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Resenha Crítica sobre o filme: "A História de um casamento"

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Resenha Crítica
Filme: História de um Casamento
O filme trata as dificuldades matrimoniais de Charlie, um grande diretor de teatro em ascendência em Nova Iorque, e Nicole, uma atriz de Hollywood que precisou deixar sua carreira em segundo plano para se dedicar ao Charlie e ao filho do casal, Henry.
Charlie é um homem persistente que tem suas convicções sobre sua carreira, as decisões que deve tomar e faz muitos planos com a sua companhia de teatro, onde exerce um papel fundamental de liderança que faz todos se sentirem bem, desde o estagiário até o ator principal da peça. Sempre muito observador, Charlie sempre está com um caderno a mãos, anotando suas análises e buscando melhorar cada vez mais o seu projeto. Em relação a família ele se mostra um marido atencioso, um grande pai, que não liga de acordar de madrugada, de dar atenção para seu filho, nem mesmo de se dedicar por inteiro para ver seu filho feliz, mas com alguns problemas no relacionamento com Nicole.
Nicole uma promissora atriz hollywoodiana, com sua fama por filmes universitários e com muitos sonhos na vida se encontra decidida a abdicar dos seus objetivos para priorizar sua família e cumprir o papel de esposa e mãe. Meio desorganizada, ela parece sempre estar sempre prestes a tomar uma xícara de chá, dar bons presentes e ser bem carinhosa com o marido e com o filho. Com uma personalidade bem diferente ela se destaca pela forma com que se entrega as peças de teatro do marido e ao mesmo tempo com maestria na sua função familiar.
Como a maioria dos casais modernos, com o tempo a relação vai se desgastando, as brigas aumentam e o desejo no parceiro parece ser esquecido por inúmeros motivos ao passar dos anos e, por conseguinte é muito comum que as partes se divorciem, mas sabemos que não é um processo simplista, muito pelo contrário, é desgastante o processo de separação e com muitos empecilhos que são evidenciados no filme.
O casamento é definido por Silvio Rodrigues da seguinte forma: “é o contrato de direito de família que tem por fim promover a união do homem e da mulher de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistência”. Ou seja, deve obedecer a vontade das partes, desde que essa vontade não seja contrária ao ordenamento jurídico.
Já Washington de Barros Monteiro caracteriza o casamento com sua natureza de ordem pública, pois acredita-se que as normas que tratam do matrimônio estão acima do desejo particular das partes.
Como já mencionado no texto, o filme mostra as dificuldades da vida a dois e o desgastante processo de divórcio. O divórcio nada mais é na seara jurídica do que o rompimento legal de vínculo de matrimônio entre cônjuges, estabelecido. Na obra o autor mostra as dificuldades de colocar fim a um casamento, tanto pelo lado emocional, como pelo lado burocrático, vários são os efeitos dentro de uma família, como a perda de autoestima, a nova realidade financeira devido a divisão de bens, a dificuldade de definição de guarda do filho, são alguns exemplos.
Importante mencionar a forma com que o autor conduz o filme de forma imparcial, não priorizando nenhum dos atores, mostrando fielmente a realidade de muitos casais, evidenciando os defeitos de ambos e da mesma forma mostrando as qualidades e a importância de cada característica para composição do personagem diante do drama passado, não tendo espaço para o certo e o errado, mas sim a verdade dos fatos. Isso ajuda na perspectiva de que nenhum dos dois é claramente culpado pelo divórcio e pela fase que estão passando, sem ambos igualmente responsáveis pela situação delicada que se encontram, cada um com sua parcela considerável de responsabilidade.
O processo de divórcio traz para o filme diversos significados e reações dos personagens, como a necessidade de proteger o filho na situação, a guarda da criança, quem vai cuidar melhor, quem tem uma melhor estrutura emocional e financeira para criação do menor em questão, além do vínculo da família (mãe e irmã) de Nicole com o Charlie. Além, é claro, das disputas entre os advogados que trazem toda uma dramaticidade a relação e abala de vez o relacionamento. 
O filme é muito claro ao mostrar momentos em que os personagens se veem em momentos de negação, de atitudes infantis e imaturidades constantes, visando apenas seu próprio lado. Brigas calorosas, discussões com palavras de baixo calão, acusações impulsivas são vistas nos momentos de maior tensão durante a trama.
A narrativa nos faz refletir sobre a importância de um relacionamento saudável e equilibrado no que concerne ao futuro da relação. Charlie nunca teve um relacionamento com os pais, ao mesmo passo que conseguiu viver a vida que sempre desejou, morando Nova Iorque, na profissão que gostava, vivendo seu sonho. Ao contrário de Nicole que abandonou toda sua vida para viver em função da família e isso em um determinado momento explodiu dentro dela, pois acreditava que ela sempre teria feito grandes esforços para o relacionamento e Charlie não fazia sequer o mínimo que seria perguntar sobre suas vontades ou escolhas, como o fato dele ter negado viver um ano com ela em Los Angeles. Vale ressaltar também que Nicole inicialmente suspeita e depois confirma a infidelidade de Charlie com uma colega de trabalho do casal, isso se torna um propulsor muito grande nas decisões durante o processo de separação.
Existe uma discussão muito grande no filme e pertinente sobre o papel da mulher na sociedade. Em determinado momento do filme Nicole chega a falar que nem sabe o seu gosto pessoal, pois sempre se anulou diante do marido e as decisões sempre foram dele, o que te deixa profundamente magoada, pois sente que não tem escolha, que suas vontades não são escutadas e isso traz uma sensação de que você está vivendo a vontade do outro e não a sua.
O papel que os advogados assumem durante o filme, é de extrema importância para tomarmos conhecimento de como malicioso e traiçoeiro pode ser o processo de divórcio, mas também, se houver colaboração e menos egoísmo, pode ser um processo simples se houver sucesso na conciliação. 
Charlie, primeiramente procura um advogado extremamente estrategista e durão, que logo pensa em maneiras para que o pai fique com a guarda da criança, influenciando-o até mesmo de tomar o Henry da Nicole e levá-lo para Nova Iorque. Pode-se notar que o advogado é muito bem sucedido, possui um escritório chique e só pensa em extorquir dinheiro do Charlie, isso é visível quando o os dois estão a conversar e ele pede inicialmente a Charlie a quantia de U$ 25, 000 (vinte e cinco mil dólares). Ou seja, é um profissional que tem o desejo de brigar judicialmente, que não dá brechas para o erro e quando o pai dá reclama como se fosse perder o processo. Enfim, trata-se de uma pessoa muito meticulosa. 
E a advogada que Nicole contrata não fica para trás, muito esperta e durona, um símbolo do empoderamento feminino, uma mulher muito bem sucedida na sua profissão e que não abaixa a cabeça para ninguém, inclusive no tribunal. Primeiramente, ela parece ser uma psicóloga, atenciosa e bem ouvinte, deixa a Nicole bem à vontade para contar tudo que precisa para traçar estratégias e usar tudo que ouviu para ganhar o processo. Ela tem o mesmo desejo do advogado do Charlie, construir a lide processual e semear a semente da discórdia na cabeça das partes, fomentando ainda mais o desejo de vingança e não de resolução pacífica como era antes. 
Essa é uma crítica a vida real, aos processos de família que são extremamente desgastantes e nunca chegam a um acordo, por isso esses processos ficam estagnados na justiça, porque sempre há na cabeça da parte, o desejo de vingança, de vencer de qualquer forma. 
O processo de mediação e conciliação deveria ser mais bem aproveitado no âmbito jurídico. Ora, pensemos. Porque não é tão utilizado o processo de mediação da resolução de conflitos no âmbito jurídico? Seria este um modo menos vantajoso para o sistema? Os conflitos são inerentes às relações humanas, principalmente no âmbitofamiliar e caberia à mediação, no caso do sistema judicial brasileiro, por exemplo, a responsabilidade por dirimir esses conflitos, como citado anteriormente, a diminuição da burocracia e o “desafogamento” do judiciário. Fiuza sobre o tema diz: “Atualmente, o conceito de conciliação é definido como "o processo pelo qual o conciliador tenta fazer que as partes evitem ou desistam da jurisdição"”. No âmbito processual civil brasileiro, a conciliação é destaque por estar prevista entre os art. 447 a 449 do CPC. O parágrafo único do referido art. 447 dispõe que em causas relativas à família, terá lugar igualmente a conciliação, nos casos e para os fins em que a lei consente a transação. O art. 448 aduz que antes de iniciar a instrução, o juiz tentará conciliar as partes. Chegando a acordo, o juiz mandará tomá-lo por termo. Por fim, o art. 449 dispõe que o termo de conciliação, assinado pelas partes e homologado pelo juiz, terá valor de sentença. Imagine o caso de um divórcio, assim como o representado no filme, o desajuste emocional instalado no meio familiar é avassalador, afeta tanto os pais, as famílias de ambos, o filho, todos são afetados diretamente pelo fato em questão. 
Por isso que o instrumento da conciliação e mediação é tão importante para o direito, tanto para desafogar o judiciário, como para manter uma relação saudável entre as partes após o fim da negociação, pois em tese se aceitam a conciliação é porque estão dispostos a chegar a um acordo sem brigas de ego. Rolf Madaleno diz sobre a conciliação: “A bem da verdade vinha sendo cada vez maior o esforço do Judiciário em afastar das demandas litigiosas o aspecto beligerante das separações, empenhando-se juízes e promotores na conversão do contraditório em uma separação consensual, sem olvidar do esforço da doutrina e da jurisprudência em abstrair, com galopante sucesso, a pesquisa da culpa nas separações litigiosas, permanecendo esse empenho com o auxílio de profissionais de outras áreas, com destaque para a da mediação e o atendimento multidisciplinar.”
Se Charlie ouvisse o seu primeiro advogado, o senhor mais velho com muita experiência e bem mais calmo, e aceitasse ceder Los Angeles para que filho ficasse junto com a mãe, poderia fechar um acordo em relação a outras coisas. Porém, como Charlie é tão egoísta e só pensa no seu trabalho em Nova Iorque, ele não aceita a dica e fica furioso com seu advogado, trocando-o por um extremamente inflexível, apesar de que só o faz porque a advogada de Nicole usa de meios sórdidos e nada éticos para moldar as circunstâncias do caso, fazendo de tudo para que ela saísse vencedora no caso. Charlie, apesar dos pesares, se vê sem saída e também apela pra “escória” do mundo advocatício ilustrado no filme, buscando um advogado, Jay, que também utilizava meios nada éticos para equilibrar as ações com Nora. Uma briga entre os profissionais com o único intuito de se levar mais lucro na causa, tratando o caso e os sentimentos entre os litigantes “mero contratempo”. Uma crítica pertinente sobre como o lucro e a busca por dinheiro molda o caráter das pessoas.
Observa-se que para haver um acordo entre as partes, ambos têm que ceder algumas vontades, somente assim, é possível a realização de divórcios menos desgastantes, nos quais os envolvidos saiam como amigos no fim do processo, sem qualquer tipo de rixa. 
É bom também para a criança, que pode crescer num ambiente mais harmonioso, sem intrigas e nem alienação dos pais, isso influencia diretamente no futuro dela, pois é sabido que muitos jovens desenvolvem problemas psicológicos durante esse processo perturbador na sua vida. Ênio Santarelli Zuliani diz sobre o assunto, ao explicar que na guarda compartilhada “os pais devem tomar decisões harmoniosas para que os filhos não se lembrem da separação”, sendo deles exigida “a doação do tempo para cuidados básicos e complementares e perfeita aceitação do gerenciamento dúplice, o que recomenda delegar poderes, aceitar sugestões e, principalmente, quando necessário, ratificar medidas indicadas pelo ex-cônjuge ou sugerir outras melhores e que possam ser endossadas sem desenvolvimento de crises”. Então, quanto mais rápido e mais delicado tratar esse assunto, melhor para o filho, é o que desejam todos os pais, mas não é colocado na prática por causa de alguns profissionais e de pais egoístas. 
Em suma, é necessário se colocar na cabeça (e no ordenamento) que a mediação é sim uma ferramenta importantíssima e deveria ser mais usada. Fica implantado na concepção de cada pessoa, que em um processo jurídico, com uma lide mal resolvida, alguém necessariamente tenha que sair vencedor e a outra perdedora. Como resumo final do filme, fazendo a analogia com a realidade brasileira, Charlie e Nicole evitariam vários desgastes se tivessem aderido à mediação, seguindo o acordado anteriormente, de não se utilizarem advogados. Sabemos que, na trama fictícia, tudo ocorreu relativamente bem, uma vez que na vida real são vários os fatores que podem influenciar. É comum, por exemplo, a agressão física, a coação, a utilização de meios sórdidos para conseguir acabar de vez com a vida de quem se está divorciando, seja por motivos fúteis, seja por simples vingança. Na trama apresentada os envolvidos se mostram bastante tranquilos, dentro de todas as circunstâncias. Digo isso pois, ambos não querem tirar as posses do outro, não querem ver a outra pessoa no fundo do poço. Eles sabiam que a vida de casado e de morar juntos não daria mais certo, mas não por isso gostariam de ver seus ex-cônjuges em situações deploráveis e/ou difíceis. 
Não somente uma análise sobre a vida de um casal se divorciando, a obra nos permite uma reflexão interior, explicitando as fraquezas da mente do ser humano, mostrando não somente a ideia de quem pessoas podem sim se divorciar sem mais problemas e que, no final das contas, o diálogo sempre será a melhor maneira para a resolução de conflitos, seja ele no âmbito jurídico, seja ele no âmbito familiar.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
· Mediação de Conflitos no Direito das Famílias. Disponível em: http://www.lex.com.br/doutrina_27073628_MEDIACAO_DE_CONFLITOS_NO_DIREITO_DAS_FAMILIAS.aspx. Acessado em: 09/09/2020
· MADALENO, Rolf. Direito de Família, 8°edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2018
· Casamento. Trata sobre o conceito e a natureza jurídica do casamento. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2490/Casamento. Acessado em: 09/09/2020
· Filme História de um Casamento (Marriage Story). Disponível em: https://www.culturagenial.com/filme-historia-de-um-casamento/. Acessado em: 09/09/2020
· VILLELA, João Baptista. Liberdade e Família, Imprenta: Belo Horizonte, Faculdade de Direito da UFMG, 1980.

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