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Curso de Graduação Online | UNISUAM PEDAGOGIA Avaliação Educacional UN ID AD E 2 Definição e a Construção da Avaliação Nesta unidade, abordaremos uma perspectiva de avaliação democrática e autônoma, que ajuda no crescimento do indivíduo, enquanto sujeito social. E, para facilitar o seu aprendizado, esta unidade está estruturada em cinco tópicos: T1. Avaliação e Construção de Autonomia T2. Etapas da Avaliação T3. A Autoavaliação e o Processo de Aprendizagem T4. Avaliar para Qualificar T5. Definição de Problemas de Avaliação Fo nt e : F re e p ik Avaliação Educacional Pedagogia Online | UNISUAM 2 2 T1 Ao final, você será capaz de: • Reconhecer como a avaliação atua na construção da autonomia e quais as suas etapas; • Reconhecer como a autoavaliação e o processo de aprendizagem têm um papel na vida do indivíduo; • Reconhecer como se deve utilizar a avaliação e a qualificação e quais os problemas oriundos da avaliação. Vamos iniciar a nossa viagem! Avaliação e Construção de Autonomia Já descobrimos que a avaliação é um processo de coleta de dados e sua análise. Mas para que ela contribua para a construção da cidadania, é necessário que se assuma a compreensão do indivíduo que aprende e se desenvolve, e do próprio processo de aquisição do conhecimento de forma contextualizada. Diante disso, Paulo Freire afirma que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 2003, p. 47). No entanto, o que observamos na maioria das instituições é a supervalorização dos aspectos quantitativos em detrimento dos qualitativos. A ênfase dada à avaliação é na certificação e se baseia no cumprimento de uma série de requisitos pré-estabelecidos pela organização burocrática institucional. Para o educando, a avaliação se caracteriza como ritual de passagem, uma condição obrigatória para a continuidade dos estudos. Fo nt e : F re e p ik É necessário que a avaliação assuma a compreensão do indivíduo de forma contextualizada 3 Unidade 02 Definição e a Construção da Avaliação Mas a avaliação, para ser autônoma, deve ser um processo que considere as distintas particularidades e dinâmicas. Devendo sair do papel de dimensão classificatória, aquela, que classifica o aluno, de acordo com a sua nota, para uma avaliação orientadora e formadora, que forneça subsídios para uma prática mais eficaz e satisfatória. Para uma formação democrática da avaliação, deve-se nortear o aluno para que o professor entenda o seu estágio de desenvolvimento. Desta maneira, a avaliação não é classificatória, mas orientadora de sua formação. Essa forma de avaliar é denominada avaliação formativa. Avaliação como Emancipadora e Autônoma Quando se classifica a avaliação, tem-se um movimento autoritário; quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido pelo aluno, fragmenta-se o processo de avaliação e introduz-se uma burocratização que leva à perda do sentido do processo e da dinâmica da aprendizagem. A avaliação deve ser considerada como formativa, como um rico processo em que avaliador e avaliado busquem então uma avaliação qualitativa. É nessa perspectiva que podemos destacar a avaliação emancipadora, como elemento principal na construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva. Para tal, faz-se necessário que a ética permeie todo e qualquer procedimento avaliativo. Se a avaliação tem sido reconhecida como uma função diretiva, ou seja, tem a capacidade de estabelecer a direção do processo de aprendizagem, oriunda esta capacidade de sua característica pragmática, a fragmentação e a burocratização já mencionadas levam à perda da dinamicidade do processo. Nunan (2000), em seu texto sobre autonomia, lista quatro estratégias para fomentar a autonomia em sala de aula: Avaliação Educacional Pedagogia Online | UNISUAM 4 Etapas da Avaliação As diversas fases da avaliação desenvolvem papel decisivo nesse processo. E nenhuma delas exclui avaliador e avaliado do compromisso de ser o seu próprio agente de decisão e responsável pelo processo educativo. Durante o processo de avaliação, podemos encontrar as seguintes etapas: Quando a avaliação é feita com uso de medidas, segundo Thorndike e Hage (1973), deve-se seguir os seguintes passos: T2 5 Unidade 02 Definição e a Construção da Avaliação Já a autora Clara A. Colotto faz algumas modificações introduzidas em função dos nossos propósitos, nas seguintes etapas: 1. determinar o que vai ser avaliado = formular objetivos em termos de comportamento observável e o que será avaliado: habilidades, atitudes e interesses; 2. estabelecer os critérios e as condições para avaliação = representar as situações em que o processo é realizado. São indicadores da execução de um trabalho. 3. selecionar os procedimentos e instrumentos de avaliação = utilizar-se de certos meios ou técnicas mais adequadas para o alcance dos objetivos; 4. quantificar o atributo em unidades de grau ou quantidade = etapa de aferição dos resultados. Confira, a seguir, o mapa das etapas da avaliação: Avaliação Educacional Pedagogia Online | UNISUAM 6 Romão (1998) sinaliza que as etapas para avaliação sejam em um processo dialógico, que em primeiro, permeie em identificar o que vai ser avaliado – que se pode traduzir em critérios. Em seguida, estabelecer a construção, negociação e estabelecimento de padrões. Logo após, estabelecer a construção dos instrumentos de medidas e de avaliação para que a próxima etapa construa um procedimento de medida e de avaliação e que, por fim, traduz a análise dos resultados. A tarefa do educador dialógico é trabalhar em equipe interdisciplinar este universo temático, recolhido na investigação, devolvê-lo, como problemas. Não como dissertação, aos homens de quem recebeu (FREIRE, 1996). A Autoavaliação na Prática Pedagógica Qualquer pessoa pode experimentar um processo de avaliação contínua. A avaliação de alunos permite a organização da sociedade, definindo quem pode desempenhar uma ou outra função. A autoavaliação é um processo cognitivo complexo pelo qual um indivíduo faz um julgamento voluntário e consciente por si mesmo e para si mesmo, com o objetivo de um melhor conhecimento pessoal, de suas ações, do seu desenvolvimento cognitivo. Mas, para que a autoavaliação tenha um efeito satisfatório, ela precisa ser ensinada pelos professores a seus alunos, para que possam avaliar-se e ter uma visão mais clara da situação em que se encontram no momento. T3 Fo nt e : L e ss o n s Le ar n e d 7 Unidade 02 Definição e a Construção da Avaliação Assim, a autoavaliação é efetiva para combater o autoengano ou o excesso de expectativas. É um método eficaz porque traz autonomia ao aluno em seu processo de aprendizagem. A autoavaliação permite que os estudantes desenvolvam habilidades críticas no que tange a observar e julgar suas próprias aprendizagens. Conforme Bernardes e Miranda (2003, p. 21), “[...] com a autoavaliação, o aluno conquista a competência de pensar, a capacidade de exercer o controle das suas ações bem como de tomar decisões face às suas aprendizagens”. Mas, para uma autoavaliação eficaz, é importante o cumprimento de vários objetivos em relação ao processo de conhecimento. É importante levar em conta os seguintes pontos: Definir Critérios Em primeiro lugar, é fundamental esclarecer quais critérios devem ser seguidos ao longo do processo de avaliação. Definir estes critérios é o ponto de partida. Esclarecer os Objetivos dos Resultados Uma vez definidas as regras, deve-se esclarecer os objetivos em termos de resultado para poder superar uma prova em particular. Avaliarse os Resultados Ajustam-se aos Critérios Avaliar cuidadosamente a realização de uma atividade individual, para comprovar se os resultados se ajustam aos critérios estabelecidos de acordo com a nota final, que pode ser classificada de forma genérica como aprovada ou retida. Saber o Resultado Final Saber o resultado final é importante para elaborar um plano de ação adequado de acordo com o fim proposto. Por exemplo, se um aluno mostra desconhecimento em alguma matéria é necessário elaborar um plano de ação com o objetivo de corrigir e melhorá-la. Manutenção do Plano de Ação No caso de um aluno obter bom resultado em uma autoavaliação, isso se deve ao fato de realizar um plano de ação. Nesse caso, vale a manutenção desse plano para continuar com esse ótimo nível. Avaliação Educacional Pedagogia Online | UNISUAM 8 Como Promover a Autoavaliação? Além das autoavaliações orais e escritas, uma maneira bem eficaz de promover a autoavaliação é o portfólio que abordaremos nas próximas aulas. O que podemos adiantar é que, ao utilizar esse instrumento, o aluno, além de expressar suas análises apoiadas nas aprendizagens verificadas por intermédio do portfólio, tem a capacidade de, no decorrer da construção do instrumento, perceber aquilo que ainda pode melhorar, indicando a percepção de seus erros e a tentativa de acertos que ficam evidenciados nas atividades subsequentes. Mas alguns equívocos ainda acontecem na aplicação da autoavaliação. O mais grave é a falta de acompanhamento e intervenção do professor. Mas podemos citar alguns: Deixar o aluno dar a sua própria nota Permitir ao aluno dar sua própria nota nada acrescentará na aprendizagem. Fazer perguntas genéricas Perguntas genéricas dão margem a respostas vagas, o importante são perguntas específicas, para que o educando se foque no que realmente precisa avançar naquele momento. É importante a autorregulação por parte do professor, que ele realize um conjunto de ações para modificar o que está inadequado. O objetivo principal é levar o educando a confrontar seu desempenho com o que se espera. o portfólio É um instrumento que permite ao educando entender o que ainda se pode melhorar para a construção do conhecimento Fo nt e : F re e p ik 9 Unidade 02 Definição e a Construção da Avaliação Natureza da Autoavaliação Quanto à natureza da autoavaliação, não se deve misturar procedimentos, atitudes e conteúdos em uma única autoavaliação, e nem deixá-la para um único momento apenas. Ela deve ser contínua e separada. E se for de conteúdo, o ideal é ser feita ao final de cada tema. Quando o objetivo é avaliar atitudes, pode-se criar uma ficha, que possa indicar a evolução ao longo do período. Leonor Santos, da Universidade de Lisboa, escreveu o artigo “Autoavaliação Regulada: porquê, o quê e como?” que define autoavaliação como: “um processo de metacognição, entendido como um processo mental interno através do qual a própria pessoa toma consciência dos diferentes momentos e aspectos da sua atividade cognitiva” (SANTOS, 2002, p. 2). A autora ao citar Hadgi (1997) menciona a importância desta consciência por parte do aprendiz, pois “o objetivo é que o aluno seja ele próprio capaz de fazer a sua autocorrecção, sendo para isso necessário compreender o erro para criar condições para ultrapassá-lo (SANTOS, 2002, p. 3, grifo nosso). Quando o próprio consegue identificar o erro e corrigi-lo, acontece aprendizagem. Cabe ao professor interpretar o seu significado, formular hipóteses explicativas do raciocínio do aluno, para o poder orientar. Embora não existam receitas prontas a servir, apontaremos algumas estratégias a serem desenvolvidas pelo professor para desenvolver a autoavaliação regulada dos alunos. Vamos conhecê-las! a autoavaliação leva o indivíduo a tomar consciência da sua atividade cognitiva Fo nt e : M O T D ig ita l Avaliação Educacional Pedagogia Online | UNISUAM 10 Abordagem positiva do erro Para que qualquer processo de regulação seja eficaz, ter-se-á de passar, numa primeira fase, pela compreensão da situação. Questionamento sobre o quê e como fazer Se a autoavaliação passa por um processo consciente de reflexão sobre o que está a fazer e como se está a fazer, o aluno terá de desenvolver a capacidade de autoquestionamento. Mais uma vez o papel do professor será fundamental. O aluno poderá aprender a colocar-se autonomamente boas questões se o professor colocá-las de forma continuada. O questionamento por parte do professor pode ocorrer oralmente na sala de aula, enquanto os alunos realizam as tarefas propostas, e por escrito, tomando por base produções realizadas. Explicitação/negociação dos critérios de avaliação Todo professor deve ter critérios de avaliação. Só assim ele é capaz de ajuizar da qualidade de um produto realizado pelo aluno. Ele deve desenvolver um processo de negociação com os alunos. Este segundo cenário tem a grande vantagem de corresponsabilizar os alunos no processo avaliativo, ajudando-os a apropriarem-se mais facilmente desses mesmos critérios. Como nos diz Perrenoud (1999, p. 96): Toda a ação educat iva só pode est imular o autodesenvolv imento, a autoaprendizagem, a autorregulação de um sujeito, modificando o seu meio, entrando em interação com ele. Não se pode apostar, afinal de contas, senão na autorregulação. Avaliar para Qualificar Gadotti (1990) diz que a avaliação é essencial à educação, inerente e indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão sobre a ação. Entendemos que a avaliação se faz necessária para que possamos refletir, questionar e transformar nossas ações. T4 Fo nt e : F re e p ik a avaliação É necessária para que se possa refletir, questionar e transformar as ações 11 Unidade 02 Definição e a Construção da Avaliação O mito da avaliação é decorrente de sua caminhada histórica, sendo que seus fantasmas ainda se apresentam como forma de controle e de autoritarismo por diversas gerações. Acreditar em um processo avaliativo mais eficaz é o mesmo que cumprir sua função didático-pedagógica de auxiliar e melhorar o ensino e a aprendizagem. Quando há mudança de paradigma, cria-se uma nova cultura avaliativa, implicando na participação de todos os envolvidos no processo educativo. Isto é corroborado por Benvenutti (2002), ao dizer que a avaliação deve estar comprometida com a escola e essa deverá contribuir no processo de construção do caráter, da consciência e da cidadania. Tal construção perpassa pela produção do conhecimento, fazendo com que o aluno compreenda o mundo em que vive para usufruir dele, mas, sobretudo, que esteja preparado para transformá-lo. A forma como se avalia, segundo Luckesi (2002), é crucial para a concretização do projeto educacional. É ela que sinaliza aos alunos, o que o professor e a escola valorizam. Comparação entre Concepções de Avaliação Luckesi (2002) traça uma comparação entre a concepção tradicional de avaliação com a mais adequada a objetivos contemporâneos, relacionando- as com as implicações de sua adoção. Vejamos, no quadro abaixo, uma comparação entre a concepção tradicional de avaliação com um modelo mais adequado para se avaliar, segundo o autor. MODElO tRADiCiOnAl DE AvAliAçãO MODElO ADEQuADO DE AvAliAçãO Foco na promoção O alvo dos alunos é a promoção. Nas primeiras aulas, se discutem as regras e os modos pelos quais as notas serão obtidas para a promoção de uma série para outra. implicação As notas vão sendo observadas e registradas. Não importa como elas foram obtidas, nem por qual processo o aluno passou. Foco na aprendizagem O alvo do aluno deve ser a aprendizagem e o que de proveitoso e prazeroso dela obtém. implicaçãoNeste contexto, a avaliação deve ser um auxílio para se saber quais objetivos foram atingidos, quais ainda faltam e quais as interferências do professor que podem ajudar o aluno. Avaliação Educacional Pedagogia Online | UNISUAM 12 MODElO tRADiCiOnAl DE AvAliAçãO MODElO ADEQuADO DE AvAliAçãO Foco nas provas São utilizadas como objeto de pressão psicológica, sob pretexto de serem um ‘elemento motivador da aprendizagem’, seguindo ainda a sugestão de Comenius em sua Didática Magna criada no século XVII. É comum ver professores utilizando ameaças como “Estudem! Caso contrário, vocês poderão se dar mal no dia da prova!” ou “Fiquem quietos! Prestem atenção!” O dia da prova vem aí e vocês verão o que vai acontecer…” implicação As provas são utilizadas como um fator negativo de motivação. Os alunos estudam pela ameaça da prova, não pelo que a aprendizagem pode lhes trazer de proveitoso e prazeroso. Estimula o desenvolvimento da submissão e de hábitos de comportamento físico tenso (estresse). Foco nas competências O desenvolvimento das competências previstas no projeto educacional devem ser a meta em comum dos professores. implicação A avaliação deixa de ser somente um objeto de certificação da consecução de objetivos, mas também se torna necessária como instrumento de diagnóstico e acompanhamento do processo de aprendizagem. Neste ponto, modelos que indicam passos para a progressão na aprendizagem, como a Taxionomia dos Objetivos Educacionais de Benjamin Bloom, auxiliam muito a prática da avaliação e a orientação dos alunos. Os estabelecimentos de ensino estão centrados nos resultados das provas e exames Eles se preocupam com as notas que demonstram o quadro global dos alunos, para a promoção ou reprovação. implicação O processo educativo permanece oculto. A leitura das médias tende a ser ingênua (não se buscam os reais motivos para discrepâncias em determinadas disciplinas). Estabelecimentos de ensino centrados na qualidade Os estabelecimentos de ensino devem preocupar- se com o presente e o futuro do aluno, especialmente com relação à sua inclusão social (percepção do mundo, criatividade, empregabilidade, interação, posicionamento, criticidade). implicação O foco da escola passa a ser o resultado de seu ensino para o aluno e não mais a média do aluno na escola. O sistema social se contenta com as notas As notas são suficientes para os quadros estatísticos. Resultados dentro da normalidade são bem vistos, não importando a qualidade e os parâmetros para sua obtenção (salvo nos casos de exames como o ENEM que, de certa forma, avaliam e “certificam” os diferentes grupos de práticas educacionais e estabelecimentos de ensino). implicação Não há garantia sobre a qualidade, somente os resultados interessam, mas estes são relativos. Sistema social preocupado com o futuro já alertava o ex-ministro da Educação, Cristóvam Buarque: “Para saber como será um país daqui 20 anos, é preciso olhar como está sua escola pública no presente”. Esse é um sinal de que a sociedade já começa a se preocupar com o distanciamento educacional do Brasil com o dos demais países. É esse o caminho para revertermos o quadro de uma educação “domesticadora” para “humanizadora”. implicação Valorização da educação de resultados efetivos para o indivíduo. Adaptado de Luckesi (2002) 13 Unidade 02 Definição e a Construção da Avaliação Definição de Problemas de Avaliação O processo de conquista do conhecimento pelo aluno ainda não está refletido na avaliação. Para Wachowicz e Romanowski (2002), embora historicamente a questão tenha evoluído muito, pois trabalha a realidade, a prática mais comum na maioria das instituições de ensino ainda é um registro em forma de nota, que não revela verdadeiramente o processo de aprendizagem. Para Oliveira (2002) devem representar as avaliações aqueles instrumentos imprescindíveis à verificação do aprendizado efetivamente realizado pelo aluno, ao mesmo tempo em que forneçam subsídios ao trabalho docente, direcionando o esforço empreendido no processo de ensino e aprendizagem. Tal direcionamento deve contemplar a melhor abordagem pedagógica e o mais pertinente método didático adequado à disciplina - mas não somente -, à medida que consideram, igualmente, o contexto sociopolítico no qual o grupo está inserido e as condições individuais do aluno, sempre que possível. Mas os dados registrados são formais e não representam a realidade da aprendizagem, embora apresentem consequências importantes para a vida pessoal dos alunos, para a organização da instituição escolar e para a profissionalização do professor. A grande falha da prática da avaliação está em valer-se prioritariamente da função classificatória em detrimento das demais funções. Luckesi (1995, p.34) assim confirma esta posição: A atual prática da avaliação escolar estipulou como função do ato de avaliar a classificação e não o diagnóstico como deveria ser constitutivamente. Ou seja, o julgamento do valor, que teria função de possibilitar uma nova tomada de decisão sobre o objeto avaliado, passa a ter a função estática de classificar um objeto ou um ser humano histórico num padrão definitivamente determinado. A função da avaliação fica descaracterizada quando a ênfase é dada apenas ao aspecto classificatório. Segundo Ferreira (1992, p.4), deixa de: ser encarada como um meio de fornecer as informações sobre o processo, tanto para que o professor conheça os resultados de sua ação pedagógica como para o aluno verificar seu desempenho. T5 Avaliação Educacional Pedagogia Online | UNISUAM 14 Uma Descrição da Avaliação e da Aprendizagem Uma descrição da avaliação e da aprendizagem poderia revelar todos os fatos que aconteceram na sala de aula. Se fosse instituída, a descrição (e não a prescrição) seria uma fonte de dados da realidade, desde que não houvesse uma vinculação prescrita com os resultados. A isenção advinda da necessidade de analisar a aprendizagem (e não julgá- la) levaria o professor e os alunos a constatarem o que realmente ocorreu durante o processo. Se o professor e os alunos tivessem espaço para revelar os fatos tais como eles realmente ocorreram, a avaliação seria real, principalmente discutida coletivamente. No entanto, a prática das instituições não encontrou uma forma de agir que tornasse possível essa isenção: as prescrições suplantam as descrições e os pré-julgamentos impedem as observações. A consequência mais grave é que essa arrogância não permite o aperfeiçoamento do processo de ensino e aprendizagem. E este é o grande dilema da avaliação da aprendizagem. O entendimento da avaliação, como sendo a medida dos ganhos da aprendizagem pelo aluno, vem sofrendo denúncias há décadas, desde que as teorias da educação escolar recolocaram a questão no âmbito da cognição. Pretende-se uma mudança da avaliação de resultados para uma avaliação de processo, indicando a possibilidade de realizar-se na prática pela descrição e não pela prescrição da aprendizagem. a descrição da avaliação e da aprendizagem resulta em uma fonte de dados da realidade da aprendizagem do aluno Fo nt e : E d u to p ia 15 Unidade 02 Definição e a Construção da Avaliação Depois de tudo que vimos até aqui, destacamos que a avaliação deve ser conscientemente vinculada à concepção de mundo, de sociedade e de ensino que queremos, permeando toda a prática pedagógica e as decisões metodológicas. Sendo assim, a avaliação não deve representar o fim do processo de aprendizagem, nem tampouco a escolha inconsciente de instrumentos avaliativos, mas, sim, a escolha de um caminho a percorrer na busca de uma escola necessária. Conclusão Chegamos ao final de mais uma unidade e desejamos queessa aula o fundamente para o desenvolvimento de princípios avaliativos mais concernentes com a realidade educacional que nos cerca e consequentemente nos influencia. Além disso, ofereça subsídios para que tomem como parâmetros e construam suas próprias, para que o processo de avaliação se torne um ato condizente com seus verdadeiros propósitos. Sucesso e até a próxima aula! Referências BERNARDES, C; MIRANDA, F. B. Portefólio: uma escola de competências. Porto: Porto Editora, 2003. FERREIRA, Paulo Rogério de Paiva. Avaliar: um ato que exige mudança. AMAE Educando, 1992. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. OLIVEIRA, Gerson Pastre de. Avaliação Formativa nos Cursos Superiores: verificações qualitativas no processo de ensino aprendizagem e a autonomia dos educandos. Revista ibero-americana de Educacion, 2002. Disponível em: <http://www.rieoei.org/ deloslectores/261Pastre.PDF>. Acesso em: 23 mar. 2017. HADGI, C. l´évaluation Démystifiée. Paris: ESF Éditeur, 1997. Para aprofundar seus conhecimentos em relação à avaliação da aprendizagem, recomendamos leitura de dois autores renomados: 1- Cipriano Carlos Luckesi, com o artigo “Avaliação da Aprendizagem: compreensão e prática” http://www.luckesi.com.br/textos/art_ avaliacao/art_avaliacao_entrev_jornal_do_ Brasil2000.pdf 2- Sandra Zákia Lian Souza, tratando de “Diferentes visões sobre avaliação” http://www.educacaopublica.rj.gov.br/ oficinas/ed_ciencias/avaliacao/avaliacao_ historia02.html aprofundando> Avaliação Educacional Pedagogia Online | UNISUAM 16 LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995. ___________. Avaliação da Aprendizagem Escolar. São Paulo: Cortez, 2002. NUNAN, D. Autonomy in language learning. Plenary Presentation given at the ASOCOPI 2000 conference, Cartengena, Columbia, 2000. Disponível em: <www.nunan.info/presentations/autonomy>. Acesso em: 22 marc. 2017. PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens, entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999. ROMÃO, José Eustáquio. Avaliação Dialógica: desafios e perspectivas. São Paulo: Cortez, 1998. SANTO, Leonor. Auto-avaliação Regulada: porquê, o quê e como? Portugal: Universidade de Lisboa, 2002. THORNDIKE, R.; HAGEN, E. testes y técnicas de medición em psicologia y educación. México, Trilles, 1973 p. 27, com tradução de Clara A. Colotto. São Paulo: Arx, 2007. WACHOWICZ L. A.; ROMANOWSKI J. P. Avaliação: que realidade é essa? Revista da Rede de Avaliação institucional da Educação Superior. Campinas. SP: ano 7, n. 02, p.81 – 100, jun.2002. 17 Unidade 02 Definição e a Construção da Avaliação
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