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SUMÁRIO 1.Introdução e epidemiologia ..................................... 3 2. Fisiopatologia .............................................................. 4 3.Clinica ............................................................................11 4. Diagnóstico ................................................................13 5. Patogenia ....................................................................15 6. Estadiamento.............................................................15 7. Rastreamento ............................................................17 8. Tratamento .................................................................17 Referências bibliográficas ........................................22 3CÂNCER COLORRETAL 1.INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA O câncer colorretal (CCR) compreen- de uma gama de tumores malignos que afetam o intestino grosso e o reto. No Brasil, de acordo com informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), o CCR é a terceira maior cau- sa de câncer, sendo o terceiro tumor maligno mais frequente em homens e o segundo em mulheres. Em relação a mortalidade, no Brasil o CCR é a quarta causa de morte por câncer em homens, e à terceira cau- sa em mulheres. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Brasil a incidência do CCR varia conforme a região analisada, com maior propor- ção nas regiões sul e sudeste, com incidência de 19-21 casos/100.000 indivíduos, e menor nas regiões cen- tro-oeste, nordeste e norte. Sabe-se que a incidência de CCR aumenta com a idade, sobretudo em maiores de 50 anos, sendo 90% dos casos ocorrendo acima dessa faixa etária. É possível dividir esse câncer em três tipos: esporádico, que representa 75% dos casos, origem familiar que corresponde a 20% dos casos e os de- mais estão relacionados com síndro- mes hereditárias e doença inflamató- ria intestinal. Nos casos esporádicos, o CCR costuma se manifestar como lesão colônica ou retal isolada. A prin- cipal etiologia nesses casos está re- lacionada aos pólipos adenomatosos que apesar de ser uma doença be- nigna, podem se tornar malignos com o decorrer do tempo. Outros fatores de risco também estão implicados na gênese do CCR, como hábitos de alimentação, nutrição e atividade física. As síndromes heredi- tárias mais frequentes no CCR são a Síndrome de Lynch (HNPCC) e a Poli- pose Adenomatosa Familiar, além do histórico familiar, esses tumores ge- ralmente acometem indivíduos mais jovens e frequentemente se associa a outros tipos de tumores. O tipo his- topatológico mais comum é o ade- nocarcinoma, chegando a ocupar, de acordo com algumas literaturas, 90 a 95% dos casos de CCR. Esse tipo de câncer pode ser classificado de acor- do com o seu grau de diferenciação em bem diferenciado (grau I), mode- radamente diferenciado (grau II) e mal diferenciado (grau III). O CCR tem cura se detectado em estágios precoces da doença. Inicial- mente a maioria dos CCRs são assin- tomáticos, retardando o diagnóstico e tratamento. Por isso, o rastreio em pessoas maiores de 50 anos, tem grande importância na detecção e re- moção de lesões precursoras ou até na detecção do câncer numa fase precoce. Sendo que quanto mais pre- coce o diagnóstico e tratamento, me- lhor a sobrevida do CCR. 4CÂNCER COLORRETAL 2. FISIOPATOLOGIA Uma série de estudos apontam que a junção de vários eventos molecula- res está implicada na gênese do car- cinoma colorretal. Duas teorias estão relacionadas na fisiopatologia desses canceres. A primeira é a sequência adenoma-carcinoma que explica os casos de adenocarcinoma (Figura 1) e a segunda é a via de instabilidade de microssatélites, relacionada com a síndrome de câncer colorretal heredi- tário não polipose (Figura 2). • Sequência adenoma-carcinoma: Essa via corresponde a 80% dos CCR esporádicos. Nós temos duas cópias do gene supressor de tu- mor Polipose adenomatosa coli (APC) que é um regulador negati- vo de uma proteina multifuncional, componente da via de sinalização, chamado b-catenina. Algumas pessoas já nascem com uma có- pia do gene APC mutada ou ina- tivada. No entanto, os adenomas só se desenvolvem quando há a mutação ou ativação das duas có- pias do gene. A fisiopatologia do CCR se inicia quando ocorre uma mutação da APC, fazendo com ele perca a sua função. Normalmente esse gene promove a degradação da b-catenina, entretanto, como o APC está inativo, ocorre acumulo da b-catenina. Esse componen- te da via de sinalização, em gran- de quantidade se transloca para o núcleo celular e ativa a transcrição de genes, como os que codificam Myc e Ciclina, responsáveis pela proliferação celular. Esse processo pode ser acompanhado por muta- ções adicionais, como mutações de ativação do gene KRAS, que também promovem o crescimen- to celular e evita a sua apoptose; mutações que codificam os genes SMAD2 e SMAD4, efetores da si- nalização do fator TGF-ẞ que está envolvido na inibição do ciclo celu- lar e em outros genes como DCC e caderina-E. Mutações de TP53 também ocorrem em fases tardias da progressão do tumor, ele é um gene supressor de tumor que está mutado em 70-80% dos cânceres do cólon. Em suma, fatores que le- vam a mutação em genes que re- gulam a proliferação celular estão alterados, fazendo surgir os ade- nomas com displasias celulares. • Via de instabilidade de micros- satélites: Essa via está associada ao aparecimento do câncer co- lorretal hereditário não polipose. Em pacientes que tem perdas de genes relacionados ao reparo do DNA, existem mutações que se acumulam em repetições micros- satélites, uma condição chama- da de instabilidade microssatélite. Essas mutações geram irregula- ridades em genes envolvidos na regulação do crescimento celular, como TGF-ẞ tipo II e a proteína 5CÂNCER COLORRETAL pró apoptótica BAX. Mutações no oncogene BRAF e silenciamento de alguns genes devido à hiper- metilação da ilha CpG também são comuns. Assim, ocorre o cres- cimento celular descontrolado e a sobrevivência de células genetica- mente anormais. Figura 1. Sequencia adenoma- carcinoma. Fonte: Patologia Básica Robbins, 9° ed, 2013. 2. FATORES DE RISCO E SÍNDROMES HEREDITÁRIAS Como já foi dito, o CCR pode se dife- renciar em três tipos de acordo com a sua etiologia. Dessa forma, as síndro- mes de polipose adenomatosa fami- liar e a síndrome de câncer colorretal hereditário não polipose (síndrome de Lynch) são fatores de risco importan- tes. No entanto, o CCR esporádico que corresponde a maioria de todos os canceres colorretais, além de está intimamente relacionado ao pólipo adenomatoso esporádico, também tem outros fatores relacionados com a sua gênese (Quadro 1). 6CÂNCER COLORRETAL FATORES DE RISCO PARA O CÂNCER COLORRETAL 1. Dieta Dietas ricas em gorduras, carboidratos e conservantes estão relacionadas ao surgimento de CCR. Acredita-se que essa correlação seja explicada pela presença de hidrocarbonetos e outros carcinógenos nessas dietas. 2. Diabetes mellitus tipo 2 (DM2) Pessoas com DM2 possuem altos níveis de insulina circulante. A insulina tem um papel importante na proliferação celular, anabolismo, fazendo au- mento das células cancerígenas. 3. Obesidade Acredita-se que essa associação está relacionada ao fato de que pacien- tes obesos apresentam maior incidência de hiperinsulinemia, aumentando assim o risco de CCR 4. Tabagismo O tabagismo está relacionado ao aparecimento de radicais livres potencial- mente cancerígenos. 5. Doença inflamatória intestinal A presença de doenças inflamatórias intestinais como retocolite ulcerativa e doença de Crohn, estão relacionadas ao aparecimento de displasias que podem progredir para CCR. 6. Radioterapia A radioterapia também foi apontada como fator que aumenta a incidência de CCR. 7. Ureterossigmoidostomia Pacientes submetidos a ureterossigmoidostomia apresentam risco de 2 a 15% de desenvolver câncer no local da anastomose ureterossigmoide anos após a cirurgia. 8. História familiar de CCR Pacientescom história familiar de CCR esporádico tem chance 2-5 vezes maior de apresentar esse câncer do que a população em geral. QUADRO 1: Fatores de risco para o CCR. Fonte: Baseado em Sabiston 18°ed. 7CÂNCER COLORRETAL SE LIGA! Vários estudos têm demons- trado a presença de fatores protetores para o CCR. Sabe-se que dietas ricas em frutas e fibras, além da prática de atividade física atuam como proteto- res. Além disso, acredita-se que o ácido acetilsalicílico ou outros AINEs através da inibição da enzima cicloxigenase-2 (COX-2), ajuda a impedir a proliferação epitelial nas lesões cancerígenas e nos adenomas. • Pólipos intestinais: Um pólipo é qualquer lesão expansiva do tra- to gastrointestinal. De acordo com a maneira na qual aparecem na mucosa são classificados em sés- seis ou pediculados. Os pólipos adenomatosos podem ser clas- sificados em adenoma tubular (quando possuem glândulas tu- bulares ramificadas), adenoma vi- losos (tem projeções digitiformes) ou adenoma tubulo-viloso (pos- sui ambas as características). Os adenomas são caracterizados pela presença de atipia celular. A inci- dência dessas lesões é igual em homens e mulheres, estando pre- sentes em cerca de 50% dos adul- tos com 50 anos ou mais de ida- de. A maioria dos adenomas, não evoluem para adenocarcinoma, mas um percentual dá origem ao MAPA MENTAL FATORES DE RISCO Ureterossigmoidostomia Polipose adenomatosa familiar Diabetes Mellitus tipo 2 Radioterapia Doença inflamatória intestinal Idade Dieta rica em gordura e carboidrato Tabagismo Síndromes hereditárias História familiar Pólipos adenomatosos Síndrome de Lynch FATORES DE RISCO 8CÂNCER COLORRETAL CCR. Geralmente há menos atipia celular nos adenomas tubulares e muita atipia ou displasia nos ade- nomas vilosos (Quadro 2). Além disso, o tamanho e o tipo histoló- gico do pólipo que aumenta a inci- dência de carcinoma invasivo. Por exemplo, 40% das lesões maiores que 4 cm de diâmetro contêm fo- cos de câncer. TIPO DE PÓLIPOS ADENOMATOSOS TUBULAR Associado em 5% das vezes ao câncer VILOSO Associado em 40% das vezes ao câncer TÚBULO- VILOSO Associado em 22% das vezes ao câncer Quadro 2. Tipos de pólipos adenomatosos. Fonte: Baseado em Sabiston 18°ed. Figura 2. Adenomas colônicos. A. Adenoma pedunculado. B. Adenoma com superfície aveludada. C. Adenoma tubu- lar pedunculado. Fonte: Patologia Básica Robbins, 9° ed, 2013. SAIBA MAIS: Existem dois tipos de pólipos, os neoplásicos e os não neoplásicos. O pólipo neoplásico mais comum é o adenoma. Os pólipos não neoplásicos são os inflamatórios, ha- martomatosos e hiperplásicos. Os pólipos inflamatórios são resultado de ciclos crônicos de lesão e cura. Já os pólipos hamartomatosos ocorrem esporadicamente ou como parte de do- enças genéticas, neste caso há associação com o aumento do risco de malignidade. Por fim, os pólipos hiperplásicos são proliferações epiteliais benignas e não têm potencial maligno. 9CÂNCER COLORRETAL • Polipose adenomatosa familiar (PAF): A PAF é uma doença au- tossômica dominante que resulta da mutação no gene APC e, em 5 a 10% dos casos, no gene MYH. Essa doença é caracterizada pelo surgimento de inúmeros adeno- mas colorretais na adolescência. Nesses casos, milhares de pólipos podem está presentes (Figura 3). Para o diagnóstico dessa doen- ça são necessários a presença de pelo menos 100 pólipos. O adeno- carcinoma colorretal se desenvolve em 100% dos pacientes com PAF não tratada, muitas vezes antes dos 30 anos de idade. Além disso, os portadores dessa síndrome po- dem apresentar outras manifesta- ções clínicas, como neoplasias em outros locais. O tratamento para a PAF se baseia na colectomia profilática. SE LIGA! Existem algumas variantes da PAF, as mais conhecidas são a síndro- me de Gardner e a síndrome de Turcot. Na síndrome de Gardner, além de pó- lipos intestinais, também podem estar presentes osteomas, cistos epidérmi- cos, tumores desmoides e da tireoide; e anormalidades dentárias. Já na síndrome de Turcot ocorre adenomas intestinais e tumores do sistema nervoso central. Figura 3. Polipose adenomatosa familiar. É possível ver centenas de pequenos pólipos do cólon juntamen- te com um pólipo dominante. Fonte: Patologia Básica Robbins, 9° ed, 2013. • Câncer colorretal hereditário não polipose (CCNPH): O câncer colorretal não polipose hereditário (CCNPH), conhecido como síndro- me de Lynch, é uma síndrome au- tossômica dominante, causada por defeitos de reparo do DNA e insta- bilidade microssatélite. O CCNPH pode ser dividido em síndrome de Lynch tipo I se caracteriza pela pre- sença de câncer apenas colorretal e a síndrome de Lynch II que pos- suem canceres em vários locais, incluindo cólon, endométrio, estô- mago, ovário, ureteres, cérebro, in- testino delgado, trato hepatobiliar e pele. Os cânceres de cólon ocor- rem em pacientes mais jovens e sobretudo no cólon direito. Inicial- mente o CCNPH era diagnostica- do pelo critério de Amsterdã que foi modificado em 1998 para in- cluir outros achados da síndrome. No entanto, outros pesquisadores 10CÂNCER COLORRETAL incluíram novos parâmetros para o diagnóstico, criando os critérios de Bethesda em 2003 (Quadro 3). O tratamento dessa síndrome é con- troverso, mas se baseia no rastre- amento continuo com colonosco- pia a cada dois anos a partir dos 20 anos de idade, além do rastre- amento para os tumores extraco- lônicos. Além disso, é recomenda- da a remoção dos pólipos quando presente, mesmo que a presença de pólipos faça parte da patogê- nese dessa doença. CRITÉRIOS CLÍNICOS PARA O DIAGNÓSTICO DO CCNPH CRITÉRIOS DE AMSTERDÃ Pelo menos três parentes com câncer de cólon e todos os seguintes: • Uma das pessoas afetadas é um parente em primeiro grau das outras duas pessoas afetadas. • Duas gerações sucessivas afetadas. • Pelo menos um caso de câncer de cólon diagnosticado antes dos 50 anos. • Exclusão de polipose adenomatosa familial. CRITÉRIOS DE AMSTERDÃ MODIFICADO Mesmos critérios de Amsterdã, exceto que o câncer deve ser associado com CCNPH (cólon, endométrio, intestino delgado, ureter e pelve renal) em vez de especificamente câncer de cólon. CRITÉRIOS DE BETHESDA Um dos seguintes critérios deve ser encontrado: • Câncer colorretal diagnosticado antes dos 50 anos de idade. • Tumores colorretais sincrônicos ou metacrônicos e outros relacionados com o CCNPH (in- clui estômago, bexiga, ureter, pelve renal, trato biliar, cerébro [glioblastomal], adenomas de glândulas sebáceas, ceratoacantomas e carcinomas de intestino delgado), sem considerar a idade. • Câncer colorretal com elevada instabilidade de microssatélites diagnosticado antes dos 60 anos • História familiar de um ou mais parentes de primeiro grau com câncer colorretal ou outros tumores relacionados com CCNPH. Um dos diagnósticos sendo feito antes dos 50 anos (inclui adenomas que podem ter sido diagnosticados antes dos 40 anos de idade). • Câncer colorretal com dois ou mais parentes com câncer colorretal ou outros tumores rela- cionados com CCNPH, sem considerar a idade. QUADRO 3: Critérios para o diagnóstico do CCNPH. Fonte: Baseado em Sabiston 18°ed. 11CÂNCER COLORRETAL 3. CLÍNICA A maior parte dos indivíduos com CCR são assintomáticos no início da doença, retardando o diagnóstico para fases mais avançadas quando surgem os primeiros sintomas. Exis- te uma correlação entre a localização do tumor e as manifestações clínicas apresentadas. Isso ocorre devido a características anatômicas do intesti- no grosso e reto. O cólon direito tem maior diâmetro maior que o esquerdo, por isso, em tumores à direita (cólon ascendente), há a tendência do câncer evoluir como lesão exofítica, ou seja, para dentro da luz intestinal. No cólon esquerdo a lesão geralmente invade a parede do órgão e como o diâmetro do cólon desse lado é menor, ocorre maior in- cidência de estenose e obstrução, es- sas lesões são anulares e produzem constrições conhecidas como “anelde guardanapo”. Por conta dessa diferença de apre- sentação clínica, temos manifesta- ções clínicas distintas, geralmente os cânceres de ceco e cólon direito cur- sam com anemia ferropriva que pode se manifestar como fadiga, fraque- za ou palidez de mucosa. Com isso, sempre devemos investigar anemias em indivíduos mais velhos. Além dis- so, desse lado às vezes o tumor pode ser palpável e o sangramento pode se exteriorizar como melena (sangra- mento escuro devido ao sangue já digerido). Já os canceres do lado es- querdo do cólon, sigmoide e reto, po- dem se manifestar com sangramento oculto, mudanças nos hábitos intes- tinais, distensão abdominal, sangra- mento vivo ou desconforto em fossa ilíaca esquerda. SE LIGA! A presença da alternância entre constipação e diarreia pode estar presente. Outros sintomas como náu- seas, vômitos e dor abdominal podem estar presentes em casos de obstrução intestinal. Outro achado, é a presença de perda de peso importante e não inten- cional em um curto espaço de tempo, caracterizando a síndrome disabsorti- va. Além disso, apesar de infrequente, pode ocorrer febre, abcessos e compli- cações, como perfuração, obstrução e hemorragias. No câncer retal, o sintoma mais frequente é a perda de sangue e tenesmo, associada a presença de fezes com muco ou não. Veja um resumo dos principais sinais e sintomas do CCR no quadro 4. MUDANÇAS NO HÁBITO INTESTINAL Sangramento retal Dor abdominal Anemia ferropriva Massa retal Massa abdominal Quadro 4. Sinais e sintomas do CCR. Fonte: Baseado em Sabiston 18°ed. 12CÂNCER COLORRETAL Além disso, o CCR pode se manifestar com sintomas referentes aos órgãos para onde sofreu metástase. Desse modo, o paciente pode apresentar dor em hipocôndrio direito, associada a plenitude prandial e saciedade pre- coce quando ocorre metástase hepá- tica. Nos casos de metástase perito- neal, o indivíduo pode se apresentar com ascite, distensão e dor abdomi- nal. Também é possível a presença de linfonomegalias inguinais, periumbili- cais ou supraclaviculares nos casos de metástase linfonodal ou até der- rame pleural, dores ósseas e fraturas patológicas no caso de metástase pulmonar e óssea respectivamente. MAPA MENTAL CLÍNICA QUADRO CLÍNICO Perda ponderal Cólon esquerdoCólon direito Dor abdominal Melena Anemia ferropriva Fadiga Palidez Fraqueza Fezes em fita Dor abdominal Hematoquezia Obstrução intestinal Alteração do ritmo intestinal Constipação Diarreia 13CÂNCER COLORRETAL 4. DIAGNÓSTICO NA PRÁTICA! Paciente do sexo masculino, 62 anos, pardo, católico, casado, vem a consulta de rotina no complexo ambulatorial do Hospital Universitário Professor Edgar Santos, para acompanhamento de Hi- pertensão arterial sistêmica. Durante a anamnese, ele relata que a cerca de 6 meses vem apresentando sangramento nas fezes durante às evacuações, as- sociado a mudança no ritmo intestinal com tenesmo e afilamento das fezes. O exame físico geral não apresentava al- terações. Ao toque retal foi evidenciado massa vegetante com cerca de 3 cm de extensão e a 8 cm da borda retal. Na to- mografia de abdome foi visto múltiplas metástases hepáticas e na biopsia co- lhida durante a colonoscopia tem descri- ção de adenocarcinoma de cólon distal. A base para o diagnóstico do CCR se dá através de uma anamnese mi- nuciosa, levando em conta sinais, sintomas e fatores de risco, acom- panhado pelo exame físico geral e proctológico. EXAMES LABORATORIAIS: No CCR podemos encontrar no he- mograma anemia microcítica e hipocrômica compatível com anemia ferropriva. Além disso, a pesquisa de sangue oculto nas fezes apesar de ter baixa sensi- bilidade, pode ser utilizada como método de rastreamento popu- lacional, mas não como recurso diagnóstico. Existe outro exame chamado de Teste de DNA fe- cal que analisa a presença de alterações genéticas em células encontradas nas fezes oriundas da descamação de um possível tumor. Os marcadores tumorais mais utilizados são: CEA e o CA 19.9. SAIBA MAIS! O CEA (Antígeno Carcino Embrionário) não é usado para o diagnóstico, mas sim para o se- guimento e monitorização do paciente. Níveis normais de CEA não excluem o diagnóstico de CCR. Lembre-se, várias situais estão relacionadas com o aumento do CEA além do CCR, como cirrose hepática, enfisema pulmonar, DII, diverticulite, polipose intestinal e outros tipos de canceres. 1 14CÂNCER COLORRETAL COLONOSCOPIA: A colonos- copia é o padrão ouro para auxi- liar no diagnóstico desses tumo- res pois fornece a localização e extensão do tumor. Além disso, fornece a possibilidade de ser diagnóstico e terapêutico, pois é capaz de detectar e remover lesões pré-malignas. Ademais, possibilita a realização de bi- ópsias para a análise histopa- tológica da lesão. Existe a pos- sibilidade de realização de uma retossigmoidoscopia flexível em pacientes com massa palpá- vel ao toque retal que não per- mite a passagem do colonoscó- pio. No entanto, esse exame não substitui a colonoscopia, pois só consegue chegar até 60 cm do ânus. EXAMES DE IMAGEM: O Clister opaco é um exame radiológico que utiliza duplo contraste (bário e ar) para avaliar o cólon. Porém atualmente se encontra em em desuso devido ao aparecimento de métodos mais eficazes. Ade- mais, exames de imagem são necessários para o estadiamen- to adequado do tumor. Nesses casos, o exame de escolha para o estadiamento é a tomografia computadorizada que serve para avaliar o comprometimento extramural no câncer do reto e para a detecção de metástases. A ultrassonografia abdominal per- mite a avaliação hepática, principal sítio de metástases colônicas, entre- tanto não é possível a avaliação de linfonodos peritoneais, como na to- mografia. Em casos de dúvidas diag- nósticas também é possível o uso de ressonância magnética e a tomo- grafia por emissão de pósitrons (PET- -CT). O uso da radiografia de abdo- me convencional fica reservado para pacientes com quadro de abdome agudo obstrutivo pelo tumor. No en- tanto, a radiografia de tórax deve ser considerada, para avaliação de me- tástases pulmonares. A vídeolapa- roscopia diagnóstica não é um exa- me utilizado de rotina a ser realizado no CCR. No entanto, pode ser útil na confirmação da suspeita de metásta- ses hepáticas ou peritoneais. Novos métodos como a ultrassonografia endorretal (USER), permite a defini- ção detalhada das camadas da pare- de retal e dos tecidos circunjacentes, permitindo detectar o grau de infiltra- ção do tumor na parede do reto e o acometimento linfonodal. Entretanto, a USER é pouco disponível no Brasil. 2 3 15CÂNCER COLORRETAL Figura 4. Colonoscopia evidenciando câncer colônico Fonte: Cancer statistics. CA Cancer J Clin, 2017. 5. PATOGENIA Existem várias vias para a dissemina- ção do câncer, como via linfática, he- matogênica, por contiguidade e por continuidade. Sendo assim, o CCR pode infiltrar a camada submucosa do cólon e invadir a cadeia linfática intramural. Também é possível a infil- tração de outras camadas da parede intestinal, atingindo por contiguida- de, estruturas vizinhas, como vasos colônicos. Caso o câncer chegue a veia porta, essa estrutura pode con- duzir células neoplásicas para o fíga- do, onde desenvolverá metástases hepáticas. Através das veias lomba- res e vertebrais, ocorre a propagação de células tumorais para os pulmões e cérebro, fazendo focos metastá- ticos nesses locais. Enquanto isso, o câncer retal é disseminado pelas veias hipogástricas. A disseminação mais frequente dos CCR é por meio do comprometimento linfonodal (dis- seminação linfática). Por conta disso, nos procedimentos cirúrgicos, é ne- cessária a remoção dos linfonodos comprometidos. Além disso, células neoplásicas podem se “soltar” da luz intestinal e se implantar na cavidade peritoneal, formando a carcinomatose abdominal generalizada. 6. ESTADIAMENTO Após o diagnóstico de câncer colorre- tal é necessário fazer o estadiamento da doença. Comisso, pode-se esta- belecer a extensão locorregional da lesão, além da presença de metásta- ses, prognóstico e o tipo de terapia a ser empregada. O estadiamento é feito com exames de imagem, como a tomografia e a radiografia. A colonos- copia só serve nesses casos para ex- cluir a presença de lesões sincrônicas do cólon. Com isso, geralmente diante do diagnóstico de CCR deve ser soli- citado, dosagem de CEA, TC de ab- dome, tórax e pelve e colonoscopia. Já nos canceres retais extraperitoneais, além desses exames, também é reco- mendado a realização de uma resso- nância magnética ou USG endoanal. Atualmente, exiistem dois sistemas de estadiamento, o Sistema de Dukes (quadro 5), baseado na observação da profundidade de invasão do car- cinoma e o Sistema TNM (Union for International Cancer Control - UICC, 2017) que é o mais utilizado. 16CÂNCER COLORRETAL Segundo a classificação TNM (qua- dro 6): • T: Tumor primário – tamanho/grau de invasão na parede intestinal • N: Linfonodos – Número e caracte- rísticas dos linfonodos acometidos. • M: Metástase à distância. Com a combinação dessas caracte- rísticas é possível formar grupos de I a IV que classificam o estágio da doença. ESTADIAMENTO PATOLÓGICO DE DUKES DO CÂNCER COLORRETAL A: lesões limitadas à mucosa, linfonodos negativos B1: extensão através da mucosa, mas dentro da parede intestinal, linfonodos negativos B2: extensão através da parede intestinal, linfono- dos negativos B2m: extensão somente microscópica através da parede intestinal B3: tumores que estão aderidos e/ou invadem estruturas adjacentes, submetidos ao espécime patológico; linfonodos negativos C1: B1 com linfonodos positivos C2: B2 com linfonodos positivos C2m: B2m com linfonodos positivos C3: B3 com linfonodos positivos QUADRO 5: Estadiamento patológico de Dukes do câncer colorretal. Fonte: Baseado em Sabiston 18°ed. CLASSIFICAÇÃO TNM DESIGNAÇÃO / DESCRIÇÃO TUMOR Tis Displasia in situ ou carcinoma intramucoso T1 Tumor invade submucosa T2 Tumor invade, mas não através da muscular própria T3 Tumor invade através da muscular própria T4 Tumor invade órgãos adjacentes ou peritônio visceral LINFONODOS REGIONAIS NX Linfonodos não podem ser avaliados N0 Sem metástase de linfonodo regional N1 Metástase em um a três linfonodos regionais N2 Metástase em quatro ou mais linfonodos regionais METÁSTASES A DISTÂNCIA MX Metástase a distância não pode ser avaliada M0 Sem metástases a distância M1 Metástases a distância ou semeadura dos órgãos abdominais QUADRO 6: Classificação TNM. Fonte: Baseado em Sabiston 18°ed. 17CÂNCER COLORRETAL 7. RASTREAMENTO O rastreamento do CCR visa a de- tecção desse do tumor em estágios iniciais ou a identificação de lesões pré-cancerosas em pessoas assin- tomáticas. Segundo a Associação Americana de Gastroenterologia, o rastreamento está indicado para pes- soas de risco médio (pessoas sem histórico familiar de alto risco de neo- plasia colorretal) a partir dos 50 anos, sendo que se pode interromper a tria- gem quando a expectativa de vida for menor que 10 anos. Nesses casos, o paciente pode optar por realizar um dos testes de rastreio abaixo: Colonoscopia a cada 10 anos se a primeira for negativa; Colografia por TC a cada 5 anos naqueles que não farão colonoscopia; Retossigmoidoscopia flexível a cada 10 anos isolada ou em as- sociação com o sangue oculto nas fezes anualmente; Três amostras de Sangue ocul- to nas fezes anualmente (com guáiaco ou método imunoquí- mico); ou Teste de DNA de uma amostra de fezes a cada cinco anos. Em pacientes de alto risco para CCR (história familiar de CCR em paren- tes de primeiro grau, história pessoal de CCR ou pólipo maior que 1 cm ou múltiplos pólipos de qualquer tama- nho e portadores de doença inflama- tória), deverão iniciar a triagem aos 40 anos ou 10 anos antes do diagnóstico do CCR no parente de primeiro grau. Nesses casos, valerá o que iniciar pri- meiro e a triagem deverá ser realiza- da com colonoscopia a cada 5 anos. Em paciente com PAF, recomenda-se a realização de retossigmoidoscopia flexível entre 10-12 anos que deve ser repetida entre 1-12 anos até a idade de 35 anos, quando o rastreio deverá ser realizado a cada 3 anos. Em pacientes com CCHNP, recomen- da-se a realização de colonoscopia a partir de 20-25 anos repetindo a cada 2 anos. Após os 40 anos, o ras- treamento deve ser anual. Além dis- so, recomenda-se o rastreio especi- fico para os canceres extracolonicos que podem ocorrer nessa síndrome. 8. TRATAMENTO O tratamento padrão para o CCR é a ressecção tumoral, associada a re- tirada dos linfonodos regionais. A quimioterapia e a radioterapia quan- do indicados, apresentam um papel importante para o sucesso do trata- mento. A ressecção do tumor pode ser feita por via aberta ou laparoscó- pica. Nesse último caso, há redução do tempo de internação hospitalar e menor complicação pós-operatória. Para ser considerada adequada a 1 2 3 4 18CÂNCER COLORRETAL ressecção cirúrgica deve garantir uma margem livre de infiltração neoplásica (idealmente de 5cm da margem pro- ximal e distal para tumores do cólon e 2cm para tumores retais) e a retira- da de no mínimo 12 linfonodos. Além disso, deve-se evitar a manipulação tumoral durante e ressecção e fazer as ligaduras vasculares no início da cirurgia. • TUMORES DE CÓLON: Os car- cinomas in situ e intramucosos podem ser ressecados via colo- noscopica, desde que as margens estejam livres. Quando o tumor estiver localizado no ceco ou có- lon ascendente, a ressecção deve incluir a porção distal do íleo e ir até a metade do cólon transverso. Caso o tumor se encontre no cólon transverso, a ressecção dependerá da porção de implantação. Nos ca- sos em que o tumor se localiza no cólon descendente, deve-se reali- zar a colectomia esquerda. Por fim, caso o tumor esteja presente no cólon sigmoide ou reto alto, pode- -se realizar uma retossigmoidecto- mia. Devido as grandes chances de recorrência tumoral, nos pacientes com tumores associados a PAF e a CCHNP, geralmente é indicado a colectomia total. Figura 5. Procedimentos cirúrgicos para o CCR. A: He- micolectomia direita; B:Sigmoidectomia; C: Ressecção abdominoperineal do reto. Fonte: Sabiston 18°ed. • CÂNCER DE RETO: O melhor tra- tamento para o câncer do reto é a ressecção cirúrgica do tumor pri- mário. Devido a sua localização in- trapélvica e da proximidade anatô- mica com estruturas importantes, como nervos e órgãos urogenitais, pode ser indicada a associação de terapias pré-operatórias visando reduzir o tamanho do tumor para garantir uma melhor ressecção ci- rúrgica. Nos tumores de reto médio e distal por serem extraperitoneais, pode-se realizar a ressecção des- se local com margem de seguran- ça de 2 cm, associada a uma anas- tomose colorretal. Já nos tumores de reto baixo, deve ser realizado resseccções anteriores baixas ou 19CÂNCER COLORRETAL amputação abdominoperitone- al do reto. Em ambos os casos, a retirada do mesorreto (tecido gor- duroso que circunda o reto e abri- ga vários linfonodos e vasos lin- fáticos). Nos canceres em estágio 0 e 1 é possível realizar a excisão local do tumor que pode ser se- guida ou não de radioterapia ou radioquimioterapia. Para isso, con- dições ideais envolvendo o tama- nho do tumor e localização devem ser respeitadas. Nos estágios II e III é recomendado a realização de quimiorradioterapia prévia. Nes- se casos, a terapia neoadjuvante é indicada para reduzir o tamanho do tumor. Mesmo após a cirurgia também é necessário a realização de quimioterapia adjuvante devido a taxa de recorrência local nesta doença. A cirurgia laparoscópica está associada a melhores resul- tados. Na quimioterapia utiliza-se esquemas terapêuticos baseados em fluoropirimidina, associada ou não a oxaliplatina. O início do tra- tamento adjuvante deve ocorrer entre 4 e 6 semanas após a cirur- gia. A quimioterapia paliativa está indicada para doentes com cân-cer colorretal recidivado inoperável ou com doença no estágio IV ao diagnóstico. 20CÂNCER COLORRETAL MAPA MENTAL TRATAMENTO Paliativo TRATAMENTO Fornece conforto para os pacientes que não tem chance de cura Curativo Ressecção cirúrgica Radioterapia + Quimioterapia Margens livres e retirada de no mínimo 12 linfonodos Síndrome de Lynch + PAF COLECTOMIA TOTAL Câncer retal Radioterapia + Quimioterapia Ressecção do tumor Ressecção do mesorreto Câncer de cólon Colectomia direita Sigmoidectomia Colectomia esquerda Carcinomas in situ ou intramucoso Ressecção colonoscopica 21CÂNCER COLORRETAL MAPA MENTAL GERAL CÂNCER COLORRETAL Rastreio >40 anos, se história familiar, com colonoscopia a cada 5 anos. Quadro clínico Fatores de risco Diagnóstico Estadiamento Tratamento >50 anos, sem fatores de risco, colonoscopia a cada 10 anos. Colonoscopia com biópsia CEA Pesquisa de sangue oculto nas fezes Tomografia computadorizada Anamnese + exame físico Tabagismo Síndromes hereditárias Idade Dieta rica em gordura e carboidrato Doença inflamatória intestinal Pólipos adenomatosos Anemia ferropriva Dor abdominal Fezes em fita Alteração do ritmo intestinal Dor abdominal Sangramento intestinal TC de abdome, tórax e pelve Paliativo Curativo Ressecção cirúrgica Quimioterapia 22CÂNCER COLORRETAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SABISTON. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19.ed. Saun- ders. Elsevier KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas em Oncologia/Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. Siegel RL, Miller KD, Jemal A: Cancer statistics 2017. CA Cancer J Clin 67(1):7–30, 2017. Chyke Doubeni, MD FRCS, MPH. Screening for colorretal cancer: Strategies in patients at average risk. In http: www.uptodate.com. 23CÂNCER COLORRETAL
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