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1 Avaliação Neuropsicológica Estágio em Avaliação Psicológica Professora: Letícia Ventura Alunos: Ezequiel Lopes, Hanna Kemel, Laíne Domingues, Luiza Lima, Tessi Mari Steindorff e Vanessa Mariano 22 O que é a Avaliação Neuropsicológica? 2 No primeiro momento é interessante compreender que uma avaliação, de forma geral busca: • Descrever o funcionamento atual do sujeito, identificando suas forças e dificuldades, sua autonomia, suas capacidades, suas possibilidades de adaptação social, pessoal e profissional, buscando minimizar sofrimentos físicos e psicológicos; • Identificar necessidades terapêuticas, avaliar necessidades de intervenções e possíveis resultados de intervenções realizadas; • Ajudar a realizar um diagnóstico diferencial de dificuldades emocionais, cognitivas e comportamentais; • Acompanhar a evolução de um tratamento e identificar outras questões que necessitam de atenção; • Realizar uma devolutiva de forma competente e empática sobre o resultado do processo. 33 Avaliação Psicológica x Avaliação Neuropsicológica • A Avaliação Psicológica (AP) é um processo de conhecimento sobre o funcionamento psicológico do indivíduo, através de demandas e questões especificas, afim de orientar ações e decisões futuras. • Enquanto a Avaliação Neuropsicológica (AN) constitui o campo específico da neuropsicologia, que busca identificar e avaliar aspectos comportamentais, emocionais e cognitivos do indivíduo, relacionando-os com o funcionamento normativo ou deficitário do Sistema Nervoso Central (SNC) e possibilitando o obtenção de diagnósticos, compreensão da natureza ou etiologia de sintomas, impacto de sequelas, prognósticos, evolução de casos e servir como base para iniciar reabilitações. • A Neuropsicologia é a ciência que estuda as relações entre o cérebro, o comportamento e os processos mentais. Assim, a Avaliação Neuropsicológica se propõe, através de testes, tarefas e observações, a analisar o funcionamento da parte neurológica. • Pode ser realizada em crianças, adolescentes, adultos e pessoas idosas e deve ser adequada com a faixa etária do avaliando, pois o indivíduo pode chegar ao consultório através de solicitação escolar, por médicos ou outros profissionais, dependendo de cada situação e solicitação relativa à avaliação. 44 Pode ser solicitada em diversos contextos: • Solicitação da escola, quando a criança/adolescente apresenta dificuldades na aprendizagem ou de comportamento; • Em um indivíduo com diagnóstico de algum Transtorno do Neurodesenvolvimento, afim de conceber suas capacidades e limitações e quais as melhores formas de intervenções para proporcionar um desenvolvimento mais funcional; • Após alguma intervenção, com o objetivo de conceber possíveis evoluções do caso; • Quando o indivíduo sofre um acidente ou desenvolve alguma doença neurodegenerativa, que pode vir a comprometer parte do funcionamento neurológico, etc. É um exame bastante complexo que avalia fatores como: • Memória (curto prazo, longo prazo, operacional); • Atenção (dividida, alternada, dividida, sustentada); • Linguagem (fala, escrita, organização de pensamentos, compreensão do outro); • Velocidade de processamento (tempo que a pessoa demora para realizar uma tarefa mental); • Práxias (capacidade de realizar movimentos/estímulos físicos para determinado fim); • Gnosias (capacidade de reconhecer objetos/informações através dos sentidos – visão, audição, etc); • Humor; • Comportamento. 5 Como é feita uma Avaliação Neuropsicológica? 66 • Alguns dos sintomas que podem indicar a necessidade de uma avaliação neuropsicológica são a falta de memória, dificuldade de atenção e disfunções motoras. • Uma avaliação neuropsicológica conta com a aplicação de testes padronizados de acordo com a faixa etária e o perfil do sujeito. • São analisados a capacidade de raciocínio, atenção, linguagem, processamento da informação, aprendizagem e habilidades motoras, além disso, alguns exames também possibilitam avaliar como os traços psicológicos do indivíduo interferem nas funções prejudicadas. • O profissional sempre deve considerar o histórico clínico do paciente, suas habilidades cognitivas e sociais e a sua personalidade. Assim, é elaborado o programa mais adequado para cada caso. • Testes e procedimentos padronizados ajudarão a analisar detalhadamente a relação entre o comportamento do indivíduo e o funcionamento de seu cérebro, ajudando no diagnóstico, na compreensão da extensão das perdas funcionais, para que sejam estabelecidos certos tipos de intervenção específicas e adequadas. Sua atuação, portanto, é voltada para a avaliação e reabilitação de pessoas que apresentem alguma alteração cognitiva e/ou comportamental, associada às diversas patologias que afetam o sistema nervoso central. Aplica-se em crianças, adultos e idosos. 7 O exame acontece ao longo de 5 a 7 sessões no total. Geralmente, a avaliação neuropsicológica contempla as seguintes etapas: • Entrevista Inicial – visa colher a história clínica da pessoa e ouvir os relatos da família relativa às mudanças que têm observado no seu familiar recentemente, sendo importante obter o histórico familiar do paciente relacionado a queixa apresentada. • Aplicação de testes – os psicólogos dispõem de um conjunto de instrumentos para estudar as funções cognitivas como memória, atenção, raciocínio lógico, fluência verbal, velocidade do fluxo de pensamento, entre outras, que podem ir desde o uso de testes neuropsicológicos, baterias de inteligência a diferentes escalas de avaliação de sintomas cognitivos e comportamentais. • Devolução do laudo – 15 dias após a última aplicação dos testes selecionados (a antecipação da entrega do laudo pode ser solicitada diretamente ao profissional e será avaliada a viabilidade pelo mesmo), gera-se um laudo da avaliação neuropsicológica. Essa consulta final destina-se a explicar à pessoa e à sua família o significado dos resultados da avaliação e a sua implicação no dia-a-dia. O objetivo é descrever o perfil cognitivo e emocional da pessoa e fornecer-lhe estratégias para ultrapassar as limitações que possam existir. 88 • A avaliação neuropsicológica não exige preparação especial, apenas é necessário que a pessoa a ser avaliada ou o seu familiar consiga comunicar seu histórico clínico e pessoal e responder às perguntas do psicólogo. • É importante informar previamente ao profissional se houver qualquer intercorrência, como insônia na noite anterior, nervosismo associado a fatores externos, que possam influenciar no padrão de resposta testado, informações clínicas relevantes, como relatórios e encaminhamentos médicos ou escolares, exames de imagem, medicações. • Para o momento da avaliação, é importante ter dormido bem na noite anterior e não estar em jejum ou com fome no momento, pois estes fatores podem limitar a capacidade de pensamento. Enfim, é aconselhável que a pessoa a ser avaliada vá acompanhada de alguém com quem conviva frequentemente na entrevista inicial, pois o testemunho da mesma pode ser importante. 9 Aspectos Históricos da Neuropsicologia Os antigos egípcios já faziam referência a palavra cérebro, e tinham razoável noção sobre as relações entre cérebro e funções motoras. Na Grécia Antiga, Hipócrates já considerava o cérebro como órgão do pensamento e das sensações. No século XVI, Vesalius, em Louvain, estabeleceu a era moderna na observação e na pesquisa descritiva, estudando a anatomia de animais, concluiu que o cérebro humano era semelhante, apenas com diferentes proporções. No século seguinte, Gall, importante pesquisador vienense, afirmou que as faculdades mentais estavam localizadas em órgão cerebrais e correlacionou-os com as proeminências do crânio, pois acreditava que estes órgãos estavam no córtex. Gall recebeu o apoio de Spurheim que cunhou o termo Frenologia.Sendo assim, o século XIX assistiu ao início da grande discussão sobre a localização cerebral. 10 • Flourens (1820) afirmou que as funções mentais não dependiam de partes particulares do cérebro, mas que este funcionava como um todo. Baseou seus estudos em pesquisas com animais e observou a recuperação de funções após lesões cerebrais. Na mesma época, as pesquisas de Bouillard (1825) demonstravam que as funções cerebrais eram localizadas e relatou a frequente associação de perda da fala com lesões no lobo frontal. Pouco tempo depois, Paul Broca (1861), baseado em estudos anatômicos de pacientes afásicos, afirmou "nós falamos com o hemisfério esquerdo", e localizou a fala na parte posterior do lobo frontal do hemisfério esquerdo. • Carl Wernicke (1874) localizou a compreensão da palavra no giro temporal superior esquerdo. Acreditava que as atividades complexas eram aprendidas por meio de conexões entre as regiões funcionais, valorizando a idéia de fibras neurais conectando várias áreas cerebrais. • O termo Neuropsicologia propriamente dito apareceu apenas no século XX, pelas palavras do Sir William Osler (1913), este utilizou o termo Neuropsychology numa exposição no Johns Hopkins Hospital. • MacLean (1952) introduziu o termo sistema límbico e contribuiu para o estudo das especializações hemisféricas. Teuber (1955), Weiskrantz (1968) e Shallice (1979), através de suas pesquisas, mostraram a independência de tipos específicos de processamento da informação, evidenciando a dissociação das funções. 1111 • Alexander Luria (1966) elaborou a teoria dos Sistemas Funcionais, desenvolveu vários métodos de eliciar comportamentos e assim analisá-los qualitativamente. A contribuição de Luria veio a incrementar uma visão mais dinâmica do funcionamento cerebral, e colaborar na compreensão do funcionamento das áreas frontais. • Dra. Elisabeth Warrington enfocou basicamente a análise das funções cognitivas relacionadas as disfunções cerebrais. • Os exames por imagem evoluíram significativamente, temos Tomografia Computadorizada (desde 1973), Ressonância Magnética (desde 1985) acessíveis para diagnóstico mais preciso de lesões cerebrais. • A Neuropsicologia, voltou seus interesses para as correlações com os exames de imagem, estudos aprofundados das funções corticais e determinação mais precisa do nível de função. • Em São Paulo, o médico pediatra Antonio Branco Lefévre, considerado patrono e fundador da Neuropsicologia brasileira, defendeu em 1950 a tese intitulada "Contribuição para a psicopatologia da afasia em crianças“. • No ano de 1975 criou, na Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). • Beatriz Helena Lefévre, nos anos 1980, publicou o livro Neuropsicologia Infantil. 12 • Nessa mesma época, a psicóloga Cândida Helena Pires de Camargo introduziu a Neuropsicologia no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. • Em 1989 foi fundada em Buenos Aires a Sociedade Latinoamericana de Neuropsicologia, em 1991, por ocasião do II Congresso Latino Americano de Neuropsicologia e do I Congresso Brasileiro de Neuropsicologia, foi organizada a Sociedade Brasileira de Neuropsicologia. • Na atualidade, a formação em Neuropsicologia clínica ocorre basicamente por meio de cursos de pós-graduação lato sensu, ou seja, através de especializações reconhecidas pelo Ministério da Educação. • No que se refere à pesquisa neuropsicológica, em consulta ao Diretório do Grupos de Pesquisa no Brasil, disponível na plataforma do CNPq, foram identificados 82 grupos de pesquisa que têm o termo Neuropsicologia enquanto palavra-chave que os define. Destes, 45 estão inscritos na área da psicologia, 26 na área de medicina e 11 em outras áreas, tais como fonoaudiologia, ciências biológicas e fisioterapia. • A formação e atuação do profissional psicólogo nas práticas neuropsicológicas ganhou impulso adicional a partir do ano de 2004, quando o Conselho Federal de Psicologia (CFP), através da resolução 002/2004, reconheceu a Neuropsicologia como especialidade em Psicologia para a finalidade de concessão e registro do título de especialista. 13 • O Instituto Brasileiro de Neuropsicologia e Comportamento – IBNeC foi fundado em outubro de 2009 com o objetivo de fomentar as relações entre a psicologia e as neurociências, tanto na pesquisa básica como na área clínica. • A história da Neuropsicologia demonstra a sua herança interdisciplinar que, presente em suas origens, é a principal partícipe de sua força crescente enquanto área de trabalho cooperativo. • Atualmente temos poucos testes neuropsicológicos traduzidos e publicados no Brasil. A elaboração de um material próprio para nossa realidade pode ser bastante útil para a compreensão dos problemas específicos da população brasileira. 1414 INSTRUMENTOS • A avaliação neuropsicológica envolve a utilização de diversos instrumentos, como entrevistas e anamneses, escalas e testes psicométricos, observações em contexto clínico e situações cotidianas, que possibilitem a investigação de aspectos do funcionamento cognitivo e socioafetivo individual. • Utiliza testes organizados em baterias fixas ou flexíveis. • As baterias fixas são aplicáveis em pesquisas, em protocolos específicos para investigação de uma população particular. • As baterias flexíveis são mais apropriadas para a investigação clínica pois estão mais voltadas para as dificuldades específicas do paciente. • São ainda comumente utilizados os instrumentos de avaliação neuropsicológica breve e os testes de rastreio, em geral aplicados em ambientes ambulatoriais e hospitalares, visto que propiciam um resultado indicativo de alterações e possíveis áreas de investigação; contudo, não permitem uma avaliação mais detalhada. 15 • Segundo Haase et al. (2012), na Avaliação Neuropsicologica, os processos interpretativos vão se pautar no modelo neurocognitivo e de correlação estrutura-função, ou seja, os resultados são interpretados a partir do desempenho das funções cognitivas, executivas e do comportamento, com base também no conhecimento acerca do funcionamento do sistema nervoso central. • Através da posse de informações, após a entrevista inicial, que lhe permitem formular hipóteses sobre o caso, o profissional efetuará a escolha das baterias e instrumentos que serão utilizados ao longo da etapa avaliativa. • Os instrumentos neuropsicológicos podem ser classificados como testes e exercícios. • Os testes formais são métodos estruturados aplicados com instruções especificas e normas derivadas de uma população representativa. • Os “exercícios” neuropsicológicos são métodos de exploração da cognição e do comportamento, abordando diversas etapas necessárias para desempenhar cada função. 1616 Alguns testes utilizados na avaliação neuropsicológica e as potencialidades de cada teste ou bateria como instrumento de ajuda na investigação neuropsicológica Atenção • TAVIS-IV: utilizado em avaliações do desenvolvimento, clínica e no contexto escolar a fim de investigar os processos atencionais visuais ao longo dos anos do desenvolvimento da infância até a adolescência. • Atenção Concentrada – AC: O teste é composto por símbolos. O sujeito deve localizar, entre todos os símbolos da folha, os 3 apresentados como modelos. A correção é realizada pelo total de acertos, pela avaliação quantitativa e qualitativa. Existem estudos de precisão, validade e tabelas em percentis para o público-alvo de acordo com sua escolaridade e idade. 16 17 Inteligência Memória • Stanford-Binet: Adaptado das escalas originais de Binet-Simon, baseia-se maciçamente no desempenho verbal e cobre desde os 2 anos até a idade adulta (23 anos), fornecendo uma idade mental e um quociente de inteligência (QI). • Escalas Wechsler de inteligência: Subdivididas pela faixa de idade, essas escalas consistem em uma série de perguntase respostas padronizadas que medem o potencial do indivíduo em áreas intelectuais diferentes, como o nível de informação sobre assuntos gerais, a interação com o meio ambiente e a capacidade de solucionar problemas cotidianos. São utilizados instrumentos que avaliam a capacidade de aprendizado de funções de memória, como, por exemplo: • O Teste de Aprendizado Auditivo Verbal de Rey (Rey Auditory Verbal Learning Test - RAVLT) e Teste de Aprendizado Visual de Desenhos de Rey (Rey Visual Design Learning Test - RVDLT): • Os testes que envolvem aprendizado são mais sensíveis para detectar prejuízos de memória do que testes apresentados somente uma vez. No teste de Aprendizado Auditivo Verbal de Rey, lê-se a lista de palavras para o examinando, pausadamente, cinco vezes consecutivas. Após cada uma das vezes em que são apresentadas as 15 palavras, o sujeito deve fazer a evocação do material, sem precisar seguir a mesma ordem de apresentação. • WRAML (do inglês Wide Range Assessment of Memory and Learning _ Short Form): é um instrumento psicométrico destinado a avaliar a capacidade de aprender e memorizar ativamente vários tipos de informação em pacientes na faixa etária de 5 a 17 anos (memória visual, aprendizado verbal, memória para histórias). 18 • Torre de Hanói: Base de madeira com três hastes verticais do mesmo tamanho, onde são colocados discos de tamanhos diferentes, dispostos do maior para o menor. Avalia as funções executivas, terminologia associada aos lobos frontais, responsáveis pela formulação de um objetivo, pela antecipação, pelo planejamento, pela monitoração e por um desempenho efetivo. • O Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (Wisconsin Card Sorting Test – WCST): é um teste que avalia as funções executivas, baseado na estimulação da flexibilidade de pensamento do sujeito, para gerar estratégias para solução de problemas com base no feedback do examinador, desenvolvido para avaliação da habilidade de raciocínio e da capacidade de adaptação das estratégias cognitivas em resposta a mudanças no ambiente. Funções executivas 1919 Linguagem • Boston Naming Test: utiliza figuras de objetos para avaliar a capacidade de reconhecimento e nomeação. É empregado em crianças com dificuldades de compreensão ou produção de palavras ou material verbal escrito. Pode ser usado a partir dos 6 anos de idade. • Teste de Token: teste de compreensão da linguagem por meio da execução de comandos simples ditados pelo examinador, para uso em diferentes faixas etárias, na triagem de dificuldades cognitivas relacionadas à compreensão da linguagem. 20 As principais funções neuropsicológicas avaliadas: • As funções investigadas na avaliação neuropsicológica incluem geralmente as seguintes áreas (mas não se limitam exclusivamente a estas): • Inteligência Geral - implica na habilidade para raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de maneira abstrata, e aprender da experiência. • Linguagem - A linguagem é definida a partir de aspectos biológicos e sociais que exprimem seu caráter essencial de favorecer a adaptação do indivíduo ao ambiente. A observação de déficits (na linguagem) permite caracterizar o diagnóstico das síndromes: afasias, demências, alterações linguístico-cognitivas, síndromes de hemisfério direito e outros desvios. • Memória - A memória comporta processos complexos pelos quais o indivíduo codifica, armazena e resgata informações. É uma das mais complexas funções neuropsicológicas, e alterações no seu funcionamento podem ter um impacto muito significativo no dia a dia do sujeito. 21 De acordo com as queixas apresentadas, iremos escolher testes que avaliem cada tipo de memória específico: 2222 • Atenção - A avaliação da atenção é obrigatória em qualquer exame neuropsicológico, devendo, inclusive, preceder a das demais funções. Deve-se sempre considerar o estado de consciência (em especial nos idosos e nos pacientes sob efeito de fármacos ou de drogas), a motivação, o cansaço, o humor (depressão) e a ansiedade em completar as tarefas. A presença de dor ou de déficits senso-perceptivos também deve ser considerada. Muitos autores consideram a Atenção dentro das Funções Executivas. A avaliação da atenção exige do examinador algumas cautelas. • TDAH >> alguns transtornos primários de atenção, como o transtorno do déficit de atenção hiperatividade (TDAH), se caracterizam por variabilidade da resposta ao longo do tempo, exigindo não apenas testes mais longos como também divididos em blocos para análise comparativa. • Funções Executivas - consistem em um conjunto de processos cognitivos que, de forma integrada, permitem ao indivíduo direcionar comportamentos a metas, avaliar eficiência e a adequação desses comportamentos, abandonar estratégias ineficazes em prol de outras mais eficientes e, desse modo, resolver problemas imediatos, de médio e de longo prazo. • Diversos processos cognitivos têm sido apontados como integrantes das funções executivas, tais como planejamento, controle inibitório, tomada de decisões, flexibilidade cognitiva, memória operacional, atenção, categorização, fluência e criatividade. • A avaliação das funções executivas não deve ser reduzida à testagem neuropsicológica. 23 2424 • Praxia e Visuoconstrução - capacidade de realizar atos voluntários no plano prático. Uma gama grande de atividades depende dessas capacidades, desde o ato de se vestir, escovar os dentes, até a realização de tarefas mais complicadas como construir um modelo ou maquete tridimensional. • A capacidade para desempenhar essas atividades requer algumas condições: percepção visual, raciocínio espacial, habilidade para formular planos ou metas, comportamento motor e capacidade de monitorar o próprio desempenho. • Praxia refere-se à capacidade de executar movimentos ou gestos de maneira precisa, intencional, coordenada e organizada com vistas à obtenção de um fim ou resultado específico. Um sujeito com apraxia tem dificuldades para realizar movimentos sob comando verbal ou por imitação, mas, em alguns casos, pode vir a executar os mesmos movimentos de maneira adequada em situações nas quais isto é automático. Além disso, comumente, notam-se prejuízos na utilização e no manuseio de utensílios e ferramentas, podendo vir a apresentar hesitação, lentidão, falta de ordem e erros. 2525 • Matemática - aritmética é um sistema para a manipulação de representações simbólicas de quantidades de evolução recente, tendo se desenvolvido a partir de um sistema não simbólico, aproximativo para a representação de magnitudes, o qual está presente nos bebês e em animais. A aritmética é uma aquisição cultural possibilitada pela interação do sistema analógico, não simbólico e impreciso, de representação de magnitudes com os códigos verbais oral e escrito, permitindo a construção de representações exatas de quantidades e sua manipulação precisa através de algoritmos. 25 • Habilidade visuoconstrutiva (também referida como praxia construtiva) é a capacidade de realizar atividades formativas ou construtivas. Refere-se à habilidade de juntar ou manejar partes ou estímulos físicos organizadamente, de maneira que formem uma entidade única ou objeto. A condição básica para essas atividades são as funções visuoperceptivas. • Dentre as habilidades visuoperceptivas e visuoespaciais encontram-se as capacidades de: discriminação visual, diferenciação figura e fundo, síntese visual, reconhecimento de faces, percepção e associação de cores, localização de pontos no espaço, julgamento de direção e distância, orientação topográfica, percepção de profundidade e de distância. 2626 • Reconhecimento de Emoções - envolvem estruturas cerebrais e circuitos neurobiológicos diferentes. • As culturas podem diferir em regras sociais e costumes, no entanto, quando se trata de certas expressões faciais, a emoção é universalmente reconhecida. • A habilidadepara perceber e expressar emoções é mantida por um sistema de distribuição neural, formado pelo sistema límbico, principalmente pela amígdala, pelo hipotálamo e pelo sistema dopaminérgico, além de áreas como giro occipital inferior, giro fusiforme, gânglios da base, córtex parietal direito e o giro temporal inferior serem também identificadas como essenciais para esse processamento. • A habilidade social é algo complexo, que parece se desenvolver a partir de fatores presentes desde o nascimento. A capacidade de reconhecer faces e expressões emocionais tem valor adaptativo, sendo que a correta “leitura” das emoções no contexto social fornece pistas sobre as condições presentes e, assim, indica as direções que o comportamento de um indivíduo deve seguir, a fim de ser socialmente apropriado. • Essa função pode se mostrar alterada quando avaliamos um quadro de esquizofrenia, transtornos do humor e quadros de retardo mental. 2727 • Teoria da Mente - seria o sistema responsável pela integração da percepção, do desejo, da intenção e das crenças do sujeito, que dá origem a uma construção teórica coerente. A partir dessa construção teórica, o sujeito é capaz de compreender o comportamento do outro dentro de um contexto de representações e, consequentemente, definir e direcionar o seu próprio comportamento. • Está relacionada aos neurônios-espelho. Essa capacidade de “espelhar” inconscientemente uma ação motora de outra pessoa é denominada “ressonância empática”, que serve como base para compartilharmos os estados fisiológicos e emocionais de outras pessoas e pode ser considerado um componente crítico para a empatia. • Habilidades Sociais - habilidades sociais são comportamentos que ocorrem dentro do contexto interpessoal, que têm como finalidade comunicar com precisão emoções, sentimentos, opiniões, atitudes, direitos e necessidades pessoais. Pressupõe- se que pessoas hábeis socialmente apresentam relações pessoais e profissionais mais produtivas, satisfatórias e duradouras. • Em contrapartida, os déficits e comprometimentos dessas habilidades geralmente se associam a dificuldades e conflitos nas relações interpessoais, a uma pior qualidade de vida e a diversos tipos de transtornos psicológicos, tais como: timidez, isolamento social, delinquência juvenil, desajustamento escolar, suicídio e problemas conjugais. 2828 • Problemas no desenvolvimento dessas habilidades tendem a resultar em dificuldades comportamentais que podem se manifestar como problemas internalizantes ou externalizantes, que são bastante comuns nos diagnósticos psiquiátricos. • Os problemas externalizantes são observados em transtornos que envolvem agressividade física e/ou verbal, impulsividade, agitação psicomotora, explosividade, comportamentos opositores ou desafiantes e condutas antissociais. Os problemas internalizantes são observados em transtornos como depressão, isolamento social, ansiedade e fobia social. • Esse dois subtipos de problemas podem ocorrer de forma combinada e privam o indivíduo de interações adaptativas com o ambiente. 2929 • Personalidade - em neuropsicologia, a resposta às tarefas cognitivas pode ser influenciada por questões como desajuste emocional ou pela expressão de traços de personalidade. Os principais motivos para inclusão do exame da personalidade (e de alterações emocionais) na avaliação neuropsicológica são: • 1. Alterações comportamentais e distúrbios emocionais estão presentes em praticamente todas as formas de comprometimento cerebral, sejam elas provenientes das reações diretas das lesões cerebrais ou resultado das novas relações do indivíduo com o meio. • 2. Características psicológicas podem mimetizar transtornos neurológicos e vice- versa. • 3. O desempenho em testes neuropsicológicos pode ser prejudicado por alterações emocionais. • 4. A identificação de alterações emocionais e relacionadas à personalidade podem ser alvo de terapias específicas (por exemplo, psicoterapia e farmacoterapia), sendo que a melhora nos quadros relacionados a esses fatores pode também exercer impacto positivo sobre a melhora neuropsicológica global. • 5. O exame da personalidade complementa a avaliação cognitiva, motora e sensorial na determinação de competências e prejuízos para lidar com questões laborais, familiares, autocuidado, etc. 3030 • A literatura recente vem mostrando de forma inequívoca que os processos biológicos (genes, estruturas cerebrais e neuroquímica) desempenham um papel importante na determinação da personalidade, além da convivência social. Se os processos biológicos determinam a personalidade, as mudanças estruturais como as que ocorrem a partir de lesões cerebrais também produzem alterações na personalidade. • No caso apresentado (TDAH), vamos escolher de acordo com o quadro apresentado quais as funções que precisam ser medidas, mas frequentemente serão escolhidos instrumentos com foco nas funções executivas e atenção. 31 ENTREVISTA CLÍNICA, OBSERVAÇÃO COMPORTAMENTAL E ESCALAS DE AVALIAÇÃO • O processo de avaliação inicia com uma entrevista clínica onde o histórico do paciente é investigado (escolaridade, ocupação, antecedentes familiares e história da doença atual) e esses parâmetros são utilizados na análise de resultados e na interpretação do impacto cognitivo das doenças neurológicas. • As habilidades de entrevista clínica são necessárias para estabelecer o contato e avaliar a demanda do paciente e do profissional que solicitou a avaliação. • O profissional deve fazer uma avaliação do sujeito em amplo espectro (social, familiar, físico, na história de vida). A análise do prejuízo funcional passa também pela avaliação de comorbidades associadas ao TDAH. 3232 Entrevista com os pais e com a criança/adolescente • Investigação de sintomas como onde, quando, e com que frequência eles ocorrem. • Os pais costumam trazer um relato mais confiável de sintomas como agressividade, impulsividade, desatenção, oposição e hiperatividade do que crianças e adolescentes em avaliação. É importante que a entrevista com os pais compreenda várias áreas: • a) preocupações e queixas principais dos pais (duração, freqüência, início, oscilações, repercussões dos sintomas); • b) dados demográficos sobre a criança e a família (idade, data de nascimento, parto, escola onde estuda a criança, nome de professores e coordenadores); • c) desenvolvimento (motor, intelectual, acadêmico, emocional, social e da linguagem); • d) história familiar pregressa (possíveis transtornos mentais na família, dificuldades conjugais, dificuldades econômicas ou profissionais, estressores psicossociais incidentes sobre a família); • e) história escolar (pode ser revisada série por série, buscando verificar desempenho acadêmico e social); • f) tratamentos anteriores ou suspeitas diagnósticas. 3333 Entrevista com a criança • Passar algum tempo com a criança também é importante no processo de avaliação. • No caso de crianças pré-escolares, a entrevista pode se resumir a um breve contato amistoso, onde se observará o comportamento, a aparência e características gerais. • Uma entrevista que envolva brincadeiras também pode ser realizada com crianças pequenas. • Para crianças mais velhas e adolescentes é possível enfocar a percepção e sentimentos do sujeito frente ao problema: se esse está ciente do mesmo ou se teria uma outra explicação para suas dificuldades. É igualmente importante investigar a forma como o sujeito se relaciona com pais e professores. • Deve se levar em conta que o comportamento de crianças e adolescentes no consultório ou no ambiente onde está se realizando a avaliação é, com frequência, muito diferente do ambiente com o qual estão familiarizados. • A ausência de sintomas no consultório não exclui o diagnóstico, pois as crianças com TDAH são capazes de controlar os sintomas com esforçovoluntário ou em situações de grande interesse. • Situações peculiares, como aquelas onde existe alguma novidade para a criança, algo de alto valor de interesse, intimidação ou em que esteja a sós com um adulto, podem fazer com que as crianças “mascarem” os sintomas, fato possivelmente responsável pelo diagnóstico de inúmeros falsos negativos. 3434 Entrevista realizada na escola • A coleta de informações na escola é fundamental para se firmar o diagnóstico. Tendo em vista os critérios do DSM-IV que apontam a necessidade dos sintomas estarem presentes em mais de um ambiente, a escola, como local onde a criança/adolescente passa boa parte de seu dia, é fonte rica de informação. • A coleta de informações (atuais e passadas) junto à escola, como anotações, resultados em testes, testes de desempenho e observações do comportamento, configura uma forma muito rica de obtermos uma noção geral do funcionamento da criança (Phelan, 2005). A maioria das crianças com TDAH apresenta problemas com desempenho e comportamento na escola. Nesse sentido, detalhes devem ser investigados junto a coordenadores e professores, visando esclarecer esse funcionamento e investigar possíveis comorbidades (Calegaro, 2002). • Ainda que seja uma fonte excelente de informações, a entrevista junto aos professores nem sempre é viável, sendo mais comum o contato telefônico (Calegaro, 2002). Uma alternativa apontada por alguns autores (Calegaro, 2002; Martins, Tramontina & Rohde, 2002; Benczik, 2000; Phelan, 2005) é enviar à escola escalas objetivas para avaliação de desatenção, hiperatividade e impulsividade que possam ser preenchidas de forma simples e fácil pelos professores. 3535 • A percepção do professor sobre a capacidade da criança/adolescente em seguir as regras e respeitar a autoridade na sala de aula auxilia o entendimento do clínico sobre como a criança está lidando com suas dificuldades (Benczik, 2000). Martins, Tramontina e Rohde (2002) mencionam estudos que alertam para a possibilidade de os professores maximizarem os sintomas apresentados pelas crianças com TDAH, principalmente quando existe comorbidade com um transtorno disruptivo do comportamento. Ainda assim, a escola é uma fonte muito valiosa de informação, tanto no processo diagnóstico como na avaliação do tratamento. Quando em tratamento, a evolução do paciente é percebida pelos professores de forma tão eficiente quanto pelos pais (Biederman et al., 2004), fato que reforça a importância de um contato contínuo com ambos. 3636 O uso de escalas • Além das entrevistas, o uso de escalas e questionários para pais e professores é procedimento indispensável especialmente na literatura internacional, principalmente por terem mostrado sensibilidade e confiabilidade para uso profissional. • Esses instrumentos podem fornecer dados sistematizados, que permitem uma visão mais objetiva, com dados quantitativos dos sintomas. Ainda que possam ser muito úteis, existem algumas limitações e cuidados que devem ser levados em conta ao se utilizar esses instrumentos, como, por exemplo, a possibilidade da escala apontar como significativos comportamentos que não ocorrem com muita frequência, ou não abarcar de forma completa a real condição do quadro. • Algumas escalas muito usadas para professores são: Child Behavior Checklist (CBCL), a Escala Conners (validada no Brasil por Barbosa, 1997), a SNAP-IV e a Escala de TDAH (Benczik, 2000). Junto aos pais são utilizadas comumente a versão para pais do CBCL, a Escala Conners (Barbosa, 1998) e, para verificar comorbidades, o K-SADS-E (Schedule for Affective Disorders and Schizophrenia for School-Age Children – Epidemiological Version). • Escalas utilizadas para pacientes: DIVA (Entrevista para o diagnóstico de TDAH em adultos), ASRS-18. 37 REFERÊNCIAS Avaliação neuropsicológica [recurso eletrônico] / Leandro F.Malloy-Diniz ... [et al.]. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2010. Avaliação Neuropsicológica. Canal Clinica da Mente. Psicóloga Rachel Dias. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=EJNmimvGHYY ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO. Disponível em: https://tdah.org.br/diagnostico-adultos/. Acesso em 21 de junho de 2020. GRAEFF, Rodrigo Linck e VAZ, Cícero E. Avaliação e diagnóstico do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Psicol. USP [online]. 2008, vol.19, n.3, pp. 341-361. ISSN 1678-5177. HAZIN, Izabel et al. Neuropsicologia no Brasil: passado, presente e futuro. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 18, n. spe, p. 1137-1154, dez. 2018. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808- 42812018000400007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 17 jun. 2020. MADER, Maria Joana. Avaliação neuropsicológica: aspectos históricos e situação atual. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 16, n. 3, p. 12-18, 1996. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98931996000300003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 13 jun. 2020. Malloy-Diniz, L. F., Fuentes, D., Mattos, P., Abreu. N. Avaliação Neuropsicológica. Artmed, mar. 2018. https://support.office.com/pt-br/article/editar-uma-apresenta%c3%a7%c3%a3o-ff353d37-742a-4aa8-8bdd-6b1f488127a2?omkt=pt-BR&ui=pt-BR&rs=pt-BR&ad=BR https://www.youtube.com/watch?v=EJNmimvGHYY
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