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Direito dos Seguros CESSAÇÃO DO CONTRATO. PRÁTICAS COMERCIAIS 2013 Francisco Luís F. Ribeiro Alves Mestre em Direito Doutorando em Direito dos Seguros Diretor de Departamento no Instituto de Seguros de Portugal DIREITO DOS SEGUROS cessação do contrato. práticas comerciais AUTOR Francisco Luís F. Ribeiro Alves EDITOR EDIÇÕES ALMEDINA, S.A. Rua Fernandes Tomás, nºs 76-80 3000-167 Coimbra Tel.: 239 851 904 · Fax: 239 851 901 www.almedina.net · editora@almedina.net DESIGN DE CAPA FBA. Junho, 2013 Apesar do cuidado e rigor colocados na elaboração da presente obra, devem os diplomas legais dela constantes ser sempre objeto de confirmação com as publicações oficiais. Toda a reprodução desta obra, por fotocópia ou outro qualquer processo, sem prévia autorização escrita do Editor, é ilícita e passível de procedimento judicial contra o infrator. __________________________________________________ BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL – CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO ALVES, Francisco Luís Direito dos seguros : cessação do contrato, práticas comerciais. – (Monografias) ISBN 978-972-40-5211-3 CDU 347 368 Em memória do meu pai Francisco Ribeiro Alves NOTA PRÉVIA Os estudos que se dão a conhecer na presente publicação foram elaborados no âmbito das investigações que o autor se encontra a realizar no âmbito da preparação da tese de doutoramento a apresentar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (Clássica). Atendendo a que as matérias de direito dos seguros são cada vez mais estudadas, mas ainda não existem muitas publicações, optou-se por divulgar desde de já os estudos elaborados sobre a cessação do contrato de seguro e sobre a incidência do regime jurídico das práticas comerciais desleais nos seguros. Estes temas não foram muito desenvolvidos de forma autónoma no direito comparado. Assim, pretende-se que os mesmos possam contribuir para o aprofundamento e desenvolvimento do direito dos seguros e auxiliar aqueles que no dia-a-dia lidam com questões de cariz prático. Uma palavra ainda de agradecimento ao Professor Doutor Pedro Romano Martinez por aceitar fazer o prefácio e orientar a minha tese, bem como a todos aqueles que contribuíram, de uma forma direta ou indireta, para a publicação da presente obra. Lisboa, 2 de abril de 2013 PREFÁCIO Em Portugal, a investigação na área dos seguros foi diminuta, comparando nomeadamente com o que ocorreu noutros países onde este ramo do Direito não tem, por tradição, um peso significativo. Com efeito, descurando os desenvolvidos estudos de seguros feitos na Grã-Bretanha ou na Alemanha, mesmo em França, Itália ou Espanha, proporcionalmente, a ciência jurídica encontrou nos seguros um ramo de particular relevo. A situação alterou-se com a entrada em vigor do novo regime (aprovado pelo Decreto-Lei nº 72/2008, de 16 Abril de 2008) – que podemos designar de Lei do Contrato de Seguro –, não só por via do debate que este regime suscitou, mas particularmente pela necessidade de discutir as soluções plasmadas no novo regime, mesmo quando estas seguiram a tradição vigente no Código Comercial. Tal como noutras áreas do Direito, o surgimento de um novo regime jurídico desperta a crítica, com inerentes vantagens para a investigação científica. Antes do debate relacionado com a aprovação da Lei do Contrato de Seguro, mesmo nas faculdades de direito, com raras excepções, não se dinamizaram os estudos de seguros e pode dizer-se que a investigação nesta área esteve a cargo do Instituto de Seguros de Portugal e da Associação Portuguesa de Seguradores; no fundo, a investigação era feita, quase em exclusivo, por entidades – públicas e privadas – directamente ligadas ao sector. O estudo que agora se divulga integra-se nesta nova era de expansão científica do Direito dos Seguros, mas com a sua origem tradicional de análise por parte de quem, por via profissional, se encontra ligado ao sector. De facto, o Senhor Dr. Francisco Luís Alves definiu o seu percurso de investigação com o especial apoio do Instituto de Seguros de Portugal; apoio que decorre não só do incentivo que esta instituição tem dado em especial aos seus colaboradores, como igualmente decorrente da sua actividade como jurista do ISP. A esta mais valia – de jurista do ISP com amplo conhecimento de vários sectores – o Dr. Francisco Luís Alves tem investido no estudo dos seguros, com especial incidência na preparação da tese de doutoramento nesta área. Na preparação da tese de doutoramento, além de outros estudos já publicados, surgem agora dois textos com particular interesse teórico e prático. O primeiro estudo, intitulado «A cessação do contrato de seguro», aborda um tema clássico, começando por analisar o regime comum da cessação de vínculos jurídicos e concretizando com a análise do novo regime, constante dos arts. 105º e ss. da Lei do Contrato de Seguro, explicando muitas das soluções consagradas na lei. O segundo estudo, que tem por título «O regime jurídico das práticas comerciais desleais e os seguros», analisa a directriz comunitária transposta pelo Decreto-Lei nº 57/2008, explicando os problemas suscitados por práticas comerciais desleais que surgem no âmbito dos seguros, apontando para as soluções legislativas. Os dois estudos que integram este livro Direito dos Seguros, pelos motivos apontados, justificam a sua divulgação e, naturalmente, o seu estudo para qualquer investigação nesta área dos seguros. Lisboa, Abril de 2013 Pedro Romano Martinez (Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa) ABREVIATURAS MAIS UTILIZADAS CC Código Civil DL 57/2008 Decreto-Lei nº 57/2008, de 26 de março ISP Instituto de Seguros de Portugal LCCG Lei das Cláusulas Contratuais Gerais aprovada pelo Decreto-Lei nº 446/85, de 25 de outubro, com as alterações subsequentes LDC Lei de Defesa do Consumidor aprovada pela Lei nº 24/96, de 31 de julho Ob. Cit. Obra citada RJCS Regime Jurídico do Contrato de Seguro aprovado pelo Decreto-Lei nº 72/2008, de 16 de abril RGAS ou DL 94-B/98 Decreto-Lei nº 94-B/98, de 17 de abril (republicado pelo Decreto-Lei nº 2/2009, de 5 de janeiro e alterado pela Lei nº 28/2009, de 19 de junho; Decreto-Lei nº 52/2010, de 26 de maio e pela Lei nº 46/2011, de 24 de junho) STJ Supremo Tribunal de Justiça A cessação do contrato de seguro Parte I 1. Formas de cessação dos contratos em geral – Breve referência 1.1. Enunciação geral A vinculação das partes aos contratos através da liberdade que dispõem não é eterna e conhece várias vicissitudes que levam à modificação ou extinção das obrigações. CUNHA GONÇALVES, a propósito da liberdade contratual e das convenções entre as partes refere que «não podendo intervir, a cada passo, na infinita variedade das relações jurídicas, a lei empresta a força às convenções, transformando estas em leis secundárias, por serem um factor valiosamente adjuvante da ordem pública, incentivo da prosperidade geral e instrumento de solidariedade social»1. Apesar da liberdade das partes, a cessação dos contratos, devido à sua importância, tem regras e é uma matéria que aparece relacionada com a extinção das obrigações ou dos negócios jurídicos, sendo tratada pela generalidade da doutrina. Colocamos a ênfase no tratamento autónomo2 que é feito por PEDRO ROMANO MARTINEZ e que constitui uma referência imprescindível para o seu estudo. A doutrina faz um tratamento díspare ao nível dos conceitos, mas aborda, na análise do Código Civil de uma forma ou de outra, as quatro figuras típicas para a extinçãodo negócio jurídico que também constam no RJCS: a revogação, a resolução, a denúncia e a caducidade. Enquanto as três primeiras dependem de um ato de alguma das partes ou das duas quando resulte de um acordo, a caducidade decorre de um facto alheio à vontade das partes. Existem ainda outras figuras como a inexistência, a nulidade e a anulabilidade3, bem como a ineficácia, que fazem com que o contrato não produza, por regra, efeitos4. O RJCS faz referência às mesmas, mas como são figuras que colocam em causa a própria validade do negócio jurídico, fazendo com que não se cesse aquilo que juridicamente não se iniciou, faremos apenas menções breves para contextualização5. Não trataremos o regime do cumprimento que a doutrina identifica como sendo a causa natural de cessação por via da extinção das prestações das partes que se encontram realizadas6. Assim, interessa-nos em particular as quatro figuras identificadas no RJCS que podem levar a colocar um fim ao contrato antes do seu tempo previsível de duração7.ANTUNES VARELA engloba na extinção das obrigações, com base nos artigos 837º e seguintes do CC, para além do próprio cumprimento da obrigação, a dação em cumprimento, a consignação em depósito, a compensação, a novação, a remissão e a confusão8. A resolução, revogação e denúncia do contrato considera-as enquanto extinção de relações obrigacionais complexas9. Como o cumprimento da obrigação não levanta problemas a debater, quando o contrato tenha cumprido o seu fim, não se justifica a sua análise e quando tenha ocorrido alguma incidência relacionada com o contrato como falta de pagamentos de prémios ou sinistros o RJCS menciona-os e repercutem-se nas formas gerais de cessação, pelo que serão alvo de estudo. Quanto às restantes figuras, por serem de reduzida aplicabilidade consideramos não se justificar a sua análise. LUÍS MENEZES LEITÃO, na linha do que é referindo pela generalidade da doutrina, faz uma divisão, em termos genéricos, referindo que «quando as obrigações resultam da autonomia privada, a sua extinção verifica-se sempre que o negócio que lhes serve de fonte vem a ser posteriormente destruído, ou por um negócio jurídico posterior (a revogação, resolução e a denúncia) ou através de um facto jurídico stricto sensu (a caducidade) ou ainda por um efeito conjugado dos dois (a oposição à renovação)»10. Teremos oportunidade de verificar que estas figuras jurídicas têm contornos próprios no RJCS e nem sempre a mesma designação mas para as destrinçar faremos uma breve referência aos seus aspetos gerais decorrentes do Código Civil para posteriormente, com maior detalhe, analisar o que resulta do RJCS. 1.2. Revogação 1.2.1. Tendo por base o artigo 406º, nº 1, do Código Civil, retiramos a definição de revogação ou distrate11 como sendo a extinção total ou parcial do negócio jurídico através do uso pelas partes da liberdade contratual que lhes permitiu criar a relação jurídica. Esta pode ser unilateral ou bilateral dependendo das partes que levaram à vinculação. Caracterizando a revogação, atendendo à autonomia privada, o seu exercício é livre e os efeitos em termos temporais, apesar de por regra se referir que se projetam «apenas para o futuro»12, estão na disponibilidade das partes13, já que por acordo as partes são livres de ajustar o que pretenderem desde que não afetem direitos de terceiros. Como bem refere LUÍS MENEZES LEITÃO «a revogação retroactiva deixa, no entanto, de ser possível sempre que se tenha criado uma situação em benefício de terceiro»14. Em termos teóricos nas relações derivadas de contratos de seguro apenas será possível a revogação com efeito retroativo quando não haja um terceiro lesado num sinistro ou um beneficiário que já tenha adquirido determinados direitos. 1.2.2. No entanto existem limitações próprias da natureza dos seguros que levantam outras complicações, a saber: a) se o objeto do seguro é a cobertura de um risco, como é a regra15, o período decorrido do contrato corresponde a um cumprimento do mesmo em que houve cobertura de risco, pelo que não se justifica que o segurador revogue um contrato com efeitos retroativos, sob pena de estar a proceder a uma liberalidade; b)caso estejamos perante um seguro obrigatório, sendo fiscalizado pelas autoridades, retroagir os efeitos da revogação com devolução do prémio poderá potenciar situações de fraude, o que poderá contrariar a ordem pública ou ser ofensivo aos bons costumes (artigos 280º, nº 2, e 281º do Código Civil)16; c) quando o beneficiário tenha uma designação irrevogável será necessário o assentimento do mesmo para a revogação. 1.2.3. Quanto à forma exigida para a revogação, como bem refere ROMANO MARTINEZ «pode resultar de declarações de vontade que possam ser interpretadas no sentido de o vínculo ser distratado»17. Atendendo à segurança jurídica será sempre conveniente para as partes que o façam por escrito ou que pelo menos exista posteriormente um documento que materialize essas vontades. O RJCS prevê para a formalização do contrato no seu artigo 32º, nº 1, que «a validade do seguro não depende da observância de forma especial», mas de acordo com o nº 2 «o segurador é obrigado a formalizar o contrato num instrumento escrito…». Revogar o contrato verbalmente poderá trazer incerteza às partes caso uma delas se arrependa e a interpretação de declarações de vontades das partes deve- se basear em elementos dos quais fique registo se já tiver existido algum ato de formalização. Assim, se uma apólice ainda não tiver sido emitida e as partes apenas tinham contratado verbalmente, sem existir qualquer suporte duradouro com as declarações de vontade, será suficiente o distrate verbal18. 1.2.4. Uma última nota para a possibilidade de revogações unilaterais de negócios bilaterais, matéria abordada por ROMANO MARTINEZ19 e que tem todo o interesse atendendo à análise que faremos do artigo 118º do RJCS quanto à «livre resolução». Refere o autor que a revogação unilateral é possível «quando, com base legal ou convencional, se admita uma desvinculação sem acordo», que é o que acontece nas situações previstas no artigo 118º e em outros preceitos dispersos que permitem a desvinculação unilateral com base normalmente em incumprimentos do segurador, mas tratados como resolução20. Precisamente por isso refere o mesmo autor que pode questionar-se se esta forma de revogação não deveria identificar-se «com outras formas de cessação do vínculo, em particular a denúncia e a resolução»21, concluindo optar pela resolução. Atendendo à opção tomada no RJCS somos forçados a concordar, pelo que na revogação unilateral de negócio bilateral estaremos na verdade ao nível segurador, como o artigo 118º e outros o demonstram, perante a figura da resolução22. 1.3. Resolução 1.3.1. Os artigos 432º e seguintes do Código Civil estabelecem o regime para a resolução do contrato23, desencadeando-se a sua efetivação através de declaração unilateral enviada à outra parte24. ANTUNES VARELA refere que «a resolução é a destruição total da relação contratual, operada por um dos contraentes, com base num facto posterior à celebração do contrato»25. No entanto, em termos de RJCS, em particular do artigo 118º quanto à livre resolução, não é necessário que exista um fundamento enquanto facto jurídico novo. Pode simplesmente corresponder a uma reflexão mais ponderada quantoà necessidade de contratação que leve a um arrependimento26. Como assinala a doutrina, por exemplo LUÍS MENEZES LEITÃO, «a resolução caracteriza-se ainda por ser normalmente de exercício vinculado (e não discricionário)»27, apoiando-se no artigo 432º, nº 1, do Código Civil, o qual refere que a resolução se funda na lei ou em convenção28. Assim, em termos civilistas é sempre necessário um fundamento, sendo que o mais corrente e pacífico é o incumprimento de uma das partes com base no artigo 801º, nº 2, do CC29. Podem ainda as partes ajustar livremente cláusulas que permitam a resolução do contrato tanto tendo por base incumprimentos das partes como condições que permitam a uma das partes desvincular-se por ser contrato associado a outros nos quais deixou de ter interesse3031. ROMANO MARTINEZ refere também com base no artigo 432º do CC que há duas modalidades de resolução: a legal e a convencional32. Dentro da primeira distingue a resolução fundamentada, enquanto regra geral, da resolução imotivada, por exceção, onde entendemos de acordo com a explicação dada33 que se integra o direito ao arrependimento configurado no RJCS como livre resolução. Autonomiza ainda a resolução baseada em alteração das circunstâncias34. 1.3.2. Relativamente a condicionantes35 da resolução e devolução das quantias recebidas entre as partes36, o que em termos seguradores significará o valor dos prémios ou quantias relativas ao pagamento de sinistros, há que analisar os artigos 432º, nº 2; 433º; 434º e 435º, em confronto com as particularidades do RJCS. Este primeiro preceito limita a possibilidade de uma das partes resolver o contrato ao facto de restituir o que tenha recebido. Isto percebe-se devido ao facto de, sem prejuízo dos efeitos da nulidade e anulabilidade37 consequentes da previsão do artigo 433º, por regra, a resolução tem efeito retroativo (artigo 434º, nº 1, 1ª parte, do CC), embora haja casos em que não tem esse efeito38. No entanto, o contrato de seguro, por regra, pode ser encarado como um contrato de execução continuada ou periódica39 enquanto contrato pelo qual o segurador cobre um risco durante um determinado tempo40. Para esses casos refere o artigo 434º, nº 2, que a resolução não abrange as prestações já efetuadas, exceto se entre estas e a causa da resolução existir um vínculo que legitime a resolução de todas elas. Tal pode ser o caso da não regularização de um sinistro pelo segurador, coberto pelo contrato, que faça considerar que ainda que o sinistro tivesse ocorrido antes também não haveria pagamento de indemnização. Referindo o artigo 116º do RJCS que «o contrato de seguro pode ser resolvido por qualquer das partes a todo o tempo, havendo justa causa, nos termos gerais» e não fazendo qualquer previsão especial quanto aos efeitos dessa resolução, tal como o faz para a livre resolução prevista no artigo 118º, então deveremos atender às presentes regras gerais do CC e ao conteúdo das regras contidas no RJCS que possam ter aplicação, nomeadamente os artigos 106º a 108º aos quais daremos um tratamento detalhado mais adiante. 1.3.3. Em resumo, e sobre esta matéria há que fazer a destrinça entre o regime geral (Código Civil) e o regime especial (RJCS), a saber: a) o CC exige fundamento para a resolução mas o RJCS pelo seu artigo 118º permite a livre resolução; b) o CC, por regra, condiciona o exercício da resolução à restituição do que uma parte tiver recebido da outra (artigo 432º, nº 2), mas em contratos de execução continuada ou periódica, como é o caso dos seguros, a resolução não abrange as prestações já efetuadas, embora haja particularidades que obrigam a uma análise casuística (artigo 434º); c) tanto no CC como no RJCS são acautelados os direitos adquiridos por terceiros de boa fé, por via do artigo 435º e 108º, respetivamente; d)é comum a forma de tornar efetiva a resolução, ou seja, através de mera declaração enviada à outra parte (artigo 436º do CC41) não tendo o RJCS disposição específica para a resolução com justa causa, embora para a resolução após sucessão de sinistros e na livre resolução (artigos 117º, nº 4, e 118º, nº 5, respetivamente) refira que deve ser exercida por declaração escrita e o artigo 120º refira enquanto regra geral que todas as comunicações devem revestir forma escrita ou serem prestadas por meio de que fique registo duradouro. 1.3.4. Uma última nota para a possibilidade apontada pela doutrina, por exemplo por VAZ SERRA e ANTUNES VARELA, de resolução por alteração das circunstâncias42, tomando por base o artigo 437º do Código Civil, as quais podem derivar até de alterações legislativas que tornem a relação contratual desequilibrada43 e em que poder-se-ia admitir uma resolução meramente parcial quando tendo um contrato de seguro várias coberturas cessassem apenas algumas delas ou em que o prémio de seguro fosse alterado. Com interesse para o setor segurador, por poder estar sujeito ao mesmo tipo de problemas, é de salientar que a jurisprudência já admite que a crise financeira justifique a alteração do contrato com fundamento em alteração das circunstâncias. A este propósito um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 14-06-2012, refere no seu sumário que: «I. É possível a modificação do contrato por alteração das circunstancias sempre que se verificar uma alteração anormal das circunstancias em que as partes fundaram a decisão de contratar, a manutenção do conteúdo contratual afecte gravemente os princípios da boa fé e não esteja abrangida pela álea própria do contrato e o cumprimento das obrigações impostas ao lesado não esteja coberto pelos riscos próprios do contrato. II. A grave, inesperada e incontornável crise económica que se vem verificando desde 2008 alterou as circunstâncias em que as partes convencionaram o contrato de abertura de crédito, em termos que ferem a boa fé, não sendo normal o correspondente risco. Em tal caso justifica-se a modificação do contrato segundo juízos de equidade, nos termos do artº 437/1, Código Civil» 44 . 1.4. Denúncia 1.4.1. A denúncia caracteriza-se por ser uma decisão unilateral comunicada à outra parte, sendo de exercício livre pelas partes, ou seja, não precisa de fundamento45. Por regra, o seu campo de aplicação é limitado aos contratos de execução continuada ou duradoura como forma de possibilitar o fim do contrato quando as partes não o tenham estipulado contratualmente. Deste modo a denúncia não afeta os efeitos do contrato retroativamente46 e destina-se, sob comunicação prévia e normalmente com uma determinada antecedência, a dar previsibilidade para o futuro salvaguardando o passado47. Aplicando-se o referido aos seguros há que notar que estes por regra têm um prazo estabelecido e caso não tenham entende-se que é de um ano sucessivamente prorrogado, pelo que passam a existir sucessivamente outros prazos fixados para o fim do contrato. Por essa razão, os contratos renováveis não terminam por caducidade e é necessário que uma das partes proceda à denúncia para evitar a prorrogação do contrato48. PINTO MONTEIRO sobre a necessidade de os contratos terem um fim refere que «o art. 406º do Código Civil não prejudica o direito de livre denúncia de contratos não regulados por lei, porque aquela norma não pode isolar-se das demais, do art. 280º, desde logo, sendo contrário à ordem pública um contrato que estabelecesse vínculos perpétuos, pelaintolerável restrição à liberdade dos sujeitos que isso acarretaria»49. 1.4.2. A doutrina divide-se ainda na caracterização da denúncia quando esteja em causa a oposição à renovação. LUÍS MENEZES LEITÃO50 e MENEZES CORDEIRO51 entendem que será uma figura hibrida que conjuga a caducidade e a denúncia enquanto ALMEIDA COSTA52 e PEDRO ROMANO MARTINEZ53 entendem que se deve enquadrar numa noção ampla de denúncia. Por nós, ainda que ambas as posições sejam defensáveis, parece-nos que será mais coerente integrar a oposição à renovação na denúncia, já que a caducidade como veremos não pressupõe qualquer ato das partes. Um contrato sucessivamente prorrogável torna-se num contrato que pode perdurar indefinidamente, pelo que para evitar esse efeito terá que existir denúncia. Destes casos decorre simplesmente que a denúncia já tem a sua data de efeito previamente fixada e deverá, por regra, ser efetuada dentro de determinados prazos, mas ainda assim trata-se de uma denúncia que é exercida de forma livre54. 1.5. Caducidade A caducidade de um contrato consiste na verificação de um facto que determina a extinção de um vínculo sem necessidade de qualquer ato das partes para o seu exercício em específico. Podemos apontar, em termos genéricos, diversas situações55 que materializam a caducidade, a saber: a) a simples decorrência do tempo56; b)a verificação de condição resolutiva5758; c) a morte ou extinção de uma das partes; d)a extinção do objeto do contrato59. O regime da caducidade está previsto no CC nos artigos 328º a 333º estabelecendo o mesmo que a caducidade pode decorrer da lei ou ser convencional. Caso seja convencional há que ter atenção quanto às matérias em que a mesma é estabelecida devido às limitações impostas pelos artigos 12º e 13º do RJCS quanto às disposições imperativas. MENEZES CORDEIRO60 a propósito desta matéria faz menção à caducidade em dois planos, em sentido lato e em sentido estrito, no seguinte sentido: a) em sentido lato, corresponde a um esquema geral de cessação de situações jurídicas resultantes de um facto que a lei ou outras fontes atribuam esse efeito; b)em sentido estrito, está relacionado com o tempo. Assim, as várias situações inicialmente referidas também se integram nestas duas visões da caducidade. De um lado temos factos que produzem efeitos, como a extinção do objeto seguro, e do outro lado a decorrência do tempo. - 1 Cfr. CUNHA GONÇALVES, Tratado de Direito Civil em comentário ao Código Civil Português, Vol. IV, Coimbra Editora, Coimbra, 1932, págs. 483 e 484. 2 V. Da cessação do contrato, 2ª edição, Almedina Coimbra, 2006. 3 V. a este propósito ROMANO MARTINEZ, Da cessação…, Ob. Cit., pág. 25, em que a propósito da invalidade refere que «em sentido técnico, a extinção dos efeitos de um contrato pressupõe a sua validade, pelo que a declaração de invalidade não se inclui entre os meios de cessação do contrato. Tal como a invalidade, a inexistência e a ineficácia, pondo em causa o próprio negócio jurídico ab initio, não conduzem à cessação do vínculo. Em suma, a cessação do contrato relaciona-se com situações supervenientes surgidas após a celebração de um negócio jurídico válido e eficaz». 4 Por exemplo, a comercialização de um seguro por entidade não autorizada embora tenha como consequência a nulidade ainda assim produz efeitos, devendo essa entidade cobrir os riscos para os quais recebeu prémio (artigo 16º, nº 2, do RJCS). 5 V. sobre este assunto ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 12ª Edição, Almedina, Coimbra, 2009, pág. 318 e com maior detalhe INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Manual dos Contratos em Geral, 4ª edição, Coimbra Editora, 2002, págs. 355 a 380. 6 V., por todos, PEDRO ROMANO MARTINEZ, Da cessação do contrato, 2ª edição, Almedina Coimbra, 2006, pág. 21. 7 Ainda que a caducidade, como veremos, tenha contornos um pouco diferentes. 8 Cfr. JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações em geral, Vol. II, 5ª edição, Almedina, Coimbra, 1992, págs. 167 a 270. Sobre estas figuras jurídicas e a sua aplicação aos seguros V. JOSÉ VASQUES, Contrato de Seguro, Coimbra Editora, 1999, págs. 375 a 377. Sobre a novação, remissão e confusão V. igualmente PESSOA JORGE, Lições de Direito das Obrigações, 1º Volume, AAFDL, Lisboa, 1976, págs. 681 a 690. 9 Cfr. Ob. Cit., págs. 271 a 281. Refere o autor na primeira das páginas indicadas que as relações obrigacionais complexas ou múltiplas são compostas «de dois ou mais deveres principais de prestação e dos correlativos direitos de crédito e de toda a corte de deveres secundários de prestação e de deveres acessórios de conduta, que amiudadas vezes seguem aqueles». 10 Cfr. LUÍS MENEZES LEITÃO, Direito das Obrigações, volume II, 7ª edição, Almedina, Coimbra, 2010, pág. 103. A figura da «oposição à renovação» será tratada com maior detalhe a propósito da denúncia. 11 Como refere DIAS MARQUES, a revogação plurilateral é «conhecida por distrate. Dos autores de um contrato que posteriormente o revogam diz-se que o distratam». Cfr. DIAS MARQUES, Introdução ao Estudo do Direito, I Parte, AAFDL, Lisboa, 1967, pág. 102. 12 V. JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações em geral, Vol. II, 5ª edição, Almedina, Coimbra, 1992, pág. 277. CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, ANTÓNIO PINTO MONTEIRO e PAULO MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Edição, 2ª reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, 2012, pág. 629, referem as duas possibilidades (a retroativa e para o futuro). 13 Sobre a revogação retroativa V. DIAS MARQUES, Introdução ao Estudo do Direito, I Parte, AAFDL, Lisboa, 1967, pág. 103. 14 Cfr. Ob. Cit., pág. 104. 15 Existem seguros do ramo vida com caráter financeiro onde a componente risco não tem os mesmos contornos que estamos a abordar. 16 Sobre o que se entende por ordem pública e bons costumes V., por todos, ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Da boa fé no direito civil, Almedina, Coimbra, 2007, págs. 1197 a 1224. 17 Cfr. do autor, Da cessação…, Ob. Cit., pá. 52. 18 Refere PAIS DE VASCONCELOS que «a forma da revogação é também, em regra, a mesma do acto revogado». Cfr. do autor, Teoria Geral do Direito Civil, 6ª edição, Almedina, Coimbra, 2010, pág. 772. 19 Cfr. Da cessação…, Ob. Cit., págs. 52 a 57. 20 V., por exemplo, artigo 34º, nº 6, do RJCS. 21 Cfr. Da cessação…, Ob. Cit., pág. 52. Acrescenta o autor na pág. 53 da sua obra que «a revogação unilateral pode ter por fundamento a necessidade de um dos contraentes ponderar os termos do acordo ajustado. A possibilidade de uma das partes revogar o contrato num período breve após a sua celebração, porque se arrepende, é conferida para protecção de quem se considera mais fraco numa relação contratual, nomeadamente o consumidor». Esta é precisamente a previsão do artigo 118º do RJCS que possibilita um período de reflexão ao tomador do seguro. 22 Nestas situações de desvinculação unilateral estamos perante o direito de arrependimento típico na proteção do consumidor. V. artigo 8º, nº 4, da Lei nº 24/96, de 31 de julho (Lei de Defesa do Consumidor). 23 PAIS DE VASCONCELOS, em Teoria Geral do Direito Civil, Ob. Cit., pág. 772, define resolução referindo que «é uma declaração unilateral recipienda ou receptícia pela qual uma das partes, dirigindo-se à outra, põe termo ao negócio retroactivamente, destruindo assim a relação contratual». Sobre os conceitos de rescisão e resolução, que se equiparam, V. também ANA PRATA, Dicionário Jurídico, I Vol., 5ª Edição, Almedina, Coimbra, 2008, págs. 1292, 1293 (para a rescisão), 1198 e 1299 (para a resolução). Sobre a resoluçãoV. também VAZ SERRA, Resolução do contrato, BMJ, nº 68, Lisboa, 1957, págs. 153 a 289 e JOSÉ CARLOS BRANDÃO PROENÇA, A resolução do contrato no direito civil, reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, 2006. 24 Cfr. artigo 436º do Código Civil. 25 Cfr. JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações …, Ob. Cit., pág. 273. 26 JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES define o direito de arrependimento ou desistência como «a faculdade que a lei atribui a uma das partes de um contrato mercantil já celebrado de, durante um determinado prazo e através de mera declaração unilateral e discricionária, se desvincular desse mesmo contrato». Cfr. do autor, Direito dos Contratos Comerciais, Almedina, Coimbra, 2009, pág. 325. Sobre o arrependimento V. também o estudo bastante detalhado e interessante de JOSÉ CARLOS BRANDÃO PROENÇA, A desvinculação não motivada nos contratos de consumo, in Revista da Ordem dos Advogados, Ano 70, Lisboa, Jan. / Dez. 2010, págs. 219 a 270 e ROMANO MARTINEZ, Da cessação do contrato, 2ª edição, Almedina Coimbra, 2006, págs. 160 a 167, onde faz menção aos seguros na pág. 165. 27 Cfr. do autor, Ob. Cit., pág. 105. 28 Como assinala Dias Marques quando distingue revogação de rescisão (entendida como resolução), «o critério que serve para as diferenciar liga-se à liberdade de que, eventualmente dispõe o respectivo autor ou autores. Se o acto é tal que os seus efeitos podem ser eliminados sem dependência da invocação de quaisquer motivos, fala-se de revogação; se, pelo contrário, essa eliminação se encontra dependente da prévia ocorrência de um certo condicionalismo justificativo, fala-se de rescisão. O acto revogatório é, pois, um acto livre, ao passo que o acto rescisório é vinculado». Cfr. DIAS MARQUES, Introdução ao Estudo do Direito, Vol. I, Lisboa, 1963, pág. 369. 29 Refere este último preceito que «tendo a obrigação por fonte um contrato bilateral, o credor, independentemente do direito à indemnização, pode resolver o contrato e, se já tiver realizado a sua prestação, exigir a restituição dela por inteiro». 30 Cfr. artigo 270º do Código Civil, o qual refere que «as partes podem subordinar a um acontecimento futuro e incerto a produção dos efeitos do negócio jurídico ou a sua resolução: no primeiro caso diz-se suspensiva a condição; no segundo, resolutiva». 31 Estas cláusulas podem ou não ter efeito automático, ou seja, não necessitar de uma manifestação de uma das partes que faça operar o efeito da condição. Como refere ANTUNES VARELA, Ob. Cit., pág. 276, «a cláusula resolutiva distingue-se da condição resolutiva, porque arrasta consigo a imediata destruição da relação contratual, logo que o facto futuro e incerto se verifica. Ao passo que a cláusula resolutiva, uma vez verificado o facto, apenas concede ao beneficiário o poder de resolver o contrato». Sobre esta matéria V. também JOÃO CALVÃO DA SILVA, Cumprimento e Sanção Pecuniária Compulsória, 4ª edição, Almedina, Coimbra, 2007, págs. 321 a 328 e Vaz Serra, Resolução do contrato, BMJ, nº 68, Lisboa, 1957, págs. 249 a 251. 32 A convencional corresponde ao mero acordo ao abrigo da liberdade contratual através de cláusulas pré-fixadas. Sobre a resolução convencional V. ROMANO MARTINEZ, Da Cessação…, Ob. Cit., págs.170 a 174. 33 V. Da cessação…, Ob. Cit., pág. 67, nota de rodapé 118. 34 V. para maiores pormenores do autor, Da Cessação…, Ob. Cit., pág. 67. 35 Quanto aos efeitos da resolução V., por exemplo, NUNO MANUEL PINTO OLIVEIRA, Princípios de Direito dos Contratos, Coimbra Editora, 2011, págs. 879 a 897. 36 ANÍBAL DE CASTRO, A Caducidade na Doutrina, na Lei e na Jurisprudência, 2ª edição, Livraria Petrony, Lisboa, 1980, pág. 210, em crítica à solução legislativa defende que é «doutrinária e cientificamente errado o recurso a um instituto tipicamente retroactivo para enquadrar situações, por natureza não retroactivas, quando o instituto da dissolução, mediante a rescisão ou revogação seria o adequado à respectiva subsunção». 37 A ratio genérica do legislador do CC terá sido a de reconstituir a situação anterior à contratação, daí os efeitos fixados nos artigos 289º e 290º do CC. 38 O artigo 434º, nº 1, 2ª parte, refere que não será retroativo se contrariar a vontade das partes ou a finalidade da resolução. 39 Cfr. PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, Vol. I, Coimbra Editora, 1987, pág. 411, em que os autores utilizam o contrato de seguro como exemplo de um contrato de execução continuada ou periódica. 40 Se as partes nada estipularem quanto ao tempo do contrato entende que é por um ano com prorrogações sucessivas. Cfr. artigos 40º e 41º do RJCS. 41 Sobre este preceito V. NUNO MANUEL PINTO OLIVEIRA, Princípios de Direito dos Contratos, Coimbra Editora, 2011, págs. 879 a 897. 42 V. MENEZES CORDEIRO, Da alteração das circunstâncias, in Separata dos Estudos em Memória do Prof. Doutor Paulo Cunha, Lisboa, 1987; CARVALHO FERNANDES, A Teoria da imprevisão no Direito Civil português, reimpressão, Lisboa, 2001, VAZ SERRA, Resolução ou modificação do contrato por alteração das circunstâncias, BMJ, nº 68, 1957, págs. 293 a 384; ANTUNES VARELA, Das Obrigações em geral, Vol. II, 5ª Ed., Almedina, Coimbra, 1992, págs.279 a 281; PEDRO ROMANO MARTINEZ, Da cessação do contrato, 2ª edição, Almedina, Coimbra, 2006, págs. 157 a 159 e CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, ANTÓNIO PINTO MONTEIRO e PAULO MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Edição, 2ª reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, 2012, págs. 608 a 613. 43 No direito italiano V., por exemplo, ENRICO GABRIELLI, Contratto e Contratti, UTET, Torino, 2011, págs. 230 a 267, que trata a alteração de circunstâncias através da designação «resolução por excessiva onerosidade» em comentário aos artigos 1467º e seguintes do Codice Civile; MARIO BARCELLONA, Clausole generali e giustizia contrattuale, G. Giappichelli Editore, Torino, 2006, págs. 201 a 208 e Francesco Camilletti, Profili del problema dell’eequilibrio contrattuale, Giuffrè Editore, Milano, 2004, págs. 66 a 83. 44 Cfr. em www.dgsi.pt o Proc. 187/10.4TVLSB.L2-2, com o relator Sérgio Almeida. 45 Como referem CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, ANTÓNIO PINTO MONTEIRO e PAULO MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Edição, 2ª reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, 2012, pág. 631, «o fundamento material desta denunciabilidade ad nutum é a tutela da liberdade dos sujeitos, que seria comprometida por um vínculo demasiadamente duradouro». Sobre o conceito de denúncia com a súmula de extensa doutrina V. RUI PINTO DUARTE, A denunciabilidade das obrigações contratuais duradouras propter rem, in Revista da Ordem dos Advogados, ano 70, vols. I a IV (Janeiro-Dezembro de 2010), 2010, págs. 273 a 297. 46Sobre este assunto V., por exemplo, o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 19-03-2009, Proc. 09A0334, relator Fonseca Ramos, em www.dgsi.pt, o qual refere que: «V) – Se a Seguradora/ré comunica ao segurado que “face às presentes circunstâncias do mercado segurador, não procederemos à renovação automática da vigência da apólice”, tal declaração negocial deveráser entendida – segundo as regras da hermenêutica negocial – como denúncia do contrato, impedindo a renovação automática. VI) – A denúncia é um direito potestativo, assente numa declaração unilateral recipienda, que produz o efeito extintivo de uma relação jurídica, em regra duradoura, tendo eficácia apenas em relação ao futuro, e não efeito retroactivo, como sucede com a resolução». 47 Como veremos também se integra na denúncia a proposta de alteração do contrato. Refere ROMANO MARTINEZ que «por vezes, a denúncia resulta de uma propostade alteração do contrato; se uma das partes envia à outra uma declaração, afirmando que o contrato só pode manter-se se for alterado determinado aspecto, por exemplo o valor da contraprestação, a recusa do destinatário quanto a tal modificação leva a concluir que a proposta de alteração contratual vale como denúncia». Cfr. do autor, Da Cessação..., Ob. Cit., pág. 117. 48 Cfr. artigos 40º, 41º, nº 1, e 112º do RJCS. 49 Cfr. PINTO MONTEIRO, Anotação ao Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 27 de junho de 1995, in Revista de Legislação e de Jurisprudência, Ano 130, nº 3877, pág. 123. Com apoio em extensa doutrina PAULO ALBERTO VIDEIRA HENRIQUES também considera que a admissibilidade de denúncia em relações contratuais de duração indeterminada constitui um princípio geral do nosso direito. Para maiores pormenores V., do autor, A desvinculação unilateral Ad Nutum nos contratos civis de sociedade e de mandato, nº 54, Studia Iuridica, Coimbra Editora, Coimbra, 2001, págs. 210 e 211. Com algumas particularidades, admitindo vinculações perpétuas, V. RUI PINTO DUARTE, A denunciabilidade das obrigações contratuais propter rem, Revista da Ordem dos Advogados, Ano 70, Jan. / Dez. 2010, pág. 285, onde refere que o Direito não repele «toda e qualquer vinculação perpétua, mas a vinculação perpétua sem contrapartida ou com uma contrapartida perdida no tempo. Quando essa vinculação surge associada a um direito – pelo menos, a um direito real, mormente ao de propriedade – o Direito admite-a». Assim, podemos concluir que o contrato de seguro não preenche esta exceção, sendo suposto que tenha um fim, ainda que o contrato de seguro possa ser transmitido por morte do tomador, como veremos, já que tendo o contrato duração indeterminada o RJCS prevê expressamente a possibilidade de denúncia. 50 Cfr. LUÍS MENEZES LEITÃO, Direito das Obrigações, Ob. Cit., pág. 109 e 110. 51 Cfr. MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Português, II, Tomo IV, Almedina, Coimbra, 2010, pág. 342, onde refere que «a denúncia deve distinguir-se da oposição à renovação, instituto pelo qual as partes, em contratos a prazo de renovação automática, podem obstar unilateralmente a que tal suceda. Na oposição não se verifica, logicamente, a supressão de um contrato com a consequente extinção de obrigações, mas tão só a não continuação de idênticas situações obrigacionais». 52V. ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 12.ª ed., Almedina, Coimbra, 2009, pág. 322. 53 V. PEDRO ROMANO MARTINEZ, Da cessação do contrato, 2ª edição, Almedina, Coimbra, 2006, págs. 45 e 116 a 125, onde refere que a oposição à renovação é uma modalidade da denúncia. 54 Acompanhamos, deste modo, PEDRO ROMANO MARTINEZ quando refere que «sendo a denúncia um meio para evitar que a vinculação dos contraentes se protele indefinidamente, vale nos mesmos moldes, tanto para relações duradouras sem limite temporal estabelecido, como para aquelas em que exista uma renovação automática. A diferença reside no facto de, por um lado, nas primeiras, a denúncia não estar sujeita a prazos, enquanto, nas segundas, é para se exercer no fim da vigência ou da renovação do contrato, e, por outro lado, porque nos contratos celebrados por tempo indeterminado a denúncia é o meio autónomo (directo) de cessação do negócio jurídico, ao passo que, nos contratos de renovação automática, a denúncia conduz à cessação do vínculo conjugada com a caducidade, ou seja, é um meio indirecto de extinção do contrato». Cfr. do autor, Da Cessação…, Ob. Cit., pág. 63 e 64. 55 ANÍBAL DE CASTRO, A Caducidade na Doutrina, na Lei e na Jurisprudência, 2ª edição, Livraria Petrony, Lisboa, 1980, págs. 227 a 241, identifica várias situações de caducidade para além da decorrência do tempo, nomeadamente o falecimento anterior; a incapacidade superveniente; a falência ou insolvência; o repúdio, aceitação da herança, renúncia e retratação; a perda de objeto; e a falta ou ausência de causa. 56 MENEZES CORDEIRO refere-se ao efeito do tempo como a caducidade em sentido estrito enquanto a verificação de um facto superveniente com eficácia extintiva corresponderá a uma caducidade em sentido amplo. V. do autor, Tratado de Direito Civil Português, II, Tomo IV, Almedina, Coimbra, 2010, pág. 342. ROMANO MARTINEZ faz a mesma divisão referindo que «a caducidade pode ser entendida em sentidos estrito e amplo. No sentido estrito, há caducidade se decorreu o prazo pelo qual o contrato foi celebrado. Em sentido amplo (por vezes dito impróprio), alude-se igualmente à caducidade como forma de extinção dos contratos em caso de impossibilidade não imputável a uma das partes de efetuar a sua prestação; de facto, num contrato sinalagmático, se uma das partes não pode realizar a sua prestação, a contraparte fica desobrigada da contraprestação (art. 795º, nº 1, do CC)». 57 Será a única situação que pode ter efeitos retroativos sem decorrer da convenção das partes. V. artigo 276º do Código Civil. 58 Incluindo esta situação na caducidade com algumas particularidades V. ROMANO MARTINEZ, Da cessação…, Ob. Cit., págs. 46 e 49. Refere o autor na pág. 48 que se «as partes podem ajustar variadas condições, nomeadamente relacionadas com o cumprimento (ou incumprimento) de prestações contratuais, caso em que a cláusula pode corresponder a uma resolução convencional». Acrescenta ainda, quanto a esta situação de resolução convencional que «como o contrato cessa pela verificação de um facto jurídico stricto sensu estar-se-á perante uma hipótese de caducidade; contudo, no que respeita à condição resolutiva, diferentemente do termo final ou resolutivo, o legislador remete para o regime da resolução (arts. 274º, nº 2, 276º e 277º, nº 1, do CC). Assim sendo, a condição resolutiva aponta para uma solução híbrida, em que estruturalmente a cessação do vínculo corresponde à caducidade, não obstante o regime ser de resolução». No sentido de incluir a condição resolutiva na figura da caducidade V. igualmente ANÍBAL DE CASTRO, A Caducidade na Doutrina, na Lei e na Jurisprudência, 2ª edição, Livraria Petrony, Lisboa, 1980, pág. 208. Sobre a cláusula resolutiva expressa V. ainda JOSÉ CARLOS BRANDÃO PROENÇA, Lições de cumprimento e não cumprimento das obrigações, Coimbra Editora, 2011, págs. 362 a 374; e BAPTISTA MACHADO, Pressupostos da resolução por incumprimento, in «Obra Dispersa», vol. I, Scientia Iuridica, Braga, 1991, págs. 184 a 187. 59 V. artigo 795º do CC. 60 Cfr. para maiores detalhes do autor, Direito dos Seguros, Almedina, Coimbra, 2013, págs. 714 e 715. Parte II 2. As formas de extinção do contrato de seguro no RJCS – Breve enunciação 2.1. Considerações gerais O RJCS tem um capítulo próprio para a cessação do contrato (artigos 105º a 118º), mas as formas aí previstas (caducidade, revogação, denúncia e resolução) não são as únicas que levam à extinção das obrigações decorrentes do contrato, razão pela qual cabe analisar essas outras figuras jurídicas e a forma como produzem efeitos61. O artigo 84º para os seguros de grupo também prevê que o tomador do seguro pode fazer cessar o contrato por revogação, denúncia ou resolução. Não é referida a caducidade pois não pressupõe um ato do tomador e o preceito centra-se nas formas que podem ser utilizadas pelo mesmo. Primeiramente, abordaremos as situações que levam à nulidade e anulabilidade do contrato e que tem as suas regras gerais nos artigos 285º a 294º do CC, mas que o RJCS faz menção prevendo também os seus efeitos. O artigo 285º é claro ao referir que «na falta de regime especial, são aplicáveis à nulidade e à anulabilidade do negócio jurídico as disposições dos artigos subsequentes». Este regime especial existe quando o RJCS estipulaprazos e efeitos para cada uma das figuras jurídicas embora possam ocorrer situações genéricas, não reguladas pelo RJCS, em que se deva aplicar o CC62. Seguidamente veremos as situações que não podem no futuro originar efeitos, para desse modo serem suscetíveis de cessação, como é o caso da ineficácia63. Finalmente, em capítulo próprio, serão analisadas as quatro figuras gerais de cessação do contrato de seguro, já identificadas. 2.2. A invalidade – nulidade e anulabilidade 2.2.1. Existe um conjunto de preceitos no RJCS em que o legislador menciona a anulabilidade e a nulidade64 fixando os respetivos efeitos. O artigo 16º, nº 2, prevê a situação da nulidade por falta de autorização legal do segurador, embora tal não resulte em perda de efeitos em relação ao que foi contratado65. O legislador não pretende reconhecer legitimidade a quem não tem autorização para exercer uma atividade, mas, como sanção66 e para proteção de contraentes de boa fé, não retira eficácia às garantias contratadas. Atendendo a estas consequências não pode o suposto segurador alegar nulidade para se desvincular das suas obrigações. Nos ensinamentos de DIAS MARQUES poderíamos, na verdade, aproximar esta figura da nulidade prevista no artigo 16º à da irregularidade, já que refere aquele que quando existem atos jurídicos que não respeitam a lei, com ofensa das normas que proíbem em dadas circunstâncias a sua celebração, «mas uma vez celebrados, o Direito entende conveniente não os ferir de invalidade, a fim de não prejudicar certos interesses particularmente dignos de protecção. E então aplica aos seus autores uma sanção de outra ordem: v.g., uma multa, uma pena disciplinar, etc…». Acrescenta o autor que «este regime jurídico tem o nome de irregularidade»67. Também Carlos ALBERTO DA MOTA PINTO, ANTÓNIO PINTO MONTEIRO e PAULO MOTA PINTO referem que «enquanto a invalidade importa a destruição dos efeitos negociais, a irregularidade, embora provenha de um vício interno negocial, tem consequências menos graves, não afectando a eficácia do negócio, mas dando apenas lugar a sanções especiais»68. Deste modo, através do artigo 16º do RJCS o contrato produz efeitos e o autor da infração é punido. A falta de autorização legal é punível com coima através de contraordenação nos termos do artigo 214º, alínea a), do RGAS. 2.2.2. Com bastante relevância temos também a sanção para o caso de existirem omissões por parte do tomador. O artigo 25º, nº 1, do RJCS, refere que as omissões dolosas tornam o contrato anulável69, pelo que está dependente de uma ação do segurador a exercer em três meses a contar do conhecimento do incumprimento do dever de informar do tomador. O contrato com esse incumprimento pode ou não produzir efeitos dependendo do exercício do direito de anulação pelo segurador, sendo certo que enquanto não decorra esse prazo não terá que cobrir nenhum sinistro nos termos do artigo 25º, nº 3. Em termos práticos o contrato apenas começa a produzir efeitos após o decurso do prazo de três meses, caso o segurador não remeta declaração ao tomador considerando o contrato anulado. O artigo 26º, nº 1, alínea b), faz menção de que o segurador nas omissões negligentes70 pode fazer cessar o contrato, demonstrando que, em caso algum, celebra contratos para a cobertura de riscos relacionados com o facto omitido ou declarado inexatamente. Se houver sinistro antes de o segurador conhecer a omissão ou cessar o contrato, prevê o nº 4 sobre as opções de que dispõe, a saber: a) cobre o sinistro na proporção da diferença entre o prémio pago e o prémio que seria devido como se na celebração do contrato tivesse conhecido o facto omitido ou declarado inexatamente [alínea a)]; b)não cobre o sinistro demonstrando que em caso algum teria celebrado o contrato se tivesse conhecido a omissão ou inexatidão. Assim, enquanto na primeira situação o contrato continuou a produzir efeitos, ainda que reduzidos proporcionalmente ao prémio recebido e risco assumido, na segunda os efeitos extinguem-se ab initio71. Quando o vício se relaciona com a própria coisa segura, o artigo 124º também remete para os efeitos dos artigos 24º a 26º e 94º, o que determina a possibilidade de anulação do contrato ou cobertura de sinistro na proporção do risco existente. 2.2.3. Para a falta de interesse ou de risco o RJCS prevê como consequência a nulidade. O artigo 43º prevê a nulidade se não existir um interesse digno de proteção legal relativamente ao risco coberto. O artigo 44º prevê igualmente a nulidade se o risco cessou ou se também não chegar a existir risco no futuro. Assim, sempre que cesse o risco cessa o contrato por desaparecer o fundamento que permite segurar. Para estas situações, quando se esteja perante uma contratação inicial o contrato nem chega a produzir efeitos, pois é nulo desde o seu início, mas caso a nulidade se verifique já na vigência pela superveniência de um facto, então já estaremos perante uma caducidade. É o que decorre da análise que fazemos à caducidade no presente artigo e em particular do artigo 110º do RJCS, que analisaremos com maior detalhe. Quanto a forma de a nulidade ou anulabilidade produzirem efeitos há a referir que ambas podem ser invocadas ou arguidas (artigos 286º e 287º do CC), sendo que a nulidade pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal. Assim, a nulidade opera ipso jure distinguindo-se da anulabilidade, já que regra geral o negócio anulável é válido enquanto não for anulado72. O RJCS, em particular no regime da anulação, como vimos, fixa os seus efeitos de forma díspare a propósito do artigo 25º e 26º, pelo que será a este que deveremos atender enquanto regime especial. 2.2.4. Relativamente à nulidade pretendemos ainda deixar uma breve nota para a possibilidade de redução ou extinção de cobertura devido a cláusulas abusivas. O artigo 3º do RJCS abre a porta para a receção do regime relativo a cláusulas contratuais gerais e defesa do consumidor, pelo que ganha especial relevância o Decreto-Lei nº 446/85, de 25 de outubro (Lei das Cláusulas Contratuais Gerais)73, o qual constitui um limite a ser observado nos contratos de seguros74. Dispõe aquele diploma, no seu artigo 15º, que «são proibidas as cláusulas contratuais gerais contrárias à boa fé», constituindo este um aspeto decisivo para extinguir ou reduzir um contrato se o mesmo não servir os interesses do consumidor75, fornecendo ainda a lei elencos de cláusulas relativamente e absolutamente proibidas que são por essa via abusivas76. Os artigos 9º e 13º da LCCG dispõem sobre a regra de subsistência dos contratos depois de excluídas as cláusulas que não devam constar dos mesmos, mas se um contrato não puder subsistir sem essas cláusulas expurgadas haverá nulidade de todas as obrigações a que as partes se vincularam. O artigo 12º reafirma a nulidade para as cláusulas contratuais gerais proibidas, mas tem presente que se deve aproveitar sempre que possível o negócio jurídico através da figura da redução, conforme prevê o artigo 14º. Atendendo a que o regime do Código Civil também é acolhido nos termos do artigo 4º do RJCS, é de atender aos artigos 292º e 293º do CC que determinam a redução ou conversão do negócio jurídico. 2.2.5. Por último, cabe fazer referência à faculdade de cessar o contrato nos termos referidos pelo regime das práticas comerciais desleais77, constante do Decreto-Lei nº 57/2008, de 26 de março, que no seu artigo 14º,nº 1, prevê que «os contratos celebrados sob a influência de alguma prática comercial desleal são anuláveis a pedido do consumidor, nos termos do artigo 287º do Código Civil». Esta é uma faculdade à disposição do consumidor entre outras, as quais não obedecem a qualquer hierarquia. A escolha é livre, pelo que pode o mesmo ainda «requerer a modificação do contrato segundo juízos de equidade» (nº 2) ou reduzir o contrato ao seu conteúdo válido anulando-se as restantes cláusulas (nº 3). 2.3 Ineficácia Há algumas situações que o RJCS apenas dispõe sobre os efeitos, referindo que o contrato não tem eficácia78 embora possa ter sido celebrado. Nestas situações pode o contrato produzir efeitos relativamente a algumas pessoas e não relativamente a outras. Para as que não chega a produzir efeitos não se pode chegar a falar em cessação do contrato porque a condição para um efeito findar é o de se ter iniciado. No que se refere à representação do tomador o artigo 17º, nº 2, menciona que a falta de ratificação do contrato de seguro leva à falta de eficácia para o tomador, mas nos termos do nº 3 pode produzir efeitos para o representante. Não existindo ratificação o contrato inicia-se, mas não retroage os seus efeitos nem vincula o potencial representado. Para a representação do segurador dispõe o artigo 30º mencionando a possibilidade de o contrato ser celebrado por mediador de seguros agindo em nome do segurador. No entanto, não existindo poderes específicos para tal, o contrato é ineficaz originariamente79 em relação ao representado até que o ratifique. Três situações: i. segurador nunca chega a conhecer o contrato e não fica vinculado; ii. segurador conhece o contrato e não manifesta oposição no prazo de cinco dias a contar do conhecimento, o que o vincula (art. 30º, nº 2); iii. existem razões ponderosas que justificam a confiança do tomador do seguro de boa fé na existência e validade do contrato devido ao facto de o próprio segurador ter contribuído para gerar a confiança. Assim, quando não chega a existir formalmente contrato por falta de poderes de representação ou ratificação, o mesmo não chega a cessar. Se ocorrer a última situação já existe vinculação e efeitos jurídicos. 3. Os preceitos de natureza imperativa absoluta e relativa na cessação do contrato O RJCS nos seus artigos 12º e 13º elenca determinadas situações que não admitem convenção em sentido diverso e outras em que se admite um regime mais favorável ao tomador do seguro, ao segurado ou ao beneficiário da prestação de seguro80. O capítulo referente à cessação do contrato, que abarca os artigos 105º a 118º, está na sua maioria classificado como regime de caráter imperativo relativo, estando apenas o artigo 117º, nº 3, classificado como sendo imperativo absoluto81. Existem ainda alguns preceitos dispersos que têm relevância para classificarmos como imperativos e que se refere à cessação do contrato ou extinção de obrigações, pelo que sem prejuízo de existirem outros, identificamos os seguintes: a) imperativos absolutos – artigos 16º, 34º, 43º, 44º, 61º, 80º, 86º; b)imperativos relativos – artigos 17º a 26º, 86º, 88º, 92º, nº 1, 93º e 101º. Atendendo a que a maioria do regime relativo à cessação do contrato tem índole imperativa relativa haverá sempre alguma margem de liberdade para que as partes estabeleçam soluções mais vantajosas para os consumidores82. No entanto, como nos seguros de grandes riscos não estará em causa a relação com consumidores, o artigo 12º, nº 2, permite que o conteúdo dos artigos 59º e 61º, quanto ao pagamento prévio do prémio e a resolução automática por falta de pagamento, seja contrariado através de convenção em sentido diverso. Do mesmo modo, aquilo que se entende como disposições imperativas relativas, identificadas no artigo 13º, nº 1, não são aplicáveis aos seguros de grandes riscos, pelo que rege a liberdade contratual conforme prevista no artigo 11º. Assim, torna-se importante, antes de mais, fazer uma breve destrinça sobre as situações e ramos de seguro em que poderemos estar perante riscos de massa e grandes riscos. 4. Seguros de massa e de grandes riscos 4.1. Atendendo a que a distinção entre seguros de massa e seguros de grandes riscos tem relevância para apuramento das situações em que o regime é imperativo ou em que existe liberdade contratual máxima para as partes estipularem as soluções que entendam, nomeadamente para o regime da cessação do contrato, que é o regime de que nos ocupamos no presente estudo, faremos uma breve distinção dos ramos que cabem em cada tipologia83. Os riscos de massa são aqueles em que atendendo à sua generalização se configura uma maior proteção ao tomador do seguro84 ou segurado enquanto nos grandes riscos é suposto que haja maior igualdade entre as partes, as quais atendendo aos seguros em causa ou valores de prémios envolvidos terão capacidade ou conhecimentos específicos para analisar com maior detalhe as condições contratuais ajustadas. Nos seguros de massa os segurados estarão protegidos por regimes imperativos que pretendem tornar a relação contratual mais equilibrada, situação que não se justificará nos grandes riscos. A propósito da proteção do segurado consumidor, no sentido exposto, também referem GERALDINE IFRÁN e ANDREA SIGNORINO BARBAT que no seguro de grandes riscos há uma flexibilização dessa proteção, que pode até ser afastada no caso de relações com impérios empresariais que têm um potencial económico que faz com que não precisem de ser protegidos, já que se relacionam com os seguradores num plano de igualdade85. Têm os segurados de grandes riscos, como menciona TAPIA HERMIDA, uma capacidade de autoproteção86. 4.2. A delimitação no regime português87 do que se entende por grandes riscos consta do artigo 2º, nº 3, do RGAS, estando abrangidos: a) os riscos que respeitem aos ramos de seguro referidos nos nºs 4), 5), 6), 7), 11) e 12) do artigo 123º, ou seja, os ramos «veículos ferroviários», «aeronaves», «embarcações marítimas, lacustres e fluviais», «mercadorias transportadas», «responsabilidade civil de aeronaves» e «responsabilidade civil de embarcações marítimas, lacustres e fluviais», respetivamente; b)os riscos que respeitem aos ramos de seguro referidos nos nºs 14) e 15) do artigo 123º, ou seja, os ramos de «crédito» e «caução», sempre que o tomador exerça a título profissional uma atividade industrial, comercial ou liberal e o risco, se reporte a essa atividade; c) os riscos que respeitem aos ramos de seguro referidos nos nºs 3), 8), 9), 10), 13) e 16) do artigo 123º, ou seja, «veículos terrestres», «incêndio e elementos da natureza» , «outros danos em coisas», «responsabilidade civil de veículos terrestres a motor», «responsabilidade civil geral» e «perdas pecuniárias diversas» desde que, relativamente ao tomador, sejam excedidos dois dos seguintes valores, referidos no artigo 2º, nº 4, a saber: i. total do balanço – 6,2 milhões de euros [alínea a)]; ii. montante líquido do volume de negócios – 12,8 milhões de euros [alínea b)]; iii. número médio de empregados durante o último exercício – 250 [alínea c)]. Os não mencionados são entendidos como riscos de massa, como seja o ramo «acidentes» ou «doença», os quais merecem tipicamente uma preocupação superior do legislador para proteção dos tomadores, segurados, beneficiários e lesados. 5. Tipos de classificação 5.1. Formas originárias e supervenientes 5.1.1. No RJCS tal como noCódigo Civil podemos verificar que existem impossibilidades originárias e supervenientes88, que como veremos se relacionam com a invalidade a que já fizemos menção. Enquanto a primeira é anterior ao contrato já existindo no momento da celebração do contrato a impossibilidade superveniente surge após o vínculo das partes perante certos pressupostos que se alteram. A impossibilidade pode ser total ou parcial e, colocando em causa a subsistência da relação contratual no futuro, deverá ser absoluta e definitiva. O Código Civil distingue a impossibilidade originária da superveniente, através dos seguintes preceitos: a) impossibilidade originária – artigos 280º, 286º e 289º a 294º; b)impossibilidade superveniente – artigos 790º e seguintes e 801º e seguintes. Na impossibilidade originária constam as situações em que o objeto do negócio é impossível, física ou legalmente, enquanto as supervenientes89 são posteriores à celebração tornando a prestação também impossível. No RJCS poderemos também identificar esta divisão, da seguinte forma: a) impossibilidade originária – artigos 25º; 26º; 43º e 44º; b)impossibilidade superveniente – 43º; 61º, nº 4; 91º a 94º e 96º. 5.1.2. No que se refere às impossibilidades originárias, as omissões de declaração do risco dolosas ou negligentes por parte do tomador ou segurador tornam o contrato anulável, pelo que no caso das omissões serem dolosas não está obrigado a cobrir o sinistro que entretanto ocorra (artigo 25º, nº 3) e no caso de serem negligentes teremos que distinguir duas situações: i. impossibilidade originária parcial – o segurador cobre o sinistro na proporção da diferença entre o prémio pago e o que seria devido caso não houvesse omissão [artigo 26º, nº 4, alínea a)]90; ii. impossibilidade originária total – o segurador não cobre o sinistro demonstrando que em caso algum teria celebrado o contrato se tivesse conhecido o facto omitido. Embora estas impossibilidades originárias sejam verificadas a posteriori, reportam-se ao momento da contratação fazendo com que o contrato nem se tivesse concretizado ou fosse celebrado em moldes diferentes. Do mesmo modo, a referência aos artigos 43º e 44º deriva da consequência prevista de nulidade que faria com que o contrato nem fosse celebrado não existindo interesse do tomador ou segurado, bem como risco a cobrir pelo segurador. Exemplo desta situação é o de alguém que faz um seguro com a cobertura de desemprego estando já desempregado e não sendo possível usufruir de qualquer cobertura. 5.1.3. Quanto à impossibilidade superveniente, aplica-se o artigo 43º quando tenha deixado de existir interesse durante a execução do contrato. Poderemos referir como exemplo o desaparecimento do objeto seguro. O artigo 61º, nº 4, faz menção à alteração superveniente à celebração do contrato que gere o pagamento de um prémio adicional, pelo que não existindo esse pagamento o contrato só subsiste reduzido se tal não se revelar impossível. No mesmo raciocínio quando exista um agravamento do risco o segurador, nos termos do artigo 93º, nº 2, tem duas possibilidades, a saber: i. apresentar ao tomador do seguro proposta de modificação do contrato, que se entende tacitamente aceite pelo tomador ou segurado se nada disser em 30 dias [alínea a)]; ii. resolver o contrato, demonstrando que, em caso algum, celebra contratos que cubram riscos com as características resultantes do agravamento [alínea b)]. Deste regime resulta que na execução do contrato de seguro podem existir alterações que levam à cessação do contrato por se tornar impossível para o segurador a cobertura dos riscos. Ainda que consideremos que em absoluto não é impossível ao segurador cobrir esses riscos o legislador faz equivaler o facto de o segurador não ter como prática a cobertura de determinados riscos como uma impossibilidade que leva à resolução do contrato. Numa situação em que a alteração do risco se materializa para um ramo diferente em que o segurador não tenha autorização legal91 para o seu exercício será natural essa impossibilidade. Pensemos num caso em que uma empresa altera o objeto da sua atividade e que por essa via passa a ter riscos, pelo menos em parte, diferentes. Poderemos ainda apontar outros exemplos, não exaustivos, de impossibilidades supervenientes, embora muitos tenham raiz na falta de interesse do artigo 43º, a saber: i. o desaparecimento do objeto seguro92; ii. a morte do tomador do seguro, a não ser o contrato preveja e seja possível de transmitir ao segurado ou terceiro interessado (artigo 96º)93; iii. a cessação de contrato associado do qual o contrato de seguro estava dependente em união de contratos. 5.2. Formas voluntárias e involuntárias O contrato de seguro pode cessar como veremos através de várias formas, mas há umas que dependem de um ato de vontade de uma ou ambas as partes e outras que são alheias às mesmas. Temos, então nesta matéria a extinção ipso iure94, resultante de um facto jurídico a que lei atribui efeitos, e a extinção ex voluntate, que advém de declarações de vontade de uma ou ambas as partes que permitem a desvinculação das mesmas às obrigações assumidas. A resultante de um facto corresponde à caducidade, onde tem superior relevância o decurso do tempo ou a extinção do objeto seguro. A resultante da vontade encaixa na revogação, denúncia e resolução. Na revogação de um contrato terão que existir declarações de vontade de todas as partes que deram origem ao vínculo95, mas em todas as formas que sejam unilaterais, como é o caso da resolução e da denúncia96, a declaração partindo apenas de uma das partes torna a cessação voluntária para essa e involuntária para a parte que se desvincula sem ter tido qualquer comportamento, ainda que tácito, que levasse à conclusão da pretensão de se desligar do contrato. Para os beneficiários que constam do contrato temos duas situações. Se a designação for irrevogável é necessário um ato voluntário do beneficiário permitindo a cessação do contrato97. Se não for esse o caso o contrato cessa sem a sua intervenção. No que diz respeito ao seguro de vida o artigo 199º, nº 1, do RJCS prescreve que «a pessoa que designa o beneficiário pode a qualquer momento revogar ou alterar a designação, excepto quando tenha expressamente renunciado a esse direito ou, no seguro de sobrevivência, tenha havido adesão do beneficiário». Por esta ordem de ideias também a cessação do contrato pode vincular involuntariamente ou voluntariamente o beneficiário conforme seja ou não necessário o seu assentimento. 5.3.Formas diretas e indiretas Dentro das formas que designamos de voluntárias encontramos ainda aquelas em que uma das partes ou ambas tomaram atitudes que levaram diretamente ao fim do contrato e outras situações em que embora o pensamento final não fosse o contrato de seguro, o efeito jurídico dos seus atos teve repercussão no mesmo, como seja a venda do veículo automóvel que tem os efeitos descritos no artigo 21º do Decreto-Lei nº 291/2007, de 21 de agosto98. A propósito da distinção entre resolução direta e indireta refere ROMANO MARTINEZ que na direta a dissolução do vínculo é consequência imediata de uma declaração de vontade, enquanto a indireta implica «a dissolução de outro vínculo como consequência do facto extintivo. Assim, havendo coligação negocial, a resolução de um contrato pode ter como efeito a extinção de outrovínculo»99. Está em causa a matéria da união de contratos100 sobre a qual a jurisprudência se tem debruçado, por ser matéria que provoca alguma litigância. Assim, por exemplo, refere um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa que: « 1 – A recíproca dependência entre o contrato de financiamento e o respeitante à aquisição financiada, corresponde à figura da união de contratos, repercutindo-se as vicissitudes de um no outro, arrastando a invalidade de um deles a destruição do outro, mostrando-se a ligação funcional entre venda e mútuo, mostrando-se a união desses contratos, a nulidade ou anulabilidade do contrato de compra e venda incidirá também sobre o contrato de mútuo. 2 – Os actos praticados à sombra de um negócio nulo, nulos são também, e, portanto, os negócios praticados à sombra de um negócio anulável, anuláveis são também»101. O Decreto-Lei nº 222/2009, de 11 de setembro, que estabelece medidas de proteção do consumidor na celebração de contratos de seguro de vida associados ao crédito à habitação, dispõe no artigo 3º, nº 1, a propósito da união de contratos102 que «(...) sempre que exista uma união entre o contrato de seguro de vida e o contrato de crédito à habitação, a validade e a eficácia daquele contrato depende da validade e eficácia deste». Assim, a extinção dos efeitos de um contrato de crédito pode levar indiretamente à cessação do contrato de seguro por desaparecimento do contrato principal ao qual o seguro se destinava a dar garantia. Se houver uma correspondência num contrato de crédito entre o capital em dívida e o capital seguro, desaparecendo o contrato de crédito deixa de existir capital seguro levando à inexistência de risco, o que determina a nulidade nos termos do artigo 43º do RJCS. - 61 Sobre a enumeração das formas de cessação do contrato de seguro V., por exemplo, JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES, Direito dos Contratos Comerciais, Almedina, Coimbra, 2009, págs. 723 e 724. 62 MARCEL FONTAINE assinala que existem causas comuns de nulidade e outras causas específicas dos seguros. Nas comuns o autor integra, por exemplo, a falta ou vício de consentimento, incapacidade ou ilicitude. Nas específicas integra a falta de interesse no seguro, ausência de risco, omissões e inexatidões de má fé, contratos por menores ou contratos celebrados por segurador não habilitado a exercer a atividade. Para maior detalhe V. MARCEL FONTAINE, Droit des Assurances, Quatrième édition, Larcier, Bruxelles, 2010, págs. 302 a 304. 63 Fazendo a distinção de forma detalhada entre as figuras da inexistência, invalidade e ineficácia V. INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Manual dos Contratos em Geral, 4ª Edição, Coimbra Editora, 2002, págs. 355 a 383 e António Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil Português, I Parte Geral, Tomo I, 3ª Edição, Almedina, Coimbra, 2011, págs. 853 a 888. 64 Sobre a matéria da anulabilidade e nulidade em geral V., por exemplo, CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, ANTÓNIO PINTO MONTEIRO e PAULO MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Edição, 2ª reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, 2012, págs. 617 a 632 e JEAN-CLAUDE MONTANIER, Le contrat, 4e édition, PUG, Grenoble, 2005, págs. 185 a 202. 65 Quanto à questão da essencialidade da empresa para que exista contrato de seguro existe intensa discussão doutrinária V., por todos, MARIA ELISABETE GOMES RAMOS, O Seguro de Responsabilidade Civil dos Administradores, Almedina, Coimbra, 2010, págs. 411 a 414, em particular a nota de rodapé 1596 nas págs. 412 e 413. Por nós, atendendo a que a escolha do legislador do RJCS recaiu sobre penalizar aquele que não tem autorização para segurar os riscos mas protegendo o tomador, conferindo-lhe direitos como se o contrato tivesse sido validamente celebrado entre partes legítimas, tendemos a considerar que a autorização do segurador não é um elemento imprescindível ainda que seja obrigatório. 66 Sobre a nulidade como sanção V., por exemplo, HERBERT HART, O conceito de direito, tradução de Armindo Ribeiro Mendes, 5ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2007, págs. 41 a 43. Entendendo que o legislador estabeleceu uma forma de sanção civil para prevenir e penalizar o exercício ilícito da atividade seguradora V. MARIA EDUARDA RIBEIRO, em anotação ao artigo 16º, AAVV, Lei do Contrato de Seguro Anotada, Ob. Cit., pág. 94. Na mesma obra PEDRO ROMANO MARTINEZ conclui em apreciação ao artigo 16º, nº 2, que «a nulidade (atípica) (…) manifesta-se nas faculdades que o tomador tem de a todo o momento passar a desconsiderar o contrato com o segurador não autorizado e de exigir reaver o montante do prémio pago que exceda aquilo que se possa determinar como o valor de mercado da cobertura» (pág. 96). 67 Cfr. DIAS MARQUES, Introdução ao Estudo do Direito, Volume I, Lisboa, 1963, pág. 353. 68 Cfr. CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, ANTÓNIO PINTO MONTEIRO e PAULO MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Edição, 2ª reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, 2012, pág. 627. 69 MENEZES CORDEIRO, com base no regime alemão, aborda a possibilidade de a lei ter optado pela resolução do contrato. Cfr. Direito dos Seguros, Almedina, Coimbra, 2013, pág. 584. Refere ainda o autor na pág. 586 que em termos de cessação de contrato estamos perante uma «anulação sui generis, total ou parcial». 70 A omissão negligente pressupõe a não conformidade com a diligência e deveres de cuidado que seriam exigíveis. 71 Caso não ocorra sinistro os prazos a respeitar para a cessação ou proposta de alteração constam do artigo 26º, nº 2. 72 Neste sentido V. PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, Vol. I, Coimbra Editora, 1987, pág. 263. 73 Sobre a importância das cláusulas contratuais gerais refere-se JOÃO CALVÃO DA SILVA no sentido em que «permitem a racionalização da contratação em massa com milhares de pessoas, ganhando tempo e poupando incomodidades aos clientes que desejam ser atendidos depressa e bem». Cfr. Do autor, Banca Bolsa e Seguros, Tomo I, 2ª Ed., Almedina, Coimbra, 2007, págs.162 e 163. Para maior detalhe sobre o tema V. também do mesmo autor págs. 159 e segs.; ALMENO DE SÁ, Cláusulas contratuais gerais e Directiva sobre cláusulas abusivas, 2ª ed. Revista e aumentada, Almedina, Coimbra, 2005; MENEZES CORDEIRO, Manual de DireitoBancário, 3ª ed., Almedina, Coimbra, 2006, págs. 363 a 403; MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Português, Parte Geral, Tomo I, Almedina, Coimbra, 2005, págs. 613 a 652; OLIVEIRA ASCENSÃO, Cláusulas contratuais gerais, cláusulas abusivas e boa fé, in Revista da Ordem dos Advogados, ano 60, II, Lisboa, 2000, págs. 573 e segs.; OLIVEIRA ASCENSÃO, Cláusulas contratuais gerais, cláusulas abusivas e o novo Código Civil, 2003, em http:// www.fd.ul.pt/Portals/0/Docs/Institutos/ICJ/LusCommune/AscensaoJoseOliveira6.pdf (acedido em novembro de 2012); CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA, Contratos I, 4ª Ed., Almedina, Coimbra, 2008, págs. 175 a 200; JOAQUIM DE SOUSA RIBEIRO, O Problema do Contrato– As Cláusulas Contratuais Gerais e o Princípio da Liberdade Contratual, Almedina, Coimbra, 1999; JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES, Contratos Comerciais – Noções fundamentais, in Direito e Justiça – Revista da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2007, págs. 131 a 152; ANA PRATA, Contratos de adesão e cláusulas contratuais gerais : anotação ao Decreto-Lei nº 446/85, de 25 de Outubro, Almedina, Coimbra, 2010, JOÃO BOTELHO, Cláusulas contratuais gerais – notas de jurisprudência, Livraria Petrony, Lisboa, 2010; JOSÉ MANUEL DE ARAÚJO BARROS, Cláusulas Contratuais Gerais, Coimbra Editora, Coimbra, 2010. 74 Sobre
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