no mercado. A aplicação industrial é justamente o que diferencia o desenho industrial das obras de arte. O desenho industrial é aplicável a um produto, e, apesar de também ter caráter estético, tem finalidades que vão além do puro deleite. Quanto à licitude, a própria Lei de Propriedade Industrial estabelece em seu art. 100 hipóteses de desenho industrial não registráveis. Art. 100. Não é registrável como desenho industrial: I - o que for contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas, ou atente contra liberdade de consciência, crença, culto religioso ou ideia e sentimentos dignos de respeito e veneração; II - a forma necessária comum ou vulgar do objeto ou, ainda, aquela determinada essencialmente por considerações técnicas ou funcionais. 7.3. Procedimento de registro O procedimento é muito parecido com o que estudamos quando falamos das patentes, mas com algumas pequenas adaptações. Como você já sabe, considera-se o requerente legitimado para obter o registro. Este poderá ser requerido em nome próprio, pelos herdeiros ou sucessores do autor, pelo cessionário ou por aquele a quem a lei
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