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Centro Universitário Leonardo da Vinci Curso Bacharelado em Serviço Social TEREZA RACHEL DUARTE DINIZ 0403 SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE E O ACOLHIMENTO DO USUÁRIO AO RECEBER O DIAGNÓSTICO CLÍNICO DE HANSENÍASE NO CENTRO DE SAÚDE DR. GENÉSIO RÊGO SÃO LUÍS 2020 TEREZA RACHEL DUARTE DINIZ SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE E O ACOLHIMENTO DO USUÁRIO AO RECEBER O DIAGNÓSTICO CLÍNICO DE HANSENÍASE NO CENTRO DE SAÚDE DR. GENÉSIO RÊGO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à disciplina de TCC – do Curso de Serviço Social – do Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI, como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Nome do Tutor – Rita dos Santos Amaral Sampaio SÃO LUÍS 2020 SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE E O ACOLHIMENTO DO USUÁRIO AO RECEBER O DIAGNÓSTICO CLÍNICO DE HANSENÍASE NO CENTRO DE SAÚDE DR. GENÉSIO RÊGO POR TEREZA RACHEL DUARTE DINIZ Trabalho de Conclusão de Curso aprovado do grau de Bacharel em Serviço Social, sendo-lhe atribuída à nota “______” (_____________________________), pela banca examinadora formada por: ___________________________________________ Presidente: Prof. Rita dos Santos Amaral Sampaio – Orientador Local ____________________________________________ Membro: Anselma Viegas Nunes - Supervisor de Campo ____________________________________________ Membro: Hanilda Regina Rodrigues dos Santos- Profissional da área SÃO LUÍS/MA 2020 DEDICATÓRIA Dedico primeiramente a Deus por ser meu apoio em todos os momentos. Dedico este trabalho aos meus pais, Ribamar Diniz e Tereza, por ter patrocinado a minha maior herança: cultura e sabedoria. Dedico aos meus filhos Glaydson, Mayckson e João Lucas pelo carinho e pela compreensão nos momentos em que a dedicação aos estudos foi exclusiva e ao meu marido Francisco pelo apoio e por respeitar minha vontade de ter uma formação superior. AGRADECIMENTOS Primeiramente à Deus por ter me dado saúde e força de vontade para superar as dificuldades. A UNIASSELVI – Centro Universitário Leonardo Da Vinci, seu corpo docente, direção e administração que oportunizaram a janela que hoje vislumbro um horizonte superior, eivado pela acendrada confiança no mérito e ética aqui presentes. A minha Tutora e orientadora Rita dos Santos Amaral Sampaio, pelo suporte no pouco tempo que lhe coube, pelas suas correções e incentivos. Aos meus pais, meu marido, meus filhos e amigas, pelo amor, incentivo e apoio incondicional. Agradeço também a composição da banca que se fizeram presente neste momento tão importante da minha jornada acadêmica, em especial a minha supervisora de campo, Anselma Viegas Nunes. E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigada. “Mantenha seus pensamentos positivos, porque seus pensamentos tornam-se suas palavras. Mantenha suas palavras positivas, porque suas palavras tornam-se suas atitudes. Mantenha suas atitudes positivas, porque suas atitudes tornam-se seus hábitos. Mantenha seus hábitos positivos, porque seus hábitos tornam-se seus valores. Mantenha seus valores positivos, porque seus valores… tornam-se seu destino.” Mahatma Gandhi RESUMO A presente pesquisa realizou-se na área de concentração do Serviço Social na saúde, tendo como área de atuação na Secretária de Estado de Saúde, saúde pública na UBS, discorrendo acerca do tema Serviço Social na saúde e o acolhimento do usuário ao receber o diagnóstico clínico de hanseníase no Centro de Saúde Dr. Genésio Rêgo, delimitado ao problema impacto do diagnóstico de hanseníase para o usuário e os benefícios do acolhimento humanizado. Tal problema justifica-se pelo choque que alguns pacientes apresentam após a confirmação do diagnóstico, muitos aparentando medo, tristeza, receio, pensamentos negativos, entre outros, nesse sentido o apoio oferecido pelo acolhimento é fundamental para minimização desses impactos. O acolhimento é parte do processo interventivo dos assistentes sociais. Ele reúne três elementos que agem simultaneamente: a escuta, a troca de informações e o conhecimento da situação na qual o usuário se encontra. Ao profissional de Serviço Social cabe o domínio das dimensões teórico-metodológica, ético-político e técnico-operativo para melhor desempenho de suas funções. Pondera-se os aportes sobre a questão do acolhimento na saúde a Política Nacional de Humanização (PNH) HumanizaSUS. A partir das vivências durante o período estágio obrigatórias no Centro de Saúde Dr. Genésio Rêgo, optou-se pelo objetivo geral desta pesquisa que foi investigar a importância do acolhimento ao usuário do Centro de Saúde Genésio Rêgo após diagnóstico de hanseníase, tendo como objetivos específicos analisar a prática de acolhimento desenvolvida no Centro de Saúde; descrever os impactos do diagnóstico e os benefícios do acolhimento; indicar propostas de acolhimento humanizado aos pacientes. Como metodologia foram realizadas pesquisas bibliográficas com indicações de autores como Chupel e Moito, entre outros, observação e registro das atividades e processos de acolhimento durante todo período de estágio obrigatório. Espera-se com a pesquisa contribuir para futuras pesquisas acadêmicas, além estimular a adesão da proposta de acolhimento ampliando para todos os usuários que recebem diagnóstico de hanseníase. PALAVRAS-CHAVE: Saúde. Serviço Social. Hanseníase. Acolhimento. ABSTRACT This research was carried out in the area of concentration of Social Service in health, at the Secretary of State for Health with public health in the UBS as an area of action, discussing the theme Social Service in health and the reception of the user when receiving the clinical diagnosis of leprosy in the Center Health Dr. Genésio Rêgo, delimited by the problem impact of the diagnosis of leprosy for the user and the benefits of humanized care. This problem is justified by the shock that some patients experience after confirming the diagnosis, many of them appearing to be afraid, sad, afraid, negative thoughts, among others, in this sense, the support offered by the reception is fundamental to minimize these impacts. Reception is part of the intervention process of social workers. It brings together three elements that act simultaneously: listening, exchanging information and knowing the situation in which the user finds himself. The Social Service professional is responsible for mastering the theoretical-methodological, ethical-political and technical-operational dimensions for better performance of their functions. The contributions of the National Humanization Policy (PNH) HumanizaSUS are considered. From the experiences during the mandatory internship period at the Dr. Genésio Rêgo Health Center, the general objective of this research was chosen, which was to investigate the importance of welcoming the user of the Genésio Rêgo Health Center after the diagnosis of leprosy, with specific objectives analyze the welcoming practice developed at the Health Center; describe the impacts of the diagnosis and the benefits of welcoming; indicate proposals for humanized care for patients. As a methodology, bibliographic research was carried out with indications from authors such as Chupel and Moito, among others, observation and registration of activities and reception processes during the entire periodof mandatory internship. The research is expected to contribute to future academic research, in addition to encouraging adherence to the welcoming proposal, expanding to all users who are diagnosed with leprosy. KEYWORDS: Health. Social Work. Leprosy. Reception. LISTAS DE ILUSTRAÇÕES ORAGANOGRAMA DO CENTRO DE SAÚDE DR. GENÉSIO RÊGO .................................. 36 QUADRO 1: RANKING DA HANSENÍASE NO MUNDO ....................................................... 42 GRÁFICO 1: DISTRIBUIÇÃO POR FAIXAS ETÁRIAS DOS PACIENTES DIAGNÓSTICADOS COM HANSENÍASE ............................................................................ 42 QUADRO 2: RESUMO QUANTO AO SEXO E PROCEDÊNCIA DOS PACIENTES ............. 43 GRÁFICO 2: OBSERVAÇÃO QUANTO AOS BENEFÍCIOS DO ACOLHIMENTO ................ 44 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11 2 SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE E O ACOLHIMENTO DO USUÁRIO AO RECEBER O DIAGNÓSTICO CLÍNICO DE HANSENÍASE NO CENTRO DE SAÚDE DR. GENÉSIO RÊGO ................................................................................................................................... 13 2.1TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL .............................................................................. 14 2.2 SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL: trajetória ........................................................................ 16 2.3 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) .............................................................................. 20 2.4 PANORAMA DA SAÚDE PÚBLICA NO ATUAL CENÁRIO BRASILEIRO ...................... 22 2.4.1 INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE ............................................. 23 3 IMPACTO DO DIAGNÓSTICO DE HANSENÍASE PARA O USUÁRIO E OS BENEFÍCIOS DO ACOLHIMENTO HUMANIZADO ............................................................. 26 3.1 CONCEPÇÕES DE ACOLHIMENTO E QUESTÃO SOCIAL .......................................... 27 3.2 ACOLHIMENTO HUMANIZADO .................................................................................... 30 4 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................ 32 4.1 CENTRO DE SAÚDE DR. GENÉSIO RÊGO .................................................................. 33 4.2 ATRIBUIÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENTRO DE SAÚDE DR. GENÉSIO RÊGO ................................................................................................................................... 36 5 OBJETIVOS DA PESQUISA ............................................................................................. 40 5.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................................... 40 5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................... 40 6 METODOLOGIA DE PESQUISA ....................................................................................... 41 6.1 TIPO DA PESQUISA ...................................................................................................... 41 6.2 COLETA DE DADOS ...................................................................................................... 41 7 ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA ........................................................................... 42 7.1. APRESENTAÇÃO DOS DADOS ................................................................................. 45 7.2. ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................... 46 7.3. RESULTADOS ............................................................................................................. 47 7.4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .............................................................................. 48 8 CONCLUSÕES ................................................................................................................. 50 REFERÊNCIA ...................................................................................................................... 52 11 1 INTRODUÇÃO O estudo em questão foi pensado a partir do período de experiência de estágio obrigatório realizado na área de concentração da saúde no Centro de Saúde Dr. Genésio Rêgo com atuação na Secretaria de Estado de Saúde, saúde pública, mais precisamente, na Unidade Básica de Saúde (UBS). Foram elaborados os seguintes objetivos: objetivo geral: investigar a importância do acolhimento ao usuário do Centro de Saúde Genésio Rêgo após diagnóstico de hanseníase, tendo como objetivos específicos analisar a prática de acolhimento desenvolvida no Centro de Saúde; descrever os impactos do diagnóstico e os benefícios do acolhimento; indicar propostas de acolhimento humanizado aos pacientes. Como recurso metodológico foram utilizados pesquisa bibliográfica, análise de fontes seguras como dados do Ministério da Saúde e Boletins epidemiológicos sobre o crescimento de casos de hanseníase no estado do Maranhão. Também foram feitos observações e registros em diário de campo durante todo período de estágio realizado no Centro de Dr. Genésio Rêgo. A discussão tem como foco o trabalho do Serviço Social na saúde com enfoque na prática de acolhimento realizada com usuários após o recebimento de diagnóstico de hanseníase. Considerando que a hanseníase ainda é vista como um desafio a saúde pública, pois não há uma vacina, nem um controle eficaz. A doença manifesta-se de forma lenta, muitas vezes notada somente quando a pessoa começa a ter dificuldade para trabalhar ou executar tarefas simples do dia a dia. A doença ainda é cercada por preconceitos e estigmas criados ao longo da história desde os tempos bíblicos. Algo que contribui para que as pessoas se sintam amedrontadas diante do possível diagnóstico de hanseníase, pois são muitas as histórias de discriminação contra quem teve ou tem hanseníase. Nesse sentido, destaca-se a prática do acolhimento como sendo uma importante ferramenta de ajuda aos pacientes diagnosticados com hanseníase, pois estabelece um vínculo de confiança e tranquilidade entre o profissional e o usuário. Considera-se que o acolhimento ocorre a partir de uma técnica onde há troca de informações e conhecimentos, dessa forma, possui extrema importância para os benefícios da prática durante o tratamento de hanseníase, assim como as ações desenvolvidas pelo profissional de Serviço Social no campo da saúde pública. 12 De acordo com Ministério da Saúde – Política Nacional de Humanização (PNH): O acolhimento é uma postura ética que implica na escuta do usuário em suas queixas, no reconhecimento do seu protagonismo no processo de saúde e adoecimento, e na responsabilização pela resolução, com ativação de redes de compartilhamento de saberes. Acolher é um compromisso de resposta às necessidades dos cidadãos que procuram os serviços de saúde. (MS, 2008). Diante do exposto a questão problema que desencadeou a pesquisa remete- se ao entendimento sobre o impacto do diagnóstico de hanseníase para o usuário e os benefícios do acolhimento humanizado. A pesquisa apresenta-se divididas em títulos e subtítulos trazendo primeiramente a apresentação do tema da pesquisa, ressaltando sua relevância e aspectos gerais sobre a prática de acolhimento. Logo após faz-se uma apresentação da saúde pública no Brasil, traçando-se sua trajetória em alusão ao período colonial, e as conquistas com a Reforma Carlos Chagas, bem como com a Reforma da Saúde Pública, em 1941. Também foram elencados recortes sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), sua regulamentação através da Lei Orgânica de Saúde (LOS), a Lei nº 8.080/1990e a Lei nº 8.142/1990. A pesquisa também faz referência ao panorama da saúde pública no cenário atua, onde se discute sobre as formas de atuação frente as epidemias e o combate a pandemia do novo Coronavírus. Faz-se ainda, uma breve discussão sobre o processo de intervenção do Assistente Social na Saúde, suas práticas e funções. Ressalta-se que a pesquisa buscou analisar as concepções de acolhimento frente a questão social, trazendo conceitos sobre o assunto, ressaltado a importância do acolhimento humanizado a partir das diretrizes da Política Nacional de Humanização (PNH). 13 2 SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE E O ACOLHIMENTO DO USUÁRIO AO RECEBER O DIAGNÓSTICO CLÍNICO DE HANSENÍASE NO CENTRO DE SAÚDE DR. GENÉSIO RÊGO Pensando nesse propósito do acolhimento, como técnica de troca de informações e conhecimentos, primou-se pela escolha do tema, ressaltando sua importância para os benefícios da prática durante o tratamento de hanseníase, assim como as ações desenvolvidas pelo profissional de Serviço Social no campo da saúde pública. Nesse sentido, partimos da observação do acolhimento realizado pelos assistentes sociais na área da saúde, mais especificamente no Centro de Saúde Dr. Genésio Rêgo, onde o mesmo deve pautar-se no modelo técnico assistencial, sendo este, um modelo dialogado onde se destaca como uma técnica especial de conversação, pois se trata de uma qualidade durante o processo de troca de informações, além de uma possibilidade real a ser disposta ou facilitada por uma “técnica geral de conversa”. Porém, Chupel e Mioto (2010, p. 46) constatam que as dificuldades da implementação do acolhimento correspondem aos “determinantes organizacionais impostos, pois a estratégia do acolhimento é uma proposta que tem a finalidade de ultrapassar as fronteiras técnicas, e objetivas garantir o acesso e promover o vínculo com o Sistema Único de Saúde”. Importa ressaltar que a técnica de acolhimento possui três dimensões de extrema importância, sendo elas: a postura, a técnica e o princípio de orientação de serviços. A postura está relacionada a atitude por parte dos profissionais e da equipe de saúde, que devem receber, escutar e realizar um tratamento humanizado com os usuários e suas demandas. Sobre esse procedimento Silva Júnior e Mascarenhas (2005, p. 245) expõem que o acolhimento “instrumentaliza a geração de procedimentos e ações organizadas. Tais ações facilitam o atendimento na escuta, na análise, na discriminação de risco e na oferta acordada de soluções ou alternativas nos problemas demandados”. O acolhimento do usuário portador de hanseníase deve acontecer por meio de um atendimento humanizado, através do processo de escuta e identificação adequada realizada pelo profissional de Serviço Social. Segundo o Protocolo de Atendimento em Hanseníase (2007, p. 11): “A abordagem humanizada e integral do 14 portador de hanseníase permitirá logo no primeiro contato diminuir as barreiras do estigma, preconceito e sofrimento enfrentados pelos pacientes.” Sendo assim, o entendimento final deste projeto visou encontrar subsídios que corroborassem com a importância da prática do acolhimento realizado com pacientes após o recebimento de diagnóstico da hanseníase, uma vez que o mesmo deve ser feito de forma humanizada, com um olhar voltado diretamente para o usuário que no primeiro momento do diagnóstico, na maioria das vezes, sente-se desnorteado, podendo apresentar problemas de ordem social, emocional e psicológica. Destacando-se, portanto, a relevância do trabalho do assistente social nesse processo, a partir do seu olhar profissional, suas técnicas, competências e habilidades durante cada atendimento. 2.1 TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL A prática do Serviço Social se caracteriza pela Assistência Social. Dessa forma, não podemos falar de um sem nos remetermos ao outro. Para tanto, é valioso informar que o Serviço Social se originou da Igreja Católica e tinha como objetivo a grande massa operária que integrava o capitalismo industrial da época. Durante muito tempo essa prática teve a concepção de caridade e da fé cristã, por trás da ação/benesse existia, por parte do receptor, uma relação de gratidão com o doador, inexistindo o serviço social como direito, o que abriu espaço para uma concepção de dependência respaldada em interesses: religiosos, hierárquicos, políticos e etc. De acordo com Albonette (2017, p. 58) “Esse evento coincidiu com o período de industrialização do país, durante o qual a simples caridade já não atendia ao que se esperava do Estado como resposta às expressões da questão social”. No Brasil, o Serviço Social surgiu por volta do ano de 1930 como resposta à evolução do capitalismo que vinha permeado por forte influência da Europa. Entre os anos de 1930 a 1935, o governo brasileiro sofreu grandes pressões da classe trabalhadora e é nesse cenário que o governo de Getúlio Vargas ressurge fazendo emergir a questão social fruto das pressões e questionamentos da sociedade da época. A ligação entre a Assistência Social e o Serviço Social também se verificou no seu surgimento, tendo em vista que a primeira igualmente teve seu início no ano de 15 1930. Essa mesma informação foi prestada por Coutinho (2008), o qual ensinou que “Somente a partir dos anos de 1930 é que a assistência passa a ser paulatinamente absorvida pelo Estado. Após a chamada Revolução de 1930, Getúlio Vargas assume o poder e começa a desenvolver uma política voltada para a industrialização (modernização) do país centrada no protagonismo estatal”. Face ao exposto Albonette (2017, p. 73) conclui que “a profissão no Brasil, desde sua gênese, esteve ligada à assistência da classe trabalhadora; contudo era possível evidenciar um predomínio do emprego público em diversos órgãos do governo”. Com a inserção do profissional de Serviço Social cada vez mais necessária em diversos espaços sócio ocupacionais, as técnicas de atendimento foram se aperfeiçoado de acordo com os avanços e legitimação e a teorização da profissão. Nesse aspecto, de acordo com Yolanda Guerra (1999): Compreendemos que esse avanço vincula-se à processualidade histórica, enquanto categoria constitutiva da própria realidade, capaz de provocar as condições de amadurecimento das contradições sociais pela via de novas articulações entre fatos e fenômenos. A razão moderna, ante a hegemonia da razão instrumental, não perde a sua estrutura inclusiva; antes, se consolida pelo nível de concreção e complexidade que os processos sociais adquirem na ordem capitalista da era dos monopólios. (GUERRA, 1999, p. 204-205). A partir do Movimento de Reconceituação da profissão, iniciado na década de 60, o profissional de Serviço Social iniciou um processo de rompimento com as velhas práticas assistencialistas. Com o tempo o objeto de trabalho pautado na questão social ganhou um novo enfoque, onde segundo Silva (2017, p. 25) “esse objeto possibilita que a categoria profissional desloque sua visão única do sujeito e o conecte à totalidade, ou seja, permite que o assistente social compreenda o indivíduo como um ser histórico: produto e produtor do seu meio”. A partir da redemocratização, outro fator a ser observado é o crescente descontentamento da população com relação a área da saúde, tendo por sua vez, a organização de setores que exigiam uma reforma no setor, devido ao agravamento da questão social. O marco dessa mudança é o Movimento Sanitário, culminando nos fundamentos jurídicos e reguladores da Constituição Federal e logo após no processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS). A Constituição Federal em seu Art. 6º, estabelece como direitos sociais fundamentais a educação, a saúde, 16 o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância. Dessa forma, tem-seque a saúde consagrada na Constituição Federal de 1988 como direito fundamental, recebe em todos os casos a proteção jurídica diferenciada na ordem jurídico-constitucional brasileira. Nesse processo, a construção de um espaço público, com a política de saúde pública no Brasil, configura-se num contexto de materialização de práticas sociais. 2.2 SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL: trajetória O impacto trazido ao Brasil pela colonização portuguesa teve grande participação na formação da sociedade brasileira. A partir desse processo é possível também traçar uma trajetória quanto aos primórdios da saúde brasileira, sendo que nesse período a colonização também provocou no Brasil uma onda de epidemias que representavam um grande desafio à saúde da época. O período colonial lidava com as questões relacionadas à saúde de forma bastante seletiva, sendo que o acesso aos cuidados médicos era exclusividade das classes dominantes, aos pobres restava à solidariedade nos cuidados às enfermidades, a prática de curandeiros e cuidados oferecidos por ordens religiosas. Segundo destaca Moser (2017, p. 20) “Os contatos com os cuidados médicos nos padrões da medicina tradicional constituíam uma realidade fora do alcance para os mais pobres e ainda mais distantes, para os escravos”. Podemos perceber que durante o século XVIII, a assistência médica no Brasil, ocorria a partir da filantropia e na prática liberal. Já na primeira metade do século XIX, devido às transformações econômicas e políticas, algumas iniciativas foram surgindo no campo da saúde pública, como por exemplo, a vigilância do exercício profissional e a realização de campanhas limitadas. Dados extraídos da Funasa revela-se a cronologia histórica da saúde pública no Brasil, durante a primeira metade do século XIX: ➢ 1808: Criação da primeira organização nacional de saúde pública no Brasil. E em 27 de fevereiro foi criado o cargo de Provedor-Mor de Saúde da Corte e do Estado do Brasil, embrião do Serviço de Saúde dos Portos, com delegados nos estados. 17 ➢ 1828: Após a Independência, foi promulgada, em 30 de agosto, a lei de Municipalização dos Serviços de Saúde, que conferiu às Juntas Municipais, então criadas, as funções exercidas anteriormente pelo Físico-Mor, Cirurgião-Mor e seus Delegados. No mesmo ano, ocorreu a criação da Inspeção de Saúde Pública do Porto do Rio de Janeiro, subordinada ao Senado da Câmara, sendo em 1833, duplicado o número dos integrantes. ➢ 1837: Ficou estabelecida a imunização compulsória das crianças contra a varíola. ➢ 1846: Obedecendo ao mesmo critério de luta contra as epidemias, foi organizado o Instituto Vacínico do Império. A segunda metade do século XIX foi marcada pela crise sanitária e o retorno à centralização de atenção à saúde. As atividades relacionadas a saúde eram restritas e pontuais ao controle de epidemias. Contudo a esse período também estão relacionados o crescimento e a modernização da economia, trazendo um novo modelo de sociedade e, consequentemente, a saúde. As mudanças nos serviços de saúde do governo republicano levaram a reorganização dos serviços sanitários através da descentralização, porém esse movimento não significou uma melhoria na oferta ou no acesso aos serviços de saúde para a maior parte da população. (MOSER, 2017, p. 32). A primeira metade do século XX é marcada pela era de luta pelos direitos da classe trabalhadora pelo acesso a melhores condições de trabalho, seguindo a discussão para a conquista de uma melhor cobertura na saúde. Destacando que a ideia, ainda era vinculada a fase da saúde restrita com aspectos sanitaristas. Nesse período destacam-se diversas iniciativas de desenvolvimento da saúde no Brasil, marcados pela reforma na saúde entre 1919 e 1920, com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP); ampliação da abrangência do Serviço de Profilaxia Rural e das parcerias com o Instituto Rockfeller1 para o combate a febre amarela; criação das inspetorias de Higiene Industrial e Alimentar e da Profilaxia da Tuberculose e a ampliação dos serviços do DNSP. É a partir de 1920 que a saúde pública, no Brasil, adquire visibilidade no discurso de serviços, pelo poder vigente. Nesse cenário, ocorreram diversas 1 A Fundação chegou ao Brasil em 1916, e em 1923, estabeleceu um convênio com o governo brasileiro, para cooperação médico-sanitária e programas de erradicação de endemias, notadamente a febre amarela e depois a malária. Fonte: https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1010- rockefeller-um-magnata-na-saude-publica 18 tentativas de sua expansão em todo o país. O marco mais importante da evolução sanitária brasileira foi a Reforma Carlos Chagas que reorganizou os serviços de saúde pública criando o Departamento Nacional de Saúde Pública. Com a Reforma Carlos Chagas, no ano de 1923, houve a tentativa de ampliação do atendimento à saúde por parte do poder. Nesse contexto, também é possível perceber que foram incluídas as questões de higiene e saúde do trabalhador e criaram-se as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) em 1923, também conhecidas como Elói Chaves. A partir da Lei Eloy Chaves, aprovada pelo Parlamento em 1923, lançam-se as bases para a futura política de Seguro Social, cujos princípios fundamentais permanecem válidos até 1966 quando da unificação das instituições de previdência. Semelhante ao modelo em uso na República Argentina, terá por característica orientar-se para setores específicos da Força de Trabalho, englobando a totalidade dos assalariados daquele setor ou empresa, a partir de quatro benefícios principais: medicina curativa; aposentadoria por tempo de serviço, velhice ou invalidez; pensões para dependentes e ajuda para funerais. (IAMAMOTO, 2011, p. 307). As CAPs eram iniciativas mantidas pelas empresas e empregados. Os benefícios concedidos eram proporcionais às contribuições dos empregados. Os auxílios correspondiam a: assistência médica-curativa, fornecimento de medicamentos, aposentadoria por tempo de serviço, velhice e invalidez, pensão para dependentes e auxilio funeral. O final da primeira década do século XX, 1930 a 1945, é marcado pela “Era Vargas”, período que Getúlio Vargas governou o Brasil durante 15 anos seguidos. O governo de Getúlio favoreceu muitos avanços na história do Brasil, principalmente na saúde, seguidas por duas dimensões: saúde púbica e a medicina previdenciária. Sendo que a previdência social teve início a partir da criação das primeiras Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) das empresas ferroviárias. Essas caixas eram mantidas com a contribuição de trabalhadores, empregadores e consumidores. Os recursos eram destinados às aposentadorias por idade, por tempo de serviço e invalidez ou aos dependentes em caso de morte do trabalhador, sendo que algumas CAPs prestavam assistência médica. A Reforma da Saúde Pública Federal, ocorrida em 1941, a área da saúde passou por uma reorganização que reestruturou o Departamento da Nacional de Saúde setorializando em departamentos de: Divisão de Organização Sanitária; 19 Divisão de Organização Hospitalar; Instituto Oswaldo Cruz; Serviço Nacional de Lepra; Serviço Nacional de Tuberculose; Serviço Nacional de Malária; Serviço Nacional de Peste; Serviço Nacional de Doenças Mentais; Serviço Nacional de Fiscalização de Medicina; Serviço de Saúde dos Portos; Serviço Federal de Águas e Esgotos; Serviço Federal de Bioestatística; Delegacias Federais de Saúde. Para Moser (2017, p. 56) “Essa setorialização permite tratar de maneira mais eficiente as doenças em suas especificidades, nesse momento inicia-se o movimento por especialidades médicas”. Com as ações na área da saúde em evidencia, entram em cena as Conferências Nacionais de Saúde, com o intuito de avaliar a situação da saúde e formular novas diretrizes para as políticas públicas no setor.Assim, o processo da saúde na segunda metade do século XX, impulsionado pelo processo de industrialização, que se passou a valorizar o processo de produção, admitindo a importância do ser humano como parte do processo. Foi nesse período também, que o Estado deu mais atenção aos sujeitos excluídos dos sistemas de proteção da previdência social, e de forma tímida o amparo a essas pessoas iniciou-se com a criação Legião Brasileira de Assistência (LBA) e do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS). A LBA atendia às famílias de pracinhas brasileiros enviados à guerra, e depois passou a atender aos pobres. Esse tipo de serviço deu margem ao modelo assistencialista que acontecia no campo não governamental. O CNSS era responsável pela avaliação de pedidos de auxílio que depois eram enviados aos ministérios da Saúde e Educação para que fossem liberados recursos financeiros. Já na década de 60, tem-se como marca registrada a desigualdade social, caracterizada pela baixa renda e alta concentração de riquezas. Surgem a partir daí propostas para adequação dos serviços de saúde pública e desenvolvimento. Rezende e Cavalcanti (2009, p. 69) expõem que: “É interessante observar que as principais características do sistema de saúde brasileiro, no período de 1964 até 1974, eram o privilegiamento do setor privado pelo governo e a medicalização da saúde”. Contudo, o final da década de 1980, ganha destaque a promulgação da Constituição Federal de 1988, que determinou como dever do Estado garantir saúde a toda população, e para tanto, foi criado o Sistema Único de Saúde em 1990. Tem- 20 se ainda, a aprovação da Lei Orgânica da Saúde, que detalha o funcionamento do serviço. Sendo assim, atualmente, o modelo de saúde pública brasileira em vigor no Brasil é o SUS, que prevê ações e serviços de acesso universal em todo território brasileiro. 2.3 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) A Constituição Federal de 1988 instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS), definido como uma nova formulação política e organizacional para o reordenamento dos serviços e ações de saúde. A instituição do SUS possibilitou a ampliação do olhar para a coletividade e, com isso, também mudou suas concepções quanto às ações para as práticas e os serviços. De acordo com o Ministério da Saúde, os princípios doutrinários do SUS são: 1. Universalidade: garantia de assistência à saúde, por parte do sistema, a todo e qualquer cidadão. 2. Integralidade da assistência: o indivíduo deve ser considerado um ser integral e biopsicossocial, que deve ser atendido integralmente com ações de promoção, prevenção, cura e reabilitação oferecida pelo mesmo sistema de saúde, pois são indivisíveis. 3. Equidade: garantia de ações e serviços em todos os níveis, de acordo com a complexidade exigida em cada caso, sem privilégios e sem barreiras. 4. Descentralização político-administrativa: direcionada a cada esfera de governo, pois quem está mais próximo da população possui maior probabilidade de acertos quanto às soluções apresentadas para os problemas de saúde. 5. Participação da comunidade: ocorre por meio de conselhos de saúde intensificando a democracia do sistema. No que se refere ao sistema político federativo, temos que a constituição pelas três esferas de governo (União, estados e municípios) consideradas como entes com autonomia administrativa e sem vinculação hierárquica, sendo cada ente responsável pelo desenvolvimento do SUS. 21 Quanto à regulamentação do SUS, destacamos que o mesmo foi estabelecido no final de 1990 através da Lei Orgânica de Saúde (LOS), a Lei nº 8.080 e a Lei nº 8.142, leis que destacaram os princípios organizativos e operacionais do sistema. As políticas de saúde são dotadas de grande complexidade, podendo-se destacar, por exemplo: as diversas determinações sobre o estado de saúde da população; multiplicidade de necessidades; diferentes ações e serviços para supri- las; pessoal capacitado e recursos tecnológicos para atendê-las, sendo que essas situações abalam um sistema pautado na visão de saúde como um direito de cidadania. Diante desse fato, esse processo passa a ser guiado pelas normas operacionais do SUS, instituídas por meio de portarias ministeriais. A operacionalização do sistema e a relação entre instâncias do SUS foram tratadas nas Normas Operacionais Básicas do SUS (NOB) e nas Normas Operacionais da Assistência à Saúde (Noas), sendo que estas últimas abordam o regionalismo da assistência. (REZENDE E CAVALCANTI, 2009, p. 73). Fazem parte do Sistema Único de Saúde (SUS), os centros e postos de saúde, hospitais – incluindo os universitários, laboratórios, hemocentros (bancos de sangue), além de fundações e institutos de pesquisa, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Vital Brasil. O SUS garante a todos os cidadãos o direito a consultas, exames, internações e tratamentos nas unidades de saúde vinculadas, sejam elas públicas, privadas, contratadas pelo gestor público de saúde. Conclui-se que o processo de descentralização da saúde contribui de forma significativa para a ampliação da atenção básica em saúde e para a adesão dos municípios aos programas considerados prioritários pelo Ministério da Saúde. Medida que, favoreceu a instituição pública de saúde, configurar-se no contexto capaz de materializar as práticas sociais mediante as quais a população incorpore o direito à saúde e o favorecimento da consolidação de um sistema público de saúde universal. 22 2.4 PANORAMA DA SAÚDE PÚBLICA NO ATUAL CENÁRIO BRASILEIRO O Brasil é considerado uma das dez maiores potências econômicas globais, e apesar de apresentar importantes progressos relacionados às condições de saúde da população ao longo dos anos, principalmente após implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), o país ainda precisa evoluir muito até atingir os níveis de saúde vigentes em outros países mais prósperos. Os grandes avanços científicos e tecnológicos do século XX no âmbito da saúde pública, como as vacinas, a penicilina e a epidemiologia social com os determinantes do processo saúde-doença levaram a uma saúde e do grau de necessidades e desafios das sociedades contemporâneas. (FORTES E RIBEIRO, 2014, p. 3). Destaca-se que a saúde pública no Brasil sempre esteve cercada por desafios tendo que lidar constantemente com poucos incentivos financeiros, altas cargas tributárias e com surgimento de epidemias em vários momentos políticos e econômicos complicados para o país. O quadro da saúde pública brasileira encontra-se atualmente a beira de um colapso, um momento muito delicado frente aos inúmeros causados por vírus da zika, dengue, Chikungunya, H1N1 e mais recentemente a pandemia causada pelo Coronavírus (COVID-19) que tem afetado a população do mundo, altos índices de mortes e até o momento sem descoberta de cura e tratamento eficaz. O COVID-19, segundo dados do Ministério da Saúde, é uma doença infecciosa causada pelo novo vírus, ele provoca doenças respiratórias semelhantes à gripe e sintomas como tosse, febre e, em casos mais graves, dificuldade para respirar. O vírus teve as primeiras manifestações na China, e tornou-se uma pandemia que tem atingido vários países, sendo registrado um percentual elevado de casos de óbitos. No Brasil, após a confirmação de casos, foram tomadas medidas de contenção seguindo-se determinações governamentais e do Ministério da Saúde. Dentre as medidas estão a indicação de higiene, como lavar as mãos com sabão neutro e uso de álcool em gel sempre tiver que sair de casa ou estiver doente, também foram anunciadas medidas de adesão ao isolamento social. A indicação do isolamento visa diminuir a propagação do vírus. 23 O isolamento social, também chamado de quarentena, está em vigor desde 18 de março de 2020. No Maranhão, de acordo com boletimdivulgado pela Secretaria de Saúde do Maranhão (SES) a maioria dos casos, 70%, atinge jovens e adultos, na faixa etária de 20 a 49 anos. A SES reforça sobre à medida que trata sobre a continuação da quarentena por causa da evolução do número de casos no Estado, o intuito é frear o aumento repentino de casos, que poderia contribuir para o colapso no sistema de saúde pela falta de leitos e de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Essa realidade se estende a todos os estados brasileiros. Observa-se que face aos problemas vivenciados pela saúde pública até o momento, o quadro que se apresenta é de inúmeros desafios e muitas incertezas quanto a repercussão do panorama do setor da saúde brasileira. As questões levantadas são de ordem financeira, estrutural e de gestão, dessa forma, há a necessidade de reestruturação dos mecanismos de prestação de serviço na saúde seguindo-se parâmetros estipulados pelo Ministério da Saúde, além da consciência de que, na atualidade, a saúde da população exige ação coletiva que garanta acesso equitativo a saúde. 2.4.1 Intervenção do assistente social na saúde A inserção do Serviço Social na área da saúde surge no Brasil na década de 1940. Impulsionado pelos diferentes contextos de desigualdade social presentes na sociedade. A presença desse profissional na saúde foi primordial no processo de instalação da dinâmica de gestão Hospitalar das Clínicas, atrelado a forma nunca antes presenciada de um hospital público. A generalização da demanda social por consultas médicas em decorrência das graves condições de saúde da população, a progressiva predominância de um sistema de atenção média de massa, a desvinculação do ensino médio da realidade sanitária e a consolidação da relação autoritária, mercantilizada e tecnificada entre serviços de saúde e usuários contribuíram para a insuficiência do sistema de saúde brasileiro em responder ao quadro epidemiológico da época e mantiveram uma política de saúde excludente. (REZENDE E CAVALCANTI, 2009, p. 69). A atribuição dada ao Serviço Social, nesse período, foi a de gestão da triagem socioeconômica dos usuários, pois ainda não existia a característica de saúde como 24 direito universal. Somente com a promulgação da CF-88 é que o direito passou a configurar-se como universal, retirando a necessidade de qualquer comprovação de meios para ser atendido na saúde pública. A Constituição Federal o marco da ampliação dos direitos a saúde, ressaltado em seu Art. 196º, o capítulo referente à seguridade social, incorporou a visão do Movimento Sanitário, trazendo como características: universalidade, gratuidade, integralidade, organização descentralizada com direção única em cada esfera do governo, prioridade das atividades preventivas sem prejuízo das atividades de assistência, participação da comunidade, financiamento público das três esferas de governo e participação da iniciativa privada de modo complementar. Seguindo essa premissa o SUS foi regulamentado a partir de duas leis orgânicas, a Lei Orgânica da Saúde (LOS) nº 8.080/1990, que reafirmou a necessidade de avançar no processo de unificação, criando o SUS, previsto na Constituição Federal, transferindo o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) para o Ministério da Saúde e reforçando a competência dos municípios na prestação de serviços de saúde. Destaca-se também a Lei nº 8142/1990 que foi editada tendo em vista os vetos que a Lei nº 8080/90 recebeu, principalmente no tocante à participação da comunidade e ao repasse direto de recursos. Com a referida lei, ficou restabelecida a participação da comunidade na gestão do SUS, a partir da criação de Conselhos de Saúde e das Conferências de Saúde. Com a implantação do SUS, a inserção do assistente social tornou-se ainda mais necessária na promoção, proteção e recuperação da saúde em diferentes níveis do SUS derivada da adoção do conceito ampliado de saúde, que compreende o processo saúde-doença como decorrentes das condições de vida e de trabalho. Na saúde, se cabe ao médico, ao enfermeiro, primordialmente, a manutenção, recuperação e promoção da saúde, aos assistentes sociais – que têm como objeto a “questão social” – cabem, principalmente, organizar, aprofundar, ampliar, desenvolver, facilitar os conhecimentos e informações necessários sobre todos os aspectos da história e da conjuntura relativos à saúde e seus determinantes e à participação social e política dos usuários, a partir do conjunto de conhecimentos que a ciência tem produzido sobre a realidade social. (VASCONCELOS, 2011, p. 435). Dessa forma, temos que a instituição de saúde como direito de cidadania e dever do Estado opera um deslocamento teórico conceitual do tema “saúde” para 25 construção dos direitos sociais. Nesse contexto, o assistente social tem uma função primordial na atenção à saúde e das condições de saúde da população, considerando que no cotidiano profissional estão presentes as demandas de satisfação globais de vida e as possibilidades de atendimento por meio da Política Social de Saúde. Esse profissional facilita o acesso da população às informações e ações educativas para que a saúde possa ser vista como produto das condições gerais de vida e da dinâmica das relações sociais, econômicas e políticas. A intervenção do profissional de Serviço Social na área da saúde, busca orientações gerais para sua atuação frente as demandas sociais identificadas no cotidiano nos “Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Saúde”. Tal documento expressa-se na totalidade das ações desenvolvidas pelos assistentes sociais na saúde, considerando-se as desenvolvidas nos programas de saúde, na atenção básica, média e alta complexidade em saúde. O trabalho desenvolve-se através de equipe multidisciplinar composta por profissionais de diferentes áreas. A atuação nos programas exige do assistente social um olhar interdisciplinar e, portanto, a superação da fragmentação do saber e das práticas profissionais. À interdisciplinaridade do trabalho, soma-se a necessidade de ações intersetoriais, pois as demandas dos usuários não são, em muitos casos, plenamente respondidas com o acesso à política de saúde. (REZENDE E CAVALCANTI, 2009, p. 78). A intervenção junto a perspectiva interdisciplinar das ações de saúde, tem proporcionado ao profissional de Serviço Social assumir postos antes ocupados por outras categorias profissionais. Nesse sentido, a intervenção do assistente social na área da saúde pressupõe o domínio da discussão no campo das políticas públicas, particularmente do Sistema Único de Saúde – SUS, e de como o acesso a este sistema é garantido aos cidadãos. 26 3 IMPACTO DO DIAGNÓSTICO DE HANSENÍASE PARA O USUÁRIO E OS BENEFÍCIOS DO ACOLHIMENTO HUMANIZADO A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, sendo que a mesma é considerada como um problema de saúde pública, pois ela pode causar incapacidades físicas, principalmente aqueles que exercem atividades laborais. O tratamento da hanseníase é um direito de todo indivíduo é garantido pelo SUS e tem cura. Essa doença atinge a pele e nervos dos pacientes e é considerada de fácil diagnóstico, porém a hanseníase é cercada de preconceitos e estigmas, tanto pela população quanto pelos profissionais de saúde, fatos que contribuem para o diagnóstico tardio. A hanseníase é uma doença de pele, conhecida desde as civilizações antigas como “lepra”, porém, essa nomenclatura foi atualizada pela Lei nº 9.010/1995, determinando que o termo “lepra” e seus derivados não poderão ser utilizados na linguagem empregada nos documentos oficiais da Administração centralizada e descentralizada da União e dos Estados-membros. O Brasil foi o único país que oficializou a mudança de nomenclatura. Contudo, a doença ainda carregaa imagem bíblica de exclusão e preconceito, ou mesmo um castigo divino. Portanto, para o indivíduo que recebe o diagnóstico de hanseníase é um exercício diário lidar com o estigma. Nesse sentido, torna-se extremamente difícil para o paciente lidar com as questões relacionadas ao preconceito e a discriminação da doença. O choque inicial do resultado pode acarretar reações psicológicas confusas, que geram o afastamento social, isolamento, a vergonha de si, provocados muitas vezes, pela falta de conhecimento apropriado sobre a doença. Segundo aponta as Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública – Manual técnico-operacional: O diagnóstico de hanseníase deve ser recebido de modo semelhante ao de outras doenças curáveis. Entretanto, se vier a causar impacto psicológico, tanto a quem adoeceu quanto aos familiares ou pessoas de sua rede social, essa situação requererá uma abordagem apropriada pela equipe de saúde, que permita a aceitação do problema, superação das dificuldades e maior adesão ao tratamento. Essa atenção deve ser oferecida no momento do diagnóstico, bem como no decorrer do tratamen- to da doença e, se necessária, após a alta. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019). 27 Atuando frente a essa temática o assistente social exerce sua função na área da saúde, no intuito de contribuir para a garantia do direito e da socialização de informações, sendo atribuições específicas desse profissional na perspectiva do Programa de Controle da Hanseníase: realizar a análise socioeconômica dos pacientes para orientações sobre benefícios sociais e previdenciários; interagir com as redes de apoio social como: conselho tutelar, conselho do idoso e promotoria pública; em caso de transferência do paciente para Unidade de Saúde da Família ou município de origem o assistente social realiza contato com a equipe da instituição em tela para informar a transferência e passar dados do paciente; Busca ativa em caso de paciente faltoso – aquele que deixa de comparecer para dose supervisionada ou consulta médica - é realizado contato telefônico e reforçada a necessidade de adesão ao tratamento; orientar o paciente, residente em outro município, sobre o Tratamento Fora de Domicílio a fim de que este não falte ao tratamento por falta de condições para deslocar-se até o Hospital; acompanhar as reuniões do Grupo de Autocuidados a fim de promover exposição oral/dialogada sobre os Direitos dos Pacientes com Hanseníase. Sempre que solicitado e/ou necessário realizar atendimento multiprofissional na perspectiva de ampliar o atendimento prestado pela equipe contribuindo para a construção de princípios favoráveis ao acolhimento do usuário. Diante dessas informações ressalta-se a importância do trabalho do assistente social junto a pacientes que recebem o diagnóstico de hanseníase, especificamente, aqueles que atuam no Centro de Saúde Dr. Genésio Rêgo, local de desenvolvimento da pesquisa em questão. Esse profissional atua como mediador do paciente e seu processo de tratamento, para tanto recorre à técnica de acolhimento como um dos instrumentais de ações, para tentar minimizar os impactos causados pelo diagnóstico. Sendo assim, o assistente social, atualmente, vem exercendo suas ações pautados por seu aporte teórico que contribui na definição do objeto de ação e na escolha de instrumentos a serem utilizados conforme a situação. A esse respeito Silva (2017, p. 31) diz que: [...] os assistentes sociais devem ter domínio das três dimensões de profissão (ético-política, técnico-operativa e teórico-metodológica) a serem desenvolvidas de forma interdependente para evitar o risco de fragmentação e da despolitização do fazer profissional. 28 Nesse sentido, fazendo uma ligação com o tema da pesquisa, o profissional de Serviço Social que atua na área da saúde desempenha inúmeras atividades, norteados por suas atribuições e competências na área, dentre elas utiliza como instrumental a técnica de acolhimento, sendo que o acolhimento é parte do processo interventivo dos assistentes sociais. Ele reúne três elementos que agem simultaneamente: a escuta, a troca de informações e o conhecimento da situação na qual o usuário se encontra. Para Chupel e Moito (2010, p. 43) “O acolhimento- dialogado seria uma técnica especial de conversar, por se tratar de uma qualidade especial de conversa e uma possibilidade real a ser suscitada ou facilitada por uma “técnica geral de conversa”. Ressalta-se que tal instrumento é considerado fundamental durante o primeiro contato com o usuário, uma vez que implica no estabelecimento de relações de aproximação de modo humanizado. 3.1 CONCEPÇÕES DE ACOLHIMENTO E QUESTÃO SOCIAL O acolhimento segundo dicionário Aurélio, significa o ato ou efeito de acolher; acolhida. Maneira de receber ou de ser recebido; recepção, consideração. É algo que expressa uma ação de aproximação, do ouvir o outro, dar credibilidade as suas palavras, uma aproximação, ou seja, uma atitude de inclusão. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a prática do acolhimento afirma-se como uma diretriz de maior importância no que tange a ética, a estética e política, ressaltada na Política Nacional de Humanização do SUS, uma vez que a ética, refere-se ao compromisso com o reconhecimento do outro, a atitude de acolhê-lo em suas diferenças, dores, alegrias, formas de levar a vida e senti-la. Na concepção estética, elencam-se as relações e os encontros cotidianos a intervenção de estratégias que visam contribuir para a acepção da vida e do viver, resumindo, para a construção da dignidade humana. O sentido político atribuído ao acolhimento dar-se no compromisso coletivo no ato de estar envolvido com o outro, buscando formas de potencializar o protagonismo e a vida nos diversos encontros. 29 O acolhimento como ação técnico-assistencial possibilita que se analise o processo de trabalho em saúde com foco nas relações e pressupõe a mudança da relação profissional/usuário e sua rede social, profissional/profissional, mediante parâmetros técnicos, éticos, humanitários e de solidariedade, levando ao reconhecimento do usuário como sujeito e participante ativo no processo de produção da saúde. (PNH, 2006, p. 18). Sabe-se que o ato de acolher, de uma forma geral, costuma estar presente em todas as formas de relacionamento e os vários encontros na vida. Porém, o exercício da prática do acolhimento de forma afetiva e compromissada, nas atividades diárias, é uma tarefa difícil. Segundo revela o PNH (2006, p. 8) “Os processos de “anestesia” de nossa escuta e de produção de indiferença diante do outro, em relação às suas necessidades e diferenças, têm-nos produzido a enganosa sensação de salvaguarda, de proteção do sofrimento”. Tal fato justifica-se pela dinâmica assumida pela configuração de sociedade capitalista, à precarização do trabalho, emprego, renda e desigualdade social. O que observamos é uma sociedade com concepções mais individualistas, com constante enfraquecimento das relações e criação de laços afetivos. Diante dessa afirmação, é preciso ter mente que a vida não acontece somente no campo individual, pelo contrário, são na coletividade, processos que se passam entre os sujeitos, nos vínculos que constroem mutuamente. Sendo assim, um dos desafios na prática do acolhimento, é justamente, mudar essa visão do individual e passar a enxergar o coletivo, entender os benefícios do cuidar do outro, do acolher e estar pronto para compreender as nuances impostas pela sociedade, tendo como princípios norteadores o enforque dado pelo PNH (2006): ➢ O coletivo como plano de produção da vida; ➢ O cotidiano como plano ao mesmo tempo de reprodução, de experimentação e invenção de modos de vida; e ➢ A indissociabilidade entre o modo de nos produzirmos como sujeitos e os modosde se estar nos verbos da vida (trabalhar, viver, amar, sentir, produzir saúde...). Trazendo essa discussão para a área da saúde, destacamos os avanços no SUS, seus benefícios e facilidades colocados aos usuários do sistema, no entanto, ainda é possível nos depararmos com alguns problemas nos modelos de gestão de serviços e atenção no tange ao acesso de usuários a saúde pública. Alguns 30 exemplos são as dificuldades de marcação de consultas, exames, falta de médicos especialistas na área demandada, as longas filas e a demora nos atendimentos e longas esperas para realização das consultas, bem como a precariedade de infraestrutura e instalações do imóvel. É evidente que o indivíduo que utiliza a saúde pública brasileira enfrenta muitos desafios no que correspondem ao acesso dos serviços, muitos fatores interferem no seu psicológico e na forma como irão encarar os resultados dos seus problemas de saúde. Partindo dessa ideia a proposta do acolhimento é um aliado aos recursos utilizados no processo de práticas humanitárias nos serviços de saúde. No que se refere às concepções de acolhimento a usuários portadores de hanseníase, destacam-se duas concepções que serviram de base para a fundamentação teórica deste estudo, sendo estas formuladas pelo Protocolo de Atendimento em Hanseníase e por Farias, onde ambos descrevem a importância do acolhimento fazendo referência a humanização do serviço. De acordo com o Protocolo de Atendimento em Hanseníase (2007, p. 11): “O acolhimento do usuário é uma das condições determinantes na adesão do paciente ao tratamento”. De acordo com Farias (2007, p. 40), “o acolhimento, quando entendido como estratégia de humanização, redundante às relações humanas, na atenção à saúde como nas demais áreas, sugere conflitos em diferentes âmbitos, político, profissional e pessoal”. É necessário para tanto, conhecer o paciente e seus anseios, a família, sua história de vida, bem como estar junto a equipe discutindo e avaliando, tratamento e prognóstico. 3.2 ACOLHIMENTO HUMANIZADO Atualmente muito tem se falado sobre a questão relacionada ao atendimento humanizado, principalmente na saúde, porém, o mesmo ainda é pouco praticado no processo de atendimento a pacientes na saúde. Aos profissionais que lidam diretamente com o fator saúde-doença do paciente, vale ter em mente que o paciente que busca o acolhimento na rede pública de saúde, normalmente, advém de quadro estressante na busca por atendimento, e ainda precisa lidar com questões relacionadas ao mal-estar e enfretamento de 31 doenças. Trata-se, portanto, de um momento delicado de sua vida, e o ideal seria serem recebidos da melhor forma possível. Para Vilar (2014, p. 16) “[...] as práticas em saúde teriam que se pautar pelos princípios éticos de respeito à vida, a diversidades, subjetividades culturais e saberes dos indivíduos envolvidos nessa teia de relações sociais”. A humanização corresponde à ação ou efeito de humanizar, de tornar humano, ser mais humano, tornar bondoso, caridoso, afável. Corresponde a um processo que pode acontecer em diversas áreas de atuação profissional. Na saúde a humanização tem um papel fundamental na garantia da qualidade do procedimento nos serviços de saúde, pois nesse meio o paciente busca tanto a solução para seus problemas quanto anseia por uma acolhida que lhe traga alívio e conforto pessoal. Pensando nessas melhorias do processo de trabalho o Ministério da Saúde, criou o Projeto de Humanização Hospitalar, onde ressalta que a proposta de humanização da assistência à saúde “é um valor para a conquista de uma melhor qualidade de atendimento à saúde do usuário e de melhores condições de trabalho para os profissionais”. (BRASIL, 2000). Trazendo essa discussão para a questão relacionada ao acolhimento humanizado importa ressaltar sua função na formação de vínculo entre o profissional e o paciente. Segundo destaca Simões (2007) apud Almeida (2015, p. 13) “O acolhimento tem uma relação bem próxima da temática humanização e é visto como uma atividade desempenhada por um profissional particular num espaço físico específico”. Sendo assim, como já ressaltado o acolhimento integra uma das diretrizes da Política Nacional de Humanização, e tem sido desenvolvido, especialmente, na Atenção Primária à Saúde, com o objetivo de promover mudanças nas formas de prestação de serviço de saúde. A proposta é que haja um acolhimento através da prática da conversa, que pode ou não ser realizada por um profissional. O intuito é que a ação seja encarada de forma mais humana, mais empática, evitando práticas tecnicistas que desvalorizam o indivíduo. 32 4. JUSTIFICATIVA Durante período do estágio obrigatório foram observadas e registradas informações relevantes para construção e elaboração de atividades requisitadas pelo estágio, dentre elas: levantamento de demandas e projeto de intervenção que trouxeram à tona situações que mereciam maior atenção. As atividades desenvolvidas foram: Orientação; Acolhimento; Aconselhamentos relacionados aos impactos do diagnóstico de doença; Visitas Domiciliares e Institucionais; Palestras; Encaminhamentos; e Inclusão de usuários nas políticas públicas. O estágio ocorreu no Centro de Saúde Genésio Rêgo, que é referência no tratamento da Hanseníase. A Instituição também exerce sua função social mantendo oficina de produção de palmilhas e sapatos aos portadores de hanseníase. Isso porque as pessoas que sofrem com as sequelas da doença precisam, em muitos casos, utilizar calçados especiais. A pequena fábrica funciona em uma sala do Centro de Saúde e conta com uma estrutura diferenciada. Além do sapateiro, o corpo médico que faz a triagem, identificando a necessidade e as especificidades dos pacientes. Dessa forma, a escolha do tema justifica-se por sua importância para o atendimento do usuário, fornecendo a este uma atenção humanizada, pautada no respeito, livre de qualquer preconceito. A escolha do tema como já explicitado baseou-se no projeto de intervenção realizado no Centro de Saúde, atingindo nesse período um público direto de 50 pessoas e indiretamente 16 pessoas. Com relação aos procedimentos operacionais destacam-se as atividades que foram desenvolvidas durante o estágio como: Orientação; Acolhimento; Aconselhamentos relacionados aos impactos do diagnóstico de doença; Visitas Domiciliares e Institucionais; Palestras; Encaminhamentos; e Inclusão de usuários nas políticas públicas. Para o projeto de intervenção foram desenvolvidas ações em concordância com a supervisora de campo, Centro de Saúde e disponibilidade da equipe de saúde e profissionais da área social. A duração do ciclo do projeto foi de 60 dias, tendo início na segunda semana de maio e finalização na última semana de junho. Ao final do estágio foi possível concluir todas as propostas elaboradas pelo Projeto de Intervenção em parceria com a supervisora de campo e equipe de 33 profissionais de saúde que se envolveram com o mesmo. Deu-se continuidade as ações o que favoreceu a coleta de dados para elaboração do presente Trabalho de Conclusão de Curso. 4.1 CENTRO DE SAÚDE DR. GENÉSIO RÊGO O Centro de Saúde Genésio Rêgo, localizado na Vila Palmeira, São Luís/MA, é uma unidade antiga, com mais de 40 anos de existência. A Instituição está dividida em três setores: Pediatria, Setor da Mulher e Dermatologia. O Centro de Saúde é referência no tratamento da Hanseníase. O Centro é especializado em Saúde do Homem, Saúde da Mulher e Hanseníase. Integra a rede estadual de saúde. O Centro de Saúde Genésio Rêgo foi fundado em 31 de março de 1974, tem 44 anos de existência, recebeu esse nome em homenagem ao médico Genésio Euvaldo Morais Rêgo. O Centro de Saúde Genésio Rêgo atua na área da saúde. Possui como finalidade promover e protegera saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde. Seu objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. Centro de Saúde e/ou Unidade Básica de Saúde (UBS): Prevê atenção permanente prestada por médico generalista ou por especialistas nessas áreas e incluir, operacionalmente, Serviços Auxiliares de Diagnostico e Terapia (SADT) e Pronto Atendimento 24 horas. (BRASIL, 2009). No local, é possível receber atendimentos básicos e gratuitos em Pediatria, Ginecologia, Clínica Geral, Enfermagem e Serviço Social. Os principais serviços oferecidos são consultas médicas, inalações, injeções, curativos, vacinas, coleta de exames laboratoriais, tratamento odontológico, encaminhamentos para especialidades e fornecimento de medicação básica. O Centro de Saúde Genésio Rêgo tem abrangência Estadual. Sendo regido pela Secretaria Estadual de Saúde do Maranhão (SES). De acordo com a Lei nº 10.583/2017 que instituí a Política Estadual de Co financiamento da Atenção Primária em Saúde do Estado do Maranhão – PECAPS, art. 1º dispõe que: “Fica instituída a Política Estadual de Co financiamento da Atenção Primária em Saúde do 34 Estado do Maranhão - PECAPS, sob a responsabilidade da Secretaria de Estado da Saúde – SES”. Sobre a Secretária Estadual de Saúde do Maranhão possui como: Missão: Garantir o direito à saúde de todos os cidadãos enquanto direito fundamental do ser humano e prover as condições de ações individuais e coletivas de promoção, prevenção e recuperação da saúde no âmbito do Estado do Maranhão. Visão: Ser instituição modelo de inovação da gestão da saúde pública no Brasil, contribuindo para que o Maranhão seja o Estado onde se viva mais e melhor. Valores: Humanização; Ética; Probidade; Responsabilidade; Gestão democrática e participativa; Compromisso; Inovação; Cooperação; Qualidade. Os principais componentes das redes integradas e regionalizadas de atenção à saúde são: (1) os espaços territoriais e suas respectivas populações com necessidades e demandas por ações e serviços de saúde; (2) os serviços de saúde “ou pontos da rede devidamente caracterizados quanto a suas funções e objetivos; (3) a logística que orienta e controla o acesso e o fluxo dos usuários; e (4) o sistema de governança”. Demandas da instituição: • Ações profiláticas de monitoramento; • Doenças crônicas; • Exames laboratoriais; • Tratamentos; • Medicamentos; • Consultas; • Fisioterapia; • Encaminhamentos. O perfil do usuário atendido no Centro de Saúde Genésio Rêgo, em sua maioria é de mulheres, seguido por crianças e idosos na faixa etária de 60 anos, encontram-se incluídos nesse perfil usuário, portadores de doenças crônicas. O horário de atendimento ocorre de: Segunda a Sexta: 07:00 - 17:00. Fechado aos sábados e domingos. As consultas só podem ser marcadas por telefone, 3190-9091, a partir do Disque Saúde, implantado recentemente pelo Governo do Estado do Maranhão. 35 O atendimento é feito de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h. Ao ligar o usuário deve informar o número do cartão do SUS e o nome do médico que o encaminhou para especialidade desejada, exceção de clínica geral, pediatria e ginecologia que não necessitam de encaminhamentos. Em apenas três semanas de funcionamento foram registrados 11 mil agendamentos. As Especialidades disponíveis são: Clínica Médica; Pediatria; Fisiatria; Ginecologia; Urologia; Mastologia; Reumatologia; Dermatologia; Enfermagem; Serviço Social; Fisioterapia; Terapia Ocupacional; Nutrição e Psicologia. Os serviços oferecidos são de: Exames laboratoriais de rotina; Imunização; Testagem rápida de HIV; Sífilis e Hepatites; Peniscopia e Abrasão Química; Biópsia e punção das mamas; Colposcopia; Cirurgia de Lata Frequência (CAF); Preventivo; Biópsia ginecológica; Dermatologia (Biópsias, Eletrocoagulação, Infiltração, Excisão de lesão e Hemangioma, Cauterização cutânea). Atualmente, o Centro de Saúde está funcionando com horários diferenciados seguindo determinação da Secretaria de Saúde do Estado (SES), pois foi dada prioridade aos pacientes portadores do COVID-19. Estrutura e funcionamento da organização: 36 ORGANOGRAMA DO CENTRO DE SAÚDE DR. GENÉSIO RÊGO 4.2 ATRIBUIÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENTRO DE SAÚDE DR. GENÉSIO RÊGO Comumente as particularidades da saúde são atreladas as expressões da questão social, sendo este, objeto do trabalho do assistente social, nesse ponto, os determinantes sociais da saúde correspondem às ações interdisciplinares e aos bens e serviços de caráter intersetorial, onde o acesso é alvo das mediações cotidianas empreendidas pelo assistente social, pois estes são elementos fundamentais na materialização dos direitos sociais. 37 A conformação de modelos de atenção com base na Atenção Primária em Saúde pressupõe contemplar um conjunto de elementos funcionais e estruturais garantidores de cobertura e acesso universal a serviços aceitáveis a população, que maximizem a equidade, fazendo o direito ao mais alto nível de saúde a sua principal meta. (CAMARGO, 2016, p. 24). Tem-se com isso, que os determinantes sociais de saúde são sinônimos dos fatores determinantes e condicionantes da saúde e das necessidades de saúde. Tais determinantes fazem comparações a condição de vida, trabalho e processo saúde-doença individuais e coletivas, colocando o profissional de Serviço Social com agente de mudanças do processo de produção e reprodução social. A saúde é vista como resultado das condições econômicas, políticas, sociais e culturais, dessa forma, o profissional de Serviço Social passa a fazer parte do conjunto de profissões necessárias à identificação e análise dos fatores que intervém no processo saúde/doença. Ressalta-se o fato da ampliação da inserção do assistente social no campo da saúde, foi a mudança no processo de gestão da política de saúde. Sabemos também que a política pública de saúde é o setor que, historicamente, mais tem absorvido profissionais de Serviço Social. Sendo assim, a inserção desse profissional nas Unidades Básicas de Saúde está fundamentada na concepção de que este profissional contribui como trabalhador coletivo histórica e teoricamente capacitado para intervir perante os determinantes sociais da saúde. Nesse espaço, o assistente social realiza um trabalho através da mediação do acesso às condições necessárias à efetivação do direito social à saúde de responsabilidade do Estado, com vistas à atenção integral, interdisciplinar e intersetorial. Inserido no contexto da saúde, o assistente social busca em conjunto com as demais categorias profissionais conduzir suas ações no sentido de compreender, intervir, antecipar, planejar ações sociais que vão além da atenção biomédica. Uma vez contratado pelo Centro de Saúde Genésio Rêgo o profissional de Serviço Social deve seguir alguns procedimentos operacionais padrão da Instituição. Tendo como objetivo, atender demandas diversas, mas principalmente usuários que buscam acesso às políticas sociais, objetivando respostas urgentes, imediatas, de acordo com suas necessidades. Quanto às descrições das etapas dos procedimentos do plantão, que devem ser seguidos pelos assistentes sociais, destacam-se: 38 • Desenvolver atividade de acolhimento, orientação e aconselhamento relacionados ao impacto do diagnóstico da doença na vida social, afetiva e no trabalho; dificuldades no uso da medicação e na adesão ao tratamento relativo à organização do cotidiano e às condições sociais de cada sujeito; situações de vulnerabilidade social e individual (desemprego,vínculos familiares fragilizados, dependência de drogas, de álcool, de substâncias, de produtos químicos ou de substâncias psicoativas, entre outras.; • Incluir o usuário nas políticas de saúde e assistência social sob a perspectiva do direito e da promoção de cidadania e do reconhecimento dos direitos individuais; • Disponibilizar ao usuário os recursos institucionais e comunitários existentes; • Orientar os usuários sobre a reposição dos hemocomponentes; • Realizar visitas domiciliares ou institucionais sempre que for necessário; • Praticar escuta responsável, qualificada e reflexiva em todos os atendimentos que realizar, acerca da demanda, necessidade do usuário; • Entregar o folder de orientações após a entrevista social; • Efetuar registro diário no livro de ocorrências de plantão; • Cumprir as exigências NR 32 tais como: uso de equipamentos de proteção individual – EPI, quando necessário (mascara, gorro, luvas), adorno zero, sapato fechado, entre outros; • Orientar encaminhar o usuário quando seus direitos previdenciários e benefícios assistenciais: auxílio-doença, perícia médica, procedimentos para solicitação de aposentadoria, salário maternidade, BPC – benefício de prestação continuada, direitos sociais, Defensoria federal, e também sobre benefícios que podem ser disponibilizados aos usuários; • Praticar escuta responsável, qualificada e reflexiva em todos os atendimentos que realizar, acerca da demanda, necessidade do usuário ou família; • Realizar a entrevista social e entregar folder de orientações; • Seguir orientação do Código de Ética Profissional dos assistentes sociais; • Emitir declaração de comparecimento para os usuários atendidos pelo Serviço Social. Com relação aos recursos materiais, estão disponíveis: folder de orientações; instrumental ficha social; livro de ocorrências; canetas e carimbo do (a) assistente social. 39 A dimensão técnico-operativa do Serviço Social e do projeto ético-político profissional e em especial no campo das determinações macrossocietárias refletem no trabalho profissional do assistente social. Essa dimensão técnico-operativa se efetiva a partir da mediação com a dimensão teórico-metodológica, em articulação com a dimensão ético-política do projeto profissional. No que se refere a dimensão técnico-operativa do Serviço Social, este é contemplado pelos conhecimentos técnicos e teóricos na ação profissional. “A eleição da ação profissional como unidade de análise da categoria temática trabalho do assistente social, vincula-se ao entendimento de que a mesma se constitui em menor unidade de análise e ao mesmo tempo, condensa todas as dimensões constitutivas do exercício profissional”. (MIOTO; LIMA, 2009, p. 36). Sendo assim, após observações do trabalho realizado pelo Assistente Social no Centro de Saúde foi possível destacar os seguintes instrumentais técnico- operativos: • Orientação; • Acolhimento; • Aconselhamentos relacionados aos impactos do diagnóstico de doença; • Visitas Domiciliares e Institucionais; • Palestras; • Encaminhamentos; • Inclusão de usuários nas políticas públicas; 40 5 OBJETIVOS O desenvolvimento da pesquisa pautou-se nos seguintes objetivos: 5.1 OBJETIVO GERAL Investigar a importância do acolhimento ao usuário do Centro de Saúde Genésio Rêgo após diagnóstico de hanseníase. 5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS A. Analisar a prática de acolhimento desenvolvida no Centro de Saúde; B. Descrever os impactos do diagnóstico e os benefícios do acolhimento; C. Indicar propostas de acolhimento humanizado aos pacientes. 41 6 METODOLOGIA DE PESQUISA A elaboração deste trabalho constituiu-se de pesquisa de natureza aplicada, pois a mesma tem como finalidade gerar conhecimento para aplicação prática, dirigidos a solução de problemas específicos. Possui abordagem qualitativa, por considerar que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito. Para Godoy (1995, p. 62) “esse tipo de estudo tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental”. Para fundamentação teórica e explanação dos tópicos decorrentes serão selecionados textos para pesquisa bibliográfica, com consulta a livros, revistas e sites que fazem referência ao tema. 6.1 TIPO DA PESQUISA Tratou-se de uma pesquisa descritiva. Os procedimentos adotados para tal pesquisa remeteram-se a análise de fontes bibliográficas, observações e estudo de campo. O estudo foi realizado no Centro de Saúde Dr. Genésio Rêgo, tendo colaboração dos profissionais do setor social que responderam aos questionamentos sobre a demanda de acolhimento, bem como formas de execução do procedimento, destacando a importância do mesmo a vida dos usuários. Almeida (2011, p. 35) expõe que o estudo de campo, “busca observar os fatos como eles ocorrem no ambiente natural, sem que se possam isolar e controlar variáveis”. 6.2 COLETA DE DADOS Quanto aos procedimentos de coleta de dados, além de pesquisa bibliográfica, acesso a artigos elaborados sobre o tema, foi realizada observação do ambiente de trabalho e registros diários das atividades desenvolvidas e percepções do impacto do acolhimento após diagnóstico de hanseníase em usuários do Centro de Saúde Dr. Genésio Rêgo. O resultado da coleta foi registrado em diário de campo elaborado no período da pesquisa. 42 7 ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA A partir da pesquisa realizada no Centro de Saúde Dr. Genésio Rêgo, foi possível constatar a situação epidemiológica da Hanseníase no estado do Maranhão, sendo registrados mais casos do que em toda a América do Sul. Apesar de dados do Ministério da Saúde, em levantamento realizado em 2019, apontarem uma queda nos casos em 3,5%, o Maranhão, sozinho, ainda concentra uma estatística anual que supera o registrado por todos os países da América do Sul juntos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 2019, o Maranhão registrou 2.997 novos casos de hanseníase, em comparação a 2018, onde foram 3.105. Países da América do Sul que registraram casos de hanseníase (2018): Quadro 1: RANKING DA HANSENÍASE NO MUNDO PARAGUAI COLÔMBIA ARGENTINA VENEZUELA BRASIL 345 324 269 245 28.660 Fonte: OMS/2019 Em pesquisa realizada em 2011 por Lima et. al (2011) que traçou o Perfil epidemiológico dos pacientes com hanseníase atendidos em Centro de Saúde em São Luís, MA, foram avaliadas as seguintes faixas etárias: 15 anos, 16 a 30, 31 a 45, 46 a 60 e 60 anos. Constatou-se que: 0 5 10 15 20 25 30 35 40 15 anos 16 a 30 anos 31 a 45 anos 46 a 60 anos Mais de 60 anos Gráfico 1: Distribuição por faixas etárias dos pacientes diagnosticados com hanseníase Fonte: Lima et. al. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2010/v8n4/a007.pdf 43 A faixa etária com maior prevalência de casos foi entre 16 e 30 anos, com 35,5% do total. As faixas etárias de 46 a 60 e mais de 60 anos representaram 21,3% e 14,2%, respectivamente dos casos. Na faixa etária de 15 anos, a prevalência foi de 12,5% como demonstrado no gráfico 1. Diante do elevado número de casos de hanseníase no estado do Maranhão, tem-se recorrido a mecanismos que visam a promoção ao combate à doença são realizadas campanhas de orientação a população sobre a hanseníase em alusão ao janeiro Roxo. As campanhas ocorrem no Centro de Referência em Hanseníase, anexo ao prédio do Centro de Saúde Dr. Genésio Rêgo. Os pacientes têm acesso a serviços ambulatoriais, fisioterapia e uma oficina para confecção de sapatos especiais para pacientes mutilados. Através dessas atividades de educação em saúde, o Centro de Referência já registrou mais 300 novos casos no estado. Aliado a esses dados, convém mencionar os diagnósticos de hanseníase,
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