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Língua, linguagem e fala Língua, linguagem e fala são palavras que podem confundir e até serem consideradas sinônimos por quem ainda está iniciando os estudos linguísticos, mas trata-se de conceitos bastante distintos, que serão definidos neste estudo de forma a deixar claras suas características e proposições. Língua Comecemos esclarecendo que a língua é considerada uma estrutura formal, constituída por signos linguísticos; é homogênea, mas se transforma com o tempo, independentemente da vontade do homem. Ela é um conjunto de códigos comunicativos utilizados para transmitir mensagens, portanto é parte essencial da linguagem e constitui objeto de estudo da Linguística. Ela existe a despeito do número de falantes e do fato de abranger um grande território ou uma pequena comunidade. Ela pode ser aprendida e transmitida por gerações. Em seu livro Curso de Linguística geral, Ferdinand de Saussure declara que a linguística se constituiu em torno dos fatos da língua e os estudos acerca da língua teve três fases: Primeira fase, a “Gramática” - uma disciplina normativa que visava formular regras para distinguir as formas corretas das incorretas, era baseada na lógica e isenta de qualquer visão cientifica. Foi iniciada pelos gregos e teve continuidade através dos estudos franceses; Segunda fase, a “Filologia” – que teve seu início em Alexandria, mas firmou-se nos estudos de Friedrich August Wolf, em 1777, abrange a ciência da palavra e os estudos históricos da língua, incluindo o estudo dos textos; Terceira fase, a “Gramática comparada” - instituiu-se compreensivamente em 1816 com a obra de Franz Bopp. O autor não foi o primeiro a admitir que as línguas podiam ser comparadas, e possuíam afinidades e familiaridades, mas foi através de sua obra que iniciou-se a compreensão de uma língua por meio de outra, a explicação das formas de uma pelas formas de outra, e essas elucidações ainda não tinham sido feitas. É inquestionável que a língua é um dos elementos mais significativos de uma sociedade e sua cultura, mas o conceito em si é difícil de elucidar e, por isso mesmo, tem muitas definições. Uma forma simples de entender o conceito de língua é relacioná-lo, por exemplo, ao significado do termo idioma. No senso comum, pode-se dizer também que a ideia de língua chega a se confundir com o de bem falar e bem escrever, ou seja, com a norma-padrão e seus códigos regulatórios que ditam o que é certo e o que é errado. Em suma, a língua é um produto cultural e histórico; é um fato político, que depende do poder instituído para manter seu lugar na história e se constrói por meio de processos de integração das normas e suas elaborações. O rótulo de língua oficial a um modo de falar é uma decisão que escapa ao controle dos filólogos e linguistas. De acordo com Marcos Bagno, essa atribuição está vinculada à dinâmica social, política e ideológica de cada sociedade ou cultura. Vejam o exemplo: A língua Italiana era um dialeto toscano que foi promovido à Língua oficial pelo novo Estado Italiano devido ao prestígio literário das obras de Dante, Bocácio e Petrarca. Os demais dialetos italianos foram considerados desprestigiados. A codificação escrita das variedades orais e suas transformações ao longo dos anos foi decisiva na fixação e definição de muitas línguas, cuja forma de expressão é constituída por um sistema fonológico, por um repertório léxico e por suas regras gramaticais. Muitas que não deixaram registros escritos que possam ser estudados se perderam na história e no tempo. Aquelas que, ao contrário, não estão mais em uso, mas foram preservadas por escrito, ainda continuam sendo estudadas através dos documentos deixados, como é o caso do latim e do sânscrito, que chamamos “línguas mortas”. Já as línguas vivas são aquelas que ainda estão em uso, ou seja, que ainda contam com falantes, como o português, o inglês, o francês etc. Libras também é uma língua, pois possui estrutura gramatical própria e normas que a regem. Linguagem Linguagem também é um termo amplo, que abarca muitas concepções, porém vamos nos concentrar nas que servirão para dar algumas indicações do que o pensamento de renomados linguistas considera essencial. Linguagem é todo e qualquer sistema de comunicação humana interativa. É o ato de se comunicar com o outro, ou seja, a transmissão de mensagens de um emissor para um receptor. Mais especificamente, é a capacidade de comunicar ideias, pensamentos, opiniões, sentimentos, informações etc. Noam Chomsky, influente linguista da segunda metade do século XX, defende que a linguagem é inata da mente humana e que, devido a nossa constituição biológica, já nascemos com estruturas cognitivas que possibilitam a aprendizagem de línguas. Segundo Chomsky, possuímos um Dispositivo de Aquisição da Linguagem (DAL) que é ativado quando somos expostos à língua. A linguagem, segundo MARTELOTTA, é um dos componentes fundamentais para a vida em sociedade e se manifesta no exercício da comunicação. Desse modo, ela está relacionada com a maneira como interagimos com nossos semelhantes, refletindo as tendências e os limites de comportamentos sociais. Um mesmo indivíduo pode usar a linguagem de formas diferentes, dependendo da situação. Sendo assim, podemos dizer que as línguas variam conforme os fenômenos socioculturais, com a conveniência de se identificar com o outro por intermédio da linguagem e pela busca de novas expressões. A linguagem é heterogênea, e abrange todo e qualquer processo comunicativo do ser humano, dotado da capacidade única de produzir sentido por meio de símbolos, sinais, pintura, dança, mímica etc. Nenhum desses gestos é desprovido de sentido ou completamente neutro, tudo carrega uma intencionalidade. O sentido implícito nos gestos depende da capacidade humana de linguagem para ser interpretado. Há dois tipos fundamentais de linguagem: a verbal e a não-verbal. Ainda é possível observar que, em muitos casos, a linguagem mista, ou seja, quando essas duas linguagens se entrelaçam na composição da mensagem. Linguagem verbal A linguagem verbal é aquela que se utiliza da palavra, ou seja, faz uso da língua, que é um mecanismo complexo e flexível, que nos permite fazer a produção de sentido ser mais eficiente e completa. Esse tipo de linguagem pode ser oral, quando utilizamos a fala para nos comunicar; escrita, quando empregamos a representação gráfica e sinalizada, quando nos valemos da língua dos surdos, por exemplo. A língua falada é espontânea, natural. Aprendemos a usá-la desde crianças com nossa família, ouvindo e imitando nosso contexto social. Os interlocutores quase sempre estão presentes e a fala pode ser acompanhada pelo tom da voz, expressões faciais e até mímicas para dar mais significado àquilo que queremos transmitir. A língua escrita é mais formal e exige um sistema mais disciplinado e rígido. O escritor deve ser mais objetivo e claro na sua mensagem, pois não conta com facilitadores de compreensão, como o tom da voz ou o semblante do falante, e o interlocutor não está presente para questionar e expor possíveis dúvidas referentes à mensagem. A língua escrita foi desenvolvida posteriormente à fala e é artificial. Para aprendê-la é necessário tempo e dedicação, pois esta precisa ser ensinada. Nestas duas modalidades de língua, seja falada ou escrita, existem ao menos dois níveis: o informal (que é coloquial), utilizado nas mensagens de WhatsApp, Facebook e outras mídias sociais, e o formal (que segue a norma culta), no qual a escrita deve se preocupar em seguir as regras impostas pela gramática normativa. Tais modalidades devem ser adequadas aos diferentes contextos em que serão empregadas. A norma culta, por exemplo, é aquela que deve ser utilizada em reportagens, currículos, redações, processos seletivos como Enem, vestibularese concursos. Linguagem não verbal A linguagem não-verbal é aquela que utiliza signos não linguísticos, para transmitir uma ideia ou pensamento, ou seja, é a comunicação sem a utilização de palavras. Ela pode ser empregada através de artifícios visuais, sonoros, linguagem corporal, entre outros. É uma linguagem bastante utilizada nos anúncios publicitários. No princípio dos estudos teóricos da Linguística, a linguagem não-verbal não era analisada como objeto de estudo. Porém, nos estudos linguísticos atuais não se desconsidera mais a importância que os códigos não-verbais desempenham na compreensão e interpretação das atividades comunicativas. Destaca-se como estudo da Linguística contemporânea, por exemplo, a comunicação visual existente na fotografia, no cinema, na dança, na pintura etc., as placas indicativas (portas de banheiros, restaurante). A linguagem não-verbal utiliza códigos que não seja a palavra, como o semáforo, que utiliza as cores para determinar sua mensagem; as placas de trânsito, com suas indicações normativas; o som do apito dos guardas de trânsito, designando ações; os gestos, com seus significados diversos etc. Os sons utilizados como códigos sonoros no trânsito (como as sirenes), os apitos que acontecem durante uma partida de futebol e até mesmo o código Morse, que é transmitido através do som, constituem linguagem não verbal. Um tipo de comunicação não verbal muito importante que tem se destacado nos estudos são os gestos. A linguagem gestual auxilia no entendimento das intenções, mesmo quando há a comunicação verbal. Mas há que se lembrar que os gestos podem variar de cultura para cultura, carregando significados muito diferentes. Os sinais são muito importantes na comunicação. Muitas vezes, nossos enunciados, assumem outras proporções dimensionais, diferentes do sentido literal, quando acompanhados de gestos, expressões faciais ou corporais, assim como acontece nas ironias. No Brasil, se uma pessoa sinaliza para a outra com a mão fechada tendo apenas o polegar levantado, isso significa “joia”, ou seja, “está tudo bem”. Na Europa o mesmo sinal é usado para pedir carona. Mais especificamente na Alemanha, significa o número 1 e, no Japão, o número 5. Já na Austrália ou na Nigéria, significa um ato obsceno. A interpretação de um gesto poderá ter sentidos diferentes do sujeito autor, para o sujeito receptor e até mesmo não significar absolutamente nada para este último. Para que um gesto tenha sentido, será preciso que ele faça sentido, o que entra também no entendimento de interdiscurso. Linguagem mista A linguagem mista, como já apontado, consiste no uso simultâneo das duas linguagens, a verbal e a não verbal, ou seja, quando usamos paralelamente palavras, gestos, imagens e outros recursos para transmitir a mensagem e estabelecer comunicação. Utilizamos a linguagem mista rotineiramente, por exemplo, quando dizemos “não sei” e elevamos os ombros, ou quando dizemos “sim” e ao mesmo tempo balançamos a cabeça, ou quando levantamos a mão acenando para uma pessoa que também a chamamos pelo nome. Esse tipo de linguagem também é muito utilizado, porém de forma mais complexa, nos vestibulares ou nas provas para concursos, através de charges, anúncios publicitários e textos com imagens. A facilidade de assimilação das informações na linguagem mista ou multimodal dos textos deve ser considerada, principalmente nos ambientes virtuais, onde eles se tornam mais interativos e dinâmicos. O linguista Luiz Antônio Marcuschi esclarece que a tecnologia é responsável por reunir em um só meio várias formas de expressão, tais como texto, som e imagem, o que proporciona flexibilidade para a integração simultânea de múltiplas semioses, interferindo positivamente no entendimento dos recursos linguísticos utilizados. Fala De acordo com as teorias de Ferdinand de Saussure, além da língua, há ainda um outro elemento, que é a fala. A linguagem humana se dividiria nestas duas dimensões inseparáveis: é preciso uma língua para se originar a fala, mas a língua não existe sem o exercício fala. Cabe lembrar, no entanto, que o estudioso elegeu apenas a língua como objeto de estudo da Linguística. Isso porque a fala seria um ato individual, resultado das combinações feitas pelo falante a partir do código, isto é, do sistema da língua. Exterioriza-se tal ato por meio do mecanismo do aparelho fonador. Segundo essa concepção, o falante executa um percurso que começa na mente, criando a mensagem para enviar ao ouvinte. Estrutura-se seu pensamento e transmite-se a mensagem através das ondas acústicas, que são recebidas pelo ouvinte, o qual decodifica a mensagem. A fala é influenciada pelo contexto e deixa margem para a criatividade, sofrendo interferências de personalidade, variações regionais e conhecimentos linguísticos dos falantes, apresentando diversos níveis de formalidade.
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