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Educação inclusiva
EDLA TROCOLI
SABRINA BONFATTI
1ª Edição
Brasília/DF - 2018
Autores
Edla Trocoli
Sabrina Bonfatti
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4
Introdução ............................................................................................................................................................................. 6
Capítulo 1
Marcos políticos, sociais e legais da educação especial sob a ótica da educação inclusiva ............. 7
Capítulo 2
A Escola Inclusiva .......................................................................................................................................................16
Capítulo 3
O processo de ensino-aprendizagem em uma perspectiva de educação inclusiva ............................29
Capítulo 4
Direitos humanos: cidadania, família, escola ....................................................................................................46
Capítulo 5
Tecnologia assistiva e informática educativa ...................................................................................................60
Capítulo 6
Organização da prática educativa: planejamento e avaliação educacional ..........................................73
Referências ........................................................................................................................................................................89
4
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e 
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros 
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, 
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, 
a fonte primária sobre um determinado assunto.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
5
ORgAnIzAçãO DO LIvRO DIDáTICO
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
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Introdução
Nosso principal objetivo neste Livro Didático é demonstrar que, em um sistema escolar voltado 
para a construção de uma comunidade escolar inclusiva, são necessários o planejamento e o 
desenvolvimento do currículo que conduza aos resultados esperados pela sociedade e pelos 
setores educacionais. É estar preparada para modificar os sistemas de apoio para os alunos à 
medida que as suas necessidades mudem.
Objetivos
 » Promover o aprendizado objetivando práticas mais cooperativas e menos competitivas 
nas salas de aula e na escola.
 » Reconhecer a importância da rotina na sala de aula e na escola para que todos recebam 
apoio necessário para participarem de forma igual e plena.
 » Compreender que todas as atividades da sala de aula necessitam de acomodações e 
a participação de todos ativamente, inclusive daqueles que apresentam necessidades 
educacionais especiais.
 » Infundir valores positivos no sistema escolar de respeito, solidariedade, cooperação.
 » Reconhecer a importância de desenvolver rede de apoio, com todos, para resolverem 
problemas, com a finalidade de ajudar não somente os alunos, mas também os professores, 
para que possam ser bem-sucedidos em seus papéis.
7
Introdução 
Abordaremos, nesta primeira unidade, o percurso histórico do processo de inclusão social e 
educacional, analisando o caminho percorrido em direção à inclusão de alunos com necessidades 
educacionais especiais. Refletiremos sobre o tratamento dado às pessoas com deficiência, desde a 
Antiguidade Clássica até o contexto contemporâneo de implementação de políticas educacionais 
voltadas para a inclusão desses alunos. 
Objetivos
 » Promover reflexão crítica sobre as políticas da Educação Inclusiva no Brasil e no mundo.
 » Discutir e analisar a política brasileira para a Educação Inclusiva.
 » Compreender o processo de criação do movimento de inclusão, entendendo a quebra 
de paradigma na área de Educação Especial. 
1
CAPÍTULO
MARCOS POLÍTICOS, SOCIAIS E 
LEgAIS DA EDUCAçãO ESPECIAL SOB 
A ÓTICA DA EDUCAçãO InCLUSIvA
8
CAPÍTULO 1 • MARCOS POLÍTICOS, SOCIAIS E LEgAIS DA EDUCAçãO ESPECIAL SOB A ÓTICA DA EDUCAçãO InCLUSIvA
 A criação do Movimento da Educação Inclusiva 
Por Educação Inclusiva entende-se o atendimento educacional de pessoas com deficiência, isto 
é, daqueles que apresentam impedimentos de longo prazo, de natureza mental, física, sensorial, 
múltiplas deficiências, distúrbios de conduta e os superdotados. É preciso esclarecer que ter 
uma deficiência não quer dizer que o sujeito precise de atendimento educacional especializado. 
Isto só é necessário quando os impedimentos mencionados restringem a participação plena e 
efetiva na escola e na sociedade. O desenvolvimento harmonioso do educando sob os aspectos 
individual, individual-social e predominantemente social é o que se pretende atingir no processo 
educativo. A autorrealização, a qualificação para o trabalho, o exercício consciente da cidadania 
são decorrências de uma ação educativa eficaz e eficiente, seja ela dirigida a indivíduos com 
deficiência ou não. 
A Educação Especial passa atualmente por um momento de revisão epistemológica, que se 
caracteriza pelo movimento da Educação Inclusiva. Esse movimento é consequência de mudanças 
ocorridas nas atitudes sociais que foram se estabelecendo ao longo da história, com relação ao 
tratamento dado às pessoas com deficiência. Para entendermos o ponto que chegamos aos dias 
atuais, é necessário fazermos uma análise histórica de como a pessoa com deficiência foi vista 
ao longo dos tempos.
Não há muitas informações disponíveis sobre como era o tratamento dado às pessoas com 
deficiência nas sociedades ocidentais, nos tempos mais antigos. Há um grande silêncio na história 
oficial quando se trata de abordar a trajetória de sujeitos excluídos da vida política, econômica 
e social, como ocorria com as pessoas com deficiência.
O que sabemos é que, na Antiguidade Clássica, a segregação e o abandono das pessoas com 
deficiência eram institucionalizados. Na Grécia, as pessoas com deficiência eram mortas, 
abandonadas à sua sorte e expostas publicamente; em Roma, havia uma lei que dava o direito 
ao pai de eliminara criança logo após o parto.
Na civilização greco-romana o Estado tinha o direito de não permitir que cidadãos “disformes ou 
monstruosos” vivessem, ordenando ao pai que matasse o filho que nascesse nessas condições. 
Isso indica que era legal (no sentindo jurídico da palavra) a marginalização de pessoas com 
deficiências, consideradas verdadeiras aberrações e, por isso, não tinham o direito à vida.
Na Idade Média, a visão cristã correlacionava a deficiência à culpa, ao pecado ou a qualquer 
transgressão moral e/ou social. A deficiência era vista como um castigo, marcando filhos de 
pecadores física, sensorial ou mentalmente. Essas marcas impediam a família do contato com 
a divindade. 
9
MARCOS POLÍTICOS, SOCIAIS E LEgAIS DA EDUCAçãO ESPECIAL SOB A ÓTICA DA EDUCAçãO InCLUSIvA • CAPÍTULO 1
A primeira tentativa científica de estudo das pessoas com deficiência surgiu no século XVI, com 
Paracelso e Cardano, médicos alquimistas que defendiam a possibilidade de tratamento da 
pessoa com deficiência.
Foi apenas no século XIX que alguns cientistas, como Phillip Pinel, começaram a dar um caráter 
científico para as deficiências. Além de Pinel, Down, Itard, Esquirol, dentre outros, passaram a 
descrever, cientificamente, a etiologia de cada deficiência, em uma perspectiva clínica. Contudo, 
observamos um retrocesso no começo do século XX, quando os governos nazistas exterminaram 
milhares de pessoas com deficiência. 
Apesar de, atualmente, observarmos progressos na concepção científica das deficiências, muitas 
atitudes e concepções se assemelham às concepções da antiguidade. Em relação à Educação 
Especial, três atitudes sociais marcam a história no tratamento à pessoa com deficiência: 
marginalização, assistencialismo e reabilitação.
A marginalização caracteriza-se por atitudes de descrença nas possibilidades e potencialidades 
da pessoa com deficiência. Consequentemente, há uma completa omissão da sociedade em 
relação à organização de serviços para essa população. 
O assistencialismo é marcado por atitudes paternalistas na medida em que se acredita na 
incapacidade da pessoa com deficiência. A partir de princípios cristãos de solidariedade, 
busca-se, apenas, a proteção dessas pessoas.
Já na educação focada na reabilitação, há a crença na capacidade de mudança do indivíduo e 
as ações resultantes são voltadas para a organização de serviços educacionais. Aqui, o foco da 
aprendizagem não é o crescimento do sujeito, e, sim, “adestrá-lo” para que se adeque melhor às 
exigências da sociedade. 
Entendemos que tais atitudes sociais são frutos das representações que carregamos desde a 
antiguidade. Associando a trajetória da Educação Especial com as representações simbólicas 
da deficiência, é possível afirmar que até o começo do século XX a educação da pessoa com 
deficiência era excludente, visto que a pessoa era considerada indigna e incapaz de receber uma 
educação escolar como os outros, chamados, hoje em dia, de “típicos”. Mesmo com os estudos 
científicos da época que demostravam as possibilidades de tratamento clínico e adequação à 
vida em sociedade, predominavam as concepções filosóficas de marginalização e segregação 
dessas pessoas.
Foi a partir da década de 1950 que começaram as surgir as primeiras escolas especializadas e as 
turmas especiais. A Educação Especial se consolidava como um subsistema da Educação Comum. 
Nessa época, a atitude social assistencialista, presente na Idade Média, era predominante nas 
instituições, de maioria filantrópica, de atendimento aos alunos com deficiência.
10
CAPÍTULO 1 • MARCOS POLÍTICOS, SOCIAIS E LEgAIS DA EDUCAçãO ESPECIAL SOB A ÓTICA DA EDUCAçãO InCLUSIvA
Foi a partir da década de 1970, com o surgimento da proposta de integração, que alunos com 
deficiência passaram a frequentar as classes comuns das escolas. Os avanços nos estudos da 
Psicologia e Pedagogia demonstravam as possibilidades educacionais desses alunos. Contudo, 
ainda predominava a atitude social da educação como reabilitação, considerado o novo paradigma 
educacional. Os alunos com deficiência ainda vivenciavam a marginalização no sistema 
educacional, uma vez que as escolas não ofereciam as condições necessárias para que o aluno 
com deficiência alcançasse sucesso na escola regular. A dita integração caracterizava-se, apenas, 
pela inserção física desses alunos na rede comum de ensino.
Os alunos só eram considerados integrados quando conseguiam se adaptar à classe comum 
da forma como ela se apresentava, sem que houvesse adequação no sistema educacional já 
estabelecido. Ou seja, era a pessoa com deficiência que precisava “se encaixar” naquela classe, 
dita comum, e não a escola se adequar às necessidades daquela pessoa. Verifica-se outra vez, a 
coexistência das atitudes de educação/reabilitação e de marginalização no contexto educacional.
Foi nessa época que surgiu o conceito “necessidades educacionais especiais”, no então chamado 
Relatório Warnock (1978), apresentado ao Parlamento do Reino Unido. Esse relatório, organizado 
pelo primeiro Comitê do Reino Unido, presidido por Mary Warnock, foi constituído para rever 
o atendimento aos deficientes. Os resultados evidenciaram que uma em cada cinco crianças 
apresentava necessidades educacionais especiais em algum período do seu percurso escolar, no 
entanto, não existe essa proporção de deficientes. Daí o surgimento no relatório da proposta de 
adotar o conceito de necessidades educacionais especiais. (BRASIL, MEC, 2010). Essa terminologia 
tem o intuito de deslocar o foco de atenção do aluno com necessidades educacionais especiais 
para as respostas educativas da escola, com o firme propósito de promover uma educação de 
qualidade para todos.
Na década de 1990, o conceito de necessidade educacional especial foi ampliado, abrangendo não 
só as crianças e jovens com deficiência, mas, também, as com altas habilidades/superdotadas, 
crianças em situação de rua, de populações remotas ou nômades, de minorias étnicas ou culturais 
e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginalizados. A Declaração de Salamanca, um 
dos documentos mais importantes da história sobre os direitos à Educação, e que estudaremos 
mais à frente, traz um novo conceito, o de “educação para todos”.
Foi entre as décadas de 1980 e 1990 que teve início a proposta de inclusão dos alunos com 
necessidades educacionais especiais em uma perspectiva inovadora em relação à proposta 
de integração da década anterior. Nessa nova proposta, os sistemas educacionais passam a 
ser responsáveis por criar condições para promover uma educação de qualidade para todos, 
adequando sua estrutura física e curricular para atender às necessidades de cada aluno. Ou seja, 
há uma quebra de paradigma, uma vez que não é mais o aluno que tem que se adequar à escola 
comum, e, sim, a escola deve atender às necessidades educacionais de cada aluno.
11
MARCOS POLÍTICOS, SOCIAIS E LEgAIS DA EDUCAçãO ESPECIAL SOB A ÓTICA DA EDUCAçãO InCLUSIvA • CAPÍTULO 1
No Movimento de Educação Inclusiva, os alunos são respeitados em suas diversidades. Aqui, 
a deficiência é entendida como diferença, que faz parte da diversidade humana e não pode 
ser negada, porque é essa diferença que caracteriza cada pessoa, sua forma de agir, sentir e 
ser. Segundo a Declaração de Salamanca, para promover uma Educação Inclusiva, os sistemas 
educacionais devem assumir que 
“as diferenças humanas são normais e que a aprendizagem deve se adaptar 
às necessidades das crianças ao invés de se adaptar a criança a assunções 
preconcebidas a respeito do ritmo e da natureza do processo de aprendizagem” 
(BRASIL, 1994, p. 4).
A Educação Inclusiva tem como objetivo reduzir as pressões que levem à exclusão e a todas as 
desvalorizações, sejam elas relacionadas à capacidade, ao desempenho cognitivo, à raça, ao gênero, 
à classe social, à estrutura familiar, ao estilo de vida ou à sexualidade. Então, não podemos falar 
em Educação Inclusiva sem pensar na realidade social de exclusão a que a maioria dos povosestá condenada. As estatísticas de desemprego, fome, analfabetismo e violência revelam um 
cenário internacional dominado pelas diferentes formas de exclusão social. Realidades como 
essas, lamentavelmente, não são exceção e, sim, mais uma regra de um mundo caracterizado 
pela globalização neoliberal em que falar de diversidade é quase um paradoxo.
Acreditamos que a Educação Inclusiva seja um caminho possível para que países marcados 
por desigualdades sociais enfrentem problemas de exclusão social e educacional, por meio das 
mudanças sugeridas a partir da inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no 
sistema regular de ensino. O respeito à diversidade é um dos pilares básicos da Educação Inclusiva 
que se converte em alternativa para que os sistemas educacionais rompam, definitivamente, 
com as diferentes formas de exclusão educacional.
Observamos, ao longo da nossa exposição, que na trajetória que vai da falta de atendimento 
aos alunos com necessidades educacionais especiais associadas à deficiência e passa pela 
consolidação da Educação Especial enquanto subsistema até chegar à proposta de Educação 
Inclusiva, verifica-se que muitas barreiras foram derrubadas.
Porém, ainda existem muitas outras barreiras a serem enfrentadas. A segregação, marginalização e 
assistencialismo ainda perpassam nosso imaginário sociocultural. Uma maneira de observarmos 
essas atitudes sociais é a terminologia que ainda ouvimos em nossas escolas e na própria 
sociedade de maneira geral. Expressões como: inválidos, anormais, excepcionais, incapacitados, 
subnormais, deficientes, portador de deficiência e portadores de necessidades educacionais especiais 
ainda são comuns dentro das escolas brasileiras. O primeiro passo, e, talvez, o mais simples de 
ser executado, é aprendermos e utilizarmos o termo correto: pessoa com deficiência. 
12
CAPÍTULO 1 • MARCOS POLÍTICOS, SOCIAIS E LEgAIS DA EDUCAçãO ESPECIAL SOB A ÓTICA DA EDUCAçãO InCLUSIvA
Avanços na legislação e políticas públicas rumo à Educação 
Inclusiva
No capítulo anterior, conhecemos o percurso histórico da deficiência. Alinhado a esse processo, 
o Brasil foi construindo suas leis na tentativa de possibilitar direitos iguais a todos os cidadãos 
brasileiros com deficiência, possibilitando o acesso de alunos com deficiência ao sistema regular 
de ensino, embora saibamos que a inclusão ainda é uma meta a ser alcançada.
A pessoa com deficiência como ser humano, tem os mesmos direitos que as demais. O art. 
5o, caput, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), estabelece que:
Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à  segurança e à propriedade, nos 
termos seguintes: (...).
A Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência é equivalente a emenda 
constitucional e, consequentemente, deve sempre servir de base para interpretação das normas 
do ordenamento jurídico brasileiro, referentes às pessoas com deficiência. Para a Convenção 
Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (2007) 
as pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo 
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, com interação com 
diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade 
em igualdades de condições com as demais pessoas.
Como podemos observar, o princípio da igualdade é a maior de todas as regras e deve ser invocado 
para garantir o direito à integração social e educacional da pessoa com deficiência.
Até meados do século XX, as pessoas com deficiência eram vistas como sujeitos incapazes, portanto, 
sem direitos e deveres de participação na sociedade. A primeira diretriz política norteadora foi 
a Declaração Universal dos Direitos Humanos quando preconizou que “Todo ser humano tem 
direito à educação”.
Na década de 1960, pais e parentes de pessoas com deficiência organizam-se. Surgem as primeiras 
críticas à segregação. Teóricos defendem a normalização, ou seja, a adequação dos “deficientes” 
à sociedade para permitir a sua integração. A Educação Especial no Brasil aparece pela primeira 
vez na LDB – Lei no 4.024, de 1961. A lei aponta que a educação dos “excepcionais” deve, no que 
for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação.
Na década de 1970, os Estados Unidos avançam nas pesquisas e teorias de inclusão para 
proporcionar condições melhores de vida aos mutilados da Guerra do Vietnã. A Educação Inclusiva 
tem início naquele país via Lei no 94.142, de 1975, que estabelece a modificação dos currículos 
13
MARCOS POLÍTICOS, SOCIAIS E LEgAIS DA EDUCAçãO ESPECIAL SOB A ÓTICA DA EDUCAçãO InCLUSIvA • CAPÍTULO 1
e a criação de uma rede de informação entre escolas, bibliotecas, hospitais e clínicas. No Brasil, 
no ano de 1978, pela primeira vez, uma emenda à Constituição brasileira, em seu art. 1o, trata 
do direito da pessoa deficiente: “É assegurada aos deficientes a melhoria de condição social e 
econômica especialmente mediante Educação Especial e gratuita”. 
Em 1985, a Assembleia Geral das Nações Unidas lança o Programa de Ação Mundial para as 
Pessoas com Deficiência e recomenda: “Quando for pedagogicamente factível, o ensino das 
pessoas deficientes deve acontecer dentro do sistema escolar normal”. 
No Brasil, o interesse pelo assunto é provocado pelo debate antes e depois da Constituinte. A 
nova Constituição, promulgada em 1988, garante atendimento educacional especializado aos 
“com deficiência”, preferencialmente na rede regular de ensino. 
A Lei Federal no 7.853, de 1989, no item da Educação, prevê a oferta obrigatória e gratuita da 
Educação Especial em estabelecimentos públicos de ensino e prevê crime punível com reclusão 
de um a quatro anos e multa para os dirigentes do ensino público ou particular que recusar ou 
suspender, sem justa causa, a matrícula de um aluno.
A Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em março de 1990, na cidade 
de Jomtien, Tailândia, prevê que as necessidades educacionais básicas sejam oferecidas para 
todos (mulheres, camponeses, refugiados, negros, índios, presos e pessoas com deficiência) pela 
universalização do acesso, promoção da igualdade, ampliação dos meios e conteúdos da Educação 
Básica e melhoria do ambiente de estudo. Ainda em 1990, o Brasil aprova o Estatuto da Criança 
e do Adolescente, que reitera os direitos garantidos na Constituição: atendimento educacional 
especializado para alunos com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. 
Em junho de 1994, dirigentes de mais de 80 países se reúnem na Espanha e assinam a Declaração 
de Salamanca, um dos mais importantes documentos de compromisso de garantia de direitos 
educacionais. Ela proclama as escolas regulares inclusivas como meio mais eficaz de combate 
à discriminação. E determina que as escolas devam acolher as crianças, independentemente de 
suas condições físicas, intelectuais, emocionais ou linguísticas. 
Uma consequência imediatamente visível à Educação Especial reside na ampliação da clientela 
potencialmente nomeada como possuindo necessidades educacionais especiais. Outra se verifica 
na necessidade de inclusão da própria Educação Especial dentro dessa estrutura de “educação 
para todos”, oficializada em Jomtiem. Entre outras coisas, o aspecto inovador da Declaração 
de Salamanca consiste justamente na retomada de discussões sobre essas decorrências e no 
encaminhamento de diretrizes básicas para a formulação e reforma de políticas e sistemas 
educacionais. Assim, segundo o seu próprio documento afirma (UNESCO, 1994), a Conferência 
de Salamanca:
14
CAPÍTULO 1 • MARCOS POLÍTICOS, SOCIAIS E LEgAIS DA EDUCAçãO ESPECIAL SOB A ÓTICA DA EDUCAçãO InCLUSIvA
(...) proporcionou uma oportunidade única de colocação da Educação Especial 
dentro da estrutura de “educação para todos” firmada em 1990 (...) Ela promoveu 
uma plataforma que afirmao princípio e a discussão da prática de garantia da 
inclusão das crianças com necessidades educacionais especiais nestas iniciativas 
e a tomada de seus lugares de direito numa sociedade de aprendizagem.
No que diz respeito ao conceito de necessidades educacionais especiais, a Declaração assegura 
que:
...durante os últimos 15 ou 20 anos, tem se tornado claro que o conceito de 
necessidades educacionais especiais teve que ser ampliado para incluir todas 
as crianças que não estejam conseguindo se beneficiar com a escola, seja por 
que motivo que for. 
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no 9.394, publicada em 1996, ajusta-se à legislação 
federal e aponta que a educação dos alunos com necessidades educacionais especiais, deve se 
dar preferencialmente na rede regular de ensino.
Seguindo diretrizes da Educação Inclusiva, o Brasil, em agosto de 2009, sancionou a Convenção 
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006). Essa Convenção 
foi acolhida por nosso ordenamento jurídico, pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto de 2009. 
Estabelece a convenção a plena e efetiva participação e inclusão na sociedade; igualdade de 
oportunidades. Destacando no Artigo 24, 
Da Educação – a garantia de sistema educacional inclusivo em todos os níveis, 
bem como o aprendizado ao longo de toda a vida, com vistas à garantia de 
matrícula, permanência, participação, com pertencimento, ou seja, visando ao 
pleno desenvolvimento, garantindo, se necessário, adaptações curriculares, e 
que medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam adotadas em ambientes 
que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta 
de inclusão plena.
Recentemente, o País aprovou a lei mais importante para a pessoa com deficiência, a Lei Brasileira 
de Inclusão (LBI) no 13.146/2015, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência. Tal lei é 
destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das 
liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
Em relação à educação, em seu art. 27, a LBI diz que a educação constitui direito da pessoa com 
deficiência, assegurado sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao 
longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos 
e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e 
necessidades de aprendizagem.
15
MARCOS POLÍTICOS, SOCIAIS E LEgAIS DA EDUCAçãO ESPECIAL SOB A ÓTICA DA EDUCAçãO InCLUSIvA • CAPÍTULO 1
Cabem às escolas públicas e privadas as seguintes medidas para promover a Educação Inclusiva 
da pessoa com deficiência, em todos os níveis e modalidades ao longo de toda a vida da pessoa:
 » garantir condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem;
 » implementar projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional 
especializado;
 » garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade;
 » permitir a participação dos estudantes com deficiência e de suas famílias nas diversas 
instâncias de atuação da comunidade escolar;
 » garantir o pleno acesso do aluno com deficiência ao currículo em condições de igualdade; 
 » implementar programas de formação inicial e continuada de professores;
 » assegurar o acesso à educação profissional e tecnológica em igualdade de oportunidades 
e condições com as demais pessoas.
Cabe ressaltar que a lei também diz que é vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer 
natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas, inclusive no fornecimento de atendimento 
educacional especializado e profissionais de apoio. 
A legislação tem avançado, prevendo normas para a adaptação dos prédios públicos e condições 
de acesso aos serviços públicos, de modo a ofertar-lhes ensino de qualidade e em conformidade 
com as necessidades de cada um. 
Entretanto, infelizmente, ainda estamos longe de cumprir a LBI, levando à judicialização do 
tema. Assim, para garantir o direito da pessoa com deficiência é preciso implementar políticas 
públicas que confiram efetividade à inclusão com qualidade e, enquanto tal não ocorrer, caberá ao 
cidadão que estiver com direito ameaçado ou violado ingressar com ação judicial para compelir 
o Poder Executivo a disponibilizar o atendimento a que ele tem direito.
16
Introdução
Analisaremos, neste segundo capítulo, a relação entre Educação Regular e Educação Especial. Em 
seguida, analisaremos as concepções atuais sobre a educação e suas implicações na sociedade. 
Discutiremos as dimensões da integração após a Declaração de Salamanca. Debateremos a 
inclusão no âmbito da prática do professor e da gestão escolar. 
Objetivos 
 » Diferenciar uma escola que integra alunos com deficiência e a escola que inclui todos 
os seus alunos.
 » Refletir sobre prós e contras das Escolas Especiais.
 » Estudar as concepções atuais sobre a educação, a inclusão escolar e suas possibilidades 
educativas.
2CAPÍTULOA ESCOLA InCLUSIvA
17
A ESCOLA InCLUSIvA • CAPÍTULO 2
Políticas públicas e educação especial
A diferença entre a Educação Especial e a educação “regular” não se encontra nos aspectos 
filosóficos, mas, sim, nas estratégias de ação que lhe são próprias e múltiplas, porque numerosa 
e variada é a sua clientela.
O discurso acerca da inclusão de pessoas com deficiência na escola, no trabalho e nos espaços 
sociais, em geral, tem-se propagado rapidamente entre educadores, familiares, líderes e dirigentes 
políticos, nas entidades, nos meios de comunicação etc. Isso não quer dizer que a inserção de 
todos nos diversos setores da sociedade seja prática corrente ou uma realidade já oferecida.
As políticas públicas de atenção a esse segmento, geralmente, estão circunscritas ao tripé educação, 
saúde e assistência social, costumando os demais aspectos ser negligenciados. 
A educação dessas pessoas tem sido objeto de inquietações. Muito se discute sobre o que, 
de fato, é incluir um aluno com deficiência. Ainda encontramos debates sobre se a melhor 
alternativa é ter espaços de “Educação Especial”, ou seja, um sistema paralelo de instituições e 
serviços especializados e funcionando só para os deficientes ou se tais alunos se beneficiarão 
de frequentarem a escola “regular”. 
A crise que vivemos em todo o âmbito da saúde, com falta de profissionais, materiais, remédios, 
filas de espera enormes, dentre outros, dificulta ainda mais o acesso do deficiente a toda sua rede. 
O que observamos, atualmente é que na saúde perpetua-se a atitude social de reabilitação. Ou 
seja, ela se limita a medicar e diagnosticar a pessoa com deficiência. A reabilitação compreendida 
basicamente como concessão de órteses e próteses, distante da ótica do movimento de inclusão. 
Já na assistência social, a atitude social preponderante é do assistencialismo paternal, em que o 
sujeito é considerado incapaz e, por isso, sua ação traduz-se na distribuição de benefícios e de 
escassos recursos, em um contexto de adversidade e de carência.
Em cada um desses setores, o foco do atendimento privilegia certa dimensão do sujeito. Raramente 
ele é visto como uma pessoa biopsicossocial. Seu contexto familiar, comunitário e social é levado 
em consideração separadamente, dependendo do serviço que se está buscando. 
O que se observa, nesses setores, são ações isoladas e simbólicas ao lado de um conjunto de leis, 
projetos e iniciativas insipientes e desarticuladas entre as diversas instâncias do Poder Público. 
Em todos os casos, percebemos uma concepção de um sujeito fragmentado, incompleto sem a 
necessária incorporação das múltiplas dimensões da vida humana. 
A despeito de figurar na política educacional brasileira desde o final da década de 1950 até os dias 
atuais, a Educação Especial tem sido, com grande frequência, interpretada como um apêndice 
indesejável da política de educação. O sentido a ela atribuído é, ainda hoje, muitas vezes, o de 
18
CAPÍTULO 2 • AESCOLA InCLUSIvA
assistência à pessoa com deficiência, e não o de educação de alunos que apresentam necessidades 
educacionais especiais.
Educação especial x educação regular
A Educação Especial é definida como a modalidade de ensino que se caracteriza por um conjunto 
de recursos e serviços educacionais especiais organizados para apoiar, suplementar e, em alguns 
casos, substituir os serviços comuns, de modo a garantir a educação formal dos educandos que 
apresentam necessidades educacionais diferentes das da maioria das crianças e jovens. 
A defesa da cidadania e do direito à educação das pessoas com deficiência é atitude muito 
recente em nossa sociedade. Manifestando-se por meio de medidas isoladas, de indivíduos ou 
grupos, a conquista e o reconhecimento de alguns direitos das pessoas com deficiências podem 
ser identificados como elementos integrantes de políticas sociais, a partir de meados do século 
XX, como vimos no primeiro capítulo. Ignorando sua longa construção sociocultural, muitos 
têm sido os que entendem a situação atual como resultado exclusivo de suas próprias ações ou 
de contemporâneos seus. Em razão disso, é extremamente valioso clarificar alguns momentos 
da evolução das atitudes sociais e sua materialização, particularmente aquelas voltadas para 
a educação da pessoa com deficiência. Nesse sentido, cabe alertar que, tanto na literatura 
educacional quanto em documentos técnicos, é frequente a referência a situações de atendimento 
a pessoas com deficiência (crianças e/ou adultos) como sendo educacionais, quando uma análise 
mais cuidadosa revela tratar-se de situações organizadas com outros propósitos, em sua maioria 
voltados para reabilitação, e não para a educação.
Podemos dizer que convivemos com dois tipos de educação ou, no mínimo, de modos diferentes 
da educação. Quando falamos em Educação Especial, propomos integração, cursos específicos 
ou em nível de pós-graduação que tratam especificamente do assunto. A Educação Especial 
assume, no momento, papel de fundamental importância, tendo em vista as crescentes exigências 
de uma sociedade brasileira em expansão e os desequilíbrios do atendimento educacional aos 
alunos com deficiência, apesar do expressivo interesse que desperta e dos esforços realizados 
por instituições públicas e particulares.
 A problemática da Educação Especial vem sendo abordada de forma mais abrangente pelos 
educadores contemporâneos, que fazem uso do pensamento crítico, colocando as questões 
educacionais especiais vinculadas ao contexto escolar mais amplo, ou seja, pertencente à 
complexidade social. 
A abordagem da Educação Especial no Brasil sempre esteve calcada em duas vertentes: a 
médico-pedagógica (ciências médicas e biológicas) e a psicopedagógica (com a introdução dos 
testes de inteligência e da adequação de procedimentos para a educação dos deficientes mentais). 
19
A ESCOLA InCLUSIvA • CAPÍTULO 2
As crianças são consideradas educacionalmente “especiais” somente quando suas necessidades 
exigem a alteração do programa, ou seja, quando os desvios de seu desenvolvimento atingem um 
tipo e um grau que requerem providências pedagógicas desnecessárias para as crianças típicas.
Atenção
O termo utilizado para nos referirmos às crianças que não são deficientes é típica. Por exemplo, quando comparamos uma 
criança no espectro autista com a sua colega de turma dizemos: ela é uma criança neurotípica (austista) e uma criança típica.
Para fins didáticos, e para facilitar a comunicação entre os profissionais da Psicologia, Sociologia, 
Fisiologia, Medicina e Educação, as crianças são agrupadas na seguinte classificação: 
 » Deficiências mentais, incluindo crianças que são: 
 › intelectualmente superiores;
 › lentas quanto à capacidade de aprendizado.
 » Deficiências sensoriais, incluindo as crianças com:
 › deficiências auditivas;
 › deficiências visuais.
 » Desordens de comunicação, incluindo as crianças com:
 › distúrbios de aprendizagem; 
 › deficiências de fala e linguagem.
 » Desordens de comportamento, incluindo:
 › distúrbio emocional; 
 › desajustamento social.
 » Deficiências múltiplas e graves, incluindo várias combinações: paralisia cerebral e 
retardamento mental, surdez e cegueira, deficiências físicas e intelectuais graves. 
A visão social fragmentada, muitas vezes percebida como estática, incorpora e acredita nas 
concepções acerca da impossibilidade de mudança e de desenvolvimento dos alunos. Apesar 
da percepção do progresso do aluno, há a certeza do limite, estagnação, próximo.
O Brasil, como vimos, tem mostrado avanços em termos de uma educação voltada para todos e 
para a inclusão social plena e efetiva de pessoas com deficiência. Uma das principais mudanças 
ocorridas diz respeito à ampliação da forma de abordar a deficiência, que passa a ser encarada 
20
CAPÍTULO 2 • A ESCOLA InCLUSIvA
também sob uma expectativa social. Nesse sentido, procura-se mostrar que a sociedade, em suas 
diferentes organizações, em muitos casos, cria empecilhos à participação dos indivíduos, por 
não estar estruturada para atender às necessidades das pessoas com deficiências. 
A política de inclusão dos alunos com deficiência na rede regular de ensino não consiste somente 
na permanência física desses alunos, como observávamos na época da integração escolar. O 
propósito de rever concepções e paradigmas, respeitando e valorizando a diversidade desses 
alunos, exigiu que a escola se responsabilizasse por seus alunos com deficiência, criando um 
espaço, de fato, inclusivo. Dessa forma, a inclusão significa que não é o aluno que se molda ou 
se adapta à escola, mas a escola, consciente de sua função, coloca-se à disposição do aluno. 
Cabe ressaltar que, nos dias atuais, aceitar a inclusão escolar e respeitar a diversidade não é 
mais uma opção. Desde 2016, qualquer escola, pública ou privada, que recuse matrícula de 
estudante com deficiência comete um crime punível com multa e prisão de dois a cinco anos. 
A determinação está na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência e busca atender ao 
desafio da inclusão trazido pela meta 4 do Plano Nacional de Educação (PNE). De acordo com 
o PNE, crianças de quatro a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e 
altas habilidades ou superdotação devem frequentar preferencialmente instituições de ensino 
e classes comuns.
Atender à diversidade, possibilitar a cada aluno desenvolver suas potencialidades para aprender 
implica conhecer quem é o sujeito a quem se destina o fazer profissional do educador. Vygotsky, 
em seus estudos e pesquisas ligados a alunos com dificuldades de aprendizagem, afirma que 
desde os primeiros anos de vida a criança que apresenta uma deficiência ocupa uma posição 
social especial e as suas relações com o mundo transcorrem de maneira diferente daquelas que 
envolvem as crianças normais.
Para esse teórico, a deficiência tem uma dupla função: se, por um lado, é uma limitação que 
cria obstáculos e dificuldades, por outro, serve de estímulo para o desenvolvimento das vias de 
adaptação, transformando-se em canais de compensação que podem levar do equilíbrio alterado 
a uma nova ordem na constituição da diferença. Ainda que as funções mentais superiores como 
a percepção, a atenção e a memória estejam comprometidas em seus aspectos funcionais, o 
desenvolvimento encontra vias de realização nas relações sociais. 
Portanto, para se realizar um trabalho pedagógico de qualidade, é necessário conhecer as 
possibilidades e os limites dos alunos: como se desenvolvem e aprendem; qual a sua história 
de vida, que concepções têm de si mesmos, como interagem com o mundo e internalizam os 
papéis vividos, como organizam seus sistemas de compensações e quais as mediações que 
auxiliam na sua aprendizagem, priorizando as descrições qualitativas da organização de seus 
comportamentos.
21
A ESCOLA InCLUSIvA • CAPÍTULO 2
Na concepção inclusiva, avaliamos a aprendizagem pela trajetória do aluno no decorrer do tempo 
de um ciclode formação e de desenvolvimento. Levamos em conta o que ele é capaz de fazer 
para extrapolar suas dificuldades, construir conhecimentos, tratar informações, organizar seu 
trabalho e participar ativamente da vida escolar. Consideramos o sucesso do aluno a partir dos 
seus avanços em todos os aspectos do seu desenvolvimento. Esse progresso é registrado em um 
relatório, que constitui a vida escolar desse aluno. 
Os alunos com necessidades educativas especiais demandam 
um trabalho pedagógico que atenda às suas particularidades 
e possibilite a cada um deles uma aprendizagem significativa, 
independente do espaço educacional onde vai se realizar, seja 
em uma escola regular ou numa escola especial. Para que isso 
aconteça, são necessárias transformações tanto nas escolas 
regulares quanto nas escolas especiais. 
As primeiras, aprendendo a lidar com as diferenças e promovendo as ações educativas necessárias 
às mudanças. Já as segundas, transformando-se em centros de recursos, interagindo com os 
professores das escolas regulares na troca de experiências, voltando o seu trabalho de sala de 
aula apenas para os alunos que ainda não podem se beneficiar da oferta que pode lhes oferecer 
uma escola regular. 
Uma escola que se propõe a ser inclusiva é uma instituição disposta a oferecer uma educação de 
qualidade para todos. Além dos benefícios trazidos aos alunos com algum tipo de necessidade 
especial, oferece aos outros alunos experiências de vida solidária, de aceitação das diferenças, de 
mudanças de valores, melhorando, em sentido amplo, a educação e a qualidade da vida humana.
Outro aspecto importante a considerar diz respeito às dificuldades encontradas pelas crianças. 
Necessariamente elas não estão relacionadas às suas limitações pessoais, mas podem ser de 
natureza curricular, de metodologias e estratégias de ensino inadequadas, que criam barreiras ao 
seu aprendizado. Assumir uma posição frente à Educação Inclusiva é uma mudança que envolve 
currículos, organização escolar e concepções, exigindo uma formação inicial e continuada de 
professores, que lhes permita abandonar a visão funcional do ensino, que tem caracterizado a 
escola nas últimas décadas, tornando-os capazes de administrar uma educação democrática e 
inclusiva, aperfeiçoando seus conhecimentos pedagógicos.
A escola inclusiva é aquela que acomoda todos os alunos independentemente de suas condições 
físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras, sendo o principal desafio 
desenvolver uma pedagogia centrada no aluno, uma pedagogia capaz de educar e incluir além 
dos alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, aquelas que apresentam 
dificuldades temporárias ou permanentes na escola, as que estejam repetindo anos escolares, 
as que sejam forçadas a trabalhar, as que vivem nas ruas, as que vivem em extrema pobreza, as 
Atenção
Uma Educação Inclusiva não implica 
excluir a modalidade especial da 
educação.
22
CAPÍTULO 2 • A ESCOLA InCLUSIvA
que são vítimas de abusos, as que estão fora da escola, as que apresentam altas habilidades/
superdotação, pois a inclusão não se aplica, apenas, aos alunos com deficiência. 
O desenvolvimento das escolas inclusivas, capazes de sustentar recursos educativos com sucesso 
para todos os alunos, passa necessariamente pela definição de uma ação educativa diferenciada 
dos mais variados contextos. E para que uma gestão seja diferenciada, com ações pedagógicas 
inclusivas, é preciso que a escola estabeleça uma filosofia baseada nos princípios democráticos 
e igualitários de inclusão, de inserção e a provisão de uma educação de qualidade para todos 
os alunos.
Ser uma escola inclusiva significa, primeiramente, acreditar no princípio de que todas as crianças 
podem aprender e o diretor deverá proporcionar a todas as crianças acesso igualitário a um 
currículo básico, rico e uma instrução de qualidade, independente de ser uma escola regular 
ou especial. 
A seguir, mostraremos algumas estratégias para inclusão no cotidiano escolar:
 » Promover práticas mais cooperativas e menos competitivas nas salas de aulas e na escola.
 » Estabelecer rotinas na sala de aula e na escola em que todos recebam apoio necessário 
para participarem de forma igual e plena.
 » Garantir que todas as atividades da sala de aula tenham acomodações e a participação 
de todos ativamente, inclusive daqueles que apresentam necessidades educacionais 
especiais.
 » Infundir valores positivos no sistema escolar de respeito, solidariedade, cooperação etc.
 » É preciso desenvolver rede de apoio, sendo um grupo de pessoas que se reúne para 
debater, podendo ser constituída por alunos, diretores, pais, professores, psicólogos, 
terapeutas e supervisores para resolverem problemas, trocarem ideias, métodos, técnicas 
e atividades, com a finalidade de ajudar não somente aos alunos, mas aos professores 
para que possam ser bem-sucedidos em seus papéis.
 » Desenvolver uma assistência técnica organizada e contínua que deve incluir:
 › funcionários especializados para atuarem como consultores e facilitadores;
 › uma biblioteca prontamente acessível com materiais atualizados, recursos em vídeo 
e áudio que enfoquem a reforma da escola e as práticas educativas inclusivas;
 › um plano abrangente, condizente e contínuo de formação em serviço;
 › oportunidades para educadores que apoiam os alunos a reunirem-se para tratarem 
de questões comuns e, assim, ajudarem-se mutuamente no desenvolvimento criativo 
de novas formas de aprendizagens;
23
A ESCOLA InCLUSIvA • CAPÍTULO 2
 › oportunidades para os professores aumentarem e aperfeiçoarem suas habilidades, 
observando, conversando e moldando suas práticas com colegas com mais experiência 
no apoio aos alunos no regular;
 › oportunidades para educadores novos em práticas inclusivas de visitarem outras 
escolas e distritos, que tenham experiências e implementação novas na Educação 
Inclusiva em conjunto com esforços de reformas da escola.
 » Os educadores devem desenvolver a dimensão da flexibilidade para responderem 
aos desafios de apoiarem os alunos com dificuldades para aprender na participação 
das atividades da escola, com o compromisso de fazer o ensino inclusivo acontecer, 
com espontaneidade e a coragem de assumirem os riscos, trabalhando em equipes, 
desenvolvendo novas habilidades e promovendo uma educação de qualidade a todos 
os alunos.
 » Examinar e adotar várias abordagens de ensino, para trabalhar com alunos com diferentes 
níveis de desempenho, reavaliando as práticas e determinando as melhores maneiras 
possíveis de promover a aprendizagem ativa para os resultados educacionais desejáveis.
 » Comemorar os sucessos e aprender com os desafios, sendo importante que os sistemas 
escolares cultivem a capacidade dos membros do seu pessoal de pensar criativamente, 
pois assim respondem aos desafios que inevitavelmente surgem quando as novas 
oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento apresentam-se.
 » Os educadores estarem dispostos a romperem paradigmas e manterem-se em constantes 
mudanças educacionais progressivas, criando escolas inclusivas e com qualidades.
A equipe da escola
No sistema escolar, para construir uma comunidade escolar inclusiva, é preciso o planejamento e 
o desenvolvimento do currículo que conduza aos resultados esperados pelo Estado e pelos setores 
educacionais. Preparar equipe para trabalhar de maneira cooperativa e compartilhar conhecimentos 
das melhorias para um progresso contínuo. Investimento em tecnologia para dar apoio, servindo 
como um importante dispositivo da comunicação para conectar a escola à comunidade e o ensino 
dos resultados esperados, além de grupos de professores atuando como planejadores, instrutores 
e avaliadores de programas que conduzam a uma ação pedagógica inclusiva.
A realização das ações pedagógicas inclusivas requer uma percepção do sistema escolar como 
um todo unificado, em vez de estruturas paralelas, separadas como uma para alunos regulares 
e outra para alunos comdeficiência ou necessidades especiais.
24
CAPÍTULO 2 • A ESCOLA InCLUSIvA
O comportamento inclusivo dentro da escola requer comprometimento e ações inclusivas, por 
isso faremos uma breve reflexão sobre essas práticas:
 » a escola parte da premissa de que cada aluno tem o direito a frequentar a sala de aula 
independente de sua deficiência;
 » está plenamente comprometida em desenvolver uma comunidade que se preocupe em 
fomentar o respeito mútuo e o apoio em equipe escolar, os pais e os alunos;
 » a direção cria um ambiente de trabalho no qual os professores são apoiados;
 » os alunos com necessidades educacionais especiais são estimulados a participarem 
plenamente da escola, inclusive das atividades extracurriculares;
 » está preparada para modificar os sistemas de apoio para os alunos à medida que as suas 
necessidades mudem;
 » considera os pais uma parte plena da comunidade escolar, aceitando sugestões e a sua 
participação;
 » proporciona aos alunos com necessidades educacionais especiais um currículo escolar 
pleno e flexível sujeito a mudanças caso seja necessário.
É necessário se investir na capacitação e sensibilização de profissionais da educação para que 
ocorra a diminuição gradativa da exclusão escolar. Delegar ao professor toda a responsabilidade 
de promover a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais é um erro, pois a 
adoção dessa postura deveria ser de toda a estrutura da escola.
A formação do professor para o trabalho em equipe, o conhecimento sobre currículo e as possíveis 
adaptações curriculares cabíveis às necessidades individuais dos alunos, o conhecimento sobre 
o conteúdo, a metodologia de ensino e as possibilidades de reflexão sobre as ações realizadas 
na sala de aula são questões a serem trabalhadas por toda a equipe da instituição escolar, e não 
somente pelo professor que recebe a criança com alguma dificuldade ou necessidade especial. 
Além disso, segundo Mendes (2002), para atender os alunos com necessidades educacionais 
com qualidade, a escola deve modificar-se. Segundo a autora, as ações de uma política inclusiva 
deveriam se pautar em três componentes básicos:
 » Político (construção de uma rede de suportes capaz de formar pessoal e promover 
serviços na escola, na comunidade, na região).
 » Educacional (capacidade de planejar, implementar e avaliar programas para diferentes 
alunos em ambientes da escola regular).
 » Pedagógico (o uso de estratégias de ensino que favoreçam a inclusão e descentralizem 
a figura do professor, o incentivo às tutorias por colegas, a prática flexível, a efetivação 
25
A ESCOLA InCLUSIvA • CAPÍTULO 2
de currículos adaptados). Portanto, a autora recomenda que cada município deve 
identificar o perfil do seu alunado e desenvolver projetos pedagógicos de acordo com 
os resultados dessa avaliação.
Consideramos que essas questões são fundamentais e deveriam estar presentes em várias 
dimensões das áreas de saúde e educação: nas reuniões entre pais, coordenadores e professores 
nas escolas, em cursos de capacitação, em reuniões de estudos de caso nas instituições que 
atendem alunos com necessidades educacionais especiais etc.
Oferecer um sistema de ensino de qualidade a todos os alunos, respeitando suas diferenças, deveria 
ser o ponto de partida para a melhora do acesso dos alunos com necessidades educacionais 
especiais no ensino regular. Perceber que qualquer indivíduo possui limitações, o que não 
significa que não possa ser participativo e capaz de aprender, seria um bom ponto de partida 
para a reflexão sobre como trabalhar as diferenças em sala de aula.
O professor na escola inclusiva
Como estamos falando de uma escola inclusiva, as particularidades e individualidade dos 
professores também não podem ser ignoradas. Contudo, se por um lado o professor tem sua 
individualidade, por outro lado, todo o professor tem a ética e os compromissos da sua profissão. 
Oferecer uma educação para todos é obrigação dos educadores, independente das suas crenças 
e percepções.
É comum observarmos no cotidiano escolar mitos e distorções em relação ao processo educacional 
dos alunos com necessidades educacionais especiais. Para mudar essa realidade, é preciso que o 
professor amplie o seu olhar. Ele não pode olhar, apenas com seus olhos, nem somente com os 
olhos do outro. Para que, de fato, o educador enxergue e compreenda o movimento de inclusão, 
é fundamental aprender a desenvolver uma visão mais ampla que comporte o ponto de vista 
individual e coletivo.
Tanto a escola como o professor precisam promover transformações no que se refere à Educação 
Inclusiva. E, se quisermos promover transformações, precisamos reexaminar o jeito de fazer em 
sala de aula. Ele precisa entender a individualidade de cada um de seus alunos, se capacitando 
constantemente, buscando estimular suas potencialidades em um contexto coletivo. Todos 
juntos, mas cada um em seu tempo.
Para pensar no aluno, precisamos pensar na escola em que ele está inserido, precisamos pensar, 
também, em seu contexto social, o qual a escola está inserida, bem como a família, igreja, os 
Poderes locais, dentre outros. Ou seja, é preciso entender o sujeito em seu contexto biopsicossocial. 
A ausência da reflexão faz com que passemos a reproduzir determinados valores, sem perceber, 
sem ao menos nos questionarmos a respeito.
26
CAPÍTULO 2 • A ESCOLA InCLUSIvA
Quando refletimos sobre esse processo de absorção e de reprodução de valores e de práticas 
sociais é importante que os professores se voltem para a análise das estratégias que alimentam 
esse processo, com o qual, consciente ou inconscientemente, a escola vem contribuindo.
Por exemplo, um professor que oferece ao aluno questionários padronizados, com perguntas 
e respostas prontas, esperando que todos os seus alunos respondam de uma maneira, em 
determinado tempo, ou dá ordens para que se siga certo modelo, ou que exige cópia de textos, 
pode não estar sequer imaginando que essas práticas estão preparando o aluno para a submissão 
cognitiva, para a subserviência, em vez de prepará-lo para um exercício consciente e responsável 
de cidadania. Além disso, desestimulará seus alunos com necessidades educacionais especial, 
perpetuado a atitude social de que a pessoa com deficiência é incapaz.
As escolas atuais valorizavam a passividade do aluno, refletida principalmente na exigência do 
silêncio na sala de aula e na exigência da fidelidade às palavras do professor e do livro didático nas 
provas. Ou seja, os alunos não passam de “alunos-objetos”. O que o professor inclusivo defende 
é que o seu aluno seja sujeito do processo de construção do seu conhecimento.
É preciso estabelecer uma nova relação professor/aluno. E para que isso aconteça, é necessário 
repensarmos ambos os papéis, refletindo bidirecionalidade e a interdependência que constituem 
as relações pessoais para que nos fiquem claras as suas consequências.
Para formar um aluno cidadão, capaz de usufruir dos seus direitos e deveres individuais e 
coletivos, é preciso um professor capaz de estimular a consciência crítica e o domínio efetivo 
do saber. Ele compreende que é de sua responsabilidade e competência construir e socializar o 
conhecimento na escola!
Cabe ainda a esse professor contribuir para a construção de uma escola de qualidade para 
todos, cooperando com o aprimoramento do sistema escolar no sentido de melhorar o acesso 
à educação das pessoas com necessidades educacionais especiais.
A gestão escolar
Além das sugestões, referentes ao ensino nas escolas, a educação de qualidade para todos e 
a inclusão implicam mudanças de outras condições relativas à administração e aos papéis 
desempenhados pelos membros da organização escolar. Nesse sentido, é primordial que sejam 
revistos:
 » Papéis desempenhados pelos diretores e coordenadores, no sentido de que ultrapassem 
o teor controlador, fiscalizador e burocrático de suas funções pelo trabalho de apoio, 
orientação do professor e de toda a comunidade escolar.27
A ESCOLA InCLUSIvA • CAPÍTULO 2
 » A descentralização da gestão administrativa, por sua vez, promove uma maior autonomia 
pedagógica, administrativa e financeira de recursos materiais e humanos das escolas, por 
meio dos conselhos, colegiados, assembleias de pais e de alunos. Mudam-se os rumos 
da administração escolar e, com isso, o aspecto pedagógico das funções do diretor e dos 
coordenadores e supervisores emerge. Deixam de existir os motivos pelos quais esses 
profissionais ficam confinados aos gabinetes, às questões burocráticas, sem tempo para 
conhecer e participar do que acontece nas salas de aula. 
A inclusão se legitima porque a escola, para muitos alunos, é o único espaço de acesso aos 
conhecimentos. É o lugar que vai lhes proporcionar condições de se desenvolver e de se tornar 
um cidadão, alguém com identidade social e cultural que lhes confere oportunidades de ser e 
de viver dignamente.
Incluir é necessário, primordialmente, para melhorar as condições da escola de modo que nela 
se possa formar gerações mais preparadas para viver a vida na sua plenitude, livremente, sem 
preconceitos, sem barreiras. Não podemos contemporizar soluções, mesmo que o preço que 
tenhamos de pagar seja bem alto, pois nunca será tão alto quanto o resgate de uma vida escolar 
marginalizada, uma evasão, uma criança estigmatizada, sem motivos. 
Confirma-se, ainda, mais uma razão de ser da inclusão – um motivo para que a educação se 
atualize e para que os professores aperfeiçoem as suas práticas e para que escolas públicas e 
particulares se obriguem a um esforço de modernização e de reestruturação de suas condições 
atuais, a fim de responderem às necessidades de cada um de seus alunos, em suas especificidades, 
sem cair nas malhas da Educação Especial E Suas modalidades de exclusão.
Toda escola, em respeito ao direito à educação, deve atender aos princípios constitucionais, 
não excluindo nenhum aluno, em razão de sua origem, raça, sexo, cor, idade ou deficiência. A 
Constituição brasileira de 1988 é clara ao eleger como fundamentos da República a cidadania e a 
dignidade da pessoa humana (art. 1o, incisos II e III), e como um dos seus objetivos fundamentais 
a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer 
outras formas de discriminação (art. 3o, inciso IV). Ela ainda garante o direito à igualdade (art. 
5o), e trata, no art. 205 e seguintes, do direito de todos à educação. Esse direito deve visar ao pleno 
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho.
A escola inclusiva
Diante dessas novidades, a escola brasileira não pode continuar ignorando o que acontece ao 
seu redor, anulando e marginalizando as diferenças nos processos de aprendizagem. Também 
não deve desconhecer que o processo ensino-aprendizagem implica saber expressar, dos mais 
28
CAPÍTULO 2 • A ESCOLA InCLUSIvA
variados modos, o que sabemos, representando o mundo, a partir de nossas origens, valores, 
sentimentos. 
Precisamos reverter essa situação crítica, marcada pelo fracasso e pela evasão de uma parte 
significativa dos seus alunos, os quais são marginalizados pelo insucesso, pelas privações 
constantes e pela baixa autoestima resultante da exclusão escolar e da sociedade. 
É certo que os alunos com deficiência constituem uma grande preocupação para os educadores 
inclusivos, mas todos sabem que a maioria dos alunos que fracassam nas escolas são crianças 
que não vêm do Ensino Especial, mas que possivelmente acabarão nele.
Se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, é urgente que seus planos se redefinam para 
uma educação voltada à cidadania global, plena, livre de preconceitos e disposta a reconhecer 
as diferenças entre as pessoas e a emancipação intelectual. Porque não basta uma educação na/
para a cidadania. É preciso que se eduque para a liberdade e, nesse sentido, nenhuma forma de 
subordinação intelectual pode ser admitida. 
Certamente não existe uma regra geral para se construir essa escola que queremos – uma escola 
para todos. Mas podemos nos aproximar cada vez mais dela se encararmos a transformação das 
escolas que hoje temos da forma mais realística possível, abolindo-se tudo o que nos faz pensá-las 
e organizá-las a partir de modelos que as “idealizam”, como temos feito até então. Já se impõe, 
mesmo timidamente, uma tendência de reorientação das escolas, segundo uma lógica educacional 
regida por princípios sociais, democráticos, de justiça, de igualdade, contrapondo-se àquela 
que é sustentada por valores econômicos e empresariais de produtividade, competitividade, 
eficiência, modelos ideais que tantas exclusões têm provocado na educação, em todos os seus 
níveis. Temos de acreditar e dar uma grande virada na educação escolar. 
Se, do ponto de vista legal, temos de conciliar os impasses entre nossa Constituição e as leis 
infraconstitucionais referentes à educação, do ponto de vista educacional, é urgente estimular as 
mudanças, buscando e divulgando novas práticas pedagógicas, experiências de sucesso, saberes 
adquiridos em estudos desenvolvidos no cotidiano das nossas escolas.
O essencial é que todos os investimentos atuais e futuros da educação brasileira não repitam o 
passado e reconheçam e valorizam as diferenças na escola. Temos de ter sempre presente que 
o nosso problema se concentra em tudo o que torna nossas escolas injustas, discriminadoras e 
excludentes, e que, sem solucioná-lo, não conseguiremos o nível de qualidade de ensino escolar, 
que é exigido para se ter uma escola mais que especial, onde os alunos tenham o direito de ser 
(alunos), sendo diferentes.
29
Introdução 
Neste capítulo, abrangeremos a compreensão dos processos cognitivos e dos problemas de 
aprendizagem, estabelecendo relações entre eles. Esclareceremos como se dá o desenvolvimento 
dos alunos com demandas educativas específicas, assim como as mudanças que devem ser 
realizadas nas escolas para favorecer sua educação.
Objetivos 
 » Compreender o processo de construção do conhecimento no indivíduo inserido em 
seu contexto social e cultural.
 » Viabilizar a Educação Inclusiva de pessoas com necessidades especiais.
 » Planejar e avaliar programas e práticas para atender alunos com deficiência.
 » Viabilizar a construção de métodos, técnicas e recursos com atenção à diversidade no 
apoio ao processo de inclusão.
3
CAPÍTULO
O PROCESSO DE 
EnSInO-APREnDIzAgEM EM UMA 
PERSPECTIvA DE EDUCAçãO 
InCLUSIvA
30
CAPÍTULO 3 • O PROCESSO DE EnSInO-APREnDIzAgEM EM UMA PERSPECTIvA DE EDUCAçãO InCLUSIvA
Quebra de paradigma
A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas regulares públicas e 
privadas tem provocado incontáveis discussões e resistências entre os educadores da atualidade. 
É consenso, no entanto, que a capacitação dos docentes para o trabalho com a diversidade na 
sala de aula seja oportunizada desde a formação universitária do futuro professor, adquirindo 
caráter continuado durante todo o exercício do magistério. Os profissionais da área educacional 
envolvidos no processo de ensino-aprendizagem vêm constantemente se deparando com uma 
imensidade de desafios em sala de aula e, entre eles está um dos mais complexos, a adequada 
gestão da diversidade de conhecimentos.
Com o foco, usualmente, na transmissão de conhecimentos já construídos, voltados para um 
“tipo ideal” de aluno, mesmo que a população escolar seja heterogênea quanto às origens sociais, 
geográficas, étnicas, com deficiência, entre outras, a distância entre as propostas apresentadas 
pelas instituições educacionais e o tipo, nível de saberes e interesses dos alunos divergem 
demasiadamente.
A educação das crianças com deficiências está sendo rediscutida diante desse novo conceito de 
escolas inclusivas, abertas às diferenças. Diante das mudanças necessárias, entendemos que a 
formação em serviço da equipe escolar é fundamental para a garantia de transformação de que 
a escola necessita. 
A liderança firme porparte do diretor escolar tem sido identificada como um fator importante na 
construção de uma escola cada vez mais inclusiva. O papel do diretor requer novos conhecimentos, 
atitudes e habilidades para lidar com as condições atuais e as tendências emergentes na Educação 
Especial e geral e para conduzir a continuidade da melhoria educacional para todos os estudantes. 
A relação ensino e aprendizagem
A relação ensino-aprendizagem deve ser de superação entre o opressor e o oprimido, em que 
educador e educandos estão em um processo de constante aprendizagem e construção do 
conhecimento recíproco. Paulo Freire discorre sobre o fato de que o educador não deve ser um 
transmissor de conhecimento, mas alguém que cria as possibilidades para sua construção ou 
produção. Diante disso, o diálogo entre as partes é fundamental e o educador deve saber também 
escutar para que, assim, o conhecimento entre as duas partes possa ser desenvolvido.
Seguindo esse raciocínio, o diálogo aparece como peça fundamental para a metodologia criada 
por Paulo Freire, pois, por intermédio dele, de uma conversa em grupo, os homens são capazes 
de debater uma situação e construir então seu senso crítico. Em grupo, o homem é capaz de 
indagar sobre a realidade desenvolvendo uma interação construtivista.
31
O PROCESSO DE EnSInO-APREnDIzAgEM EM UMA PERSPECTIvA DE EDUCAçãO InCLUSIvA • CAPÍTULO 3
Educação problematizadora
Por ser um processo contínuo, a educação problematizadora, a princípio, na alfabetização, aparece 
no sentido de descoberta do mundo, conscientização, modificação de si mesmo e do mundo. Mais 
adiante, esse procedimento deve ser continuado e as implicações serão ainda mais profundas.
Nesse processo de construção do conhecimento, a avaliação baseada nos moldes tradicionais, como 
provas e notas, deixa de fazer sentido. A abordagem que aqui se discute propõe a autoavaliação 
entre professores e alunos. A autoavaliação permite que as duas partes consigam ver em que se 
desenvolveram e em que precisam melhorar.
Segundo Paulo Freire (1996), o homem é o sujeito da educação, portanto, a educação deve 
promover o indivíduo e não procurar meios de adaptá-lo à sociedade. A educação deve buscar 
na cultura popular valores que são inerentes a essas camadas da população. O indivíduo deve 
participar de maneira ativa na construção da cultura
O homem como sujeito deve interagir com seu meio, e, a partir dessa interação, ele chega ao 
conhecimento. O homem deve sentir que participa do seu contexto social. Ao conscientizar-se, 
ele pode tanto alterar seu meio quanto a si próprio.
O processo de conscientização é contínuo e progressivo, vai do nível mais primitivo ao mais 
crítico; para isso, passa por etapas que devem ser superadas. Quando se consegue isso, atinge-se 
a consciência epistemológica.
Segundo Paulo Freire, a natureza da consciência compreende diferentes níveis que correspondem 
à ação humana no mundo:
 » Consciência intransitiva: analisa a realidade a partir de explicações mágicas.
 » Consciência transitiva ingênua: o indivíduo está insatisfeito com a realidade, mas resiste 
em alterá-la, ainda usa explicações mágicas. É a típica opinião de massa.
 » Consciência crítica: forma crítica de pensar. O indivíduo vê a si próprio em função do 
mundo e em termos de sua dependência histórica e social.
Os elementos mediadores
A argumentação vygotskyana baseia-se, fundamentalmente, no conceito de mediação simbólica. 
Para Vygotsky, a cognição superior do homem surge (ou é potencializada) apenas por meio da 
interposição de um elemento intermediário (mediador) entre estímulos e respostas que são 
captadas e produzidas por uma pessoa. 
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CAPÍTULO 3 • O PROCESSO DE EnSInO-APREnDIzAgEM EM UMA PERSPECTIvA DE EDUCAçãO InCLUSIvA
Esses elementos mediadores pertencem a duas categorias: instrumentos e signos. Instrumentos 
são os artefatos construídos exclusivamente pelo ser humano, e utilizados principalmente para 
auxiliá-lo em alguma tarefa ou trabalho. Signos são os instrumentos psicológicos orientados para 
o próprio indivíduo (marcas, desenhos, gráficos). Posto que esses mediadores sejam construídos 
em sociedade, e que esses são fundamentais para o desenvolvimento dos processos cognitivos 
superiores, deduz-se que, na ausência desses instrumentos, não ocorrerá desenvolvimento de 
capacidades cognitivas tipicamente humanas. 
Os elementos centrais da obra de Vygotsky, do ponto de vista pedagógico, são: 
 » A comunidade onde o estudante está inserido tem papel central na construção do 
entendimento, e influencia fortemente a forma como este vê o mundo.
 » A natureza das “ferramentas” cognitivas (jogos, brinquedos, família, cultura, símbolos 
e linguagem) com as quais o estudante interage determinam o padrão e o ritmo de 
desenvolvimento do aprendizado.
 » As habilidades necessárias à solução de problemas com os quais o estudante se depara 
se situam em três categorias:
 › as que já são dominadas – internalizadas – pelo estudante; 
 › as que não são dominadas – internalizadas – pelo estudante, e que não podem ser 
empreendidas mesmo com o auxílio de adultos;
 › as que são intermediárias, entre esses dois extremos, e podem ser empreendidas 
apenas com o auxílio ou acompanhamento de outras pessoas. Zona de Percepção 
Proximal é definida como o intervalo que agrega as habilidades da categoria C.
 » Vygotsky chama de aprendizado o exercício das habilidades situadas na Zona de 
Percepção Proximal, e de desenvolvimento a internalização de tais habilidades. Como 
a Zona de Percepção Proximal só pode ser explorada pelo estudante com o auxílio de 
outras pessoas, o processo é necessariamente social.
 » Os elementos enunciados acima são implementados por princípios a serem aplicados 
à sala de aula.
 » Aprendizado e desenvolvimento é uma atividade colaborativa e social que não pode ser 
“ensinada”. O próprio estudante tem que construir o seu entendimento da atividade, e 
o professor atua como facilitador desse processo.
 » As situações-problema nas quais o estudante precisa de auxílio para fornecer uma 
solução são as que permitem a maior (talvez única) oportunidade de aprendizado e 
desenvolvimento e, consequentemente, devem ser adequadamente inseridas e exploradas 
pelo educador.
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O PROCESSO DE EnSInO-APREnDIzAgEM EM UMA PERSPECTIvA DE EDUCAçãO InCLUSIvA • CAPÍTULO 3
 » Quando inserindo tais situações, é importante considerar que o aprendizado deve 
ocorrer dentro do contexto (social, econômico) no qual o estudante se encontra, já que 
as “ferramentas” cognitivas das quais o estudante dispõe são originadas desse contexto.
 » Experiências de fora de sala de aula devem ser relacionadas com as experiências na 
escola. Imagens, notícias e estórias pessoais devem ser incorporadas às atividades de 
sala de aula: simulações, imitações, brincadeiras, jogos. 
A importância da autoestima na inclusão do aluno na vida 
social da escola
Quando se trabalha com alunos que têm uma trajetória escolar de insucessos, é preciso 
ajudá-los a trabalhar o autoconceito desenvolvendo a confiança na própria capacidade de 
aprender. O professor é uma referência importante na formação da autoestima do aluno e no 
relacionamento com eles, é fundamental para ajudá-los a construir uma imagem positiva de 
si mesmos, aumentando sua motivação para aprender. Outra referência é a família, por isso, 
colaborar com ela na construção da identidade é também importante.
São partes importantes da Educação Inclusiva os relacionamentos e as interações sociais. Assim 
como os demais alunos, aqueles com deficiência também precisam participar da vida social 
da escola como, por exemplo, conduzindo visitantes pela escola, ajudando no gerenciamento 
de equipes e trabalhando no escritório da escola. Quanto mais presentes estiverem esses 
componentes, maiores serão as chances de que a escola incluirá crianças e jovens com deficiência.
Ao organizar as atividades, lembrar que os alunos têm ritmos e formas diferentes de aprendizagem, 
portantoaquelas referentes a um mesmo assunto devem ser bem variadas. Elas devem ser 
planejadas de forma a possibilitar momentos de participação coletiva, momentos de trabalho 
em grupo e de trabalho individual.
Embora não seja possível estabelecer fórmulas para uma boa atividade pedagógica, análises de 
trabalhos bem-sucedidos podem nos indicar alguns aspectos importantes:
 » Deixar clara para os alunos a finalidade da atividade: Por que fazer isso? O que vamos 
aprender? 
 » Deixar clara a tarefa a ser realizada, discutindo com os alunos como fazer e analisando 
com eles as instruções para o trabalho.
 » Relacionar o conteúdo a ser aprendido com o que o aluno já sabe, retomando fatos e 
conceitos já aprendidos, que sejam importantes para a aprendizagem que se pretende 
desenvolver.
 » Relacionar o conteúdo a situações vivenciadas pelo aluno.
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CAPÍTULO 3 • O PROCESSO DE EnSInO-APREnDIzAgEM EM UMA PERSPECTIvA DE EDUCAçãO InCLUSIvA
 » Oferecer diferentes fontes de informação e formas de investigar o assunto: livros, jornais, 
experiências, vídeos, passeios e visitas, estudo dirigidos. 
 » Adotar rotinas e normas de trabalho favorece a organização das atividades, dando maior 
segurança aos alunos e favorecendo a sua autonomia no desenvolvimento do próprio 
trabalho.
É importante lembrar que esse processo se torna mais rico quando os alunos participam do 
planejamento e organização das atividades diárias e semanais. Esse roteiro de trabalho deve 
ficar exposto na sala de aula em local visível. Veremos com maiores detalhes esse assunto em 
outro capítulo.
Da mesma maneira, é importante que os alunos participem da organização do espaço da sala, 
ajudando a arrumar e a guardar o material escolar, os cantinhos de trabalho, a sala de leitura.
A importância dos profissionais em uma escola inclusiva
As escolas devem dispor de profissionais para lidar com pessoas com deficiência. Uma escola 
possui um aluno deficiente auditivo, por exemplo. Cabe a ela contratar um intérprete, promovendo, 
assim, as adaptações necessárias. Os custos devem ser creditados da instituição de ensino, pois 
ela está obrigada a oferecer a estrutura adequada a todos os seus alunos. Além disso, a escola 
deve dispor ao aluno deficiente auditivo a Língua de Sinais, assim como os professores devem 
ser orientados no sentido de flexibilizar os currículos ao modo de comunicação dos surdos.
Com relação ao acesso do deficiente físico, toda escola deve eliminar as barreiras arquitetônicas, 
tendo ou não alunos matriculados; esse ponto é importante frisarmos, de acordo com a 
Constituição Federal, Leis nos 7.853/1989, 10.048/2000 e 10.098/2000.
No que diz respeito ao deficiente visual, após sua matrícula, deve pedir à escola material didático, 
bem como sala de recursos, para aprendizado de “Braille”. Deve-se observar que a sala de recursos 
jamais substitui o professor regular, tendo a tarefa de ser um complemento do ensino regular.
Quanto ao aluno com deficiência mental, parece ser esse o aspecto mais delicado da inclusão, mas 
as escolas deviam lembrar-se de que a construção do conhecimento se faz a partir da realidade de 
cada aluno, levando-se em conta as especificidades de cada um. Se cada aluno tem seu próprio 
ritmo de aprendizagem, por que então ministrar a elas o mesmo padrão de aprendizagem? O aluno 
com deficiência mental vai aprender dentro de suas limitações e estimulado até ir, se possível, 
além delas. A escola, os professores devem estar cientes do ritmo de cada aluno e adequar a esses 
ritmos seus currículos e programas pedagógicos.
Não devemos nos esquecer dos cursos profissionalizantes, os destinados aos jovens e adultos e 
voltados para a preparação de vestibulares. 
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O PROCESSO DE EnSInO-APREnDIzAgEM EM UMA PERSPECTIvA DE EDUCAçãO InCLUSIvA • CAPÍTULO 3
Organização curricular e a inclusão
A ideia fundamental é disponibilizar uma organização escolar que, tendo como foco a Educação 
Inclusiva, se caracterize pela existência e articulação das seguintes características:
 » flexibilização de uso do material pedagógico;
 » adaptação de equipamentos;
 » adaptação da estrutura curricular;
 » capacitação adequada de recursos humanos;
 » eliminação de barreiras de qualquer natureza;
 » processos diferenciados de avaliação;
 » mecanismos de inserção no mundo do trabalho;
 » instrumentos e procedimentos sistematizados de acompanhamentos e egressos.
As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (Parecer CEB/CNE 
no 11/2000) indicam a necessidade de a educação profissional do aluno com necessidades 
educacionais especiais ser realizada por meio de cursos oferecidos pelas redes regulares de 
ensino, públicas ou privadas, por meio de adequações e apoios, tanto em relação a programas 
específicos de educação profissional, como em relação a atividades vinculadas à preparação 
para o trabalho.
Na educação dos alunos com deficiência, é importante lembrar, algumas modificações têm os 
mesmos objetivos da educação de qualquer cidadão, são, às vezes, requeridas na organização 
e no funcionamento da educação escolar para que tais alunos usufruam dos recursos escolares 
de que necessitam para o alcance daqueles objetivos. Em razão disso, são organizados auxílios e 
serviços educacionais especiais para apoiar, suplementar e, em alguns casos, substituir o ensino 
comum ou regular como forma de assegurar o ensino para esse alunado. 
Tais auxílios e serviços educacionais são planejados e desenvolvidos para assegurar respostas 
competentes por parte do sistema e da unidade escolar, ainda que especiais, as necessidades 
educacionais especiais ou diferenciadas apresentadas por determinados alunos no contexto 
escolar em que se encontram. As necessidades educacionais especiais são definidas e identificadas 
na relação concreta entre o educando e a educação escolar, conforme já enunciado. Assim, os 
recursos educacionais especiais requeridos em tal situação de ensino-aprendizagem se configuram 
como Educação Especial e não devem ser reduzidos a uma ou outra modalidade administrativa 
pedagógica como classe especial ou escola especial.
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CAPÍTULO 3 • O PROCESSO DE EnSInO-APREnDIzAgEM EM UMA PERSPECTIvA DE EDUCAçãO InCLUSIvA
Respeitar as necessidades educacionais de cada aluno
Outro aspecto relevante diz respeito à identificação das necessidades educacionais e as 
consequentes decisões e orientações sobre o atendimento dos alunos que as apresentem. Tais 
atividades requerem a avaliação criteriosa por parte dos profissionais envolvidos, bem como da 
família, de cada aluno. Embora se saiba, não é demais lembrar que grande parte das necessidades 
educacionais, mesmo dos alunos com deficiência, poderá ser atendida apropriadamente, sem o 
agrupamento de ações e recursos especiais, na própria escola comum com os recursos regulares. 
Todavia, a presença de necessidades educacionais especiais, cujo atendimento esteja além das 
condições e possibilidades dos professores e dos demais recursos escolares comuns, demandará 
a provisão de auxílios e serviços educacionais propiciados por professores especialmente 
preparados para atendê-las. Por outro lado, as necessidades educacionais especiais são, às vezes, 
acompanhadas de necessidades especiais de outras ordens e que requerem também a intervenção 
da escola no sentido de encaminhar, orientar ou viabilizar o atendimento necessário, ainda que 
do âmbito social, médico ou outro, de forma indireta, cooperativa e integrada à educação escolar.
Nesse movimento que, com ênfase crescente, objetiva descartar os serviços educacionais 
segregados e procura, para além da integração, garantir a inclusão de todas as crianças e jovens 
numa escola comum de qualidade “especial”, é fundamental que atitudes de respeito ao outro 
como cidadão sejam concretizadas em ações de reestruturação da escola atual com vistas a tal 
propósito.
Sabemos que não são poucos os educandos que têm suas necessidades educacionais interpretadas 
como especiais ou muito diferentes por parte

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