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© sh ut te rs to ck ARTE E MUSICALIZAÇÃO APLICADAS À EDUCAÇÃO Professor Me. João Carlos Dias Furtado GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; FURTADO, João Carlos Dias. Arte e Musicalização Aplicadas à Educação. João Carlos Dias Furtado. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. 179 p. “Graduação - EaD”. 1. Arte. 2. Musicalização. 3. Educação. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0414-4 CDD - 22 ed. 370 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard Coordenador de Conteúdo Márcia Maria Previato de Souza Designer Educacional Isabela Agulhon Ventura Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração Melina Belusse Ramos Qualidade Textual Yara Martins Dias Pedro Afondo Barth Ilustração Marcelo Goto Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Pró-Reitor de Ensino de EAD Diretoria de Graduação e Pós-graduação Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R Professor Me. João Carlos Dias Furtado Doutorando em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mestre em Letras com ênfase em Literatura pela Universidade Estadual de Maringá (2011). Graduado em Letras Português/Inglês pela Universidade Estadual de Maringá (2007). Experiência em docência no Ensino Superior presencial e a distância, no Ensino Médio e Fundamental. Atualmente, trabalha no Centro Universitário de Maringá (UniCesumar), desde 2013, e Colégio Marista de Maringá, desde 2008. http://lattes.cnpq.br/8086963414003127 SEJA BEM-VINDO(A)! Caro(a) aluno(a), seja muito bem-vindo(a) ao universo do conhecimento! Este livro tem o intuito de ser um guia de conceitos, teorias, exemplos e práticas que au- xiliem nossa caminhada junto à disciplina de Arte e Musicalização Aplicadas à Educação, uma disciplina que faz parte do seu curso de Licenciatura em Pedagogia. Este material tem por objetivo construir reflexões, discussões que contribuam para o nosso crescimento acadêmico e profissional, por isso, ele é composto de partes teóricas e práticas para que você possa verificar o seu desenvolvimento, assim, cada atividade, cada texto têm um único propósito: adentrarmos fundo nesse imenso universo do co- nhecimento. Vamos juntos nesse desafio? Nosso livro está dividido em cinco unidades. A unidade I discute sobre os princípios da Arte, seu percurso histórico, sua função no ambiente escolar. A Unidade II apresenta uma historiografia da Arte, origem, momentos marcantes, tendências e estéticas desen- volvidas. A Unidade III apresenta uma historiografia da Música, origem, fundamentos básicos, desenvolvimento e estéticas relevantes. A Unidade IV discute sobre Metodolo- gias de Ensino de Arte e Musicalização na escola. A Unidade V resgata os princípios te- óricos discutidos e propõe planos de ensino de Arte e Musicalização para o ciclo básico de ensino. Tenho certeza que, ao observar esse panorama geral sobre as unidades do livro, você já se animou para ler, realizar as atividades e assistir a aulas conceituais e ao vivo, uma vez que estudar esse universo artístico é estudar um pouco da história da humanidade e, consequentemente, encontrar um pouco de cada um de nós nesses períodos e esté- ticas. O nosso objetivo é terminar esta caminhada com solidez, certezas e desejo de aplicar os conteúdos estudados em uma prática pedagógica real e consciente, por isso, a relação entre as teorias e práticas estão presentes neste livro para podermos aliar conhecimento a atitudes profissionais eficazes. A realidade atual exige uma atitude profissional e coerente com as novas teorias, tecno- logias e princípios pedagógicos, a partir disso, este material será um suporte de consul- tas constantes para o momento da disciplinae para outros momentos em que necessi- tarmos retomar e revisar a nossa conduta em sala de aula ou na coordenação. Caro(a) aluno(a), desejo uma ótima corrida pelo universo do conhecimento, que este livro contribua para sua formação de forma significativa na sua prática como pedago- go(a). Bons estudos! Professor Me. João Carlos. APRESENTAÇÃO ARTE E MUSICALIZAÇÃO APLICADAS À EDUCAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I ARTE: O QUE É? 15 Introdução 16 Definindo o que é arte 20 Arte Versus Arte 23 Arte na Escola e o Plano Curricular Nacional 28 A Historiografia do Ensino de Arte na Escola Brasileira 32 Considerações Finais 39 Referências 41 Gabarito UNIDADE II ARTE: UM PANORAMA HISTÓRICO 45 Introdução 46 Arte na Pré-História 48 Arte Egípicia 51 Arte Grega 56 Arte Romana, Bizantina e Gótica 60 Arte do Oriente 61 Arte e Inovação 64 Arte Barroca 66 Arte no Brasil SUMÁRIO 10 76 Considerações Finais 83 Referências 84 Gabarito UNIDADE III MUSICALIZAÇÃO: UM PANORAMA HISTÓRICO 87 Introdução 88 Música e o Ser Humano 89 Música na Pré-História 92 Música no Oriente 99 Música no Brasil 109 Cantigas e Brincadeiras de Roda 112 Considerações Finais 119 Referências 120 Gabarito UNIDADE IV METODOLOGIA, PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO NA DISCIPLINA DE ARTE 123 Introdução 124 Ensino de Arte na Escola 126 Metodologia SUMÁRIO 11 129 Planejamento da Aula de Arte 132 Avaliação 134 Arte e Fruição na Escola 137 Considerações Finais 144 Referências 145 Gabarito UNIDADE V PROPOSTAS DE ENSINO DE ARTE NA PRÁTICA 149 Introdução 150 Concepção de Ensino de Arte 152 Artes Visuais 156 Teatro 161 Música 166 Dança 169 Considerações Finais 177 Referências 178 Gabarito 179 CONCLUSÃO U N ID A D E I Professor Me. João Carlos Dias Furtado ARTE: O QUE É? Objetivos de Aprendizagem ■ Conceituar arte. ■ Refletir sobre as produções artísticas. ■ Entender a importância da arte para o plano escolar. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Definindo o que é arte ■ Arte versus Arte ■ Arte na escola e o Plano Curricular Nacional ■ A historiografia do ensino de Arte na escola brasileira INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), iniciamos a nossa jornada rumo ao universo do conhecimento refletindo um pouco sobre o nosso cotidiano e o senso comum, pois o nosso dia a dia é repleto de acontecimentos e fatos corriqueiros que nem sempre damos a atenção necessária. Vamos pensar nos momentos em que ligamos a televisão e ouvimos notícias como “nova exposição de Arte Moderna chega ao Brasil”, “os brasileiros são mes- tres na Arte de sobreviver às crises”. Desliga a TV, liga o rádio e ouve propagandas “desenvolva sua Arte no atelier X”, “seja um verdadeiro Artista da gastronomia”, “faça o verdadeiro curso de culinária”. Depois, abre o notebook em um site qual- quer e vê a propaganda de uma montadora de carro que diz “carro X é uma Arte contemporânea, compre e viva essa nova tendência”. Nesse mesmo momento, seu filho passa fazendo aquela bagunça, e você logo diz “filho, que Arte é essa? Pare logo com essa bagunça!”. Veja como usamos a palavra ARTE em diversos contextos comunicativos e com os mais variados sentidos. Toda essa possibilidade que a língua nos permite faz com que, muitas vezes, deixemos de lado um aprofundamento dos conceitos e significados que as palavras e expressões têm. Evidentemente isso não ocorre só com a palavra ARTE, mas com muitas palavras e sua polissemia, porém, para nós, estudantes da disciplina Arte e Musicalização aplicadas à Educação, é neces- sário adentrarmos em uma discussão mais profunda sobre o conceito, função, aplicabilidade e importância na escola da Arte. O objetivo desta primeira unidade é que você entenda o conceito de arte e suas diferentes manifestações, refletindo sobre a pluralidade e importância da arte na escola, na formação do aluno e como foi trabalhada ao longo dos anos no sistema educacional brasileiro. Por isso, caro(a) aluno(a), aperte o cinto, acomode-se bem em seu assento e vamos acelerar nesta estrada do conhecimento e neste universo artístico para explorar suas particularidades fundamentais e utilizar o conceito da palavra Arte adequadamente nos contextos em que ela aparece, especialmente no âmbito escolar. Bons estudos! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 © sh ut te rs to ck ARTE: O QUE É? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 DEFININDO O QUE É ARTE Definir Arte não é uma tarefa fácil, ou melhor: não há uma resposta que satis- faça todas as nuances que a Arte possibilita. Por isso, a nossa primeira intenção é verificar como ela foi entendida e como é possível trazer uma definição para a escola, pensando na Educação Infantil e Ensino Fundamental. Princípios filosóficos, estéticos e estruturais foram apresentados nos últimos cinco séculos para abarcar uma definição completa, todavia nenhuma conse- guiu alcançar esse objetivo. Muitos teóricos e artistas, como Weitz, Carroll, Danto, Dickie, Levinson, no fim do século passado, postularam suas ideias sobre Arte, no entanto, com uma visão funcionalista. Davies (1991) propôs uma abordagem baseada em dois parâmetros: funcional e procedimental. De acordo com o autor, a Arte tem um caráter funcional, ou seja, a Arte tem uma função de satisfazer ou executar algo, uma capacidade cognitiva, sensorial, definição real; e o caráter procedimental é Definindo o que é arte Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 o que permite identificar o objeto como arte, valores adquiridos que têm o esta- tuto de arte, definição semântica. Evidentemente essa visão não consegue atender a todas as necessidades do universo artístico, mesmo estendendo as definições no campo estético, institu- cional e histórico. Pois é difícil conseguir teorizar todas as produções artísticas realizadas e as que ainda serão feitas, porque a distinção entre identificar o que é arte e a natureza da arte são coisas diferentes. Afirmar que a arte é de caráter nominal indica uma concepção procedimen- tal, e definir a natureza da arte é buscar a realidade artística, caráter funcional, segundo o conceito de Davies (1991). Como classificar uma obra clássica do Império Romano e utilizar os mes- mos critérios de avaliação para uma arte pertencente às Vanguardas Europeias do início do século XX. Isso é possível? Será possível utilizar os mesmos crité- rios para uma obra barroca de Antônio Francisco Lisboa, O Aleijadinho e uma obra modernista de Tarsila do Amaral? Olhe o quadro do pintor renascentista italiano Leonardo da Vinci “Madona do Cravo”: Figura 1 - Madona do Cravo ARTE: O QUE É? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 E a pintura impressionista do pintor holandês Vincent Van Gogh “Woman Winding Yarn”: Figura 2 - Woman Winding Yarn Fonte: Van Gogh (1985)3. As propostas, as técnicas e os conceitos artísticos são diferentes, todavia isso não quer dizer que um retrato é uma obra de arte e o outro não. Evidencia-se, com isso, que o conceito de arte está ligado a um contexto social, histórico e esté- tico, assim, para a escola, há uma necessidade de entendermos a arte como uma forma de expressão artística humana que traduz um gosto, uma tendência, uma técnica que envolve um comportamento e/ou uma prática cultural. Em todas as suas formas de desenvolvimento, na dignidade e na comi- cidade, na persuasão e na exageração, na significação e no absurdo, na fantasia e na realidade, a arte tem sempre um pouco a ver com a magia (FISCHER, 1981, p. 20). Definindo o que éarte Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Há uma ligação inata do ser humano com a arte, forma de expressar-se por meio de instrumentos e técnicas que ultrapassem a mera constatação da realidade. Por isso, podemos voltar à origem do nome Arte para estabelecermos uma pro- posta de significação para esse conceito, sua origem é latina e vem do vocábulo Ars que significa técnica, habilidade, capacidade de fazer algo, que, com o passar do tempo, foi associada à produção de objetos com certa beleza e/ou utilidade. Diante dessa origem, é fácil entendermos que o significado de Arte tem a ver com a necessidade do ser humano de se expressar por meio de uma técnica, habilidade que represente seu gosto, um conceito de beleza, uma crítica social, política, religiosa etc. Claro que o conceito de beleza de uma obra pode ser questionado, até por- que é um conceito sazonal, mas a necessidade de conceber o mundo, mudá-lo, recriá-lo é inquestionável, e é aí que entendemos a arte como uma fonte de liber- dade e exploração que o homem se possibilita. Segundo Fischer (1981, p. 20), “a arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo. Mas a arte também é necessária em virtude da magia que lhe é inerente”. Ao entendermos Arte, segundo o autor supracitado, como “conhecimento e mudança do mundo” e “magia”, relacionamos ela, na Educação Infantil e Ensino Fundamental, não restrita às características que identificam como obra de arte ou as características da natureza da arte, mas sim uma maneira de expressar, dominar, transformar o mundo real pela ótica do inexplorado, da técnica, de um conceito, de seu contexto histórico, de uma razão e uma irracionalidade. Uma obra de arte é um artefato de um certo tipo criado para ser apresenta- do a um público do mundo da arte (Dickie 1984, p.80). ARTE: O QUE É? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 ARTE VERSUS ARTE Uma pergunta sempre nos sonda quando estamos estudando Arte: tudo pode ser Arte? Em um primeiro momento, dizemos rapidamente que não, nem tudo pode ser arte, mas, depois, pensamos em Marcel Duchamp (1887 – 1968) apre- sentando uma roda de bicicleta em cima de um banco e um urinol de porcelana em uma exposição de arte. Figura 3 - Roda de bicicleta Fonte: Bicycle… (on-line). A resposta que parecia tão clara e certa já começa a ser repensada, e partimos para o outro extremo: sim, tudo pode ser arte. É notório que a arte contemporânea mexeu com conceitos clássicos e já esta- belecidos, embora tudo possa ser tema ou tratado pela arte, nem toda produção e/ou transformação da matéria será arte. Segundo Freire (1961, p. 34) “fala-se do componente conceitual definitivo nas produções artísticas contemporâneas”, isto é, para ser arte, é necessário que ela construa ou carregue um conceito de produção e representatividade. Dessa maneira, muitas vezes a Arte Conceitual opera uma análise crí- tica das condições sociais e epistemológicas da prática visual ao revelar a dinâmica dos circuitos ideológicos e institucionais de legitimação da arte (FREIRE, 1961, p. 36). Arte Versus Arte Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 A arte moderna apresentou uma quebra de paradigmas em relação ao que era chamado de arte. Assim, essa mudança trouxe a ideia de uma arte conceitual que estabelece uma conexão direta entre a criação do artista e seu conceito/princí- pio com a interação/participação do público com sua obra, tendo, com isso, um sentido produzido pelo artista e outro pelo público, há uma interação que não corresponde à visão clássica de obra de arte. Dessa forma, podemos pensar que, como a sociedade, a arte está em constante transformação, da mesma forma que novos materiais e técnicas foram criadas ao longo da história da humanidade e isso foi utilizado nas produções artísticas, podemos entender que toda revolução tecnológica do século XXI - as questões ambientais, raciais, étnicas - ocasionam mudanças no conceito e na forma de entender a arte. Um sistema do mundo da arte é um enquadramento para a apresentação de uma obra de arte por um artista a um público do mundo da arte. (Dickie) A 29ª Bienal de Arte de São Paulo, em 2010, causou muita polêmica no uni- verso artístico e ambiental, pois o artista Nuno Ramos criou a obra “Bandeira branca” a qual tinha três urubus vivos dentro de um cercado. A obra causou estranheza e muita discussão, um exemplo disso foi a invasão de pichadores que tentaram cortar a grade que cercava os urubus e escreveram “liberte os Ububu” na obra. Fonte: adaptado de Bandeira… (on-line).1 ARTE: O QUE É? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 A arte expressa a experiência humana em sua diversidade de sentidos e refle- xões, utilizando-se dos mais variados materiais, técnicas e lugares para provocar e/ou expor o público a um contato com sua obra, sendo assim, a sua obra é fruto de sua criatividade. [...] a específica criatividade artística - tal como se manifesta nas for- mas de arte por mais exclusivas, aristocráticas ou burguesas que sejam, ou simplesmente individualistas - é a mesma criatividade que rege em geral a produção cultural, seja ela qual for, e exprime mais uma vez as características específicas da adaptação humana, as suas específicas capacidades ilimitadas de escolha em condições intelectuais, sob uma legalidade bastante geral, e portanto capaz de se especificar das manei- ras mais diversas e oportunas (GARRONI, 1992, p. 350). A pluralidade da arte é marcante, não existe uma melhor do que a outra, mas sim concepções e estilos que marcam uma época, um princípio estético, uma tendência que são fundamentais para a construção da história da arte e todo seu desenvolvimento, demonstrando a evolução artística e humana. A pintura não é melhor do que a música, a música não é melhor do que o teatro, o teatro não é melhor do que a dança, a dança não é melhor do que a escultura, ou seja, as manifestações artísticas carregam suas particularidades e concepções dentro de um contexto histórico, social e político. Não podemos comparar uma obra com a outra? Não podemos comprar as diferentes formas de arte? Sim, podemos, mas também devemos ter a consciên- cia e capacidade de apreciar os elementos que compõem essas obras e a natureza contextual dessa arte, isto é, não tratar os objetos comparados como coisas iguais e de forma descontextualizadas e sim propor um panorama que aprecie as pecu- liaridades de cada obra e seus contextos de produção. Arte na Escola e o Plano Curricular Nacional Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 ARTE NA ESCOLA E O PLANO CURRICULAR NACIONAL A necessidade de arte para o ser humano é notória, você concorda com isso? Nunca pensou nisso? Para começarmos, vamos fazer uma brincadeira de imaginar… Iniciemos imaginando um mundo sem nenhuma música. Estranho, não é? Imagine entrar no seu carro e não ter um rádio tocando música, ligar seu smartphone e ele não tocar nenhuma música, sua televisão ter som, mas não tocar músicas. Acrescente a essa ideia a possibilidade de não termos histórias ficcionais, literatura, filmes, cinemas, gibis, Histórias em Quadrinhos (HQ’s). Continuemos. Imagine não termos esculturas, bustos, estátuas... Isso não lhe causa estranheza? Tenho certeza que sim, o nosso mundo está cercado de arte, mas, muitas vezes, nem notamos pela naturalidade que esses elementos estão em nosso cotidiano. Por isso, quando questionados sobre a importância da arte, inúmeras vezes, acreditamos que ela não faz diferença na nossa vida e só quando realmentemensuramos o tanto de arte que nos rodeia entendemos a sua importância. Ora, se ninguém passa vinte e quatro horas sem mergulhar no universo da ficção e da poesia, a poesia concebida no sentido amplo a que me referi parece corresponder a uma necessidade universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito (CANDIDO, 1995, p. 175). Consoante o autor, vemos que a arte, mais do que uma necessidade, é um direito, ou seja, não só precisamos de arte para viver como temos direito de ter acesso as mais variadas formas de arte existentes. Essa necessidade de arte, de literatura, de música, de teatro já foi muito bem dis- cutida na letra da música “Comida” da banda Titãs que apresentava o direito que o ser humano tem de ter acesso à cultura: A gente não quer só comida,/a gente quer comida, diversão e arte./A gente não quer só comida,/a gente quer saída para qualquer parte./A gente não quer só comida,/a gente quer bebida, diversão, balé./A gente não quer só comida,/a gente quer a vida como a vida quer (TITÃS, 1987). ARTE: O QUE É? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 A escola não pode deixar de exercer o seu fundamental papel social de promo- ver a formação cultural, cognitiva e cidadã do aluno, por isso, o direito a arte que todos nós temos deve ser, também, oferecido pela escola para os alunos. Nesse sentido, notamos a importância que a escola adquire para fazer um trabalho de forma consciente, plural e promover uma educação artística e cultural. Como uma instituição formadora e que está integrada à sociedade brasileira, a escola deve cumprir seu papel instrumental de propiciar uma vivência musi- cal, literária e artística de forma geral. O ensino de Arte deve, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o Ensino Fundamental, conduzir o aluno a: expressar e saber comunicar-se em artes mantendo uma atitude de bus- ca pessoal e/ou coletiva, articulando a percepção, a imaginação, a emo- ção, a sensibilidade e a reflexão ao realizar e fruir produções artísticas (BRASIL, 1997, p. 39). Isso corrobora o direito a arte e é função primordial da escola, tendo como pers- pectiva a formação crítica e responsável que ela precisa exercer junto aos alunos. Ao entrarmos em contato com obras artísticas, estamos tendo contato com outras culturas, outras épocas, valores que favorecem a abertura à diversidade, a imagi- nação, a nossa humanidade e a visão crítica sobre a sociedade, pois “a arte solicita a visão, a escuta e os demais sentidos como portas de entrada para uma compre- ensão mais significativa das questões sociais”, aponta o PCN de Arte (1997, p. 19). Apesar de tão nítida a importância da disciplina de Arte na escola, a sua implementação de forma efetiva e consciente no Brasil se dá, no fim do século XX, com a promulgação dos PCNs direcionado a arte. Antes, práticas e ações direcionadas pelas normativas governamentais não postulavam um embasamento sólido e qualitativo para a prática e formação docente, assim, muitas vezes, ficou Um artista é uma pessoa que participa conscientemente na produção de uma obra de arte. (Dickie) Arte na Escola e o Plano Curricular Nacional Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 relegada a um plano restrito e maniqueísta, voltando-se a repercutir, apenas, valo- res ou práticas de uma determinada época, como aulas de costura para meninas e marcenaria para meninos; desenhos para meninos e tarefas domésticas para as meninas; produções livres sem orientações ou maiores aprofundamentos. Os PCNs de arte (1997) definiram o objetivo da disciplina para o Ensino Fundamental como uma experiência de investigação do fenômeno artístico e uma reflexão sobre a sua natureza. Propondo que o conhecimento da arte como objeto abarque: A partir disso, notamos que ela é um meio de conhecimento e aproximação de culturas, conceitos teóricos, valores pessoais e saberes. Promovendo a humani- zação do aluno, ou seja, o contato com diferentes experiências culturais fomenta a reflexão sobre o outro, sobre nós mesmos, sobre a diversidade e a significação que cada época e cultura dá a um determinado objeto artístico. O documento divide a arte em: artes visuais, música, dança e teatro que são os tópicos que abordaremos. ARTE: O QUE É? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 ARTES VISUAIS A categoria de Artes Visuais engloba, segundo os PCNs de Arte, formas tradicio- nais: pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, artefato, desenho; como também outras modalidades que advêm dos avanços tecnológicos, como foto- grafia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance. Ela tem o objetivo de construir o conhecimento artístico, como comunica- ção e expressão, apreciação, produto cultural e histórico, relacionando materiais, técnicas, sensações, sentimentos com o universo criativo da arte. Segundo os PCNs (1997, p. 45), “a educação visual deve considerar a com- plexidade de uma proposta educacional que leve em conta as possibilidades e os modos de os alunos transformarem seus conhecimentos em arte”, assim, o aluno terá suporte teórico e prático para relacionar obras, artistas e períodos, assimi- lando representações e experiências sobre arte e desenvolvendo-se, ao longo de todo processo educacional, no âmbito teórico e pessoal. MÚSICA Quem não gosta de música? Impossível imaginar uma resposta negativa a essa pergunta. Ela sempre esteve associada às manifestações religiosas, sociais, culturais e de época, demonstrando tradição, inovação e diversidade. Por esses motivos, a musicalização deve fazer parte do processo formativo do aluno no ambiente escolar, aproximando-o da riqueza que esse universo sonoro carrega consigo. Trilha sonora de filme, de jogos eletrônicos, de publicidade, de rituais, de celebrações, música instrumental, gospel, eletrônica, clássica, moderna etc. tudo isso compõe a expressão musical que pode ser trabalhada em sala de aula. Um olhar para toda a produção de música do mundo revela a existên- cia de inúmeros processos e sistemas de composição ou improvisação e todos eles têm sua importância em função das atividades na sala de aula (BRASIL, 1997, p. 53). Arte na Escola e o Plano Curricular Nacional Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 Por isso, interpretar, experimentar diversos sons e instrumentos, valorizar a cul- tura musical expressa, analisar a estrutura rítmica, estudar o contexto de produção, a linguagem musical são fundamentais para uma apreciação ampla e crítica das sonoridades, formação linguística e formação da identidade do aluno. DANÇA A dança é uma legítima expressão artística do ser humano, compondo o lazer, o trabalho, religiões, cultura e atividades diárias. O ato de correr, pular, descer, subir, expressar-se corporalmente está rela- cionado à dança, ao domínio de seu corpo, à motricidade, à mobilidade e à aprendizagem, por isso, ela deve estar presente na escola. A dança, assim como é proposta pela área de Arte, tem como propósito o desenvolvimento integrado do aluno. A experiência motora permite observar e analisar as ações humanas propiciando o desenvolvimento expressivo que é o fundamento da criação estética. Os aspectos artísti- cos da dança, como são aqui propostos, são do domínio da arte (BRA- SIL, 1997, p. 50). As descobertas e a autoconfiança são aspectos positivos que podem ser propi- ciadas pela dança na escola, trabalhando os mais diversos movimentos, jogos populares, danças indígenas e tantas outras possibilidades, constituindo-se impor- tante para a aprendizagem teórica e prática por parte do aluno. TEATRO A arte do teatro surge com os Gregos e sua valorizaçãopela encenação das tra- gédias e comédias. O ato dramático desenvolveu-se com o passar dos anos e assumiu outras possibilidades expressivas, teóricas e tecnológicas. Todavia a experiência de representar a vida, as ideias, uma época, um personagem mítico está presente no teatro que congrega o universo lúdico, criativo e a linguagem corporal humana. ARTE: O QUE É? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 As propostas educacionais devem associar o teatro ao desenvolvimento glo- bal do aluno por meio da capacidade formadora e reflexiva, pois “cumpre não só função integradora, mas dá oportunidade para que ela se aproprie crítica e construtivamente dos conteúdos sociais e culturais de sua comunidade mediante trocas com os seus grupos”, segundo os PCNs (1997, p. 57). A HISTORIOGRAFIA DO ENSINO DE ARTE NA ESCOLA BRASILEIRA O ensino de arte na escola brasileira está relacionado diretamente ao início do século XX, que, por tendências pedagógicas e políticas educacionais, se voltou para o domínio da técnica, apreensão de códigos e conceitos. A Teoria Tradicional tratava a arte com uma visão industrial, uma apren- dizagem mecânica e sua reprodução descontextualizada, ou seja, valorizavam uma aprendizagem baseada na memorização e reprodução de modelos clássicos/ prontos, assim, os alunos só conseguiam demonstrar aprendizagem se reprodu- zissem fielmente determinada obra ou técnica. Na prática, a aplicação de tais ideias reduz-se a um ensino mecanizado, desvinculado dos aspectos do cotidiano, e com ênfase exclusivamente no professor, que “passa” para os alunos “informações” consideradas verdades absolutas (FERRAZ; FUSARI, 2001, p. 23). Nos anos de 1930, surge a Teoria da Escola Nova, contrariando a proposta tra- dicional, baseado na proposta de Dewey, que postulava a aprendizagem com uma forma de interação do sujeito com o objeto. Isso conferiu à disciplina de arte um certo prestígio no ambiente escolar, pois a “arte pode ajudar a compre- ensão dos conceitos porque há elementos afetivos na cognição que são por ela mobilizados” (BARBOSA, 2003b, p. 1). No entanto a prática cotidiana dessa tendência não apresentou um bom resul- tado significativo, pois o princípio que valorizou a espontaneidade na formação A Historiografia do Ensino de Arte na Escola Brasileira Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 artística acabou conferindo um ar “desleixado” e de que a disciplina não tinha uma programação de conteúdos a serem trabalhados. O estímulo para se expressar livremente, muito valorizado nas décadas de 1960 com a criação de escolas de arte, foi interrom- pido pela Ditadura Militar (1964 – 1985), momento em que muitos artistas foram perseguidos, inclu- sive alguns professores de arte, e essa disciplina na escola pública restringiu-se a ilustrações e outras manifestações cívicas e religiosas, segundo Barbosa (2003). Foi nesse período que a Teoria Tecnicista ganhou destaque, uma vez que a educação é considerada insuficiente para a formação profissional da época, no âmbito da disciplina de arte, essa teoria é um retrocesso, haja vista que a educa- ção, de forma geral, atendeu as necessidades políticas, econômicas e ideológicos da época e não se preocupou com a formação crítica do aluno-cidadão. Entretanto, foi no governo militar que foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) 5692/71 que instituía a arte como disciplina obriga- tória nas escolas básicas, denominada Educação Artística. A LDB de 1971 tinha o caráter de um ensino profissionalizante e tecnológico. Com a falta de profissionais qualificados para atuar e com dificuldades de proporcionar uma formação para esses profissionais, a Educação Artística trans- formou-se em uma atividade de cópia sem grande compromisso/preocupação com um estudo sistemático e profundo. Assim cria-se uma visão preconceituosa sobre essa disciplina que era entendida como algo menor, momento de relaxar, pois as outras disciplinas eram difíceis, mas não a Educação Artística. Essa concepção só foi alterada na década de 1980, momento de redemo- cratização da educação, na qual o “caminho para sobreviver, é tornar claros os diversos conteúdos da arte na escola”, afirma Barbosa (1999, p. 23). O grande marco de transformação foi o simpósio de 1989, organizado pela USP, que © sh ut te rs to ck ARTE: O QUE É? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 definiu três principais objetivos para a valorização da arte na educação básica, são eles: entender a importância da arte, baseada em teorias consistentes, para a formação escolar dos alunos; a importância da história da arte como história da humanidade que constitui valores, crenças e estéticas; e apresentar a diversi- dade artística aos alunos, do erudito ao popular. Esse período é marcado pela Teoria Histórico-Crítica que prioriza a prática cotidiana dos alunos, valorizando o processo educativo como um todo e for- mando alunos críticos e conscientes de seus papéis na sociedade. Essa denominação se deve ao sentido de que a Educação é histórica por- que ela está envolvida em um contexto e pode contribuir para transformações; crítica por entender que, por meio da educação, se cria consciência dos proces- sos e práticas educacionais. Assim, as estratégias e métodos convergem para o aprendizado sistematizado. Ora, clássico na escola é a transmissão-assimilação do saber sistema- tizado. Este é o fim a atingir. É aí que cabe encontrar a fonte natural para elaborar os métodos e as formas de organização do conjunto das atividades da escola, isto é, do currículo. E aqui nós podemos recuperar o conceito abrangente de currículo (SAVIANI, 1994, p. 29). Foi no fim da década de 1990 que a consolidação do ensino de arte nas escolas foi realmente efetivada com a presença na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9.394/96) e com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Arte (1997), fundamentado na Proposta Triangular e na proposta Histórico-Crítica, que visa- vam o ensino integrado e contextualizado do universo artístico. Favorecendo, dessa maneira, a formação crítica e estética dos alunos no plano cultural, a Proposta Triangular, de Ana Mae Barbosa, se inspirou na Discipline Based Art- Education (DAE). A Proposta Triangular era concebida com três pilares básicos para a forma- ção do aluno: A Historiografia do Ensino de Arte na Escola Brasileira Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 Essa proposta promoveu à disciplina de arte uma nova “cara” para ela na escola, isto é, deixava de ser uma aula de descanso ou apenas o ensino de conteúdos ditos importantes, mas transforma-se em uma formação nas linguagens artísticas (artes visuais, música, dança, teatro), e a construção do conhecimento cultural em sua diversidade e pluralidade. Mesmo com essa ressignificação da disciplina de arte na escola, nota-se ainda uma desvalorização dela em relação as outras (biologia, português, mate- mática etc.), isso ocorre porque às outras disciplinas se caracterizam pela ênfase na escrita, pela abstração e independência do conhecimento e interferência do aluno, pela distância entre o conhecimento e a experiência pessoal do aluno, pelo individualismo e facilidade da constatação do conhecimento adquirido por meio de provas tradicionais, ou seja, a mensuração das provas, afirma Young (apud LOPES, 1999). © M ar ce lo Y uk io G ot o ARTE: O QUE É? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 Mesmo no século XXI, é fácil notar um ensino direcionado para o con- ceito, a classificação, a nota e não para a experiência, para a exploração, reflexão,tendo, assim, uma valorização menor em relação a outras disciplinas, evidente que não da mesma forma que acontecia na Escola Nova, mas ainda com certa desvalorização. Nesse percurso histórico, notamos que a disciplina de Arte se transformou conceitualmente, na aplicação pedagógica e políticas educacionais. Uma busca pela valorização da arte foi e continua a ser aprimorada na escola. A formação do profissional de arte evoluiu, o reconhecimento da disciplina melhorou, os materiais didáticos foram aperfeiçoados, ou seja, ampliou-se a valo- rização da cultura e da arte no contexto educacional. Um bom exemplo disso é a Lei 13.278/2016, que foi apresentada no ano de 2010, mas só foi aprovada no ano de 2016, mudando uma parte da LDB 9.394/1996 que previa somente o ensino de música e artes plásticas na disciplina de Arte para a obrigatoriedade do ensino de Teatro e Dança junto às Artes visuais e a Música. No entanto ainda há muitas conquistas a serem realizadas, práticas ressigni- ficadas para que a formação de qualidade do professor e do aluno seja priorizada cada vez mais e que o saber artístico e cultural ganhe seu espaço humanizador e científico no ambiente escolar. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, estudamos um pouco sobre o conceito de arte e vimos que não existe uma concepção que abarque todas as produções artísticas, mas podemos adotar uma postura teórica para atuarmos na escola, entendermos arte como uma forma de expressão baseada em uma técnica, uma habilidade que estimu- lem o aluno. Entendemos que nem tudo pode ser considerado arte, embora não possa- mos fechar nossos olhos para diferentes manifestações artísticas, o professor Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 não pode deixar de aproximar os alunos das obras de Da Vinci e de Duchamp, de trabalhar a bossa nova e a música clássica, evidente que não pode trabalhar qualquer coisa sem sentido e sem um objetivo claro, a disciplina de arte deve trazer experiências novas e significativas. Observamos as orientações que os PCNs apresentam e quais objetivos a disciplina de arte deve ter na escola. Um ponto muito importante é resgatar as artes visuais, a música, o teatro, a dança na escola, pois é possível pensar em uma educação artística que estimule o corpo, a mente e promova novas experi- ências para os alunos. Estudamos, também, aspectos históricos do ensino de artes nas escolas bra- sileiras, vimos o descaso por parte do governo, dos alunos e professores; a falta de uma lei específica e depois a sua criação; como a disciplina foi entendida e utilizada em períodos diferentes, muitas vezes, estereotipada e desacreditada, e que ainda há muitas coisas a serem refletidas sobre ela na prática pedagógica. Observe como dar o primeiro passo é importante, visto que estudamos con- teúdos importantes para a nossa formação, o que parecia tão distante e difícil já foi finalizado e estamos prontos para absorver mais conteúdos. Terminamos, assim, a nossa primeira volta na corrida pelo conhecimento e, agora, o importante é não desanimar, aceleremos para a nossa segunda volta. Bons estudos! 34 1. A definição de arte nunca foi unanimidade, sempre houve diferentes conceitos sobre a arte e suas potencialidades. Assinale a alternativa correta sobre a defini- ção que pode ser apropriada ao ambiente escolar: a. A arte e o seu caráter funcional e procedimental. b. A arte e seu valor estético sensorial. c. A arte como expressão da beleza máxima. d. A arte e seus grandes autores e obras. e. A arte como forma de expressão do eu. 2. O universo artístico é muito amplo e diversificado, ao longo da história, muitos artistas produziram os mais diferentes tipos de objetos artísticos. Sobre o que pode ser considerado arte é correto afirmar: I. Existe uma categoria única de arte. II. Tudo o que é produzido por um grande artista é arte. III. O objeto artístico passa por um conceito de arte. IV. A arte contemporânea pressupõe uma interação do público. a. Apenas a alternativa I. b. As alternativas I e II. c. As alternativas II e III. d. As alternativas III e IV. e. As alternativas I, II e IV. 3. O caso ocorrido na 29ª Bienal de Arte de São Paulo com a obra “Bandeira branca” nos leva a refletir sobre os limites da arte e sua aplicabilidade. Explique qual é o limite da arte. 35 4. A disciplina de arte está presente nas escolas, porém, muitas vezes, é tratada de forma secundária ou como um passatempo. Qual é a importância dela para a formação do aluno? 5. Os PCNs de arte (1997) definem três objetivos para a disciplina de arte na esco- la. Cite quais são e o seu sentido na escola. 36 Leia um trecho do artigo intitulado “A Formação do Professor do Ensino de Arte na Es- cola: Uma Construção no Cotidiano da Disciplina”, de Raquel Lima Freitas, que discute a importância de um profissional capacitado e consciente de suas práticas: A complexidade da área requer profissionais formados em arte e em educação, capaci- tados a construir e implantar propostas sistemáticas, plurais, complexas e dinâmicas, in- tegrando os conteúdos escolares e a arte de forma multidisciplinar, consolidando, assim, equipes de trabalho para desenhar seu fazer cotidiano. Faz-se necessário também que esse professor busque ‘descobrir quais são os interesses, vivências, linguagens, modos de conhecimento de arte e práticas de vida de seus alunos’ (FUSARI e FERRAZ, 1993, p. 73). Integrar os conhecimentos próprios da arte com as experiências dos alunos é uma possibilidade de tornar mais acessível o ensino da arte”. A autora do artigo afirma que o conhecimento trabalhado em sala de da disciplina de arte ainda está direcionado para o cognitivo e tem pouco trabalho direcionado para a experimentação, vivência e discussão de abordagem estética. Na contemporaneidade, há uma busca pelos conhecimentos relacionados à aprendiza- gem dos conhecimentos artísticos, a partir da inter-relação entre o fazer, o ler e o con- textualizar arte. Segundo o PCN de Arte: Ao fazer e conhecer o aluno percorre trajetos de aprendizagem que propiciam conheci- mentos específicos sobre sua relação com o mundo. Além disso, desenvolve potenciali- dades (como percepção, observação, imaginação e sensibilidade) que podem alicerçar a consciência do seu lugar no mundo e também contribuem inegavelmente para a sua apreensão significativa dos conteúdos das outras disciplinas do currículo. (BRASIL, 1997, p. 44). Os PCN de Arte orientam como conteúdos gerais de Arte, as Artes Visuais, a Música, o Teatro e a Dança num conjunto que promova a formação artística e estética do aluno. O documento 55 não define quais modalidades artísticas devam ser trabalhadas a cada ciclo de ensino, apenas oferece condições – orientações didáticas, para que as escolas definam seus projetos curriculares. [...] os conteúdos da área de Arte devem estar relacionados de tal maneira que possam sedimentar a aprendizagem artística dos alunos do ensino fundamental. Tal aprendi- zagem diz respeito à possibilidade de os alunos desenvolverem um processo contínuo e cada vez mais complexo no domínio do conhecimento artístico e estético, seja no exercício do seu próprio processo criador, por meio das formas artísticas, seja no contato com obras de arte e com outras formas presentes nas culturas ou na natureza. (BRASIL, 1997, p. 55). 37 Os conteúdos de Arte estão articulados em três eixos norteadores de aprendiza- gem: a produção, a fruição e a reflexão. Produção refere-se ao fazer artístico; Fruição refere-se à apreciação do universo relacionado à arte; Reflexão refere-se ao conhecimento construído pelo próprio aluno sobre sua pro- dução, a produção dos colegas e as artes como produto histórico. As Modalidades Artísticas ou Conteúdos para o ensino de Arte na escola são: AS ARTES VISUAIS – pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, artefato,de- senho industrial, representam as formas tradicionais; fotografia, artes gráficas, cine- ma, televisão, vídeo, computação, são formas resultantes dos avanços tecnológicos modernos. A DANÇA – é um bem cultural que sempre fez parte das culturas humanas integran- do o trabalho, as atividades de lazer e as religiões. Envolve a atividade corporal nas ações do cotidiano humano como pular, correr, girar, subir; os jogos populares de movimento, as cirandas, as amarelinhas, se integram ao repertório que deverá ser valorizado como aprendizagem dos alunos. A MÚSICA – também é um bem cultural associado às tradições culturais de cada época. Na atualidade, as produções tecnológicas possibilitam a escuta simultânea do que foi e é produzido em termos de música através de discos, fitas, rádio, televi- são, computador, jogos eletrônicos, cinema, publicidade e outros meios. A música é expressa por meio de sons, tons e ritmos ordenados em uma composição harmôni- ca. As canções brasileiras são um referencial para o ensino de música onde o aluno participa como ouvinte, intérprete, compositor e improvisador. E O TEATRO – é a arte que exige a presença completa do homem: corpo, fala e ges- tual, em um espaço organizado (cenário) como representação de cultura e conhe- cimento. O teatro é uma arte milenar, porém, foram os gregos que o formalizaram a partir dos rituais religiosos e simbólicos, para a forma organizada que conhecemos na atualidade. ‘O teatro tem como fundamento a experiência de vida: ideias, conhe- cimentos e sentimento. A sua ação é a ordenação desses conteúdos individuais e grupais’(BRASIL, 1997,p. 83). O ensino de teatro pode ser introduzido pelas ativida- des lúdicas como os jogos dramáticos, para gradualmente compreender a atividade teatral como um todo. São essas modalidades artísticas que configuram o conjunto de conteúdos expressos pelos PCN de Arte para o ensino fundamental, orientadas cada uma, a partir de objetivos gerais e específicos, de critérios para a seleção de conteúdos, critérios de avaliação e orientações didáticas”. Fonte: adaptado de Freitas (2013, on-line)2 MATERIAL COMPLEMENTAR Refl exões sobre Arte Alfredo Bosi Editora: Editora Ática Sinopse: o fenômeno artístico é algo muito complexo e, por isso, não bastam de� nições gerais e sumárias para compreendê-lo adequadamente. Por esse motivo, Alfredo Bosi adota nesse livro o método das aproximações sucessivas, considerando a arte como técnica, mimese e expressão. Em vez de uma única abordagem, o autor explora três vias de re� exão estética: a arte é um fazer (operação construtiva, ato de formar e transformar os signos da natureza e da cultura), um conhecer (modo de representação da realidade) e um exprimir (projeção da vida interior do artista). Começando com uma análise do que se entende por arte, Bosi busca, na pintura, na escultura, na literatura, no cinema e na música exemplos dessas três dimensões da produção artística. Comentário: Bosi, um dos grandes teóricos de arte e literatura, por isso, leia e re� ita sobre as considerações apresentadas em seu livro, não deixe de ler. APRESENTAÇÃO: o documentário faz parte do programa Café Filosófi co produzido pela TV Cultura, o qual o professor Marcelo Coelho faz um questionamento sobre a necessidade da Arte no mundo contemporâneo. O vídeo a seguir apresenta a discussão proposta por Marcelo Coelho. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=ybhIUmtHIqs>. Por dentro da Arte Editora IBPEX (org.) Editora: Intersaberes Sinopse: LINGUAGEM DAS ARTES VISUAIS - “se con� armos em nossos olhos e não em nossas ideias preconcebidas sobre como as coisas devem parecer, faremos as mais excitantes descobertas” HISTÓRIA DA ARTE - “quanto mais nos aproximarmos da obra e do artista, mais teremos argumentos para possíveis leituras” LINGUAGEM DA MÚSICA - “vivemos num mundo de sons e silêncios e a música é construída considerando-se esses dois fenômenos” LINGUAGEM DA DANÇA - “a dança é o movimento corporal, e a ação é a sua base. Num contexto artístico, essa ação é manifestação expressiva” LINGUAGEM DO TEATRO - “o teatro é uma atividade que mistura artesanato e so� sticação, teoria e prática, espontaneidade e construção estética. racionalidade e irracionalidade, criatividade e técnica”. Comentário: qual é a linguagem da arte? Não deixe de entrar nessa discussão e entender como isso pode auxiliar no processo de aprendizagem dos alunos na escola. REFERÊNCIAS 39 BARBOSA, A. M. Arte Educação no Brasil: do modernismo ao pós‐modernismo. Revista Digital Art&, out. 2003. Disponível em: <www.revista.art.br/site‐numero‐00/ anamae.htm> Acesso em: 5 jan. 2016. __________. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Pau- lo: Perspectiva, 1999. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: arte / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 23 jun. 2016. BICYCLE Wheel. Moma Learning. Disponível em: <http://www.moma.org/learn/ moma_learning/marcel-duchamp-bicycle-wheel-new-york-1951-third-version- -after-lost-original-of-1913>. Acesso em: 23 jun. 2016. CANDIDO, A. Vários Escritos. 3º ed. Duas Cidades, São Paulo, 1995. DAVIES, S. Definitions of Art. 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Acesso em: 10 jan. 2016. GABARITO 41 1. E 2. D 3. Nem tudo pode ser considerado arte, mas ela pode transitar por diferentes cam- pos do saber, social e político, por isso, é difícil estabelecer um limite para arte, pois ela expressa a liberdade, criatividade, inquietações políticas e pessoais. No entanto sabemos que seu conceito é perene e, sendo assim, os conceitos e limi- tes também. 4. A arte na escola é uma necessidade, pois o ser humano tem necessidade de fantasia, magia, ficção. Um bom exemplo disso é quando observamos ao nosso redor e vemos a quantidade de filmes, livros literários, grafite, quadros, músicas, danças estão no nosso dia a dia. Dessa forma, ela é importante para o aluno se autoconhecer, experimentar e vivenciar o mundo fantástico da arte. 5. O primeiro é a experiência da criação artística que deve instigar o desenvolvi- mento mental, criativo e as habilidades; o segundo é a experiência das formas que deve promover o contato com diversos materiais, formas, desenvolvendo a sensibilidade e também a criatividade; a terceira é a experiência cognitiva que é a aquisição e reflexão das obras, autores e períodos artísticos. U N ID A D E II Professor Me. João Carlos Dias Furtado ARTE: UM PANORAMA HISTÓRICO Objetivos de Aprendizagem ■ Contextualizar os períodos artísticos. ■ Discutir particularidades de cada período de arte. ■ Conhecer a evolução das civilizações e da arte. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Arte na Pré-História ■ Arte Egípcia■ Arte Grega ■ Arte Romana, Bizantina e Gótica ■ Arte do Oriente ■ Arte e Inovação ■ Arte Barroca ■ Arte no Brasil INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a). Estudamos um pouco sobre conceitos, paradigmas e perspectivas da Arte, isto é, já demos a largada, completamos a primeira volta e aceleramos nesta corrida do conhecimento acadêmico. Tenho certeza que essa temática tem contagiado e despertado um interesse cada vez maior em você. Continuando com a metáfora da corrida, adentramos na nossa segunda volta e ela é tão importante quanto à primeira. Largar bem é fundamental, entretanto perder o ritmo pode nos prejudicar muito, logo, o nosso objetivo é manter um bom compasso de estudo, a busca pelo novo, e, para isso, precisamos sempre de combustível. Assim, o nosso combustível, neste momento, é o conhecimento sobre a história da arte. Nesta unidade, esmiuçaremos a construção histórica e evolução da Arte, das estéticas, artistas e obras fundamentais para a consolidação de tendências e estilos artísticos. Verificaremos particularidades da história da arte no mundo e, também, do Brasil, observando as práticas artísticas no período colonial, após a independência e na República. Como é notório, todo conhecimento é baseado em uma construção de teorias, acertos e erros, pesquisas e pesquisadores que vão consolidando, histo- ricamente, fundamentos sobre determinado assunto. Com a Arte não é diferente, sua trajetória temporal; seu contexto social, político, religioso; artistas visioná- rios alicerçaram e continuam consolidando pontos fundamentais no estudo da história da arte, por isso, é indispensável que observemos esses períodos, artis- tas e obras para aprofundarmos nosso conhecimento. Da mesma forma que a história de nossa família é fundamental para a for- mação da nossa vida e personalidade, as características da história da arte são obrigatórias para compreendermos mais profundamente a arte como algo inato ao ser humano e significá-la com mais consideração na escola e na nossa vida. Se a corrida não acabou, o nosso carro não pode parar agora no início de sua segunda volta, por isso, abasteça com muito ânimo, determinação, vontade de seguir sempre além e continuemos o nosso percurso. Bons estudos! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 45 ARTE: UM PANORAMA HISTÓRICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E46 ARTE NA PRÉ-HISTÓRIA A origem exata da arte é, normalmente, desconhecida, pois datas e fatos não são precisos e nem sempre marcam a origem desses acontecimentos. Por exemplo, quando o ser humano começou a utilizar uma linguagem elaborada, semelhante a que temos hoje? Realmente, é muito difícil precisar. Adotando o princípio que arte é uma maneira de expressar, de construir, manipular e transformar coisas do nosso cotidiano, como: tecer, pintar, fazer esculturas ou utensílios domésticos ou de caça, construir uma casa, um local de devoção religiosa, entendemos que todos os povos viveram e produziram ou se beneficiaram da arte. Talvez você esteja se questionando sobre alguns objetos que são conside- rados arte, como: cerâmica, arco e flecha, pinturas em cavernas, são artísticos? Devemos lembrar que a arte tem seu caráter de utilidade, o critério de beleza não é universal e as técnicas e materiais evoluíram junto com o ser humano. Assim, entendemos que esse primeiro momento de manifestação artística tem uma liga- ção estreita com a sua utilidade. © sh ut te rs to ck Arte na Pré-História Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 47 Os povos pré-históricos e primitivos - entendemos primitivos não por serem “simples” e sim por estarem na linha da história mais próximos da nossa origem - manifestaram a sua necessidade de arte com pinturas, construções, esculturas que, muitas delas, registraram grandes feitos. As descobertas de desenhos de animais, celebrações, caças nas paredes de caver- nas e rochas na Espanha e França no século XIX datam da Era Glacial, pinturas feitas com instrumentos rudimentares de ossos, ferro, condimentos que man- chavam (uma espécie de tinta) marcam a arte rupestre. A explicação mais provável para essas pinturas rupestres ainda é a de que se trata das mais antigas relíquias da crença universal no poder produzido pelas imagens; dito em outras palavras, parece que os ca- çadores primitivos imaginavam que, se fizessem uma imagem de sua presa – e até espicaçassem com suas lanças e machados de pedra -, os animais verdadeiros também sucumbiriam ao seu poder (GOMBRI- CH, 2012, p. 42). Muitos povos primitivos utilizaram a arte como uma forma de celebração de suas crenças e magias, rituais, solenidades. Muitas danças estão ligadas à arte como uma forma de representação de sua política, tradição que era simulada no mundo real por meio da arte. Outro ponto relevante é que a arte dos povos primitivos demonstrava suas técnicas, instrumentos e capacidade evolutiva, isto é, muitas ferramentas que eram utilizadas para o registro na parede de uma caverna, a manufatura de um pote, um vaso, por exemplo, demonstravam a capacidade daquela tribo. “Não podemos deixar de nos maravilhar com a paciência e a firmeza manual que esses artesãos primitivos adquiriram ao longo dos séculos de especialização”, afirma Gombrich (2012, p. 44). Um artista é uma pessoa que participa conscientemente na produção de uma obra de arte. (Dickie) ARTE: UM PANORAMA HISTÓRICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E48 Cada povo primitivo desenvolveu a sua forma de arte, como a criação de máscaras para os deuses ou para a guerra, talhas em madeira ou na pedra, potes de cerâmica, pinturas corporais, utensílios domésticos, produção de tecidos ou de couros etc. ARTE EGÍPICIA A imagem mais comum, ao pensarmos no Egito, são as pirâmides e, com elas, as histórias dos faraós e suas grandes façanhas. Sabemos que toda civilização do Egito Antigo está interligada por seu pensamento político e religioso, pois o seu sistema político dominante era um tipo de monarquia, mas com preceitos reli- giosos, o Faraó era considerado deus. O Egito é um dos mais antigos núcleos de arquitetura. Predominam as linhas horizontais e os telhados são sempre em terraço. Vigor e es- tabilidade são características principais dessa arquitetura monumental (DUCHER, 2001, p. 16). A partir disso, entendemos como a população egípcia e seus escravos suportaram por tanto tempo e com tanto esforço as obras gigantescas como as já comenta- das pirâmides, os templos, as cidades muradas etc. A arte produzida pelos egípcios foi monumental, perfeccionista e instigante. A crença de preservar o corpo dos monarcas e retratá-los fielmente em uma escul- tura de mármore, especialmente o seu rosto, era baseada no pensamento que assim ele se manteria vivo para sempre. Esses retratos em mármore são impres- sionantes pela técnica e qualidade que foram feitos, “talvez seja por causa dessa rigorosa concentração nas formas básicas da cabeça humana que esses retratos permanecem tão impressionantes”, declara Gombrich (2012, p. 58). Arte Egípicia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 49 Os padrões de representação (pintura, escultura e entalhamento) eram bem definidos na arte do Egito Antigo, o princípio básico era de mostrar as figuras/ cenas no plano que melhor as representassem, ou seja, a melhor forma que são vistos e analisados, alinhando, sobrepondo planos e perspectivas. Um bom exemplo disso são as representações do corpo humano, figura em que a cabeça era representada de perfil, lateralmente, no entanto os olhoseram apresentados como se estivessem de frente para quem observa a figura; os ombros e tronco representados de frente, brigando com os braços e pernas que são apre- sentados de lado, perfil, muitas vezes, em movimento; e outra característica curiosa são os pés, pois são mostrados do lado de dentro, como se os pés fossem os dois esquerdos ou direitos, dependo do lado em que a figura é representada. Numa cena tão simples, podemos facilmente entender o procedimento do artista. Um método semelhante é usado com frequência pelas crian- ças. Mas os egípcios eram muito mais consistentes em sua aplicação desses métodos do que as crianças de qualquer época. Tudo tinha que ser representado a partir do ângulo mais característico (GOMBRICH, 2012, p. 61). A junção das pinturas e hieróglifos egípcios mostra a evolução da linguagem em relação aos povos mais primitivos e a sua capacidade de ser bela, contar uma história (de um grande faraó, de um herói, de um acontecimento importante), constituindo uma riqueza de detalhes, uma forma de registro e de poder. Gombrich (2012, p. 65), afirma que “uma das maiores façanhas da arte egíp- cia é que todas as estátuas, pinturas e formas arquitetônicas parecem encaixar-se nos lugares certos, como se obedecessem a uma só lei”. Isso demonstra que todo artista dessa época precisava aprender a beleza, as técnicas e conceitos da pin- tura, escultura, hieróglifo etc. Muitos padrões eram seguidos, como as estátuas sentadas deviam ter as mãos nos joelhos, as mulheres eram sempre pintadas com cores mais claras que os homens e a aparência dos deuses seguia um padrão também. ARTE: UM PANORAMA HISTÓRICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E50 Observe a imagem a seguir: Essa imagem mostra a representação do deus Anúbis em uma cena de um funeral e, a partir dela, é possível notar algumas “leis” artísticas que regiam a arte do Egito Antigo, como o Anúbis sempre era representado com um chacal ou com a cabeça de um chacal, considerado o deus dos ritos funerais; Hórus era representado com um falcão ou com a cabeça de um falcão, deus do céu. A arte egípcia deu uma grande contribuição para a historiografia de arte em seus princípios técnicos e estilo, mostrando uma forma peculiar de representar a sua história, ritos religiosos, poder político e transformações sociais. Arte Grega Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 51 ARTE GREGA As penínsulas da Grécia e da Ásia, Mediterrâneo oriental, estavam sob o domínio de déspotas orientais, século VII a.C., e é essa a origem da arte grega no início de sua formação, isto é, a simplicidade das tribos que dominaram a Grécia Antiga nos primeiros séculos repercutiu na formação artística. A tradição da construção de templos em madeira e da cerâmica desses povos dominantes foi copiado inicialmente pelos gregos em sua formação, um exem- plo disso são os templos que imitavam a simplicidade e a harmonia dos templos de madeira. A arte grega conhece o auge de seu desenvolvimento entre os séculos VI e IV antes de Cristo. A arquitetura grega é uma arquitetura lógica e racional, que consiste em lintéis sobre colunas (DUCHER, 2001, p. 18). A primeira grande marca da arte grega são as colunas dóricas que têm uma leve protuberância na parte central e um fuselamento em direção ao topo, “é aus- tera, vigorosa, robusta”, diz Ducher (2001, p. 18), como você pode observar na imagem a seguir: Figura 1 - Colunas dóricas ARTE: UM PANORAMA HISTÓRICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E52 A Grécia não se unifica rapidamente, várias tribos acabam habitando as suas regiões e construindo as cidades e suas estruturas, a primeira grande cidade é Atenas, que começou a construir seus templos no século VI a.C. Um exemplo dessa arquitetura é o Templo de Poseidon construído em Atenas no ano de 460 a.C., apresentando características próprias desse estilo, segundo os autores H. Janson e A. Janson (1996, p. 54), “a curvatura das colunas e o alar- gamento cônico dos capitéis são também discretamente reduzidos, somando-se a nova impressão de naturalidade”. Nesse momento, a influência religiosa e egípcia era muito grande, como se nota nas estátuas de pedra, que reproduzem uma figura jovem, o corpo dividido em partes, entretanto os gregos começam a deixar de lado as regras e estudos geométricos dos egípcios e tendem a reproduzir com os seus olhos o que viam, buscando uma maior naturalidade. Uma vez iniciada essa revolução, nada mais a sustaria. Os escultores em suas oficinas ensaiaram novas ideias e novos modelos de representação da figura humana, e cada inovação era avidamente adotada por outros, que adicionavam suas próprias descobertas (GOMBRICH, 2012, p. 78). Os pintores gregos também seguiram o mesmo direcionamento, buscando uma pintura mais natural e resgatando novas técnicas e materiais para isso. Como muita coisa se perdeu ou foi destruída dessa época, os registros mais sólidos da pintura estão nas cerâmicas que ainda trazem alguns traços dos métodos egíp- cios, mas apresentam alguns aspectos da naturalidade grega. A grande revolução da arte grega, a descoberta de formas naturais e do escorço, ocorreu numa época que é, certamente, o mais assombroso pe- ríodo da história humana. [...] É o período em que a ciência, tal como hoje entendemos o termo, e a filosofia despertaram pela primeira vez entre os homens [...] (GOMBRICH, 2012, p. 82). Nesse momento de descobertas, é a visão antropocêntrica grega que faz a arte chegar a sua maturidade, um momento marcante é durante a democracia ate- niense, momento em que Atenas consegue impedir a invasão persa, destrói alguns templos e edificações e, no ano de 480 a.C. inicia a reconstrução, em mármore, dos templos situados no rochedo sagrado, a Acrópole. Arte Grega Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 53 A escultura grega valorizava o corpo, por isso, constantemente, os artesãos aprimoravam seus estudos sobre a anatomia do corpo humano, buscando apro- ximar seus trabalhos do corpo em movimento. Uma das conquistas gregas nesse sentido é a manipulação do bronze que reti- rou o olhar frio e vazio conferido pelo mármore, os cabelos, os lábios ganham um tom levemente dourado e transmite vida e calor para as estátuas. No final do século V a.C., a grande liberdade artística já havia se consoli- dado e busca pela perfeição, pela naturalidade e pela beleza e tornam-se tônicas no universo artístico. As colunas dóricas, com uma função de sustentação e segurança, dão lugar a estilo jônico, que também sustentavam, mas agora com mais adornos, leveza e graciosidade. Segundo Ducher (2001, p. 22) , “a austeridade da ordem dórica sucede a graça da ordem jônica [...] [estas] são mais esbeltas e tem sempre uma base”. Veja a figura 2: Figura 2 - Colunas dóricas do estilo jônico ARTE: UM PANORAMA HISTÓRICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E54 O ápice desse aperfeiçoamento é o Templo de Atená (Partenon) da Acrópole, consoante Baumgart (1999, p. 57), “[...] todos os recursos de aperfeiçoamento vivificante foram empregados tão discretamente que são quase imperceptíveis”. A pintura também seguiu essa tendência, busca da beleza, das formas, da opulên- cia e suavidade. Assim, pintura e escultura adentraram no universo da simetria corporal, da naturalidade das formas e sua vitalidade. Evidentemente tal perfei- ção era artística, não havia corpo real integralmente simétrico e perfeito, mas ocorria uma adaptação da realidade para a obra artística. Praxíteles foi o grande artista desse momento, ele consegue retirar a rigidez característica das esculturase confere um ar descontraído e natural a sua arte, como notamos na obra “Hermes com o jovem Dionísio” (340 a.C.). Depois de Praxíteles, a próxima geração buscou adicionar ao conceito de beleza uma aura de vida para as obras, tentou reproduzir expressões de vida nas pinturas e estátuas, retratando expressões e fisionomias reais do ser humano. Com a fundação do Império de Alexandre, o Grande, a arte grega sofre influ- ências orientais, denominada, por muitos teóricos, não mais como arte grega e sim como helenística. O estilo robusto, Dórico, e o estilo suave, Jônico, foram repensados e trans- formados em um estilo mais luxuoso e requintado, como o período de conquistas e vitórias exigia. Em homenagem a cidade de Coríntio, esse novo estilo foi bati- zado de estilo coríntio. O estilo Coríntio ou Helenístico acentuam realismo, expressividade e orna- mentação à arte, à arquitetura e às estátuas gregas. Período de profundo estudo das formas humanas, da concepção estética de beleza e a necessidade de aproxi- mar a arte da realidade factual, “uma maior experimentação com o drapejamento e a postura, que frequentemente exibem um movimento de torção considerável”, afirmam H. Janson e A. Janson (1996, p. 63). Observe na figura a seguir a diferença entre os estilos comparando as colu- nas e seus detalhes. As duas imagens trazem, da esquerda para a direita, o estilo dórico, jônico e coríntio. Arte Grega Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 55 Figura 3 - Pilares de estilo dórico, jônico e coríntio I. Figura 4 - Pilares de estilo dórico, jônico e coríntio II. Perto do fim do século II a.C., a ascensão do Império Romano e a admiração de Roma pela arte grega faz com que ocorra uma continuidade e aperfeiçoamento dos princípios artísticos gregos. A contribuição da arte grega foi imensa, influen- ciou e influencia até hoje a produção artística e cultural. ARTE: UM PANORAMA HISTÓRICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E56 ARTE ROMANA, BIZANTINA E GÓTICA O nascimento do Império Romano e sua ascensão política, territorial e religiosa também tiveram influências na arte produzida nesse período. Mas é muito claro que a arte romana é uma extensão e/ou sofre forte influência da arte grega. Isso fica evidente quando se constata que grande parte dos artistas que trabalhavam em Roma eram gregos e que os grandes colecionadores de obras artísticas roma- nos compravam objetos artísticos gregos. O mais famoso desses edifícios [romanos] é, talvez, a gigantesca arena conhecida como Coliseu. É uma característica da construção romana, a qual suscitou muito admiração em épocas subsequentes. Em seu todo, constitui uma estrutura utilitária, com três ordens de arcos sobrepos- tos, destinados a sustentarem os assentos do vasto anfiteatro interior (GOMBRICH, 2012, p. 117). Essa mistura entre a arte grega e as estruturas romanas produziu obras gran- diosíssimas e que influenciaram os artistas e os arquitetos que vieram depois, segundo Ducher (2001, p. 26), “dos gregos, os romanos copiam as ordens dóri- cas e jônicas, mas lhes tiram com frequência o caráter construtivo”. O grande marco da arquitetura romana foram os arcos, técnica talvez já conhecida, mas muito pouco utilizada anteriormente. A construção de arcos com uma só peça já não era tarefa fácil, os romanos conseguiram a difícil mis- são de fazer os arcos com peças diferentes, encaixando-as. © sh ut te rs to ck Arte Romana, Bizantina e Gótica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 57 Utilizando esses arcos em pontes, aquedutos, teto abobadado, esculturas, transformando isso em uma característica das cidades romanas e de sua arte. Grandes templos com teto abobadado se tornam uma referência do alto requinte arquitetônico da época. Assim como os gregos, as belas formas, a simetria, as grandes construções também foram valorizadas no apogeu do Império. Segundo Ducher (2001, p. 28), “o Coliseu talvez seja o mais belo exemplo da associação do arco com a pla- tibanda. As três ordens sobrepostas (dórica, jônica, coríntia) são adossadas nas paredes entre arcadas: têm seu entablamento completo”. O declínio do Império Romano coincide com o início do fortalecimento do cristianismo, ocorre, assim, uma mudança de interesses dos artistas em produzir uma arte bem talhada, que apresentava o belo para uma arte menos elaborada e detalhada, “parecia serem poucos os artistas que se importavam com o que fora a glória da arte grega, seu refinamento e harmonia”, aponta Gombrich (2012, p. 131). É com o imperador Constantino, 311 d.C., que a Igreja Cristã ganha poder junto ao Estado político, assim, a Igreja assume um papel cultural e artístico muito relevante nesse período. A construção de igrejas, as pinturas e representações religiosas ganham espaço na produção artística. As pinturas se tornaram peças importantes para o processo Você sabia que o nome arte bizantina é porque a atual cidade de Istambul, capital da Turquia, tinha o nome de Constantinopla e antes desse era cha- mada Bizâncio. Robert Ducher, no livro “Características dos estilos”, acredita que a denominação mais exata para essa arte seria “arte cristã do Oriente”. Segundo Ducher (2001, p. 59), “seu real desenvolvimento inicia-se com a conversão do imperador Constantino e a proclamação, em 325, do cristia- nismo como religião de Estado; seu pleno desenvolvimento estende-se do século VI ao século XV”. Fonte: o autor. ARTE: UM PANORAMA HISTÓRICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E58 de divulgação da fé cristã, uma vez que muitos eram analfabetos e, por meio das ilustrações, os conceitos religiosos eram transmitidos. A arte Bizantina, diferente da grega, não se preocupou na representação da natureza, da imagem humana aproximando-se da perfeição, isso tudo deixou de ser importante e a ótica era uma representação frontal, sem movimento ou expressões, resgatando muito princípios, a clareza e a objetividade da arte egípcia. Os ícones, a técnica de mosaico, a grandeza das figuras cristãs e de cele- brações religiosas foram marcas importantes para a arte bizantina, assim como templos com espaços grandiosos, tetos abobadados e muitos afrescos com ilu- minação natural, como as imagens a seguir demonstram: Figura 5: arte Bizantina - técnica de mosaico I Figura 6: arte Bizantina - técnica de mosaico II Arte Romana, Bizantina e Gótica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 59 Junto à Arte Bizantina, surge, na França, fim do século XII, um estilo denomi- nado Gótico primitivo que, na Alemanha, foi desenvolvido como Arte Carolíngia. Na Espanha, o gótico se relaciona com o fato da invasão e expulsão dos ára- bes de seu território, uma vez que, assim, a arte católica teve fortes contatos com o islamismo que trouxe profundas contribuições estéticas e arquitetônicas. Percebemos, com isso, uma forte valorização da religiosidade no âmbito artís- tico, uma demonstração disso é [...] o fato de as catedrais urbanas passarem a ocupar o lugar principal na arquitetura sacra, que até então havia sido da arquitetura das ordens monásticas [...e] o fortalecimento do pensamento cristão, que sofre um aprofundamento através de reforma de cistercienses e protestantes (BAUMGART, 1999. p. 137). As grandes catedrais se tornam símbolos da arte gótica. Em seu esplendor, elas foram construídas com fachadas majestosas, com duas torres imponentes, gran- des e ricos portais, assimetrias, grandes espaços abertos, tetos abobadados, vitrais grandiosos e, normalmente, essas igrejas ficavam em locais privilegiados das cidades.
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