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CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDO DI BIASE FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CONCORDÂNIA VERBAL Fatores determinantes para concordância ou não Michel Ribeiro, Carine Ribeiro e Jussara Almeida Resumo Esse trabalho tenta mostrar com mais clareza que não é somente o fato de baixa escolaridade que levam as pessoas a não concordarem o verbo com o sujeito, isso vai muito mais além, como fatores linguísticos, por exemplo, o sujeito posposto, a animalidade do sujeito, e fatores extralinguísticos como, comunidade linguística, faixa etária, o grau de formalidade entre os falantes, entre outros. Palavras-chave: Concordância verbal, fatores, variação linguística, falante volta-redondense. Abstract This work tries to show more clearly that it is not only the fact that low education lead people to the verb does not agree with the subject, it goes much further, as linguistic factors, eg, the subject postponed, the animacy of the subject and extra linguistic factors as linguistic community, age, degree of formality between speakers, among others. Keywords: Verb agreement, factors, linguistic variation, speaker-back Redondense. INTRODUÇÃO A concordância verbal é um dos temas mais valorizados nas aulas de Língua Portuguesa, tanto na produção textual dos alunos quanto na fala. O relevo que se dá ao fenômeno está intimamente relacionado à sua caracterização sociolinguística. A ausência de marcas de concordância verbal, no português brasileiro, indubitavelmente, constitui traços de discriminação social, no qual é mais notável no ambiente escolar, mas também é notada no dia-a-dia, em vista que a GT não considera as variações que existe na língua, e algumas dessas variações são estigmatizadas pelos usuários da língua, sendo motivo de chacota, e preconceito. A abordagem da Gramática Tradicional preocupa-se em estabelecer as normas da “arte de falar e de escrever corretamente”, a abordagem tradicional, no caso da concordância verbal, estabelece, para as construções com um só núcleo, a regra geral, que propõe que o verbo deve concordar ao número e à pessoa do sujeito. Essa regra geral de concordância verbal se une, ainda, a diversas outras que são focalizadas como “regras particulares, particularidades, exceções”, por exemplo, as expressões “um dos que”, “mais de um”, os casos de sujeitos unidos por “ou” entre outros casos que são considerados particularidades, e que nem sempre se dá a concordância com entre o sujeito e o verbo. Pesquisas de cunho descritivo propõem que os estudos sociolinguísticos revelam que a concordância verbal constitui um fato variável, ou seja, a concordância pode ser concretizada ou não pelo usuário da língua em função de fatores diversos de natureza linguística ou extralingüística. Em se tratando, especificamente, do Rio de Janeiro, os resultados de estudos de diferentes autores comprovam a produtividade da não-concordância nas chamadas variedades populares do estado do Rio de Janeiro, em comparação à realização da concordância nas variedades de falantes com alto grau de escolaridade. Levando em consideração a distribuição dos dados nos trabalhos de Vieira (1995) – produzidos por falantes analfabetos ou semi-analfabetos – e de Graciosa (1991) – produzidos por falantes com curso superior completo –, fica nítido o contraste na realização da regra consoante o grau de escolaridade do individuo. Na variedade “culta” carioca, verifica-se um alto grau de realização da regra de concordância verbal, mais que o dobro se comparado ao encontrado nos dialetos “populares” do estado do Rio de Janeiro. O estudo de Vieira (1995) investiga o fenômeno com base na fala de comunidades do norte do estado do Rio de Janeiro, a partir de formas verbais de 3° pessoa do plural coletadas em entrevistas com informantes naturais de 12 localidades do norte fluminense, todos do sexo masculino, analfabetos ou pouco escolarizados (até a quarta série) e distribuídos por três faixas etárias – A (18 a 35 anos), B ( 36 a 55 anos)e C (56 a 70 anos). Para investigar a opção do falante em relação ao fenômeno da concordância verbal, controla-se a influência de diversos elementos possivelmente condicionadores, as chamadas variáveis linguísticas, tais como: a posição do sujeito em relação ao verbo; a distância entre o núcleo do sintagma nominal sujeito e o verbo; o paralelismo no nível oracional; a animacidade do sujeito; o paralelismo no nível discursivo; a saliência fônica; os casos de sujeito posposto; o tempo verbal e o tipo de estrutura morfossintático. Como variáveis extralinguísticas, levam-se em conta a localidade e a faixa etária a que pertencem os informantes da pesquisa e, com caráter auxiliar, a escolaridade. Embora a não- concordância seja favorecida, predominantemente, por fatores de natureza linguística, variáveis extralinguísticas também exercem influência na aplicação da regra, como, por exemplo, a faixa etária. A tendência à não-concordância intensifica-se à proporção que aumenta a idade dos informantes, ou seja, quanto mais velho o informante, maior a falta de concordância. No estudo de Graciosa (1991), que aborda o fenômeno em dados produzidos por falantes escolarizados, a concordância verbal é altamente produtiva e extremamente controlada. A autora também faz estudos sobre a influência de variáveis lingüísticas e extralinguística, tais como: (i) ao sintagma nominal sujeito – como, por exemplo, animacidade, posição do sujeito em relação ao verbo, distância entre o núcleo do sintagma nominal e o verbo – e (ii) ao sintagma verbal – como a saliência fônica, paralelismo formal das sequências verbais no discurso, tipos de verbos, transitividade e ordenação dos argumentos do verbo. A partir do comportamento dessas variáveis, a autora apresenta as condições para o estabelecimento da regra geral. Porem o fenômeno de não concordância é o caso prototípico de variação que identifica, discrimina, (dês)valoriza o usuário da língua em termos sociais. Trata-se, portanto, de um traço estigmatizante na avaliação dos usuários da língua portuguesa, aquele que, da forma mais perversa, codifica a desigualdade das relações socioculturais de um povo. REFERENCIAL TEÓRICO Este trabalho tem como objetivo de estudo, analisar a variação linguística e suas ocorrência em nível de concordância verbal, através de recursos de áudio em forma de entrevistas para análise de fala de variante sul fluminense, a saber, especificamente, Volta- redondense. Metodologia A variante linguística de marca de plural no verbo, classificada em C ou N, a primeira quando há concordância, ou seja, quando há marca de plural no verbo, e a segunda quando não há concordância (não há marca de plural), foi analisada a partir do controle dos seguintes fatores: sexo do entrevistado (feminino ou masculino); a faixa etária, dividida em A (de 15 a 35 anos); B (de 36 a 55 anos) e C (mais de 55 anos); o nível de escolaridade, dividido em 1, Ensino Fundamental; 2, Ensino Médio e 3, Ensino Superior. Acreditamos que falantes do sexo feminino “quebram” menos as regras sociais estabelecidas, sendo, em particular, mais sensíveis às norma de prestígio, por estarem mais expostas à correção gramatical; as pessoas mais pressionadas pela idade profissionalmente produtiva usam mais as formas de prestígio Também foi observada a posição do sujeito, classificada em A, se o sujeito estava anteposto ao verbo, Q, se anteposto e P, se posposto ao verbo. Acreditamos que a posposição do sujeito seja um fator favorecedor da não concordância verbal. O traço de animalidade também foi controlado, pois acreditamos que o traço [+ animado] favoreça a concordância,e o traço [- animado], por sua vez, condicione a não concordância. Esses traços foram classificados, respectivamente, em A e I. Outro fator importante é o paralelismo formal no SN, o qual também pode favorecer ou não a concordância. Classificamos em: T, quando todas as marcas de plural estiverem explícitas no SN; S, se o SN estiver sem todas as marcas de plural; N, caso o SN seja um numeral; e E, SN representado pelo pronome eles ou elas. O fator saliência fônica foi dividido em: 1- (oposição não acentuada): não envolve mudança na qualidade da vogal na forma plural; 2: envolve acréscimo de segmentos na forma plural -Nível 2 (oposição acentuada): "o segundo nível contém aqueles pares nos quais [os segmentos fonéticos que estabelecem a oposição] são ACENTUADOS em pelo menos um membro da oposição" (Naro, 1981, p.74). 3- envolve apenas mudança na qualidade da vogal na forma plural; - Os filho tá0 pedindo dinheiro (LEI04FP25/0055) - Eles tÃO bem intencionados (JOS35FP59/0962) 4- envolve acréscimo de segmentos sem mudanças vocálicas na forma plural; inclui o par foi/foram que perde a semivogal - Aí bateu0 dois senhores na porta (NIL12FP45/0646) - (eles) bateRU sete chapa da cabeça dele (LEI04FP25/0084) 5- envolve acréscimos de segmentos e mudanças diversas na forma plural: mudanças vocálicas na desinência, mudanças na raiz, e até mudanças completas. - Aí, veio0 aqueles cara correno atrás de (ALE55MG13/0555) - VIERAM os ladrões, quatro, hum? (ARI30FG43/1665) - Agora, os vizinho daqui é0 ótimo (EDP13MP62/0758) Estudos anteriores, com amostras de fala de falantes analfabetos, têm evidenciado que o aumento da saliência do material fônico na oposição singular/plural dos verbos analisados aumenta as chances concordância verbal (cf., Naro & Lemle, 1976; Lemle & Naro, 1977; Naro, 1981;), ou seja, aumenta as chances da variante explícita de plural. Coerentemente com os resultados de outras pesquisas, os da tabela 5 indicam que sujeito anteposto ao verbo ou imediatamente a ele mais próximo favorece a variante explícita e sujeito anteposto distante ou posposto ao verbo a desfavorece. Este efeito é sempre uniforme, independendo do grau de escolarização dos falantes. O traço [humano] desempenha um papel importante na concordância verbal. Na língua falada, sujeito [+humano] controla a concordância explícita plural de forma mais acentuada do que sujeito com traço [-humano], como se observa nos resultados apresentados na tabela 1. Portanto, no português falado do Brasil, um verbo com sujeito [+humano] plural apresenta maior probabilidade de concordar com seu sujeito (0,53) do que um verbo com um sujeito [-humano] plural (0,29), O paralelismo formal se refere ao verbo analisado estar precedido por um verbo com marca de plural, o que favoreceria a concordância, ou antecedido por verbo sem marca de plural, o que favoreceria a não concordância. Classificamos como C ou S, respectivamente. Por fim, o fator presença do sujeito, sendo P se ele estiver presente, e N se não presente. Resultados Os resultados finais não estão aqui apresentados, por se tratar de um trabalho de conclusão de curso. Deste modo, as considerações finais estão vinculadas a essa fase conclusiva. Desenvolvimento Com base em 15 entrevistas da Amostra VR (3 ainda não foram analisadas), localizamos um total de 445 dados em que um sintagma nominal na terceira pessoa do plural (os cachorros, as meninas, aquelas coisas, etc) estabelecia relações de concordância com formas verbais, podendo haver a concordância com desinências de plural (os cachorros latiriam, as meninas saíram, aquelas coisas vingarão) ou a concordância com o morfema Ø (os cachorros latiria, as meninas saiu, aquelas coisas vingará). A tabela 1 fornece um panorama geral da distribuição dos dados: Tabela 1: Distribuição dos dados Estratégia Percentual Concordância com morfema de plural 337/445 76% Concordância com morfema Ø 108/445 24% Tabela 1: Distribuição dos dados na Amostra VR. De acordo com os resultados, a estratégia de concordância com morfema plural é mais produtiva entre informantes de Volta Redonda. Em um total de 445 dados, localizaram-se 337 ocorrências desse tipo de combinação, ou seja, 76%. Por outro lado, a ocorrência da concordância com morfema Ø (que chamaremos de não concordância) não é desprezível, uma vez que foi registrada a frequência de 24% para tal estratégia. Em 445 dados, foram encontrados 108 dados de não concordância, como ilustrado nos exemplos abaixo: (nfc1ais4sp 4)- ensino...técnico...faculdade...ensino...superior... né...a gente... percebe.. .que... cresceu...; (nfc4aae1sp 23) - eles...tem...um...jeito...de...se..expressar. Tais dados, coletados nas entrevistas feitas com informantes da cidade de Volta Redonda, foram submetidos ao programa computacional de regras variáveis denominado GoldVarb X. Como resultado, obtivemos a seleção dos fatores que influenciam o fenômeno, apresentados por ordem de relevância – dos que mais impulsionam os falantes a fazerem a não-concordância verbal aos que impulsionam em menor grau a não-concordância –, como apresentado a seguir: QUADRO 1: FATORES SELECIONADOS EM VR 1º SEXO DO INFORMANTE 2º ANIMACIDADE DO SUJEITO 3º ESCOLARIDADE DO INFORMANTE 4º POSIÇÃO DO SUJEITO 5º TIPO DE SN 6º FAIXA ETÁRIA 7º SALIÊNCIA FÔNICA Quadro 1: Grupos de fatores selecionados na Amostra VR. Buscando maior clareza na apresentação dos resultados, começaremos pelos fatores sociais e, depois, passaremos aos fatores linguísticos selecionados. O primeiro fator selecionado pelo programa foi o sexo do informante, como se vê na tabela 1: TABELA 2: SEXO DO INFORMANTE Sexo Frequência PR Mulher 45/339 13% 0.42 Homem 63/146 43% 0.66 Fator de aplicação: não-concordância Com relação ao sexo do falante, aparentemente são os homens que lideram o processo de mudança em direção à não concordância. É possível observar que, entre informantes do sexo feminino, em 339 dados totais, apenas 45 deles caracterizavam-se pela não- concordância. Esse resultado, em dados percentuais, tem a produtividade de 13%, registrando o peso relativo para de 0.42 – o que quer dizer que o sexo feminino não impulsiona a estratégia inovadora, sendo um obstáculo para esse tipo de implementação. Já o falante do sexo masculino tem comportamento inverso. Em um total de 146 dados coletados, observou- se que 63 deles caracterizavam-se pela não concordância, o que equivale a 43% do número total de dados. O peso relativo para tal fator é de 0.66, o que deixa claro que os homens de Volta Redonda impulsionam a estratégia inovadora (a não concordância com marcas de plural). Uma explicação para esse resultado pode estar relacionada ao fato de que o sexo feminino tem uma maior sensibilidade para perceber o que é mais prestigiado pela sociedade (LABOV, 1968). É sabido que a mulher, por razões históricas, foram discriminadas por séculos, sempre colocada como um ser incapaz. Em vista desse fato, a sexo feminino vem buscando seus direitos e mostrando que é capaz, sua sensibilidade faz com que cada vez mais vem se destacando na sociedade atual, e isto não se mostra diferente na forma de falar, na qual é mais requintada e se enquadra mais na forma conservadora do que na forma inovadora, em vista que, a forma conservadora é a forma prestigiada pelos falantes letrados. O segundo fator selecionado pelo programa estatístico de regras variáveis foi o fator linguístico animacidade do sujeito. De acordo com esse fator, controlou-se a referência semântica do SN sujeito, que poderia ser um ser animado (cachorros, crianças, professores, etc) ou um ser inanimado (livros, pedras, mesas, etc). A tabela 2 ilustra os resultados aferidos: TABLEA 3: ANIMACIDADE DO SUJEITOTraço de animacidade Frequência PR Animado 64/390 16% 0.43 Inanimado 44/95 46% 0.75 Fator de aplicação: não-concordância Quanto ao fator de animacidade do sujeito, percebe-se que o sujeito com traço animado há um total de 390 dados coletados, no qual 64 dados mostram a não-concordância, sendo 16% do total, com um peso relativo de 0.43. Já o traço inanimado, num total de 95 dados coletados foram encontrados 44 dados de não-concordância, sendo 46% do total, fazendo com que seu peso relativo seja de 0.75. Sendo assim, nota-se que o traço animado desfavorece variável de não-concordância, em vista que esse fator conduz à concordância entre sintagma nominal na terceira pessoa do plural e verbos com marcas de plural. Já o traço inanimado percebe-se que, o peso dele para a não-concordância é relevante, pois ele incentiva a não-concordância. Fazendo com que os falantes não expressem marcas de plural no verbo em suas falas, isso também acontece quando o sujeito é formado com numeral, por exemplo, ao invés de “os dois carros estavam em alta velocidade.”, fala-se “os dois carro estava em alta velocidade.” Estudos anteriores confirmam essas estatísticas, conforme Vieira postula “a animacidade do sujeito: sujeito de referência animada (peixe, homem), que funcionam em geral como agentes da oração, favoreceriam a realização da marca de plural no verbo, enquanto os de natureza inanimada (barco) não a favoreceriam;” (VIEIRA, 1995, pág.88). O terceiro fator selecionado pelo programa estatístico de regras variáveis foi o fator lingüístico Escolaridade. Conforme esse fator controlou-se a fala dos informantes de acordo com seu grau de escolaridade, no qual são divididos em Ensino fundamental, Médio e Superior. TABELA 4: ESCOLARIDADE Escolaridade Frequência PR E. Fundamental 46/113 40% 0.68 E. Médio 38/129 29% 0.60 Superior 24/243 9% 0.35 Fator de aplicação: não-concordância No fator escolaridade obtivemos nos dados das entrevistas que no Ensino Fundamental de 113 dados coletados encontramos 46 dados de não-concordância, sendo 40% do total, e seu peso relativo de 0.68. No Ensino Médio de um total de 129 dados recolhidos encontramos 38 dados de não-concordância, sendo 29% do total, e com o peso relativo de 0.60. Já no Ensino Superior de um total de 243 dados obtivemos 24 dados de não-concordância, e seu peso relativo é de 0.35. Sendo assim, nota-se que o Ensino médio e Superior não é predominante para o fenômeno de não-concordância. E o ensino fundamental mostra-se relevante no caso de variante de não concordância, mostrando mais incidências. Podemos dizer então que a pouca formação escolar impulsiona no fenômeno de não-concordância. Em estudos feitos na cidade do Rio de Janeiro já nos mostram que o fator Escolaridade influencia na variante de não concordância, segundo Vieira, nos diz que: Em se tratando, especificamente, do Rio de Janeiro, os resultados de estudos de diferentes autores comprovam a produtividade da não-concordância nas chamadas variedades populares do estado do Rio de janeiro, em comparação à realização da concordância nas variedades de falantes com alto grau de escolaridade. (VIEIRA, 1995) O fato de o falante ter apenas o ensino fundamental o leva a não realizar a concordância, primeiramente por não conhecer as regras de concordância impostas pelas normas da Gramática Tradicional, conhecendo apenas as normas populares de sua comunidade de fala, muitas das vezes os falantes que têm pouca escolaridade se deve ao fato de sua classe econômica ser desfavorecida, e de não circular por outras comunidades de fala, se restringindo apenas a conversar na maioria das vezes com falantes que tenham o mesmo conhecimento de língua. O jovem que tem contato com falantes que falam “os menino foi brincar”, conseqüentemente reproduzirá da mesma forma. Somente entrano em contato com outros falantes que possuem mais de uma variante de língua conseguirá absorver uma outra norma. O quarto fator selecionado pelo programa estatístico de regras variáveis foi o fator Paralelismo Formal, no qual controlou-se as marcas de plural nos verbos em sequência na sentença. TABELA 5: PARALELISMO VERBAL Frequência PR Presença de marcas de plural no verbo imediatamente anterior 7/87 8% 0.39 Ausência de marcas de plural no verbo imediatamente anterior 18/23 78% 0.84 Fator de aplicação: não-concordância Há dois tipos de paralelismo verbal, o no nível oracional e no nível discursivo. No nível oracional é quando o verbo não traz ou apresenta marcas de plural, ocasionando a redundância de ausência ou de presença de marcas de plural nos outros termos da oração (os atleta corre velozmente.). Já no nível discursivo, se dá pelo fato de verbos em série na oração, no qual a ausência ou presença de marcas de plural ocasiona a redundância de presença ou ausência das marcas de plural (os atleta corre, nada, pula e caminha em busca da vitória.). O fator de paralelismo do verbo há dois fatores a serem analisados, um é a presença de marcas de plural em verbos paralelos na oração, que de 87 dados coletados apenas 7 mostraram não-concordância, somando um total de 8% e seu peso relativo total é 0.39, mostrando que esse fator não fomenta a não-concordância, e o outro, é a ausência de marca de plural nos verbos que se encontram em sequência na oração. Os coletados foram os seguintes, de 23 dados totais coletados, 18 apresentam não terem as marcas de plural no verbo, somando 78% e tendo um peso relativo 0.84. Esse quadro nos mostra que os verbos que apresentam presença de marca de plural não incita a não concordância, pois seu peso relativo salienta que esse fator impulsiona a concordância dos verbos. Por outro lado, a ausência de marca de plural no verbo estimula a não-concordância, não havendo marca de plural no primeiro verbo os verbos seguintes também não apresentarão marcas, como no exemplo, “os atleta anda, corre, pula e nada.” Em nível oracional, que é o escopo dessa pesquisa, mostra que, possuindo marca de plural apenas no artigo definido “os” que é o determinante do sintagma nominal “atleta”, já é o suficiente para dar a noção de plural para o interlocutor. Ao comparar os estudos de Vieira (1995) com Graciosa (1991) nota-se um grande contraste na produtividade da não-concordância, Sendo que Vieira nos mostra estudos com a variedade de falantes populares, que apresentam em maior frequência a não-concordância, e Graciosa, nos mostra a variedade com falantes cultos, que apresenta a não-concordância com menor frequência. Isso comprova que não é só a escolaridade que influência na não concretização da regra de concordância verbal, e isso ocorre por que também há fatores estruturais da língua que influencia o falante a não realizar a regra, independente do seu grau de escolaridade. O quinto fator selecionado pelo programa estatístico de regras variáveis foi a posição do sujeito em relação ao verbo. De acordo com esse fator controlou-se a ocorrência da não- concordância quando o sujeito se encontra anteposto ao verbo, ou seja, na sua posição mais preferida pelos falantes e o mais comum para a gramática (o aluno chegou a tempo na sala.). Quando o sujeito é retomado pelo pronome que, no qual é usado para evitar a redundância do mesmo termo no discurso (Os alunos que chegaram, foram os que fizeram a prova.). E quando o sujeito é posposto ao verbo, no qual se encontra depois do verbo (Chegaram os alunos que faltavam.) TABELA 6: POSIÇÃO SUJEITO Posição sujeito Frequência PR Sujeito anteposto 72/384 0.44 18% Sujeito “que” 21/76 27% 0.61 Sujeito posposto 15/25 60% 0.87 Fator de aplicação: não-concordância O quadro acima apresenta os seguintes dados com relação à posição do sujeito em relação ao verbo. Sujeito anteposto,de 384 dados coletados encontra-se 72 casos de não concordância, sendo um total de 18% de ocorrências, e seu peso relativo é de 0.44. Quando o sujeito é o “que” de 76 dados recolhidos, 21 obtiveram ocorrências de não concordância, em números percentuais esse fator representa 27%, e seu peso relativo é de 0.61. O sujeito posposto apresentou 15 dados de não-concordância de um total de 25, em números percentuais esse elemento representa 60% e seu peso relativo é de 0.87. Quando o sujeito é anteposto ao verbo as ocorrências de não-concordância é menor, por ser a ordem canônica do português brasileiro, ou seja, uma ordem natural. E essa ordem não impulsiona a não concordância. Agora quando o sujeito é o pronome relativo que, por ser um pronome sem marcas de pluralidade, a ocorrência de não-concordância ocorre com mais frequência, induzindo o falante ao cancelamento das marcas de plural. Já o sujeito posposto o cancelamento das marcas de plural também ocorre com mais freqüência, segundo Marcos Bagno, quando o sujeito é posposto ao verbo, os falantes da língua portuguesa no Brasil tratam o verbo como se ele fosse impessoal, ou seja, oração sem sujeito do mesmo tpo que o verbo chover (“choveu muito ontem”). Estudos de Graciosa (1991) nos mostra que a posição do sujeito anteposto ao verbo é a forma preferida pelos falantes escolarizados, por isso há menos ocorrência do cancelamento das marcas de plural quando o sujeito se encontra anteposto ao verbo. O sexto fator selecionado pelo programa estatístico de regras variáveis foi fator idade. Com esse fator controlou-se a fala dos informantes de acordo com sua faixa etária, que foram divididas em três, de 18 a 35 anos, de 36 a 55 anos. TABELA 7: FATOR IDADE Faixa Etária frequência Peso relativo De 18 a 35 anos 9/146 6% 0.30 De 36 a 55 anos 36/116 68% 0.67 Mais de 55 anos 63/223 0.53 71% Fator de aplicação: não-concordância O quadro de fator idade apresenta os seguintes dados, a primeira faixa etária apresenta uma freqüência de não-concordância de 9 dados de um total de 146 dados, em dados percentuais, representa o total de 6% de frequência, e seu peso relativo é de 0.30. A segunda faixa etária revela os seguintes dados, de em total de 146 dados coletados, encontra-se 36 ocorrências da forma inovadora, sendo 68% do total, seu peso relativo é de 0.67. A terceira faixa etária, mostra os segundo dados, um total de 223 dados recolhidos, 63 ocorrências de não-concordância, e isto equivale a 71% de ocorrência de não-concordância, e seu peso relativo é de 0.53. Falantes de 18 a 35 anos revelam que preferem usar a forma conservadora, a concordância verbal, o que quer dizer que eles não incitam a forma inovadora. Resultado similar ao resultado da pesquisa de Vieira (1995) sobre o assunto, no qual explica da seguinte forma: Os menores índices de cancelamento na fala dos indivíduos mais jovens se devem, certamente, a um complexo de fatores que abrange todas as injunções sociocomportamentais que envolve esses indivíduos, como, por exemplo, o contato com o turismo e o acesso a meios culturais. (VIEIRA, 1995, Pág. 91). A segunda e terceira faixa etária são as que apresentam os maiores índices de não- concordância. Segundo Vieira, os falantes vão elevando as ocorrências de não-concordância de acordo que aumentam sua idade, ou seja, quanto mais idade, mais ocorrências da forma inovadora. Entretanto, resultados dessa pesquisa revelam que os falantes de Volta Redonda da segunda faixa etária, de 35 a 55 anos, são os que mais impulsionam a forma inovadora, e os falantes da terceira faixa etária, de 56 anos em diante realizam menos a forma inovadora, diferentemente dos resultados da pesquisa de Vieira. O oitavo fator selecionado pelo programa estatístico de regras variáveis foi a saliência fônica, assim, controlou-se as formas verbais da primeira pessoa do singular, da menor semelhança fônica ao maior, em comparação com a primeira pessoa do plural, conforme a seguinte tabela apresenta. FATOR SALIÊNCIA FÔNICA Níveis de saliência frequência Peso relativo Nível 1 65/275 23% 0.55 Nível 2 11/46 23% 0.66 Nível 3 6/56 10% 0.21 Nível 4 12/44 27% 0.54 Nível 5 14/58 24% 0.38 Fator de aplicação: não-concordância No primeiro nível de um total de 275 dados coletados, há 65 ocorrências de não- concordância, sendo um total de 23% e seu peso relativo de 0.55. No segundo nível há 11 ocorrências de não-concordância de um total de 46 dados coletados, sua porcentagem é de 23% e seu peso relativo é de 0.66. No nível 3 de um total 56 dados coletados 6 dados são de não-concordância, sendo seu percentual de10%, e peso relativo de 0.21. No nível 4 há 12 ocorrências de não-concordância em um total de 44 dados coletados, sendo um total de 27% e seu peso relativo é de 0.54. No nível 5 de 58 dados coletados, 14 apresentam a não- concordância, sendo um total de 24% e seu peso relativo é de 0.38. A saliência fônica é um fator lingüístico que também influência na escolha da variável ou da forma tradicional, os níveis foram selecionados em escala de acordo com a diferença fônica entre a primeira pessoa do singular, e do plural, como, por exemplo, come/comem e fala/falam, faz/fazem, dá/dão, comeu/comeram, é/são, veio/vieram. Dessa forma avaliada, os níveis que mais impulsionam a forma inovadora são os níveis 2, 1 e 4. Os níveis 3 e 5 não impulsionam a forma inovadora. Segundo estudos de Vieira, que revela que quanto maior a saliência fônica menor é a ocorrência da forma inovadora, entretanto, em Volta Redonda os resultados se mostram um pouco alterados, em vista que, o nível 4 que tem a saliência fônica diferente encontra-se um alto índice de não-concordância, e o nível 2 apresenta mais dados da forma inovadora do que o nível 1. Considerações finais O presente trabalho nos mostra que ao contrário do que muitos pensam as variações lingüísticas não dependem apenas do grau de escolaridade, há vários outros fatores que impulsionam essas variações, tanto variações internas da língua e externas, no caso da concordância verbal, os fatores por ordem de relevância selecionado pelo programa estatístico de regras variáveis são; sexo do informante, animacidade do falante, escolaridade, paralelismo verbal, posição do sujeito, fator idade e saliência fônica. O que se vê é uma pressão dos falantes escolarizados que detêm o poder político em impor uma língua homogênea, desconsiderando e estigmatizando essas variáveis que são mais comuns entre falantes de classe baixa e pouca escolaridade, gerando um preconceito. Ao comparar estes resultados aqui apresentados com os de Graciosa e Vieira, nota-se que há pontos semelhantes e diferentes, o que não é de causar nenhuma surpresa, em vista que as comunidades de fala apesar de serem de uma mesma região, são comunidades de fala diferentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo, Publifolha, 2010 BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. CUNHA, C. & CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. LABOV, W. The study of language in its social context. In: Sociolinguistics patterns. Oxford, Blackwell, 1972. _____. Principles of Linguistic Change: Internal Factors. Oxford, Blackwell, 1994. GRACIOSA, D. M. Concordância verbal na fala culta carioca. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras. Dissertação de mestrado. 1991. VIEIRA, S. R. Concordância verbal: variação nos dialetos populares do norte fluminense. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras. Dissertação de Mestrado. 1995. ____ , S. & BRANDÃO, S. Ensino de gramática – descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2011. Resumo
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