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Exame neurológico 1- Anamnese e Exame Fisicio

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HELEN MARCONDES – T5 
1 FUNDAMENTOS DA PRÁTICA MÉDICA III – PROFº. ELISSON 
EXAME NEUROLÓGICO 
Quando uma doença neurológica se instala e 
gera alteração de força, usa-se esses termos: 
Paresia: perda parcial de força; 
Plegia: perda/ausência completa de força; 
Na neurologia, a força é graduada em 5 
estágios. O grau 5 é o grau normal, grau 0 é a ausência 
completa de força, nesta condição, diz-se que a pessoa 
tem plegia. 
Com isso, deve-se endereçar essa plegia, se 
ela é em membro superior esquerdo, membro 
superior direito, membro inferior direito, membro 
inferior esquerdo, uma hemiplegia a esquerda, ou 
uma paraplegia – perda de força em membros 
inferiores. Portanto, os termos devem ser utilizados de 
acordo com a condição clínica. 
Quando as graduações da força. No grau 1 a 
pessoa apresenta alguma força, porém não consegue 
se mexer. É possível visualizar apenas um 
esboço/contração muscular, mas incapaz de gerar 
movimento. Neste sentido, por convenção, dá-se o 
nome de força grau 1. No grau 2 a pessoa não 
consegue vencer a gravidade, faz apenas movimentos 
horizontais. No grau 3 a pessoa vence a gravidade, 
porém não vence a resistência. Consegue ficar pouco 
tempo vencendo a gravidade, mas diante de uma 
resistência mínima, não conseguindo manter a 
posição. 
Na força grau 4 é possível vencer a gravidade 
e alguma resistência/oposição de força. Nesses casos 
devemos graduar, de força subjetiva, a força de grau 
4. Ela pode ser grau 4 menos, grau 4 e grau 4 +. A grau 
4 menos vence a gravidade, porém vence uma 
resistência pequena, pois sucumbe a uma força um 
pouco maior. A grau 4 mais é uma força subnormal 
(quase normal), pois não é grau 5, mas é próxima 
disso. E a força grau 4 é uma intermediária entre a grau 
4 menos e a grau 4 mais. Na força grau 5 não há 
alteração de força. 
 
 
 
 
EXEMPLO DE SITUAÇÃO 1 
Diante de um indivíduo com AVC, por 
exemplo, ele tem uma perda de força parcial do lado 
direito. 
Como isso deve ser passado para o neurologista? 
Deve-se dizer que o indivíduo teve um AVC agudo, e 
entendemos no exame físico que ele possui uma hemi 
paresia a direita. 
 
Imagine que essa perda de força é diferente. 
Por exemplo, a pessoa teve um AVC, e ao examiná-la 
ela encontra-se com a boca torta – com uma paralisia 
facial, bem como tem uma perda de força no membro 
superior, mas que consegue vencer a gravidade e 
alguma resistência. No entanto, no membro inferior 
ela consegue vencer a gravidade, mas praticamente 
não vence a resistência. 
 
Como isso deve ser passado para o neurologista? 
Estamos diante de um paciente com uma hemi paresia 
a direita, desproporcionada, de predomínio crural 
(pois neste exemplo o braço apresenta uma força grau 
4, e a perna grau 3), o que quer dizer que as pernas 
estão mais fracas do que os braços. 
Caso o braço estivesse mais fraco diríamos que se trata 
de uma hemi paresia a direita, desproporcionada, de 
predomínio braquial. 
 
Portanto, neste tipo de situação, devemos 
apontar o predomínio no membro mais 
fraco/prejudicado. 
Logo após isso, é necessário graduar essa força. 
 
Diremos que se trata de uma hemi paresia a direita, de 
predomínio crural, com força grau 4 em membro 
superior direito e força grau 3 em membro inferior 
direito. 
 
É importante não se esquecer da paralisia 
facial. Deve-se analisar se trata de uma paralisia facial 
central ou periférica. 
 
 
 
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Deve-se dizer que há uma hemi paresia a direita, 
desproporcionada, de predomínio crural, com força 
grau 4 em membro superior direito, grau 3 em 
membro inferior direito e paralisia facial central a 
direita. 
 
EXEMPLO DE SITUAÇÃO 2 
Paciente, vítima de AVC agudo, hemorrágico, 
chega com assimetria facial, face em andar inferior 
esquerdo paralisado, com força grau 4 em membro 
inferior, e força grau 0 em membro superior a 
esquerda. 
Devemos mencionar que o paciente apresenta uma 
hemi paresia a esquerda, desproporcionada, de 
predomínio braquial, com força grau 0 em membro 
superior esquerdo e força grau 4 em membro inferior 
esquerdo, com paralisia facial central a esquerda. 
 
Parestesia: trata-se de uma alteração na sensibilidade. 
Faz alusão, geralmente, ao formigamento. Muito 
comum nas neuropatias periféricas, sendo uma 
doença clássica o diabetes, onde há as parestesias em 
meias e em luvas bilateralmente. 
Portanto, a parestesias são alterações em 
membros inferiores, geralmente no terço distal e em 
membros superiores, também no terço distal. 
O termo parestesia não é utilizado para definir 
a diminuição da sensibilidade, este termo usa-se para 
formigamento. Quando há redução da sensibilidade, 
o termo mais adequado é hipoestesia. Trata-se da 
diminuição da sensibilidade, porém não se refere a 
perda completa desta sensação. Quando ocorre uma 
perda completa da sensibilidade, diz-se que ele tem 
uma anestesia. 
Quando há um desconforto e tem-se a 
sensação de que a sensibilidade está aumentada, diz-
se que se tem uma hiperestesia. Quando não se 
consegue configurar a sensação, mas é um 
desconforto para o paciente, usa-se o termo 
disestesia. 
Gnosia: trata-se de reconhecimento. Em algumas 
doenças o indivíduo perde a capacidade de 
reconhecer algo. E na ausência de reconhecimento, 
usa-se o termo agnosia. Mas sempre que se quer 
utilizar a definição/termo de conhecimento, usa-se na 
neurologia o termo gnosia. 
Afasia: precisamos reconhecer 3 tipos de afasia. Ela 
pode ser motora ou de expressão, afasia de 
compreensão ou sensitiva e a afasia de condução. 
Disartria: geralmente, ocorre quando há uma 
alteração articular por alguma disfunção 
fonoarticulatória. Portanto, diz respeito a alteração 
articular. Quando um indivíduo bebe demais, por 
lesão direta do álcool nas células de Purkinje 
cerebelares, a pessoa tem alterações no equilibrio e na 
coordenação, por isso acaba também falando mole. 
Essa fala mole, é disartria. Quando se tem uma 
paralisia facial, a boca fica paralisada e a pessoa passa 
a falar com dificuldade, não articulando bem as 
palavras, também chamado de disartria. 
Dislalia: é a fala do Cebolinha. ‘’Pala’’, ‘’Espela’’ 
‘’Cole’’. Trata-se de trocas silábicas. 
Na prática clínica há uma confusão entre 
disartria e dislalia. Onde na maioria das vezes trata-se 
de disartria. Na maioria das vezes o paciente pode 
estar afásico, mas não dislálico. É muito importante ter 
cuidado na utilização destes termos. 
Praxia: é a destreza/agilidade em realizar um 
determinado movimento ou uma determinada 
função. Quando existe perda na destreza de algo 
conhecido, usa-se o termo apraxia. 
 
EXAME NEUROLÓGICO 
 Anamnese 
Tudo se inicia com uma boa anamnese e não o 
exame neurológico propriamente dito. 
Deve-se iniciar coletando a idade do paciente, 
visto que na neurologia existem doenças mais comuns 
em jovens. Crianças com alterações na marcha, perda 
de força, imagina-se se o paciente não esteja 
desenvolvendo uma distrofia muscular. Ou uma 
doença mais comum em idosos, como perda de 
memória, alterações comportamentais, será que é um 
possível quadro de demência? A idade na neurologia 
nos leva para muitas patologias. 
Também é importante o sexo, pois existem 
doenças mais frequentes em homens, outras em 
mulheres. O lado dominante, importante porque 
doenças que atingem o lado dominante tendem a 
causar mais prejuízos do que as doenças que atingem 
o lado não dominante. 
 
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Outra informação importante é saber o tipo de 
profissão, o tipo de substância que a pessoa teve 
contato. Será que existe alguma disfunção neurológica 
por toxicidade de substâncias externas? 
Após isso devemos colher a queixa principal 
(QPD) como em todas doenças. Bem como a história 
da doença atual(HDA), quando ela iniciou. De forma 
particular, no AVC é muito importante colher essas 
informações, visto que o tempo de evolução da 
doença é fundamental. Para a trombolise endovenosa, 
precisa-se ter 4 horas e meia de evolução no máximo 
para que haja aplicação da alteplase – trombolítico. 
É importante verificar a história médica 
pregressa, qual é a história medicamentos, quais 
medicamentos esse paciente utiliza. Deve-se colher a 
história familiar, visto que algumas doenças possuem 
caráter genético. História social, bem como é 
importante fazer um bom exame físico geral, como 
auscultar o coração, visto de 1/3 dos casos, o AVC está 
relacionado a alguma alteração cardiológica, 
principalmente a fibrilação atrial. Além disso, deve-se 
ausculta pulmonar, palpar o abdômen, fazer 
percussões. Ou seja, fazer um exame físico geral 
adequado. 
 
EXAME NEUROLÓGICO PRÓPRIAMENTE DITO 
Quando fazemos esse exame, precisamos de 
uma sequência, porém esta não é regra absoluta. 
Aqui, será sugerida uma sequência, mas pode-se 
ocasionalmente inverter a ordem. O ponto é que 
todas as áreas discriminadas no exame neurológico 
devem ser abordadas. 
 
AVALIAÇÃO DA MARCHA 
Sempre ao chamar o paciente até a sala de 
atendimento, deve-se indicar o exame neurológico. 
Muitas doenças aparecem antes do paciente entrar na 
sala, suspeita-se de algumas doenças apenas com a 
observação da marcha. Muitas vezes, no levantar do 
paciente já podemos pensar em algumas doenças, 
mesmo com distâncias curtas podemos ter uma boa 
ideia a respeito da marcha daquele paciente ao 
analisar como ele desloca-se. 
 
 
É importante observar: 
Simetria: o movimento é simétrico? Os passos são 
simétricos? 
 
Tamanho dos passos: é importante notar o tamanho 
dos passos... tem passos longos? Ou passos curtos? 
São passos normais? Tudo isso nos indica algumas 
alterações. 
 
Postura de balanço dos braços: é importante avaliar a 
postura, ele está caminhando de forma ereta? Esta 
encurvado? Tem postura de dor? Como tem sido o 
balanço dos braços? Simétricos? Com boa amplitude 
do movimento? 
 
Distância entre os pés: a base que o paciente usa para 
se locomover. Ele usa a base correta e a distância 
adequada? Ou a sua base é alargada? 
 
Joelhos, rotação da pelve, pés: como estão os 
joelhos? Como é a rotação da pelve? Como é a posição 
dos pés? Eles estão bem formatados? Ou existe uma 
tendência de os pés ter um movimento para o meio da 
linha média ou para fora da linha média? 
 
No entanto, o ponto chave é não perder de 
vista o movimento como um todo. Deve-se analisar 
todas as particularidades citadas, porém sem perder o 
movimento como um todo, de forma global. 
 
Quais alterações podemos ver com relação a 
marcha? 
 
Marcha parkinsoniana: os pontos principais a serem 
observados nesta marcha são que o paciente, 
geralmente, caminha em pequenos passos, não existe 
um bom balanço dos braços – movimento em 
bloco/rígido. Geralmente enquanto o paciente 
caminha, ao passar por um obstáculo/degrau/tapete, 
ele para subitamente a marcha, e isso é chamado de 
congelamento - 
Freeze. E ao tentar a partir dai desenvolver a marcha, 
faz passos um pouco rápidos até conseguir se 
estabilizar, isso é chamado de festinação. A marcha 
parkinsoniana é clássica e não vem sozinha, trata-se, 
portanto, de uma marcha em pequenos passos, e 
geralmente, a depender do quadro/tempo de duração 
da doença, tem-se acompanhados a festinação, freeze 
e outros sinais cardinais da doença de Parkinson, 
como a instabilidade postural com centro de 
gravidade jogado mais para frente, postura mais 
inclinada, bradicinesia – lentidão dos movimentos e 
tremor de repouso – tremor em contar dinheiro. 
 
 
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Marcha hemiplégica: marcha típica do paciente com 
AVC, existe uma postura de postura de Wernicke 
mann, onde o paciente fica com o membro superior 
fletido e a perna estendida, com uma marcha em meia 
lua, marcha que denota perda de força de um lado do 
corpo e uma alteração de neurônio motor superior. 
Neste caso, hemiplegia não significa perda completa 
de força, mas sim uma perda parcial de força – neste 
caso a marcha podemos utilizar o termo marcha 
hemiplégica, mas considerando que o paciente tenha 
alguma força para se manter em pé. Nestas condições 
há uma espasticidade muscular, flexão do membro 
superior, extensão do membro inferior e marcha em 
meia lua – movimento em ceifa do membro inferior, 
não conseguindo dobrar o joelho. 
 
Marcha miopática: típica das doenças musculares – 
miopatias, distrofias musculares. Geralmente existe 
um alargamento da base, e um movimento em 
báscula – joga o quadril exatamente para compensar 
a perda de força na região muscular proximal. É o 
paciente que não consegue subir escadas, por 
exemplo, ou apresenta dificuldade em subir degraus. 
Também chamada de marcha rebolante, anserina, 
marcha da grávida, onde também faz uma 
hiperlordose compensatória. 
Se colocarmos esse paciente com miopatia importante 
deitado, ele precisará de ajuda para se levantar, e 
mesmo sentado irá levantar escalando-se, isso é 
chamado levantar miopático de Gowers – levantar em 
que o indivíduo se escala. 
 
Marcha atáxica: a principal ideia são as lesões de 
fascículo posterior da medula, como fascículo grácil e 
cuneiforme. A doença clássica é a sífilis terciária. O 
paciente apresenta uma base alargada, pés bem 
separados, levanta bastante os pés e bate os 
calcanhares, não possui a ideia de posição segmentar 
do corpo – precisa bater o calcanhar para com o som 
e aumento de sensibilidade de batida entender que 
ele pode dar o próximo passo. Também conhecida 
como marcha talonante, porque levanta os pés, bate 
o calcanhar com força e a base é alargada. Esses 
pacientes olham para o seu caminhar, olham para o 
chão para que não errem, exatamente porque o 
fascículo posterior, responsável pela propriocepção, 
noção de como está o corpo, encontra-se disfuncional, 
com isso ele utiliza a batida forte e olhar para se 
localizar. 
 
Marcha cerebelar: também é um tipo de marcha 
atáxica. O indivíduo tende a aumentar a sua base, 
porém serão movimentos mais erráticos, como um 
bêbado andando. Também conhecida como marcha 
ebriosa, a marcha do bêbado. Ocorre nos AVC’s 
cerebelares, nas ataxias espinocerebelares – uma 
série de doenças genéticas que acometem o cerebelo, 
e também na intoxicação/libação alcoólica – quando a 
pessoa exagera na bebida alcoólica. 
 
Marcha em tesoura: quando existe acometimento do 
neurônio motor superior bilateralmente – tanto no 
hemisfério esquerdo, quanto no direito. O paciente 
cruza a linha média com as duas pernas. Isso 
geralmente ocorre na marcha em tesoura clássica. Na 
marcha em tesoura ‘’parcial’’ existe um cruzamento 
da linha média de ambos os membros, porém não 
existe o cruzamento de membros inferiores clássico. 
Por exemplo na espasticidade dos adutores, onde 
ocorre uma espasticidade e por isso os membros 
inferiores tendem a aduzir no caminhar. Ocorre de 
forma frequente na encefalopatia crônica não 
progressiva – antigamente chamada de paralisia 
cerebral. Também ocorre nas paraparesias espásticas 
hereditárias, doença genérica, onde há muito 
comumente a marcha em tesoura de forma parcial. 
Ocorre também em uma doença de neurônio motor 
superior, rara, chamada esclerose lateral primária, 
típica marcha em tesoura. 
 
Marcha apráxica: paciente perde a capacidade e 
destreza em andar, vista na doença demencial grave, 
como na doença de Alzheimer de longa evolução. É 
necessário ajudar o paciente, pois ele tende a vacilar 
quanto ao próximo passo, os passos são curtos, e ele 
acaba ficando sem saber o que fazer para dar o 
próximo passo. Portanto, é necessário segurá-lo e 
andar junto a ele para que consiga se deslocar. 
 
Marcha antálgicae marcha ortopédica: são similares, 
há alteração por causa da dor e a marcha ortopédica é 
mais específica de pessoas com falha óssea, ou com 
sequelas de fraturas corrigidas. 
 
Marcha inconsciente: são as pessoas que possuem 
marcha incongruente, muitas delas simulando. Como 
em transtornos psiquiátricos onde a pessoa simula 
uma marcha que não existe. 
 
Portanto, sem tocar no paciente, somente 
pela observação, nós podemos ver várias alterações 
 
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que indicam que indicam determinadas doenças. É 
importante no primeiro momento, no primeiro ponto, 
verificar como o paciente se desloca até você. 
 
 
ESTADO MENTAL E AS FUNÇÕES CORTICAIS 
SUPERIORES 
 
Ao avaliar a marcha e já ter o paciente dentro do 
seu consultório, vamos para o segundo ponto do 
exame neurológico. Devemos avaliar o estado mental 
e as funções corticais superiores. 
 
Nas aulas com o Dr. Eder e com a Dra. Larissa, eles serão 
específicos na abordagem da avaliação/exame do estado mental. 
Aqui, focaremos mais nas funções corticais superiores. 
 
 
Agora com o paciente em sua frente, deve-se 
testar, pelo menos como forma de triagem, as funções 
corticais superiores. 
 
Esse tipo de exame engloba os seguintes aspectos: 
 Atenção e concentração; 
 Orientação; 
 Linguagem e cálculo; 
 Memória: de curto e longo prazo e de evocação; 
 Construções: existem vários tipos de construção que 
devem ser analisadas, como a semântica, verbal, 
raciocino crítico. E com alguns desenhos vê se ele tem 
uma boa construção visuoespacial; 
 Pensamento abstrato; 
 Autopercepção e juízo crítico; 
 O intelecto como um todo. 
 
Da mesma forma como precisa-se ver a 
marcha como um todo, nas funções corticais 
superiores essa também é uma regra. Deve-se avaliar 
cada ponto, porém não deve-se esquecer do intelecto 
como um todo. 
A ferramenta que deve-se ser utilizada é o ‘’MINI-
EXAME DO ESTADO MENTAL’’. Há outras ferramentas 
como o Teste MoCA, Avaliação Cognitiva Breve, Teste 
do Relógio. Mas pela facilidade de acesso e amplo 
conhecimento, gostaria que cada um tivesse o MINI-
EXAME DO ESTADO MENTAL, e que seja uma rotina 
para nós. 
 
MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL 
É um exame fácil de abordar. Possui vários pontos 
a serem colocados, e o score varia de 0-30 pontos. 
Cada acerto que o paciente faz, vai ganhando pontos. 
Nesse score encontramos a avaliação da orientação – 
começa-se perguntando o dia, dia do mês, da semana, 
que mês se está, que ano se está, que horas são (de 
forma aproximada, havendo uma tolerância de erro de 
até 30 minutos), em que local se está, qual a 
instituição, qual bairro se está, nome da cidade, 
estado. 
 
Memória imediata: pede-se para que o paciente grave 
3 palavras, como por exemplo, pedra, carro e cama. E 
a pessoa deve repetir essas palavras. 
 
Atenção e cálculo: pergunte sobre um pouco de 
matemática, quanto é 100 - 7 = 93, -7 = 86, -7 = 79, - 7 
= 72, -7 = 65. E então vai se pontuando para cada 
acerto. 
 
Evocação: pergunte novamente as palavras ditas 
anteriormente e vê-se como será a memória de 
evocação do paciente. Ou seja, a sua memória 
recente, analisando se ela está acometida nesse teste 
de triagem ou não. 
 
Linguagem: já deve ir avaliando-se se o paciente 
apresenta alguma disartria, afasia. Se o paciente tem 
condições de nomear objetos comuns, como relógio, 
caneta, carimbo, clipes. 
Dê um comando ao paciente, uma única vez. Peça 
para que ele pegue o papel com a mão direita, dobre 
ao meio e coloque em cima da mesa. E veja quantas 
ordens ele conseguirá cumprir. 
Ler e obedecer ‘’Feche os olhos’’. Peça para que o 
paciente escreva uma frase para você, caso o paciente 
tenha pouco estudo e não saiba ler e escrever, pode-
se utilizar outras formas, como pedir para que ele diga 
uma frase, comentar uma situação, e assim avalia-se o 
raciocínio crítico, estrutura de pensamento, se existe 
alterações de linguagem ou não. E por fim, pede-se 
para que o paciente copie os pentágonos entrelaçados 
que segue abaixo. 
 
 
 
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A depender do desempenho no MINI-EXAME DO 
ESTADO MENTAL, pode-se até diante de um 
desempenha ruim fechar o diagnóstico de uma 
síndrome demencial. 
É importante investigar se a síndrome demencial é 
reversível, se existem alterações metabólicas ou 
infecciosas que fizeram com que o paciente chegasse 
a tal ponto. 
Como o MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL é 
um teste de triagem pode não ficar tão clara as 
informações. Então faz-se testes mais profundos, 
como testes neuropsicológicos, onde na prática o 
neuropsicólogo – quem desempenha esse teste, 
aborda com testes mais profundos cada função 
cortical superior, como a memória, atenção, cálculo, 
pensamento abstrato, raciocínio crítico, por exemplo. 
Estes são testes demorados, que demoram 3-4 horas 
e geralmente se divide em 2-3 sessões para que se 
tenha uma ideia mais clara e ampla de como o 
paciente está. 
 
Quando se utiliza o teste neuropsicológico? 
Imagine que o paciente chegue até você trazido 
pela esposa e filho, com a história de que ele tem 
perdida a memória, onde em determinados 
momentos o seu desempenho cai. Esse paciente era 
professor universitário, escreveu livros, estudou muito 
em toda a vida – mestrado, doutorado e pós-
doutorado. Então aplica-se o MINI-EXAME DO ESTADO 
MENTAL, e dos 30 pontos que ele deveria fazer, ele fez 
os 30 ou perdeu um ponto e fez 29. 
Ou seja, o MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL não 
se fez sensível o suficiente para verificar se existe uma 
síndrome demencial ou não. Isso porque o paciente 
em questão apresenta uma boa reserva cognitiva. 
Neste caso, iremos nos fiar/acreditar no que a família 
apresenta e encaminhá-lo para um teste mais 
profundo, como o neuropsicológico. Sempre que 
existir dúvida diagnóstica, deve-se fazer o teste 
neuropsicológico. 
 
Cuidado com algumas armadilhas para que você 
não saia dizendo que pelo fato do paciente ter 
pontuado mal no MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL, 
que ele saia rotulado como um portador de uma 
síndrome demencial. Tenha cuidado com quadros de 
estado confusional agudo. As síndromes demenciais 
são mais crônicas, mais arrastadas ou subagudas. 
Quando o estado confusional for agudo, espere um 
pouco, tenha calma!!!! 
Na maior parte das vezes, principalmente em 
idosos, quando existe uma alteração/declínio no 
desempenho cognitivo de forma aguda, precisa-se 
pensar em quadros infecciosos, principalmente 
infecção urinária, e logo depois pneumonia ou 
alteração metabólica, como desidratação, 
hiponatremia, que são situações mais frequentes e 
causam estados confusionais agudos. 
Em paciente idosos, portanto, com alterações 
agudas do nível de consciência e do desempenho 
cognitivo, deve-se pedir exames gerais para descartar 
infecções ou alterações metabólicas. 
Por vezes, estaremos diante de pessoas com 
dificuldades maiores, não por uma doença, mas por 
baixo nível de inteligência – até mesmo de um ponto 
de vista genético, onde por exemplo, o pai e a mãe já 
tinha uma determinada dificuldade e o paciente 
também tem. 
Existem situação em que o paciente está 
deprimido, diante de um quadro de depressão. Nestas 
condições, não se deve lançar mão de teste para 
avaliação do desempenho cognitivo. É preciso verificar 
se realmente existe depressão, ansiedade, tratá-las e 
quando o paciente estiver melhor submetê-lo ao teste 
de triagem. 
Também é importante estar atento com relação a 
afasia. As vezes o paciente não responderá a questão 
por não ter entendido, possuindo então uma afasia de 
compreensão, ou por não conseguir se expressar, 
existindo uma afasia motora. 
Portanto, tenha cuidado com as armadilhas para 
não rotular todo mundo com síndrome demencial. 
Sendo preciso descartar as outrascausas. Lembre-se 
que o pensamento abstrato não é abordado no MINI-
EXAME DO ESTADO MENTAL, sendo comum fazer 
alguns testes de forma separada, como perguntar ao 
paciente: 
 
- Quando eu falo para o sr/sra, mais vale um pássaro 
na mão do que dois voando, o que eu estou querendo 
dizer? 
- Em casa de ferreiro, o espeto é de pau, o que eu 
estou querendo dizer? 
 
E vê-se então se o paciente consegue definir a 
ideia. Ou então coloque para o paciente algo sobre 
juízo crítico, uma situação da vida real como: 
 
- Uma casa está pegando fogo e você está dentro da 
casa, e no quarto que ainda não pegou fogo você 
ouve um choro, o que você tem que fazer? 
 
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Naturalmente você está induzindo a pessoa dizer 
que ela precisa correr do fogo, ir até o quarto e ver se 
tem uma criança lá, pegá-la e levá-la embora. Pelo 
menor é isso que se espera. Porém, o paciente com 
síndrome demencial moderada a grave já não 
consegue ter essa percepção tão clara. 
 
Então, o MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL é um 
teste de triagem, e se houver dúvida diagnóstica, 
deve-se encaminhar o paciente para um teste 
neuropsicológico. É importante não se esquecer de 
fazer os exames complementares que fazem parte dos 
protocolos de doença demencial, para aí sim depois 
ser taxativo com o diagnóstico e iniciar o tratamento. 
 
 CONCEITURANDO AS AFASIAS 
As vezes o paciente encontra-se afásico e 
pensamos que o mesmo não está colaborando com o 
exame ou existe uma síndrome demencial. 
 
Quais são as principais afasias que se tem? 
 Afasia motora: 
Bem na área roxa onde se tem indicado em vermelho 
temos a área de Broca, responsável pela palavra 
falada. Está presente no giro frontal inferior. Uma 
lesão no giro frontal inferior acarreta afasia de Broca 
ou motora ou de expressão, sendo as 3 sinônimos. 
 
Já na área em ver temos a área de Werneck, 
responsável pela compreensão da palavra falada, 
presente no principalmente no giro temporal 
superior, e no giro supramarginal. Quando existe uma 
lesão na área de Werneck, o paciente não consegue 
entender o que ele está falando, e 
consequentemente há uma alteração na linguagem. 
 
 
 
Já na área em azul, que comunica a área de Broca com 
a de Werneck, há fibra chamadas de fibras arqueadas. 
 
 
 
Lesão nestas regiões gera transtornos de linguagem, 
sendo eles: 
 
 Afasia de Werneck: a afasia de Werneck é 
demonstrada em um paciente que você dá uma ordem 
e ele não compreende. Porém, fala de uma forma 
fluente, uma palavra atrás da outras, mas ele irá criar 
novos termos, jargões (parafasias, jargonofasias). Não 
há uma perda na fluência da fala, porém as palavras 
são sem nexo e muitas vezes o paciente usa termos 
que não existem. 
 
Costumo brincar que é a pessoa corajosa que viaja para a 
China e não sabe chinês, mas finge que sabe. Alguém vai 
pedir algo a ele, e ele não entenderá nada. Mas para não 
ficar por baixo, ele sai falando, inventando palavras e 
jargões para não perder a compostura. 
 
 
 Afasia de Broca: o paciente compreende tudo que é 
falado. Pede-se para que ele obedeça um comando, 
como levantar a mão direita, e ele a levanta. Porém, 
quando perguntar o nome dele, ele irá demorar a 
falar. Na maior parte das vezes na afasia de Broca, se 
 
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8 FUNDAMENTOS DA PRÁTICA MÉDICA III – PROFº. ELISSON 
tem classicamente uma perda parcial da fluência. 
Quando mostra-se um relógio para o paciente, mesmo 
ele sabendo o que é aquele objeto, na hora de falar 
acaba errando, pois o centro da palavra falada 
encontra-se lesionado. Comumente troca o nome dos 
objetos. A afasia pode ser completa, ficando o 
paciente sem falar nada. Mas na maioria dos casos, é 
uma afasia parcial, perdendo fluência na fala, falando 
mais lentamente, mais cautela, escolhendo palavras, 
colocando palavras errados. No entanto, a 
percepção/compreensão estará preservada. 
 
 Afasia de condição: lesão nas fibras arqueadas, há 
alteração na repetição de palavras. Porém, não 
encontraremos na prática clínica a afasia de condução 
pura, geralmente há uma associação com a afasia de 
Werneck ou com a afasia de Broca. 
 
Nos AVC’s extensos pode haver uma afasia mista, 
tanto de Broca quanto de Werneck, com predomínio 
de uma ou de outra. 
Estes são os três principais tipos de afasia, existem 
outras, como a afasia transcortical motora, 
semelhante a de Broca, mas nessa afasia consegue-se 
repetir palavras, e na de Broca não. Afasia 
transcortical sensitiva, semelhante a de Werneck, 
porém na afasia transcortical sensitiva consegue-se 
repetir palavras ou frases e na de Werneck isso não é 
possível.

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