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Elementos de Teoria Geral do Estado Dalmo de Abreu Dallari - DEMOCRACIA

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Resumo
Livro: Elementos de Teoria Geral do Estado – Dalmo de Abreu Dallari 
DEMOCRACIA
ESTADO MODERNO E DEMOCRACIA
A base do conceito de Estado Democrático é, sem dúvida, a noção de governo do povo, revelada pela própria etimologia do termo democracia. Houve influência das ideias gregas, no sentido da afirmação do governo democrático equivalendo ao governo de todo o povo, neste se incluindo, porém, uma parcela muito mais ampla dos habitantes do Estado, embora ainda se mantivesse algumas restrições. 
O Estado Democrático moderno nasceu das lutas contra o absolutismo, sobretudo através da afirmação dos direitos naturais da pessoa humana. Daí a grande influência dos jus naturalistas, como Locke e Rousseau, que diz que “um povo que governar sempre bem não necessitará de ser governado”, acrescentando que jamais existiu verdadeira democracia, nem existirá nunca. E sua conclusão é fulminante: “se existisse um povo de deuses, ele se governaria democraticamente”.
Apesar disso tudo, foi considerável a influência de Rousseau para o desenvolvimento da ideia de Estado Democrático podendo-se mesmo dizer que estão em sua obra, claramente expressos, os princípios que iriam ser consagrados como inerentes a qualquer Estado que se pretenda democrático.
 É através de três grandes movimentos político-sociais que se transpõem do plano teórico para o prático os princípio que iriam conduzir ao Estado Democrático: o primeiro desses movimentos foi o que muitos denominam de Revolução Inglesa, fortemente influenciada por Locke e que teve sua expressão mais significativa no Bill of Rights, de 1.689; o segundo foi a Revolução Americana, cujos princípios foram expressos na Declaração de Independência das treze colônias americanas, em 1.776; e o terceiro foi a Revolução Francesa, que teve sobre os demais a virtude de dar universalidade aos seus princípios, os quais foram expressos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1.789, sendo evidente nesta a influência direta de Rousseau. 
Quanto a Revolução Inglesa, havia a intenção de estabelecer limites ao poder absoluto do monarca e a influência do protestantismo, ambos contribuindo para a afirmação dos direitos naturais dos indivíduos nascidos livres e iguais, justificando-se, portanto, o governo da maioria que deveria exercer o poder legislativo assegurando a liberdade dos cidadãos. 
Procurando caracterizar uma democracia, escreve Locke: “Tendo a maioria, quando de início os homens se reúnem em sociedade, todo o poder da comunidade naturalmente em si, pode entrega-lo para fazer leis destinadas à comunidade de tempos em tempos, as quais se executam por meio de funcionários que ela própria nomeia: nesse caso, a forma de governo é uma perfeita democracia.”. 
Em sua opinião, entretanto, quando os poderes executivo e legislativo estiverem em mãos diversas, como entendia devesse ocorrer nas monarquias moderadas, o bem da sociedade exige que várias questões fiquem entregues à discrição de quem dispõe do poder executivo. Resta, assim, uma esfera de poder discricionário, que ele chama de prerrogativa, conceituando-a como o poder de fazer o bem público sem se subordinar a regras. 
Essas ideias, expostas no final do séc. XVII iriam ganhar uma amplitude maior nas colônias da América durante o século seguinte, sobretudo porque atendiam plenamente aos anseios de liberdade dos colonos. É importante assinalar também que essas afirmações de Locke representavam a sistematização teórica dos fatos políticos que estavam transformando a Inglaterra de seu tempo, tais como a publicação da Declaração Inglesa de Direitos, de 1.688, que proclamava os direitos e as liberdades dos súditos, e a aprovação do documento que se tornou conhecido como Bill of Rights, através do qual se faz a ratificação daquela Declaração, além de se afirmar a supremacia do Parlamento.
A luta contra o absolutismo inglês também se desenrolou, em parte, nas colônias da América do Norte. Realmente, a par dessa posição antiabsolutista e da influência protestante, os norte-americanos estavam conquistando sua independência e de nada lhes adiantaria livrarem-se de um governo absoluto inglês para se submeterem a outro, igualmente absoluto, ainda que norte-americano. 
Uma síntese perfeita de todas as influências encontra-se nas frases iniciais da Declaração da Independência, de 1.776, onde assim se proclama: “Consideramos verdades evidentes por si mesmas que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais a Vida, a Liberdade e a procura da Felicidade; que para proteger tais direitos são instituídos os governos entre os Homens, emanando seus justos poderes dos consentimentos dos governados. Que sempre que uma forma de governo se torna destrutiva, é o Direito do Povo altera-la ou aboli-la e instituir um novo governo, fundamentado em princípios e organizando seus poderes da forma que lhe parecer mais capaz de proporcionar segurança e felicidade”.
O terceiro movimento consagrador das aspirações democráticas do séc. XVIII foi a Revolução Francesa. Além de se oporem aos governos absolutos, os líderes franceses enfrentavam o problema de uma grande instabilidade interna, devendo pensar na unidade dos franceses. Foi isto que favoreceu o aparecimento da ideia da nação, como centro unificador de vontades e de interesses. Na França a Igreja e o Estado eram inimigos, o que influiu para que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1.789, diversamente do que ocorrera na Inglaterra e nos Estados Unidos da América, tomasse um cunho mais universal, sem as limitações impostas pelas lutas religiosas locais.
Declara-se, então, que os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. Nenhuma limitação pode ser imposta ao indivíduo, a não ser por meio da lei, que é a expressão da vontade geral. A base da organização do Estado deve ser a preservação da possibilidade de participação popular no governo, a fim de que sejam garantidos os direitos naturais.
Foram esses movimentos e essas ideias, expressões dos ideais preponderantes na Europa do séc. XVIII, que determinaram as diretrizes na organização do Estado a partir de então. Consolidou-se a ideia de Estado Democrático como ideal supremo, chegando-se a um ponto em que nenhum sistema e nenhum governante, mesmo quando patentemente totalitários, admitem que não sejam democráticos. 
Uma síntese dos princípios que passaram a nortear os Estados, como exigências da democracia, permite-nos indicar três pontos fundamentais: 
· A supremacia da vontade popular;
· A preservação da liberdade;
· A igualdade de direitos;
DEMOCRACIA DIRETA, SEMIDIRETA E REPRESENTATIVA
Sendo o Estado Democrático aquele em que o próprio povo governa, é evidente que se coloca o problema do estabelecimento dos meios para que o povo possa externar sua vontade. É difícil, quase absurdo mesmo, pensar-se na hipótese de constantes manifestações do povo, para que se saiba rapidamente qual a sua vontade. Entretanto, embora com amplitude bastante reduzida, não desapareceu de todo a prática de pronunciamento direto do povo, existindo alguns institutos que são classificados como expressões de democracia direta.
Há vários outros institutos que, embora considerados por alguns autores como característicos da democracia direta, não dão ao povo a possibilidade de ampla discussão antes da deliberação, sendo por isso classificados pela maioria como representativos da democracia semidireta. Essas instituições são:
· O referendum: largamente utilizado atualmente, consiste na consulta à opinião pública para a introdução de uma emenda constitucional ou mesmo de uma lei ordinária, quando esta afeta um interesse público relevante. Em certos casos as Constituições de alguns Estados modernos exigem que se faça o referendum, sendo ele considerado obrigatório, o que se dá quase sempre quanto a emendas constitucionais; em outros, ele é apenas previsto como possibilidade, ficando a cargo das assembleias decidir sobre sua realização, sendo ele então chamado facultativo ou opcional.· O plebiscito: consiste numa consulta prévia à opinião popular. Dependendo do resultado do plebiscito é que se irão adotar as providências legislativas, se necessário.
· A iniciativa: confere a um certo número de eleitores o direito de propor uma emenda constitucional ou um projeto de lei. Nos EUA faz-se uma diferenciação entre duas espécies de iniciativa, que são: iniciativa direita, pela qual o projeto de constituição ou de lei ordinária contendo a assinatura de um número mínimo de eleitores deve, obrigatoriamente, ser submetido à deliberação dos eleitores nas próximas eleições; e iniciativa indireta, que dá ao Legislativo estadual a possibilidade de discutir e votar o projeto proposto pelos eleitores, antes que ele seja submetido à aprovação popular. Só se o projeto for rejeitado pelo Legislativo é que ele será submetido ao eleitorado, havendo Estados norte-americanos que exigem um número adicional de assinaturas, apoiando o projeto, para que ele seja dado à decisão popular mesmo depois de recusado pela assembleia.
· O veto popular: pelo veto popular, dá-se aos eleitores, após a aprovação de um projeto pelo Legislativo, um prazo, geralmente de sessenta a noventa dias, para que requeiram a aprovação popular. A lei não entra em vigor antes de decorrido este prazo e, desde que haja a solicitação por um certo número de eleitores, ela continuará suspensa até as próximas eleições, quando então o eleitorado decidirá se ela deve ser posta em vigor ou não.
· O recall: é uma instituição norte-americana, que tem aplicação em duas hipóteses diferentes; ou para revogar a eleição de um legislador ou funcionário eletivo, ou para reformar decisão judicial sobre constitucionalidade de lei.
A impossibilidade prática de utilização dos processos da democracia direta, bem como as limitações inerentes aos institutos de democracia semidireta, tornaram inevitável o recurso à democracia representativa, onde, o povo concede um mandato a alguns cidadãos, para, na condição de representantes, externarem a vontade popular e tomarem decisões em seu nome, como se o próprio povo estivesse governando.
· Mandato: diz Carvalho de Mendonça que mandato é o contrato pelo qual alguém constitui a outrem seu representante, investindo-o de poderes para executar um ou mais de um ato jurídico.
Para a compreensão das características do mandato político é indispensável aceitar-se sua completa desvinculação da origem privada. É preciso ter-se em conta que o mandato político é uma das mais importantes expressões da conjugação do político e do jurídico, o que também influi em suas características mais importantes:
· O mandatário, apesar de eleito por uma parte do povo, expressa a vontade de todo o povo, podendo tomar decisões em nome de todos os cidadãos da circunscrição. 
· O mandatário não está vinculado a determinados eleitores, não se podendo dizer qual o mandato conferido por certos cidadãos.
· O mandatário tem absoluta autonomia e independência, não havendo necessidade de ratificação das decisões.
· O mandato é de caráter geral, conferindo poderes para a prática de todos os atos compreendidos na esfera de competências do cargo para o qual alguém é eleito.
· O mandatário é irresponsável, não sendo obrigado a explicar os motivos pelos quais optou por uma ou por outra orientação.
· Em regra, o mandato é irrevogável sendo conferido por prazo determinado. A exceção a esse princípio é o recall. 
O Estado Moderno partiu de um misto de representação de interesses e representação política, fixando-se nesta. Em face de graves deficiências e de dificuldades praticamente insuperáveis, surgiram sérios opositores da representação política propondo-se outras bases de representação. Foi assim que se propôs no séc. XIX, a base profissional, construindo-se a teoria da representação profissional ou sindical.
REFERENCIAS: 
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

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