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Texto 6 - As doenças É possível uma pedagogia da cura - CANGUILHEN

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GeorgesGeorges
anguilhemanguilhem
•• F ILOSOFIF ILOSOFI ••
scritosscritos
sobresobre aa
edicinaedicina
TraduçãoTradução
VeraVera vellarvellar RRibeiibei rroo
RevisãoRevisão
TTécnicaécnicaManoel Manoel BarBarrosros da Monada Mona
PrefácioPrefácio
rmandrmand ZaloszycZaloszyc
OREORENNSS
UNIVERSITÁRIUNIVERSITÁRI
  
ll edição-edição- 20052005
I I )) t i J I \ ' T i ~ / , jt i J I \ ' T i ~ / , j
t\st\s e f e r ê n c i a ~e f e r ê n c i a ~ dede p1·imcirap1·imcira puulic;1ç:,opuulic;1ç:,o dede .:ada.:ada umum oo ~~ rcxiOSrcxiOS
figur;unfigur;un nono inícioinício dodo volume.volume.
©© PUF,PUF, II?89.?89. 4"4" etliçilo.etliçilo. ~ 0 0 1 .~ 0 0 1 . l'"ml'"m oo textotexto "As"As o e n ç ~ s · ·o e n ç ~ s · ·
©© ~ a b l c s .~ a b l c s . 19<JO.19<JO. parapara oo t ~ x t ot ~ x t o AA s;oúoc:s;oúoc: conceitoconceito vulg.;.rvulg.;.r ee q u ~ ~ t ã oq u ~ ~ t ã o Jilusótica"Jilusótica"
©© ÉditionsÉditions dndn s.,uil, junho.s.,uil, junho. 1tJO: .1tJO: . parapara to.Josto.Jos osos outros textos c pma aoutros textos c pma acomposiçao dcomposiçao do o volvolumeume
C.,rot:C.,rot: M d l ~ . . •M d l ~ . . • && ilil }}··
bJitnnbJitnn.uiUn.uiUn d c : u id c : u i u i ~ ou i ~ o : : ~ :: : ~ : R ~ •R ~ • TT ..:xh'..:xh'
(.'(.'JJrr.. flruflrusisi l.l. c.,c.,,, .. l \ f f ul \ f f u ......nna·fumca·fumc
SiSi tiJtiJjjç;nç;n..,, N<k.'"''N<k.'"''••  :1:11..J1..J\\II tt II'Wi'Wihh))f\ tkf\ tk t iVtiV \\ ll   ,,--   
C22(k:C22(k: C:mpuiC:mpui llll -..:m-..:m .. n ' t ~ t . · , ; .n ' t ~ t . · , ; . 190+190+
E:<.c,E:<.c,::riht,.;riht,.; ~ ' h J ' C~ ' h J ' C aa I L ' I . I i ~ i n : t /I L ' I . I i ~ i n : t / C ~ . .C ~ . . r p . t ' $r p . t ' $ u l \ ~ u iu l \ ~ u i pn:fiM.:i\•pn:fiM.:i\• Amllnh.lAmllnh.l i . Z y . . : ~i . Z y . . : ~
u ~ ~ i Mu ~ ~ i M VVt: tat: ta A,t )l:trA,t )l:tr Rihc:ilRihc:il··44ll -- t..kt..k Ju.uJu.u<'i<'inn):): t : ~ . . wt : ~ . . w nn ~~ ú r i a ,ú r i a , 55
.. -- (( l : m l \l : m l \ V ) 'V ) ' '' :;.u:;.ut t \\··1')1')
TTll ''lliJttçiJttçtitinn ~ . . t ~ . · :~ . . t ~ . · : ~ l ' i 1 s~ l ' i 1 s sursur btbt nk\1nk\1..-..:i..-..:iuucc
SS ~~ O ô 7 ~O ô 7 ~
.. 't t&,'t t&,
MM ~~    i l ti l t • l l a• l l a 22.. \ f , :\ f , : i o - : i ui o - : i u H i s t \ ~H i s t \ ~ JJ.. ''ntuk,ntuk,.. 111111 ..
00 CDDCDD 610.1610.1
((''lll:lll: 61.0061.0011..11·· - , . .- , . .
ProibidaProibida aa r[@'oJçiior[@'oJçiio tOtaltOtal oupan:ial,oupan:ial, dede t)Ualquert)Ualquer formaforma
ouou porpor ~ j , { i o~ j , { i o t•Mrônico t•Mrônico ou ou mt•cmt•cânicoânico,, sem penniss:losem penniss:lo
~ " ' ( § i · ( I O~ " ' ( § i · ( I O EditorEditor (Lei(Lei rf'rf' 9.610,9.610, 19.2.199&).19.2.199&).
l\.ese1·vadosl\.ese1·vados oo ~~ direitosdireitos ddee propriedade dcsm edição pelapropriedade dcsm edição pela
F.DITORAF.DITORA 1-'0J.U::'íSE1-'0J.U::'íSE UNIVERSITÁRIAUNIVERSITÁRIA
ioio de Jantírt):de Jantírt): Ru:1Ru:1 dodo o ~ á r i o ,o ~ á r i o , 100-100- Centro-Centro-C'EPC'EP 20041-00220041-002
Tels.Tels.IHI<IHI<: :: : :: 509·314812509-73'JS509·314812509-73'JS
Sti lSti l l urdo:l urdo: RuaRua SenadorSenador PauloPaulo E&ldio.E&ldio. 7722-- slj.slj. ((••-- Ccmru-Ccmru- CEPOI006-0IOCEPOI006-0IO
Tcls./Fax:Tcls./Fax: 3104-.200.53104-.200.5 3104-0396/3104-0396/ IU7-08-t2IU7-08-t2
c-nmc-nmil: il: editom@forenseuruversitaria.ceditom@forenseuruversitaria.conlhronlhr
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l n 1 p ~ ~ ' õ 1 . 1l n 1 p ~ ~ ' õ 1 . 1 ••_,_, Br.Lo;ilBr.Lo;il
Priutnl ittPriutnl itt Om; UOm; U
  
SumárioSumário
PrefácioPrefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
NNotota sobra sobree a a procedência dosprocedência dos ttexextotoss . . . .. . . . .. .. .. .. . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . .. 99
AA iidédéiiaade natureza no pende natureza no penssamentoamento ee nana prpráticaática mméédicasdicas .. .. .. 1111
AsAs ddoençasoenças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2323
AAsaúdsaúde: e: concconceitoeito vulgarvulgar e questãoe questão filofilosófsóficaica . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . 55
ÉÉpossívelpossível umauma pedagogia da cura?pedagogia da cura? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4949
O problemaO problema dasdas regulações no organismo eregulações no organismo e nana sociedadesociedade . . .. . . 7171
  
  refácio  refácio
UUmm cecerrttoo ddiissparateparate sesemmpprree mmee paparreceu sereceu ser uumm traçotraço ddaa ccoomm--
posição dosposição dos livrlivrosos publicpublicaaddosos ppoorr GeorgcsGeorgcs CangCanguilhemuilhem.. CCoomm
exceçãoexceçãodde e ssuauassdduuaass teses,teses, umaumasobresobre OO normalnormal e e oopatol6gicopatol6gico cc aa
oouuttrra a sosobbrreeLaLa ffoormationrmation cluclu conceptconcept dede rrééflexeflexe (ambas publi(ambas publicadascadas
pepellaa PUF),PUF), eellee,, sesem dúvida,m dúvida, pprrocedeu ocedeu essencialmenessencialmentete ppoorr mmeeiioo
dede aartigrtigosos publicpublicadosados aaqquuii e ae ali,li, osos quaisquais rreunia eeunia emm umauma seselleçãoeção,,
ddee tteempmpos eos emm tempos,tempos, para fazer delespara fazer deles um volumeum volume:: assimassim oobtbtii--
vveemmosos seseuuss ÉtudesÉtudes d ltistoired ltistoire etet ee plúlosophieplúlosophie desdes sciences,sciences, oouu aa
conconnainaissassanncece ee lala vicvic oouu aaindindaa IdéologieIdéologie etet rationalirrationaliréé dansdans
ll  ltltiiswsw ireire eleseles sciescienncesces dede lala vievie (todos(todos atualmenteatualmente editadoseditados ppoorr
Vrin).Vrin). Penso,Penso, ttoodavia, quedavia, que, mai, mais além do que apas além do que aparreceece fulguran-fulguran-
te comote como umum método-método- de trabalho, de transmide trabalho, de transmissão-,ssão-, éé umauma ori-ori-
eennttaçãoação queque nnosos dadadada..
QuemQuem sabesabe eraera assimassim queque eleele pretendia npretendia nosos apaprreseesennttarar eesteste
novonovo oobbjjccocco ddee sasaber invenber inventado portado por eelle,e, ccoomm nnovosovos ccoonnttoorrnnosos,,
eexpanxpansõessões iimpremprevistas?vistas? PPoorr umum oouuttrroo aspecto,aspecto, nnããoo eesstaritariaa nnesestete
homemhomem,, nneste eeste ennssinanteinante ddee umum rigorigorr ccoontínuntínuoo,, aa mmaarrcaca ddaa iinnci-ci-
ddêêncnciiaa ddee uma luma lógicógicaa qquuee vvaalloorriittava aava a iinnccoonnssiissttêênncciiaa ddoo grgraannddee
Todo?Todo? EnEnccoontrareintrarei facifacillmentemente uumm oouuttrro so siinnaall didissosso nnoo fato dfato dee
eellee tteerr dirigido,dirigido, eemm 1970,1970, ddee maneiramaneira bastantebastante iinesperada,nesperada, uumm
colóquiocolóquio ddoo CNRSCNRS sobresobre AA matematização dmatematização dasas ddooutrinutrinasas inin--
foforrmmeses   ..
  
88 OcoOcorges Canguílherges Canguílhemm
OO sasabboror tão particulartão particular dasdas obob rrasas dede GeorgesGeorges CangCanguilhuilhcmcm
prprovov iririiaa,, assim,assim, do do enlaçamenlaçamentoento eentrntree umauma orientaçãoorientação,, umum riri
gor,gor, umauma eruderudiição,ção, umauma exatiexatiddão,ão, nono seioseio dede umauma aapaparreentntee disdis
pepersrsãoão-- cocontntidida,a, éé verdade,verdade, na dina discsciplinaiplina da históriada história ee dada episepis
temologiatemologia dasdas ciênciasciências dada vida:vida: ele,ele, porém,porém, modelamodela seuseu domíniodomínio
ee seusseus limites muitolimites muito mmaisais do quedo que sese submete asubmete aela. Disseminaçãoela. Disseminação
sese ririaa,, eentntão,ão, aa palavrapalavra exata.exata.
A presenteA presente coletâneacoletânea nãonão éé exceçãoexceção aa essaessa regraregra queque jujullgogo
perceberperceber nnoo cuidadocuidado dede GGeoeo rrgesges Canguilhem,Canguilhem, nono sesentidntidoo dede
sempresempre questionarquestionar aa regraregraporpor meiomeio dada exceçãoexceção múltipla. Amúltipla. Acoecoe
rrênciaência dissodisso éé manifesta:manifesta: trtraatta-sea-se dede históriahistória ee dede filfilosofiaosofia dada
medicinamedicina ee ter-se-á,ter-se-á, comcom osos cciincnco textoso textos que podemque podem serser lidlidososnesteneste livrlivro,o, juntjuntoo aosaos trêstrês ouou trtrosos queque figuramfiguram sobsob aa rubrirubricaca mmee
dicina , na últimadicina , na última ediçãoedição dosdos ÉtudesÉtudes ...... aa totalidadetotalidade dosdos escritosescritos
de Georgesde Georges CanguiCanguilhlhem sobre aem sobre a medicimedicina-na- ppeelloo mmenosenos sese concon
fiarmosfiarmos nana bibliografiabibliografia críticacrítica muitomuito bembem infinfoormrmadaada dede CamilleCamille
UmUmogcsogcs11-- reservando-sereservando-se aa fronteirafronteira sempsemprree incertaincerta cocommosos es·es·
tudostudos dede fisiologiafisiologia ee,, no no queque conceme àconceme à rereflflexão sobexão sobrere oo susujjeeititoo
doentedoente -- queque éé vvererdadeiramdadeiramente oente o caca rráteáterr específicoespecífico dosdos escriescri
ttosos aqaq uiui reunidos-,reunidos-, excetuando-seexcetuando-se brevesbreves obserobservaçõvações es concluconclu
sisivvasas feitasfeitas nono coco llóóququiioo mundialmundial BiologiaBiologia ee futurofuturo ddoo hhoommem ,em ,
emem Paris,Paris, emem 1976,1976, sobsob oo título Qualidadetítulo Qualidade dada vida,vida, dignidadedignidade
dada morte .morte . TalTal éé aa unidade dunidade desteeste livrlivro,o, e,e, agoagorra,a, ddeixaeixammosos aoao lleeii
tortor oo cuidado decuidado de vver como eer como ellee sese dissdisseemina.mina.
ArmandArmand ZaloszycZaloszyc
11CamilCamille Límoges,le Límoges, AA criticaicriticai biblíography ,biblíography , inin AA vitalvital ratianalistratianalist selectedselected tvritvri··
tíngstíngs fromfrom GeMges CanguiUtemGeMges CanguiUtem (François(François Delaporte ed.),Delaporte ed.), NovaNova Iorque,Iorque, ZoneZone
Books, 1994.Books, 1994. p.p. 385-454.385-454.
  
  ota  otasobresobre procedênciaprocedência dosdos textostextos
OsOs textostextos dedesteste livrlivro são feitoso são feitos de escritos entregues porde escritos entregues por
Georges CanguilhemGeorges Canguilhem parapara publicações porpublicações por vezesvezes confiden·confiden·
ciais, com freqüênciaciais, com freqüência ddesapaesaparecidrecidasas nnosos diasdias ddee hhooje,je, difícildifícil
mente mente aceacessívssíveiseis, e , e atéaté mmesmoesmo nnão encontráão encontráveisveis .. PorPor essaessa rara
zãozão,, pareceu-nos justificado fazê-laspareceu-nos justificado fazê-las rreaeappaarreceecer.r. AA escoescolhlhaa
do que figurariado que figuraria nneses ttee volumevolume ffoioi eeffeetutuadaada no decorrer deno decorrer de
discussõesdiscussões aammigigáveis, emáveis, em perfeitoperfeito acoacordrdo coo comm BernardBernard Can·Can·
guilhem.guilhem.
ComCom exceçãoexceção dede doisdois deles,deles, éé provável queprovável que GeGeoorrgesges CanguíCanguí
lhlhemem nãonão tteenhnhaa rreeliliddoo essesesses textos antestextos antes dada publicação:publicação: sãosão
confeconferrênciasências porpor dd ee pronunciadaspronunciadas cujoscujos textos ele remetiatextos ele remetia àsàs
pessoaspessoas queque lhlhee hhaaviviamamsosolicitlicitadoado 1,1, 3,3, 5);5); ououtrtrosos são textossão textos
destinadosdestinados didirreetamtameennttee àà coco mmpposição escritaosição escrita (n(nii 2,2, 4).4). Os arti·Os arti·
gosgos cocomportammportam nol:'asnol:'as oouuentãoentão umauma bibliografia geral;bibliografia geral; asas confeconfe
rências quase semprerências quase sempre nnãoão trazemtrazem notas,notas, mas,mas, aoao llê-ê-las,las, verifiverifi
ca-se que elas certamenteca-se que elas certamente sese apresentam,apresentam, emem todostodos osos seusseus asas
ppectosectos,, comocomo escescritritosos dede GeorgGeorgeses Canguilhem.Canguilhem. UmUm ponto par·ponto par·
tículartícular concemconceme e apeapenasnas aoao textotexto nn 5,5, visivelmvisivelmenteente publicadopublicado
semsem terter sidosido relido porrelido por ele.ele. evev idente queidente que eleele não o não o teriteriaa deixadeixa
do,do, sese tivessetivesse podido podido revisárevisá-lo,-lo, com a disposição tipográficacom a disposição tipográfica in i·in i·
cial, emcial, em brevesbreves parágparágrafos derafos de umauma ouou duasduas frases,frases, eleele queque sese emem
penhava,penhava,,, como confidenciou, emcomo confidenciou, em expressar-se porexpressar-se por meiomeio dede
massasmassas discursivasdiscursivas bembem ordenadas .ordenadas . AA apresentaçãoapresentação menosmenos
  
1010 Georges CanguilhemGeorges Canguilhem
"explodida" "explodida" quque aqui pe aqui propropononho ho vavai i nessnessa direção, mas ela me éa direção, mas ela me é
peculiar.peculiar.
AA Z.Z.
FontesFontes
ll AA idéiaidéia ddee < ~ t u r e z a< ~ t u r e z a nnoo pensamentopensamento cc nnaa prática médicas",prática médicas",
MédecineMédecine dede 1 /wmme,1 /wmme, revistarevista do Cemrodo Cemro CatólicoCatólico ddee MédicosMédicos
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mentationmentation eenn HHiisstoire detoire de llaa Philosophic,Philosophic, 191998,98, p.p. 119119--113333 (tra·(tra·
ta-seta-se dede umauma ccoonnffeerênciarência pronunciadapronunciada eemm EstraEstrassburgo,burgo, eemm
maimaioo dede 1988,1988, a a conviconvitete ddoo PPrr.. Lucicn Lucicn Braun). PublicBraun). Publicadoado iiguguaall
mmeennte sob ate sob a formaforma ddee umum bookler,bookler, Pin-Balma,Pin-Balma, SaSabblleses ed.,ed., 1990,1990,
3366 p.p.
4.4. ÉÉ possfvel umapossfvel uma ppeedadaggogiaogia da cura?",da cura?", NouvelleNouvelle RevueRevue dede
PsychanalysePsychanalyse (diretor(diretor JJ ••B.B. Pontalis),Pontalis), nn 17,17, primavera deprimavera de 1978,1978,
p.p. 13-26.13-26.
5.5. OO problema das regulações no organismoproblema das regulações no organismo ee nana sociedade",sociedade",
CalliersCalliers dede l Allil Allianceance lsraélite Universelle,lsraélite Universelle, ~~ 92, setembro-outubro92, setembro-outubro
ddee 1955, p.1955, p. 64-764-733 NãoNão repreprodroduziuzimos a mos a disdiscuscussãsão (p. 73-o (p. 73-8181).).
  
A idéia de naturezaA idéia de natureza nnoo pensamentopensamento
cc nnaa práprática médicastica médicas
Podemos nos perguntarPodemos nos perguntar se ase a relaçãorelação entreentre médicomédico cc doentedoente
conseguiu, algumconseguiu, algum dia,dia, serser umauma relarelação simplesção simples ddee ordem instruordem instru
mmeental,ntal, capazcapaz ddee serserdescritadescrita ddee taltal mmaaneiraneira quque a caue a causasa ee o efeio efei
to, oto, o gestogesto terapêut:lcoterapêut:lco cc seu resultadoseu resultado, estivessem, estivessem liligadosgados diredire
tamente tamente unsuns aos oaos outros, emutros, em uumm mmesesmmoo planoplano ee nnoo mmesmoesmo nível,nível,
sesem intermm intermeeddiiááririoo estranhoestranho aa esse espaço deesse espaço de inteligibilidinteligibilidade.ade.
DeDe todotodo modo,modo, éé cceerrtoto queque aa invocaçãoinvocação multimultissecssecululaarr de umade uma
natunatureza cureza curatrativa foiva foii ee continuacontinua sendosendo a referênca referênciiaa a um tala um tal inin
termedtermediiááririoo,, cujocujo papelpapel é,é, tatalvelvezz,, oo dede dardar conta,conta, aattrravésavés ddaa hishis
tória,tória, ddoo fatofato ddee queque oo parpar mmédico-doenteédico-doenterarasraras vvezesezes foifoi uumm parpar
harmonioso,harmonioso, eemm queque cadacada uummdos parceiros pudessedos parceiros pudesse sese dizer pledizer ple
nnaammeennttee satisfeito comsatisfeito com oo comportamentocomportamento ddoo outro.outro.
AA abstabstençãenção so sinceincera ra e perseve perseveranteerante dede todatoda práticaprática dede char·char·
latãolatão -- oposro, em suma,oposro, em suma, da da honehonestidastidade prde profisofissionsionalal -- nãonão éé
exclusivaexclusiva ddaa ambiçãambição o de de proppropiciaiciar ao doente, r ao doente, mediante mediante inteinter·r·
venções eficazes, uma melhoravenções eficazes, uma melhora oouu uma restituição uma restituição que ele nãoque ele não
poderpoderia obtia obterer porpor seus seus próprios próprios meimeios. Eos. Essssa ambiçãa ambição poo pode chde chee
gagar a r a cocontnter a idéier a idéia de que um organa de que um organismo ismo dodoentente, diane, diantete ddoo mé·mé·
clclicico o e e papara ele,ra ele, éé apenasapenas uumm obobjejeto passito passivo e dócilvo e dócil àsàs manipulamanipula
ções e solicitações ções e solicitações externexternas.as. UUmm médicmédico eo escoscocêscês, , muito muito célebrecélebre
na ltna ltáha c na áha c na Alemanha Alemanha no iníno iníciocioddoo séculoséculoXIX,XIX, JoJohn Browhn Brown, on, o
  
1212 GeorgeGeorges Canguilhems Canguilhem
iinnvveentorntor ddosos ccoonncceeiitostos ddee esrenia eesrenia e asteasteniniaa ,, aaccrreedditavaitava poderpoder
rresesuumir emmir em duas pduas paallaavvrasras oo imperativimperativoo ddaa aatividadetividade mméédica:dica: ÉÉ
pprreeciso ciso estimulestimularar oouu ddeebbilitar.ilitar. InaçInação,ão, nnuunnca.ca. NãoNão confiemconfiem nnaa
ffoorrççaa ddaa natureznaturezaa.. ErEra a conseqüênca a conseqüência necessáriaia necessária de umade uma cceerrttaacconceoncepçãopção ddo corpo vivo:o corpo vivo: AA vidavida éé uumm estaestaddoo forçadforçadoo [[ ....].].
NN ããoo ssomosomos nnaaddaa porpor nósnós mesmos emesmos e esesttamosamos inteirainteirammeennttee
susubboordinadosrdinados àsàs ppoottêênncciaiass externaexternass ÉlémenlsÉlémenls dede médecine,médecine,
1780). Para1780). Para corpcorpoo iinneerrte,te, medicinmedicina ativa.a ativa.
InversamentInversamente, ae, a ccoonsciênciansciência ddooss limiteslimites do poderdo poder ddaa medicimedici
nnaa acompanhaacompanha todatoda ccoonncepção dcepção doo corpocorpo vivovivo queque lhelhe atribui,atribui,
sejaseja qualqual forfor a sa suuaa fofo rmrma,a, umauma capacidadecapacidade espontâneaespontânea ddee concon
servservaçãoação ddee ssuuaa esestruturatrutura ee ddee rreegguullaçãoação ddee suassuas funçõefunções.s. CasoCaso
o o oorganismorganismo tenhatenha porporeleele pprróópprriio, seuso, seus poderespoderes ddee ddeeffesesaa,, concon
fiarfiar nelenele é,é, ppeelloo mmenosenos provisoriamprovisoriameennttee,, uumm imperativimperativoo hihippotéoté
ticotico ddee prudênprudênciacia ee ddee habilidadhabilidadee aaoo mmesesmmoo tempo. Ptempo. Paraara corpocorpo
nn ââ m i c ~m i c ~ medimedicinacina eexxpectante.pectante. OO gêniogênio médicomédico seriaseria umauma ppaa
ciêciência.ncia. EEnecessário,necessário, ainda,ainda, queque oo doentedoente consintaconsinta nnaa lloonganingani
mimiddaadde.e. BordeuBordeu oo viu muiviu muittoo bembem ee disse:disse: EsteEste mmééttodoodo dde e eexx
ppececrraçãoação temtem aallggoo ddee frfriioo oouu ddee austero,austero, aaoo qualqual aa vviivavacciidadedade
ddooss doentesdoentes ee ddos assos assistentes distentes deevve se acoe se acommoodadar r ppouco.ouco. AlémAlém
disso,disso, ooss eexxppectadores seectadores semprempre formarformaraamm uumm pequenpequenoo conjuntoconjunto
eenn tre ostre os mmédicos,édicos, sosobbretudoretudo juntjunto aos povoso aos povos naturnaturaallmmeennttee vivi
vvosos,, impacientesimpacientes cc rreceosos''eceosos'' (R(Recllerchesecllerches sursur l histoirel histoire dede lala mécle-mécle-
cine,cine, 17681768).).
NNeemm todostodos osos doentesdoentes tratadostratados sese curam. Algunscuram. Alguns doentedoentes ses se
ccuramuram sseem m mmééddiico.co. HipócrateHipócratess,, queque relata essasrelata essas observaçõesobservações
eemm seuseu ttrratadoatado DaDa artartee  éé ttaammbémbémaqueleaquele queque temtem aa responsabi·responsabi·
II dade ou,dade ou, eemm seuseu lugar, alugar, a glóriaglória llegeegendárindáriaa ddee haverhaver introduziintroduzi
ddoo oo conceitoconceito dede natunaturrezaeza no pensamentono pensamento médico.médico. AsAs naturenature
zas sãozas são osos médicosmédicos dasdas ddoençasoenças (Epidemias(Epidemias    VIVI)) .. PPoorr médicomédico
  
Escritos sohrcEscritos sohrc aa ~~ oo aa 33
deve-se edeve-se enn tendertender uma atividade,uma atividade, imanenteimanente aaoo organismo,organismo, ddee
compensação doscompensação dos deficits,deficits, dede reresstabelecimento dtabelecimento doo equiequilíbriolíbrio
rrompido,ompido, ddee rreettificaçãoificação ddee posturapostura nnaa detecçãodetecção d«:d«: desvio.desvio. EssaEssa
aattiividadevidade nãonão é umaé uma ciênciaciência iinnffusa.usa. AA naturezanatureza encontraencontra porpor sisi
mesmamesma asas vias evias e osos meios,meios, nnããoo pelapela inteligência:inteligência: ttaaiiss sãosão o piscaro piscar
os olhos,os olhos, osos ofíciosofícios desempenhaddesempenhadosos pelapela língualíngua ee asas ooutras utras açõaçõeses
desse gêdesse gênnero; a natureza,ero; a natureza, semsem instruçãoinstrução e seme sem saber,saber, fazfaz oo queque
convém.convém.
AA analanalogia eogia ennttrree aa artearte ddoo médimédiccoo ee aa naturezanatureza curatcurativa nãoiva não
esclareceesclarece aa nnatureza patureza peellaa aarrttee,, mmasas aa aarte pelarte pela nnaturezaatureza.. aarterte
médicamédica devedeve observar,observar, escutarescutar aa natureza. Aqui,natureza. Aqui, obseobserrvvaarr ee ou·ou·
virvir éé obedecer.obedecer. GaleGalenno,o, queque atribuiu aatribuiu a HHiippócraócrates tes ooss ccoonnceitosceitos
dosdos quaisquais podemospodemos apenasapenas dizerdizer queque sãosão hipocrMihipocrMicocoss,, reto·reto·
moumou--osos porpor suasua ccoonnttaa ee eennsinou,sinou, eellee tata mbém,mbém, queque aa nnaatturezaureza éé aa
pprimeirrimeira consea conserrvadoravadora ddaa saúde, porquesaúde, porque elaela éé aa primeiraprimeira formaforma
doradora ddoo organismo. Devemosorganismo. Devemos lleembrmbrar, tod<wia,ar, tod<wia, queque nenhumnenhum
textotexto hipocráticohipocrático chegachega aa ddescescrrever ever aa narunarurreZ leZ l ccoommoo iinnffalívelalível
ou onipotente. ou onipotente. Se aSe a artearte médica nasceu,médica nasceu, foifoi transmirida,transmirida, sese ddaa
deve serdeve ser apapeerfeiçoada,rfeiçoada, éé comocomo medidamedida ddoo poderpoder ddaa natureza,natureza, oouu
sseja, avaliaçeja, avaliaç
ããoo ddee
suassuas forças.forças.
SegundoSegundo
oo resultresult
adoado
dessadessa medimedidda, oa, o médimédiccoo devedeve laisserlaisser fairefaire aa natureza,natureza, oouu eennttããoo inteinterrvvirir parapara
ssuusstteennttá-laá-la e ajudá-e ajudá- llaa oou ainu ainddaa rreenunciarnunciar àà intervenção,intervenção, umauma
vezvez queque hháá ddooeennçasças maismais fforte:>orte:> queque aa naturezanatureza. . OO nnddee aa naturezanatureza
cede,cede, aa medicina devemedicina deve renunrenunciar.ciar. PePeddiirr àà artearte oo queque nnããoo éé ddaa
a.ne ea.ne e àà natureza natureza oo queque nãonão éé ddaa naturezanatureza éé ser ignorante, ser ignorante, ee ddee
umauma iignorânciagnorância queque resresululta maista mais ddaa loucuraloucura ddoo queque ddaa faltafalta ddee
iinstruçãonstrução (Da(Da arte).arte).
QuerQuer lamentemlamentemos,os, querquer não,não, oo fatofato é que,é que, hojehoje ninguém éninguém é
oobbrigado,rigado, paraparaexercerexercer a meda mediicina,cina, aa terter oo menor conhecimentomenor conhecimento
  
   44 ~ o r g e s~ o r g e s Can){uílht:mCan){uílht:m
ddee suasua histórihistória.a. ÉÉ fácilfácil imaginarimaginarqual impressãoqual impressão umauma doutrinadoutrina
médica,médica, taltal comocomo oo hipocrahipocratismo,tismo, pode produzpode produzirir nono esp(rico deesp(rico de
quemquem sósó conheconheccee oo nomenome ddee HipóHipócratescrates pelopelo famosofamoso juramenjuramen
toto, rit, ritoo finfinal doraal doravvantcantc esvazesvaziaiaddo deo de seu seseu sentido.ntido. PiPioorr ainainda se,da se,
por acaspor acaso, projeo, projetandotando retrretrooaativamentetivamente nnoo passado os princípiospassado os princípios
tteeóórricos eicos e osos p r e c e i t ~p r e c e i t ~ técnicostécnicos ddoo ensino médicoensino médico ddee hoje,hoje, sese
pretendessepretendesse jllljlllgargar Hipócrates, comoHipócrates, como se a vazase a vazantente ddoo cursocurso ddaa
hhiiststóóriaria trantransparecesse asparecesse a montante.montante. Notemos,Notemos, semsem n i m o s i d a ~n i m o s i d a ~
de,de, queque atéaté mesmmesmoo umum mestre commestre como Édouao Édouard Rist, qurd Rist, quee nãnãoo igig
nnoorava arava a histórihistória,a, sósó soubesoube tratar dtratar da medicinaa medicina hipocrhipocrática,ática, eemm
suasua HistoireHistoire critiquecritique dede aa médecinemédecine dansdans l Antiquiré,l Antiquiré, sobsob a formaa forma
ddee um requísum requísiitótóriorio. Aparent. Aparentemcnreemcnre,, essaessa espécie deespécie de ininggrratidãoatidão
não denão deiixaxa ddee terter fufu ndamento.ndamento. ComoComo FFrrançoançoiiss DDagognetagognet oo mosmos
troutrou emem ll misonmison etet lesles rcmede.l,rcmede.l,11a medicinaa medicina contemporcontemporâneaânea,,
mumuitito longeo longeddee vigivigiaarroouuddee estimularestimular,, sistesistematicamente,maticamente, asas rearea
çõesções ddee autodefautodefesaesa ddoo orgaorganjsmo,njsmo, comcom freqüêfreqüêncincia sea se esforesforççaa eemm
m o r á ~m o r á ~ l a sl a s ee talveztalvez mesmo emmesmo em rreprimi-eprimi-las,las, eemm ddeetter,er, porpor
exexeemmpplloo rreaçõeseações hhuummoraisorais ddesesproppropoorrcciioonnaLc;aLc; eemm relaçãorelação àà
agressividade qagressividade quuee a:;a:; ssuusscitacita .. PPoror vezes avezes a teterrapapêêuuticatica ccoollabora,abora,
inclusive,inclusive, comcom o o pprrópróprio mal, reforçio mal, reforça o quea o que ela deveriaela deveria e n f r a ~e n f r a ~
quecequece r,r, multiplimultipliccaa oo queque deveria redudeveria reduzizir,r, aa fimfim de convde convertererter eemminstinstrumentorumento ddoo bembem aa exaltação provocadaexaltação provocada por umapor uma afecçãoafecção
espoespontânea.ntânea. ÉÉ oo casocaso dede algumasalgumas pnüicaspnüicas imunológicimunológicasas queque
ccoontamntam comcom a a intensidaintensidadede ddoo proceprocesso infeccioso passo infeccioso para facilitar,ra facilitar,
porpor mmeioeio dada seseccrreção de eção de susubsbsttââncnciiasas pprroo teolítiteolíticacass,, aa açãoação dasdas
babaccttérias.érias. NãoNão nnosos parece,parece, então, queentão, que aa medicinamedicina contempcontemporâorâ
neanea lançalança porpor terraterra as prescas prescriçõesrições hipohipocrátcráticasicas e só rece só reconheceonhece aa
eexxistênciaistência de umde umaa naturezanatureza curativacurativa das doençasdas doenças porpor temertemer e,e,
porpor ccoonseguintenseguinte,, parapara eentrantravar suasvar suas iiniciativasniciativas?? queque a patolo,a patolo,
giagia contemporâneacontemporânea aapprendeu arendeu a rreconhececonhecer a existêncier a existência dea de e a ~e a ~
11Pmis,Pmis, PUF,PUF, 1964,1964, Col.Col. Galien .Galien .
  
EscrírosEscríros sobnsobn:: aa medicinamedicina
55
ções orgânicas paradoxais a um hipocções orgânicas paradoxais a um hipocrraatitismo de estrita obe,smo de estrita obe,
? i ê . n c i ~ :? i ê . n c i ~ : HHáá erroserros de de réplíréplícaca ou ou dede exexposição.posição. OcorreOcorreque,que, a algoa algo
msigmfimsigmficante, acante, a natureza renatureza respondesponde comcom uumm paparrooxxiismo.smo. AssimAssim
éé
nnaa
alergiaalergia,,
nnaa
anafianafilaxialaxia.. PorPor vevezzes,es, dizerdizer
queque
oo rremédioemédio
natu-natu-
ralral éé pior dopior do queque oo mal émal é aindaainda poucopouco,, eelele éé o próprio mao próprio mal.l. PoPo
rém,rém, sese exexaaminminaarmrmos beos bemm asas ttécécnniicascas médicmédicasas ddee ddefesaefesa ccoonnttrraa
essa autodefesa desmedida, nãoessa autodefesa desmedida, não seseriaria possível tornarpossível tornar aa dardar umum
sesentidontido aoao coconnceceito deito de naturnatureza?eza?
NNoo quque concernee concerne àsàs defesasdefesasorgânicasorgânicas naturais,naturais, a medicia medicina dena de
hoje exercehoje exerce uumma pn1ta pn1ticaica dede dúviddúvidaa provisória.provisória. A dúvA dúvidaida nãonão inciinci
ddee sobre o fato sobre o fato da reação, da reação, masmassobresobre a pertia pertinência inicnência iniciiaall ee suasua susu
ficiênciaficiência definitiva. Edefinitiva. E,, nnoo eennttaannto,to, essa dessa dúvidúvida não suspende aa não suspende adecisdecisão de ão de intervir; intervir; pelpeloo comráricomrário,o, ddaa aa precipita.precipita. ÉÉqueque essaessa dúdú
vidavida éé fundamfundameennttadaada nono conhconhecimentoecimento ddoo papelpapel ddeesempesempenhadonhado
pelo sistempelo sistemaa nneeuurovegetativo, rovegetativo, nonoqueque sese nomeounomeou situsituaçõesações patopato
gêgênicas,nicas, indindepeependentesndentesddaa naturnaturezaeza dos agentes pados agentes patógentógenos. Oros. Ora,a,
a ação sobrea ação sobre o so siisstematema vegetativo, seja qvegetativo, seja qual fual foorr seu mecanismoseu mecanismo
i ~ d i r ei ~ d i r e oo •• aa complexidade doscomplexidade dos ddesesvviios,os, notadnotadamentamente pee pelala ini.hini.h iç< íoiç< ío
hterarqmzada dos cehterarqmzada dos centrontros de excitação ous de excitação ou dede frenamento, pefrenamento, per-r-
manece, emmanece, em t.Htimat.Htima ananáálise,lise, umauma cópia,cópia, emboraembora invinvertida,ertida, do prodo processocesso orgânorgânico naico natural. Mesmotural. Mesmo oo m a n d o ~ am a n d o ~ a pelopelo aveavessosso,, a artea arte
imitaimita aa naturnatureza,eza, nnoo sentido emsentido em queque LaLa FontaineFontaine diz:diz: MiMinhanha
imitação nãoimitação não éé uma escravidão, pego apenas a idéia,uma escravidão, pego apenas a idéia, osos c o n t o r ~c o n t o r ~
n ~ sn ~ s •• asas ll:is:is [[ .. .]..]. :: UmaUma teterarapêutica spêutica siissttematicameematicamentente ru;oru;o hipohipo
crancranca podeca pode serser mventadmventada pa poorrque, por volta de 1921,que, por volta de 1921, OOtt ttoo L o e ~L o e ~
wi,wi, confinnconfinnando obseando observaçõesrvações acompaacompanhadas dnhadas desdeesde 19041904 porpor
ElliotElliot e Dale Dale, consee, conseguiu demonguiu demonststrraar quer que o pneumo pneumogástricogástrico ageo age
porpor meio da meio da lliiberaçãoberação de de umauma subsubststâânciancia inibidorainibidora, de, de uumm rrans,rrans,
missomissorr químiquímico.co. PoPorr essa razão,essa razão, aaoo identificar a hiidentificar a hist:1mst:1m ina, Sirina, Sir
Henry DaleHenry Dale pôde dpôde diizerzer 4ue4ue elaela eerraa umum prodproduumm ddaa autof.autof.mmnnacoaco
llogog iia org1inica .a org1inica . MaMas,s, rantrantoo nana farmacopéia viva quafarmacopéia viva quannttoo na far,na far,
  
1616 GeorgeGeorges Cmgs Cmguuiillhemhem
mmacacopéia eopéia erurudita,dita, seseuuss remédios podem serremédios podem ser mmbém,mmbém, segsegundundo o oo
caso,caso, aa durduração e aação e a dose.dose. vveneneenonos.s. EmEm suma,suma, umauma mmedicedicininaa nnãoão
hipohipocrácrá tticaica nãnãoo éé umauma mmeedidiccinina anri-hipoca anri-hipocrráticaática,, ranto quanranto quanttoo
umauma gegeoometriametria não não eueucclilidiana nãodiana não éé umauma gegeoometria antimetria antieeuclucl ii
ddiiananaa.. O podeO poderr ccuratiurativovo ddaa narurnarurezaeza nãonão éé negadonegado pelpeloo trata,trata,
mmccncncooqueque oog(wcrnag(wcrna n t e g r a n d o ~ on t e g r a n d o ~ o eleele éé sisitutuadoadoememseu nível ou,seu nível ou,
maismais ex::lex::l ttamente,amente,dd ee éé cocommpprreeneenddido eido emm seusseus limilimi tes.tes. OO hípohípo
cmrismo cocmrismo connssttaattavaava ququee asas ffoorçarçass ddaa nnaatureztureza sãoa são limitadas.limitadas. oo
queque àà mmeedicdicina ina expecexpectantetante ser quaser qua lili ficadaficada porpor s c l e p í as c l e p í a dd ~~ ss
de meditaçãode meditação sobsob rere aa mmoorrtte.e. A mA mededicinaicina nãnãoo h.ipocrácih.ipocrácicaca podepode
rrececuaruar ssuauas fronteis fronteirarass dederirivandovando essasessas ffoorrças.ças. AAwwaallmentc, amentc, a iigg
nnorâorânnciacia consisticonsistiriria ema em IICÍOIICÍO pedirpedir àà natun::natun::zaza o queo que nãonão éé da natuda natu
rreza.eza. AA aarterte mmédicaédica éé aa didiaallététiicaca da natureza.da natureza.
NãNãoo éé sesemm proppropósósititoo queque oo nomenome dede LoewLoewii tenhatenha sidosidommaantinti,,
dodo nnoo esboçoesboço hihissttóricoórico dede umauma rrevevoolluçãoução emem pacologpacologia,ia, e e pprrefeefe
ridorido a a ttantosantos ouou trtros,os, comocomo osos dede ReillyReilly ouou dede SeSellyc.yc. Os Os trabtrabalhoalhoss
dede LLoeoewiwi ffoorramam retomadosretomados e e prproolloonngados,gados, emem HHarvard, porarvard, por
CaCa nnon ennon e suasua eescscoolla.a. FoiFoiCannonCannon quem ampliou oquem ampliou o iinntteresseeresse pcpc
llasas pesquisapesquisass fifisiosio llógógicasicas sobresobre o o ssiisstteemmaa nervnervoso autônomo, oso autônomo, dede
monstrandomonstrando seuseu papelpapel nnaa regulregulaçãoação hhoommeostáticaeostática dede funçfunçõõeess
bbioiollôgicôgicasas fufundndamentaamentaiis:s: circucircullaçãoação. . rresesppiraçiração,ão, ttermogêncse.ermogêncse.
FFooii CannCannonon que,que, dedeppooiiss de de ClaudClaudee BBernaernardrd ,, apresentapresentou o conou o con
juntojunto ~ Q s~ Q s funçfunçõesões dede rregegululação comoação como uumama interpretaçãinterpretaçãoo mo·mo·
dedemama dada vivissmmeedidicatcatrixrix naturalnatural"",, interpretaçãointerpretação geradgeradoraora dede otioti
misu10misu10 quantquantoo àà cooperaçãocooperação entrentre oe o mm..éédidicoco ee aa naturnatureezzaa,, masmas
eem umm um sentidsentidoo dt::dt:: rreellaação deção de mmododo queo que "a própria"a própria nnaaturturezaeza coco
llaboreabore cocomm osos reremméédidiosos qquuee eleele oo mméédico)dico) prescreve".prescreve".22
22LaLa sagessesagesse dudu cocorprpss ((rrrnd.rnd. r.r. dede T .T .eewisdomwisdom oo l l ee bod-y,bod-y, 1932),1932), PP;•;•ris,ris, 1946,1946, p.p.
119944-195.-195.
  
EscritosEscritos sosobbrre ae a medicinamedicina 1717
CompComprreeeendnde-see-se que a partque a partiir do mr do moomento em quemento em que aa ciênciaciência
fisiológicafisiológica ppeermitiu armitiu aoo médicmédicoo podpoder contarer contar comcom a a exexisisttêncênciiaa dede
mmeecancaniissmmosos pprroottetoetorreses dada estabilidade orgânica,estabilidade orgânica, oos s mméédicosdicos
puderampuderam cessarcessar de de invocar invocar aa NNatatuurrezaeza como acomo a providência daprovidência da
Vida.Vida. MMasas comcomprpreeeendndee,,sese tambémtambém ppoorr que essaque essa interpretação,interpretação,
até aqaté aquueleele mmoommento,ento, eembormboraa freqüfreqüenentementtemente coe connttesestadatada coco
mo metafísicamo metafísica poporr muitosmuitos esespíripíritostos popossitivos,itivos, ppôdeôde,, ddee mmoodo indo in
cesscessanteante ee jujunnttoo aa eesspíritpíritosos nãnãoo menosmenos vigvigoorrosososos ,, aucorizaaucoriza rr,se,,se,
tantotanto em teem teooriaria quantoquanto eem m pprrááttiica,ca, dada obseobservrvaaçãoção atenta eatenta e fifieell
dede aalgumlgumasas reaçõesreações ee peiforrnancespeiforrnances ddo o oorgrganismoanismo eemm estestado deado de
ddoeoença.nça. SeSe oo oorrganismo humganismo humanoano compreendecompreende didisspposos itivositivos ddee
segusegurraannçaça coconntratraosos riscosriscos eemm susuasas relaçrelaçõesões comcomseuseu mmeeioio,,oo queque
havhaveeria dria de e ssurpreendenteurpreendente sese eessessses didissppositositivos funcionaivos funcionassessemm,, ee
oo que haveria deque haveria de insensainsensatto seo se hhoomens,mens, doentesdoentes ouou mmédéd iicoscos aad,d,
mirassemmirassem seusseus eefeifei tostos manifestos?manifestos?
AA rreevivisãosão ddosos temastemas ee ddaass resesreses inspirados pelinspirados pelaa confiaconfiançança
práticaprática -na-na fafa llta deta de lulucidecidezz teteóricaórica -no-no poderpoder cucurraativotivo ddaa nana
turezatureza exigiriaexigiria aa referêncreferênciiaa aa umauma liliteratuteraturara mmédéd iicoco--filosfilosóófificaca
coconsidnsideerável,rável, ccuja melhoruja melhor apreseapresennttaçãoação éé oferoferecidecidaa pepella oa obrabra
dede MaxMax Neuburger,Neuburger, DieDie LehrLehr
ee nn
derder
ee
ilkraftilkraft derder NaturNatur imimWandelWandel derder ~ i t e n~ i t e n ((1926).1926). Sob oSob o títulotítulo LeLemédemédecicinndede sosoi-même,i-même, aa
SrSraa.. Evelyne Aziza-ShusterEvelyne Aziza-Shuster estudoestudou,u, recentemente, emrecentemente, em umauma
resresee de de ddououttoorado rado de tercede terceiroiro ciclo,ciclo,33 a parte desa parte dessa literatura qusa literatura quee
conccrne conccrne aoao queque ssee poderiapoderia chamchamarar aa prescriçãprescriçãoo ddee TiTibbééririo''.o''.
TTáácito, Scito, Suueettôôninioo,, PPlíniolínio,, oo VVeelhlho,o, c Plutarcoc Plutarco trtraannsmsm itiramitiram àà
posteridadeposteridade o exeo exemplomplo e e aa exortaçãoexortação dodo iimpmpeerradadoorr Tibério:Tibério:
passadapassada aa idadidadee dede 3030 anos,anos, todotodo homem devehomem deve poder ser seupoder ser seu
prpróóprpriioo mmédico.édico. DepoisDepois dd
osos
3030 anos,anos, quequerr didi
zeze
rr,, depois quedepois que umumnúmeronúmero ssuficiuficieente dnte dee experiênexperiênciascias emem matériamatéria ddee aalimentação,limentação,
33AA ~ e r~ e r publpublicadaicada pelapela PUPUFF,, Col.Col. ....GalienGalienw.w.
  
1818 GeoGeorgerges Cangs Canguilhuilhemem
lúgilúgiene e ene e momodos de vida dos de vida permitiu ao juípermitiu ao juízo zo individualindividual fazerfazer a se·a se·
paração entrparação entre, e, por por um laum ladodo,, osos efeefeitoitos das escolhas instints das escolhas instintivas,ivas, cc
portanto naturais, de satisfações ótimas e, por outro,portanto naturais, de satisfações ótimas e, por outro, asas conse·conse·
qüêndas da submissão dócilqüêndas da submissão dócil àsàs regras de uma arteregras de uma arte malmal fundafunda
mentada ou interessadamentada ou interessada emem enganar. Quem se surpreenderiaenganar. Quem se surpreenderia
com o fato de Mocom o fato de Montaigntaigne sne se referir e referir a Tibério a Tibério parpara a autorizautorizar-se aar-se a
seguir apenasseguir apenas seusseus apetites, na saúde e na doença, e paraapetites, na saúde e na doença, e para fazerfazer
cedceder er amplameamplamente nte toda toda conclusão conclusão médmédica ica a a seuseu prazer? Masprazer? Mas
quando Descartes, depois dequando Descartes, depois de sese haver vangloriado por fundarhaver vangloriado por fundar
umauma medicina infalívelmedicina infalível sobresobre umauma ciênciaciência dodo corpocorpo vivo,vivo, e tãoe tão
solidamentesolidamente demonstraddemonstradaa quanto a mecânica, propõequanto a mecânica, propõe aa Bur·Bur·
mman,an, comocomo regraregra da saúde,da saúde, oo discernimentodiscernimento instintivinstintivoo dodo útilútil eedo nocivo própriodo nocivo próprio aosaos imimais,ais, a confia confiança noança no poder reconheci·poder reconheci·
dodo Natureza deNatureza de sese restabelecerrestabelecer aa partir de partir de umum estadoestado queque eellaa
conhece bemconhece bem mmeelhlhoror do que umdo que um médico que sómédico que só vêvê oo laladdoo dede
fora",fora", queque sustentaçãosustentação dadadada à teseà tese dodo MMédicoédico dede si mesmosi mesmo DDee
nossonosso conhecimento, aconhecimento, a primeiraprimeira obraobra queque lleevvou esseou esse títultítuloo foifoi aa
dodo ccirurgiãirurgiãoo JJeanean DevauxDevaux(1649-(1649- 11729),729), LeLe méde inméde in dede soi-mêmesoi-même
ouou 'are'are dede conserverconserver lala sancésancé parpar l'instinctl'instinct (Leyde,(Leyde, 1682 .1682 . DiatribeDiatribe
dede cirurgião contracirurgião contra osos médicos, amédicos, a obraobra éé também justificativatambém justificativa
anticarcesianaanticarcesiana dodo naturismo cartesiano, manifestamente ignonaturismo cartesiano, manifestamente igno
rado por rado por DevauDevaux.x. EleEle quer demonstrar que o homem tem ins·quer demonstrar que o homem tem ins·
tintinto comto como todo o todo animanimal e que o al e que o instinto no instinto no anianimamal nl nãoão éé umum
mecanismo,mecanismo, masmas um conhecimento por imagens. Se a obra doum conhecimento por imagens. Se a obra do
ininglglês ês John ArJohn Archecher r (morto (morto emem 1684 ,1684 , EveryEvery man,man, hishis ownown docrordocror
(1673)(1673) precedeuprecedeu àà de de DevauDevaux,x, ela,ela, contudo, não pertence aocontudo, não pertence ao
gênero demonstrativo,gênero demonstrativo, foifoi o escrito publicitário de um charlao escrito publicitário de um charla
tão renomado. Na realidade, a literatura médica de inspiraçãotão renomado. Na realidade, a literatura médica de inspiração
nna a urista permaneceu, permanece e permanecerá, sem urista permaneceu, permanece e permanecerá, sem dúvidadúvida
por muito tempo ainda, dividida entre duas intenções ou duaspor muito tempo ainda, dividida entre duas intenções ou duas
motimotivaçõvações: es: reação sincera de reação sincera de compensação quacompensação quandndo o das cridas crisesses
  
EscriEscritos tos sobre a sobre a medicinamedicina 1919
da terapêutica, utilização astuciosa do desarvoramcnto dosda terapêutica, utilização astuciosa do desarvoramcnto dos
doentes para a vedoentes para a venda de qualquer electunda de qualquer electuário dário de e Orvieto, Orvieto, mes·mes·
mo quemo que sobsob a forma de impresso.a forma de impresso.
No séculoNo século XVIII,XVIII, foifoi sobsob o títuloo título DeDe medicinamedicina sinesine medicomedico
(1707),(1707), ouou sobsob DeDe autocratiaautocratia naturaenaturae ··(1696),(1696), que Georgesque Georges
Ernesr Ernesr SraSrahl parabenhl parabenizou-se peloizou-se pelo felizfeliz contraste enrcontraste enrre a propenre a propen··
são são doença doença e e a a raridade raridade das das doençasdoenças emem umum organorganismo condeismo conde
nado anado a umauma corrupção corrupção rápida prápida por sua or sua compcomposiçosição químicão química,a, sobsob
oo efeitoefeito dede umauma natureznatureza a pronta a pronta a restabelecer restabelecer aa economiaeconomia ani·ani·
mal,mal, graçasgraças àà espontaneidadeespontaneidade do movimento tônico vital.do movimento tônico vital. MasMas
foifoi sobsob o títuloo título DeDe medico suimedico sui ipsiusipsius ququee oo rival rival dede Stahl emStahl em Hallc,Hallc,
FrédFrédéériricc HHooffman,ffman, esesmmeroerou-u-sse e eemm apresentarapresentar suasua teorteoria meca·ia meca·
nicista donicista do cocorprpoo vivovivo como o supocomo o suporrtete racional deracional de umauma práticaprática
fielfiel aosaos princípios hipocráticos.princípios hipocráticos. FoiFoi aindaainda sobsob oo títultítuloo MedicusMedicus
suisui ipsiusipsius ((17681768 queque UneuUneuexpôs,expôs, maismais explicitamenteexplicitamentequeque mu ·mu ·
tostos outrosoutros depois dedepois de Galeno,Galeno, osos princípios deprincípios de umauma condutaconduta dada
vida regulada pelo usovida regulada pelo uso dasdas seisseis cocoiisassas não naturais, não naturais, instrumeninstrumen
tostos da saúde,da saúde, babasesses da higienda higiene.e. Vê-Vê-se, então, quese, então, que osos maiores nomaiores no
mesmes da medicinada medicina ee da história naturalda história natural nno séculoo século XVIIIXVIII nãnão o hehesisi
taramtaram em sustenem sustentar, tar, com scom suaua autoridade, uma tese progressivaautoridade, uma tese progressivamenmente condente condenada, ada, pepelo reculo recuo do cetio do ceticismcismo ou do nio ou do niiliilismo tesmo terara··
pêutico, a sobreviverpêutico, a sobreviver nasnas publicações de contestação, de charpublicações de contestação, de char
latanice ou de vulgarização retrógrada.latanice ou de vulgarização retrógrada.
No séculoNo século XIX,XIX, asas obrobras que poas que portartam m oo mesmomesmo títutítulo são obraslo são obras
de medicina doméstica, de medicina popular, de intençãode medicina doméstica, de medicina popular, de intenção fifi
lantrópica: Manuais de saúde,lantrópica: Manuais de saúde, AmigosAmigos da saúde, Conservado·da saúde, Conservado·
resres da saúde, Reguladores da saúde, Medicinas sem médico,da saúde, Reguladores da saúde, Medicinas sem médico,
MédicosMédicos semsem medicmedicina etc. A ina etc. A tese tese anteranteriormeiormente citada nte citada da Srda Sra.a.
Aziza·Shuster estabeleceu um Aziza·Shuster estabeleceu um quadrquadro sistemáticoo sistemático dessasdessas obras,obras,
nana falta de seu recenseamento exaustivo.falta de seu recenseamento exaustivo.
  
2020 Georgcs CanguilhemGeorgcs Canguilhem
O O que obrigou o que obrigou o temtemaa da naturezada natureza curcuratiativa a sva a see refugiarrefugiar nnaa
lilitteratura populaeratura popularr foi,foi, nnaa conjunção da anatomopatologiaconjunção da anatomopatologia ee
dasdas novasnovas técnicastécnicas de explorade exploração clínicção clínicaa (percussã(percussãoo ee u s c u l ~u s c u l ~
raraçção),ão), a descobea descoberra dosrra dos fefennômômeennosos dede ssilênilêncio escio esppoonnttâânneeoo ddaanatureza pelonatureza peloss médicos austríacos emédicos austríacos e francefrancesesses dodo sécuséculloo XIXXIX
nascente.nascente. AA novanova clclííninicaca em Viena e emem Viena e em ParisParis, no, nos prims primeeiirrooss
aannosos ddee 11880000,, ccoonnstatastata queque aa naturezanatureza ssóó fafa lala sese for bemfor bem nn tt e r ~e r ~
rogada.rogada.
AA partirpartirddoo mmoomentmentoo queque aa medicinmedicina fundama fundamenta seuenta seu i g ~i g ~
nóstíconóstíco nãonão maismais nnaa observação deobservação de ssiinnttomasomas espontâneosespontâneos,, masmas
nnoo exameexame ddee sinais provocados,sinais provocados, asas relaçõesrelações ddoo médicomédico ee ddoo oo ~~
enteente comcom aa naturnatureza seeza se vêem perturbadas.vêem perturbadas. PorPor nãonão podepoder fazerr fazer
ele próprioele próprio aa diferençadiferença entreentre osos sinais e os sinais e os sinsintomatomass,, oo doentedoente éé
levadolevado a achara achar naturalnatural qualquerqualquer condutaconduta quque se regulee se regule x c l u s i ~x c l u s i ~
vamvamentente e pepeloloss ssiinnttomas.omas. Mas porque doravante ele sabeMas porque doravante ele sabe queque
nãonão devedeve aceitaraceitar ddaa naturnaturezaeza tudo otudo o que ela diz e da maneiraque ela diz e da maneira
comocomo oo dizdiz sesemm suasua arredearrede r i g á ~ lr i g á ~ l aa se expressar,se expressar, o médicoo médico éé
levado a levado a desconfdesconfiariar nãonão somesomennttee dodo queque elaela dizdiz mas também domas também do
quque elae ela faz.faz. Se Se emem suasua tetesese deagrégédeagrégé eemm 1857,1857, DDee l expectarionenl expectarionen
médecine,médecine, CharcotCharcot sutilizasutiliza -- a fima fim dede conservarconservar algumalgum crédicréditto aoo ao
nnaa turismoturismo e ae aoo humorismo-humorismo- Émilc Émilc LittLittré, ré, fifieell aoao ensinoensino o s i t i ~o s i t i ~
visvis que que fundafundamentmentaa a açãoa ação nnaa ciência,ciência, ele retomaele retoma aa palavrapalavra dede
TibérioTibério apeapennasas paparraa refutrefutá-á-llaa ee llembraembra ao doenteao doente a obrigaçãoa obrigação
ddee recrecoorrrreerr,, sesemm sese fiarfiar eemm seseuupprróópriopriosentido,sentido, aaoohomemhomem capazcapaz
dede sabesaberr oo queque eellee mmeessmmoo iignora,gnora, oouu sesejaja,,aaoomédico.médico. NãoNão sese rr
ttaa mais mais de sude suppllantaantarr a medicinaa medicina pela higiene.pela higiene.NadaNada de higienede higiene
semsem mmédicoédico ( De l'hygi( De l'hygiêênnee   ,, inin MédecineMédecine eett médecins,médecins, 1872).1872).
••••••
  
EscritosEscritos sobsobrree a medicinaa medicina
22
A fisiologiaA fisiologia justificou justificou algumaalgumass intuiçintuiçõesões da antiga medicinada antiga medicina
nanaturistturista mediana mediante ate a descobertadescoberta pprrogressiogressivvaa dede mecanismmecanismosos dede
u r o ~ r e g u l ç ã ou r o ~ r e g u l ç ã o e dee de eses tabilizaçãtabilizaçãoo orgânicos,orgânicos, cujacuja explicação éexplicação é
hoje hoje buscada embuscada em mmodelosodelos dede rere açãoação atiativa, va, em outrasem outras palavrpalavrasas ,,dede feedback.feedback.
SSimuimultaneamltaneameme, aeme, a terapêutica daterapêutica dass doençasdoenças iinnffecciosasecciosas,, nnaa
épocaépoca ddee PasceurPasceur,, ddee KochKoch ee dede seusseus alunalunos,os, llegitimouegitimou aa t r i b ut r i b u ~~
çãoção -- atéaté entãoentão semsem provas,provas, ee talveztalvez mesmmesmo o sem sem argumentosargumentos --
ddee uumm poderpoder dede defesa antitóxicodefesa antitóxico inatoinato aaoo organorganiissmmo.o. OraOra
compcompreenderreender éé ultrapaultrapassar. A rssar. A recupecuperaeração ção dirigidadirigida ddaa imunizaimuniza··
çãoção espontâneaespontânea pelapelas técs técnicas nicas imunológiimunológicascas temtem como efeitocomo efeito
excitaexcitarr aa rrééplicaplica curativacurativa nãonão porpor meiomeio ddee uumm logro,logro, masmas dede uumm
malmal menor,menor, um mal benevoleum mal benevolente, qunte, que e levleva a oo oorrgaganinismo asmo a reagirreagir
dede modo maimodo mais s rárápidpidoo ddoo quque ele costue ele costuma fama fazêzê-l-lo, o, visandovisando aa paspas··
sarsar frente defrente de uumm malmal maismais grave,grave, iminentiminente. Cadae. Cada vezvez mais,mais, ee ddee
modo melhor, émodo melhor, é possível transformarpossível transformar uumm organismoorganismo animal emanimal em
pprrododutor utor permanentpermanente de e de reremémédidios naturaisos naturais cessíveis.cessíveis.
RRoouxux, v, von Behring, Ehrlich, trêson Behring, Ehrlich, três gragranndes artedes artesãos da domes·sãos da domes·
titicaçãocação de umade uma naturezanatureza curativa selvagem .curativa selvagem . PelaPela n g e n h o s i ~n g e n h o s i ~
da da ddee dede Ehrlich,Ehrlich, aa quimioterapiaquimioterapia contemporâneacontemporânea nanassceuceu dodo es·es·
tudotudo ssiistemástemáticotico dos modos dos modos dede reaçãoreação celulares,celulares, e s c o n c c r t n ~e s c o n c c r t n ~
tes ptes poorr suasua parcialidadeparcialidade,, nnoo sentidosentido ddee queque aa pprrooduçãduçãoo espontâ·espontâ·
nea denea de aanticnticorpos,orpos, rerecuperadacuperada nasnas técnicas da vacinatécnicas da vacinação eção e ddaa
seroseroterapia,terapia, nnãão erao era maismais observávelobservável nnoo casocasoddosos pprrotozoários.otozoários.
A mediciA medicinna contemporâneaa contemporânea nãonão pode melhorpode melhor reverenreverenciaciarr
HipócratesHipócrates senãsenão cessando cessandoo dede se prevalse prevalecer dele; elaecer dele; ela nnããoo podepode
mmeelhorlhor celebrarcelebrar a precisão aproximadaa precisão aproximada ddee sua concepçãosua concepçãoddooganisganismo senãomo senão recusando sua práticarecusando sua práticaddee observaçãoobservaçãoee dde e eexpec,xpec,
tação.tação. NãoNão éé prudente prudente espesperarerarqueque aa naturnatureza seeza se declaredeclare quan·quan·
ddoo verificamosverificamos que, paraque, para conconhechecer suas er suas fomesfomes,, éé precisopreciso mmoobili·bili·
  
2222 GeorgesGeorges C ~ n g uC ~ n g u hh ee   
zá,zá,laslas porpor meimeioo dodo aallerta.erta. AgirAgir éé ativar,ativar, tantotanto parapara ee vv e l a r q u a n ~e l a r q u a n ~
to parato para remediarremediar..
Então, éEntão, é ppoossível,ssível, mesmomesmo nnaa era daera da farmacofarmacodinâmicdinâmicaa induinduss,,
ttririal,al, ddoo imperialismoimperialismo ddoo laboratóriolaboratório de de biolobiologia,gia, ddoo tratamentotratamento
eletrônieletrônico daco da iinnfformaçãoormação diagnóstica,diagnóstica, conticontinnuauarr aa fafallaarr dada nnaa
turezatureza para designarpara designar o fatoo fato iniciainicial dal da existênciaexistência dede sistemassistemas au,au,
to,reguladorcsto,reguladorcs vvivos,ivos, cujacuja diPâmicadiPâmica estáestá inscritainscrita em umem um cócóddigoigo
gegenético. Devenético. Deve-se,-se, aa rigrigor, toleraror, tolerar que, paraque, para osos doentedoentes,s, a coa conn,,
fiançafiança nnoo poderpoder da naturezada natureza possapossa afetaafetarr aa formaforma ddoo pcnsamen·pcnsamen·
ttoo mítico.mítico.MMiittoo dede origemorigem,, mitomitoddaa anterioridadeanterioridade ddaavidavidasobresobre aa
cucultura. Podeltura. Pode,sc,sc fazerfazer psps iicanácanálilissee ee rreeeennccoontrarntrar oo rosto darosto da MMããee
nna figuraa figura daNadaNa ttuurreeza.za. PoucoPouco impimporta, corta, c pelopelo contrário.contrário. AtéAté no,no,
va va oordem,rdem, a ordema ordem bbiioológicalógica éé primordialprimordial eem relaçm relaçãoão àà ordeordemm
tecnológica.tecnológica. IncluInclussive,ive, foifoi um psicum psicaannaalilissta heterodoxta heterodoxo,o, GGeeoorgrg
GGrrooddeck, quemddeck, quem eellaboroaborou os primu os primeieirrosos conceitosconceitos ddoo que seque se
deveriadeveria chamarchamarmedicimedicinnaa psicossomática,psicossomática, aoao desenvolvdesenvolveerroo en,en,
ssiinnoo naturistanaturista ddee SchweSchwenniinngegerr,, mmééddicoico pessoal de Bismarck.pessoal de Bismarck.
GroddecGroddeckk inintitultitulouou NruamecuNruamecu o livro queo livro que lhelhe dedicoudedicou emem 1199113:3:
NAcu.raNAcu.ra SAnatSAnat MEdicusMEdicus CUrat.CUrat.
  
AAss doençasdoenças
NNoo ccoommeçoeço dosdos EssaísEssaís sursur lala pcínturepcínture DidcroDidcrot esct escrreeve:ve: AA nana
turezatureza nnããoo fazfaz nada de incorrnada de incorreettoo.. TodaToda forma belforma bela oa ou feia temu feia tem
ssuaua causa; causa; e, de todoe, de todoss osos serseres que ees que exxiissttemem,, nãonão hháá umum queque nãonão
seja coseja commoo devedeve ser.ser. PPodemoodemos imags imagiinnarar EnEnsaios sobsaios sobrre ae a mm ~~ dd
cina ,cina , cujo cujo comcomeço serieço seria assa assimim:: AA naturezanatureza nnãoão fafazz nadanada de ar,de ar,
bitráriobitrário.. TTamoamo aa doença qudoença quantoanto aa saúdesaúde têmtêm suassuas causcausas, e deas, e de
todostodos os seros sereses vivosvivos nãonão hháá umum cujocujo estadoestado nãonão seja oseja o queque devedeve
ser.ser. EsseEsse gênerogênero de prólogode prólogo nãonão poderiapoderia concernirconcernir aa todastodas asas
populaçõespopulações eemm todos ostodos os temptempos.os. DDuranteurante sécsécululos eos e eemm muitomuitoss
llugugaareres,s, a doençaa doença foifoi considerconsiderada cada coommoo umuma possessãoa possessão porpor umum
serser maligno ,maligno , sobresobre üü qual apenasqual apenas um taumarurgum taumarurgoo poderiapoderia
triunfar,triunfar, oouu ccoommo umao uma puniçpunição inão infligida por umfligida por um poderpoder sosobrenabrena
tural atural a uumm desviantedesviante ou impurou impuro.o. SSeem precisar bum precisar buscar exescar exemplosmplos
nnoo ExtrExtremoemo Oriente,Oriente, podemopodemoss lleemmbrar quebrar que nnoo AntigoAntigo TestaTesta
mementnto (Leo (Levfvfrriico,co, capítuloscapítulos 1313 ee 44 aa lepralepra era era consideradconsiderada ea e rere
jeitajeitada da comcomoo umumaa impimpureurezaza e ose os lleepprrosos, osos, exexppululsossos ddas coas commuunini
dades.dades. NNaa Grécia,Grécia, asas priprimeirmeirasas formasformas de tratamenrode tratamenro e dee de teratera
pêuticapêutica são desão de o r d ~o r d ~    religireligiosa. Ascléosa. Asclépio, fílhopio, fílho de Apolo, éde Apolo, é oo
deus curaddeus curadoorr ddoo qualqual osos sasacerdotescerdotes sãosão os exeos executantes.cutantes. NosNos
templostemplos ddee AAssdépio,dépio, osos pacipacientesenteseeramram recebidrecebidos,os, eexxaaminadosminados
ee tratadostratados segundosegundo ricosricos dos quados quais a sis a serpeerpente e onte e o galogalo permanepermane
cecerramam p ~ r i i p n t ep ~ r i i p n t e sisimbólic<mbólic< SS
  
2424 Georges CanguilhemGeorges Canguilhem
AA jujussto to título, só título, só ssee ppododee falar dfalar dee mmeedicindicinaa grgreeggaa a pa paartirrtir ddoo
ppeeríríooddoo hihippooccrrááttiicco,o, isis toto éé   a a ppaartir do mrtir do moommeenntto eo em m ququee ssee trtraa
tamtam ttaanntoto ddooeennças qças quuaannttoo ddesoesordrdeenns cs coorprpororaaiiss,, aa rresesppeeiitto daso das
qquuaaiis ses se ppoodde se suusstteennttaar ur umm didiscscururso coso comunimuniccáávveell conceconcernrniinnddoo
aosaos ssiinntotommasas,, suas casuas cauusassas ssuupostas,postas, ffuuturo prováturo provávveell, ass, assimim
comocomo a coa conndduutta a sea a serr oobbservaservadda paa parra coa corrrrigigiir r aa ddesoresorddeem indim indi
ccaadda a popor r eleleses..SeSemmpprree sese nnotouotou quque essae essa mmeedidicinacina,, ccujujosos forfor  s-s-
  osos ddee HiHipócpócrraatteses são, de asão, de allggum um mmodo, uodo, um m brbreviáeviáririo,o, éé ccoonn
tteemmpoporrâânneeaa das pdas pririmmeieirrasas pesqpesquiuisassas mmeerrececeeddoorrasas ddoo nnoommee
ciciêênncciia a ee ddoo pprogressorogressoddo pensao pensammeenntto fo fililosófico.osófico. UUmm didiáállogoogo ddee
PlPlatãoatão. . FFeeddroro ,, coconnttéémm uumm elelogogiio o aa HHiipópóccrrates cates cujujoo mmééttooddo o éé
ddeeclclaarraaddo co coonnffoormerme àà jujusstata rozãorozão   ..
NNeem m ppoor r 11ssssoo admitiradmitir--sese   ) que) que umauma tal prática médital prática médicca,a, eemm
borabora leigaleiga e ponderada, pe ponderada, poossa ser ssa ser qualificadaqualificada ddee científicacientífica nnoo
sentidosentido modernomoderno do termo. A medicina dedo termo. A medicina de hojehoje fundamenfundamen
tou-se,tou-se, comcom a eficácia eficácia que a que cabecabe reconhecer,reconhecer, nnaa dissociaçãodissociação propro
gregressissiva enva entrtre ae a doençadoença e oe o doence,doence, ensinanensinando do a caracterizar a caracterizar oo
doentedoente pelpela a doedoençança, , mamaisis ddoo queque aa idenidentifictificar uma doar uma doençaença sese
gundgundo oo o feixefeixe ddee sintomas esponrasintomas esponraneamenneamente apresenrate apresenrados pelodos pelo
doentedoente. . DoeDoença remete mança remete mais a medicis a medicinaina ddoo quque a mal.e a mal. QuandoQuando
uumm médimédico falco fala da da da doeoençnça de a de BaBasesedowdow, isto, isto é,é, de bócio exoftálde bócio exoftál
micmico, ele o, ele designa um estaddesigna um estado de disfuo de disfunção endócnção endócrinrina cujoa cujoenun-enun-
ciadciado dos sintomas, o diagnóstio dos sintomas, o diagnóstico etco etiológiciológico, o progo, o prognóstico e anóstico e a
decisão terapêutica são sustentadosdecisão terapêutica são sustentados porpor umuma sucessão a sucessão de de pespes
quisas clínicas e experimentais, de exames de laboratório,quisas clínicas e experimentais, de exames de laboratório, nnoo
decordecorrer dos rer dos quais quais os doemes os doemes foforaram m tratadotratadoss nãonão comocomoos sujeios sujei
tos de sua dtos de sua doença, oença, mas como mas como objetoobjetos.s.
A peste, o cânA peste, o câncer, cer, o zono zona, a leucemia, o asma, a leucemia, o asma, o diaa, o diabetes sãobetes são
tipostipos ddee desordem orgânica sentdesordem orgânica sentida pelo ser vivida pelo ser vivo co como omo um um mamal.l.
A dA doenoença é o rça é o risciscoo ddoo ser ser vivvivo como tal, é o como tal, é riscriscoo tantotanto para o ani-para o ani-
  
Escritos sobre a medicinaEscritos sobre a medicina zz
malmal oouu para o vegetalpara o vegetalquamoquamo para opara o homem. Parahomem. Para esteste últimoe último,, àà
diferençadiferença ddoo riscorisco queque nascenasce ddaa resolução dresolução dee agagirir, o ris, o risco queco que
nasce pnasce peelolo fato dfato dee se nascer é,se nascer é, comcom muitamuita frfreeqüênqüênccia,ia, iinneevitávitá,,
vveel.l. O sO soofrimentfrimentoo, , a a rreedduuçção da atividão da atividaaddee hhaabitubituaall esesccoolhidalhida oouu
oobrigbrigaaddaa o o eenfrnfraaququeeccimimeenntto o oorrggânâniiccoo,, aa degrdegraaddaçãoação mentmentaall
sãosão ccoonnsstitittuuttivivosos ddee uumm esesttaaddoo ddee mmaall mmasas nnããoo sãosão ppoorr ssii mmeses
mmooss os aos atributtributosos eessppeecíficcíficosos ddoo qquue oe o mméédidiccoo ddee hhooje ideje idenntifitificcaa
ccoommoo ddooeençnçaa nno o eexxaattoo mmoomcmcnn.:o.:o eemm qquue e eelle se ese se esffoorçarça ppaarraa
ffaazzeerr cessacessarr oo mmaall oouu ssoommeennttee aatteennuuá-á-lloo.. TTooddaaviviaa,, aa relrelaçãoação
ddooeenn ttee ddooeennççaa nnããoo ppoode ser de cde ser de coomplmpleeta discta discoorrddâância.ncia. NNaas sos so
ciedades cciedades coonntteempmpoorrâânneas eeas emm qquue e aa mmeedicindicina sea se eemmppeennhhoouu
ppaarraa ssee ttoomarmar uumma ciêa ciênciancia ddaass ddooeennççaass, a vulg, a vulgaarização drização doossaa
ber, pber, poorr uumm lado, elado, e asas instituições dinstituições dee saúdsaúdee pública,pública, porpor outro,outro,
fazemfazem comcom que,que, nnaa maioria dos casos, o viver a doençamaioria dos casos, o viver a doença parapara oo
doentedoente sejseja ta tambambém falém falar delaar dela oouu ouvirouvir falarfalar dela segundodela segundo clicli
chêschês oouu estereótipos, istoestereótipos, isto éé valorizar implicitamentevalorizar implicitamente asas recaírecaí
dasdas ddee uumm saber saber cujcujosos progressosprogressos são,são, eemm parte, devidosparte, devidos ao ao fatofato
dede oo doente terdoente ter sidosido postoposto entreentre parêntesesparênteses enquantoenquanto eleitoeleito dada
diligência médica.diligência médica.
OO conhecimentoconhecimento atuaatual dal das doençass doenças somáticas ésomáticas é o resultado,o resultado,
sem dúvida provisório, de uma sucessão de crises e de invensem dúvida provisório, de uma sucessão de crises e de inven
çõesções dosadosaber ber médicmédico, de o, de proprogrgresessos concernsos concernentesentes àsàs prápráricaricas des de
exames e à exames e à análise de seus resultados, análise de seus resultados, sursurtitindo o cfendo o cfeícícoo ddee obriobri
gar gar os médicos os médicos a deslocar o a deslocar o fofoco co e a e a revisar revisar a esa estrtrututururaa ddoo agenteagente
patogêrúco e,patogêrúco e, porpor conseconseguinteguinte, a , a mudamudar r o alvo da intervençãoo alvo da intervenção
reparadora. Correlativamenre, foram deslocadosreparadora. Correlativamenre, foram deslocados osos locaislocais ddee
observação eobservação e ddee análise das estrutanálise das estruturauras orgânicas s orgânicas suspeitas,suspeitas, eemm
funçãofunção ddee aparelhos eaparelhos e ddee técnicas própriastécnicas próprias oouu emprestadas.emprestadas.
AsAssisim, m, as doenas doenças ças foram sucessivamentforam sucessivamente locale localizadizadasas nnoo orgaorga
nismo,nismo, nnoo órgão,órgão, nnoo tecido,tecido, nnaa célula,célula, nnoo gene,gene, nnaa enzima.enzima. EE dede
modmodo suceo sucessivo,ssivo, t r b l h o u ~ s et r b l h o u ~ s e parapara d e n t i f l c á ~ l sd e n t i f l c á ~ l s nnaa sala de au-sala de au-
  
2626 GeorgesGeorges CanguilhemCanguilhem
tótópspsia, ia, no laboratno laboratórioóriodede examesexames físicosfísicos (óti(ótico, elétco, elétricorico, radioló, radioló
gicogico ultra-sultra-sonográfico,onográfico, ccográfico)ccográfico) ee químquímicos ou bioquímicaicos ou bioquímicas.s.
A relaçãA relaçãoocadacada vezvez maismais estreitaestreita entreentre aa medicinamedicina e e aa biologiabiologia
permitiupermitiu didistinguirstinguir entreentre lSlS doenças,doenças, graçasgraças aa umum conhecimeconhecimenn
ttoo mmaiaiss exaexato dasto das leisleis dede heredithereditaariedadriedadeeasas queque sãosão hereditá·hereditá·
ririasas, d, depenependendo dadendo da constituconstituiiçãoçãododo gegennooma;ma; asas queque sãosão congêcongê
nnitas,itas, depedependendndendo dao das circunstânciass circunstâncias dada vida intravida intra-ute-uterina;rina; asas
queque sãosão propripropriamentamente fale falandoando,, ocasioocasionais,nais, tanto portanto por meiomeio dasdas
relrelaçóaçóes des do o indivíduoindivíduo comcom oo meiomeio ecoecolólógigico quaco quantntoo com ocom o gru-gru-
popo social de vida.social de vida. PodePode ser ser o caso casoo dede acidentesacidentes individuais,individuais, co·co·
mmoo aa pnpneumoeumonniaia oou u coletivocoletivos,s, comocomo aa gripegripe ouou oo tifotifo ddoeoe nnçasças
consideradasconsideradas ininffecciosas cecciosas cujo naujo nascimento,scimento, vidavida ee mortmortee foramforam
estudados estudados popor Charles Nicr Charles Nicolleolle.. SeSemm dúvida,dúvida, essasessas doenças dedoenças de
vemvem serser consideradas,consideradas, nnaa história das sociedadeshistória das sociedades ee das civilizadas civiliza
ções, como fenômenosções, como fenômenos naturainaturaiss caracterizadoscaracterizados pelapela época,época, llo-o-
caiscais dede apaapa rrecimento,ecimento, dede difusãodifusão ee dede extinção.extinção. MasMas sese a partira partir
dodo finalfinal do séculodo século XIXXIX coconhnheececemmosos ppoorr umum lado,lado, ss,,uasuas causascausas
determinantes;determinantes; micróbiosmicróbios bacilosbacilos vírusvírus ee ppoorroutro,outro, seusseus agenagen
tes vetores:tes vetores: aa pupulga do ralga do rato parato para aa peste,peste, oo mosquitomosquito edesedes aegy-aegy-
ptipti parapara aa febre amarela,febre amarela, oo historiador dhistoriador dessessas doenças as doenças não não podepode
deixardeixar dede se interessarse interessar pelas razõespelas razões dede sua distribuiçãosua distribuição geográfi-geográfi-
ca,ca, pelapela formaforma dasdas relaçõesrelações sociaissociais própriaspróprias àsàs popupopulações afeta·lações afeta·
das.das. EmEm suma, no período contemporâneo,suma, no período contemporâneo, aa lutaluta coletcoletivivaa porpor
mmeedidadida dede higienhigienee pública,pública, éé umum dosdos dede terminantterminanteses do quadrdo quadroo
dessasdessas doenças, da manedoenças, da maneira comoira como elaselas evoevoluluemem quanto aquanto a seusseus
sintomassintomas e se seus eus curscursos,os, sobsobo efeitoo efeito dosdos meiosmeios dada lutaluta provocadaprovocada
porporeelalas.s. MuitMuito o lolongengedede serserexcluído estáexcluído está oo fatfato de quo de que e a práficaa práfica
generalizageneralizadada dede vacinaçõesvacinações temtem comocomo coconnseqüêseqüênciancia o aparecio apareci··mentomento dede vvaariedadriedadeses de micróbiosde micróbios maismais resistencesresistences àsàs vacinas.vacinas.
EsseEsse éé apenasapenas umum dos aspectos dedos aspectos de umauma intervençintervençãoão dede fimfim
determinado,determinado, ququee fazfaz da multiplicaçãoda multiplicação ee da da eficáceficáciaia ccrerescsceentente
  
EscritosEscritos sobre sobre a medicinaa medicina 2727
dosdos atos atos médicos e cirúrgicos,médicos e cirúrgicos, nasnas sociedadessociedades industriaisindustriais ddee altaalta
tecnologia de proteção sanitár;a,tecnologia de proteção sanitár;a, umum riscorisco dede multiplicaçãomultiplicação
dasdas frfraquezasaquezas dodo sistemasistema biológicobiológico internointerno de resistênciade resistência àsàs
doenças.doenças.
NãoNão hháá nada nonada no meiomeio ambiente do homewambiente do homew queque sejaseja inicialinicial
mentmentee natural, tomando-senatural, tomando-se cadacada vezvez maismais factício e artificial,factício e artificial,
que não possaque não possa seserr considerado comoconsiderado como fontefonte dede perperiigosgos para taispara tais
ou tais homens,ou tais homens, umauma vezvez queque ooconceconceito ito de homem recobrede homem recobre comcom
umauma falsafalsa aparênciaaparência dede identidentidade idade espespecíecíficficaa organorganismosismos indiindi
viduais, providosviduais, providos dede diferentes poderesdiferentes poderes ddee resistênciaresistência àsàs agrcsagrcs ,,
sõessões porpor suasua ascendência.ascendência. OO queque sese nomeou errnomeou errosos inatosinatos dede mme-e-
tabtabolismolismo ouo ou anomaliasanomalias biolbiológicógicasas hereditáriashereditárias ttoornarna algunsalguns inin
divíduosdivíduos oouu algumas populaçalgumas populaçõesões sesennsívesíveiiss ee rereceptceptivivosos aa situa,situa,
çõesções ou a objetosou a objetos dede nocividade paradoxal. Para o indivíduonocividade paradoxal. Para o indivíduo
mediterrâneo, privadomediterrâneo, privado dede umauma certa diástase por seu patrimô·certa diástase por seu patrimô·
nionio genético,genético, oo fatofato dede comercomer favasfavas equivaleequivale aa sese eenvnvenenar.enenar.
mesmomesmo deficitdeficit enzimático,enzimático, pelopelo contcontrrárioário,, equivaleuequivaleu aa algumasalgumas
populaçõespopulações afriafriccanasanas umum aumentoaumento dede resistência aoresistência ao impaludiimpaludis-s-
mo.mo. Doravante, háDoravante, há muitosmuitos casoscasos nosnos quais,quais, parpara sea sepoder poder identi·identi·
ficarficar umauma doença, doença, devdeve-see-se aprender aaprender a não não buscbuscar oar o acesso a elaacesso a ela
passapassando pelo doentendo pelo doente.. DDoo pontopontodede vistavista dede enzimologistaenzimologista éé pos-pos-
sívelsível perceberperceber estadosestados dede doençadoença rearea ll emboraembora latentelatente ccprovisoproviso
riamenteriamente ttooleraleradada queque sãosão desconheciddesconhecidos pelo clínicoos pelo clínico oobsbseerva,rva,
dordor dede ssinaiinaiss espoespontânntâneoseos ouou provprovococ adosados que apareque aparececem nam na cs,cs,
cala docala do organismo ouorganismo ou dodo órgão.órgão.
AA eliminaçãoeliminação progressiva daprogressiva da referênciareferência àsàs situaçõessituações vividasvividas
pelospelos doentes,doentes, nnoo conhecimentoconhecimento dasdas doenças, nãodoenças, não éé apenasapenas oo
efeefeititoo dada colonizaçãocolonização dada medicinmedicinaa pelaspelas ciênciências fundamentacias fundamentaisisee aplicadas,aplicadas, aa partirpartir dosdos primeirprimeirosos anosanos dodo séculoséculo XIX;XIX; elaela éé
tambémtambém umum efeefe   oo dada atençãoatenção interinteressadaessada,, emem ttodosodos osos sentidossentidos
do terdo termo: quemo: que aa partirpartirdada mesmamesma épocaépoca asas socsociedadeiedadess dede tipo in-tipo in-
  
   88 GeorgesGeorges CanguilhemCanguilhem
dustdustrial rial concconcederederamam àà saúdesaúde das pdas popopulaçulaçõesões operoperáriaárias, ou, pas, ou, parara
usar asusar as palavraspalavras ddee alguns,alguns, aaoo componente componente humanhumano dao dass fforçasorças
produtivas.produtivas. A vigilânciaA vigilância ee a melhoriaa melhoria dasdas ccoonndições de vidadições de vida fo·fo·
ramram oo objeto deobjeto de mmedidasedidas e dee de regulamencregulamencosos decididosdecididos pelpelo po·o po·
der político der político solicitsolicitadoado cc esclareciesclarecido pelodo pelos s higienishigienistas.tas. MedicinaMedicina
e poe política, então, lítica, então, sese encontencontraramraram eemm uummaa nova nova abordagem daabordagem dass
doençasdoenças, d, da qual temos umaa qual temos uma ilustraçãilustraçãoo convincenteconvincente nnaa oorgrgananii··
zaçãozação e nas práticase nas práticas ddaa hospitalização.hospitalização. NNoo decorrerdecorrer ddoo séculoséculo
XVlll, particularmXVlll, particularmeentente nnaa França,França, nnaa épocaépoca ddaa RevoluRevolução,ção,
houvehouve uumm empenhempenhoo em se substituir oem se substituir o hhospício,ospício, asilo deasilo de acolhiacolhi
mementonto e de conforto de doentes quasee de conforto de doentes quase sempsemprere abandonados,abandonados,
ppeelloo hhoospispitaltal ,, eessppaaççoo de de análisanálise e e e dede vigilânvigilâncciaiadede ddoeoenntteess cata·cata·
JJogados,ogados, construídoconstruído e governae governaddoo para funcionpara funcionar ar comocomo máquimáqui
nnaa ddee curar , segundo a expressãocurar , segundo a expressão dede TTcnon.cnon. OO tratamentotratamento
hhospitaospitalar dalar das doens doençaçass eemm umauma estestrutrutura socura socialial regulamregulameenta·nta·
da, contribuiuda, contribuiu paraparadesindividualizá-las, aodesindividualizá-las, ao mesmesmo tempo quemo tempo que aa
aannááliselise cadacada vez maisvez mais artificialartificial dede ssuauass condições de apareci·condições de apareci·
mentomento extraiu suaextraiu sua rreaealidadelidade da represda representação clínicaentação clínica iniinicial.cial.
O O corolário desse desligamcorolário desse desligamento teóriento teórico fco fooii aa mutaçãomutação sobresobre
vivindanda àà profprofissãissão médio médicaca ee aaoo modomodo de abordagemde abordagemdasdas doendoenças.ças.
O médicoO médico terapeutaterapeuta que que exercexerciaia nas divenas diversas partes da rsas partes da mmeediei·diei·
na, na, atatualualmenmente te chchamamadado o clíniclínico co gegeraral ,l , viu viu declinardeclinar seu pres·seu pres·
tígio e sua autoridade emtígio e sua autoridade em benefíciobenefício dos médicos especialistas,dos médicos especialistas,
engenheirosengenheiros ddee uumm oorganismrganismoo decomposto tal comodecomposto tal como uummaa mama
quinaria.quinaria. MédicoMédicoss ainda pelaainda pela funçãfunção,o, porém,porém, doravante,doravante, nãonão
maimaiss porpor correspocorresponderem a uma imanderem a uma imaggeemm secular,secular, uma uma vevezzqueque aa
consultaconsulta consisteconsiste nnaa interrogaçãointerrogaçãoddee bancos de dadosbancos de dados ddee ordemordem
semiológicasemiológica e etiológie etiológica, ca, por meio dopor meio do ccoomputadormputador, e que, e que a for·a for·
mulação demulação de uumm diagndiagnósós tico probabilitico probabilisstata éé sustentadasustentada pelapela ava·ava·
liação de informaçõesliação de informações estatísticas.estatísticas. AA esseesse respeito,respeito, deve-se obdeve-se ob
servarservar queque oo estudoestudo dasdas doençasdoenças ddoo ppontoonto ddee vistavista estatístiestatísticcoo,,
  
EscritosEscritos sobre asobre a medicinamedicina 99
quantoquanto aa seseuu aparecimento, seuaparecimento, seu contextocontexto social esocial e ssuaua evolução,evolução,
éé precisamente contemporâneoprecisamente contemporâneo ddaa revolução anatomoclínicarevolução anatomoclínica
nos hospitaisnos hospitais austríacos,austríacos, inglesesingleses e francesese franceses nnoo começocomeço ddoo sésé
ccuulolo XIX.XIX. EEmm suma,suma, nãnão seo se podepode recusar admitirecusar admitir a existênr a existência decia de
uumm componente de natureza social, portanto político,componente de natureza social, portanto político, nnaa in·in·
vençãovençãoddee práticas teóricas atupráticas teóricas atualmalmentente efe eficicazazes paraes para o o conheciconheci
mentomento das doenças.das doenças.
Deve a inDeve a introdução detrodução de um pontum pontoo ddee vistavista sociopolítisociopolíticcoo nnaa hishis
tóriatória ddaa medicinmedicina a seser acantonadar acantonada nana pesquisa daspesquisa das causascausas ddee
umuma cona conversãversão o dodo sabesaber r ee da conduta?da conduta? Não seNão se deve igualmentedeve igualmente
recrecoonnhheecceerr causalidadescausalidades ddee ordemordem socsociológica niológica noo aparecimenaparecimen
ttoo ee nno o ccursursoo das próprias doenças? Viram-se, recentemente,das próprias doenças? Viram-se, recentemente,
sindicalistas sindicalistas partipartidáriodárioss dada autogesautogestão denunciaretão denunciaremm asas doençasdoenças
ddoo capitalismo,capitalismo, oo queque significasignifica verver nnaa doençadoença o indícioo indício orgâorgâniconico
dasdas relaçõesrelações ddee classeclasse nasnas sociedades capitalistas.sociedades capitalistas. HHouveouve uumm
tempo tempo em queem que sese falavafalava dede doenças dadoenças da miséria,miséria, ou seja, de caou seja, de ca
rências nascidasrências nascidas dede umuma suba subnutrnutriçãição respoo responsável pelansável pela avitaavitammii
nose, nose, ocorridas ocorridas em em algalgumumas camadas da populaas camadas da população.ção. oomm efeefeiitto,o,
a pria primeira disciplina médicameira disciplina médica queque se ocupose ocupou desseu desse tipotipo ddee quesques
tãotão foi a higiene.foi a higiene. NNaa introduçintroduçããoo a seusa seus ÉlémentÉlémentss d hygiened hygiene
(1797(1797), To), Tourturtellelle insie insiste sobrste sobree aa incidência patogênicaincidência patogênica ddaa denden
sidadesidade dede populaçãopopulação nas aglomerações modernas.nas aglomerações modernas. NNaa Inglater·Inglater·
ra,ra, assimassim comocomo nnaa França, na primeira terçaFrança, na primeira terça parteparte do séculodo século
XIXXIX, pr, prococededeueu-s-se a ee a enqnquéuétetes sobrs sobre ae a saúdesaúde dosdos opopeeráriráriosos nos di·nos di·
versosversos ramosramos dada indústria. indústria. VillerVillermémé publicou,publicou, eemm 1840,1840, uumm ccéé
lebrelebre TTableauableau dede l étatl étatphysiquephysique etmoraletmoral desdes ouvriersouvriers employésemployés dansdans
lesles fabriquesfabriques ee coton,coton, dede lainelaine etet dede soie.soie. NNaa França,França, durantedurante o séo sé
culoculo XIXXIX osos Tratados Tratados de higide higienenee industrialindustrial erameram nnuummeerosos.rosos.
TodTodaviavia, seja qual fa, seja qual for aor a importânciaimportância quque see se devedeve reconreconhecer aohecer ao
modomodo de vjdaligadode vjdaligado àsàs condiçõescondições dede tratrabalbalho ho na multiplicana multiplicaçãoção
dasdas situações patológicas,situações patológicas, por exemplopor exemplo nnoo fatofato ddoo esgotamentoesgotamento
  
3030 GeorgGeorgeses CaCannguilhemguilhem
muscularmuscular oouu ddaa desrcguldesrcgulaçãoação dos ritmos dos ritmos funcionais,funcionais, éé abusivoabusivo
confundirconfundir a gênesea gênese social dassocial das doençasdoenças comcom aas própris própriaass ddooeençasnças..
A úlcera dA úlcera doo estômago, aestômago, a tubercultuberculoseose pulmonarpulmonar sãosão doençasdoenças
cujocujo quadrquadroo clínico ignclínico ignoorra a qque elas poue elas possam sessam serr o efeitoo efeito dde e ssituaituaçõesções ddee dcsarvdcsarvoorameramento nto indindividividuaiuaiss oouu coletivas.coletivas. AindAindaa queque osos
trabalhos dtrabalhos doo rreelojoeirolojoeiro oouu osos ddeeveres dveres do eso estudantetudante sejamsejam maismais
rreeveladveladooreress ddee defeitdefeitosos da vida visãosão dodo queque o o tt rabalhrabalhoo ddoo ppasasttoorr,,
nãnãoo sese cchheeggaarrá aá a dizedizerr queque asas doenças ddoenças da vistaa vista sãosão fatosfatos sociais.sociais.
NNoo eentantntantoo, há, há casoscasos nnosos qquuaaisis oo rerecceennseamento e seamento e aa avaliaçãoavaliação
dosdos fafa rorroreses ddaa doença pdoença poodemdem lleevvaarr eemmconsideraçãoconsideração oo ststatusatus soso
cial dos dcial dos dooeentes e a reprentes e a represesentaçãontação queque eeleless têtêm dela.m dela. ParaPara utiliutili
zzaarr um um vvococaabulário pbulário pososttoo eemm voga pelvoga pelosos trabalhostrabalhos ddee HansHans
Selye,Selye, digadigamos quemos que sese podepode inscreverinscrever eennttrree as as formaformass patópatógenasgenas
ddee stressstress istoisto é, de agreé, de agressssããoo nãnão o especespecíficaífica, a pe, a perceprcepççããoo ddoo indiindi
víduovíduo qquuantoanto a seua seu nníívveell ddee inserçãoinserção eemm uma uma hierarquhierarquiaia ddee oorr--
demdem profissionalprofissional oouu cultural. O fatocultural. O fato ddee viverviver aa ddooeençança comocomo
uma degradaçãouma degradação,, como umacomo uma desvaldesvaloorizarizaççãão,o, ee não apenasnão apenas comocomo
ssooffrimentrimentoo oouu reduçãoredução de comportamentde comportamentoo,, deve serdeve ser consiconsideradera
ddoo

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