Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
HELEN MARCONDES – T5 1 FUNDAMENTOS DA PRÁTICA MÉDICA III – PROFº. ELISSON EXAME NEUROLÓGICO Quando uma doença neurológica se instala e gera alteração de força, usa-se esses termos: Paresia: perda parcial de força; Plegia: perda/ausência completa de força; Na neurologia, a força é graduada em 5 estágios. O grau 5 é o grau normal, grau 0 é a ausência completa de força, nesta condição, diz-se que a pessoa tem plegia. Com isso, deve-se endereçar essa plegia, se ela é em membro superior esquerdo, membro superior direito, membro inferior direito, membro inferior esquerdo, uma hemiplegia a esquerda, ou uma paraplegia – perda de força em membros inferiores. Portanto, os termos devem ser utilizados de acordo com a condição clínica. Quando as graduações da força. No grau 1 a pessoa apresenta alguma força, porém não consegue se mexer. É possível visualizar apenas um esboço/contração muscular, mas incapaz de gerar movimento. Neste sentido, por convenção, dá-se o nome de força grau 1. No grau 2 a pessoa não consegue vencer a gravidade, faz apenas movimentos horizontais. No grau 3 a pessoa vence a gravidade, porém não vence a resistência. Consegue ficar pouco tempo vencendo a gravidade, mas diante de uma resistência mínima, não conseguindo manter a posição. Na força grau 4 é possível vencer a gravidade e alguma resistência/oposição de força. Nesses casos devemos graduar, de força subjetiva, a força de grau 4. Ela pode ser grau 4 menos, grau 4 e grau 4 +. A grau 4 menos vence a gravidade, porém vence uma resistência pequena, pois sucumbe a uma força um pouco maior. A grau 4 mais é uma força subnormal (quase normal), pois não é grau 5, mas é próxima disso. E a força grau 4 é uma intermediária entre a grau 4 menos e a grau 4 mais. Na força grau 5 não há alteração de força. EXEMPLO DE SITUAÇÃO 1 Diante de um indivíduo com AVC, por exemplo, ele tem uma perda de força parcial do lado direito. Como isso deve ser passado para o neurologista? Deve-se dizer que o indivíduo teve um AVC agudo, e entendemos no exame físico que ele possui uma hemi paresia a direita. Imagine que essa perda de força é diferente. Por exemplo, a pessoa teve um AVC, e ao examiná-la ela encontra-se com a boca torta – com uma paralisia facial, bem como tem uma perda de força no membro superior, mas que consegue vencer a gravidade e alguma resistência. No entanto, no membro inferior ela consegue vencer a gravidade, mas praticamente não vence a resistência. Como isso deve ser passado para o neurologista? Estamos diante de um paciente com uma hemi paresia a direita, desproporcionada, de predomínio crural (pois neste exemplo o braço apresenta uma força grau 4, e a perna grau 3), o que quer dizer que as pernas estão mais fracas do que os braços. Caso o braço estivesse mais fraco diríamos que se trata de uma hemi paresia a direita, desproporcionada, de predomínio braquial. Portanto, neste tipo de situação, devemos apontar o predomínio no membro mais fraco/prejudicado. Logo após isso, é necessário graduar essa força. Diremos que se trata de uma hemi paresia a direita, de predomínio crural, com força grau 4 em membro superior direito e força grau 3 em membro inferior direito. É importante não se esquecer da paralisia facial. Deve-se analisar se trata de uma paralisia facial central ou periférica. HELEN MARCONDES – T5 2 FUNDAMENTOS DA PRÁTICA MÉDICA III – PROFº. ELISSON Deve-se dizer que há uma hemi paresia a direita, desproporcionada, de predomínio crural, com força grau 4 em membro superior direito, grau 3 em membro inferior direito e paralisia facial central a direita. EXEMPLO DE SITUAÇÃO 2 Paciente, vítima de AVC agudo, hemorrágico, chega com assimetria facial, face em andar inferior esquerdo paralisado, com força grau 4 em membro inferior, e força grau 0 em membro superior a esquerda. Devemos mencionar que o paciente apresenta uma hemi paresia a esquerda, desproporcionada, de predomínio braquial, com força grau 0 em membro superior esquerdo e força grau 4 em membro inferior esquerdo, com paralisia facial central a esquerda. Parestesia: trata-se de uma alteração na sensibilidade. Faz alusão, geralmente, ao formigamento. Muito comum nas neuropatias periféricas, sendo uma doença clássica o diabetes, onde há as parestesias em meias e em luvas bilateralmente. Portanto, a parestesias são alterações em membros inferiores, geralmente no terço distal e em membros superiores, também no terço distal. O termo parestesia não é utilizado para definir a diminuição da sensibilidade, este termo usa-se para formigamento. Quando há redução da sensibilidade, o termo mais adequado é hipoestesia. Trata-se da diminuição da sensibilidade, porém não se refere a perda completa desta sensação. Quando ocorre uma perda completa da sensibilidade, diz-se que ele tem uma anestesia. Quando há um desconforto e tem-se a sensação de que a sensibilidade está aumentada, diz- se que se tem uma hiperestesia. Quando não se consegue configurar a sensação, mas é um desconforto para o paciente, usa-se o termo disestesia. Gnosia: trata-se de reconhecimento. Em algumas doenças o indivíduo perde a capacidade de reconhecer algo. E na ausência de reconhecimento, usa-se o termo agnosia. Mas sempre que se quer utilizar a definição/termo de conhecimento, usa-se na neurologia o termo gnosia. Afasia: precisamos reconhecer 3 tipos de afasia. Ela pode ser motora ou de expressão, afasia de compreensão ou sensitiva e a afasia de condução. Disartria: geralmente, ocorre quando há uma alteração articular por alguma disfunção fonoarticulatória. Portanto, diz respeito a alteração articular. Quando um indivíduo bebe demais, por lesão direta do álcool nas células de Purkinje cerebelares, a pessoa tem alterações no equilibrio e na coordenação, por isso acaba também falando mole. Essa fala mole, é disartria. Quando se tem uma paralisia facial, a boca fica paralisada e a pessoa passa a falar com dificuldade, não articulando bem as palavras, também chamado de disartria. Dislalia: é a fala do Cebolinha. ‘’Pala’’, ‘’Espela’’ ‘’Cole’’. Trata-se de trocas silábicas. Na prática clínica há uma confusão entre disartria e dislalia. Onde na maioria das vezes trata-se de disartria. Na maioria das vezes o paciente pode estar afásico, mas não dislálico. É muito importante ter cuidado na utilização destes termos. Praxia: é a destreza/agilidade em realizar um determinado movimento ou uma determinada função. Quando existe perda na destreza de algo conhecido, usa-se o termo apraxia. EXAME NEUROLÓGICO Anamnese Tudo se inicia com uma boa anamnese e não o exame neurológico propriamente dito. Deve-se iniciar coletando a idade do paciente, visto que na neurologia existem doenças mais comuns em jovens. Crianças com alterações na marcha, perda de força, imagina-se se o paciente não esteja desenvolvendo uma distrofia muscular. Ou uma doença mais comum em idosos, como perda de memória, alterações comportamentais, será que é um possível quadro de demência? A idade na neurologia nos leva para muitas patologias. Também é importante o sexo, pois existem doenças mais frequentes em homens, outras em mulheres. O lado dominante, importante porque doenças que atingem o lado dominante tendem a causar mais prejuízos do que as doenças que atingem o lado não dominante. HELEN MARCONDES – T5 3 FUNDAMENTOS DA PRÁTICA MÉDICA III – PROFº. ELISSON Outra informação importante é saber o tipo de profissão, o tipo de substância que a pessoa teve contato. Será que existe alguma disfunção neurológica por toxicidade de substâncias externas? Após isso devemos colher a queixa principal (QPD) como em todas doenças. Bem como a história da doença atual(HDA), quando ela iniciou. De forma particular, no AVC é muito importante colher essas informações, visto que o tempo de evolução da doença é fundamental. Para a trombolise endovenosa, precisa-se ter 4 horas e meia de evolução no máximo para que haja aplicação da alteplase – trombolítico. É importante verificar a história médica pregressa, qual é a história medicamentos, quais medicamentos esse paciente utiliza. Deve-se colher a história familiar, visto que algumas doenças possuem caráter genético. História social, bem como é importante fazer um bom exame físico geral, como auscultar o coração, visto de 1/3 dos casos, o AVC está relacionado a alguma alteração cardiológica, principalmente a fibrilação atrial. Além disso, deve-se ausculta pulmonar, palpar o abdômen, fazer percussões. Ou seja, fazer um exame físico geral adequado. EXAME NEUROLÓGICO PRÓPRIAMENTE DITO Quando fazemos esse exame, precisamos de uma sequência, porém esta não é regra absoluta. Aqui, será sugerida uma sequência, mas pode-se ocasionalmente inverter a ordem. O ponto é que todas as áreas discriminadas no exame neurológico devem ser abordadas. AVALIAÇÃO DA MARCHA Sempre ao chamar o paciente até a sala de atendimento, deve-se indicar o exame neurológico. Muitas doenças aparecem antes do paciente entrar na sala, suspeita-se de algumas doenças apenas com a observação da marcha. Muitas vezes, no levantar do paciente já podemos pensar em algumas doenças, mesmo com distâncias curtas podemos ter uma boa ideia a respeito da marcha daquele paciente ao analisar como ele desloca-se. É importante observar: Simetria: o movimento é simétrico? Os passos são simétricos? Tamanho dos passos: é importante notar o tamanho dos passos... tem passos longos? Ou passos curtos? São passos normais? Tudo isso nos indica algumas alterações. Postura de balanço dos braços: é importante avaliar a postura, ele está caminhando de forma ereta? Esta encurvado? Tem postura de dor? Como tem sido o balanço dos braços? Simétricos? Com boa amplitude do movimento? Distância entre os pés: a base que o paciente usa para se locomover. Ele usa a base correta e a distância adequada? Ou a sua base é alargada? Joelhos, rotação da pelve, pés: como estão os joelhos? Como é a rotação da pelve? Como é a posição dos pés? Eles estão bem formatados? Ou existe uma tendência de os pés ter um movimento para o meio da linha média ou para fora da linha média? No entanto, o ponto chave é não perder de vista o movimento como um todo. Deve-se analisar todas as particularidades citadas, porém sem perder o movimento como um todo, de forma global. Quais alterações podemos ver com relação a marcha? Marcha parkinsoniana: os pontos principais a serem observados nesta marcha são que o paciente, geralmente, caminha em pequenos passos, não existe um bom balanço dos braços – movimento em bloco/rígido. Geralmente enquanto o paciente caminha, ao passar por um obstáculo/degrau/tapete, ele para subitamente a marcha, e isso é chamado de congelamento - Freeze. E ao tentar a partir dai desenvolver a marcha, faz passos um pouco rápidos até conseguir se estabilizar, isso é chamado de festinação. A marcha parkinsoniana é clássica e não vem sozinha, trata-se, portanto, de uma marcha em pequenos passos, e geralmente, a depender do quadro/tempo de duração da doença, tem-se acompanhados a festinação, freeze e outros sinais cardinais da doença de Parkinson, como a instabilidade postural com centro de gravidade jogado mais para frente, postura mais inclinada, bradicinesia – lentidão dos movimentos e tremor de repouso – tremor em contar dinheiro. HELEN MARCONDES – T5 4 FUNDAMENTOS DA PRÁTICA MÉDICA III – PROFº. ELISSON Marcha hemiplégica: marcha típica do paciente com AVC, existe uma postura de postura de Wernicke mann, onde o paciente fica com o membro superior fletido e a perna estendida, com uma marcha em meia lua, marcha que denota perda de força de um lado do corpo e uma alteração de neurônio motor superior. Neste caso, hemiplegia não significa perda completa de força, mas sim uma perda parcial de força – neste caso a marcha podemos utilizar o termo marcha hemiplégica, mas considerando que o paciente tenha alguma força para se manter em pé. Nestas condições há uma espasticidade muscular, flexão do membro superior, extensão do membro inferior e marcha em meia lua – movimento em ceifa do membro inferior, não conseguindo dobrar o joelho. Marcha miopática: típica das doenças musculares – miopatias, distrofias musculares. Geralmente existe um alargamento da base, e um movimento em báscula – joga o quadril exatamente para compensar a perda de força na região muscular proximal. É o paciente que não consegue subir escadas, por exemplo, ou apresenta dificuldade em subir degraus. Também chamada de marcha rebolante, anserina, marcha da grávida, onde também faz uma hiperlordose compensatória. Se colocarmos esse paciente com miopatia importante deitado, ele precisará de ajuda para se levantar, e mesmo sentado irá levantar escalando-se, isso é chamado levantar miopático de Gowers – levantar em que o indivíduo se escala. Marcha atáxica: a principal ideia são as lesões de fascículo posterior da medula, como fascículo grácil e cuneiforme. A doença clássica é a sífilis terciária. O paciente apresenta uma base alargada, pés bem separados, levanta bastante os pés e bate os calcanhares, não possui a ideia de posição segmentar do corpo – precisa bater o calcanhar para com o som e aumento de sensibilidade de batida entender que ele pode dar o próximo passo. Também conhecida como marcha talonante, porque levanta os pés, bate o calcanhar com força e a base é alargada. Esses pacientes olham para o seu caminhar, olham para o chão para que não errem, exatamente porque o fascículo posterior, responsável pela propriocepção, noção de como está o corpo, encontra-se disfuncional, com isso ele utiliza a batida forte e olhar para se localizar. Marcha cerebelar: também é um tipo de marcha atáxica. O indivíduo tende a aumentar a sua base, porém serão movimentos mais erráticos, como um bêbado andando. Também conhecida como marcha ebriosa, a marcha do bêbado. Ocorre nos AVC’s cerebelares, nas ataxias espinocerebelares – uma série de doenças genéticas que acometem o cerebelo, e também na intoxicação/libação alcoólica – quando a pessoa exagera na bebida alcoólica. Marcha em tesoura: quando existe acometimento do neurônio motor superior bilateralmente – tanto no hemisfério esquerdo, quanto no direito. O paciente cruza a linha média com as duas pernas. Isso geralmente ocorre na marcha em tesoura clássica. Na marcha em tesoura ‘’parcial’’ existe um cruzamento da linha média de ambos os membros, porém não existe o cruzamento de membros inferiores clássico. Por exemplo na espasticidade dos adutores, onde ocorre uma espasticidade e por isso os membros inferiores tendem a aduzir no caminhar. Ocorre de forma frequente na encefalopatia crônica não progressiva – antigamente chamada de paralisia cerebral. Também ocorre nas paraparesias espásticas hereditárias, doença genérica, onde há muito comumente a marcha em tesoura de forma parcial. Ocorre também em uma doença de neurônio motor superior, rara, chamada esclerose lateral primária, típica marcha em tesoura. Marcha apráxica: paciente perde a capacidade e destreza em andar, vista na doença demencial grave, como na doença de Alzheimer de longa evolução. É necessário ajudar o paciente, pois ele tende a vacilar quanto ao próximo passo, os passos são curtos, e ele acaba ficando sem saber o que fazer para dar o próximo passo. Portanto, é necessário segurá-lo e andar junto a ele para que consiga se deslocar. Marcha antálgicae marcha ortopédica: são similares, há alteração por causa da dor e a marcha ortopédica é mais específica de pessoas com falha óssea, ou com sequelas de fraturas corrigidas. Marcha inconsciente: são as pessoas que possuem marcha incongruente, muitas delas simulando. Como em transtornos psiquiátricos onde a pessoa simula uma marcha que não existe. Portanto, sem tocar no paciente, somente pela observação, nós podemos ver várias alterações HELEN MARCONDES – T5 5 FUNDAMENTOS DA PRÁTICA MÉDICA III – PROFº. ELISSON que indicam que indicam determinadas doenças. É importante no primeiro momento, no primeiro ponto, verificar como o paciente se desloca até você. ESTADO MENTAL E AS FUNÇÕES CORTICAIS SUPERIORES Ao avaliar a marcha e já ter o paciente dentro do seu consultório, vamos para o segundo ponto do exame neurológico. Devemos avaliar o estado mental e as funções corticais superiores. Nas aulas com o Dr. Eder e com a Dra. Larissa, eles serão específicos na abordagem da avaliação/exame do estado mental. Aqui, focaremos mais nas funções corticais superiores. Agora com o paciente em sua frente, deve-se testar, pelo menos como forma de triagem, as funções corticais superiores. Esse tipo de exame engloba os seguintes aspectos: Atenção e concentração; Orientação; Linguagem e cálculo; Memória: de curto e longo prazo e de evocação; Construções: existem vários tipos de construção que devem ser analisadas, como a semântica, verbal, raciocino crítico. E com alguns desenhos vê se ele tem uma boa construção visuoespacial; Pensamento abstrato; Autopercepção e juízo crítico; O intelecto como um todo. Da mesma forma como precisa-se ver a marcha como um todo, nas funções corticais superiores essa também é uma regra. Deve-se avaliar cada ponto, porém não deve-se esquecer do intelecto como um todo. A ferramenta que deve-se ser utilizada é o ‘’MINI- EXAME DO ESTADO MENTAL’’. Há outras ferramentas como o Teste MoCA, Avaliação Cognitiva Breve, Teste do Relógio. Mas pela facilidade de acesso e amplo conhecimento, gostaria que cada um tivesse o MINI- EXAME DO ESTADO MENTAL, e que seja uma rotina para nós. MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL É um exame fácil de abordar. Possui vários pontos a serem colocados, e o score varia de 0-30 pontos. Cada acerto que o paciente faz, vai ganhando pontos. Nesse score encontramos a avaliação da orientação – começa-se perguntando o dia, dia do mês, da semana, que mês se está, que ano se está, que horas são (de forma aproximada, havendo uma tolerância de erro de até 30 minutos), em que local se está, qual a instituição, qual bairro se está, nome da cidade, estado. Memória imediata: pede-se para que o paciente grave 3 palavras, como por exemplo, pedra, carro e cama. E a pessoa deve repetir essas palavras. Atenção e cálculo: pergunte sobre um pouco de matemática, quanto é 100 - 7 = 93, -7 = 86, -7 = 79, - 7 = 72, -7 = 65. E então vai se pontuando para cada acerto. Evocação: pergunte novamente as palavras ditas anteriormente e vê-se como será a memória de evocação do paciente. Ou seja, a sua memória recente, analisando se ela está acometida nesse teste de triagem ou não. Linguagem: já deve ir avaliando-se se o paciente apresenta alguma disartria, afasia. Se o paciente tem condições de nomear objetos comuns, como relógio, caneta, carimbo, clipes. Dê um comando ao paciente, uma única vez. Peça para que ele pegue o papel com a mão direita, dobre ao meio e coloque em cima da mesa. E veja quantas ordens ele conseguirá cumprir. Ler e obedecer ‘’Feche os olhos’’. Peça para que o paciente escreva uma frase para você, caso o paciente tenha pouco estudo e não saiba ler e escrever, pode- se utilizar outras formas, como pedir para que ele diga uma frase, comentar uma situação, e assim avalia-se o raciocínio crítico, estrutura de pensamento, se existe alterações de linguagem ou não. E por fim, pede-se para que o paciente copie os pentágonos entrelaçados que segue abaixo. HELEN MARCONDES – T5 6 FUNDAMENTOS DA PRÁTICA MÉDICA III – PROFº. ELISSON A depender do desempenho no MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL, pode-se até diante de um desempenha ruim fechar o diagnóstico de uma síndrome demencial. É importante investigar se a síndrome demencial é reversível, se existem alterações metabólicas ou infecciosas que fizeram com que o paciente chegasse a tal ponto. Como o MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL é um teste de triagem pode não ficar tão clara as informações. Então faz-se testes mais profundos, como testes neuropsicológicos, onde na prática o neuropsicólogo – quem desempenha esse teste, aborda com testes mais profundos cada função cortical superior, como a memória, atenção, cálculo, pensamento abstrato, raciocínio crítico, por exemplo. Estes são testes demorados, que demoram 3-4 horas e geralmente se divide em 2-3 sessões para que se tenha uma ideia mais clara e ampla de como o paciente está. Quando se utiliza o teste neuropsicológico? Imagine que o paciente chegue até você trazido pela esposa e filho, com a história de que ele tem perdida a memória, onde em determinados momentos o seu desempenho cai. Esse paciente era professor universitário, escreveu livros, estudou muito em toda a vida – mestrado, doutorado e pós- doutorado. Então aplica-se o MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL, e dos 30 pontos que ele deveria fazer, ele fez os 30 ou perdeu um ponto e fez 29. Ou seja, o MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL não se fez sensível o suficiente para verificar se existe uma síndrome demencial ou não. Isso porque o paciente em questão apresenta uma boa reserva cognitiva. Neste caso, iremos nos fiar/acreditar no que a família apresenta e encaminhá-lo para um teste mais profundo, como o neuropsicológico. Sempre que existir dúvida diagnóstica, deve-se fazer o teste neuropsicológico. Cuidado com algumas armadilhas para que você não saia dizendo que pelo fato do paciente ter pontuado mal no MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL, que ele saia rotulado como um portador de uma síndrome demencial. Tenha cuidado com quadros de estado confusional agudo. As síndromes demenciais são mais crônicas, mais arrastadas ou subagudas. Quando o estado confusional for agudo, espere um pouco, tenha calma!!!! Na maior parte das vezes, principalmente em idosos, quando existe uma alteração/declínio no desempenho cognitivo de forma aguda, precisa-se pensar em quadros infecciosos, principalmente infecção urinária, e logo depois pneumonia ou alteração metabólica, como desidratação, hiponatremia, que são situações mais frequentes e causam estados confusionais agudos. Em paciente idosos, portanto, com alterações agudas do nível de consciência e do desempenho cognitivo, deve-se pedir exames gerais para descartar infecções ou alterações metabólicas. Por vezes, estaremos diante de pessoas com dificuldades maiores, não por uma doença, mas por baixo nível de inteligência – até mesmo de um ponto de vista genético, onde por exemplo, o pai e a mãe já tinha uma determinada dificuldade e o paciente também tem. Existem situação em que o paciente está deprimido, diante de um quadro de depressão. Nestas condições, não se deve lançar mão de teste para avaliação do desempenho cognitivo. É preciso verificar se realmente existe depressão, ansiedade, tratá-las e quando o paciente estiver melhor submetê-lo ao teste de triagem. Também é importante estar atento com relação a afasia. As vezes o paciente não responderá a questão por não ter entendido, possuindo então uma afasia de compreensão, ou por não conseguir se expressar, existindo uma afasia motora. Portanto, tenha cuidado com as armadilhas para não rotular todo mundo com síndrome demencial. Sendo preciso descartar as outrascausas. Lembre-se que o pensamento abstrato não é abordado no MINI- EXAME DO ESTADO MENTAL, sendo comum fazer alguns testes de forma separada, como perguntar ao paciente: - Quando eu falo para o sr/sra, mais vale um pássaro na mão do que dois voando, o que eu estou querendo dizer? - Em casa de ferreiro, o espeto é de pau, o que eu estou querendo dizer? E vê-se então se o paciente consegue definir a ideia. Ou então coloque para o paciente algo sobre juízo crítico, uma situação da vida real como: - Uma casa está pegando fogo e você está dentro da casa, e no quarto que ainda não pegou fogo você ouve um choro, o que você tem que fazer? HELEN MARCONDES – T5 7 FUNDAMENTOS DA PRÁTICA MÉDICA III – PROFº. ELISSON Naturalmente você está induzindo a pessoa dizer que ela precisa correr do fogo, ir até o quarto e ver se tem uma criança lá, pegá-la e levá-la embora. Pelo menor é isso que se espera. Porém, o paciente com síndrome demencial moderada a grave já não consegue ter essa percepção tão clara. Então, o MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL é um teste de triagem, e se houver dúvida diagnóstica, deve-se encaminhar o paciente para um teste neuropsicológico. É importante não se esquecer de fazer os exames complementares que fazem parte dos protocolos de doença demencial, para aí sim depois ser taxativo com o diagnóstico e iniciar o tratamento. CONCEITURANDO AS AFASIAS As vezes o paciente encontra-se afásico e pensamos que o mesmo não está colaborando com o exame ou existe uma síndrome demencial. Quais são as principais afasias que se tem? Afasia motora: Bem na área roxa onde se tem indicado em vermelho temos a área de Broca, responsável pela palavra falada. Está presente no giro frontal inferior. Uma lesão no giro frontal inferior acarreta afasia de Broca ou motora ou de expressão, sendo as 3 sinônimos. Já na área em ver temos a área de Werneck, responsável pela compreensão da palavra falada, presente no principalmente no giro temporal superior, e no giro supramarginal. Quando existe uma lesão na área de Werneck, o paciente não consegue entender o que ele está falando, e consequentemente há uma alteração na linguagem. Já na área em azul, que comunica a área de Broca com a de Werneck, há fibra chamadas de fibras arqueadas. Lesão nestas regiões gera transtornos de linguagem, sendo eles: Afasia de Werneck: a afasia de Werneck é demonstrada em um paciente que você dá uma ordem e ele não compreende. Porém, fala de uma forma fluente, uma palavra atrás da outras, mas ele irá criar novos termos, jargões (parafasias, jargonofasias). Não há uma perda na fluência da fala, porém as palavras são sem nexo e muitas vezes o paciente usa termos que não existem. Costumo brincar que é a pessoa corajosa que viaja para a China e não sabe chinês, mas finge que sabe. Alguém vai pedir algo a ele, e ele não entenderá nada. Mas para não ficar por baixo, ele sai falando, inventando palavras e jargões para não perder a compostura. Afasia de Broca: o paciente compreende tudo que é falado. Pede-se para que ele obedeça um comando, como levantar a mão direita, e ele a levanta. Porém, quando perguntar o nome dele, ele irá demorar a falar. Na maior parte das vezes na afasia de Broca, se HELEN MARCONDES – T5 8 FUNDAMENTOS DA PRÁTICA MÉDICA III – PROFº. ELISSON tem classicamente uma perda parcial da fluência. Quando mostra-se um relógio para o paciente, mesmo ele sabendo o que é aquele objeto, na hora de falar acaba errando, pois o centro da palavra falada encontra-se lesionado. Comumente troca o nome dos objetos. A afasia pode ser completa, ficando o paciente sem falar nada. Mas na maioria dos casos, é uma afasia parcial, perdendo fluência na fala, falando mais lentamente, mais cautela, escolhendo palavras, colocando palavras errados. No entanto, a percepção/compreensão estará preservada. Afasia de condição: lesão nas fibras arqueadas, há alteração na repetição de palavras. Porém, não encontraremos na prática clínica a afasia de condução pura, geralmente há uma associação com a afasia de Werneck ou com a afasia de Broca. Nos AVC’s extensos pode haver uma afasia mista, tanto de Broca quanto de Werneck, com predomínio de uma ou de outra. Estes são os três principais tipos de afasia, existem outras, como a afasia transcortical motora, semelhante a de Broca, mas nessa afasia consegue-se repetir palavras, e na de Broca não. Afasia transcortical sensitiva, semelhante a de Werneck, porém na afasia transcortical sensitiva consegue-se repetir palavras ou frases e na de Werneck isso não é possível.
Compartilhar