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AUDITORIA E PERÍCIA AMBIENTAL 2 2 FACULESTE A história do Instituto Faculeste, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação.Com isso foi criado a Faculeste, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Faculeste tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 3 SUMÁRIO MODULO I - PRINCÍPIOS DA AUDITORIA AMBIENTAL ....................................... 5 O MEIO AMBIENTE E AS EMPRESAS ....................................................................... 6 Empresas e contaminação ................................................................................................. 6 Fatores externos que induzem respostas das empresas .................................................... 8 1. O papel do Estado (a regulação formal) ....................................................................... 8 A comunidade local (regulação informal) ...................................................................... 10 O papel do mercado ........................................................................................................ 11 Os fornecedores .............................................................................................................. 11 MODULO II- PASSIVO AMBIENTAL ....................................................................... 11 Classificação e mensuração ............................................................................................ 16 Importância do Passivo Ambiental nas empresas........................................................... 18 AUDITORIA .................................................................................................................. 19 Evolução ......................................................................................................................... 20 Conceitos e objetivos ...................................................................................................... 21 Organismos reguladores e normas de auditoria .............................................................. 22 MODULO III- Classes de auditoria ............................................................................... 25 Auditoria ambiental ........................................................................................................ 27 Objetivos ......................................................................................................................... 30 Funções e tipos de auditoria ambiental........................................................................... 31 MODULO IV- AUDITORIAS ....................................................................................... 33 Vantagens e desvantagens .............................................................................................. 36 Procedimentos e etapas ................................................................................................... 38 Auditoria compulsória .................................................................................................... 41 MODULO V- Diretrizes para auditoria ambiental ......................................................... 44 4 4 O perito ........................................................................................................................... 49 Responsabilidades do perito ........................................................................................... 52 Escusa da perícia ............................................................................................................ 52 Requisito técnico ............................................................................................................ 52 Necessidade de 02 peritos............................................................................................... 53 MODULO VI- Métodos e técnicas aplicadas nas perícias ............................................. 53 Etapas da perícia ambiental ............................................................................................ 54 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 55 5 5 MODULO I - PRINCÍPIOS DA AUDITORIA AMBIENTAL Auditoria Ambiental é uma ferramenta que permite às empresas atingir e manter a eficácia da gestão ambiental em qualquer empresa por meio de um plano de ação completo e abrangente. Usando de perspicácia, os auditores conseguem apontar tanto as deficiências existentes como as futuras, prevenindo gastos mais elevados no futuro. Dentre os objetivos da auditoria ambiental podemos citar a detecção de vulnerabilidades ambientais em se tratando de conformidade, riscos, imagem e sustentabilidade, o que acontece por meio da observação em campo (qualitativa), levantamento de documentos, reuniões com equipe e elaboração de diagnóstico conclusivo da auditoria ambiental baseado nestas informações. As empresas que possuem em seu quadro uma equipe de auditores competentes e experientes ou que contratem este serviço de empresas especializadas contam com um excelente apoio para produzir um retrato fiel da realidade, que servirá de base para proceder a ações corretivas, estratégicas e preventivas em prol da saúde da organização. Neste momento, nosso foco será, então, a auditoria ambiental propriamente dita, o que passa necessariamente por saber classificar e mensurar o passivo ambiental. Não poderíamos nos furtar a pincelar a Perícia Ambiental, outra especialidade de grande interesse de organizações empresariais, órgãos públicos e sociedade de maneira geral. Perícia é definida como exame realizado por técnico, ou pessoa de comprovada aptidão e idoneidade profissional, para verificar e esclarecer um fato, ou estado ou a estimação da coisa que é objeto de litígio ou processo, que com um deles tenha relação ou dependência, a fim de concretizar uma prova ou oferecer o elemento que necessita a justiça para poder julgar (CUNHA; GUERRA, 2004). Observemos que sem uma perícia, dificilmente haverá punição, quer administrativa, criminal ou civilmente. 6 6 Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. O MEIO AMBIENTE E AS EMPRESAS As empresas são as responsáveis principaispelo esgotamento e pelas alterações ocorridas nos recursos naturais, de onde obtêm os insumos que serão utilizados para obtenção de bens a serem utilizados pelas pessoas. Essa atividade de grande utilidade realizada pelas organizações, no entanto, nos últimos anos está quase ficando num segundo plano em função dos problemas ambientais causados pelas indústrias; estes problemas se tornam o aspecto mais visível, na maioria das vezes, de sua relação com o ambiente natural. No entanto, o papel de vilãs do meio ambiente que vêm desempenhando as empresas tem sua razão de ser, pois são poucas, proporcionalmente, aquelas que se preocupam e tornam mais eficientes ecologicamente os seus processos produtivos, como o demonstram os dados estatísticos mundiais e nacionais. E, mesmo quando o fazem, a iniciativa é tomada mais como uma resposta a uma exigência dos órgãos governamentais do que por assumirem uma postura de responsabilidade social ambiental. No entanto, o importante papel desempenhado por essas unidades produtivas é inegável e imprescindível, e somente com o avanço da adoção de Sistemas de Gestão por parte das empresas teremos uma perspectiva de rumarmos para um desenvolvimento minimamente sustentável (DIAS, 2009). Empresas e contaminação A contaminação do meio ambiente natural pelas indústrias teve início com a Revolução Industrial no século XIX, e dessa época em diante o problema teve um 7 7 crescimento exponencial, provocando inúmeras catástrofes ambientais que tiveram enorme repercussão local, regional e global. Ocorre que nos processos industriais os recursos naturais são empregados como insumos que, devido a ineficiências internas dos processos, geram resíduos de todo tipo, os quais obviamente contaminam o meio ambiente. O processo, além de gerar problemas de contaminação que afetam a saúde humana, pode também provocar a escassez de recursos naturais que são utilizados sem uma previsão da sua possibilidade de esgotamento. A utilização privada do meio ambiente, que é um recurso comum, foi discutida pelo biólogo Garrett Hardin no artigo “A tragédia dos bens comuns”, no qual indica o destino ao qual parece estar condenado qualquer recurso que tem sua propriedade compartilhada. Os problemas de contaminação do meio ambiente são manifestações que se encaixam perfeitamente no raciocínio, como apontou o próprio Hardin (1968 apud DIAS, 2009). De maneira inversa, a tragédia dos recursos comuns reaparece nos problemas de contaminação. Aqui o assunto não é retirar algo dos recursos comuns, mas colocar algo dentro – drenagens ou refugos químicos, radioativos ou térmicos na água; gases nocivos ou perigosos no ar; anúncios ou sinais perturbadores e desagradáveis na paisagem. Os cálculos dos benefícios são muito semelhantes aos que foram mencionados antes. O homem razoável descobre que sua parte dos custos dos desperdícios que descarrega nos recursos comuns é muito menor que o custo de purificar seus desperdícios antes de desfazer-se deles. Já que isto é válido para todos, estamos aprisionados em um sistema de ‘sujar nosso próprio ninho’, e assim prosseguiremos, embora atuemos unicamente como livres empresários, independentes e racionais. Quando se explora o meio ambiente, que é um bem comum, buscando o benefício privado, podem ser causados impactos ambientais que afetam negativamente o bem-estar de outras pessoas que não têm relação com quem os gera. Esses impactos constituem custos externos, ou externalidades, para as empresas. A contaminação ambiental, do ponto de vista econômico, se relaciona com a internalização dos custos externos (ou externalidades) ambientais por parte das empresas. Isto ocorre quando o gerador da externalidade não assume os custos e os 8 8 transfere a terceiros na forma de contaminação ambiental. São custos ambientais que o empresário causa, mas que não assume, e que acabam diminuindo seus custos diretos (compra de matéria-prima, contratação de mão de obra, pagamento de capital, investimentos de melhoria nos processos, etc.), já que não investe no processo produtivo para evitar a produção de resíduos contaminantes. Para si obtém uma vantagem a curto prazo que se assemelha, no exemplo de Hardin, ao pastor que vai agregando gado no pasto, e para a sociedade mais geral, o valor é negativo, pois se expressa na forma de esgotamento e deterioração dos recursos naturais, contaminação dos lençóis d'água, do ar e do solo, afetando a saúde pública. Ocorre que na falta de incentivos capazes de induzir à internalização dos custos ambientais por parte das empresas, elas somente interromperiam a geração de contaminações quando essas externalidades ambientais negativas deixassem de gerar benefícios privados. Segundo Hardin, uma das formas de ação possíveis é a utilização de leis coercitivas ou mecanismos fiscais que tornem mais barato para o contaminador tratar os resíduos antes de desfazer-se deles sem tratá-los. Ou seja, a regulação, as instituições ambientais, a pressão das comunidades e as exigências do mercado são formas de tornar mais conveniente ao empresário (e mais barata) a adoção de mecanismos prévios que evitem a contaminação. Fatores externos que induzem respostas das empresas Há diversos fatores externos que provocam uma resposta das empresas no sentido de diminuir a contaminação. Entre eles, estão: o Estado, a comunidade local, o mercado e os fornecedores. 1. O papel do Estado (a regulação formal) A legislação ambiental, juntamente com as instituições ambientais e as atividades de controle de contaminação realizadas por estas em todos os níveis, limitam a liberdade da empresa para contaminar. O Estado utiliza esses instrumentos legais com o objetivo de proteger a saúde das pessoas e o bem comum, representado pelo ambiente natural e os benefícios que causa à sociedade mais geral. A regulação formal pode ser classificada em dois grandes grupos: o tipo comando e controle, e outro que é a adoção de instrumentos econômicos. Pelo primeiro método, mais tradicional, o Governo estabelece regulamentações para o uso dos 9 9 recursos ambientais e passa a fiscalizar o cumprimento da legislação, punindo os eventuais infratores (multas e até o fechamento da empresa); baseia-se, portanto, na pressão normativa de padrões estabelecidos. Logo, a decisão da empresa de reduzir ou não a contaminação dependerá da diferença entre os custos que poderão ser abatidos e o valor das multas ou dos custos de um fechamento temporário da empresa (DIAS, 2009). Pelo outro método, com a utilização dos instrumentos econômicos, os preços dos bens ambientais devem refletir, o mais corretamente possível, os valores que lhes sejam imputados pela sociedade, de forma que se possa cobrar adequadamente pelo uso desses bens, seja de forma direta, seja de forma indireta, via taxas, subsídios, etc. A empresa decide, por exemplo, entre contaminar e pagar a taxa, ou descontaminar e incorrer nos custos de redução da emissão de contaminantes. O fato é que nem sempre as medidas de controle da contaminação geram custos. As intervenções do governo que estimulam investimentos de controle ou de prevenção da contaminação, que geram custos iniciais, contribuem para melhorar as condições de competitividade das empresas e das cidades em que se situam. Para que isto ocorra, além dos benefícios ambientais, estes investimentos devem gerar também benefícios privados. Entre os benefícios privados estão os relacionados com o melhoramento das condições de competitividade das empresas. Eles, por sua vez, gerariam benefícios públicos adicionais como o aumento do emprego e do bem-estar social. Mas o Estado e o seu poder regulador não é o único incentivo que têm as empresas para melhorar seu desempenho ambiental. Além das pressões geradas pela regulação formal, há uma resposta ambiental das empresas com a diminuiçãoda contaminação gerada motivada por diferentes fatores, entre os quais: pressões da comunidade, de diferentes grupos organizados, do mercado, dos consumidores, dos fornecedores, etc.(DIAS, 2009). Alguns exemplos da atuação do Estado no controle da poluição: a) em novembro de 1995, a Fiat do Brasil foi multada em R$ 3,9 milhões pelo IBAMA por não atender aos padrões legais de emissões veiculares, que eram exigidos desde 1987 para os veículos novos que saíam das montadoras, que tinham de atender aos padrões do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). Segundo o órgão do governo, o modelo Uno Mille Electronic utilizava dispositivos que mascaravam os níveis de emissão de poluentes e permitiam um maior 10 10 rendimento do motor, o que provocou um aumento de emissão acima do permitido em lei (GRAMACHO, 1995); b) em setembro de 1995, a Rhodia Indústrias Químicas e Têxteis foi condenada por depositar lixo químico a céu aberto na região continental de São Vicente (SP). Segundo a sentença, a Rhodia teria que indenizar o Fundo de Reparação do Meio Ambiente do Estado de São Paulo em mais de 8 milhões de reais. Além disso, a empresa seria obrigada a remover os resíduos, isolar o solo contaminado e repor terra boa na superfície. Deveria também, enquanto houvesse possibilidade de contaminação, manter sob guarda as áreas afetadas para evitar ocupação humana. Ficaria ainda responsável pelo abastecimento de água à população, uma vez que os lençóis freáticos da região foram afetados (NUNES, 1995); c) a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), em Cubatão, no litoral paulista, recebeu, em 1995, multas num valor aproximado de um milhão de reais, por atrasos no cronograma de controle de suas fontes de poluição e irregularidades devido à má operação e manutenção de equipamentos de controle da poluição e do processo produtivo (SERRA, 1995); d) uma emissão de gás sulfídrico, em janeiro de 1996, na unidade de Suzano (SP) da fabricante de sais orgânicos Produquímica, provocou a morte de três operários e atingiu outros cinco, sendo que a empresa foi multada pela Cetesb em R$ 72 mil. Além da multa, foi determinada a paralisação do setor onde ocorreu o acidente. A mesma empresa, em 1993, havia sido autuada por importar cerca de 200 toneladas de resíduos da Inglaterra. A empresa trouxe o material como micronutrientes para fertilizante; no entanto, a Cetesb constatou a presença de metais pesados, como chumbo, cádmio e cromo. A presença de metais havia sido identificada, anteriormente, pela entidade ambientalista Greenpeace, que fez a denúncia. O material foi devolvido à Inglaterra A comunidade local (regulação informal) As comunidades locais onde estão localizadas as unidades empresariais cada vez mais se tornam importantes atores em relação aos problemas de contaminação, pois são as primeiras que sofrem as consequências da poluição, e em função disso apresentam uma capacidade de resposta mais rápida, afetando as decisões das empresas no que tange a um maior controle ambiental. 11 11 Por outro lado, há um maior número de pessoas informadas sobre os processos produtivos e de contaminação envolvidos: membros da comunidade técnico-científica, intelectuais, educadores, jornalistas, membros de entidades ecológicas, entre outros, que encontram mecanismos legais para exigir do governo ou das empresas o cumprimento de suas responsabilidades ambientais. O papel do mercado As empresas, de modo geral, operam em vários mercados, que podem ser tanto locais, regionais, nacionais ou em nível global. Há um crescente aumento da consciência ambiental, que varia em função de cada mercado. Os países mais desenvolvidos, as regiões mais desenvolvidas de um mesmo país são os que mais consomem produtos ecológicos; isso envolve a reputação da empresa como benfeitora ou não do meio ambiente. Os fornecedores Há um número crescente de empresas que são fornecedoras de outras que necessitam ter um bom desempenho ambiental em toda a sua cadeia produtiva, o que as obriga a fazerem exigências aos seus próprios fornecedores para que sejam portadores de certificações ambientais e se tornem unidades produtivas respeitosas com o meio ambiente. Deste modo, mesmo que uma empresa não sofra pressões diretas tanto do Estado, como da Comunidade, ela se vê obrigada a adotar ações ambientais que evitem a contaminação por ter como clientes empresas para as quais seu mercado consumidor exige integrarem uma cadeia produtiva ambientalmente correta. MODULO II- PASSIVO AMBIENTAL Segundo Kraemer (2001), uma empresa tem Passivo Ambiental quando ela agride, de algum modo e/ou ação, o meio ambiente, e não 12 12 dispõe de nenhum projeto para sua recuperação, aprovado oficialmente ou de sua própria decisão. Passivo Ambiental representa toda e qualquer obrigação de curto e longo prazo, destinadas única e exclusivamente a promover investimentos em prol de ações relacionadas à extinção ou amenização dos danos causados ao meio ambiente, inclusive percentual do lucro do exercício, com destinação compulsória, direcionado a investimentos na área ambiental. No Brasil, as regras contábeis e a literatura que envolve o Passivo Ambiental ainda é recente e some-se a isso, certas empresas têm atividades complexas dificultando o tratamento a ser dado no registro e na divulgação dos passivos ambientais. Os passivos ambientais normalmente são contingências formadas em longo período, sendo despercebido às vezes pela administração da própria empresa, envolvendo conhecimento específico. Neste caso, não só a administração da empresa se envolve, nem a contabilidade, mas também advogados, juristas, engenheiros, entre outros. Normalmente, o surgimento dos passivos ambientais dá-se pelo uso de uma área, lago, rio, mar e uma série de espaços que compõem nosso meio ambiente, inclusive o ar que respiramos, e de alguma forma estão sendo prejudicados, ou ainda pelo processo de geração de resíduos ou lixos industriais, de difícil eliminação. Os Passivos Ambientais, conforme Ribeiro e Gratão (2000), ficaram amplamente conhecidos pela sua conotação mais negativa, ou seja, as empresas que o possuem agrediram significativamente o meio ambiente e, dessa forma, têm que pagar vultosas quantias a título de indenização de terceiros, de multas e para a recuperação de áreas danificadas. As autoras colocam como exemplo: os gastos assumidos pela Exxon, no caso do acidente com o petroleiro Valdez, no Alaska; o caso da Petrobrás, na década de 80, no qual a região de Cubatão, no interior do Estado de São Paulo, foi seriamente afetada pelo vazamento de óleo, que culminou com a explosão de várias moradias; e, em janeiro de 2000, o vazamento nas instalações da mesma empresa que provocou o derramamento de milhares de litros do óleo no mar na Baía da 13 13 Guanabara, causando a morte de várias espécies de aves e peixes, além de afetar seriamente a vida das populações locais que viviam da atividade pesqueira. Tais situações exigiram enormes gastos dessas empresas e, o que é pior, gastos imediatos, sem qualquer forma de planejamento, o que afeta drasticamente qualquer programação de fluxo de disponibilidades, independentemente do porte da organização. Tão alto quanto os custos dos recursos físicos necessários para a reparação dos danos provocados pelas referidas situações, ou até mais, são os gastos requeridos para retração da imagem da empresa e de seus produtos, essencialmente, quando tais eventos são alvo da mídia e da atenção dos ambientalistas e ONGs. O IBRACON, segundo NPA 11 – Balanço e Ecologia – conceitua o Passivo Ambiental como toda agressão que se praticou/pratica contra o meio ambiente e consiste no valor dos investimentos necessários para reabilitá-lo, bem como multas e indenizações em potencial.O passivo ambiental, como qualquer passivo, está dividido em capital de terceiros e capital próprio, os quais constituem origens de recursos da entidade. Santos et al. (2001) citam os seguintes exemplos de origens: bancos – empréstimos de instituições financeiras para investimento na gestão ambiental; fornecedores – compra de equipamentos e insumos para o controle ambiental; governo – multas decorrentes a infração ambiental; funcionários – remuneração de mão de obra especializada em gestão ambiental; sociedade – indenizações ambientais; acionistas – aumento do capital com destinação exclusiva para investimentos em meio ambiente ou para pagamento de um passivo ambiental; entidade – através de destinação de partes dos resultados (lucro) em programas ambientais. Com a dinâmica dos negócios, os passivos ambientais devem ser tratados com muita atenção e devem fazer parte da tomada de decisões das organizações na aquisição de outras empresas, na formação de cluster, nas fusões, nas análises de riscos do negócio, na venda da empresa e na concepção de novos produtos, dentre outras transações pertinentes ao assunto. 14 14 Passivo ambiental é todo gasto decorrente da conservação ou recuperação do meio ambiente. Nesse contexto pode-se citar: as multas decorrentes das infrações cometidas contra o meio ambiente, os investimentos em mão de obra especializada em gestão ambiental, campanhas populacionais através de programas de incentivo a conservação do meio ambiente, treinamentos dos funcionários, etc. com o intuito de preservar e recuperar o ambiente danificado ou que poderá vir a se danificar. Ribeiro (2005, p. 75 e 76) diz que passivo ambiental se refere aos benefícios econômicos ou aos resultados que serão sacrificados em razão da necessidade de preservar, proteger e recuperar o meio ambiente, de modo a permitir a compatibilidade entre este e ao desenvolvimento econômico ou em decorrência de uma conduta inadequada em relação a estas questões. A origem dos passivos ambientais ocorrem dentro de algumas empresas através das suas atividades operacionais que implicam na destruição ou consumo de elementos da natureza. Outros passivos ambientais podem surgir antecipadamente a um possível acidente ecológico e trazem um retorno positivo no sentido de reconhecimento social para a entidade. Outras ainda, não reconhecem as obrigações a partir do seu fato gerador o que provoca o não conhecimento dos possíveis efeitos que a degradação do meio ambiente poderá ocasionar em seu patrimônio (RIBEIRO, 2005). Obrigações de Passivos Ambientais decorre de três tipos, tais como: Legais ou Implícitas, Construtivas e Justas. Legais ou Implícitas: as obrigações legais procedem de Legislação ou de uma outra forma prevista em Lei. Faz com que a empresa devolva ao meio ambiente o que ela utilizou no seu processo operacional. Por exemplo, uma indústria de papel que utiliza madeira como matéria-prima será obrigada a reflorestar o lugar onde essas árvores foram cortadas. Já as obrigações implícitas, decorrem de fatos ocorridos anteriormente que causaram danos ao meio ambiente e, para evitar maiores gastos com multas, perda de credibilidade da empresa, etc., a mesma se antecipa ao fato e começa a investir na causa de recuperação dos danos causados. Construtivas: parte da consciência da própria entidade, que pensando no bem estar social, vai além das obrigações legais, trazendo para si um ótimo marketing e fazendo com que a empresa cresça na aceitação popular pelos seus feitos em 15 15 prol da sociedade. Neste caso, podemos citar uma empresa que desembolsa dinheiro para projetos comunitários como, por exemplo: programas de coleta seletiva, ajuda para instalação de rede de esgoto e galerias pluviais. Justa: comprovado que a empresa causa degradação do meio ambiente, é justo que a entidade faça a recuperação do mesmo. Ela pode até se antecipar aos danos e evitar tal destruição, mostrando com isso uma preocupação social e ética com o meio em que está inserida. Como exemplo podemos citar o caso de uma usina de cana de açúcar, antes do corte é feita a queimada da plantação, através da qual exala muita fuligem e faz com que polua o ar, trazendo consigo problemas respiratórios para os vizinhos da usina, uma posição justa para esse caso seria a empresa arcar com o tratamento para as pessoas afetadas. Ribeiro (2005) exemplifica várias formas que uma empresa poderia adquirir em seus relatórios um Passivo Ambiental, tais como: fornecedores – contas a pagar – poderão ser contraídas a partir da compra a prazo de insumos e equipamentos antipoluentes; salários e encargos trabalhistas – decorrentes de contratação de pessoal qualificado para desempenhar atividades relacionadas à prevenção ou recuperação ambiental; provisões – deverão ser contabilizadas quando há possibilidade de gastos futuros decorrentes de multas ambientais, os valores deverão ser estimados com base nos eventos que poderão incorrer. Os valores dos Passivos deverão ter todos os gastos possíveis para serem efetuados, e devem ser contabilizados a partir do momento que o fato gerador ocorrer. No caso de um gasto (custo/despesa) ambiental, o fato gerador fica caracterizado e passível de registro no consumo de recursos econômicos, para o registro como exigibilidade/obrigação, o fato gerador caracteriza-se ao assumir a obrigação, seja por força legal ou pelo conservadorismo. No caso das estimativas (provisões) ela poderá ser feita quando houver dificuldade de avaliar o total do Passivo Ambiental e terá como base as experiências anteriores da empresa ou conhecimentos sobre técnicas e legislação (RIBEIRO, 2005). 16 16 Classificação e mensuração De acordo com Paiva (2003), podem existir dois tipos de passivos ambientais, classificados por normais e anormais, sendo que os normais são gerados no processo produtivo, como por exemplo, fábricas que exalam por suas chaminés gases tóxicos e poluentes; uma maneira para amenizar essa exalação seria a utilização de filtros nas chaminés ou trocar os insumos por outros menos poluentes. Os passivos anormais são aqueles que não são previstos como, por exemplo, a liberação de gases poluentes ou líquidos ocasionados por um fenômeno natural (terremotos, maremotos, raios, etc.). Muitas vezes, ao nos referirmos ao Passivo Ambiental, temos a ideia de que o mesmo deverá ser mensurado dentro do Balanço Patrimonial. Mas segundo a NBC T 15 – Informações de Natureza Social e Ambiental, aprovada pelo CFC (Conselho Federal de Contabilidade) e também aceita por diversos outros órgãos como, por exemplo: o IBRACON e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) pela intercessão da Resolução 1.003/04 de 19 de agosto de 2004 que entrou em vigor desde 1º de janeiro de 2006, eles podem também, ser representado em outros tipos de demonstrações. Ela deverá ser uma espécie de apêndice das demonstrações contábeis, não podendo fazer parte das notas explicativas e sim como objeto de comparação entre exercícios atuais e anteriores. Esta norma estabelece procedimentos para demonstração de informações ambientais e sociais e salienta que nenhuma organização está obrigada a elaborar ou divulgar Informações de Natureza Social ou Ambiental, mas as que optarem, deve seguir as regras estabelecidas pela Norma citada. De acordo com o item 1.5.1.3. da Resolução CFC nº 1.003/04, a Demonstração de Informações de Natureza Social e Ambiental, ora instituída, quando elaborada, deve evidenciar os dados e as informações de natureza social e ambiental da entidade, extraídos ou não da contabilidade, de acordo com os procedimentos determinados por esta norma. Segundo a NBC T 15 (Informações de Natureza Social e Ambiental) as informações que possui caráter ambiental e social são: interação com o meio ambiente; interação da empresacom o meio externo; os recursos humanos; 17 17 a geração e a distribuição de riquezas. Toda a responsabilidade pelas informações apresentadas nas demonstrações contábeis obrigatórias ou não, como é o caso de demonstrações acerca do Passivo Ambiental é do contador, que deverá estar devidamente registrado no CRC. Ainda de acordo com esta norma, as informações que estarão contemplando a Demonstração de Informações de Natureza Social e Ambiental são as seguintes: investimentos e gastos com manutenção nos processos operacionais para a melhoria do meio ambiente; investimentos e gastos com a preservação e/ou recuperação de ambientes degradados; investimentos e gastos com a educação ambiental para empregados, terceirizados, autônomos e administradores da entidade; investimentos e gastos com educação ambiental para a comunidade; investimentos e gastos com outros projetos ambientais; quantidade de processos ambientais, administrativos e judiciais movidos contra a entidade; valor das multas e das indenizações relativas à matéria ambiental, determinadas administrativa e/ou judicialmente; passivos e contingências ambientais. Pode-se citar como exemplo de classificação a que a empresa PETROBRÁS utiliza em suas demonstrações contábeis. No seu Passivo, a empresa apresenta a conta Provisão para contingência a qual é detalhada em notas explicativas. Nesse caso, ela relata que a Provisão refere-se a envolvimentos em processos legais de diversas naturezas, inclusive ambiental, os quais foram provisionados em decorrência a acidentes que causaram a degradação/poluição do meio ambiente, os valores ali mencionados são os que a companhia poderia pagar de multas pelo ocorrido. O IBRACON recomenda que as contas do passivo ambiental tenham um grupo específico e sejam bem identificadas. Por exemplo, se a empresa solicita um empréstimo para aquisição de materiais de prevenção de acidentes ambientais, esse empréstimo deverá ser contabilizado de forma a evidenciar sua utilização como passivo ambiental, sem que se confunda com empréstimos para atividades operacionais. Dessa forma, o usuário terá mais facilidade em visualizar e tomar as decisões necessárias. 18 18 Infelizmente, muitas vezes essa recomendação não vem sendo cumprida pelas empresas, tornando assim a identificação de seus passivos ambientais muito difíceis e trabalhosas, principalmente nos processos de auditoria. Uma maneira de serem mensurados os passivos ambientais é proposta por Ribeiro (2005, p. 112-113), que determina a evidenciação em subgrupo específico das exigibilidades, se forem não relevantes os seus valores e componentes deverão ser descritos em notas explicativas e em caso de ser relevante ele deverá fazer parte do Balanço Patrimonial e terá uma conta especifica. A autora coloca ainda que em caso de obrigações não passíveis de mensurações, estas deverão também constar em notas explicativas esclarecendo o porquê da não mensuração e a data de quando essa exigibilidade deverá ser quitada. E para os casos de provisões, também deverá ser apresentado em notas explicativas devendo conter em sua apresentação “a natureza e a estimativa dos gastos ambientais, as incertezas relativas à sua realização e o momento de possível realização”. Importância do Passivo Ambiental nas empresas Atualmente, muitos bancos e financiadoras nacionais e internacionais tais como BID (Banco Internacional Desenvolvimento), BIRD (Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento), IFC (Corporação Financeira Internacional), entre outros, estão exigindo que as entidades tenham projetos de preservação e recuperação do meio ambiente, para só assim liberarem os créditos solicitados pela empresa. É necessário saber o quanto a entidade é confiável e respeita o meio ambiente. No caso de uma entidade agredir a natureza no seu processo industrial e não recuperar os danos causados, os créditos não são liberados, pois provavelmente essa empresa sofrerá algum tipo de autuação e multas, afetando assim sua credibilidade. Nesse sentido, temos o ISO (International Organization for Standardization) 14000 que foi criado para orientar gestores de empresas muito poluidoras, inclusive auditores e fiscais. Ele visa à melhoria do desempenho nas empresas procurando implantar um sistema de gestão ambiental, através de diretrizes, nas quais se inclui o planejamento, estruturação, desenvolvimento e implementação de um sistema de gestão ambiental. Todas as empresas que tem um grande grau de poluição devem possuir o ISO 14000 para que tenha um maior credenciamento perante o governo e a sociedade. Através disso, surgiu à auditoria ambiental. 19 19 A evidenciação das contas do passivo ambiental se tornou uma importante ferramenta de gestão, pois elas influenciam na compra, venda, incorporação e outros tipos de ações entre empresas, pois danos causados anteriormente podem recair sobre o novo proprietário. Ele funciona como um elemento de decisão no sentido de identificar, avaliar e quantificar posições, custos e gastos ambientais potenciais que precisam ser atendidos a curto, médio e a longo prazo. O Passivo Ambiental muitas vezes é visto como algo negativo para com as empresas que o possuem, por estarem relacionados com danos ao meio ambiente. Mas ele pode estar evidenciando medidas de prevenção ou até mesmo recuperação de algum dano inevitável, como é o caso do reflorestamento realizado pelas empresas de papel, mostrando assim, a preocupação em cuidar do meio ambiente. Dessa forma, nota-se que em sua grande maioria, a presença do passivo ambiental no balanço das empresas pode ser algo positivo. A Petrobrás é uma dessas empresas que investem na preservação do meio ambiente. Seus investimentos já passaram da marca de 36 milhões em projetos ambientais (CARDOSO et al., 2010). AUDITORIA A evolução do sistema capitalista, com a expansão do mercado e, consequentemente, o aumento da concorrência, fez com que as empresas antes fechadas, pertencentes a grupos familiares, ampliassem suas instalações fabris e administrativas, investindo no desenvolvimento tecnológico e aprimorando os controles e procedimentos internos em geral, visando reduzir custos tornando mais competitivos os seus produtos no mercado. E assim, tem-se o surgimento da auditoria, definida, segundo Sá (1998, p. 25), como tecnologia contábil aplicada ao sistemático exame dos registros, demonstrações e de quaisquer informes ou elementos de consideração contábil, visando a apresentar opiniões, conclusões, críticas e orientações sobre situações ou fenômenos patrimoniais de riqueza aziendal, pública ou privada, quer ocorridos, quer por ocorrer ou prospectados e diagnosticados. Outras influências que possibilitaram o desenvolvimento da auditoria foram: instalações de filiais e subsidiárias de firmas estrangeiras; 20 20 financiamento de empresas brasileiras através de entidades internacionais; crescimento das empresas brasileiras e necessidade de descentralização e diversificação de suas atividades econômicas; evolução do mercado de capitais; criação das normas de auditoria promulgadas pelo Banco Central do Brasil, em 1972; criação da Comissão de Valores Mobiliários e da lei das Sociedades Anônimas em 1976. Evolução Primeiramente, para compreender o conceito de Auditoria Ambiental, é necessário entender a origem da auditoria, proveniente das demonstrações financeiras, através das quais ela se originou. As demonstrações financeiras eram informações elaboradas por escrito, destinadas a apresentar a terceiros, alheios à empresa, sócios ou interessados, a situação patrimonial e sua evolução. A auditoria, sobretudo, almejava informar aos usuários que critérios foram adotados em sua elaboração e apresentar parecer de terceiros sem relação direta com a empresa,atestando com fidedignidade que tais demonstrações refletiam a situação do patrimônio e sua evolução durante o período a que se referiam. Com base nisso, pode-se dizer que a auditoria sempre teve como função prover demonstrações financeiras, como o exame das mesmas, por um profissional independente, com a finalidade de emitir um parecer técnico sobre sua real situação. Fato é que ao buscarmos uma definição de auditoria nas mais diversas fontes, necessariamente somos remetidos à área contábil, inclusive fazendo coro com o que se encontra descrito pelo Oxford English Dictionary, que a define como: um exame oficial de contas, validado através de testemunhos e comprovantes. Ainda, se buscar no Reino Unido, considerado pela maioria dos escritores como o berço da auditoria, verificam-se os seguintes registros do que seriam auditoria e auditor na Enciclopédia Britânica, que numa tradução livre quer dizer: auditoria é o exame das contas feitas pelos funcionários financeiros de um estado, companhias e departamentos públicos ou pessoas físicas, e a certificação de sua exatidão. Nas ilhas Britânicas, as contas públicas eram examinadas desde 21 21 há muito tempo, embora, até o reinado da Rainha Elizabeth, de maneira não muito sistemática. Anteriormente, a 1559, esse serviço era executado, às vezes, por auditores especialmente designados, e outras por auditores da receita pública, ou pelo auditor do tesouro, cargo criado por volta de 1314. Mas, em 1559, um esforço foi feito para sistematizar a auditoria das contas públicas, pela indicação de dois auditores para examinar os pagamentos a servidores públicos. Conceitos e objetivos A grande utilidade da Auditoria é atestada por seus fins tão variadíssimos, tais como: certificação e comprovação da exatidão dos fatos contábeis e administrativos (patrimoniais), através do seu registro; identificação dos fatos e comprovação de sua propriedade no patrimônio da sociedade auditada; identificação e comprovação do tempo decorrido e/ou de existência, bem como do valor de efetivos fatores de mensuração dos fatos, tendo em vista o aspecto dinâmico do patrimônio; sugestões e orientações para administração do patrimônio das entidades auditadas; identificação de eventuais falhas no controle, com intuito de saná-las, a fim de proteger o patrimônio contra fraudes; pesquisas com o objetivo de gestão ao longo do tempo; em bases comparativas de valores e efeitos destes; avaliação da eficácia e eficiência decorrentes dos atos e fatos administrativos e/ou contábeis e sobre estes; identificação de riscos decorrentes do negócio que venham a afetar ou afetem o patrimônio; identificação da capacidade de equilíbrio financeiro e econômico da entidade auditada; reorganização de uma empresa; determinação de limites de seguros, análise de custos, fusão, cisão e incorporação de empresas. 22 22 Definidos esses fins, pode-se estabelecer um conceito para a matéria Auditoria; como sendo um conjunto de técnicas de observações e exames, aplicados de forma sistemática, que no contexto do auditado, visa opinar sobre sua situação, sobre sua riqueza, quando este for o caso, ou sobre funções ou áreas específicas componentes do patrimônio do auditado. Há, ainda, sobre o conceito de auditoria uma variada gama de autores que se posicionam, sendo relevante frisar a observação feita por D’Ippolito (1967): A expressão revisão, conforme leva a entender o termo auditoria, dentro do que é estritamente aceitável na prática, foi adotada em um sentido mais amplo, sugerindo um significado também mais ampliado em relação ao seu significado etimológico, o qual resultaria num pensamento de que, auditoria seria apenas um exame e análise retrospectiva dos atos e fatos contábeis e administrativos. Porém, na verdade, não é apenas isso, abrangendo também, previsões sobre as futuras mutações patrimoniais, as expectativas sobre a ocorrência destas no tempo e no espaço futuros e os seus possíveis efeitos no patrimônio do auditado. A revisão, por excelência, é a atividade que se apresenta das mais difíceis para os profissionais, bem como para os gestores da empresa auditada. Ela requer, sobre quem deva ser feita, em relação ao tempo e ao espaço e em relação aos atos e fatos auditados, para atestar sua eficiência, certa profundidade na preparação teórica nos campos de administração, da economia em geral e, ainda, um conhecimento mais aprofundado do campo jurídico e do direito no contexto das relações de negócios e de mercados, envolvendo, também, em muitos casos, extremo conhecimento tecnológico e de negócios em geral. Para Franco e Marra (2000), auditoria é a técnica que consiste no exame de documentos e registros, inspeções, obtenção de informações e confirmações externas e internas, obedecendo a normas e procedimentos apropriados, objetivando verificar se as demonstrações contábeis representam adequadamente a situação nelas demonstrada de acordo com os Princípios Fundamentais de Contabilidade e normas de contabilidade, de maneira uniforme. Organismos reguladores e normas de auditoria Segundo Pinho (2007), a atividade de auditoria no Brasil caracteriza-se pela regulamentação governamental. Em decorrência da abrangência das atividades 23 23 subordinadas a estes organismos e pelo poder de fiscalização que lhes é conferido, é possível classificar como principais reguladores os seguintes: Conselho Federal de Contabilidade – CFC; Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – IBRACON; Comissão de Valores Mobiliários – CVM; Banco Central do Brasil – BACEN. Em caráter restrito, também regulam a atividade as seguintes instituições: Instituto dos Auditores Internos do Brasil – AUDIBRA; Secretaria da Previdência Complementar – SPC; Superintendência de Seguros privados – SUSEP; Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais; Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB. Pinho (2007) nos lembra que ao contrário do Brasil, a auditoria em diversos países é autorregulamentada, ou seja, por intermédio de entidades criadas pelos próprios profissionais, são estabelecidas as regras da atividade. Mas também existem entidades governamentais que fiscalizam o trabalho dos profissionais. Como exemplo, temos: International Federation of Accoutants – IFAC; American Institute of Certified Public Accoutants – AICPA; Canadian Institute of Certified Accoutants – CICA; Japanese Institute of Certified Public Accoutants – Jicpa. As normas tem finalidade de estabelecer os padrões técnicos e de comportamento, visando alcançar uma situação coletiva e individualmente desejável. Na auditoria, estas normas objetivam qualificação na condução dos trabalhos e garantia de atuação suficiente e tecnicamente consistente do auditor e do parecer diante dos usuários da mesma (ATTIE, 1998). Normas são regras práticas que visam a orientar o profissional na consecução dos objetivos traçados para determinado trabalho. No Brasil, em decorrência da forte regulamentação governamental, as normas vigentes foram emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), resultando de um processo evolutivo que tem proporcionado, gradativamente, a aproximação com as normas internacionais do International Federation of Accountants (IFAC). 24 24 Abaixo temos elencadas as normas brasileiras e internacionais que representam o principal conjunto de regras. Resolução CFC nº 678/90 – revisão especial das informações trimestrais (ITR) das Companhias Abertas. Resolução CFC nº 750/93 – princípios fundamentais da Contabilidade. Resolução nº 1054/05 – carta de responsabilidade da administração. Resolução nº 986/03 – da Auditoria Interna. Resolução CFC nº 781/95 – normas Profissionais do Auditor Interno. Resolução CFC nº 820/97– normas Independentes das Demonstrações Contábeis, com alterações e dá outras providências. Resolução CFC nº 821/97 – normas profissionais de Auditor Independente. Resolução CFC nº 1024/05 – papéis de Trabalho e documentação da Auditoria. Resolução CFC nº 830/98 – parecer dos Auditores Independentes sobre as Demonstrações Contábeis. Resolução CFC nº 836/99 – fraude e erro. Resolução CFC nº 1040/05 – transações e eventos subsequentes. Resolução CFC nº 851/99 – regulamentação do item 1.9 da NBC P 1 – Normas Profissionais de Auditor Independente. Resolução CFC nº 1091/07 – revisão Externa de Qualidade pelos pares. Resolução CFC nº 1036/05 – supervisão e Controle de Qualidade. Resolução CFC nº 961/03 – regulamentação dos itens 1.2 – Independência e 1.6 – Sigilo. Resolução CFC nº 1035/05 – planejamento de Auditoria. Resolução CFC nº 976/03 – honorários de Auditoria. Resolução CFC nº 981/03 – relevância na Auditoria. Resolução CFC nº 1074/06 – normas de Educação Continuada para Auditores. Resolução CFC nº 1012/05 – amostragem. Resolução CFC nº 1077/06 – exame de Qualificação Técnica para Registro no Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI). Resolução CFC nº 1019/05 – dispõe sobre o Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI). Resolução CFC nº 1022/05 – contingências. 25 25 Resolução CFC nº 1023/05 – utilização de Trabalhos de Especialistas. Resolução CFC nº 1034/05 – independência. Resolução CFC nº 1037/05 – continuidade Normal das atividades. Resolução CFC nº 1038/05 – estimativas Contábeis. Resolução CFC nº 1039/05 – transações com partes Relacionadas. Instrução CVM nº 308/99 – Atividade de Auditoria Independente no Âmbito do Mercado de Valores Mobiliários. Normas internacionais: NIA 100 – define Auditoria das Demonstrações Contábeis. NIA 200 – estabelece os princípios básicos da auditoria. Define responsabilidade de auditor/administração da entidade. NIA 300 – prevê o plano global de auditoria e o planejamento de cada trabalho, de forma que seja realizado eficazmente. Trata ainda da necessidade de conhecer o negócio e observar a relevância dos eventos. NIA 400 – trata do ambiente de controle, riscos inerentes, riscos de controle e riscos de detecção. NIA 500 – define o que são as evidências de auditoria e os atributos básicos das mesmas, quais sejam: suficiente e apropriada. Considera como procedimentos básicos para obtenção de evidências a inspeção, a observação, a indagação e confirmação, o cálculo e os procedimentos analíticos. NIA 600 – dá orientação quanto ao uso do trabalho de outro auditor. Trata da possibilidade de cooperação entre auditores, das considerações sobre o parecer nesta situação e da divisão de responsabilidades. NIA700 – aborda os elementos básicos do Parecer e orienta acerca de informações de dados comparativos. NIA 800 – trata de trabalhos relacionados às Demonstrações Contábeis. NIA 900 – estabelece procedimentos para serviços correlatos: revisão, compilação e procedimentos pré-acordados. NIA 1000 – procedimentos de confirmação interbancárias (PINHO, 2007). MODULO III- Classes de auditoria 26 26 As classes de auditoria variam de acordo com o tratamento que se dá ao objeto da mesma, decorrendo, portanto, das diferentes necessidades, podendo mudar de processos, que não se deve admitir como autonomia, mas, sim, como derivação de um mesmo método. Numa classificação geral teríamos: Quanto a: Processo indagativo 1.Geral ou de balanços; 2.Analítica ou detalhada. Forma de intervenção 1.Interna; 2.Externa ou independente. Tempo 1.Contínua; 2.Periódica. Natureza 1.Normal; 2.Especial. Limite 1.Total; 2.Parcial. Fonte: Sá (1998, p.44) 27 27 Auditoria ambiental A auditoria ambiental surgiu da necessidade de averiguar se as empresas estavam cumprindo todos os preceitos exigidos pela legislação ambiental. Em seguida, teve sua evolução voltada para se tornar uma ferramenta para o desenvolvimento empresarial e a preservação ambiental (KINLAW, 1997). Cavalcanti (2008 apud HATJE, 2009) define auditoria como sendo o processo de confrontação entre uma situação encontrada com um determinado critério, ou seja, a comparação entre o fato ocorrido com o que deveria ocorrer. A Auditoria Ambiental especificamente pode ser definida como um instrumento de gestão que permite fazer uma avaliação sistemática, documentada e periódica das atividades de uma organização, para controlar e minimizar seus impactos sobre o meio ambiente, visando uma melhoria contínua do seu desempenho (VALLE 2004; MARTINI; GUSMÃO, 2003). De acordo com a NBR ISO 14010, auditoria ambiental é o processo sistemático e documentado de verificação, executado para obter e avaliar, de forma objetiva, evidências de auditoria para determinar se as atividades, eventos, sistema de gestão e condições ambientais especificados ou as informações relacionadas a estes estão em conformidade com os critérios de auditoria, e para comunicar os resultados deste processo ao cliente. Segundo Sales (2001), a auditoria ambiental é o procedimento sistemático através do qual uma organização avalia suas práticas e operações que oferecem riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, para averiguar sua adequação a critérios preestabelecidos (usualmente requisitos legais, normas técnicas e/ou políticas, práticas e procedimentos desenvolvidos ou adotados pela própria empresa ou pela indústria na qual é aplicada). Voltando a Kinlaw (1997), este diz que a Auditoria Ambiental funciona como uma coleta sistemática de dados que podem ser usados para determinar o impacto total de um sistema na forma do input proveniente do meio ambiente ou do output lançado para o meio ambiente. Amaral (s.d apud Viegas, 1997) coloca o conceito da Auditoria Ambiental, definida pela Confederação de Indústrias Britânicas, como um exame sistemático das interações que surgem entre determinadas operações de negócios e seu ambiente interno 28 28 e externo, incluindo-se todos os danos ambientais causados, principalmente na atmosfera, terra e água. Já na concepção de Valle (1995) e Wilson (1992), a auditoria ambiental é definida como uma ferramenta de gestão que permite fazer uma ponderação sistemática, periódica, documentada e objetiva dos sistemas de gestão e do desempenho dos equipamentos instalados em uma organização, para fiscalizar e limitar o impacto de suas atividades sobre o meio ambiente. A auditoria ambiental é a avaliação sistemática, periódica, documentada e objetiva das operações e práticas realizadas em uma organização em relação às exigências ambientais, resultando em uma opinião ou julgamento (BRAGA et al., 1996). Segundo Ribeiro (1998), a auditoria ambiental é um instrumento de gestão direcionado ao atendimento dos métodos e procedimentos utilizados na operacionalização do controle e conservação do meio ambiente, levando-se em consideração os parâmetros estabelecidos no sistema de gestão ambiental da organização, visando à continuidade da empresa sem agressão ao meio ambiente. Para Woolston (1993 apud OLIVEIRA FILHO, 2002), auditoria ambiental é uma ferramenta de gestão, compreendendo uma avaliação sistemática, documentada, periódica e objetiva, visando a gestão empresarial e a proteção ambiental, com o intuito de: facilitar o controle gerencial no que diz respeito às decisões que envolvam as práticas ambientais; considerando as políticas adotadas pelas empresas, efetuar constantes reuniões para discutir as necessidades da organização. A auditoria ambiental pode ser definida como o processo de avaliação das empresas de acordo com as leis e regulamentos ambientais, bem como com os procedimentos e políticas das organizações (PRICE WATERHOUSE,1994 apud OLIVEIRA FILHO, 2002). Considerando-se a diversificação das opiniões na literatura, de forma resumida, pode-se concluir que a auditoria ambiental é uma ferramenta de controle destinada a fazer uma análise preliminar em toda a organização, a fim de destacar as áreas que necessitarão de uma revisão mais detalhada, através de um programa estruturado e 29 29 sistemático, objetivando averiguar se o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) está condizente com a política ambiental da empresa e com a legislação em vigor. Face ao exposto, pode-se afirmar que a auditoria ambiental é um instrumento de previsão e prevenção de possíveis danos ambientais. A auditoria, para atender à necessidade de informação sobre as empresas, começou a desenvolver estudos, principalmente com base em fato ocorrido na Índia com a empresa Union Carbide, cuja tragédia resultou em centenas de mortes devido ao vazamento de gases. As ações da empresa despencaram nas Bolsas de Valores, inclusive porque as famílias afetadas pela tragédia deveriam ser indenizadas, o que levou à venda da empresa por um valor substancialmente menor do que ela valia antes do acidente. Mais recentemente, tragédia parecida aconteceu no Alaska (EUA), com o vazamento de óleo no mar, provocado pela empresa Exxon. Também neste caso, o impacto foi sentido no preço das ações. Nos dois casos, percebeu-se que ambas as empresas não tinham em suas demonstrações contábeis, nem sequer sob a forma de notas explicativas, nenhuma menção aos prováveis riscos em que elas estavam incorrendo com a poluição do meio ambiente e quanto à consequente necessidade de indenizar pessoas ou governos, ou ainda quanto a gastos de recuperação ambiental pelos danos causados por atividades de sua responsabilidade (FERREIRA, 2007). Desses fatos resultaram preocupações, principalmente nas empresas de auditoria, que deveriam atestar se as demonstrações contábeis estavam de acordo com os princípios de contabilidade e com a legislação, mas que, até aquele momento, não consideravam em suas análises as contingências relativas ao meio ambiente. A auditoria, entretanto, é uma análise a posteriori e, inclusive, passiva. O fato ocorre, polui-se e depois atesta-se que o passivo ambiental foi considerado nas demonstrações contábeis através de provisões ou reservas para contingências, conforme o caso. Essas informações, entretanto, são muito pobres em se tratando de gestão ambiental voltada para o desenvolvimento sustentável. Além disso, a contabilidade não pode esquecer-se de seus dois postulados, o da Entidade e o da Continuidade, que justificam outra abordagem contábil para o problema do meio ambiente. Nota-se, contudo, um esforço para que a auditoria possa ser mais um instrumento de gestão ambiental. Para isso, foram desenvolvidos padrões de ações e de 30 30 processos relativos às operações de empresas que causam impacto no meio ambiente. Esses padrões, decorrentes inicialmente das normas britânicas (BS 5750), resultaram na edição das normas ISO 14000, referentes a certificações sobre os padrões de qualidade para o meio ambiente. Os principais elementos da auditoria ambiental podem ser assim sintetizados: identificar a mais importante das interações do meio ambiente da organização; avaliar o grau dos impactos ambientais; aprender sobre como negociar, reduzir ou melhorar os impactos da organização; identificar uma lista de prioridades das interações para serem tratadas (isso se desenvolverá, em parte, dos dois primeiros elementos, e em parte, como resposta para mudanças reais e potenciais nas leis e nas atitudes da sociedade); estabelecer políticas e padrões; identificar responsabilidades; montar equipes de treinamento; mudar práticas e colocar as políticas em ação; desenvolver um sistema de informações do meio ambiente; monitorar e estimar o desempenho; avaliar desempenho e os padrões; reavaliar esta lista, começando pelo início, numa base sistemática e contínua (GRAY s.d apud FERREIRA, 2007). Objetivos O principal objetivo da auditoria ambiental é auxiliar no processo de melhoria dos programas de controle ambiental, sendo importante o suporte e o comprometimento gerencial. Na grande maioria das vezes, constitui-se num dos mais importantes instrumentos de gerenciamento ambiental para prevenção do dano. Pode-se elencar, dentre tantos outros, alguns dos principais objetivos de uma auditoria ambiental, que auxilie em uma melhor compreensão de sua real aplicabilidade como instrumento de controle e prevenção ambiental. Quais sejam: a) permitir a investigação sistemática dos programas de controle ambiental de uma empresa; b) auxiliar na identificação de problemas ambientais futuros; 31 31 c) verificar se a operação industrial está em conformidade com as normas e padrões mais rigorosos definidos pela empresa (DALL’AGNOL, 2008). Enfim, a auditoria ambiental tem como objetivo caracterizar a situação da empresa para fornecer um diagnóstico atual no que diz respeito a poluição do ar, águas e resíduos sólidos, favorecendo a definição das ações de controle e de gerenciamento que deverão ser tomadas para proporcionar a sua melhoria ambiental. Ela fornece recomendações de ações emergenciais, de curto, médio e longo prazo que deverão ser tomadas para proporcionar a melhoria ambiental da empresa. De forma sucinta, pode-se dizer que a auditoria ambiental compara resultados com expectativas ambientais. Funções e tipos de auditoria ambiental A ação ambiental impactante de uma entidade não se limita ao processo produtivo. Portanto, mesmo que a política ambiental aborde somente o processo produtivo em si, a auditoria ambiental, sempre que possível, deve incluir as suas entradas (matéria, energia e fornecedores), o processo produtivo em si e as saídas (produtos e embalagens, efluentes líquidos, emissões gasosas, rejeitos e resíduos, ruídos e vibrações, odores, radiações, transporte de produtos, entre outros) (SILVA; ASSIS, 2003). Existem diferentes formas de auditorias ambientais, que são definidas em função dos diversos objetivos a que elas se propõem. Uma divisão simples classifica as auditorias em quatro classes: 1. auditoria dos impactos ambientais – onde é feita uma avaliação dos impactos ambientais no ar, água, solo e comunidade de uma determinada unidade industrial ou de um determinado processo com objetivo de fornecer subsídios para ações de controle da poluição, visando a minimização desses impactos; 2. auditoria dos riscos ambientais – onde é feita uma avaliação dos riscos ambientais reais ou potenciais de uma fábrica ou de um processo industrial especifico; 3. auditoria da legislação ambiental – onde é feita uma avaliação da situação ambiental de uma determinada fábrica ou organização em relação ao cumprimento da legislação vigente; 4. auditoria de sistemas de gestão ambiental – é uma avaliação sistemática para determinar se o sistema da gestão ambiental e o desempenho ambiental de uma 32 32 empresa está de acordo com sua política ambiental, e se o sistema esta efetivamente implantado e adequado para atender aos objetivos ambientais da organização. A auditoria de sistema de gestão é uma ferramenta de gestão, compreendendo uma avaliação sistemática, documentada, periódica e objetiva sobre como os equipamentos, gestão e organização ambiental estão desempenhando o objetivo de ajudar a proteger o meio ambiente. A maioria das auditorias ambientais é uma combinação de uma e outra forma de auditoria. Contudo, o objetivo principal de qualquer auditoria ambiental é a realização de um diagnóstico da situação atual para verificar o que está faltando e promover ações futuras que tragam a melhora do desempenho ambiental da empresa (ECP CONSULTORIA 2009). De acordo com Woolston (1993 apud OLIVEIRA FILHO, 2002), a auditoriaambiental pode ser dividida em dois grandes grupos – auditoria de produto e auditoria corporativa –, sendo que a primeira visa basicamente: avaliar ou reavaliar os programas de garantia da qualidade na criação de um novo produto, ou seja, quais os cuidados iniciais que devem ser tomados na fabricação de um produto novo no mercado; averiguar a procedência dos insumos empregados na produção; verificar de que maneira as informações de caráter ambiental são avaliadas antes de sua transmissão aos consumidores; avaliar a segurança das embalagens utilizadas pelos produtos; estimar os efeitos causados ao meio ambiente pelos produtos durante seu ciclo de vida até sua disposição final. A auditoria ambiental corporativa, por sua vez, poderá focalizar: um local individualmente; uma única empresa de um determinado grupo; uma divisão operacional (principalmente quando se tratar de companhias de grande porte); um Sistema de Gestão Ambiental (WOOLSTON, 1993 apud OLIVEIRA FILHO, 2002). 33 33 No que diz respeito à divisão operacional, Woolston (1993 apud OLIVEIRA FILHO, 2002) descreve que a auditoria ambiental corporativa será empregada com o propósito de: analisar o setor de compras, com a finalidade de averiguar quais matérias-primas devem ser adquiridas de forma a causarem o menor impacto possível ao meio ambiente; examinar o sistema de transporte, a fim de mensurar os efeitos causados ao meio ambiente. Estas auditorias corporativas podem ser divididas em auditorias técnicas ou de conformidade, de responsabilidade e auditorias de minimização de desperdício, sintetizadas no organograma e, logo após, em um quadro. (WOOLSTON, 1993 apud OLIVEIRA FILHO, 2002). MODULO IV- AUDITORIAS As auditorias de conformidades ou técnicas têm a finalidade de checar se a companhia está em conformidade com as leis, regulamentações e política da empresa enquanto a auditoria de responsabilidade tem como objetivo verificar os padrões ambientais das companhias, em função das exigências das instituições financeiras, das 34 34 companhias de seguros e do mercado consumidor. Também é utilizada como requisito para o processo de fusão, incorporação e aquisição de companhias. Em Silva e Assis (2003), encontramos também as seguintes finalidades para as auditorias: auditoria de conformidade – consiste na verificação do cumprimento da legislação aplicável existente. É uma auditoria de ambição muito limitada, pois se restringe à legislação existente e de caráter “defensivo”; auditoria pós-acidente – centrada nos problemas de responsabilidade penal ou civil, tem por objetivo determinar as causas de um acidente. Em geral, realizada paralelamente a um procedimento jurídico, pode dar elementos à procuradoria, mas também pode fornecer à empresa; auditoria de riscos – pode ser aplicada no caso de um contrato de seguro ou, em um âmbito mais geral, no caso de uma análise de risco. Neste último caso, ela é útil para a empresa conhecer com precisão a extensão do risco de um acidente para o meio ambiente e, consequentemente, os riscos jurídicos, econômico e financeiro. Com este tipo de auditoria, a empresa visa simplesmente limitar seus riscos; auditoria de operação de fusão, absorção ou de aquisição – uma empresa que deseja, por exemplo, adquirir uma outra empresa pode solicitar uma auditoria ambiental para saber a natureza dos riscos ao qual ela estaria sujeita. Outro caso, por exemplo, é o da venda de terrenos nos quais serão colocados materiais descartados; a empresa vendedora pode realizar uma auditoria ambiental para se desembaraçar de responsabilidades futuras no caso de contaminação. Da mesma forma, uma empresa que vai comprar um terreno pode solicitar uma auditoria para saber em que situação, com relação à qualidade do solo e das águas, ele se encontra; auditoria de gerenciamento geral – essa auditoria tem um objetivo maior. Trata- se de verificar todos os possíveis impactos da empresa sobre o meio ambiente. Essa auditoria permite a definição de uma orientação e de uma política da empresa por meio da totalidade dos dados ambientais e considera as evoluções futuras do contexto jurídico (SILVA; ASSIS. 2003). 35 35 Algumas empresas especializadas em auditoria e assuntos afins podem estar aptas a realizar, por exemplo: auditoria de conformidade legal (DZ 56 – FEEMA-RJ e CONAMA 306/02); auditoria de avaliação do atendimento a requisitos legais aplicáveis visando atender o requisito 4.5.2 da ISO 14001 e o requisito 4.5.1 da OHSAS 18001, e outros; auditoria de Sistemas de Gestão (ISO 14001, OHSAS 18001 e ISO 9001), Terceirização das auditorias internas exigidas nas Normas de Gestão, permitidas pelos Organismos de Certificação e conforme os requisitos da NBR ISO 19011, proporcionando economia de recursos humanos e econômicos para o cliente; auditoria de fornecedores e prestadores de serviço ambientais, avaliando os principais aspectos e impactos ambientais, reais ou potenciais e os padrões adequados a serem atendidos pelos prestadores de serviços ambientais de forma a garantir a proteção ao meio ambiente através da melhoria do desempenho ambiental destes contratados e, ao mesmo tempo, minimizando o risco potencial de responsabilidade da empresa cliente por danos ambientais; auditoria Due Diligence de compra e venda / Auditoria de Passivo Ambiental – avalia os riscos ambientais e os passivos ambientais associados à compra, venda ou encerramento, para que sejam identificados e levados em consideração durante a transação imobiliária. (De Martini Junior http://www.demartiniambiental.com.br/). Outro exemplo seria a auditoria para um empreendimento habitacional que pode contar com uma auditoria ambiental interna ou externa. A auditoria interna, executada pelos moradores, por meio de uma associação representativa e, se necessário por auditores independentes contratados, tem seus resultados (conclusão da auditoria) de uso interno ou condominial. A auditoria externa é realizada, necessariamente, por auditores independentes externos à organização, sendo seus resultados avaliados por terceiros, como organização de certificação, e seu uso deve ser atinente ao Poder Público, por meio de órgãos responsáveis por políticas habitacionais e/ou ambientais, e mesmo disponibilizados para consulta pública, principalmente no caso de determinadas leis (RODRIGUES, 2007). O quadro abaixo sintetiza o tipo e o que avalia uma auditoria: 36 36 TIPO O QUE AVALIA Auditoria de Conformidade Legal Adequação à legislação. Auditoria de Desempenho Ambiental Conformidade com a legislação, regulamentos e indicadores setoriais. Auditoria de Sistema de Gestão Ambiental Cumprimento dos princípios Sistema Gestão Ambiental, adequação e eficácia do Sistema de Gestão Ambiental. Auditoria de Certificação Conformidade com os princípios da norma certificadora. Auditoria de Descomissionamento Danos ao entorno pela desativação da unidade produtiva. Auditoria de Sítios Estágio de contaminação de um local. Auditoria Pontual Otimização dos recursos no processo produtivo. Auditoria de Responsabilidade O passivo ambiental da empresa. Fonte: Silva; Assis (2003) Vantagens e desvantagens Assim como a auditoria contábil é ferramenta básica para a indicação da saúde financeira de uma empresa, a auditoria ambiental tem se tornado ferramenta básica na avaliação da saúde ambiental da empresa, diagnosticando eventuais riscos que possam vir a transformar-se em sérios danos ambientais (DALL’AGNOL, 2008). A primeira grande vantagem da auditoria acontece quando há comprometimento da direção da empresa e disponibilidade de recursos para aplicar em auditoria visando corrigir as não conformidades detectadas. Alguns benefíciosque decorrem dessa ação seriam: a) identificação e registro das conformidades e das não-conformidades com a legislação, com regulamentações e normas e com a política ambiental da empresa (caso exista); b) prevenção de acidentes ambientais; 37 37 c) melhor imagem da empresa junto ao público, à comunidade e ao setor público; d) provisão de informação à alta administração da empresa, evitando-lhe surpresas; e) assessoramento aos gestores na implementação da qualidade ambiental na empresa; f) assessoramento à alocação de recursos (financeiro, tecnológico, humano) destinados ao meio ambiente na empresa, segundo as necessidades de proteção do meio ambiente e as disponibilidades da empresa, descartando pressões externas; g) avaliação, controle e redução do impacto ambiental da atividade; h) minimização dos resíduos gerados e dos recursos usados pela empresa; i) promoção do processo de conscientização ambiental dos empregados. Como vantagens da auditoria ambiental temos: a) ajuda a proteger o meio ambiente interno e externo da empresa; b) identifica e documenta o cumprimento de políticas, diretrizes e padrões ambientais; c) identifica e documenta o cumprimento da legislação ambiental; d) ajuda a evitar ou minimizar o uso de recursos naturais; e) conduz a melhorias no desempenho ambiental da unidade auditada; f) aumenta a conscientização e a responsabilidade ambiental de dirigentes e empregados; g) fornece garantias à administração superior quanto ao gerenciamento correto das responsabilidades ambientais; h) melhora a imagem institucional da empresa; i) protege a empresa contra eventuais ações de responsabilidade civil; j) melhora a higiene e a segurança dos empregados; k) permite obter taxas de seguro mais vantajosas; l) facilita a obtenção de cobertura de seguro por danos ambientais; m) atribui crédito positivo à direção da unidade auditada quando há um bom desempenho ambiental; 38 38 n) facilita o intercâmbio de dados e informações ambientais entre unidades auditadas; o) permite avaliar a evolução do tratamento das questões ambientais por unidade auditada (OLIVEIRA FILHO, 2002). Evidentemente que existem desvantagens, a saber: a) não pode ser implantada e mantida sem um gasto considerável; b) exige a alocação de empregados especializados ou a contratação de serviços de terceiros; c) pode levar a uma falsa imagem da empresa se não houver cautela na interpretação e divulgação dos resultados; d) poderá ocasionar uma falsa sensação de segurança ambiental, em especial se a auditoria foi realizada de maneira incompleta ou por auditores inexperientes (OLIVEIRA FILHO, 2002). Procedimentos e etapas Segundo Braga et al. (1996), a auditoria ambiental está caracterizada de acordo com três elementos fundamentais, que são: 1. a coleta de dados e informações existentes nas organizações; 2. a avaliação dos dados coletados, tendo como ponto de apoio a experiência, as normas e os padrões técnicos inerentes à profissão; 3. o relatório, com base na análise dos dados colhidos, apontando as conclusões e recomendações. De uma forma geral, a utilização da ferramenta “auditoria ambiental” presta-se, em um primeiro plano, ao acompanhamento da evolução e qualidade de um Sistema de Gestão Ambiental; por outro lado, quando uma empresa não possui um SGA, a auditoria ambiental poderá ser efetuada baseando-se na documentação que originou o licenciamento ambiental. De acordo com Juchem (1995), torna-se difícil a atuação da auditoria ambiental dentro de uma organização que não disponha de um SGA. Mesmo assim, as auditorias ambientais isoladas e desvinculadas de uma gestão ambiental podem ser feitas para casos específicos como, por exemplo, para fins de incorporação ou compra e venda de 39 39 empresas; por exigências de companhias seguradoras ou bancos financiadores; para atender dispositivos legais específicos. Juchem (1995) enfatiza que o processo de auditoria ambiental em maior escala, envolvido com a gestão ambiental da empresa, em muitos casos vai muito além dos itens acima citados e, em geral, deverá ser efetuado com uma certa periodicidade. Jones (s.d apud Ferreira, 1999) diz que a auditoria ambiental visa identificar os problemas relacionados com a produção, com a operação de processos ou até mesmo com a prestação de serviços, para que os possíveis problemas ambientais sejam sanados antes que se tornem exigências dos organismos de fiscalização da área ambiental, dos investidores, das instituições financeiras ou das companhias de seguro. A auditoria ambiental tem um caráter nitidamente preventivo e constitui um instrumento fundamental para o aperfeiçoamento do SGA das organizações. De acordo com Viterbo Júnior (1998), as empresas devem sempre manter programas e procedimentos definidos para que, considerando-se a política ambiental da organização, periodicamente, possam efetuar-se as auditorias preventivas no sistema de gestão ambiental, de forma a: verificar a adequação da implantação do sistema de gestão ambiental e se há manutenção constante do mesmo; determinar se o sistema de gestão ambiental está de acordo com as disposições planejadas, inclusive com os requisitos das normas de proteção ambiental; subsidiar a administração, para fins deliberativos, através dos resultados das auditorias efetuadas. O programa para efetivação dos trabalhos da auditoria ambiental, inclusive o cronograma das atividades, deverá ter por base a relevância ambiental das atividades da organização, envolvendo, também, os resultados anteriores respaldados nos relatórios de auditoria (VITERBO JÚNIOR 1998). Na concepção de Gilbert (1995), para que um programa de auditoria possa testar a eficácia de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), ele deve abordar pelo menos os seguintes fatores: a) as atividades e áreas específicas a serem avaliadas, inclusive: a estrutura organizacional, funções e responsabilidades; os procedimentos de operação e administração das atividades; 40 40 as atividades e processos na área de trabalho; os procedimentos operacionais e registros; e, o desempenho ambiental. b) o cronograma da atividade de auditoria ambiental. As auditorias são estabelecidas com base na importância da atividade e no resultado de auditorias ambientais anteriores; c) definições de quem é responsável pela atividade de auditoria em cada área; d) definições dos critérios para a equipe que realiza as auditorias ambientais. Os auditores devem ser independentes das áreas que estão sendo avaliadas; possuir alguma perícia na disciplina relevante e ser apoiados por especialistas sempre que necessário; e) o protocolo para realização da auditoria ambiental, ou seja, a ordem dos eventos, coleta de indícios e registro de conclusões; f) o procedimento para relatórios das conclusões da auditoria ambiental aos responsáveis pela área ou atividade avaliada e a identificação dos responsáveis pelas ações corretivas relacionadas às deficiências relatadas. O relatório deve incluir: conformidade ou não conformidade do SGA com as exigências; eficácia do SGA no cumprimento de objetivos e alvos; acompanhamento das conclusões de auditorias anteriores e conclusões e recomendações. Segundo vários autores que descrevem o processo completo das auditorias ambientais, essa se compõe basicamente de três etapas que se assemelham às auditorias financeiras: preparação ou pré-auditoria; instalação ou atividade de campo (auditoria propriamente dita); e, a atividade de pós-auditoria ou registro das constatações/ relatório (SILVA; ASSIS, 2003). Começa-se por estabelecer os objetivos determinados pelos auditados, delimitam-se o campo de atuação e de realização, o objeto a ser auditado e o período de sua realização (escopo). A partir dos objetivos e escopo, estabelecem-se os critérios
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