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Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco, Ricardo Razaboni. Bruna Pinotti Garcia. Mariela Cardoso Guilherme Cardoso. Rodrigo Gonçalves. Carlos Quiqueto. Ricardo Razaboni Polícia Civil do Estado de Minas Gerais PC-MG Escrivão de Polícia I Todos os direitos autorais desta obra são protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/12/1998. Proibida a reprodução, total ou parcialmente, sem autorização prévia expressa por escrito da editora e do autor. Se você conhece algum caso de “pirataria” de nossos materiais, denuncie pelo sac@novaconcursos.com.br. www.novaconcursos.com.br sac@novaconcursos.com.br OBRA Polícia Civil do Estado de Minas Gerais - PC-MG Cargo: Escrivão de Polícia I AUTORES Língua Portuguesa - Profa. Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco Programa de Direitos Humanos - Bruna Pinotti Garcia Programa de Língua Portuguesa - Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco Programa de Noções de Criminologia - Ricardo Razaboni Programa de Noções de Direito Administrativo - Bruna Pinotti Garcia Programa de Noções de Civil - Mariela Cardoso Programa de Noções de Direito Constitucional - Guilherme Cardoso Programa de Noções de Direito Penal - Rodrigo Gonçalves Programa de Noções Processual Penal - Rodrigo Gonçalves Programa de Noções de Informática - Carlos Quiqueto Programa de Noções de Medicina Legal - Ricardo Razaboni PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO Suelen Domenica Pereira Elaine Cristina DIAGRAMAÇÃO Elaine Cristina Thais Regis Camila Lopes CAPA Joel Ferreira dos Santos Publicado em 07/2018 SUMÁRIO PROGRAMA DE DIREITOS HUMANOS A Constituição Brasileira de 1988. ..................................................................................................................................... 01 Noções gerais sobre direitos humanos. ............................................................................................................................ 03 Gerações de direitos humanos .......................................................................................................................................... 11 A Constituição Brasileira de 1988 e os Tratados Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos. ........................ 12 O Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos. ........................................................................................ 14 O Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos e a Redefinição da Cidadania no Brasil. ...................... 27 A Constituição Brasileira de 1988: Dos princípios fundamentais. ................................................................................. 30 A Constituição Brasileira de 1988: Dos Direitos e Garantias Fundamentais. ................................................................ 37 Dos direitos e deveres individuais e coletivos. ................................................................................................................. 37 Dos direitos sociais. ............................................................................................................................................................ 66 Da nacionalidade. ............................................................................................................................................................... 79 Dos direitos políticos. ......................................................................................................................................................... 85 Dos partidos políticos. ....................................................................................................................................................... 88 Direitos humanos das minorias e grupos vulneráveis. ................................................................................................... 90 Política nacional de direitos humanos. ............................................................................................................................. 95 PROGRAMA DE NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA Criminologia: conceito, cientificidade, objeto, método, sistema e funções. ................................................................. 01 Fundamentos históricos e filosóficos da Criminologia: precursores, Iluminismo e as primeiras escolas sociológicas. Marcos científicos da Criminologia. A escola liberal clássica do Direito Penal e a Criminologia positivista. ............ 03 A Moderna Criminologia científica: modelos teóricos explicativos do comportamento criminal. Biologia criminal, Psicologia Criminal e Sociologia Criminal. ...................................................................................................................... 06 Teoria Estrutural-Funcionalista do desvio e da anomia. ................................................................................................ 09 Teoria das Subculturas Criminais. .................................................................................................................................... 09 Do “Labeling Approach” a uma criminologia crítica. ..................................................................................................... 09 A sociologia do conflito e a sua aplicação criminológica. .............................................................................................. 11 Sistema penal e reprodução da realidade social. ............................................................................................................. 11 Cárcere e marginalidade social. ........................................................................................................................................ 11 Modelo consensual de Justiça Criminal. .......................................................................................................................... 11 PROGRAMA DE NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO Lei Orgânica da Polícia Civil. ............................................................................................................................................. 01 Administração Pública. ...................................................................................................................................................... 28 Conceito e princípios. ........................................................................................................................................................ 28 Administração pública direta e indireta. .......................................................................................................................... 36 Agentes públicos. ................................................................................................................................................................ 45 Conceito............................................................................................................................................................................... 45 Classificação (espécie). ...................................................................................................................................................... 46 SUMÁRIO Direitos e deveres. ............................................................................................................................................................... 48 Responsabilidade administrativa, civil e penal. ............................................................................................................... 48 Lei 8.429/92 e alterações (Lei de improbidade administrativa). ..................................................................................... 65 Poderes da Administração Pública .................................................................................................................................... 79 Poder hierárquico. ..............................................................................................................................................................81 Poder Disciplinar. ............................................................................................................................................................... 81 Poder Regulamentar. .......................................................................................................................................................... 82 Poder de Polícia. ................................................................................................................................................................. 82 Fatos e atos administrativos: ............................................................................................................................................. 85 Conceito............................................................................................................................................................................... 85 Requisitos do ato administrativo. ...................................................................................................................................... 85 Atributos do ato administrativo. ........................................................................................................................................ 87 Classificação. ....................................................................................................................................................................... 87 Revogação e anulação. ....................................................................................................................................................... 88 Processo administrativo: .................................................................................................................................................... 91 Conceito............................................................................................................................................................................... 91 Princípios............................................................................................................................................................................. 91 Responsabilidade civil do Estado. ................................................................................................................................... 102 PROGRAMA DE NOÇÕES DE CIVIL Da personalidade e da capacidade.. ................................................................................................................................. 01 Dos direitos da personalidade. .......................................................................................................................................... 01 Da pessoa jurídica. ............................................................................................................................................................. 01 Responsabilidade jurídica.................................................................................................................................................. 18 Fato jurídico. ....................................................................................................................................................................... 24 Negócios jurídicos. ............................................................................................................................................................. 24 Conceito............................................................................................................................................................................... 24 Vícios: Erro, dolo, culpa e coação.. .................................................................................................................................... 24 Relações de parentesco.. .................................................................................................................................................... 40 Da tutela e curatela. ............................................................................................................................................................ 40 PROGRAMA DE NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Conceito............................................................................................................................................................................... 01 Direitos e Garantias Fundamentais. .................................................................................................................................. 03 Direitos Individuais. ........................................................................................................................................................... 03 Direitos Coletivos. ............................................................................................................................................................... 03 Direitos Sociais. ................................................................................................................................................................... 14 O Estado. .............................................................................................................................................................................. 18 Conceito............................................................................................................................................................................... 18 Elementos que compõem o Estado. .................................................................................................................................. 18 Finalidade do Estado. ......................................................................................................................................................... 18 Funções essenciais à Justiça. ............................................................................................................................................. 20 SUMÁRIO PROGRAMA DE NOÇÕES DE DIREITO PENAL Princípios penais constitucionais. .................................................................................................................................... 01 Tempo e lugar do crime. ..................................................................................................................................................... 02 Contagem de prazo. ............................................................................................................................................................ 03 Conflito aparente de normas. ............................................................................................................................................ 03 Conceito de crime e seus elementos. ................................................................................................................................ 04 Concurso de pessoas: ......................................................................................................................................................... 09 Autoria. ................................................................................................................................................................................ 09 Participação. ........................................................................................................................................................................ 10 Ação penal ........................................................................................................................................................................... 10 Classificação. ....................................................................................................................................................................... 10 Condições. ...........................................................................................................................................................................10 Dos crimes em espécie: ...................................................................................................................................................... 11 Crimes contra a pessoa. ..................................................................................................................................................... 11 Crimes contra o patrimônio. ............................................................................................................................................. 12 Crimes contra a dignidade sexual. .................................................................................................................................... 18 Crimes contra a Administração Pública. .......................................................................................................................... 18 Legislação Especial: ............................................................................................................................................................ 20 Contravenções Penais (Decreto n° 3.688/41). .................................................................................................................. 20 Lei 4.898/65 (Abuso de Autoridade). ................................................................................................................................. 20 Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente). ..................................................................................................... 22 Lei 8.072/90 (Crimes Hediondos). ..................................................................................................................................... 22 Lei 9.099/95 (Juizados Especiais Criminais). ................................................................................................................... 23 Lei 9.455/97 (Lei de Tortura). ............................................................................................................................................. 27 Lei. 9.503/ 97 (Código de Trânsito). ................................................................................................................................... 27 Lei 11.343/06 (Lei de Drogas). ........................................................................................................................................... 28 Lei 11.340/03 (Lei Maria da Penha). .................................................................................................................................. 30 PROGRAMA DE NOÇÕES PROCESSUAL PENAL Princípios processuais penais............................................................................................................................................ 01 Direitos e garantias processuais penais. ........................................................................................................................... 02 Investigação criminal policial (artigos 4° ao 23° do CPP). ............................................................................................... 02 Prisão cautelar: ................................................................................................................................................................... 05 Prisão em flagrante: Tipos e espécies de flagrante. .......................................................................................................... 07 Prisão preventiva. ............................................................................................................................................................... 08 Prisão temporária. .............................................................................................................................................................. 09 Teoria geral da prova penal. ............................................................................................................................................... 09 Legislação especial: ............................................................................................................................................................ 16 Lei 4.898/65 (Abuso de Autoridade). ................................................................................................................................. 16 Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente). ..................................................................................................... 16 Lei 8.072/90 (Crimes Hediondos). ..................................................................................................................................... 16 Lei 9.099/95 (Juizados Especiais Criminais). ................................................................................................................... 16 SUMÁRIO Lei 9.455/97 (Lei de Tortura). ............................................................................................................................................. 16 Lei. 9.503/ 97 (Código de Trânsito). ................................................................................................................................... 16 Lei 11.343/06 (Lei de drogas). ............................................................................................................................................ 16 Lei 11.340/03 (Lei Maria da Penha). .................................................................................................................................. 16 PROGRAMA DE NOÇÕES DE INFORMÁTICA Sistema Operacional Windows 7. ...................................................................................................................................... 01 Microsoft Word 2013: Edição e formatação de textos. ..................................................................................................... 09 LibreOffice Writter 5.4.7: Edição e formatação de textos. ................................................................................................ 35 Microsoft Excel 2013: Elaboração, cálculos e manipulação de tabelas e gráficos. ........................................................ 54 LibreOffice Calc 5.4.7: Elaboração, cálculos e manipulação de tabelas e gráficos. ....................................................... 67 Microsoft PowerPoint 2013: estrutura básica de apresentações, edição e formatação. ............................................... 79 LibreOffice Impress 5.4.7: estrutura básica de apresentações, edição e formatação. ................................................... 79 Microsoft Outlook 2013: Correio Eletrônico. .................................................................................................................. 102 Google Chrome: Navegação na Internet. ........................................................................................................................ 105 Segurança: Tipos de vírus, Cavalos de Tróia, Worms, Spyware, Phishing, Pharming, Spam. ..................................... 110 PROGRAMA DE NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL Perícias e Peritos. ............................................................................................................................................................................01 Documentos médico-legais. .............................................................................................................................................. 01 Quesitos oficiais. ................................................................................................................................................................. 01 Perícias médicas. ................................................................................................................................................................ 01 Ética médica e pericial. ......................................................................................................................................................01 Legislação sobre perícias médico-legais. .......................................................................................................................... 01 Antropologia Médico-legal. ............................................................................................................................................... 03 Identidade e identificação. ................................................................................................................................................. 03 Identificação judiciária. ..................................................................................................................................................... 03 Traumatologia Médico-legal. ............................................................................................................................................. 04 Lesões corporais sob o ponto de vista jurídico. ............................................................................................................... 04 Energias de Ordem Mecânica. ........................................................................................................................................... 04 Energias de Ordem Química, cáusticos e venenos, embriaguez, toxicomanias. .......................................................... 04 Energias de Ordem Física: Efeitos da temperatura, eletricidade, pressão atmosférica, radiações, luz e som. ........... 04 Energias de Ordem Físico-Química: Asfixias em geral. Asfixias em espécie: por gases irrespiráveis, por monóxido de carbono, por sufocação direta, por sufocação indireta, por afogamento, por enforcamento, por estrangulamento, por esganadura, por soterramento e por confinamento. ........................................................................................................................................04 Energias de Ordem Biodinâmica e Mistas. ...................................................................................................................................04 Tanatologia Médico-legal. .............................................................................................................................................................09 Tanatognose e cronotanatognose. ................................................................................................................................................09 Fenômenos cadavéricos. ...............................................................................................................................................................09 Necropsia, necroscopia. ................................................................................................................................................................09 Exumação. .......................................................................................................................................................................................09 “Causa mortis”. ...............................................................................................................................................................................09 Morte natural e morte violenta. ....................................................................................................................................................09 Direitos sobre o cadáver. ................................................................................................................................................................09 SUMÁRIO Sexologia Médico-legal. .................................................................................................................................................................11 Crimes contra a dignidade sexual e provas periciais. ..................................................................................................................11 Gravidez, parto, puerpério, aborto, infanticídio. .........................................................................................................................11 Reprodução assistida. ....................................................................................................................................................................11 Transtornos da sexualidade e da identidade sexual. ...................................................................................................................11 Psicopatologia Médico-legal. ........................................................................................................................................................12 Imputabilidade penal e capacidade civil. ....................................................................................................................................12 Limite e modificadores da responsabilidade penal e capacidade civil. ....................................................................................12 Repercussões médico-legais dos distúrbios psíquicos. ..............................................................................................................12 Simulação, dissimulação e supersimulação. ................................................................................................................................12 Embriaguez alcoólica. ....................................................................................................................................................................13 Alcoolismo. .....................................................................................................................................................................................13 Aspectos jurídicos. .........................................................................................................................................................................13 Toxicofilias. .....................................................................................................................................................................................14 Hora de Praticar ..............................................................................................................................................................................16 PROGRAMA DE LÍNGUA PORTUGUESA Interpretação e compreensão de textos. .....................................................................................................................................01 Identificação de tipos textuais: narrativo, descritivo e dissertativo. .........................................................................................01 Critérios de textualidade: coerência e coesão. .............................................................................................................................01 Recursos de construção textual: fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos. ............................................................01 Gêneros textuais da Redação Oficial. ...........................................................................................................................................07 Princípios gerais. ...........................................................................................................................................................................07 Uso dos pronomes de tratamento. ...............................................................................................................................................07 Estrutura interna dos gêneros: ofício, memorando, requerimento, relatório, parecer. ...........................................................07 Conhecimentos linguísticos. ........................................................................................................................................................21 Conhecimentos gramaticais conforme padrão formal da língua. ............................................................................................21Princípios gerais de leitura e produção de texto. Intertextualidade. Tipos de discurso. Vozes discursivas: citação, paródia, alusão, paráfrase, epígrafe. ...........................................................................................................................................................21 Semântica: construção de sentido; sinonímia, antonímia, homonímia, paronímia, polissemia; denotação e conotação; figuras de linguagem. ....................................................................................................................................................................94 Pontuação e efeitos de sentido. ..................................................................................................................................................104 Sintaxe: oração, período, termos das orações; articulação das orações: coordenação e subordinação; concordância verbal e nominal; regência verbal e nominal. ..........................................................................................................................................107 Hora de praticar ............................................................................................................................................................................137 DIREITOS HUMANOS ÍNDICE A Constituição Brasileira de 1988. .........................................................................................................................................................01 Noções gerais sobre direitos humanos. ................................................................................................................................................03 Gerações de direitos humanos ..............................................................................................................................................................11 A Constituição Brasileira de 1988 e os Tratados Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos. ............................................12 O Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos. ...........................................................................................................14 O Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos e a Redefinição da Cidadania no Brasil. .........................................27 A Constituição Brasileira de 1988: Dos princípios fundamentais. .....................................................................................................30 A Constituição Brasileira de 1988: Dos Direitos e Garantias Fundamentais. ....................................................................................37 Dos direitos e deveres individuais e coletivos. .....................................................................................................................................37 Dos direitos sociais. ................................................................................................................................................................................66 Da nacionalidade. ..................................................................................................................................................................................79 Dos direitos políticos. ............................................................................................................................................................................85 Dos partidos políticos. ...........................................................................................................................................................................88 Direitos humanos das minorias e grupos vulneráveis. .......................................................................................................................90 Política nacional de direitos humanos. ................................................................................................................................................95 Hora de praticar ......................................................................................................................................................................................99 1 DI RE ITO S H UM AN OS A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 Os direitos e garantias fundamentais tomam por base os direitos humanos reconhecidos no âmbito internacional. Com efeito, após o processo de internacionalização dos direi- tos humanos vieram o de regionalização de tais direitos e o de incorporação, transpondo-as para o ordenamento interno. Com efeito, quando se fala em institucionalização dos di- reitos e garantias fundamentais, refere-se ao modo pelo qual a Constituição brasileira disciplina a os direitos e garantias fundamentais. Flávia Piovesan utiliza a expressão institucio- nalização de direitos e garantias fundamentais para compreender a forma como os direitos humanos se compõem ao texto constitucional, tanto no aspecto estrutural quanto no aspecto histórico. #FicaDica Histórico: o processo de redemocratização do Brasil O principal fator que influenciou o tratamento da temáti- ca é o fato de que a Constituição de 1988 demarcou o processo de democratização do Brasil, consolidando a ruptura com o regime autoritário militar instalado em 1964. Após um longo período de 21 anos, o regime militar ditatorial no Brasil caiu, deflagrando-se num processo democrático. As forças de opo- sição foram beneficiadas neste processo de abertura, conse- guindo relevantes conquistas sociais e políticas. Este processo culminou na Constituição de 19881. “A luta pela normalização democrática e pela conquista do Estado de Direito Democrático começará assim que ins- talou o golpe de 1964 e especialmente após o AI5, que foi o instrumento mais autoritário da história política do Brasil. To- mará, porém, as ruas, a partir da eleição de Governadores em 1982. Intensificar-se-á, quando, no início de 1984, as multi- dões acorreram entusiásticas e ordeiras aos comícios em prol da eleição direta do Presidente da República, interpretando o sentimento da Nação, em busca do reequilíbrio da vida na- cional, que só poderia consubstanciar-se numa nova ordem constitucional que refizesse o pacto político-social”2. “A grosso modo, o período considerado como de redemo- cratização vai desde o governo Ernesto Geisel até a eleição in- direta de Tancredo Neves, que morreria pouco antes de assu- mir o poder, resultando na posse de José Sarney, cujo período na presidência inicia o que se costuma denominar Nova Re- pública. Com o fim do período de Ernesto Geisel na presidên- cia, ficava claro para a opinião pública que o Regime Militar estava chegando ao fim, e a palavra em voga era ‘abertura’, em especial a política, mesmo que a contragosto da chamada Li- nha Dura do regime. O regime estava na verdade implodindo, 1 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e direito constitucio- nal internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 2 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional posi- tivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. com uma inflação galopante que este não conseguia contro- lar, denúncias de corrupção por todos os lados que surgiam com o levantamento da censura, perda de confiança da popu- lação no governo, e as sucessivas perdas nas eleições legislati- vas do partido governista, a ARENA. Tais fatores contribuíram para que a abertura política fosse mais que um gesto de boa vontade do governo. Era o gesto de um regime acossado pela crise e que se ressentia da força das manifestações populares, cada vez mais constantes. [...] Mas, o ponto máximo do pe- ríodo da redemocratização foi sem dúvida o movimento pe- las Diretas-Já, campanha que mobilizou milhões no final do mandato do presidente João Figueiredo, buscando pressionar o Legislativo a aprovar a chamada Emenda Dante de Olivei- ra, de autor do parlamentar mato-grossense,e que restituía o voto direto para presidente. A campanha pelas Diretas-Já marcou a década de 80 no Brasil, e uniu personalidades de to- dos os campos em torno do desejo do voto, que acabaria frus- trado, pois a Emenda não foi aprovada. O candidato apoiado pelo povo, porém, venceria as eleições indiretas, mas, causan- do nova frustração no povo, morreria antes de assumir. Seu nome: Tancredo Neves; em seu lugar, assumiria seu vice, José Sarney, um verdadeiro democrático de última hora, político originário da ARENA, o partido de apoio do Regime Militar, e de seu sucessor, o PDS”3. A lei de anistia: uma mancha no processo de redemo- cratização? Muito se questiona a respeito da lei de anistia, Lei nº 6.683/1979, que anistiou os crimes políticos praticados no pe- ríodo da ditadura: Art. 1º É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de funda- ções vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e repre- sentantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institu- cionais e Complementares. §1º Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política. O questionamento parte do fato de que a legislação não apenas anistiou os crimes praticados por aqueles perseguidos pelo regime ditatorial, como também aqueles crimes pratica- dos pelo regime ditatorial e por seus funcionários, inclusive tortura. A Comissão Americana de Direitos Humanos entendeu que a lei de anistia é óbice ao acesso à justiça, impedindo o esgotamento dos recursos internos, o que permitiria o acesso direto à jurisdição internacional (Caso Vladimir Herzog). 3 http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/redemocra- tizacao/ 2 DI RE ITO S H UM AN OS A posição dos direitos fundamentais no novo texto constitucional A atual Constituição institucionaliza a instauração de um regime político democrático no Brasil, além de introduzir in- discutível avanço na consolidação legislativa dos direitos e garantias fundamentais e na proteção dos grupos vulnerá- veis brasileiros. Assim, a partir da Constituição de 1988 os di- reitos humanos ganharam relevo extraordinário, sendo este documento o mais abrangente e pormenorizado de direitos humanos já adotado no Brasil4. Piovesan5 lembra que o texto de 1988 inova ao disciplinar primeiro os direitos e depois questões relativas ao Estado, di- ferente das demais, o que demonstra a prioridade conferida a estes direitos. Logo, o Estado não existe para o governo, mas sim para o povo. A Constituição brasileira está arraigada no ideário dos di- reitos humanos, o que torna o Brasil um país muito receptivo ao processo de internacionalização de tais direitos, sendo signatário da grande maioria dos tratados de direitos huma- nos relevantes. Neste sentido, a Carta de 1988 é a primeira Constituição brasileira a elencar a prevalência dos direitos humanos como princípio regente nas relações internacio- nais que estabeleça6. Axiologia da Constituição de 1988: hegemonia dos princípios O preâmbulo do texto constitucional é apenas uma prévia do que está por vir, isto é, de um rol extremamente detalhado de direitos e garantias fundamentais asseguradas à pessoa humana abrangendo todas as dimensões de direitos huma- nos: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supre- mos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconcei- tos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das contro- vérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”. Após, o texto constitucional é formado por expressões de cunho valorativo importantíssimo em termos de proteção de direitos humanos consagrados, a exemplo: cidadania (art. 1º, II); dignidade da pessoa humana (art. 1º, III); sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I); bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, IV); prevalência dos direitos huma- nos (art. 4º, II); inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (art. 5º, caput); direi- tos sociais (art. 6º, caput); soberania popular (art. 14, caput); 4 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e direito constitucio- nal internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 5 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e direito constitucio- nal internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 6 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e direito constitucio- nal internacional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. etc. Talvez a expressão mais relevante, se é que é possível deli- mitar somente uma, seja a dignidade da pessoa humana, que acaba por englobar todas as demais. Assim, reconhece-se a pessoa humana enquanto ser digno, aos quais são garanti- dos direitos e deveres fundamentais, e isto abre espaço para compreender o Direito apenas tendo em vista ditames éticos. A dignidade da pessoa humana é o valor-base de inter- pretação de qualquer sistema jurídico, internacional ou na- cional, que possa se considerar compatível com os valores éticos, notadamente da moral, da justiça e da democracia. Pensar em dignidade da pessoa humana significa, acima de tudo, colocar a pessoa humana como centro e norte para qualquer processo de interpretação jurídico, seja na elabora- ção da norma, seja na sua aplicação. Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou ple- na, é possível conceituar dignidade da pessoa humana como o principal valor do ordenamento ético e, por consequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana como um su- jeito pleno de direitos e obrigações na ordem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a própria exclusão de sua personalidade. Para Reale7, a evolução histórica demonstra o domínio de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores fundamen- tais e os secundários, sendo que o valor fonte é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de Reale8: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. O homem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais da mesma espécie. O ho- mem, considerado na sua objetividade espiritual, enquanto ser que só realiza no sentido de seu dever ser, é o que chama- mos de pessoa. Só o homem possui a dignidade originária de ser enquanto deve ser, pondo-se essencialmente como razão determinante do processo histórico”. A abertura da Constituição brasileira a valores e princí- pios sustentada no princípio da dignidade da pessoa huma- na confere novo sentido à ordem jurídica, rompendo com as barreiras do positivismo. Na fase Positivista, os princípios entravam nos Códigos apenas como válvulas de segurança, eram meras pautas pro- gramáticas supralegais, não possuindo normatividade; ao passo que na fase Pós-positivista, as Constituições destacam a hegemonia axiológica dos princípios, transformando-os em pedestal normativo que dá base a todo edifício jurídico dos novos sistemas constitucionais9. Esta fase Pós-positivis- ta, da nova hermenêutica constitucional, somente ganhou forma devido à Constituição de 1988.7 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: Sa- raiva, 2002, p. 228. 8 Ibid., p. 220. 9 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011. 3 DI RE ITO S H UM AN OS camente, objetivos do Estado brasileiro. c) Inclui os direitos sociais, a nacionalidade e os direitos po- líticos no rol dos direitos e garantias fundamentais. d) Não se coloca entre as Constituições mais avançadas do mundo no que diz respeito à matéria. Resposta: Letra D - Sem sombra de dúvidas, a Constituição Federal de 1988 é uma das mais avançadas do mundo no que diz respeito à afirmação de direitos e garantias fundamentais. a) Certa, pois de fato a noção de direitos e garantias funda- mentais tomou outra perspectiva, mais ampla, com a CF/1988. b) Certa, pela primeira vez uma Constituição brasileira assi- nalou os objetivos do Estado, em seu artigo 3o. c) Certa, sendo que o rol de direitos fundamentais abrange ainda os direitos individuais e coletivos e os partidos políti- cos. NOÇÕES GERAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS Teoria geral dos direitos humanos é o estudo dos direitos humanos, desde os seus elementos básicos como conceito, características, fundamentação e finalidade, passando pela análise histórica e chegando à compreensão de sua estrutura normativa. Na atualidade, a primeira noção que vem à mente quan- do se fala em direitos humanos é a dos documentos interna- cionais que os consagram, aliada ao processo de transposi- ção para as Constituições Federais dos países democráticos (teoria positivista). Contudo, é possível aprofundar esta no- ção se tomadas as raízes históricas e filosóficas dos direitos humanos, as quais serão abordadas em detalhes adiante, acrescentando-se que existem direitos inatos ao homem in- dependentemente de previsão expressa por serem elemen- tos essenciais na construção de sua dignidade (teoria jusna- turalista). Logo, um conceito preliminar de direitos humanos pode ser estabelecido: direitos humanos são aqueles inerentes ao homem enquanto condição para sua dignidade que usual- mente são descritos em documentos internacionais para que sejam mais seguramente garantidos. A conquista de direitos da pessoa humana é, na verdade, uma busca da dignidade da pessoa humana, em todos seus bens jurídicos essenciais. O direito natural se contrapõe ao direito positivo, locali- zado no tempo e no espaço: tem como pressuposto a ideia de imutabilidade de certos princípios, que escapam à história, e a universalidade destes princípios transcendem a geografia. A estes princípios, que são dados e não postos por conven- ção, os homens têm acesso através da razão comum a todos (todo homem é racional), e são estes princípios que permi- tem qualificar as condutas humanas como boas ou más, qua- lificação esta que promove uma contínua vinculação entre EXERCÍCIO COMENTADO 1) (PC-MG - Delegado de Polícia Substituto - FUMARC/2018) A Declaração Universal dos Direitos Humanos, retoman- do os ideais da Revolução Francesa, representou a mani- festação histórica de que se formara, enfim, em âmbito universal, o reconhecimento dos valores supremos da igualdade, da liberdade e da fraternidade. Em decorrência disso, os direitos fundamentais expressos na Constituição Federal de 1988: a) como na Declaração Universal dos Direitos Humanos, esses direitos fundamentais são considerados uma reco- mendação sem força vinculante, uma etapa preliminar para ulterior implementação na medida em que a socie- dade se desenvolver. b) não consideram as diferenças humanas como fonte de va- lores positivos a serem protegidos e estimulados, pois, ao criar dispositivos afirmativos legais, as diferenças passam a ser tratadas como deficiências. c) obrigam que o princípio da solidariedade seja interpreta- do com a base dos direitos econômicos e sociais, que são exigências elementares de proteção às classes ou aos gru- pos sociais mais fracos ou necessitados. d) tratam a liberdade como um princípio político e não indi- vidual, pois o reconhecimento de liberdades individuais em sociedades complexas esconde a dominação oligár- quica dos mais ricos. Resposta: Letra C - O princípio da solidariedade ou da frater- nidade está erigido no direito internacional dos direitos hu- manos como uma obrigação de todos que vivem em sociedade para com os demais. Assim, é preciso solidariedade, destinan- do aos mais necessitados e fracos proteção especial. Isso envol- ve, inclusive, a destinação específica de recursos econômicos e serviços sociais a estas pessoas que mais necessitam. a) Errada, pois os direitos fundamentais possuem força vincu- lante e, inclusive, estão no topo do ordenamento brasileiro. b) Errada, pois a Constituição trata a igualdade de forma a aceitar a desigualdade entre as pessoas como algo bom para a sociedade, pluralista. Mesmo nas deficiências estão fonte de conhecimento e saber. d) Errada, pois a liberdade é tanto um princípio político quan- to um princípio individual. 2) (PC-MG - Investigador de Polícia - FUMARC/2014) A Constituição Federal de 1988 pode ser considerada, na história do Brasil, o documento mais abrangente e por- menorizado sobre os direitos humanos até então adotado. Sobre a Constituição Federal de 1988, NÃO é correto o que se afirma em: a) Alargou o campo dos direitos e das garantias fundamen- tais. b) É a primeira vez que uma Constituição assinala, especifi- 4 DI RE ITO S H UM AN OS de um conceito contemporâneo de direitos humanos. Entre outros documentos a partir dos quais tal concepção come- çou a ganhar forma, destacam-se: Magna Carta de 1215, Bill of Rights ao final do século XVII e Constituições da Revolução Francesa de 1789 e Americana de 1787. No entanto, o docu- mento que constitui o marco mais significativo para a forma- ção de uma concepção contemporânea de direitos humanos é a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948. Após ela, muitos outros documentos relevantes surgiram, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e Pacto Inter- nacional de Direitos Humanos, Sociais e Culturais, ambos de 1966, além da Convenção Interamericana de Direitos Huma- nos (Pacto de São José da Costa Rica) de 1969, entre outros. Os direitos humanos possuem as seguintes característi- cas principais: 1) Historicidade: os direitos humanos possuem ante- cedentes históricos relevantes e, através dos tempos, adquirem novas perspectivas. Nesta característica se enquadra a noção de dimensões de direitos. 2) Universalidade: os direitos humanos pertencem a to- dos e por isso se encontram ligados a um sistema glo- bal (ONU), o que impede o retrocesso. 3) Inalienabilidade: os direitos humanos não possuem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são intrans- feríveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do comércio, o que evidencia uma limitação do princípio da autonomia privada. 4) Irrenunciabilidade: direitos humanos não podem ser renunciados pelo seu titular devido à fundamentalida- de material destes direitos para a dignidade da pessoa humana. 5) Inviolabilidade: direitos humanos não podem deixar de ser observados por disposições infraconstitucio- nais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de nulidades. 6) Indivisibilidade: os direitos humanos compõem um único conjunto de direitos porque não podem ser ana- lisados de maneira isolada, separada. 7) Imprescritibilidade: os direitos humanos não se per- dem com o tempo, não prescrevem, uma vez que são sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela falta de uso (prescrição). 8) Complementaridade: os sistemas regionais descentra- lizam a ONU para respeitar a complementaridade, ou seja, os diferentes elementos de base cultural, religiosa e social das diversas regiões. 9) Interdependência:as dimensões de direitos humanos apresentam uma relação orgânica entre si, logo, a dig- nidade da pessoa humana deve ser buscada por meio da implementação mais eficaz e uniforme das liber- norma e valor e, portanto, entre Direito e Moral10. As premissas dos direitos humanos se encontram no con- ceito de lei natural. Lei natural é aquela inerente à humani- dade, independentemente da norma imposta, e que deve ser respeitada acima de tudo. O conceito de lei natural foi funda- mental para a estruturação dos direitos dos homens, ficando reconhecido que a pessoa humana possui direitos inaliená- veis e imprescritíveis, válidos em qualquer tempo e lugar, que devem ser respeitados por todos os Estados e membros da sociedade. O direito natural é, então, comum a todos e, ligado à própria origem da humanidade, representa um pa- drão geral, funcionando como instrumento de validação das ordens positivas11. O direito natural, na sua formulação clássica, não é um conjunto de normas paralelas e semelhantes às do direito positivo, e sim o fundamento deste direito positivo, sendo formado por normas que servem de justificativa a este, por exemplo: “deve se fazer o bem”, “dar a cada um o que lhe é devido”, “a vida social deve ser conservada”, “os contratos de- vem ser observados” etc.12 Em literatura, destaca-se a obra do filósofo Sófocles13 in- titulada Antígona, na qual a personagem se vê em conflito entre seguir o que é justo pela lei dos homens em detrimento do que é justo por natureza quando o rei Creonte impõe que o corpo de seu irmão não seja enterrado porque havia lutado contra o país. Neste sentido, a personagem Antígona defen- de, ao ser questionada sobre o descumprimento da ordem do rei: “sim, pois não foi decisão de Zeus; e a Justiça, a deusa que habita com as divindades subterrâneas, jamais estabe- leceu tal decreto entre os humanos; tampouco acredito que tua proclamação tenha legitimidade para conferir a um mor- tal o poder de infringir as leis divinas, nunca escritas, porém irrevogáveis; não existem a partir de ontem, ou de hoje; são eternas, sim! E ninguém pode dizer desde quando vigoram! Decretos como o que proclamaste, eu, que não temo o poder de homem algum, posso violar sem merecer a punição dos deuses! [...]”. O desrespeito às normas de direito natural - e porque não dizer de direitos humanos - leva à invalidade da norma que assim o preveja (Ex.: autorizar a tortura para fins de investi- gação penal e processual penal não é simplesmente incons- titucional, é mais que isso, por ser inválida perante a ordem internacional de garantia de direitos naturais/humanos uma norma que contrarie a dignidade inerente ao homem sob o aspecto da preservação de sua vida e integridade física e mo- ral). Enfim, quando questões inerentes ao direito natural pas- sam a ser colocadas em textos expressos tem-se a formação 10 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. das Letras, 2009. 11 Ibid. 12 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do Direi- to. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 13 SÓFOCLES. Édipo rei / Antígona. Tradução Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003. 5 DI RE ITO S H UM AN OS com estes14, consolidando-se o processo de formação dos sistemas internacionais de proteção pouco a pouco. Os sistemas internacionais de proteção de direitos huma- nos se estabelecem no âmbito de organizações internacio- nais, conforme as regras e princípios de direito internacional. Globalmente, coexistem sistemas geral e especial de pro- teção de direitos humanos, que funcionam complementar- mente. Nesta linha, o sistema especial realça o processo de especificação do sujeito de Direito, passando ele a ser visto em sua especificidade e concreticidade (ex.: criança, grupos vulneráveis, mulher). Já o sistema geral é endereçado a toda e qualquer pessoa, concebida em sua abstração e generalida- de. Não obstante, junto ao sistema normativo global existem os sistemas normativos regionais de proteção, internaciona- lizando direitos humanos no plano regional, notadamente Europa, América e África, cada qual com aparato jurídico próprio15. Tais sistemas coexistem de forma complementar, junto com o próprio sistema nacional de proteção (caráter interno). 1) Sistema global de proteção: estabelece-se notada- mente no âmbito da Organização das Nações Unidas, primeira e mais importante organização internacio- nal no processo de internacionalização dos direitos humanos. Ela foi criada em 1945 para manter a paz e a segurança internacionais, bem como promover re- lações de amizade entre as nações, cooperação inter- nacional e respeito aos direitos humanos16. Ao lado da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a Carta das Nações Unidas de 1945 é considerada um dos principais marcos à concepção contemporânea de direitos humanos. No entanto, muitos outros documentos compõem a es- trutura normativa de proteção dos direitos humanos no âm- bito global. Em destaque: Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1966; Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966; Estatuto de Roma de 1998; Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher de 1979; Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra a Tortura e Outras Pe- nas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1975; Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Trata- mentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1984; Con- venção Internacional sobre os Direitos da Criança de 1989; Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência de 2006; Regras Mínimas para o Tratamen- to dos Reclusos de 1955; etc. São inúmeros os documentos internacionais voltados à proteção dos direitos humanos, al- gum de caráter genérico, outros de caráter específico. 14 PIOVESAN, Flávia. Introdução ao sistema interamericano de proteção dos direitos humanos: a convenção americana de direitos humanos. In: GOMES, Luís Flávio; PIOVESAN, Flávia (Coord.). O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos e o direito brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. 15 Ibid. 16 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Público & Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. dades clássicas, dos direitos sociais, econômicos e de solidariedade como um todo único e indissolúvel. 10) Efetividade: para dar efetividade aos direitos huma- nos a ONU se subdivide, isto é, o tratamento é global mas certas áreas irão cuidar de determinados direitos de suas regiões. Além disso, há uma descentralização para os sistemas regionais para preservar a comple- mentaridade, sem a qual não há efetividade. Reflete tal característica a aplicabilidade imediata dos direi- tos humanos prevista no art. 5°, §1° da Constituição Federal. 11) Relatividade: o princípio da relatividade dos direitos humanos possui dois sentidos: por um, o multicul- turalismo existente no globo impede que a univer- salidade se consolide plenamente, de forma que é preciso levar em consideração as culturas locais para compreender adequadamente os direitos humanos; por outro, os direitos humanos não podem ser utili- zados como um escudo para práticas ilícitas ou como argumento para afastamento ou diminuição da res- ponsabilidade por atos ilícitos, assim os direitos hu- manos não são ilimitados e encontram seus limites nos demais direitos igualmente consagrados como humanos. A finalidade primordial dos direitos humanos é garantir que a dignidade do homem não seja violada, estabelecendo um rol de bens jurídicos fundamentais que merecem prote- ção inerentes, basicamente, aos direitos civis (vida, seguran- ça, propriedade e liberdade), políticos (participação direta e indiretanas decisões políticas), econômicos (trabalho), so- ciais (igualdade material, educação, saúde e bem-estar), cul- turais (participação na vida cultural) e ambientais (meio am- biente saudável, sustentabilidade para as futuras gerações). Percebe-se uma proximidade entre os direitos humanos e os direitos fundamentais do homem, o que ocorre porque o va- lor da pessoa humana na qualidade de valor-fonte da ordem de vida em sociedade fica expresso juridicamente nestes di- reitos fundamentais do homem. Ainda no âmbito da teoria geral, estuda-se a estrutura normativa dos direitos humanos. Na verdade, ela se asseme- lha com a estrutura normativa do próprio direito internacio- nal, já que os direitos humanos designam notadamente os direitos afirmados universalmente em documentos inter- nacionais, registrados perante organizações internacionais diversas. A formação de uma estrutura normativa de direitos hu- manos pode ser remontada ao processo de internacionali- zação destes direitos, que é relativamente recente, remeten- do-se ao pós-guerra enquanto resposta às atrocidades e aos terrores cometidos durante o nazismo, notadamente diante da lógica de destruição de Hitler e da descartabilidade da pessoa humana por ele pregada que gerou o extermínio de 11 milhões de pessoas, tudo com embasamento legal. Logo, se a Segunda Guerra Mundial foi uma ruptura com os direi- tos humanos, o pós-guerra foi o marco para o reencontro 6 DI RE ITO S H UM AN OS Finalizando o tópico, é essencial para a noção geral sobre os direitos humanos compreender como se deu a afirmação histórica deles. O surgimento dos direitos humanos está envolvido num histórico complexo no qual pesaram vários fatores: tradição humanista, recepção do direito romano, senso comum da sociedade da Europa na Idade Média, tradição cristã, entre outros18. Com efeito, são muitos os elementos relevantes para a formação do conceito de direitos humanos tal qual perceptível na atualidade de forma que é difícil estabelecer um histórico linear do processo de formação destes direitos. Entretanto, é possível apontar alguns fatores históricos e filo- sóficos diretamente ligados à construção de uma concepção contemporânea de direitos humanos. É a partir do período axial (800 a.C. a 200 a.C.), ou seja, mesmo antes da existência de Cristo, que o ser humano passou a ser considerado, em sua igualdade essencial, como um ser dotado de liberdade e razão. Surgiam assim os fundamentos intelectuais para a compreensão da pessoa humana e para a afirmação da existência de direitos universais, porque a ela inerentes. Durante este período que despontou a ideia de uma igualdade essencial entre todos os homens. Contudo, foram necessários vinte e cinco séculos para que a Organização das Nações Unidas - ONU, que pode ser considerada a primeira organização internacional a englobar a quase-totalidade dos povos da Terra, proclamasse, na abertura de uma Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”19. No berço da civilização grega continuou a discussão a respeito da existência de uma lei natural inerente a todos os homens. As premissas da concepção de lei natural estão jus- tamente na discussão promovida na Grécia antiga, no espa- ço da polis. Neste sentido, destaca Assis20 que, originalmente, a concepção de lei natural está ligada não só à de nature- za, mas também à de diké: a noção de justiça simbolizada a partir da deusa diké é muito ampla e abstrata, mas com a legislação passou a ter um conteúdo palpável, de modo que a justiça deveria corresponder às leis da cidade; entretanto, é preciso considerar que os costumes primitivos trazem o justo por natureza, que pode se contrapor ao justo por convenção ou legislação, devendo prevalecer o primeiro, que se refere ao naturalmente justo, sendo esta a origem da ideia de lei natural. De início, a literatura grega trouxe na obra Antígona uma discussão a respeito da prevalência da lei natural sobre a lei posta. Na obra, a protagonista discorda da proibição do rei Creonte de que seu irmão fosse enterrado, uma vez que ele teria traído a pátria. Assim, enterra seu irmão e argumenta com o rei que nada do que seu irmão tivesse feito em vida poderia dar o direito ao rei de violar a regra imposta pelos deuses de que todo homem deveria ser enterrado para que 18 COSTA, Paulo Sérgio Weyl A. Direitos Humanos e Crítica Moderna. Revista Jurídica Consulex. São Paulo, ano XIII, n. 300, p. 27-29, jul. 2009. 19 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 20 ASSIS, Olney Queiroz. O estoicismo e o Direito: justiça, li- berdade e poder. São Paulo: Lúmen, 2002. 2) Sistema regional de proteção: os sistemas de proteção regionais mais consistentes são o interamericano e o europeu. O africano também, aos poucos, toma novos rumos, enquanto que o islamo-arábico permanece na total inefetividade. O Brasil faz parte do sistema intera- mericano de proteção de direitos humanos. A Carta da Organização dos Estados Americanos, que criou a Organização dos Estados Americanos, foi celebrada na IX Conferência Internacional Americana de 30 de abril de 1948, em Bogotá e entrou em vigência no dia 13 de dezembro de 1951, sendo reformada pelos protocolos de Buenos Aires (27 de fevereiro de 1967), de Cartagena das Índias (5 de de- zembro de 1985), de Washington (14 de dezembro de 1992) e de Manágua (10 de junho de 1993). Após a criação da OEA, foi elaborado o mais importante documento de proteção de direitos humanos no âmbito interamericano, o Pacto de San José da Costa Rica, também chamado de Convenção Ameri- cana sobre Direitos Humanos, de 1969. “O processo preparatório do chamado Pacto de San José teve presente a questão da coexistência e coordenação da nova Convenção regional com os instrumentos internacio- nais de direitos humanos das Nações Unidas. Com a entra- da em vigor da Convenção, prevendo o estabelecimento de uma Comissão e uma Corte Interamericanas de Direitos Hu- manos, surgiram questões como a ‘transição’ entre o regime pré-existente e o da Convenção no tocante ao labor da Co- missão”17. Destacam-se, ainda, documentos regionais interamerica- nos voltados à proteção de determinados direitos humanos: Convenção interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher de 1994, Convenção Interame- ricana para a Eliminação de Todas as Formas de Discrimi- nação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência de 1999, Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura de 1985, etc. 3) Sistema nacional de proteção: o sistema interno de proteção dos direitos humanos se forma com a insti- tucionalização destes direitos no texto das Constitui- ções democráticas, bem como com a incorporação no âmbito interno dos tratados internacionais dos quais o país seja signatário, mediante o devido processo legal. Direitos humanos são universais, históricos, inalienáveis, irrenunciáveis, invioláveis, indivi- síveis, imprescritíveis, complementares, inter- dependentes, efetivos, relativos. A finalidade primordial dos direitos humanos é a proteção da dignidade da pessoa humana. #FicaDica 17 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. O sistema inte- ramericano de direitos humanos no limiar do novo século: recomendações para o fortalecimento de seu mecanismo de proteção. In: GOMES, Luís Flávio; PIOVESAN, Flávia (Coord.). O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos e o direito brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribu- nais, 2000. 7 DI RE ITO S H UM AN OS -1274 d.C.)26, supondo que o mundo e toda a comunidade do universo são regidos pela razão divina e que a própria ra- zão do governo das coisas em Deus fundamenta-se em lei, entendeu que existeuma lei eterna ou divina, pois a razão divina nada concebe no tempo e é sempre eterna. Com base nisso, Aquino27 chamou de lei natural “a participação da lei eterna na lei racional”. Sobre o conteúdo da lei natural, de- finiu Aquino (2005, p. 562) que “todas aquelas coisas que devem ser feitas ou evitadas pertencem aos preceitos da lei de natureza, que a razão prática naturalmente apreende ser bens humanos”. Logo, a lei natural determina o agir virtuo- so, o que se espera do homem em sociedade, independente- mente da lei humana. Com a concepção medieval de pessoa humana é que se iniciou um processo de elaboração em relação ao princípio da igualdade de todos, independentemente das diferenças existentes, seja de ordem biológica, seja de ordem cultural. Foi assim, então, que surgiu o conceito universal de direitos humanos, com base na igualdade essencial da pessoa28. No processo de ascensão do absolutismo europeu, a mo- narquia da Inglaterra encontrou obstáculos para se estabe- lecer no início do século XIII, sofrendo um revés. Ao se tratar da formação da monarquia inglesa, em 1215 os barões feu- dais ingleses, em uma reação às pesadas taxas impostas pelo Rei João Sem-Terra, impuseram-lhe a Magna Carta - Magna Charta Libertatum de 1215. Referido documento, em sua abertura, expõe a noção de concessão do rei aos súditos, es- tabelece a existência de uma hierarquia social sem conceder poder absoluto ao soberano, prevê limites à imposição de tributos e ao confisco, constitui privilégios à burguesia e traz procedimentos de julgamento ao prever conceitos como o de devido processo legal, habeas corpus e júri. Não que a carta se assemelhe a uma declaração de direitos humanos, prin- cipalmente ao se considerar que poucos homens naquele período eram de fato livres, mas ela foi fundamental naquele contexto histórico de falta de limites ao soberano29. A Magna Carta de 1215 instituiu ainda um Grande Conselho que foi o embrião para o Parlamento inglês, embora isto não signi- fique que o poder do rei não tenha sido absoluto em certos momentos, como na dinastia Tudor. Havia um absolutismo de fato, mas não de Direito. Em geral, o absolutismo europeu foi marcado profunda- mente pelo antropocentrismo, colocando o homem no cen- tro do universo, ocupando o espaço de Deus. Naturalmente, as premissas da lei natural passaram a ser questionadas, já que geralmente se associavam à dimensão do divino. A nega- ção plena da existência de direitos inatos ao homem implica- 26 AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica. Tradução Aldo Vannucchi e Outros. Direção Gabriel C. Galache e Fidel Gar- cía Rodríguez. Coordenação Geral Carlos-Josaphat Pinto de Oliveira. Edição Joaquim Pereira. São Paulo: Loyola, 2005b. v. VI, parte II, seção II, questões 57 a 122. 27 Ibid. 28 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 29 AMARAL, Sérgio Tibiriçá. Magna Carta: Algumas Contri- buições Jurídicas. Revista Intertemas: revista da Toledo. Pre- sidente Prudente, ano 09, v. 11, p. 201-227, nov. 2006. pudesse partir desta vida: a lei natural prevaleceria então so- bre a ordem do rei.21 Os sofistas, seguidores de Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.), o primeiro grande filósofo grego, questionaram essa concep- ção de lei natural, pois a lei estabelecida na polis, fruto da vontade dos cidadãos, seria variável no tempo e no espaço, não havendo que se falar num direito imutável; ao passo que Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), que o sucedeu, estabeleceu uma divisão entre a justiça positiva e a natural, reconhecen- do que a lei posta poderia não ser justa22. Aristóteles23 argumenta: “lei particular é aquela que cada comunidade determina e aplica a seus próprios membros; ela é em parte escrita e em parte não escrita. A lei universal é a lei da natureza. Pois, de fato, há em cada um alguma me- dida do divino, uma justiça natural e uma injustiça que está associada a todos os homens, mesmo naqueles que não têm associação ou pacto com outro”. Nesta linha, destaca-se o surgimento do estoicismo, dou- trina que se desenvolveu durante seis séculos, desde os últi- mos três séculos anteriores à era cristã até os primeiros três séculos desta era, mas que trouxe ideias que prevaleceram durante toda a Idade Média e mesmo além dela. O estoicis- mo organizou-se em torno de algumas ideias centrais, como a unidade moral do ser humano e a dignidade do homem, considerado filho de Zeus e possuidor, como consequência, de direitos inatos e iguais em todas as partes do mundo, não obstante as inúmeras diferenças individuais e grupais24. Influenciado pelos estoicos, Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), um dos principais pensadores do período da jovem república romana, também defendeu a existência de uma lei natural. Neste sentido é a assertiva de Cícero25: “a razão reta, con- forme à natureza, gravada em todos os corações, imutável, eterna, cuja voz ensina e prescreve o bem, afasta do mal que proíbe e, ora com seus mandados, ora com suas proibições, jamais se dirige inutilmente aos bons, nem fica impotente ante os maus. Essa lei não pode ser contestada, nem derro- gada em parte, nem anulada; não podemos ser isentos de seu cumprimento pelo povo nem pelo senado; não há que pro- curar para ela outro comentador nem intérprete; não é uma lei em Roma e outra em Atenas, - uma antes e outra depois, mas uma, sempiterna e imutável, entre todos os povos e em todos os tempos”. Com a queda do Império Romano, iniciou-se o período medieval, predominantemente cristianista. Um dos grandes pensadores do período, Santo Tomás de Aquino (1225 d.C. 21 SÓFOCLES. Édipo rei / Antígona. Tradução Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003. 22 ASSIS, Olney Queiroz. O estoicismo e o Direito: justiça, li- berdade e poder. São Paulo: Lúmen, 2002. 23 ARISTÓTELES. Retórica. Tradução Marcelo Silvano Ma- deira. São Paulo: Rideel, 2007. 24 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 25 CÍCERO, Marco Túlio. Da República. Tradução Amador Cisneiros. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995. 8 DI RE ITO S H UM AN OS instituição-chave para a limitação do poder monárquico e para garantia das liberdades na sociedade civil foi o Parla- mento e foi a partir do Bill of Rights britânico que surgiu a ideia de governo representativo, ainda que não do povo, mas pelo menos de suas camadas superiores32. Tais ideias liberais foram importantes como base para o Iluminismo, que se desencadeou por toda a Europa. Desta- ca-se que quando isso ocorreu, em meados do século XVIII, se dava o advento do capitalismo em sua fase industrial. O processo de formação do capitalismo e a ascensão da bur- guesia trouxeram implicações profundas no campo teórico, gerando o Iluminismo. O Iluminismo lançou base para os principais eventos que ocorreram no início da Idade Contemporânea, quais sejam as Revoluções Francesa, Americana e Industrial. Tiveram ori- gem nestes movimentos todos os principais fatos do século XIX e do início do século XX, por exemplo, a disseminação do liberalismo burguês, o declínio das aristocracias fundiárias e o desenvolvimento da consciência de classe entre os traba- lhadores33. Jonh Locke (1632 d.C. - 1704 d.C.) foi um dos pensado- res da época, transportando o racionalismo para a política, refutando o Estado Absolutista, idealizando o direito de re- belião da sociedade civil e afirmando que o contrato entre os homens não retiraria o seu estado de liberdade. Ao lado dele, pode ser colocado Montesquieu (1689 d.C. - 1755 d.C.), que avançou nos estudos de Locke e na obra O Espírito das Leis estabeleceu em definitivo a clássica divisão de poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Por fim, merece menção o pensador Rousseau (1712 d.C. - 1778 d.C.), defendendo
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