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atenção a saúde mental do homem

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Fátima Büchele Assis
Fernanda Martinhago
Larissa de Abreu Queiroz
Atenção à saúde
mental do homem
UFSC
2018
Fátima Büchele Assis
Fernanda Martinhago
Larissa de Abreu Queiroz
Atenção à saúde
mental do homem
Florianópolis
UFSC
2018
Catalogação elaborada na Fonte.
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: 
Rosiane Maria CRB 14/1544
U588a Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Curso de
 Atenção Integral à Saúde do Homem – Modalidade a Distância.
 Atenção à saúde mental do homem [recurso eletrônico] / Universidade 
Federal de Santa Catarina. Fátima Büchele Assis, Fernanda Martinhago, Larissa de 
Abreu Queiroz (Organizadoras). — Florianópolis : Universidade Federal de Santa Ca-
tarina, 2016.
 86 p.
 Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br
 Conteúdo do módulo: Aspectos socioculturais da saúde mental masculina. 
– Aspectos epidemiológicos na saúde mental masculina. - A saúde mental e a Rede 
de Atenção Psicossocial (RAPS) para a população masculina
 ISBN: 978-85-8267-082-8 
 1. Saúde do homem. 2. Saúde mental. 3. Cuidados de saúde. I. UFSC. II. 
Assis, Fátima Büchele. III. Martinhago, Larissa de Abreu. IV. Título. 
CDU: 613.9
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Atenção à saúde
mental do homem
Créditos
GOVERNO FEDERAL
Presidente da República
Ministro da Saúde
Secretário de Gestão do Trabalho e da Educação
na Saúde (SGTES)
Diretora do Departamento de Gestão da Educação
na Saúde (DEGES)
Coordenador Geral de Ações Estratégicas em
Educação na Saúde
Responsável Técnico pelo Projeto UNA-SUS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Reitor 
Ubaldo Cesar Balthazar 
Vice-Reitora 
Alacoque Lorenzini Erdmann 
 
Pró-Reitor de Pós-graduação 
Hugo Moreira Soares 
Pró-Reitor de Pesquisa 
Sebastião Roberto Soares
Pró-Reitor de Extensão 
Rogério Cid Bastos
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Atenção à saúde
mental do homem
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Diretor 
Celso Spada 
Vice-Diretor 
Fabrício de Souza Neves
DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA
Chefe do Departamento 
Fabrício Augusto Menegon 
Subchefe do Departamento 
Maria Cristina Marino Calvo
EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Coordenador 
Francisco Norberto Moreira da Silva 
Coordenadora - substituta 
Renata Gomes Soares 
ASSESSORES TÉCNICOS
Juliano Mattos Rodrigues
Michelle Leite da Silva 
Kátia Maria Barreto Souto 
Caroline Ludmilla Bezerra Guerra 
Cícero Ayrton Brito Sampaio
Patrícia Santana Santos 
Thiago Monteiro Pithon
 
Créditos
GRUPO GESTOR
Coordenadora do Projeto 
Sheila Rubia Lindner 
Coordenadora do Curso 
Elza Berger Salema Coelho
Coordenadora de Ensino 
Deise Warmling
Coordenadora Executiva 
Gisélida Garcia da Silva Vieira
Coordenadora de Tutoria 
Carolina Carvalho Bolsoni 
AUTORIA DO CURSO
Fátima Büchele Assis
Fernanda Martinhago
Larissa de Abreu Queiroz
 
REVISÃO DE CONTEÚDO
Revisor Interno:
Antonio Fernando Boing
Revisores Externos:
Helen Barbosa dos Santos
Igor Claber
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Atenção à saúde
mental do homem
Créditos
ASSESSORIA PEDAGÓGICA
Márcia Regina Luz
ASSESSORIA DE MÍDIAS
Marcelo Capillé
DESIGN INSTRUCIONAL
Soraya Falqueiro
IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO
Pedro Paulo Delpino
ESQUEMÁTICOS
Tarik Assis Pinto
DIAGRAMAÇÃO
Laura Martins Rodrigues
AJUSTES E FINALIZAÇÃO
Adriano Schmidt Reibnitz
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA E ABNT
Eduard Marquardt
PRODUÇÃO DE MATERIAL ONLINE
Dalvan Antônio de Campos
Naiane Cristina Salvi
Cristiana Pinho Tavares de Abreu
Thiago Ângelo Gelaim
Rodrigo Rodrigues Pires de Mello
PRODUÇÃO TÉCNICA DE MATERIAL:
Ana Lúcia Nogueira Cobra
 8  8  8 
Atenção à saúde
mental do homem
 9  9  9 
Atenção à saúde
mental do homem
Olá, 
bem vindo a este curso do Curso Atenção Integral à Saúde do Homem, resultado de uma 
parceria entre o Ministério da Saúde (MS) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 
Este curso apresenta os aspectos socioculturais da saúde mental masculina. Nele serão 
abordadas as masculinidades como fatores condicionantes dos sofrimentos psíquicos; as 
transformações das masculinidades no mundo contemporâneo; aspectos relacionados à 
cultura e sofrimento psíquico e, por último, o uso de álcool e outras drogas como expressão 
de masculinidades.
Veremos que os homens têm uma maneira singular de expressar suas emoções, sofrimen-
to psíquico, apresentando particularidades inclusive no que diz respeito à procura pelos 
serviços de saúde. 
Todos esses aspectos estão atrelados às masculinidades construídas social e cultural-
mente que, de maneira geral, atribuem características aparentemente inatas do sexo mas-
culino, tais como a virilidade, força, poder e o papel de provedor da família.
O objetivo deste texto é identificar os principais agravos de saúde mental que acometem os 
homens e possíveis estratégias de prevenção e cuidado destes agravos. Portanto, nossa 
proposta é que você possa explorar esse conteúdo o máximo possível e aproveitar algumas 
dessas estratégias para a sua prática profissional.
Aproveite esse novo aprendizado!
Apresentação do curso
 10  10  10 
Atenção à saúde
mental do homem
Este curso aborda os principais aspectos 
socioculturais na saúde mental do homem 
e as principais informações epidemioló-
gicas que nela influenciam, bem como o 
papel de Rede de Atenção Psicossocial na 
saúde do homem.
Objetivos de aprendizagem para este 
curso
Ao final deste curso, você poderá identificar 
os principais agravos de saúde mental que 
acometem os homens, bem como as pos-
síveis estratégias de prevenção e cuidado 
destes agravos.
Carga horária de estudo
30 horas
Objetivos de aprendizagem e carga horária
 11  11  11 
Atenção à saúde
mental do homem
 12  12  12 
Atenção à saúde
mental do homem
Unidade 1
Aspectos socioculturais da saúde mental masculina 14
1.1 As masculinidades como condicionante do 
 sofrimento psíquico 16
1.2 As transformações das masculinidades no mundo 
 contemporâneo 21
1.3 Cultura e sofrimento psíquico 26
1.4 O uso de álcool e outras drogas como expressão de 
 masculinidades 27
1.5 Recomendação de leituras complementares 32
Unidade 2
Aspectos epidemiológicos na saúde mental masculina 33
2.1 Sofrimento psíquico 35
2.2 Transtorto Mental Comum – Tmc 37
2.3 Transtornos Mentais 41
2.4 Álcool e outras drogas 44
2.5 Suicídio em homens 50
2.6 Recomendação de leituras complementares 54
Unidade 3
A saúde mental e a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) 
para a população masculina 55
Sumário
 13  13  13 
Atenção à saúde
mental do homem
Sumário
3.1 A RAPS e a atenção aos homens em sofrimento psíquico 57
3.2 Estratégia de intervenção a partir da abordagem 
 de gênero 63
3.3 Boas práticas – experiências exitosas 68
3.4 Recomendação de leituras complementares 74
Resumo do curso 75
Referências 77
Sobre os autores 85
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
 15  15  15 
Atenção à saúde
mental do homem
 16  16  16 
Atenção à saúde
mental do homem
 16  16 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
Você já reparou como a condição dos ho-
mens no mundo ocidental contemporâneo 
vem sendo discutida? Pergunte-se: “O que é 
ser homem?” “O que é ser mulher?”
Figura 1 – O que é ser homem, o que é ser mulher?
Fonte: Fotolia
A lógica destas construções culturais está 
associada a um conjunto de ideias e práti-
cas que baseiam essa identidade na virilida-
de, na força e na própria constituição bioló-
gica do homem.
Nesse sentido, esta unidade traz à tona a 
discussão distribuída nos itens relaciona-
dos a esse tema, fundamentais para você, 
profissional de saúde. 
Discutir certos conceitos ediscorrer sobre 
as mudanças sociais que estão ocorrendo 
ao longo da história é relevante para que 
você compreenda o momento atual, bem 
como alguns comportamentos e situações 
que você vivencia no seu dia a dia.
1.1 As masculinidades 
como condicionante do 
sofrimento psíquico
As masculinidades e as feminilidades – ou 
seja, as identidades de gênero – se con-
figuram como o conjunto de traços cons-
truídos na esfera social e cultural por uma 
sociedade, os quais definem os gestos, 
comportamentos, atitudes, modos de se 
vestir, falar e agir tanto para homens quan-
to para mulheres. Essas identidades ten-
dem a estar em consonância com o sexo 
 17  17  17 
Atenção à saúde
mental do homem
 17  17 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
biológico, mas não necessariamente es-
tão compatíveis com ele. Na verdade, elas 
podem e estão continuamente se renovan-
do, podendo ser moldadas novamente a 
cada momento, não sendo fixas e acaba-
das (SILVA, 2006).
O processo de definição dessas identidades 
ocasiona um impedimento das construções 
singulares, pois acaba moldando e prees-
tabelecendo um comportamento comum a 
todos os indivíduos, de acordo com o seu 
sexo biológico. Além disso, este processo 
avalia determinadas ações como corretas 
e normais, transformando-as em modelo e 
referência para todos. O problema é que, na 
maioria das vezes, esse conjunto de norma-
tivas não dá conta de toda a complexidade 
e subjetividade que envolve os indivíduos, 
aprisionando-os nessas “obrigações” (SIL-
VA, 2006; LOPES, 2011). 
No caso dos homens, o modelo hegemô-
nico de masculinidades ainda é muito 
presente na sociedade atual, embasado 
em valores patriarcais e na associação do 
masculino à virilidade, força e dominação 
(CRISTO, 2012). Esse modelo, embora he-
gemônico, tem sofrido mudanças sociais 
nos tempos atuais. 
No esquemático a seguir, elaborado a partir 
das observações de Silva (2006), podemos, 
de maneira geral, perceber como a defini-
ção do que é ser homem versa a partir de 
várias negativas, assim como de múltiplas 
exigências.
Não chorar
Não demonstrar 
seus sentimentos
Não ser homossexual
Não amar as mulheres
Não ser fraco
Não ser covarde
Não ser perdedor
Não ser passivo 
nas relações
Ser pai
Ser provedor
Ser dominador
Ser destemido
Ser independente
Ser agressivo
Ser líder 
Ser detentor de 
dinheiro, emprego 
Ser mantedor de 
relações sexuais 
O que é ser homem?
 18  18  18 
Atenção à saúde
mental do homem
 18  18 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
De modo amplo, o homem possui uma ima-
gem de invulnerabilidade, como se danos 
sociais, físicos e mentais não o atingissem. 
Dessa forma, em tese, os homens não ne-
cessitariam de programas de prevenção ou 
assistência à saúde.
A Política Nacional de Atenção Integral à 
Saúde do Homem, promulgada pelo Minis-
tério da Saúde em 2008, aponta que essa 
população não acessa com regularidade o 
sistema de saúde pela Atenção Primária. 
Em geral, adentra pelos serviços de média e 
alta complexidade, buscando tratamento ou 
reabilitação para os agravos de saúde que 
já estão instalados (CRISTO, 2012). 
Perceba, então, que o mesmo ambiente cultu-
ral que reproduz a superioridade do homem, 
acaba prejudicando-o quando o induz a des-
cuidar de sua saúde e a negar riscos frente a 
qualquer falha na função de provedor, já que 
quando afetado por alguma doença, ele ten-
de a se calar e a não buscar apoio. 
No esquemático abaixo você pode visuali-
zar que homens e mulheres estabelecem 
diferentes maneiras de vivenciar o sofri-
mento psíquico.
Esse aspecto é apontado em estudo de San-
tos (2008), o qual destaca que além de os 
homens não serem incentivados a lidar com 
seus sentimentos, o fato de estar doen-
te significa fracasso social e acaba sendo 
uma condição não aceita tanto pelos fami-
liares quanto socialmente. 
Já as mulheres tendem a se apegar às 
relações afetivas no seu meio social, o 
que acaba tendo efeito protetor, sem 
acarretar grandes malefícios.
Os homens, quando 
frustrados diante da sua 
baixa qualidade de vida ou 
situação socioeconômica, tendem a serem levados 
pelo álcool como uma forma de fuga desses 
problemas, ficando suscetíveis a transtornos 
mentais e doenças mentais potencializadas.
 19  19  19 
Atenção à saúde
mental do homem
 19  19 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
Isso tudo demonstra uma forma singular 
dos homens em sua reação frente a difi-
culdades físicas ou psíquicas. Uma forma 
singular associada a uma certa imagem do 
masculino, cultural e socialmente falando. 
Pergunte-se: será possível perceber como 
essa identidade construída influencia diver-
sas atitudes desses indivíduos? Além disso, 
esta construção identitária não influencia no 
modo como os homens enfrentam situações 
adversas, as quais podem acarretar sofrimen-
to psíquico e outras consequências sociais?
De modo sucinto, podemos lançar a hipóte-
se de que aqueles que não se enquadram 
ou não se identificam com esses padrões 
impostos acabam mudando seus compor-
tamentos e papéis sociais, em busca de 
aceitação, ou passando por grande sofri-
mento psíquico (SILVA, 2006).
Saiba que o sofrimento psíquico, apesar de 
envolver aparentemente apenas o âmbito 
individual, é na verdade construído social-
mente e tem relação direta com valores e 
normas, sociais e históricas.
Figura 2 – Identidade e sexo biológico. 
Fonte: Shutterstock
Isso significa dizer que a vivência de cada 
indivíduo expressa regras que são molda-
das por certa configuração social em deter-
minada cultura e contexto. É algo que pode 
ser traduzido na dificuldade em realizar pla-
nos, definir o sentido da vida e sentimento 
de impotência e vazio. 
Essas intercorrências podem incapacitar 
homens e mulheres a conviverem e intera-
girem em sociedade, podendo levar inclu-
sive à perda da sua condição de cidadãos 
(SANTOS, 2009).
Para refletir a respeito das vivências do 
sofrimento ou do adoecimento psíquico 
dos homens, é importante refletir sobre 
os papéis centrais que o trabalho e a 
sexualidade desempenham nas prescri-
ções sociais impostas sobre as mascu-
linidades. 
 20  20  20 
Atenção à saúde
mental do homem
 20  20 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
Trabalho Sexualidade
O trabalho parece ser constituinte das masculinidades, marca seu co-
tidiano e é responsável pelas vivências e representações sociais dos 
homens. Ele promove independência financeira, status social e poder. 
A ausência de trabalho gerando um sentimento de não adequação, 
fracasso e desorientação nos homens. É como se estivessem aban-
donados e não fossem reconhecidos sem a existência do trabalho.
A sexualidade marca a virilidade do homem e 
sua consequente adequação ao modelo valo-
rizado socialmente.
Ao perder a identidade de tra-
balhador, os homens, em re-
lação às mulheres, enfrentam 
maiores dificuldades de rein-
serção social e reconstrução 
da identidade anterior.
Os homens são estimulados a conseguir mui-
tas conquistas amorosas e estabelecer uma 
postura cada vez mais distante de passivida-
de e submissão, com exercício ativo e cons-
tante da sua sexualidade.
Dessa forma, entendemos que o sofrimento 
psíquico masculino parece estar relaciona-
do à inadequação ao paradigma do trabalho 
na sociedade contemporânea e também à 
privação do exercício da sexualidade, am-
bos representando impedimentos para cum-
prir com o papel social de provedor e chefe 
da família (SANTOS, 2008). No esquemático 
ao lado você visualiza as funções do traba-
lho e da sexualidade sobre as masculidades.
A identidade de gênero e sexual são proces-sos muito complexos que devem ser cuida-
dosamente pensados para que possamos 
diminuir as pressões sociais sobre os indi-
víduos de ambos os sexos, e, quem sabe, as 
complicações relacionadas à saúde mental, 
já que ainda há muitos estigmas no que se 
refere ao adoecimento psíquico masculino.
A identidade de gênero e sexual são proces-
sos muito complexos que devem ser cuida-
dosamente pensados para que possamos 
 21  21  21 
Atenção à saúde
mental do homem
 21  21 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
diminuir as pressões sociais sobre os indi-
víduos de ambos os sexos, e, quem sabe, 
as complicações relacionadas à saúde 
mental, já que ainda há muitos estigmas 
no que se refere ao adoecimento psíquico 
masculino.
Para saber mais sobre as transformações da 
masculinidade, leia: CONNELL, R. W. Políti-
cas da masculinidade. Educação & Realidade, 
n. 20, v.2, p.185-206, 1995. Disponível em: 
<https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/
handle/123456789/1224/connel_politicas_
de_masculinidade.pdf?sequence=1&isAllow 
ed=y>. Acesso em: 25 jan. 2019.

1.2 As transformações das 
masculinidades no mundo 
contemporâneo
As masculinidades dizem respeito à posi-
ção dos homens nas relações de gênero, 
elaborada a partir do conceito de “mascu-
linidades culturalmente hegemônicas”, o 
qual sintetizam papéis culturais, sociais e 
políticos a serem seguidos pelos homens 
em determinado contexto e momento his-
tórico. Esse conceito se refere a uma con-
figuração de gênero que legitima o patriar-
cado e garante a posição dominante dos 
homens sobre as mulheres, constituindo-
-se a partir dos modelos tradicionais e da 
personalidade distante emocionalmente, 
com características machistas, heterosse-
xuais, agressivas e apresentação de com-
portamentos de risco (SILVA, 2006). Perce-
ba ao lado a descrição das masculidades 
hegemônicas.
Essas colocações parecem retratar a ma-
nutenção das masculidades pensadas, 
percebidas e vivenciadas como um dado 
concreto, inquestionável e não passível de 
reflexão. É como se todo homem possuís-
se naturalmente a essência das masculi-
nidades, nascendo e se percebendo como 
homem-macho desde os primeiros mo-
mentos de vida, sendo definido apenas por 
seu sexo biológico (LOPES, 2011).
• Baseia-se na configuração relacional 
das práticas de gênero que são aceitas 
socialmente, estabelecendo e 
assegurando as posições de dominantes 
e dominados, exemplificanda pela 
subordinação entre os sexos.
• Não se refere a indivíduos poderosos, mas 
a um tipo de masculinidades tida por 
exemplar.
• Possui espectro ideológico, pois 
naturaliza as diferenças entre os sexos.
• Expressa uma posição sempre em 
disputa, não sendo um modelo fixo.
Em outras palavras, por trás destas considera-
ções reina a ideia de que os homens são prove-
dores, enquanto as mulheres estariam na 
posição de providas.
Embora haja exceções e muitas disputas, 
prevalece a ideia de masculidades que aceita 
estas diferenças como algo natural, da própria 
espécie.
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/1224/connel_politicas_de_masculinidade.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/1224/connel_politicas_de_masculinidade.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/1224/connel_politicas_de_masculinidade.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/1224/connel_politicas_de_masculinidade.pdf?sequence=1&isAllowed=y
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Atenção à saúde
mental do homem
 22  22 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
A partir do final da década de 1960, o mo-
vimento feminista parece ter tido como re-
flexo a crise das masculinidades contempo-
râneas, levando alguns homens a buscarem 
um modelo que melhor conseguisse des-
crever suas subjetividades, já que o modelo 
tradicional não conseguia mais se susten-
tar frente às mudanças ocorridas no campo 
do trabalho, das relações afetivas, sociais e 
sexuais. Foi apresentada uma redefinição 
do papel de pai do homem contemporâneo, 
chamada de “nova paternidade”, concomi-
tante à entrada das mulheres no mercado 
de trabalho e na vida pública (SILVA, 2006).
O modelo de masculinidades para esse 
“novo homem” estaria sustentado pela sua 
capacidade e liberdade de demonstrar seus 
sentimentos, de executar tarefas domésti-
cas, participar ativamente na educação dos 
filhos e, inclusive, exercer profissões antes 
consideradas femininas. Pode inclusive ga-
nhar menos do que sua companheira sem 
que isso seja um incômodo para ele. No cam-
po da sexualidade, a possibilidade de falhas 
seria aceitável e compreensível, podendo o 
homem admitir ser dominado. As identida-
des sexuais alternativas (homossexual, bis-
sexual e transexual) também são permitidas 
e fazem parte das subjetividades masculinas 
contemporâneas. Teoricamente, o machis-
mo perderia o sentido e as relações entre ho-
mens e mulheres tenderiam a melhorar.
Figura 3 – Novos modelos de masculinidade: tarefas do-
mésticas
Fonte: Fotolia
Trazendo um contraponto, Kimmel (1998) re-
fere que as masculinidades são socialmente 
construídas, e não uma propriedade biológica 
ou social cristalizada. Dessa forma, variam de 
cultura para cultura, dentro da mesma cultu-
ra no decorrer de certo tempo, e em qualquer 
cultura por meio de um conjunto de variáveis, 
no transcorrer da vida de qualquer homem. 
Importante! Segundo Kimmel (1998), a mas-
culinidade não é natural, intrínseca e que aqui-
lo que está posto como o universal masculino, 
que aparentemente parece pronto e acabado, 
é, na verdade, uma invenção histórica.
Mesmo assim, percebe-se ainda uma insis-
tência em associar a imagem do masculino 
à força, resistência, competição, virilidade, 
racionalidade e até violência e sexo. Trata-se 
de enquadrar todos numa normalidade mas-
culina heterossexuada, como se esta fosse 
a forma natural e tivesse que ser seguida 
como uma linha de conduta (LOPES, 2011). 
 23  23  23 
Atenção à saúde
mental do homem
 23  23 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
Porém, a sociedade de consumo se propôs 
a participar das reflexões com a introdução 
da figura do metrossexual, criada para dar 
conta desse “novo homem”.
Figura 4 – Novos modelos de masculinidade: participação 
ativa na educação dos filhos
Fonte: Shutterstock
Construiu-se a ideia de que todo homem po-
deria ter uma preocupação estética consi-
go, semelhante ao que fazem as mulheres. 
A diferença é que agora ele não perderia sua 
identidade e sua preferência sexual ou, me-
lhor, heterossexual (SILVA, 2006).
Importante! O metrossexual caracteriza-se por 
ser vaidoso, preocupado com sua aparência, 
frequentador de espaços que em outro mo-
mento eram exclusividade das mulheres (como 
o salão de beleza, por exemplo) e por ser atento 
às novidades da moda. Ele é um personagem 
da sociedade baseada no consumo, integrado 
ao sistema de produção capitalista e centrado 
no culto à imagem e ao corpo, colocado a servi-
ço das necessidades do mercado e aprisionan-
do-o em mais uma identidade (SILVA, 2006).

A construção de identidades incorrem no 
risco de fragmentar os modos de exercer 
masculinidades, visto que os homens per-
formam modos de ser homem que reiteram 
normas mas que também as subvertem. 
Assim as masculinidades estão em cons-
tante fluidez. 
Embora aparente uma possibilidade de mu-
dança cultural, o que parece alimentar essa 
nova forma é o fator econômico, já que o 
capitalismo contemporâneo produz neces-
sidades fúteis, estimulando o consumismo 
exacerbado e agora atingindo um novo pú-
blico-alvo: o narcisismo masculino.
Figura 5 – Novos modelos de masculinidadeFonte: Fotolia
Os indivíduos passam a acreditar, então, na 
norma social de que o sucesso e a felicida-
de dependeriam da sua aparência física, 
 24  24  24 
Atenção à saúde
mental do homem
 24  24 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
sua imagem, acabando por se enquadrar na 
busca do padrão estético hegemônico para 
serem aceitos socialmente. Evidentemente, 
nem todos na sociedade têm essa possibili-
dade de consumo, de atender a essa deman-
da. Dessa forma, o discurso sobre o homem 
metrossexual e toda a polêmica a respeito da 
nova forma de masculinidade está atrelada 
à formação discursiva da pós-modernidade, 
em que as grandes lutas da humanidade são 
substituídas por pequenas (GODOI, 2006).
Figura 6 – O masculino como novo alvo do consumismo
Fonte: Fotolia
Aparentemente, os homens da atualidade 
estão vivendo uma pressão muito semelhan-
te à enfrentada pelas mulheres, há décadas, 
para se enquadrar no padrão de beleza he-
gemônico, não bastando ao homem burguês 
apenas ser proprietário de bens, adquiri-los e 
ostentá-los. Ele precisa também ter um corpo 
“sarado”, conhecer as tendências da moda, 
usar roupas e acessórios de grife e frequen-
tar clínicas de estética (GODOI, 2006). 
De fato, observamos que no Brasil da con-
temporaneidade há um número cada vez 
maior de homens que usam cabelos com-
pridos, unhas e sobrancelhas bem cuida-
das, acessórios de cabelos, brincos e outros 
adereços que não causam mais vergonha 
ou constrangimento.
Uma parte significativa da população pare-
ce querer seguir esse novo estilo de vida, 
com vaidade igualada ou maior que a das 
mulheres, demonstrando o poder desse 
novo discurso em influenciar na ação social 
(GODOI, 2006). 
Figura 7 – O metrossexual
 
Fonte: Fotolia
Na contemporaneidade então, parecem 
surgir novas relações e, talvez, um enfra-
quecimento das relações de poder e domi-
nação com a entrada dessas novas formas 
de masculinidades. Homens estão sendo, 
de certo modo, desvirilizados, frequentan-
do “espaços de mulheres”, assumindo rela-
ções homoafetivas – enfim, estão surgindo 
masculinidades plurais. Isso pode significar 
uma nova condição, conquista de novas 
possibilidades, versões e formas de mascu-
linidades (LOPES, 2011).
 25  25  25 
Atenção à saúde
mental do homem
 25  25 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
Se a masculinidade não é natural, mas um pro-
duto de encontros e relações, historicamente 
construída, ela pode ser muito mais do que os 
estereótipos e modelos que fazem tentativas, 
algumas vezes opressoras, de definir, cercar 
e cristalizar. Pode ser um universo amplo de 
imagens, símbolos, aliado às subjetividades e 
singularidades, em vez de generalizável e iden-
tificável (LOPES, 2011). O que você pensa?

A tentativa de descrever todos os homens a 
partir do viés da identidade sexual e de gê-
nero não consegue dar conta da maioria das 
singularidades, pois nem todos conseguem 
se encaixar e se perceber no modelo tradicio-
nal, e mesmo no modelo contemporâneo de 
masculinidades. Se vemos apenas a iden-
tidade sexual ou de gênero do indivíduo, ou 
se tentamos enquadrá-lo em algum dos mo-
delos de masculinidades criados, acabamos 
por deixar de lado o essencial. Acreditamos 
que é possível construir masculinidades ou 
feminilidades sem hegemonias, sem tanto 
rigor ou identidades fechadas (SILVA, 2006).
Sem dúvida as transformações das mascu-
linidades no mundo contemporâneo vieram 
questionar o modelo patriarcal de domina-
ção masculina, com desmistificação de al-
guns valores impostos socialmente e, com 
isso, construíram-se novas possibilidades e 
novas interações. 
As mudanças do mundo contemporâneo es-
tão contribuindo para que os homens pos-
sam falar de seus sentimentos, expor seus 
problemas e identificar novos modelos de 
masculinidades pautados na sensibilidade, 
no companheirismo, na afetividade, enfim, 
em novos propósitos de papéis políticos, 
sociais e também psicológicos.
Todo esse processo vem se construindo a 
partir da evolução histórica e cultural, pro-
duzida em diferentes sociedades e épocas, 
com espaços que devem ser conquistados 
e ocupados por homens e mulheres.
No entanto, ressalta-se mais uma vez 
que não é reconstruindo uma nova iden-
tidade masculina o que tornará possível 
promover mudanças a respeito do que é 
ser homem na nossa sociedade; ao con-
trário, é necessário desconstruir a identi-
dade masculina, patriarcal, machista que 
está cristalizada, e assim promover ou-
tros acordos e outras relações, sem que 
se crie imediatamente uma substituição 
que envolva novamente os indivíduos em 
normas e padrões engessados que não 
abarcam as subjetividades e singularida-
des de cada um.
Este tema é novo e gostaríamos que você 
complementasse seu estudo com esta leitu-
ra: LOPES, F. H. Masculinidade(s): reflexões 
em torno de seus aspectos históricos, sociais 
e culturais. Revista de Artes e Humanidades, 
n. 8, maio/out. 2011.  Disponível em: <http://
www.revistacontemporaneos.com.br/n8/
dossie/masculinidadesreflexoes.PDF>. Aces-
so em: 25 jab. 2019.

http://www.revistacontemporaneos.com.br/n8/dossie/masculinidadesreflexoes.PDF
http://www.revistacontemporaneos.com.br/n8/dossie/masculinidadesreflexoes.PDF
http://www.revistacontemporaneos.com.br/n8/dossie/masculinidadesreflexoes.PDF
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Atenção à saúde
mental do homem
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UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
1.3 Cultura e sofrimento psíquico
Abordar a questão da cultura e do sofrimen-
to psíquico significa analisar a interação 
das condições de vida social com a trajetó-
ria específica do indivíduo e sua estrutura 
psíquica, sem deixar de lado a realização 
pessoal do sujeito em todos os aspectos de 
seu contexto de vida. Os grandes transtor-
nos apresentados na contemporaneidade, 
tais como a toxicomania, anorexia, estresse, 
depressão, nos convidam a pensar sobre 
maneiras de atender as pessoas com sofri-
mento psíquico, principalmente os homens, 
que procuram atenção aos seus sofrimen-
tos de forma tão singela. 
Importante! Os sintomas que se formam do 
sofrimento psíquico masculino, longe de apon-
tar uma discussão estrutural de onde o sujeito 
fala, indica que é de extrema importância uma 
escuta que possa acompanhar tanto a origem 
quanto a posição para onde ele se dirige com 
essa fala (CARNEIRO, 2004).

A cultura tem assumido uma função de 
importância sem igual no que diz respeito 
à estrutura e à organização da sociedade 
moderna, relacionadas aos processos de 
desenvolvimento do meio ambiente, aos re-
cursos econômicos e materiais. As trocas 
culturais têm se expandido por meio das 
tecnologias e da revolução dos meios de 
comunicação, das informações aceleradas, 
dos recursos humanos, materiais e tecnoló-
gicos no mundo inteiro. 
O sofrimento ao longo da história recebeu 
diferentes significações e destinos. De sím-
bolo do pecado judaico-cristão à patologia 
da ciência moderna, o sofrimento sempre 
exigiu do homem uma explicação lógica 
quanto mais estranheza a sua manifestação 
provocava na comunidade (BRANT, 2004).
As mudanças culturais globais estão esta-
belecendo também, de certa forma, uma 
rápida mudança social, provocando deslo-
camentos culturais que têm consequências 
positivas e outras nem tanto, como o sofri-
mento psíquico, por exemplo.
Do ponto de vista dos conceitos de dor e 
sofrimento, é possível dizer que eles não 
se confundem, mas também não se distin-
guem com facilidade. Todavia, isso não nos 
autoriza afirmar a existência de uma relação 
de complementaridade entre eles. Existe 
um estreito e tênue limite entre os dois ter-
mos, relacionado a um sentido etimológico 
e semântico. Dessa forma, a transformaçãodo sofrimento em adoecimento pode ser 
compreendida por um longo percurso, aper-
feiçoado como uma nova técnica de gestão 
dos homens (MARQUEZ, 2004).
Na gestão do trabalho pós-industrial, por 
exemplo, a disciplina como técnica de exer-
cício do poder tem por função não mais 
 27  27  27 
Atenção à saúde
mental do homem
 27  27 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
controlar os gestos e os corpos, mas o pen-
samento, a criação e as manifestações do 
sofrimento (FOUCAULT, 1979). 
Até então, o sofrimento é representado 
como essencialmente negativo, mas, para 
Dejours (1994), a existência dele resultaria 
em luta entre o sujeito e as forças ligadas 
à organização do trabalho, o que o levaria 
ao adoecimento psíquico. Nesse sentido, o 
sofrimento poderia significar um processo 
criativo, uma tentativa de mudança e recu-
peração, sendo mais do que simplesmente 
elementos patogênicos.
Dessa forma, Rodrigues (1992, p. 141) refe-
re que: 
þþ Cada cultura modela ou fabrica à 
sua maneira um corpo humano. 
Toda sociedade se preocupa em im-
primir no corpo, fisicamente, deter-
minadas transformações, median-
te o qual o cultural se inscreve [...] 
o homem não tem um corpo único 
ao qual esteja para sempre confina-
do. Esse corpo é muito mais do que 
algo intrinsecamente ordenado; ele 
faz parte do universo convencional 
como qualquer outro objeto vivido 
ou concebido por humanos.
Diante dessas reflexões, é importante res-
saltar que uma saída mais justa, mais ética, 
mais humana para não infringirmos no indiví-
duo quaisquer tipos de sofrimentos psíquicos, 
construídos na sua diversidade histórica, social 
e cultural, é todos nos respeitarmos como su-
jeitos, e também respeitar nossas construções 
singulares, indiferente se somos homens ou 
mulheres, independente das nossas particu-
laridades, dos nossos desejos afetivos ou até 
mesmo do papel social que exercemos no nos-
so dia a dia. O que você pensa a respeito disso?

1.4 O uso de álcool e outras drogas 
como expressão de masculinidades
O uso de drogas se fez presente em toda a 
história da humanidade, em diferentes cultu-
ras, contextos e com diferentes objetivos e 
motivações. Este consumo pode incluir a in-
gestão de bebidas alcoólicas, medicamentos 
e a utilização de outras substâncias ilícitas, 
como a cocaína e a maconha, em diversos 
locais, como festas, na rua, em grupo ou indi-
vidualmente. Pode ser realizado por homens 
e mulheres de diferentes faixas etárias, cultu-
ras e níveis de escolaridade (MORAES, 2011).
Figura 8 – O uso de drogas é uma constante na História, em 
homens e mulheres das mais diversas idades
Fonte: Fotolia
Atualmente, o consumo dessas substâncias 
está presente em todos os países do mundo 
e suas consequências e complicações são 
conhecidas e consideradas um problema 
 28  28  28 
Atenção à saúde
mental do homem
 28  28 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
de saúde pública. Apesar de ser uma pro-
blemática comum em diversos grupos na 
sociedade, há uma diferença visível entre a 
forma que o uso de álcool e outras drogas é 
percebido, vivido e como adquire significa-
do para homens e mulheres, com marcante 
reprodução das questões de gênero.
De maneira geral, em nossa sociedade es-
pera-se, a partir do ideal de masculinida-
des, que o homem construa a sua identida-
de de homem, a qual é criada por meio de 
sanções culturais, rituais ou provas de ha-
bilidade e força (CONNELL, 1995). Há uma 
expectativa social sobre essa população, a 
qual foi educada para ter força e coragem, 
sinônimos das masculinidades heterosse-
xuais. E são justamente essas referências e 
cobranças sociais que levam os homens a 
correrem mais riscos associados ao uso de 
drogas, quando comparados às mulheres, e 
a desenvolverem diversos comportamentos 
violentos (MORAES, 2011).
A consequência da associação entre álcool 
e masculinidades pode ser observada em 
dados do Ministério da Saúde, que indicam 
que 89,1% dos óbitos entre 2000 e 2006 
resultantes do consumo de bebidas alcoó-
licas no Brasil foram de homens (BRASIL, 
2009). 
De maneira geral, comportamentos não 
saudáveis são entendidos, pelos próprios 
homens, como característicos da condição 
masculina, resultando na chamada “vul-
nerabilidade de gênero” (KNAUTH et al., 
2005). O álcool é uma droga amplamente 
consumida no mundo, observe no esque-
mático abaixo.
Essa vulnerabilidade tem sido reconheci-
da como produto de uma socialização em 
que as masculinidades do homem está 
No Brasil, o consumo total 
estimado equivale a 8,7 litros 
por pessoa, sendo superior à 
média mundial. 
Estima-se que o consumo entre os 
homens equivale a 13,6 litros por 
ano; já, entre mulheres, o índice é 
de 4,2 litros por ano.
Estima-se que indivíduos de 15 anos 
ou mais consumiram em torno de 
6,2 litros de álcool puro em 2010, 
equivalendo a 13,5g por dia. 
0 3 6 9 12 15
 29  29  29 
Atenção à saúde
mental do homem
 29  29 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
sempre à prova, vigiada inclusive por ou-
tros homens, necessitando se opor às re-
ferências feminina e homossexual (ROSA; 
NASCIMENTO, 2015).
Envoltos por todas essas regras e expec-
tativas a que são submetidos, os homens 
acabam se sujeitando a situações de risco 
ou malefício à sua integridade física, que 
são justamente as ações conectadas a es-
sas exigências sociais (ROSA; NASCIMENTO, 
2015).
Isso significa dizer que a maneira pela qual 
são construídas socialmente as masculi-
nidades influencia diretamente no fato de 
os homens ou meninos se exporem mais 
a situações arriscadas do que a população 
feminina. Para os homens, o consumo de 
substâncias psicoativas pode representar 
uma forma de expressar as suas masculi-
nidades, visto que as crenças construídas 
socialmente valorizam a exposição e su-
peração de riscos no sexo masculino, bem 
como a imagem de provedor da família.
Conforme já foi mencionado, a expressão 
do poder por meio da violência também é 
um aspecto importante nesse sentido, já 
que algumas vezes esses atos são vistos 
como elementos próprios do “ser homem”. 
Desse modo, muitas situações de violência 
estão associadas ao uso de substâncias 
psicoativas, trazendo uma demanda bem 
específica aos serviços de saúde com rela-
ção a essa população (MORAES, 2011). 
Os problemas de saúde que mais atingem 
os homens jovens são decorrentes do uso 
de álcool e outras drogas, sendo o consumo 
dessas substâncias comumente associado 
à socialização masculina, seja como passa-
gem da adolescência à vida adulta ou como 
afirmação da masculinidade ao longo da 
vida (BRASIL, 2010).
Figura 9 – Álcool e sociabilidade
 Fonte: Fotolia
Consumir bebidas alcóolicas, por exemplo, 
é visto socialmente como um privilégio do 
sexo masculino, uma maneira de diverti-
mento entre amigos, que inclui até o orgulho 
e compartilhamento de conquistas amoro-
sas ou de outros tipos. Esse padrão de com-
portamento entre homens, considerando to-
das as mudanças sociais e culturais vem se 
expandindo também entre as mulheres.
Todos esses aspectos fazem parte de uma 
tentativa de expressar as masculinidades 
 30  30  30 
Atenção à saúde
mental do homem
 30  30 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
de acordo com o que é exigido socialmente, 
muitas vezes de maneira implícita.
Para saber mais sobre o uso de álcool e suas 
representações sociais com relação à mascu-
linidade, leia: ROSA, L. F. A.; NASCIMENTO, A. 
R. A. Representações sociais de bebidas al-
coólicas para homens universitários. Arquivos 
Brasileiros de Psicologia. Rio de Janeiro, v. 
67, n. 1, p. 3-19. Disponível em: <http://seer.psicologia.ufrj.br/index.php/abp/article/do-
wnload/881/918>. Acesso em: 25 jan. 2019.

A fase da adolescência, período de grandes 
transformações, identificações e significa-
ções, tem peculiaridades relacionadas ao be-
ber e à expressão e afirmação das masculini-
dades. Os jovens parecem ter aprendido que 
o consumo do álcool é um ato próprio do ho-
mem nos ritos proporcionados pelos grupos 
de referência, utilizando-o muitas vezes como 
meio para manter a coesão, o sentido de per-
tença, de continuidade, de tradição familiar. 
É como se fosse um hábito, uma norma. 
Como se fosse ensinado que esta é a pos-
tura e a reação esperada de todos os ho-
mens (MENDOZA, 2004).
Em estudo sobre uso de álcool em adoles-
centes, Mendoza (2004) aponta a relação 
entre o consumo de álcool e as masculini-
dades, evidenciando que essa substância 
está presente como uma forma de expres-
são do “ser homem”. 
Segundo Mendoza (2004), inicialmente 
este comportamento é muitas vezes refor-
çado pelo grupo familiar, e, posteriormen-
te, pelo grupo de amigos. O álcool, além 
de um elemento facilitador da interação 
nos espaços sociais, ainda mostra-se um 
importante instrumento de afirmação e 
reconhecimento social desses indivíduos 
(MENDOZA, 2004).
Figura 10 – Consumo de álcool: uma tradição milenar?
Fonte: Fotolia
Além disso, ainda com relação aos adoles-
centes, comumente esses jovens têm di-
ficuldade de pedir apoio diante de alguma 
dificuldade por terem medo de parecer vul-
neráveis ou femininos. A repressão dessas 
emoções, algumas vezes, faz com que tam-
bém seja favorecido o consumo de drogas, 
sobretudo de álcool (BRASIL, 2010).
http://seer.psicologia.ufrj.br/index.php/abp/article/download/881/918
http://seer.psicologia.ufrj.br/index.php/abp/article/download/881/918
http://seer.psicologia.ufrj.br/index.php/abp/article/download/881/918
 31  31  31 
Atenção à saúde
mental do homem
 31  31 
UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
Nesse sentido, é visível que o processo de 
socialização dos homens interfere em como 
esses indivíduos cuidam da sua saúde. Nos 
serviços de Saúde Mental, como os Centros 
de Atenção Psicossocial – álcool e outras 
drogas (CAPS-AD), diferentemente de ou-
tros serviços de saúde pública, os homens 
são a maioria da população atendida. 
De maneira geral, eles buscam ajuda ape-
nas quando se deparam com situações de 
gravidade maior, as quais não podem ser 
solucionadas de outra forma, mostrando o 
quanto é arraigada a crença de que devem 
superar os limites de seus corpos. Isso 
ocorre porque ao longo dos anos as mascu-
linidades vem sendo associadas a fatores 
como independência, autonomia e autocon-
fiança (MORAES, 2011; JABLONSKI, 1995).
Quando consegue chegar até os serviços 
de saúde, é comum a essa população – ho-
mens usuários de álcool e outras drogas – 
se deparar com preconceito e rotulações, 
os quais equivocadamente ainda baseiam 
intervenções de profissionais visando à ma-
nutenção da abstinência. 
Ao se depararem com recaídas, o dependen-
te passa a ser visto como fraco, irresponsá-
vel, havendo uma ideia implícita de fracas-
so e de que o indivíduo é incapaz de tomar 
suas próprias decisões (MORAES, 2011).
Importante! Problematizar aspectos relacio-
nados às masculinidades é fundamental, bus-
cando descobrir de que modo influenciam na 
saúde mental dos homens e no cruzamento de 
diversas problemáticas que podem surgir nos 
atendimentos dos serviços. 

Dentre elas, entendemos que é necessário 
eliminar a lógica punitiva, restritiva ou cul-
pabilizante diante do uso de álcool e outras 
drogas, abrindo espaço para a responsabi-
lização e o resgate da autonomia desses 
sujeitos.
Figura 11 – Rotulações prévias podem comprometer o 
atendimento em saúde
Fonte: Fotolia
Para tanto, o olhar profissional, especial-
mente, deve ser voltado às estratégias de 
Redução de Danos, construção de Projeto 
Terapêutico Singular, uma escuta qualifica-
da e um acolhimento isento de julgamentos, 
 32  32  32 
Atenção à saúde
mental do homem
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UN1
Aspectos socioculturais da 
saúde mental masculina
que ajudam a garantir os princípios da cida-
dania e dos direitos humanos.
Há uma grande demanda de discussão ge-
rada a partir dessas problemáticas, já que o 
questionamento e reflexão sobre a vulnera-
bilidade dos homens nesse contexto relacio-
nado ao uso de álcool e outras drogas ainda 
não está muito presente no cotidiano das 
práticas de cuidado em saúde.
Há ainda muitos estigmas sobre o proble-
ma, tanto em homens como em mulheres, 
e muita desatenção para as peculiaridades 
e complexidades que envolvem as questões 
de gênero.
1.5 Recomendação de leituras 
complementares
Para complementar o que você estudou 
nesta unidade, leia:
SILVA, S. G. A crise da masculinidade: uma crí-
tica à identidade de gênero e à literatura mas-
culinista. Psicologia Ciência e Profissão, n. 26, 
v. 1, 2006, p. 118-131. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/pcp/v26n1/v26n1a11.
pdf>. Acesso em: 25 jan. 2019.
MORAES, M.; CASTRO, R.; PETUCO, D. (Orgs). 
Gênero e drogas: contribuições para uma 
atenção integral à saúde. Recife: Instituto PA-
PAI, 2011. (Série Homens e PolíticasPúblicas). 
Disponível em: <http://psicologiasocial.uab.
es/fic/es/webfm_send/523>. Acesso em: 25 
jan. 2019.

http://www.scielo.br/pdf/pcp/v26n1/v26n1a11.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pcp/v26n1/v26n1a11.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pcp/v26n1/v26n1a11.pdf
http://psicologiasocial.uab.es/fic/es/webfm_send/523
http://psicologiasocial.uab.es/fic/es/webfm_send/523
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
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Atenção à saúde
mental do homem
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Atenção à saúde
mental do homem
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UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
Esta unidade tem como objetivos abordar 
primeiramente os aspectos epidemiológi-
cos da saúde mental masculina relaciona-
dos ao sofrimento psíquico. Na sequência, 
veremos o Transtorno Mental Comum, os 
transtornos mentais masculinos, a questão 
do álcool e outras drogas e, por fim, o suicí-
dio em homens. 
2.1 Sofrimento psíquico
A vivência de um intenso sofrimento psíqui-
co é chamada, na psiquiatria, de transtorno 
mental, sendo compreendida como a ma-
nifestação de características psíquicas na 
vida de um indivíduo. 
As doenças mentais são constituídas por 
diversos aspectos: neurológicos, fisiológi-
cos, sociais, culturais, religiosos, filosóficos 
e econômicos. Essas manifestações cau-
sam aos indivíduos muito sofrimento psí-
quico e repercutem na vida pessoal, familiar 
e relacional. Apesar do intenso sofrimento, 
há sempre a existência da possibilidade de 
construções de recursos de enfrentamento 
das problemáticas decorrentes do proces-
so a partir das subjetividades de cada um 
(DALMOLIN; VASCONCELLOS, 2008).
O adoecimento psíquico é um problema de 
saúde pública em âmbito mundial, já que 
afeta pessoas em diversos países e regiões, 
localizadas em diferentes contextos socioe-
conômicos e culturais. 
Em geral, as pessoas nessa condição que 
procuram o sistema de saúde apresentam 
problemas agudos de ansiedade e depres-
são, com sintomas menos graves, os quais 
estão associados a eventos estressantes 
da vida, com predomínio de sintomas somá-
ticos em relação aos sintomas psicológicos 
(FORTES; VILLANO; LOPES, 2008).
 36  36  36 
Atenção à saúde
mental do homem
 36  36 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
Figura 12 – Aspectos culturais estão relacionados às doen-
ças mentais
Fonte: Fotolia
Uma pesquisa realizada nos serviços de 
Atenção Primária, em São Paulo, com ho-
mens de 18 a60 anos, mostrou que 29,4% 
dos indivíduos atendidos eram casos que 
apresentavam sofrimento mental, sendo a 
prevalência maior em homens solteiros ou 
naqueles que consumiam algum tipo de 
Percebe-se, então, que relacionar papéis so-
ciais, gênero, sofrimento psíquico, bem como 
as desordens psiquiátricas, é algo muito 
complexo e influenciado por vários aspectos.
A assistência psiquiátrica no Brasil vem 
passando por grandes transformações nas 
últimas décadas, principalmente após o mo-
vimento de Reforma Psiquiátrica, que pro-
pôs outras práticas de promoção de saúde 
mental, fora dos regimes de internações 
fechadas, como é o caso dos manicômios. 
Para isso, atualmente a atenção a essa po-
pulação tem sido realizada nos Centros de 
Atenção Psicossocial (CAPS), com o obje-
tivo de oferecer atendimento à população 
em um modelo que prioriza a reabilitação 
e a reintegração psicossocial do indivíduo 
pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos 
direitos civis e fortalecimento dos laços fa-
miliares e comunitários.
substância psicoativa. Além disso, 87,9% 
dos prontuários com queixa psicológica 
(depressão, ansiedade, raiva, insônia, dis-
túrbios de sono, entre outros) eram de ho-
mens que relataram alguma forma de vio-
lência frequente, principalmente física ou 
sexual (ALBUQUERQUE; BARROS; SCHREI-
BER, 2013).
Outro estudo, realizado por Sachs-Ericsson 
et al. (2000), correlaciona gênero, papéis so-
ciais e desordens psiquiátricas, mostrando, 
ao encontro de outras pesquisas, que não 
existem diferenças significativas de gêne-
ro nas perturbações psiquiátricas, sendo 
15,3% para homens e 17,3% para as mulhe-
res. Em patologias específicas como de-
pressão, distimia, ansiedade generalizada, 
pânico e fobia, as mulheres tiveram taxas 
mais elevadas. Já os homens lideraram no 
abuso de drogas ilícitas e álcool. 
 37  37  37 
Atenção à saúde
mental do homem
 37  37 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
Reforma Psiquiátrica > A Reforma Psiquiátrica 
brasileira é um movimento social que surgiu 
no final dos anos 1970, durante a crise do mo-
delo de assistência em saúde mental centrado 
no hospital psiquiátrico. 
Inicialmente, os profissionais de saúde mental 
e os familiares das pessoas com transtornos 
começam a denunciar os manicômios como 
locais de violência, propondo, em seguida, a 
construção de uma rede de serviços com atua-
ção territorial e comunitária, sem isolar os in-
divíduos da sociedade. 
Em 1990 o Brasil assina a Declaração de Cara-
cas, a qual propõe a reestruturação da assis-
tência psiquiátrica, e em 2001 é aprovada a Lei 
10.216, que dispõe sobre o direito das pessoas 
portadoras de transtornos mentais e redirecio-
na o modelo de atenção em saúde mental. 
Da aprovação da lei origina-se a Política de 
Saúde Mental, que tem como objetivo garan-
tir o cuidado desses indivíduos nos serviços 
substitutivos, como os CAPS e hospitais ge-
rais, superando a lógica das internações fe-
chadas e de longa permanência.

Nesse sentido, os estudos epidemiológicos 
são de grande importância para determinar 
a magnitude das questões em saúde men-
tal, causadoras de muito sofrimento psí-
quico, sendo muito úteis e relevantes nas 
decisões e no planejamento de políticas 
públicas de saúde mental, bem como na or-
ganização dos serviços e nas estratégias de 
prevenção e tratamento. 
2.2 Transtorto Mental Comum – TMC
Segundo a Organização Mundial da Saúde 
(OMS), a prevalência e o impacto dos trans-
tornos mentais, assim como os problemas 
de saúde mental de maneira geral, foram 
durante muito tempo subestimados, sendo 
frequentemente tratados de maneira inade-
quada e mal diagnosticados (WHO, 2001). 
Atualmente, essa questão desperta cada 
vez mais o interesse da sociedade e do po-
der público, fazendo com que muitos paí-
ses construam políticas de saúde mental 
comprometidas com o desenvolvimento de 
novas formas de cuidado, com a melhoria 
da qualidade de vida, garantia dos direi-
tos de cidadania e combate às formas de 
violência, exclusão e estigma de que são 
alvo as pessoas com transtornos mentais 
(AMARANTE, 1995). 
Quadro 1 – Transtornos Mentais Comuns: sintomas
Os Transtornos Mentais Comuns (TMC) 
caracterizam-se por um conjunto de sintomas
Irritabilidade
Fadiga
Insônia
Nervosismo
Dificuldade de concentração
Esquecimento
Ansiedade
Depressão
Dores de cabeça
Queixas somáticas inespecíficas (sintomas psiquiátri-
cos não-psicóticos)
Fonte: Goldberg (1992) 
 38  38  38 
Atenção à saúde
mental do homem
 38  38 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
Cerca de 90% das manifestações psiquiá-
tricas se referem a esse tipo de transtorno, 
principalmente a depressão e ansiedade, as 
quais constituem as duas grandes dimen-
sões desse tipo de transtorno (WHO, 2001).
Segundo Santos (2002), Transtorno Mental 
Comum se refere à situação de saúde de 
uma população que não preenche os crité-
rios formais para diagnósticos de depressão 
ou ansiedade segundo as classificações 
DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual 
of Mental Disorders – Fourth Edition) e CID-
10 (Classificação Internacional de Doenças 
– 10ª Revisão). Apesar de não preencherem 
os referidos critérios, apresentam sintomas 
que acarretam algum comprometimento na 
sua vida pessoal e profissional. De maneira 
geral, esse quadro clínico não faz os indiví-
duos procurarem a assistência necessária, 
e muitas vezes, ao procurarem, são sub-
diagnosticados e acabam não recebendo o 
tratamento adequado.
Estudo realizado por Coutinho (1999) apon-
tou que nas grandes capitais Porto Alegre e 
São Paulo, cerca de 50% das pessoas que 
procuram a Atenção Primária em Saúde são 
consideradas portadores de transtornos 
mentais não-psicóticos. Já no Rio de Janei-
ro esse quadro aparece em cerca de um ter-
ço dos pacientes em um ambulatório geral 
universitário (COUTINHO, 1999). 
Em outro estudo, realizado em 2002, no Re-
cife, evidenciou-se prevalência de 35% de 
TMC (LUDERMIR; MELO FILHO, 2002).
No que diz respeito às diferenças entre gêne-
ros, estudo transversal realizado em Pelotas, 
no Rio Grande do Sul, em 2004 e 2005, apre-
sentou resultados consistentes com estudos 
prévios. A prevalência de transtornos mentais 
comuns na população geral foi 28,0%, sendo 
32,8% entre mulheres e 23,5% dos homens. O 
estudo apontou que a chance de falsos-nega-
tivos entre os homens é maior quando se re-
Estudos epidemiológicos mostram que 
milhões de pessoas sofrem algum tipo de 
transtorno mental no mundo e este número 
vem aumentando progressivamente, espe-
cialmente nos países em desenvolvimento. 
Alguns estudos populacionais realizados 
no Brasil estimaram a prevalência de TMC 
em adolescentes e adultos, os quais verifi-
caram 36,0% no Nordeste (COSTA; LUDER-
MIR, 2005) e 17,0% no Sudeste (MARIAN-
-LEON et al., 2007). Já na região Sul do país, 
na cidade de Pelotas, 28,8% de adolescen-
tes apresentaram TMC; 28,5% de adultos e 
22,7% de indivíduos com 15 anos ou mais 
(LIMA; SOARES; MARI, 1999).
Como os TMC se expressam principalmen-
te por meio de queixas somáticas inespe-
cíficas, é alta a sua prevalência na Atenção 
Básica, já que é a primeira entrada dos servi-
ços de saúde (FONSECA; GUIMARÃES; VAS-
CONCELOS, 2008). 
 39  39  39 
Atenção à saúde
mental do homem
 39  39 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
fere à triagem em saúde mental. Isso ocorre 
porque os homens, além de usualmente asso-
ciar doença à fraqueza, tendem a demonstrar 
menos suas ansiedades e os sentimentos de 
tristeza quando comparados às mulheres, 
inclusive tendo dificuldade de relatar seus 
sintomas emocionais para entrevistadores 
(ANSELMI et al., 2008). Observe no mapa o 
panoramado Transtorno Mental Comum.
“Transtornos mentais são a terceira causa de 
afastamento do trabalho”. Assista em: <https:// 
www.youtube.com/watch?v=-Xj8OLgVRjM>. 
Acesso em: 25 jan. 2019

Dados de outro estudo, cujo objetivo era ve-
rificar a prevalência de casos suspeitos de 
TMC em uma população assistida por uma 
equipe do Programa Saúde da Família (PSF), 
mostraram também que o gênero feminino 
apresentou uma taxa de prevalência signifi-
cativamente mais elevada de TMC (48,37%), 
quando comparado ao gênero masculino 
(34,41%) (MOREIRA, 2010).
No Recife, foi encontrada a prevalência de 
35% de TMC, em 2002 (LUDERMIR; MELO 
FILHO, 2002).
Segundo Coutinho (1999), em 
Porto Alegre e São Paulo cerca 
de 50% das pessoas que 
procuram a Atenção Básica 
são portadores de transtornos 
mentais não-psicóticos.
No Rio de Janeiro, cerca de um 
terço dos pacientes em um 
ambulatório geral universitário 
apresentavam esse quadro.
Em Pelotas, a prevalência de 
TMC na população geral foi 
28,0%, sendo 32,8% entre 
mulheres e 23,5% dos homens. 
O estudo apontou que a chance 
de falsos-negativos entre os 
homens é maior que para as 
mulheres. Ao associar doença à 
fraqueza, os homens acabam por 
demonstrar menos suas 
ansiedades e sentimentos de 
tristeza, ou seja, têm dificuldade 
em relatar seus sintomas 
emocionais para entrevistadores 
(ANSELMI et al., 2008).
 40  40  40 
Atenção à saúde
mental do homem
 40  40 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
Destaca-se que, de maneira geral, as mu-
lheres apresentam maior risco e maior 
prevalência para os transtornos não-psi-
cóticos ou transtornos mentais comuns, 
podendo estar relacionados com fatores 
biológicos e hormonais, derivados do ciclo 
menstrual, do pós-parto (WHO, 2001) ou 
também às questões de gênero. 
Importante! Você sabia que os transtornos re-
lacionados ao uso de substâncias psicoativas 
são mais prevalentes na população mascu-
lina? Isso acontece porque as mulheres têm 
maior facilidade de identificar os sintomas, 
admiti-los e buscar ajuda, enquanto os ho-
mens tendem a buscar nas drogas lícitas e 
ilícitas uma maneira de aliviar seu sofrimento 
psíquico ou angústia (SANTOS, 2010).

Com relação ao tratamento dos Transtor-
nos Mentais Comuns, ainda existe uma 
grande dificuldade em relação ao aces-
so e à procura pelos serviços de saúde. 
As barreiras são inúmeras: culturais, fi-
nanceiras e estruturais, ou seja, os servi-
ços não estão preparados para atender 
e diagnosticar esses casos, com pouca 
disponibilidade e falta de treinamento das 
equipes de atenção básica para fazerem 
o acolhimento e encaminhamento dessas 
pessoas. Além disso, um aspecto muito 
importante a respeito dessa condição re-
fere-se ao estigma sobre o adoecimento 
psíquico, ainda existente nas práticas de 
saúde, que dificulta ainda mais a procura 
e a eficácia dos atendimentos e das ações 
de cuidado.
Diante disso, um desafio que se coloca é 
formar profissionais aptos a diagnosticar e 
tratar adequadamente os Transtornos Men-
tais Comuns, especialmente aqueles mais 
prevalentes, como é o caso da ansiedade e 
da depressão.
Figura 13 – TMC: ansiedade e depressão
Fonte: Fotolia
De maneira geral, os estudos realizados no 
Brasil e em países com economia seme-
lhante, apontam que há alta taxa de preva-
lência de TMC na Atenção Primária e na co-
munidade, bem como falta de capacitação 
adequada para as equipes de saúde, que 
possibilite aos profissionais compreende-
rem como lidar com essas formas de sofri-
mento, as quais não estão classificadas nos 
manuais de diagnóstico (FONSECA; GUIMA-
RÃES; VASCONCELOS, 2008).
 41  41  41 
Atenção à saúde
mental do homem
 41  41 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
2.3 Transtornos Mentais
Segundo dados da Organização Mundial da 
Saúde (OMS), uma em cada quatro pessoas 
sofrerão algum transtorno mental ou com-
portamental em um dado momento da vida. 
Estimou-se que, em 2001, aproximadamen-
te 450 milhões de pessoas no mundo apre-
sentavam algum tipo de transtorno neuro-
biológico ou psicossocial, com 5% a 10% 
dos trabalhadores sendo acometidos por 
transtornos mentais graves (WHO, 2001).
A OMS também estimou que em 2020 te-
remos no mundo 154 milhões de pessoas 
com depressão, 25 milhões com esquizo-
frenia, 91 milhões com problemas de al-
coolismo e 15 milhões com uso de drogas 
(WHO, 2011). 
Na população geral, em estudo com mais 
de 60 mil adultos de 14 países, a OMS re-
gistrou que a presença de algum transtorno 
psíquico presente no DSM-IV (Diagnostic 
and Statistical Manual of Mental Disorders 
– Fourth Edition) variou de 4% em Xangai, 
na China, a 26% nos Estados Unidos (WHO, 
2004). Dessa forma, os transtornos psi-
quiátricos merecem atenção da sociedade, 
dos serviços de saúde e também do meio 
científico. 
É importante pontuar que no caso dessas 
pesquisas, existem limitações metodoló-
gicas para quantificar essa questão em 
amostras populacionais, tendo-se em vis-
ta a diversidade de instrumentos, contex-
tos sociais e patologias. Mesmo assim, 
os dados epidemiológicos têm sido con-
fiáveis para estimar a magnitude dessa 
problemática.
São poucos os estudos existentes que mos-
tram prevalência de transtornos psiquiátri-
cos em adultos. Kohn et al. (2005) reuniram 
publicações da América Latina e do Caribe 
entre 1980 e 2004, verificando que as psi-
coses afetivas e a esquizofrenia foram ob-
servadas em 1,4% da população em algum 
momento da vida, sem diferenças significa-
tivas entre os sexos.
Um estudo realizado em São Paulo, Porto 
Alegre e Brasília mostrou que os índices de 
transtorno mental na vida foram de 30%, 
43% e 51% respectivamente. Entre as mu-
lheres, as prevalências foram maiores em 
Porto Alegre (50%) e Brasília (54%), enquan-
to que em homens foi maior em São Paulo 
(33%). 
Os diagnósticos específicos para os trans-
tornos delirantes, como esquizofrenias, 
manias e quadros psicóticos atingiu preva-
lências que variaram entre 1% e 4% (ALMEI-
DA-FILHO et al., 1997).
 42  42  42 
Atenção à saúde
mental do homem
 42  42 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
Figura 14 – Índices de Transtornos mentais na vida em 
grandes cidades.
TM
São Paulo
30%
Brasília
51%
Porto
Alegre
43%
Fonte: Almeida-Filho et al (1997)
No Brasil, estudo realizado com adultos 
mostrou que a prevalência de indivíduos 
com pelo menos um diagnóstico do DSM-III 
(Diagnostic and Statistical Manual of Men-
tal Disorders – Third Edition), encontrou 61% 
em Brasília, 35% em São Paulo e 52% em 
Porto Alegre (SANTOS; SIQUEIRA, 2010).
Em transtornos mentais específicos, a es-
quizofrenia situa-se em torno de 1% na po-
pulação em geral (PÁDUA et al., 2005), e os 
transtornos bipolares atingem de 3% a 6% 
da população (SHANSIS; CORDIOLI, 2005). 
Em estudo da Universidade de Harvard e da 
Organização Mundial de Saúde (OMS), das 
10 principais causas de incapacitação em 
todo o mundo, cinco delas estavam asso-
ciadas aos TM, dentre as quais a depressão 
(13%), a ingestão de álcool (7,1%), os trans-
tornos afetivos bipolares (3,3%), a esquizo-
frenia (4%) e os distúrbios obsessivo-com-
pulsivos (2,8%).
Outro aspecto relevante sobre os agravos 
de saúde, e especialmente sobre a saúde 
mental, é a violência. Homens envolvidos 
em situações de violência têm sua saúde 
muito impactada, e muitas vezes essas si-
tuações são negligenciadas pelos serviços 
de saúde. O impacto da violência sofrida 
pela população masculina é demonstrado 
em estudos nos quais há associação entre 
episódios de agressão a sintomas de so-
frimento mental e transtornos mentais co-
muns e graves. As agressões se referem à 
violência doméstica e violência urbana (AL-BUQUERQUE; BARROS; SCHRAIBER, 2013).
Gráfico 1 – Cinco dentre as principais causas mundiais de 
incapacitação
0% 3% 6% 9% 12% 15%
Depressão
13%
Alcoolismo
7,1%
Transtornos Afetivos Bipolares
3,3%
Esquizofrenia
4%
Distúrbios obsessivo-compulsivos
2,8%
Fonte: Albuquerque; Barros; Schraiber (2013)
 43  43  43 
Atenção à saúde
mental do homem
 43  43 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
Importante! Homens que sofreram violência 
por parceiro íntimo são mais propensos a apre-
sentarem sintomas de depressão, fazerem uso 
de medicação psiquiátrica e desenvolver doen-
ça mental crônica, além de terem a percepção 
de que sua saúde é frágil (COKER et al., 2002).

Essa população foi estudada por Rhodes et al. 
(2009), mais especificamente homens aten-
didos em hospital dos Estados Unidos. Estes 
apresentaram taxas mais altas de problemas 
psiquiátricos em comparação aos não envol-
vidos em situações de violência, com 18,4% e 
3,3%, respectivamente. Mostraram sintomas 
de depressão grave ou moderada, e também 
observou-se prevalência de transtorno pós-
-traumático em 10,3% dos homens envolvi-
dos, e 1,1% entre os não envolvidos. 
Dentre os homens que relataram sofrer de 
ansiedade ou nervosismo (registro mais 
prevalente), 89,6% referiram ter sofrido si-
tuações de violência recorrente, em espe-
cial física ou sexual. Dos homens que apre-
sentaram algum tipo de sofrimento mental 
(com queixa, diagnóstico ou utilização do 
serviço de Saúde Mental), 45,7% foram sub-
metidos a situações de violência física ou 
sexual mais de uma vez, além de 25,7%, que 
relataram sofrer uma vez (ALBUQUERQUE; 
BARROS; SCHRAIBER, 2013).
Dados do Ministério da Saúde apontam que 
3% da população geral brasileira sofre com 
transtornos mentais graves e persistentes; 
6% com transtornos psiquiátricos graves de-
correntes do uso de álcool e outras drogas, 
e 12% necessitam de algum atendimento, 
seja ele contínuo ou esporádico.
Fonte: Brasil (2007)
Gráfico 2 – Transtornos mentais graves e persistentes na população (geral) brasileira.
Necessitam de algum atendimento
12%
Sofrem de transtornos psiquiátricos graves 
decorrentes do uso de álcool e outras drogas
6%
Sofrem de transtornos mentais
graves e persistentes
3%
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12%
 44  44  44 
Atenção à saúde
mental do homem
 44  44 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
Além desses dados, foi revelado que o ín-
dice de utilização dos serviços de saúde 
ainda é baixo, cerca de 13% (BRASIL, 2007). 
Isso significa que a maioria das pessoas 
com algum transtorno mental não procura 
atendimento em saúde mental, o que pare-
ce estar relacionado ao preconceito, desco-
nhecimento da doença e também à falta de 
treinamento das equipes de saúde.
No que se refere às diferenças entre gêne-
ros, no caso do transtorno de humor bipolar, 
estudos referem que não há diferença sig-
nificativa entre homens e mulheres. Kessler 
et al. (1994) estimaram que a prevalência 
de mania na vida é de 1,7% para mulheres e 
1,8% para os homens. Formas mais leves do 
transtorno elevariam os números para 3,5% 
a 5% (AKISKAL et al., 2000).
De maneira geral, as prevalências de trans-
tornos psiquiátricos não diferem signifi-
cativamente entre os sexos, sendo 26,4% 
para os homens e 24,7% para as mulheres. 
Destaca-se a predominância do alcoolis-
mo nos homens e também o transtorno 
antissocial. Já no sexo feminino predomi-
nam as psicoses. A esquizofrenia fica em 
torno de 0,98% para ambos os sexos. As 
internações psiquiátricas parecem seguir o 
mesmo padrão quando realizadas compa-
rações entre gênero: 0,5% foi a taxa da pri-
meira internação para as mulheres e 0,7% 
para os homens (MORGADO; COUTINHO, 
1985).
Importante! Os transtornos psiquiátricos são 
observados em ambos os sexos, mas os ho-
mens, por sua dificuldade em falar sobre suas 
angústias e problemas, devem receber um 
olhar que considere esse aspecto. Além dis-
so, há muitas outras diferenciações entre os 
gêneros que podem influenciar tanto no trata-
mento quanto nas origens desses transtornos, 
os quais estão associados aos papéis sociais 
que os homens exercem e as cobranças refe-
rentes à sua masculinidade.

Para ampliar seu conhecimento sobre transtor-
nos mentais, você pode pesquisar no livro: DS-
M-V-TRTM: Manual diagnóstico e estatístico de 
transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Art-
med, 2014. Disponível em: <https://aempreen 
dedora.com.br/wp-content/uploads/2017/04/
Manual-Diagn%C 3%B 3s t ico-e-E s tat% 
C3%ADstico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5.
pdf> Acesso em: 25 jan. 2019

2.4 Álcool e outras drogas
No ano de 2011, o Escritório das Nações 
Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) es-
timou que de 167 a 315 milhões de pessoas 
no mundo, com idade entre 15 e 64 anos, fi-
zeram uso de alguma substância ilícita no 
último ano. Esse dado corresponde a 3,6% e 
6,9% da população mundial adulta. Em com-
paração com o ano de 2008, houve aumen-
to de 18% no número total de pessoas que 
consumiram drogas ilícitas no último ano, o 
que reflete um aumento na população mun-
dial e também da prevalência do uso desse 
tipo de substâncias (UNODC, 2011).
 45  45  45 
Atenção à saúde
mental do homem
 45  45 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
O VI Levantamento sobre o Consumo de 
Drogas em Estudantes de 12 a 18 anos das 
27 capitais brasileiras, realizado pelo Cen-
tro Brasileiro de Informações sobre Drogas 
Psicotrópicas (CEBRID), em 2010, mostrou 
que 25,5% dos estudantes referiram uso na 
vida de alguma droga (com exceção de ál-
cool e tabaco), 10,6% uso no último ano e 
5,5% uso no último mês. 
Fazendo comparações entre os gêneros mas-
culino e feminino, esse mesmo levantamen-
to aponta que os homens usam mais drogas 
como cocaína (3,6% e 1,5%), solventes (9,4% 
e 8,1%), maconha (7,2% e 4,3%) e esteroides 
(2,3% e 0,5%) (CARLINI et al., 2010).
Os dados apontados corroboram com o II 
Levantamento Domiciliar sobre Uso de Dro-
gas Psicotrópicas no Brasil (2005), o qual 
mostrou que os indivíduos do sexo masculi-
no, comparados com o sexo feminino, apre-
sentam maior prevalência de uso na vida de 
álcool, tabaco, maconha, solventes, cocaína, 
alucinógenos, crack, merla e esteroides. Já 
as mulheres, por sua vez, apresentam maio-
res usos de estimulantes, benzodiazepínicos, 
orexígenos e opiáceos (CARLINI et al., 2007).
Detalhando um pouco mais alguns tipos de 
substâncias psicoativas que apresentaram 
resultados relevantes nessa pesquisa, o uso 
de tabaco ao longo da vida está presente 
em 50,5% dos homens, enquanto que, entre 
mulheres, o índice é de 39,2%. 
Essa diferença entre gêneros também é vi-
sível em relação aos dependentes dessa 
substância, sendo 11,3% no sexo masculino 
e 9,0% no feminino. 
Quadro 2 – O consumo de drogas em estudantes de 12 a 18 anos nas capitais brasileiras, 2010
No Brasil, levantamento sobre o consumo 
de drogas em estudantes de 12 a 18 anos 
nas capitais no ano de 2010 mostrou que: 
25,5% dos estudantes re-
feriram uso na vida de al-
guma droga (com exceção 
de álcool e tabaco)
10,6% uso no último ano
5,5% uso no último mês
Comparando gêneros masculino e femi-
nino, este mesmo levantamento revela 
quais são as drogas de uso frequente:
Tipo de droga Uso por homens Uso por mulheres
Cocaína 3,6% 1,5%
Solventes 9,4% 8,1%
Maconha 7,2% 4,3%
Esteroides 2,3% 0,5%
Fonte: Carlini et al. (2010).
 46  46  46 
Atenção à saúde
mental do homem
 46  46 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
Apesar de a prevalência ser maior entre os 
homens, esse dado mostra que a relação 
entre uso e dependência aparenta padrão 
semelhante entre os sexos, sendo quepara 
cada quatro homens ou mulheres que fa-
zem uso de tabaco, um se torna dependente 
(CARLINI et al., 2007).
Com relação à maconha, o uso na vida é em 
média três vezes maior para o sexo mas-
culino do que para o feminino, em todas as 
faixas etárias, totalizando 14,3% e 5,1%, res-
pectivamente. A dependência de maconha 
foi aproximadamente cinco vezes maior 
entre os homens (2,41%) do que entre mu-
lheres (0,54%). A cocaína apresenta padrão 
semelhante, com prevalência de uso na vida 
entre 5,4% dos homens e 1,2% das mulhe-
res, com maior diferença entre os gêneros a 
partir dos 35 anos (com 4,5% de homens e 
0,6% de mulheres). Já o uso de solventes na 
vida ficou com 10,3% para o sexo masculino 
e 3,3% para o feminino. Os dependentes so-
pode ser relevante para explicar o consumo 
ampliado de drogas para o sexo masculino é 
a prevalência do oferecimento de drogas aos 
indivíduos. Entre os homens, 8,6% referiram 
que já lhe foi oferecido algum tipo de droga, 
sendo que entre as mulheres esse número 
cai para 2,8% (CARLINI et al., 2007).
No que se refere às consequências do uso 
de substâncias psicoativas, cerca de 87% 
mam 0,27% e 0,20%, respectivamente (CAR-
LINI et al., 2007).
Além desses importantes dados, o estudo 
mostra que a percepção de risco grave do 
uso de álcool, maconha e cocaína ou crack 
é maior nas mulheres do que nos homens, o 
que de certa forma explica o consumo mais 
frequente e mais intenso dessas substâncias 
pelo sexo masculino. Outro dado que também 
Quadro 3 – Tipos de drogas e seus usos entre homens e mulheres
Tipo de droga Homens Mulheres
Maconha
Uso 14,3% Uso 5,1%
Dependência 2,41% Dependência 0,54%
Cocaína Uso 5,4% Uso 1,2%
Solventes
Uso 10,3% Uso 3,3%
Dependência 0,27% Dependência 0,20%
Fonte: Carlini et al. (2007).
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Atenção à saúde
mental do homem
 47  47 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
das mortes associadas com essa questão 
ocorrem com os homens, mostrando que 
as taxas de mortalidade são bem maiores 
para esse público específico. Os acidentes 
de trânsito após o consumo de drogas, es-
pecialmente, têm prevalência de 4,1% para 
o sexo masculino e 0,6% para o feminino 
(CARLINI et al., 2007).
O álcool, por ser uma droga lícita ampla-
mente consumida ao redor do mundo, 
merece atenção especial. A Organização 
Mundial da Saúde (OMS) estima existirem 
cerca de dois bilhões de pessoas no mun-
do que consomem essa substância, sendo 
que, dentre os usuários, 76,3 milhões apre-
sentam problemas com o uso de bebidas 
alcoólicas, o que constitui um índice alar-
mante (WHO, 2004). No Brasil, dados de-
mográficos apontam que o consumo do 
álcool determina mais de 10% de toda a 
morbidade e mortalidade ocorrida no país, 
o que representa um dos problemas de saú-
de pública mais graves da atualidade (ME-
LONI; LARANJEIRA, 2004).
Quando comparamos os dados epidemio-
lógicos do consumo de álcool entre ho-
mens e mulheres, vemos situações bem 
distintas. De acordo com o Levantamento 
Nacional de Álcool e Drogas realizado no 
ano de 2012, 62% dos homens entrevista-
dos e 39% das mulheres afirmaram ter con-
sumido álcool no último ano. Já o hábito de 
beber regularmente, mais especificamente 
uma vez na semana ou mais, mostrou-se 
similar ao anterior, estando presente em 
64% dos homens e 39% das mulheres. Por 
fim, o beber em binge, que corresponde à 
ingestão de quatro a cinco doses de álcool 
no período de duas horas, foi relatado por 
66% dos homens e 49% das mulheres en-
trevistadas. Esses dados mostram a inges-
tão pesada entre homens e mulheres; mas 
fica evidente que os homens bebem mais 
quando fazemos essa comparação. Da 
mesma forma, com relação à dependência 
de álcool na população brasileira, o levan-
tamento mostra que o consumo regular e 
abusivo do álcool está presente em 6,8% 
da população, sendo 10,5% homens e 3,6% 
mulheres, com visíveis diferenças entre gê-
nero (LENAD, 2013).
Quadro 4 – Consumo de álcool entre homens e mulheres
De acordo com o Levantamento Nacional de 
Álcool e Drogas realizado no ano de 2012
62% dos homens entrevistados e 39% das mulheres afirmaram ter 
consumido álcool no último ano.
Destes, 66% dos homens e 49% das mulheres destacaram o beber 
em binge (ingestão de quatro a cinco doses de álcool no período de 
duas horas).
Fonte: Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (2013)
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Atenção à saúde
mental do homem
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UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
Em 2005 o II Levantamento Domiciliar so-
bre Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, 
os homens também apresentam maior pre-
valência de uso na vida de álcool em todas 
as faixas etárias e regiões do Brasil, com 
83,5% e 68,3% das mulheres. Com relação 
à dependência do álcool, o sexo masculino 
apresenta porcentagem três vezes maior do 
que a do feminino no total (19,5% e 6,9%) e 
especificamente acima dos 24 anos (23,2% 
e 7,7%). Isso significa que de cada quatro 
pessoas do sexo masculino que fazem uso 
na vida de álcool, uma delas torna-se depen-
dente. A proporção para o sexo feminino foi 
de 10:1 (CARLINI et al., 2007).
Estudo de Borini et al. (1994) sobre o uso 
de álcool entre os estudantes de medicina 
de duas faculdades apontou que 11,8% dos 
estudantes do sexo masculino e 1,3% do 
feminino foram classificados como bebe-
dores-problema, e 4,2% do sexo masculino 
e 0,8% do feminino como sendo dependen-
tes do álcool. 
Importante! O I Levantamento Nacional sobre 
o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre 
Universitários das 27 Capitais Brasileiras, em 
2010, também apontou que o álcool é a droga 
mais consumida entre os jovens universitários, 
com alta prevalência de uso entre os estudan-
tes do sexo masculino (BRASIL, 2010).

No que se refere aos comportamentos de 
risco após a ingesta de bebidas alcoólicas, 
os homens também saem na frente, com 
27,3%, ficando as mulheres com 7,1%. 
É importante apontar que em comparação a 
2010, a quantidade de homens que apresen-
tavam esse comportamento diminuiu 6,4% 
(LENAD, 2013). Carlini et al. (2007) mostram 
também que 12,2% dos homens entrevis-
tados se expuseram a riscos físicos asso-
ciados ao beber (por exemplo: dirigir, usar 
máquinas, nadar), sendo que nas mulheres 
ocorreu com 3,7%.
Outro apontamento relevante com relação 
ao uso de álcool é que quase dois terços dos 
homens jovens que fazem consumo abusi-
vo de álcool já se envolveram em briga com 
agressão física no último ano (LENAD, 2013). 
Nesse sentido, o álcool ou a sua associação 
com outras drogas pode frequentemente 
representar um fator gerador de violência. 
Dessa forma, esse risco da associação do 
álcool com a violência ocorre para além 
dos consumidores regulares de álcool, mas 
também entre os moderados ou eventuais 
(RABELLO; CALDAS JUNIOR, 2007). 
Dentre as mulheres que sofrem violência e 
procuram ajuda, o uso de álcool pelo parcei-
ro está presente em 70% dos casos, verifi-
cando-se também associação direta entre o 
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Atenção à saúde
mental do homem
 49  49 
UN2
Aspectos epidemiológicos 
na saúde mental masculina
uso dessa substância e agressão aos filhos 
(ADEODATO et al., 2005). 
A pesquisa nacional realizada por Galduroz 
et al. (2009) constatou que em 49,8% dos 
casos de violência dentro de casa o autor 
havia consumido bebida alcoólica. Verifica-
-se, então, que dentre as substâncias psi-
coativas, o álcool é a mais prejudicial para o 
funcionamento familiar.
Em 2004, outra pesquisa com 3872 ado-
lescentes de ambos os sexos mostrou que 
aqueles que tinham consumido álcool mais 
de vinte vezes na vida tinham duas vezes 
maior probabilidade de ter comportamentos 
violentos em comparação aos que nunca ti-
nham

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