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Apostila de LINGUISTICA

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1ª AULA
LINGUAGEM e LINGUISTICA
Definição
Introdução aos conceitos básicos sobre a linguagem e suas características, abordando sucintamente os estudos da linguagem e a definição da Linguística como ciência da linguagem.
Propósito
Obter uma panorâmica dos conceitos, das características e dos estudos da linguagem no contexto do surgimento da Linguística, permitindo a familiarização com o campo do estudo científico da linguagem.
Objetivos
Módulo 1
Descrever o conceito de linguagem
Módulo 2
Identificar as características da linguagem humana
Módulo 3
Distinguir os estudos da linguagem no período pré-linguístico
Módulo 4
Reconhecer a Linguística como ciência da linguagem
Introdução
Para começarmos este tema, assista ao vídeo que apresenta um interessante trecho do livro O sobrinho do mago, de C. S. Lewis.
C. S. Lewis foi autor de mais de quarenta livros, entre eles a saga As Crônicas de Nárnia, admirada principalmente pelo público infantojuvenil. O livro descreve a fundação do mundo mágico de Nárnia. Os personagens são levados a uma outra dimensão, na qual o leão Aslam está criando o universo de Nárnia. Ele canta e começa a dar vida por meio da fala.
De repente, em meio a um clarão, Aslam diz com uma voz profunda:
“Nárnia, Nárnia, desperte! Ame! Pense! Fale! Que as árvores caminhem! Que os animais falem! Que as águas sejam divinas!”.
Diante disso, a criação responde em uma só voz:
“Salve, Aslam! Ouvimos e obedecemos. Estamos despertos. Amamos. Pensamos. Falamos. Sabemos.” (LEWIS, 2009, p. 65).
O interesse pela linguagem há muito tempo está presente na história da humanidade, manifestando-se na literatura, na filosofia e até mesmo em tradições religiosas muito antigas, como no relato da criação do mundo por meio da palavra ou da linguagem, encontrado no livro bíblico de Gênesis. O interesse vem da tentativa de entender como as experiências podem ser trocadas, como se pode falar do que existia antes de nós ou do que ainda nem surgiu.
A linguagem é o veículo pelo qual se dá a comunicação.
Tudo que a sociedade produz surgiu a partir da linguagem. Logo, podemos entender que é impossível uma sociedade sem linguagem, sem comunicação. Tal complexidade vem desafiando os estudiosos da linguagem desde seu surgimento, os quais tentaram defini-la para explicar esse fenômeno cotidiano que parece tão simples, mas que instiga investigações e desperta a curiosidade.
A linguagem é um fenômeno impressionante. Ela está presente em praticamente todos os momentos, do nascimento até o fim da vida. Durante sua jornada, o ser humano transita pelos mais variados e complexos sistemas de comunicação. A linguagem é capaz de fazer tudo isso com alguns poucos elementos, como veremos mais adiante, permitindo a produção e a compreensão de informações.
Mas o que de fato é a linguagem?
Quais características ela possui?
Qual ciência a estuda?
Como surgiu o estudo científico da linguagem?
Essas são perguntas que serão respondidas neste tema.
MÓDULO 1
Descrever o conceito de linguagem
Linguagem
O termo linguagem tem vários significados. É usado com mais frequência para caracterizar o processo de comunicação. Nesse sentido, as línguas naturais, como o português, o inglês e o francês, entre outras, são instrumentos que servem para a comunicação entre os falantes de uma língua. Assim, a linguagem é, neste primeiro sentido, uma habilidade que os seres humanos têm de se comunicar por intermédio de línguas.
Nem todas as línguas são naturais. Existem também as chamadas línguas artificiais, criadas por um grupo de indivíduos, sem passar por um processo de mudança ou de transformação resultante da vida cultural de algum povo. São, portanto, línguas inventadas. Por exemplo:
Os fãs da franquia cinematográfica Star Trek criaram diversas línguas artificiais, inventadas.
Isso também se aplica ao esperanto, uma língua internacional que é artificial ou planejada, não pertencendo de modo natural a nenhuma comunidade ou país.
Atenção
Atenção para não confundir línguas artificiais com línguas mortas, que são aquelas não mais faladas, mas que apresentam registro documental, podendo ser estudadas na atualidade. Um dos exemplos mais citados é o latim que, apesar de não ser falado como primeira língua ou língua materna em nenhum lugar do mundo, possui vasto material disponível.
Como a linguagem pode ser classificada?
De acordo com o sistema de sinais que a linguagem utiliza, ela pode ser classificada em:
 Clique nas setas para ver as informações.
Linguagem verbal
Caracteriza-se pelo uso de sinais verbais para a comunicação, ou seja, vale-se da palavra falada ou escrita. Nesse caso, as línguas naturais, como o português, o inglês, o espanhol, o japonês, o árabe etc., são exemplos de linguagem verbal, seja na modalidade escrita ou oral.
Linguagem não verbal
Caracteriza-se pelo uso de outros tipos de sinais, que não sejam as palavras, tais como as cores, os gestos, os desenhos e os sinais sonoros. Alguns exemplos encontrados em nosso cotidiano são os sinais de trânsito que orientam os motoristas, as bandeiras nas pistas de Fórmula 1, as expressões faciais e os silvos dos guardas no trânsito.
Vamos fazer um teste?
O que você pensa ao se deparar com a imagem a seguir?
Automaticamente você deve tê-la associado a algum tipo de perigo e risco. De fato, ela transmite uma informação. Esse tipo de elemento é chamado de ícone, que em grego significa imagem. O ícone é um sinal que se assemelha ao objeto por ele representado, como a fotografia, o desenho e a estátua.
Agora, quando você vê uma nuvem escura no céu, com o que a associa?
Podemos associá-la à noção de que provavelmente vai chover. A nuvem é um exemplo de índice, ou seja, um sinal indicador, pois, segundo Yoda e Nagata (2018), indica algo tendo como fundamento a existência concreta deste e está diretamente ligado ao objeto.
Qual é a principal diferença entre as duas manifestações, ícone e índice?
Ícone
Ao usar o desenho de uma caveira, evidencia que foi elaborada intencionalmente para transmitir uma informação a um receptor.
Índice
No exemplo da nuvem escura, falta a intenção de estabelecer comunicação.
Os conceitos de ícone e índice foram desenvolvidos por Charles Sanders Peirce (1839-1914), filósofo, linguista, físico e matemático norte-americano, considerado um dos fundadores da Semiótica Moderna. A Semiótica pode ser definida como a ciência ou doutrina formal dos signos ou, como afirma Santaella (1983), a ciência de toda e qualquer linguagem. O signo, por sua vez, pode ser definido como uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele.
Para saber mais sobre a diferença entre ícone e índice, assista ao vídeo a seguir.
Até aqui, você deve ter percebido que o conceito de linguagem é bem abrangente, pois engloba todos os sinais ou signos utilizados na expressão ou na comunicação, incluindo a linguagem verbal e a não verbal. A língua, nesse contexto, é considerada uma das possibilidades ou manifestação da linguagem e, por isso, pode ser identificada com a linguagem verbal.
As diferentes formas de linguagem, incluindo a língua, a mais importante delas, vão além da expressão do que temos em mente e da sua função como meio ou instrumento para nossa comunicação. A linguagem deve ser entendida como uma forma ou um processo de interação entre os seres humanos. A língua é usada para se praticar ações, agir sobre o outro ou reagir ao que se ouviu. Interagimos por meio da língua e produzimos sentido dentro de um contexto social, histórico e ideológico. Imagine a seguinte situação:
Jonas está tomando café da manhã tranquilamente em sua casa. De repente, percebe que pode estar atrasado para chegar ao trabalho e pensa:
Sem um relógio ou celular por perto, pergunta para a sua esposa:
Parece claro que a intenção de Jonas é ser informado sobre qual horário o relógio está marcando, e não se a sua esposa sabe ou não o horário. Sua interlocutora, compreendendo o que Jonas deve ter em mente, sua intenção, olha o celulare responde:
Parece simples, mas essa situação envolve a interação entre a mente e a realidade sociocultural para produzir e entender as estruturas e os significados da língua.
O indivíduo que fala realiza uma atividade sociocognitiva extremamente complexa, codificando os pensamentos em palavras, que são combinadas para formar frases, as quais são pronunciadas, modularizando o som que sai da boca, para um receptor em determinado contexto.
Enquanto isso, o outro indivíduo, que recebeu a informação, também passou por uma tarefa bastante complexa, decodificando os sons da fala que são dirigidos a ele, de modo a identificar as palavras e frases para conseguir interpretar as informações.
Mais do que isso, para informar exatamente o horário, em vez de apenas e simplesmente responder: “sei que horas são”, foi preciso identificar a intenção da pergunta: “você sabe que horas são?”. A linguagem humana, então, pode ser descrita como um fenômeno geral e abrangente que se refere a todo e qualquer sistema de expressão, comunicação e interação humana utilizando-se de diversos e variados signos.
Mas se qualificamos a linguagem como humana, quer dizer que os animais não se comunicam nem possuem linguagem?
Há estudiosos que identificaram padrões de comunicação entre certas comunidades de outros seres vivos, o que poderia levar ao questionamento sobre a possibilidade de se falar em linguagem animal. De acordo com Petter (2003), um desses pesquisadores foi o zoólogo alemão Karl von Frisch que, em 1959, publicou um estudo sobre o sistema de comunicação das abelhas.
A abelha-operária, quando encontra alimento, volta à colmeia e leva a informação às outras abelhas por meio do tipo de voo que realiza. Se a abelha voa de forma circular, fazendo círculos da direita para a esquerda, ou de forma que se assemelhe ao número oito, indica que encontrou a fonte de alimento.
Se o sustento está próximo, ela voa em círculos.
Se está longe, voa em forma de oito.
Uma conclusão possível é que as abelhas podem reter informação em algum tipo de memória, produzir essa mensagem por meio de comportamentos e compreender a informação. Mas, o que alguns chamariam de linguagem animal, de acordo com Petter (2003, p.16-17) “não se deixa analisar e decompor em elementos menores”. A abelha não produz um diálogo, não cria uma mensagem a partir de uma outra. Seu conteúdo é único, no caso, o alimento, e não possui variação, exceto pelo tipo de voo sobre a distância em que o sustento está. Por isso, “a comunicação das abelhas não é uma linguagem, é um código de sinais”. Isso seria evidenciado pelas seguintes características:
Conteúdo fixo
Mensagem invariável
Relação a uma só situação
Transmissão unilateral
Enunciado indecomponível
Assim, teríamos de ampliar bastante o conceito de linguagem para afirmar que os animais possuem uma linguagem. Perceba que a linguagem que nós, seres humanos, utilizamos, em particular a língua, possui características que não são encontradas em outras formas ou outros padrões de comportamentos animais. Mas esse é um assunto para o módulo seguinte. Antes, porém, verifique se você entendeu os conceitos apresentados até aqui realizando a atividade a seguir.
Verificando o aprendizado
Parte superior do formulário
1. Assinale a alternativa que apresenta a descrição mais completa do conceito de linguagem.
A linguagem é o processo de comunicação constituído pelas línguas naturais.
A linguagem é a expressão do pensamento por meio da língua.
A linguagem é um fenômeno geral e abrangente que engloba qualquer sistema de expressão, comunicação e interação humana por meio da diversidade de signos.
A linguagem é a capacidade, tanto dos seres humanos quanto dos animais, de dialogar e interagir por meio das línguas artificiais.
Parte inferior do formulário
Comentário
Parabéns! A alternativa "C" está correta.
A linguagem humana, então, pode ser descrita como um fenômeno geral e abrangente que se refere a todo e qualquer sistema de expressão, comunicação e interação humana utilizando-se de diversos e variados signos.
Parte superior do formulário
2. Alguns dos sinais ou signos que constituem a linguagem podem ser descritos como:
Icônicos, porque são sinais que têm semelhança com o objeto que representam, como o ícone de uma caveira representando perigo e risco.
Indicadores, porque são sinais que indicam o sentido abstrato de uma palavra, como o índice exemplificado na palavra nuvem.
Verbais, porque estão centrados apenas na palavra falada.
Não verbais, porque estão centrados apenas na palavra escrita.
Parte inferior do formulário
Comentário
Parabéns! A alternativa "A" está correta.
A linguagem verbal é caracterizada pelo uso de sinais verbais para a comunicação, ou seja, vale-se da palavra falada ou escrita. Nesse caso, as línguas naturais, como português, inglês, espanhol, japonês, árabe etc., são exemplos de linguagem verbal, seja na modalidade escrita ou oral.
Você conseguiu desbloquear o
módulo 2!
E, com isso, você:
 Descreveu o conceito de linguagem
 Retornar para o início do módulo 1
MÓDULO 2
Identificar as características da linguagem humana
A linguagem humana
Das propriedades mais específicas que cooperam para que a linguagem humana seja flexível e versátil, há quatro características que frequentemente são apontadas:
1
Dualidade ou dupla articulação
2
Arbitrariedade
3
Independência de estímulo
4
Produtividade
Essas características tornam a linguagem, do ponto de vista linguístico, exclusiva dos seres humanos. Vamos conhecê-las!
A dualidade
Também chamada de dupla articulação. A partir do século XIX, os estudiosos da linguagem passaram a entender que a língua é articulada, constituindo-se em uma das características que a tornam diferente da forma de comunicação dos animais.
O termo articulação vem do latim articulus, que tem tanto o sentido de “junta dos ossos” ou “nó das plantas” quanto o sentido de “ligação, conexão, relação das partes de um discurso; membro de uma frase” (SARAIVA, 2000). Assim, a articulação na linguagem refere-se ao fato de os enunciados poderem ser desmembrados em partes, já que surgem do resultado da união de elementos que podem ser encontrados em outros enunciados. Dito de outra forma, pronunciamos as palavras porque os sons que as compõem se combinam ou se articulam. Veja a sentença a seguir:
Os atletas correram a maratona.
Essa frase pode ser dividida em unidades menores:
Os
atletas
correram
a
maratona
Para formar frases, o falante escolhe, entre os vocábulos que estão em sua mente, aqueles que em determinado contexto têm o efeito desejado, articulando-os de acordo com as regras da sentença naquela língua. Cada um dos vocábulos constitui um elemento autônomo, podendo aparecer em outras sentenças da língua, dependendo das necessidades do usuário.
Continuando a análise da frase, cada um desses vocábulos resulta da união morfológica, ou seja, a sentença pode ser reduzida a unidades menores, como em:
os
o∅
atletas
atleta∅
Atenção
O símbolo ∅ é usado para indicar uma ausência ou uma forma nula, no caso, a ausência da consoante -s. Na Matemática, este mesmo símbolo é usado para representar o conjunto vazio.
Perceba a oposição entre a presença do -s (em “os” e “atletas”) e a sua ausência (em “o” e “atleta”). A retirada do -s gera uma diferença de valor no vocábulo, deixando de ter a marca de plural e indo para o singular. A conclusão à qual você deve chegar é que o -s é uma desinência de número usada para indicar o plural. Situação parecida acontece com a forma verbal “correram”:
“correra/m”
“corre/∅”
“corr/e”
Note que o -m indica que o verbo está na 3ª pessoa do plural; o -ra- é uma marca de pretérito; o -e- indica que se trata de um verbo da 2ª conjugação. Todos esses elementos, os chamados morfemas, dão sentido aos vocábulos ou à estrutura gramatical. Eles se identificam com radicais, vogais temáticas, prefixos, sufixos e outros elementos da estrutura gramatical.
A frase pode ainda ser dividida em unidades menores: os fonemas. Essa divisão se relaciona com a base sonora das palavras, ou seja, são partes que compõema estrutura fonológica do vocábulo e apresentam funções diferentes. Se fizermos a troca de um fonema por outro, teremos um outro vocábulo.
Maratona
/m/, /a/, /r/, /a/, /t/, /o/, /n/, /a/
Assim, podemos entender que a linguagem verbal ou a língua é articulada, pois as sentenças são o resultado da união de elementos menores. A dupla articulação ou dualidade acontece porque as unidades mínimas se combinam ou se articulam em dois níveis:
Morfemas
A primeira articulação, as combinações dos morfemas, dá significação ou sentido gramatical.
Fonemas
A segunda articulação, as relações combinatórias dos fonemas, tem apenas função distintiva.
Qual a vantagem da dupla articulação?
A grande vantagem da dupla articulação da linguagem é que ela permite uma melhor adaptação das línguas às necessidades da comunicação humana, facilitando o processo e diminuindo o esforço do falante.
Essa economia fica clara quando vemos que a formação do masculino e do feminino se dá por meio de palavras diferentes, como em homem/mulher, boi/vaca e outros. Na maioria das vezes, o processo é mais econômico e utilizamos apenas uma mudança morfológica para flexionar, por exemplo, o número ou o gênero das palavras:
cantor /cantora / cantores
A arbitrariedade
Este conceito diz respeito à relação existente entre a forma e o significado, entre o sinal e a mensagem. A linguagem opera com elementos que buscam retratar a realidade. Vejamos alguns exemplos:
A sequência de sons “cavalo” serve para representar o conceito que temos do animal.
Cavalo
A série fônica “amor” representa um sentimento.
Amor
Assim, a linguagem humana se vale de um processo de representação ou simbolização, mas esse processo é arbitrário, ou seja, não há nenhuma relação direta entre a sequência de sons e o seu significado, não há uma relação natural, por exemplo, entre o nome e o sentido que ele designa. É arbitrário, por exemplo, o fato de utilizarmos a palavra maçã para um referente que corresponde à fruta que você conhece e que todos nós podemos comer. Não há um motivo natural, uma relação de causa e efeito para chamarmos de maçã um determinado fruto. Prova disso é que utilizamos palavras diferentes em outros idiomas para fazermos referência ao mesmo fruto:
Em inglês, usa-se a palavra apple.
Em alemão, usa-se a palavra apfel.
Em francês, usa-se a palavra pomme.
Em espanhol, usa-se a palavra manzana.
A arbitrariedade na língua é, assim, uma manifestação da referência simbólica que a língua faz à realidade. Os elementos da linguagem não constituem a realidade em si, eles fazem referência à realidade, ou representam a realidade, por meio dos signos linguísticos. (DALLIER, 2015)
A independência de estímulo
A independência de estímulo na linguagem humana está relacionada ao fato de não haver conexão entre as palavras e as situações em que elas são utilizadas. Segundo Lyons (1987), não há uma previsibilidade de se dizer determinadas palavras em função da situação vivenciada pelo falante, assim como se prevê um comportamento habitual, a partir das próprias situações.
Você não pronuncia a palavra livro todas as vezes que vê ou folheia um livro. Por outro lado, é possível que essa palavra seja dita em situações nas quais as pessoas não estejam vendo ou folheando um livro.
O livro que você indicou é maravilhoso!
Fiquei aflita quando soube que a Júlia se acidentou!
Da mesma forma, não é provável que, ao passar por inúmeras situações preocupantes, você pronuncie a palavra preocupado todas as vezes. A probabilidade de usar essa palavra não seria maior nessa situação do que a de utilizá-la em outro contexto.
A independência de estímulo também tem a ver com a criatividade no uso da língua. De acordo com Lyons (1987), um enunciado que falamos em dada ocasião é, em princípio, não predizível, e não pode ser descrito apropriadamente, no sentido técnico desses termos (independência de estímulo e criatividade), como uma resposta a algum estímulo identificável, linguístico ou não linguístico. Assim, uma criança, quando está adquirindo a língua, não produz os enunciados apenas a partir dos estímulos externos que recebe.
A produtividade
A produtividade de um sistema linguístico possibilita a construção e a interpretação de novas frases ou novos textos. Assim, a partir de um número limitado de elementos, a linguagem nos mostra possibilidades infinitas de combinação.
O conjunto limitado de letras ou de sons da língua portuguesa, por exemplo, permite a produção de uma infinidade de frases ou textos. Isso quer dizer que com apenas 26 letras do nosso alfabeto podemos escrever tudo o que quisermos ou imaginarmos. Assim, em função da produtividade, a linguagem não apresenta um limite definido, não exige a mera reprodução de mensagens previamente compartilhadas.
A B C D E F G H I J K L M
N O P Q R S T U V W X Y Z
DOCE
MALA
ARTE
PARQUE
Cada falante de uma língua pode fazer, e acabará fazendo, combinações únicas e, ainda assim, será compreendido, desde que a mensagem utilize o mesmo código que o receptor domina (BORBA, 1998). Lyons (1987) afirma que a produtividade linguística também se manifesta no fato de a criança, ainda muito cedo, produzir construções gramaticais que jamais ocorreram antes em sua experiência.
Essas características da linguagem humana têm sido objeto de estudo de vários pesquisadores, principalmente a partir do estabelecimento da ciência da linguagem – a Linguística – no começo do século XX. No próximo módulo, você conhecerá alguns estudos que antecedem o surgimento da Linguística para, no último módulo, conferir como e por que ela surgiu.
Para saber mais sobre as características da linguagem, assista ao vídeo a seguir.
Verificando o aprendizado
Parte superior do formulário
1. Identifique as características ou propriedades que tornam a linguagem, do ponto de vista linguístico, exclusiva dos seres humanos.
Dupla articulação, arbitrariedade, dependência de estímulo e improdutividade.
Flexibilidade, versatilidade, causalidade e dualidade.
Dualidade ou dupla articulação, arbitrariedade, independência de estímulo e produtividade.
Dualidade, arbitrariedade, previsibilidade e produtividade.
Parte inferior do formulário
Comentário
Parabéns! A alternativa "C" está correta.
Das propriedades mais específicas que cooperam para que a linguagem humana seja flexível e versátil, há quatro características que frequentemente são apontadas: dualidade ou dupla articulação, arbitrariedade, independência de estímulo e produtividade. Essas características tornam a linguagem, do ponto de vista linguístico, exclusiva dos seres humanos.
Parte superior do formulário
2. A combinação na língua entre unidades mínimas tanto por meio dos morfemas, que dão significação ou sentido gramatical, quanto por meio dos fonemas, que têm função distintiva, é uma característica da linguagem identificada com a:
Produtividade
Arbitrariedade
Independência de estímulo
Dupla articulação
Responder
Parte inferior do formulário
Comentário
Você conseguiu desbloquear o
módulo 3!
E, com isso, você:
 Identificou as características da linguagem humana
 Retornar para o início do módulo 2
MÓDULO 3
Distinguir os estudos da linguagem no período pré-linguístico
Estudos sobre a linguagem
Os estudos sobre a linguagem tornaram-se cada vez mais importantes e abundantes nas últimas décadas. Embora o século XX tenha sido um marco para o estabelecimento de uma ciência da linguagem, é relevante conhecer alguns estudos realizados ao longo de muito tempo, remontando inclusive à Antiguidade Clássica.
Antiguidade
Os primeiros estudos são denominados paralinguísticos, pois eram mais voltados às análises filosóficas e às abordagens da natureza biológica da linguagem, em vez de se limitarem a aspectos próprios da linguagem. Platão e Aristóteles são exemplos de pensadores que estudaram a linguagem privilegiando uma análise filosófica.
Platão
Filósofo grego que nasceu em Atenas por volta do ano 427 a.C. e morreu na mesma cidade em 347 a.C.. Ele entendia que a linguagem afastava o homem do mundo das ideias, o lugar da verdade, por isso toda fala deveriaser comprometida com a verdade. Platão foi, provavelmente, o primeiro a classificar as palavras em nomes e verbos (BRANDÃO, 1976).
Aristóteles
Filósofo grego, discípulo de Platão, nascido em Estagira, em 384 a.C., e falecido em Atenas, em 322 a.C. Compreendia a linguagem como suporte para reflexão filosófica e meio de manifestação de valores e crenças. Pela linguagem se deveria buscar a verdade (exigência de certezas) e descobrir de modo especulativo o que é adequado para persuadir em cada situação (BRANDÃO, 1976).
Grécia
Na Grécia, havia a ideia de explicar a relação entre o conceito e a palavra utilizada para designá-lo. Uma questão importante era: haveria alguma relação entre a palavra e seu significado? Também havia discussões sobre o processo de funcionamento das línguas. Um embate, por exemplo, ocorria entre naturalistas e convencionalistas, que discutiam se o processo da língua era algo normal ou se ele obedecia a determinadas convenções estabelecidas pela sociedade. Outro embate se dava entre analogistas e anomalistas, que discutiam se os processos linguísticos seguem analogias, imitações ou se, por outro lado, são tão desorganizados que não obedecem a nenhum princípio.
Ainda na Antiguidade Clássica, houve outra tradição de estudo da linguagem, dessa vez, preocupada em definir o certo e o errado no modelo utilizado pelas classes letradas, o que deu origem aos estudos gramaticais. Entre os gregos, Dionísio da Trácia (170 a.C. – 90 a.C.) organizou a primeira gramática sistemática do grego por volta do século II a.C. Nessa gramática, ele categorizou as classes de palavras em:
1 Nome
2 Verbo
3 Particípio
4 Artigo
5 Pronome
6 Preposição
7 Advérbio
8 Conjunção
Ele também atribuiu certas categorias gramaticais a essas classes:
Tipo
Primitivo
Derivado
Forma
Simples
Composta
Gênero
Neutro
Feminino
Masculino
Número
Singular
Plural
Dual
Caso
Nominativo
Acusativo
Genitivo
Dativo etc.
Atenção
A descrição gramatical era baseada em determinado modelo ou paradigma.
Roma
Em Roma, no século II a.C., o filósofo Marco Terêncio Varrão (116 a.C. – 27 a.C.) dedicou-se aos estudos gramaticais na tentativa de classificar a gramática como ciência e arte. Varrão fazia a distinção entre variação natural (flexão) e variação voluntária (derivação). Vejamos:
 Clique nos botões para ver as informações.
Flexão
Derivação
Varrão também propôs um sistema dividido em classes de palavras a partir de contrastes de flexão ou variação. Como outros estudiosos gregos, Varrão reconheceu que o caso e o tempo eram as categorias que primariamente serviam para diferenciar os vocábulos com flexão das línguas clássicas. (ROBINS, 1983)
Tradição hindu
Também houve a preocupação na Antiguidade, da parte de vários estudiosos, de compreender a língua dos textos clássicos. Fora da cultura ocidental antiga, também houve estudos sobre a linguagem, como aconteceu na tradição hindu.
Por volta do século IV a.C., entre os hindus, já eram realizados estudos sobre a linguagem por meio dos mitos e das lendas. Também havia eruditos que buscavam entender o funcionamento da língua. Inicialmente, como afirma Lyons (1979), eram discussões religiosas inspiradas nos hinos sagrados dos hindus, com o objetivo de não permitir que o texto sagrado fosse corrompido. Tempos depois, Panini, um antigo gramático hindu, passou a fazer descrições cuidadosas da língua.
No século II a.C., outro gramático, Pantañjali, explicou as regras e os estudos realizados por Panini. De acordo com Câmara Jr. (2011), esses dois gramáticos hindus lançaram a base da gramática do sânscrito, uma língua ancestral do Nepal e da Índia.
Segundo Robins (1983), todos esses antigos estudos da linguagem ofereceram uma terminologia que foi traduzida e adaptada ao latim, passando a constituir os fundamentos de quase dois mil anos de teoria gramatical e de ensino e estudo do grego e do latim.
Assim, boa parte da nomenclatura adotada nos estudos gramaticais e linguísticos atuais surge na Antiguidade e, à medida que as pesquisas avançam, evidencia-se a necessidade de novos termos para dar conta dessas demandas explanatórias.
Idade Média
Segunda metade do século V
No início da Idade Média, na segunda metade do século V, Prisciano de Cesareia, um gramático romano que ministrou aulas em Constantinopla, ampliou o conceito de classes de palavras para:
1 Nome (incluindo adjetivos)
2 Verbo
3 Particípio
4 Pronome
5 Advérbio
6 Preposição
7 Interjeição
8 Conjunção
De acordo com Robins (1983), Prisciano também percebia, como os demais gramáticos da Antiguidade, que a letra era ao mesmo tempo a menor unidade gráfica e a menor unidade fonológica.
Meados do século XIII
Ao avançarmos no período da Idade Média, em meados do século XIII, encontramos os estudiosos conhecidos como modistas, voltados para o entendimento do modo como os termos da língua passam a ter significação. Eles perceberam que a estrutura das línguas é universal, o que existe em uma língua, existe na outra, em termos de estrutura.
Surgem, então, as chamadas gramáticas especulativas, que tinham o objetivo de integrar a descrição gramatical à teoria filosófica da escolástica, tomando como base o que Prisciano já havia feito. A gramática especulativa baseava-se na ideia de que a língua é um espelho que reflete a realidade subjacente aos fenômenos do mundo físico. Desse modo, tentava-se determinar de que forma a palavra se vinculava à inteligência e à coisa que ela representava.
Atenção
Os gramáticos especulativos ensinavam que a palavra não representa diretamente a natureza da coisa significada, mas apenas como ela existe de uma maneira ou de um modo: uma substância, uma ação, uma qualidade. (BORBA, 1998)
Século XVI
 Martinho Lutero, figura central da Reforma Protestante.
De acordo com Petter (2003), houve uma numerosa tradução de livros sagrados para diversas línguas no século XVI graças à Reforma Protestante, ainda que o latim se mantivesse como língua universal.
Ao mesmo tempo, os viajantes trouxeram seus conhecimentos das línguas com as quais tiveram contato, desconhecidas na Europa até aquele momento. No início desse século, foi lançado o primeiro dicionário poliglota do mundo.
Séculos XVII e XVIII
Entre os séculos XVII e XVIII, a preocupação com os modelos anteriores continua. Por isso, em 1660, na França, surge a Gramática de Port-Royal, escrita pelo padre, teólogo e filósofo Antoine Arnauld e pelo monge e gramático Claude Lancelot. Essa gramática passa a ser o modelo para muitas gramáticas daquele momento. O consenso na época é que a linguagem estava fundada na razão e refletia o pensamento, logo, os princípios de análise deveriam ser universais para qualquer língua.
Lyons (1987) afirma que, nesse período, a preocupação era “demonstrar que a estrutura da língua é um produto da razão e que as diferentes línguas são apenas variedades de um sistema lógico e racional mais geral”.
Século XIX
No século XIX, o conhecimento cada vez maior da linguagem provoca o interesse pelas línguas faladas, ao invés de análises abstratas sobre a linguagem, como era o costume anteriormente. Segundo Petter (2003), é nesse período que surgem as chamadas gramáticas comparadas e a linguística histórica. Torna-se evidente que as línguas passam por transformações ao longo do tempo, independentemente da vontade dos falantes, seguindo as necessidades próprias da língua. Vejamos alguns autores que se destacaram nessa época:
No início do século XIX, o filósofo e linguista prussiano Wilhelm von Humboldt, fundador na Alemanha da Universidade de Berlim, “procurou estabelecer o mecanismo e a natureza da linguagem por meio de raciocínios gerais que se aplicam ao funcionamento das línguas em particular”.
Humboldt entendia a língua como energia ou força criadora de cada um, não sendo apenas um produto a ser utilizado pelos falantes. Desse modo, a língua exerceria grande influência no modo como os falantes percebem e organizam a realidade, o mundo dos objetos, e em torno disso sua própria mente ou pensamento. (BORBA, 1998)
 Wilhelm von Humboldt
 Franz Bopp
Ainda no começo do séculoXIX, em 1816, o alemão Franz Bopp, linguista e professor na Universidade de Berlim, publica um estudo comparando o grego, o latim, o persa e o germânico. Tem-se o início da chamada linguística histórica, que ressaltava as semelhanças entre as línguas, evidenciando que muitas delas tinham um ancestral comum.
De acordo com Petter (2003), a descoberta de semelhanças entre essas línguas e grande parte das línguas europeias evidenciou que existia entre elas uma relação de parentesco, que elas constituíam, portanto, uma família, a indo-europeia, cujos membros tinham uma origem comum, o indo-europeu, ao qual se pode chegar por meio do método histórico-comparativo.
Os estudos no século XIX, identificados com a linguística histórica e atrelados à gramática comparada, levavam em conta a mudança das línguas e procuravam descobrir sua história, comparando, por exemplo, línguas europeias a outras mais antigas ou ancestrais. Tudo isso contribuiu para o fortalecimento de um sistema próprio para tratar exatamente da linguagem (o que chamamos de metalinguagem), para o estabelecimento de símbolos e para o desenvolvimento de recursos para descrição de uma língua. Além disso, os estudos ao longo do século XIX prepararam o terreno para o surgimento da Linguística como ciência da linguagem no início do século XX, assunto do próximo módulo.
Para saber mais sobre os estudos da linguagem ao longo do tempo, assista ao vídeo a seguir.
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1. No período chamado pré-linguístico, especialmente na Grécia e Roma antigas, os primeiros estudos da linguagem se distinguem por serem:
Estudos paralinguísticos, porque se caracterizavam por análises filosóficas e abordagens da natureza biológica da linguagem, em vez de examinar os aspectos próprios da linguagem.
Estudos gramaticais históricos e comparativistas, porque abordavam a evolução das línguas e comparavam línguas mortas a línguas vivas.
Estudos modistas, porque se ocupavam do modo como as palavras produzem sentido.
Estudos históricos e etimológicos, porque investigavam a formação das línguas europeias a partir de um tronco linguístico comum.
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Comentário
Parabéns! A alternativa "A" está correta.
Os primeiros estudos são denominados paralinguísticos, pois eram mais voltados para análises filosóficas e abordagens da natureza biológica da linguagem, em vez de se limitarem a aspectos próprios da linguagem. Platão e Aristóteles são exemplos de pensadores que estudaram a linguagem privilegiando uma análise filosófica.
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2. No século XIX, os estudos pré-linguísticos devem ser distinguidos como:
Investigação científica da linguagem, que valorizava o estado da língua, em vez de se ocupar de suas mudanças históricas.
Estudos que não contribuíram para o estabelecimento de uma metalinguagem ou linguagem própria no estudo da língua.
Estudos de gramática especulativa identificados com a filosofia escolástica e a retomada de pensadores como Platão e Aristóteles.
Estudos identificados com a linguística histórica e a gramática comparada, que prepararam o terreno para o surgimento da Linguística como ciência da linguagem no início do século XX.
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MÓDULO 4
Reconhecer a Linguística como ciência da linguagem
A Linguística como ciência da linguagem
Até o início do século XX, os estudos linguísticos não possuíam autonomia, pois estavam submetidos a outras áreas, como a Lógica, a Filosofia, a História e a Literatura. Mas, a partir desse momento, os estudos linguísticos começam a se preocupar apenas com os fatos da linguagem, usando métodos científicos para estabelecer hipóteses e sistematizando os dados, com um quadro teórico para tal empreitada. Surge, então, a Linguística Moderna, ou simplesmente Linguística, a ciência da linguagem, tendo como marco de sua fundação os estudos de Ferdinand de Saussure.
Segundo Alkmin (2004), desde as tradições antigas de estudo da linguagem até o surgimento da Linguística, os estudos se vinculavam ao contexto e às questões de sua época. Por isso, “as teorias da linguagem, do passado ou atuais, sempre refletem as concepções particulares do fenômeno linguístico e as compreensões distintas do papel deste na vida social”. Assim, nos diferentes momentos históricos, “as teorias linguísticas definem, a seu modo, a natureza e as características relevantes do fenômeno linguístico. E, evidentemente, a maneira de descrevê-lo e de analisá-lo”.
A Linguística surge como uma forma de descrever e de compreender o mistério de uma pessoa ser capaz de se comunicar com outra por intermédio de sinais que são percebidos sensorialmente, ou seja, ela se volta para o estudo dos códigos que usamos para realizar a comunicação. Ocupa-se, inicialmente, da descrição e da análise da estrutura e do funcionamento da língua, a partir da observação dos fatos linguísticos. Veja algumas definições ou conceitos para a Linguística:
Linguística
A ciência que investiga os fenômenos relacionados à linguagem e que busca determinar os princípios e as características que regulam as estruturas das línguas. (SILVA, 2007)
Estudo das línguas naturais, a Linguística se interessa pelo conjunto estruturado dos recursos linguísticos que expressa as relações, funções e categorias relevantes para a interpretação dos enunciados (dimensão sintática); pelos modos de representação da realidade, tomados como sistema de referência para essa interpretação (dimensão semântica); pelos mecanismos que relacionam essa interpretação a determinados estados de fato, nas coordenadas espaço-temporal e interpessoal (dimensão dêitico-referencial), e a determinadas situações de uso, inclusive para avaliar os enunciados, do ponto de vista de sua adequação a determinadas ações e a determinados propósitos (dimensão pragmático-discursiva) ou do ponto de vista de sua verdade ou falsidade (dimensão lógica). (FRANCHI, 1990)
A Linguística tem um objeto de estudo próprio: a capacidade da linguagem, que é observada a partir dos enunciados falados e escritos. Esses enunciados são investigados e descritos à luz de princípios teóricos e de acordo com uma terminologia específica e apropriada. A universalidade desses princípios teóricos é testada através da análise de enunciados em várias línguas. A Linguística tende a ser empírica, e não especulativa ou intuitiva, assim, tende a basear suas descobertas em métodos rígidos de observação. Ou seja, a maioria dos modelos linguísticos contemporâneos trabalha com dados publicamente verificáveis por meio de observações e experiências. Estreitamente relacionada ao caráter empírico da Linguística está a atitude não preconceituosa em relação aos diferentes usos da língua. Essa atitude torna a Linguística, primordialmente, uma ciência descritiva, analítica e, sobretudo, não prescritiva. (CUNHA; COSTA; MARTELLOTA, 2008)
Se a Linguística é a ciência que estuda a linguagem, quem é o linguista?
Cunha, Costa e Martellota (2008) afirmam que o linguista é o profissional ou pesquisador que trabalha “suas observações sobre a linguagem, relacionando-as a uma teoria linguística construída para esse propósito. A partir dessa teoria, criam-se métodos rigorosos para a descrição das línguas”. Assim, os estudos da Linguística não têm necessariamente a ver com a aprendizagem de muitas línguas, em ser um poliglota, mas o linguista deve ser capaz de discutir sobre uma ou mais línguas, conhecer seu funcionamento, suas semelhanças e suas diferenças.
Diferentemente da gramática normativa, a gramática que aprendemos na escola, a Linguística está mais preocupada em explicar e descrever fatos, indo além do conceito de certo e errado, descrevendo padrões sonoros, lexicais e gramaticais existentes na língua, sem avaliar se seu uso é bom ou ruim, belo ou feio. Sobre isso, imagine a seguinte situação:
Jorge gosta de música clássica e Ana prefere ouvir músicaseletrônicas.
Ambos jamais poderão dizer que o seu estilo musical é melhor ou pior que o do outro, pois aí entram critérios subjetivos, de gosto pessoal e de formação cultural de cada pessoa.
Em relação ao uso da língua, as variações existem, mas não tornam aquele modelo melhor ou pior do que outro. Por isso, as variações da pronúncia, do vocabulário e da sintaxe dos moradores de uma zona rural com pouco acesso à escola não são julgados engraçados ou errados pela Linguística, mas são analisados e explicados dentro de um quadro teórico específico.
Qual a metodologia que o linguista utiliza?
A metodologia do linguista foca principalmente na língua oral de determinada comunidade, mas em segunda instância pode analisar a escrita também. A prioridade da língua oral na Linguística difere da abordagem tradicional ou mesmo da gramática escolar, mais preocupadas com o modelo literário utilizado na língua. Dado o prestígio da língua escrita na maioria das sociedades do mundo, é difícil convencer o leigo da importância do estudo da oralidade, indo além do modelo escrito, tipográfico.
A Linguística desenvolveu uma metodologia com a intenção de descrever e analisar a língua a partir de conjunto de dados coletados, o corpus. Esse conjunto não é formado apenas por frases corretas do ponto de vista da gramática normativa, mas de tudo aquilo que é efetivamente realizado. Essa postura teórica e metodológica dá à Linguística o seu caráter científico fundamentado na observação dos fatos linguísticos e na objetividade, livre de estigmas sociais ou mesmo culturais.
A Linguística entende que nenhuma língua é intrinsecamente superior ou inferior à outra, porque todo sistema linguístico é capaz de transmitir de forma adequada a cultura do povo que fala determinada língua. Assim, uma língua minoritária, falada por alguns povos indígenas, por exemplo, não é inferior a uma língua falada por milhões de usuários, como o inglês. Segundo Cunha, Costa e Martellota (2011), “pode-se, portanto, dizer que a Linguística executa duas tarefas principais:
1 “O estudo das línguas particulares como um fim em si mesmo, com o propósito de produzir descrições adequadas de cada uma delas”.
2 “O estudo das línguas como um meio para obter informações sobre a natureza da linguagem de um modo geral”.
Segundo Petter (2003), a área da Linguística pode ser dividida da seguinte maneira, levando em conta o foco de análise:
 Clique nos botões para ver as informações.
Linguística Descritiva (ou sincrônica)
Trata de uma língua, descrevendo-a simultaneamente no tempo, analisa as relações existentes entre os fatos linguísticos em um estado da língua, além de fornecer dados que confirmam ou não as hipóteses. Modernamente, ela cede lugar à Linguística Teórica, que constrói modelos teóricos, mais do que descreve.
Linguística Histórica (ou diacrônica)
Analisa as mudanças que a língua sofre através dos tempos, preocupando-se, principalmente, com as transformações ocorridas.
Linguística Teórica
Procura estudar questões sobre como as pessoas, usando suas linguagens, conseguem comunicar-se; quais propriedades todas as linguagens têm em comum; qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade linguística é adquirida pelas crianças
Linguística Aplicada
Utiliza conhecimentos da Linguística para solucionar problemas, geralmente referentes ao ensino de línguas, à tradução ou aos distúrbios de linguagem.
Linguística Geral
Engloba todas as áreas, sem um detalhamento profundo. Fornece modelos e conceitos que fundamentarão a análise das línguas.
Ao longo do século XX, a área da Linguística foi se constituindo de forma interdisciplinar, com o interesse e a contribuição de outras áreas do conhecimento. Daí surgiram:
Sociolinguística
Busca analisar a relação da língua e da sociedade.
Neurolinguística
Estuda o comportamento da língua no cérebro, no processamento das informações.
Psicolinguística
Tenta explicar a aquisição da linguagem, seja a língua nativa ou uma estrangeira.
Etnolinguística
Trabalha a relação da língua e da cultura, entre outras áreas.
Para saber mais sobre as subdivisões da Linguística, assista ao vídeo a seguir.
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1. O caráter científico da Linguística deve ser reconhecido porque:
A Linguística desenvolveu uma metodologia com a intenção de avaliar a língua, a partir de um conjunto de dados coletados, para estabelecer o que é correto e quais usos da língua são superiores e quais são inferiores.
A observação dos fatos linguísticos a partir da subjetividade do pesquisador permite identificar qual sistema linguístico não é capaz de transmitir a cultura do povo que o utiliza.
A língua é estudada do ponto de vista da gramática normativa, com uma metodologia que prescreve o certo e o errado no uso da linguagem.
A metodologia utilizada tem a intenção de descrever e analisar a língua, a partir de dados coletados, estabelecendo uma postura teórica e metodológica fundamentada na observação dos fatos linguísticos e na objetividade.
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Comentário
Parabéns! A alternativa "D" está correta.
A Linguística desenvolveu uma metodologia com a intenção de descrever e analisar a língua, a partir de conjunto de dados coletados, o corpus. Esse conjunto não é formado apenas por frases corretas do ponto de vista da gramática normativa, mas de tudo aquilo que é efetivamente realizado. Essa postura teórica e metodológica dá à Linguística o seu caráter científico fundamentado na observação dos fatos linguísticos e na objetividade, livre de estigmas sociais ou mesmo culturais. Desse modo, a Linguística entende que nenhuma língua é intrinsecamente superior ou inferior à outra, porque todo sistema linguístico é capaz de transmitir de forma adequada a cultura do povo que o utiliza.
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2. Assinale a alternativa que não apresenta uma afirmação identificada com o caráter científico da Linguística e do trabalho do linguista.
O linguista é o profissional ou pesquisador que trabalha suas observações sobre a linguagem, relacionando-as a uma teoria linguística construída para esse propósito.
A partir da teoria, criam-se métodos rigorosos para a descrição das línguas.
Os estudos da Linguística devem, obrigatoriamente, conduzir ao aprendizado de muitas línguas a fim de formar poliglotas.
O linguista deve ser capaz de discutir sobre uma ou mais línguas, conhecer seu funcionamento, suas semelhanças e suas diferenças.
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Comentário
Parabéns! A alternativa "C" está correta.
Cunha, Costa e Martellota (2008) afirmam que, se a Linguística é a ciência que estuda a linguagem, o linguista é o profissional ou pesquisador que trabalha suas observações sobre a linguagem, relacionando-as a uma teoria linguística construída para esse propósito. A partir dessa teoria, criam-se métodos rigorosos para a descrição das línguas. Assim, os estudos da Linguística não têm necessariamente a ver com a aprendizagem de muitas línguas, em ser um poliglota, mas o linguista deve ser capaz de discutir sobre uma ou mais línguas, conhecer seu funcionamento, suas semelhanças e suas diferenças.
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CONCLUSÃO
Como todas as outras ciências, a Linguística serve para ampliar o conhecimento e a compreensão da realidade, do mundo. No caso da Linguística, o que se quer conhecer e pesquisar é uma das mais importantes características do ser humano: a linguagem. As aplicações dos estudos linguísticos surgem em decorrência do conhecimento construído. Por meio da pesquisa dos linguistas, pode-se compreender as estruturas e o funcionamento das línguas, inclusive daquelas mais desconhecidas e remotas; elaborar teorias sobre a aquisição da linguagem; reconhecer os fenômenos de mudança e de variação na língua; obter subsídios ou fundamentos para metodologias de ensino das línguas; descobrir as relações entre linguagem e pensamento, linguageme sociedade, linguagem e cultura, entre outras possibilidades.
Conquistas
Módulo 1
Descreveu o conceito de linguagem
Módulo 2
Identificou as características da linguagem humana
Módulo 3
Distinguiu os estudos da linguagem no período pré-linguístico
Módulo 4
Reconheceu a Linguística como ciência da linguagem
2ª AULA
O ESTRUTURALISMO de FERDINAND de SAUSSURE
DEFINIÇÃO
Apresentação do conceito de estruturalismo proposto por Ferdinand de Saussure e de suas principais ideias para o campo da Linguística.
PROPÓSITO
Conhecer as principais ideias defendidas por Ferdinand de Saussure no início da Linguística como ciência, permitindo ao estudante progredir nos estudos da linguagem.
OBJETIVOS
Módulo 1
Conceitos gerais do estruturalismo linguístico e suas características
Módulo 2
Dicotomias saussureanas
Módulo 3
Características do signo linguístico
INTRODUÇÃO
A Linguística é uma ciência relativamente nova em comparação a outras ciências humanas. Os estudos linguísticos passaram a ter status de ciência no início do século XX com Ferdinand de Saussure (1857-1913) e os fundamentos teóricos por ele apresentados em seu Curso de Linguística Geral, ministrado em Genebra.
Ferdinand de Saussure, F. Jullien Genève. Fonte: Wugapodes.
Ferdinand de Saussure
Nasceu em Genebra, Suíça. Na Alemanha, estudou química, física, grego, latim, sânscrito, celta e indiano. Com apenas 24 anos, começou a ensinar linguística histórica em uma universidade francesa. Seus cursos ficaram famosos e, em 1891, voltou para Genebra, onde ministrou aulas até o ano de seu falecimento.
Com o início da Linguística como ciência e disciplina autônoma, surgiram elaborações teóricas que permitiram caracterizar a língua como uma estrutura. Os estudos de Saussure deram base a uma corrente teórica denominada estruturalismo, embora o linguista suíço usasse o termo sistema em vez de estrutura para definir a língua como um todo em que as partes estão relacionadas para sua organização num sistema coerente, conforme você aprenderá mais adiante.
Saussure apresentava as partes do sistema como um conjunto de unidades em que acontecem correlações e oposições. Um exemplo das relações entres as partes do sistema da língua seriam as combinações de formas mínimas que resultam em unidades linguísticas superiores, como ocorre com as sílabas formando uma palavra ou, ainda, no exemplo da composição da palavra aguardente, em que ardente determina o termo água, resultando em uma palavra composta.
No Brasil, o estruturalismo impactou fortemente os estudos linguísticos, a começar pelo reconhecimento da Linguística como ciência autônoma nos anos 1960. Naquela época, muitos pesquisadores experientes foram atraídos por essa área de conhecimento, entre eles Joaquim Mattoso Câmara Júnior, o primeiro doutor em Linguística do país. Tais estudiosos usavam a Linguística como uma disciplina auxiliar para os estudos literários.
O estruturalismo venceu a resistência de outras escolas de análise, mas foi superado por novas tendências nos estudos linguísticos, ainda que tenha continuado a se desenvolver e seja muito importante para a compreensão da constituição da Linguística.
CONCEITO DE ESTRUTURALISMO LINGUÍSTICO
Não se pode falar de um estruturalismo apenas, já que o termo é utilizado em diversas áreas das ciências humanas, como a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia e a Linguística. O surgimento do estruturalismo foi um dos acontecimentos de maior destaque para o pensamento científico do século XX. Sem ele é impossível entender inúmeros progressos das ciências humanas a partir de pesquisas ligadas à linguagem.
Foto da capa original do livro Curso de Linguística Geral, 1916. Fonte: ImprovingWiki.
O estruturalismo linguístico se consolidou com a publicação do livro Curso de Linguística Geral, considerado uma obra póstuma de Saussure em função de ter sido escrito por alguns de seus alunos da Universidade de Genebra, utilizando anotações de aulas entre os anos de 1907 e 1911.
Segundo essa corrente teórica, a língua apresenta-se como o conjunto de estruturas, possibilidades e oposições funcionais. Assim, tudo o que pode ser dito, enquanto for compreensível pelos usuários, admite múltiplas realizações sem que a inteligibilidade seja atingida, estando em constante mudança para satisfazer as necessidades da comunidade.
Segundo Costa (2011), o estruturalismo entende que a língua é formada por elementos coesos, que estão inter-relacionados e funcionam a partir de um conjunto de regras, constituindo uma organização, um sistema ou uma estrutura. Desse modo, o próprio sistema tem leis internas que estruturam a organização dos seus elementos. Vejamos a definição do linguista Mattoso Câmara Júnior para estruturalismo:
Estruturalismo [é a] propriedade que têm os fatos de uma língua de se concatenarem por meio de correlações e oposições, constituindo em nosso espírito uma rede de associações ou estrutura. É por isso que se diz ser a língua um sistema. Trata-se, entretanto, de uma estrutura dinâmica, para servir às mais variadas e inesperadas necessidades da comunicação, e que nunca é cabal, mas sempre está em elaboração. O caráter incompleto da estrutura linguística explica não só a irregularidade e a exceção no plano da sincronia, mas também as mudanças linguísticas.
CÂMARA Jr., 1996
Conforme a definição de Câmara Júnior, a estrutura ou o sistema linguístico são mais amplos do que a norma gramatical, porque contêm tudo o que é possível e vão além do que é realizado. Assim, a estrutura é também um sistema de possibilidades, pois uma língua não é apenas aquilo que já foi feito por meio de determinado procedimento, mas é também o que, mediante tal recurso, pode-se fazer. Ou seja, não é somente passado e presente, uma vez que possui uma dimensão de futuro, sempre criando possibilidades novas.
Veja o exemplo seguinte, extraído do livro de contos Tutameia: terceiras estórias, do escritor brasileiro Guimarães Rosa:
“DESISTINDO DO ELEVADOR,
EMBRIAGATINHAVA ESCADA ACIMA”.
(ROSA, 1969)
Embora o dicionário não traga o verbo embriagatinhar, o leitor é capaz de entender, sem muita dificuldade, que a personagem estava tão embriagada que subia as escadas engatinhando. Essa é a dimensão de futuro do sistema linguístico, que usa elementos da própria língua para criar novas possibilidades. Logo, é tarefa do linguista analisar a organização e o funcionamento dos elementos que constituem a língua.
Atenção
Ainda no exemplo anterior, podemos notar a aproximação e a organização de determinadas unidades linguísticas para formar uma palavra nova, fenômeno que ocorre constantemente na língua em todos os níveis estruturais por possuírem características semelhantes e obedecerem a princípios de funcionamento.
Para entender o conceito de sistema, Saussure usa várias vezes a analogia de um jogo de xadrez. No jogo, o material de que as peças são constituídas não é relevante, pois importa como elas se relacionam entre si, as regras e a função de cada uma em relação à outra. Vale lembrar que não é o conhecimento das regras normativas encontradas nos livros de gramática que determinará o funcionamento do jogo, se assim fosse, aqueles que tiveram pouco acesso aos estudos não conseguiriam se comunicar.
Para o estruturalismo, a língua deve ser estudada em si mesma e por si mesma. Tudo aquilo que não pertence ao campo linguístico deve ser deixado de fora da análise, já que a preocupação é com a estrutura a partir de relações/regras internas, deixando de lado relações da língua com a sociedade, com a cultura ou mesmo com a geografia ou qualquer outro tipo de relação que não seja exclusivamente ligada ao sistema linguístico.
COSTA, 2011
PANORAMA DO ESTRUTURALISMO NORTE-AMERICANO
Neste vídeo, o linguista e professor Nataniel Gomes nos apresenta o estruturalismo norte-americano e faz um comparativo entre as duas teorias. Vamos lá!
O estruturalismo norte-americano é apresentado de maneira independente da proposta europeia de Saussure. De acordo com o professor e linguista Marcos Antônio Costa (2011), a corrente estruturalista norte-americanatem as seguintes suposições:
• As línguas apresentam uma estrutura específica;
• A estrutura é dividida em três subsistemas: fonológico, morfológico e sintático;
• Cada subsistema é formado por unidades: para a fonologia, o fonema; para a morfologia, o morfema; e para a sintaxe, o sintagma;
• A descrição linguística deve começar pelas unidades mais simples;
• As unidades devem ser definidas a partir de sua posição estrutural;
• A semântica é excluída, já que a descrição usa da objetividade absoluta.
Atenção
O estruturalismo norte-americano, na visão do professor Marcos Antônio Costa (2011), estabelece que, para estudar a língua, são necessárias as seguintes condições:
• A formação de um conjunto variado de sentenças produzidas pelos usuários da língua em determinado momento histórico;
• A criação de um inventário, a partir do conjunto levantado anteriormente, que possa determinar as unidades mínimas em cada nível, tais como fonemas, morfemas e sintagmas, bem como as classes que podem agrupar as unidades;
• A averiguação das regras de combinação dos elementos de classes diferentes;
• A análise apenas de elementos que estão no conjunto de dados levantados.
Para a vertente norte-americana do estruturalismo, as partes da língua se organizam em posições específicas que se relacionam entre si. Trata-se de um método exclusivamente descritivo e indutivo que explica por que as frases não são simples sequências de elementos, mas constituintes formados por unidades inferiores. Portanto, uma frase é o resultado de diversas camadas de constituintes.
DESCRITIVO
Para a linguística estruturalista, o que importa é a descrição da estrutura e do funcionamento da língua tal como ela se apresenta em determinado momento em vez de normatizar ou prescrever como deve ser seu funcionamento. Por isso, o método adotado é o descritivo.
INDUTIVO
O método indutivo, no estruturalismo, é caracterizado pelo estudo formal da língua, partindo das unidades mais simples para as maiores, já que as frases são formadas por combinações de construções.
Exemplo
Exemplo da aplicação do método indutivo, a frase “o menino comeu a maçã” é composta pelos sintagmas “o menino” e “comeu a maçã”. Esses sintagmas, por sua vez, são compostos pelas palavras “o”, “menino”, “comeu”, “a”, “maçã”; e ainda pelos morfemas “o”, “menin”, “o”, “com”, “eu”, “a”, “maçã”; e por fim pelos fonemas /o/ /m/e/n/in/u/ /k/u/m/e/u/ /a/ /m/a/s/ã/.
Os sintagmas, as palavras, os morfemas e os fonemas são considerados unidades ou camadas que relacionadas entre si resultam na frase do nosso exemplo: “O menino comeu a maçã”.
O modo de análise do estruturalismo norte-americano é bastante formal e restringe sua abordagem à classificação dos elementos que aparecem nos dados coletados e à identificação das leis que regem tais combinações.
Mas você pode se perguntar:
qual é a utilidade de tais conceitos?
A resposta será dada a partir das principais ideias defendidas por Saussure, no próximo módulo. Mas antes, verifique se você entendeu as noções básicas do estruturalismo linguístico, seja na escola europeia ou na norte-americana, fazendo as atividades seguintes.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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1. Assinale a alternativa que descreve corretamente o estruturalismo linguístico proposto por Ferdinand de Saussure.
O entendimento da língua como um sistema pode recorrer à analogia com o jogo de xadrez, porque o mais importante na língua é como os elementos internamente se relacionam entre si, quais as regras e o modo de funcionamento deles.
A língua é um sistema ou uma estrutura, por isso o mais importante são as regras normativas das gramáticas escolares e não o funcionamento interno dos elementos da língua.
A língua, apesar de ser um sistema, deve ser estudada priorizando as relações sociais de seus falantes ou usuários.
O estudo da língua como um sistema permite confirmar que os falantes ou usuários com pouco acesso aos estudos não conseguem se comunicar.
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Comentário
Parabéns! A alternativa "A" está correta.
O estruturalismo de Ferdinand de Saussure deve ser descrito a partir do entendimento da língua como um sistema ou uma estrutura, na qual os elementos internos se relacionam a partir de regras e formas de funcionamento próprias, como em um jogo de xadrez. As demais opções estão incorretas porque Saussure não valorizava as regras da gramática normativa, não priorizava as relações sociais no estudo da língua, nem defendia a ideia de que os falantes sem escolaridade não conseguem se comunicar.
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2. A corrente estruturalista norte-americana pode ser adequadamente descrita por meio de qual característica?
O estruturalismo norte-americano entende que as partes da língua são organizadas em posições indefinidas e aleatórias, possuindo autonomia entre si.
O método dedutivo e exclusivamente interpretativo caracteriza o estudo da língua e da estrutura das frases no estruturalismo norte-americano.
Uma frase deve ser entendida como a sobreposição de elementos isolados que se constituem em sequências simples.
As unidades ou camadas da língua são consideradas a partir das relações que estabelecem entre si, como pode ser descrito na análise das diversas combinações entre os sintagmas, as palavras, os morfemas e os fonemas encontrados na frase “O menino comeu a maçã”.
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Parabéns! A alternativa "D" está correta.
O estruturalismo norte-americano apresenta como característica o entendimento de que a língua se organiza por meio de combinações de diversos elementos. Assim, unidades menores vão se combinando para formar uma unidade superior, como se verifica na combinação de fonemas e morfemas para formar uma palavra, e na combinação de palavras e sintagmas para formar uma frase. As demais alternativas estão incorretas porque a organização dos elementos da língua não se dá de forma aleatória, nem com sobreposição de elementos isolados. Além disso, o método usado no estruturalismo é indutivo e descritivo.
VOCÊ CONSEGUIU DESBLOQUEAR O MÓDULO 2!
E, com isso, você:
 Descreveu conceitos gerais do estruturalismo linguístico e suas características
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AS DICOTOMIAS SAUSSUREANAS
Você sabe o que é
uma dicotomia?
O termo se refere à divisão de um conceito em duas partes, formando um par opositivo.
Ao estudarmos Saussure, encontramos as chamadas dicotomias. Algumas das principais dualidades propostas por Saussure são: língua e fala, sincronia e diacronia, sintagma e paradigma.
LÍNGUA E FALA
Comecemos com a dicotomia língua e fala, ou langue e parole, se fôssemos utilizar os termos franceses originalmente empregados por Saussure. Para explicar o conceito de língua, é importante relembrar que ela faz parte da linguagem. Para Saussure (1996), a linguagem é um objeto duplo, pois um fenômeno linguístico apresenta perpetuamente duas faces que se correspondem e das quais uma não vale senão pela outra.
A linguagem é multiforme e heteróclita, enquanto a língua é o aspecto social, coletivo, compartilhada entre os falantes como uma herança recebida de seus antepassados.
Exemplo
Saussure (1996) dá o seguinte exemplo: “Dizemos homem e cachorro porque antes de nós se disse homem e cachorro”. O exemplo mostra que não ocorrem mudanças repentinas ou mesmo individuais na língua, sendo ela, portanto, resistente à mudança. Por outro lado, Saussure afirma que, para haver mudança na língua, as alterações deverão ocorrer nos atos da fala, que se constituem numa manifestação individual da língua.
Para Saussure (1996), a língua constitui um sistema de valores puros que nada determina fora do estado momentâneo de seus termos, ou seja, a pureza tem a ver com os valores que se dão no ato da fala.
“A língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é necessária para que a língua se estabeleça.”
SAUSSURE, 1996
Logo, a língua funciona como um princípio de ordenação, que se configura fala e promove a modernização do sistema linguístico. O falante pegaas peças, como no jogo de xadrez, seguindo princípios e organizando o sistema linguístico.
A linguagem tem um lado social (coletivo), que é a língua, e um lado individual, que é a fala. Para Saussure, não é possível conceber um sem o outro. A língua, portanto, é um sistema coletivo utilizado para a comunicação dos indivíduos na sociedade, sendo parte essencial da linguagem.
O autor também afirma que a língua é um tesouro depositado no cérebro dos usuários de uma mesma comunidade linguística e declara que ela decorre de um contrato feito entre os falantes, justificando o seu caráter social. Ninguém, de forma individual, pode criar nem modificar a língua.
Quando Saussure (1996) se refere à fala, afirma que ela constitui o uso individual do sistema linguístico, sendo um ato individual de vontade e de inteligência. O usuário combina as unidades disponíveis no sistema linguístico para expressar seu pensamento, sendo um mecanismo psicofísico que exterioriza tais combinações, ou seja, torna-se uma manifestação prática e concreta da língua por determinado falante.
Por isso, afirma-se que a fala é individual e está submetida às regras da língua, que podem ser modificadas, desde que outro usuário a quem a informação é endereçada aceite a mudança. Nesse sentido, a mudança começa pela fala até chegar à língua.
Há uma comparação da língua com o dicionário que pode ajudar a compreender melhor o conceito de fala. O linguista brasileiro Edward Lopes explica essa analogia da língua com o dicionário:
Saussure compara a língua a um dicionário, cujos exemplares tivessem sido distribuídos entre todos os membros de uma sociedade. Desse dicionário (ao qual deveríamos acrescentar, para sermos mais precisos, uma gramática), que é a langue, cada indivíduo escolhe aquilo que serve aos seus propósitos imediatos de comunicação. Essa parcela concreta e individual da langue, posta em ação por um falante em cada uma de suas situações comunicativas concretas, chamou-a Saussure parole (em português “fala” ou “discurso)”.
LOPES, 2005
Diante do conceito e da distinção de língua e fala, Saussure estabelece que o objeto de estudo da Linguística é a língua e não a fala, que é vista como secundária.
A língua é comum a todos, sendo essencial na atividade de comunicação e não uma manifestação específica de cada um, como é o caso da fala. Por isso, toda a preocupação extralinguística é abandonada e a estrutura linguística é estudada a partir de relações internas da língua.
Atenção
Lembre-se de que para Saussure não se pode estudar as relações internas da língua de forma isolada. A língua é essencial para que a fala seja entendida e o usuário possa se comunicar. Além disso, ela se forma a partir de sua manifestação individual, a fala, que é uma forma concreta de uso.
Veja a imagem a seguir:
Imagem 1 – Circuito da comunicação para Saussure (1996)
A imagem 1 mostra como Saussure entendia o processo de comunicação. O termo comunicação vem do verbo latino comunicare, que significa tornar comum, ou seja, são necessários alguns elementos comuns para que haja comunicação. São necessários dois indivíduos que falem a mesma língua e usem signos comuns aos dois.
Refletindo sobre a questão, responda:
EM UMA PALESTRA, É POSSÍVEL
HAVER COMUNICAÇÃO?
SIM NÃO
Os indivíduos envolvidos na comunicação precisam falar a mesma língua, caso contrário, não haverá comunicação entre eles. Por exemplo, os dois devem ser falantes da língua portuguesa e usar elementos comuns aos dois. É relativamente comum encontrar pessoas que falam a mesma língua que nós, mas usam um vocabulário muito específico que impede a comunicação. Elas falam, mas não estabelecem comunicação.
Se todos os requisitos são acompanhados, cada um dos usuários da imagem apresenta uma fala característica, individual, pertencente a determinada língua, o que não prejudica a comunicação entre eles.
DIFERENÇA ENTRE LÍNGUA E FALA
Vamos conhecer um pouco mais sobre a diferença entre língua e fala!
Neste vídeo, o professor Luís Dallier comenta as diferenças entre langue e parole. Vamos assistir!
Antes de conhecer a próxima dicotomia de Saussure, confira uma síntese da distinção entre língua e fala:
	LANGUE
	PAROLE
	Língua
	Fala
	Sistema global de regularidades
	Constituída por expressões reais em si
	Caráter coletivo
	Caráter individual
	Social, exterior ao indivíduo
	Atividade linguística concreta, momentânea e individual
	Convencional
	Exprime pensamento pessoal
	Homogênea
	Heterogênea
	Interesse prioritário do linguista; pode ser estudada separadamente
	Considerada acessória e acidental
(DALLIER, 2015)
SINCRONIA E DIACRONIA
Para entender a dicotomia sincronia e diacronia, vamos conhecer os fatos a seguir:
No início do século XIX, os pesquisadores notaram muitas semelhanças entre determinadas línguas. Assim, buscou-se reunir as línguas em grupos ou famílias, método que ficou conhecido como histórico-comparativo.
A partir de 1870, os chamados neogramáticos criticaram o método histórico-comparativo, demonstrando que as mudanças linguísticas seguiam certa regularidade, independentemente da vontade dos falantes e, por isso, afastaram-se das especulações pouco científicas e subjetivas para seguirem o rigor científico no entendimento das mudanças ocorridas nas línguas ao longo do tempo.
Saussure se diferencia ao estabelecer que o estudo da língua pode se dar em um eixo diacrônico, relacionado aos fatos que se sucedem com uma língua no decorrer do tempo, ou em um eixo sincrônico, relacionado ao que é simultâneo ou coexistente em uma língua.
Vamos entender melhor cada um desses conceitos, começando pela sincronia.
"A sincronia era o termo usado por Saussure para designar a concatenação dos fatos de uma língua num momento de sua história. Eles se apresentam num conjunto de correlações e oposições que constitui um estado linguístico, onde é apreensível uma estrutura” (CÂMARA Jr., 1996).
A sincronia pode ser associada à linguística estática. Usando uma analogia, é uma fotografia que recorta determinado momento da língua. Ainda poderia ser comparada a um texto descritivo que foca em transmitir as impressões da língua em certo período histórico. Por isso, Saussure (1996) afirma que é sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência.
Enquanto a sincronia estuda a língua em um momento histórico para fazer a sua descrição, a diacronia busca fazer uma comparação entre dois momentos da mudança de uma língua.
Agora vamos compreender esse segundo elemento da dicotomia sincronia/diacronia.
"A diacronia é um termo adotado por Saussure para designar a transmissão de uma língua, de geração em geração, através do tempo, sofrendo ela nesse transcurso mudanças em todos os níveis, cujo conjunto constitui a evolução linguística.” (CÂMARA Jr., 1996).
É preciso deixar claro que estudar a língua de forma diacrônica não é sinônimo de estudar o passado de uma língua, mas de compreender as mudanças na língua ao longo de determinado período.
Exemplo
Veja no gráfico a seguir um exemplo da diferença entre diacronia e sincronia:
Gráfico 1 – diacronia x sincronia
Nas linhas horizontais, vemos o estudo sincrônico, enquanto na linha vertical, a abordagem diacrônica.
Ao estudar a forma verbal ponere no latim, temos um estudo sincrônico (linhas horizontais), da mesma forma ao estudar o verbo poer no português antigo e pôr e suas variantes atuais no nosso português. Porém, ao estudar as mudanças do latim até o português atual, do português antigo ao atual ou do latim ao português antigo, tem-se o estudo diacrônico (linha vertical), ou seja, são abordadas as mudanças ocorridas durante um espaço de tempo.
Se a sincronia pode ser comparada a uma fotografia, a diacronia se assemelha a um filme, que antigamente era realizado a partir da sucessão de imagens passadas rapidamente para dar ilusão de movimento. Se a sincronia é como um texto descritivo, a diacronia é uma narrativa, uma sucessão de eventos.
A METÁFORA DO JOGO DE XADREZ
Usando a ilustração do xadrez, Saussure identifica no tabuleiro do jogo comparaçõescom os enfoques sincrônico e diacrônico. Vamos conhecer melhor essa analogia!
Depois de apontar a diferença entre as duas formas de investigação linguística, Saussure defende que a prioridade está sobre o olhar sincrônico da língua, ou seja, o estruturalismo deve privilegiar o sistema da língua, que se configura a partir de suas relações internas em determinado momento.
SINTAGMA E PARADIGMA
Saussure identifica na língua dois tipos de relação: as sintagmáticas e as paradigmáticas. Essas relações evidenciam como as unidades que constituem o sistema relacionam-se umas com as outras, organizando a estrutura da língua.
Para Saussure, as relações entre os sintagmas estão baseadas na linearidade da língua, ou seja, a noção é que a língua é constituída de elementos que se sucedem um após o outro na cadeia da fala. Essa relação entre os elementos é chamada de sintagma. Assim, um termo terá valor quando contrastado com o anterior, o posterior ou ambos, porque um sintagma não pode aparecer ao mesmo tempo que o outro. Por isso, Saussure afirma:
“O sintagma se compõe sempre de duas ou mais unidades consecutivas (por exemplo: re-ler, contra todos; a vida humana, Deus é bom; se fizer bom tempo, sairemos etc.).”
SAUSSURE, 1996
As relações sintagmáticas se originam das diversas combinações entre esses elementos.
Lembre-se das aulas de análise sintática na escola. Era pedido que os termos das orações fossem classificados como sujeito, predicado, objeto direto, complemento nominal, adjunto adverbial, entre outros. O que o professor estava pedindo era que aquele sintagma fosse classificado de acordo com a gramática normativa. Além disso, em nossa fala, organizamos as frases a partir de sintagmas, e não de palavras soltas. Nós fazemos isso a todo instante, como você pode ver no exemplo a seguir:
Exemplo
Daniel comprou um pão na padaria no domingo.
Temos os seguintes sintagmas na frase: “Daniel”, “comprou”, “um pão”, “na padaria” e “no domingo”. Tais sintagmas podem ser colocados em diversas posições da sentença, como em:
(1) Daniel comprou, no domingo, um pão na padaria.
(2) No domingo, Daniel comprou um pão na padaria.
(3) Daniel comprou na padaria, no domingo, um pão.
Mas o sintagma não pode ser quebrado ou invertido, como em:
(1) * Daniel comprou pão um na padaria no domingo.
(2) * na Daniel comprou um pão padaria no domingo.
(3) * Daniel comprou um pão na padaria domingo no.
Lembre-se de que o asterisco (*) indica que a frase é agramatical, ou seja, não é possível na língua.
Agora veja a definição de sintagma dada por Câmara Jr.:
Termo estabelecido por Saussure para designar a combinação das formas mínimas numa unidade linguística superior. De acordo com o espírito da definição implícita em Saussure, entende-se atualmente por sintagma apenas um conjunto binário (duas formas combinadas) em que um elemento determinante cria um elo de subordinação com outro elemento, que é o determinado. Quando a combinação cria uma mera coordenação entre os elementos, tem-se, ao contrário, uma sequência.
CÂMARA Jr., 1996
Quando o falante une duas ou mais unidades, como nos exemplos anteriores, ele está combinando sintagmas e são criadas diversas relações que se articulam entre si, com várias possibilidades de associação entre essas unidades.  
Nessa dicotomia, encontramos também as relações paradigmáticas. Os paradigmas são manifestados por relações de associação mental entre a unidade linguística que está em determinada posição na frase e todas as outras que estão ausentes, mas que pertencem à mesma classe daquela e que poderiam substituí-la naquele contexto.
Por exemplo, a palavra sapateiro está associada a sapato e à sapataria, com base no radical sapat. Da mesma forma, o sufixo -eiro pode nos levar a outra série de paradigmas, como violeiro, cabelereiro, livreiro e outros. Assim, o funcionamento da língua ocorre porque ela é um sistema formado por associações, combinações e exclusões.
Câmara Júnior define paradigma da seguinte forma:
Conjunto de formas linguísticas que se associam por um traço linguístico permanente, que é o denominador comum de todas elas. Na base desse traço, estabelecem-se correlações e as oposições entre os membros do paradigma.
CÂMARA Jr., 1996
Para Joaquim Mattoso Câmara Júnior, o paradigma trabalha com relações inspiradas em combinações, ou seja, é o material que está na mente do falante para que possa ser escolhido, dentro de uma lista de possibilidades.
Atenção
Vale lembrar que, no paradigma, elementos podem ser associados, mesmo que o sentido seja outro. Trata-se de um repositório ou memória em que estão inúmeras possibilidades retiradas da língua. Por isso, a relação sintagmática se dá pela ausência, já que a escolha de um elemento automaticamente exclui os outros e um elemento se discerne do outro na relação.
Antes de avançar para o último módulo, que trata do signo linguístico, é preciso verificar se você entendeu as noções das dicotomias propostas por Saussure, fazendo as atividades a seguir.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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1. Ao estudarmos Saussure, deparamo-nos com as dicotomias língua/fala e sincronia/diacronia, apresentadas em seu Curso de Linguística Geral. Definir essas dicotomias implica afirmar corretamente que:
A língua (langue) tem caráter individual em oposição ao caráter coletivo da fala (parole). Seu estudo é denominado sincrônico quando o enfoque são as mudanças ocorridas ao longo do tempo.
A língua tem caráter individual, concreto e não sistêmico. Além disso, seu estudo é denominado diacrônico quando o enfoque é simplesmente o passado da língua.
A língua pode ser caracterizada como coletiva e social. Seu estudo é denominado diacrônico quando o enfoque são as mudanças ocorridas ao longo de determinado período de tempo.
A linguagem tem um lado social ou coletivo, que corresponde à fala.
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Comentário
Parabéns! A alternativa "C" está correta.
Na definição da dicotomia língua/fala, a língua deve ser caracterizada como a parte social e coletiva da linguagem, diferentemente da fala, que é a parte individual. Em relação à dicotomia sincronia/diacronia, o estudo da língua a partir das mudanças ocorridas ao longo do tempo é denominado diacrônico, enquanto o estudo da língua em um momento específico é denominado sincrônico.
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2. Assinale a alternativa que apresenta uma definição correta das relações sintagmática e paradigmática:
O sintagma é baseado na noção de que os elementos da língua se sobrepõem, sem linearidade, enquanto o paradigma é uma relação em que os elementos são combinados apenas quando o sentido de cada um é o mesmo.
O sintagma é baseado na noção de que a língua é um sistema em que os elementos se sucedem um após o outro na cadeia da fala, tendo valor quando contrastado com outro elemento, enquanto o paradigma é uma relação que se manifesta como um eixo de possibilidades de elementos estabelecidos na memória do usuário da língua.
Quando os elementos linguísticos estão isolados na língua, tem-se um paradigma, e quando acontecem combinações ou associações a partir da memória ou repertório linguístico, tem-se o sintagma.
A relação sintagmática é aquela em que um elemento pode aparecer ao mesmo tempo que o outro, ou seja, a escolha de um elemento não exclui automaticamente os outros elementos.
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Comentário
Parabéns! A alternativa "B" está correta.
A relação sintagmática é definida em função da sucessão dos elementos na cadeia da fala, ou seja, cada elemento da língua se relaciona com o outro linearmente por meio de contrastes ou oposições. Já as relações paradigmáticas se definem pelas possibilidades de combinações ou associações a partir de um repertório ou de uma memória linguística dos usuários ou falantes.
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O SIGNO LINGUÍSTICO
Ao afirmar que a língua é um sistema de signos, Saussure define o signo linguístico a partir da união psíquica entre

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