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APS PROCESSO PENAL
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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS – FMU DIREITO ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA – APS DIREITO PROCESSUAL PENAL – RITO COMUM RAFAELLA PERRINI DA LUZ SILVA 3015287 SÃO PAULO 2020 Análise de acórdão: AgRg no AREsp 1676136/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 30/06/2020, DJe 13/08/2020 Analisaremos no acórdão a seguir os aspectos do princípio constitucional de publicidade dos atos processuais. Assegurado pela Constituição Federal em seu art. 5º, inciso LX, declara que: "a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem". Constou nos autos a decisão em primeiro grau de que a Sessão Plenária do Tribunal do Júri deveria ocorrer de portas fechadas em razão do depoimento de menor de idade e da Vítima fatal também menor, autorizando-se a presença apenas das partes, respectivos advogados, defensores públicos e Ministério Público. A Acusação apresentou correção parcial, a qual foi indeferida, alegando que existiam outros meios menos gravosos ao princípio da publicidade e que têm o condão de garantir com igual eficácia a preservação da integridade e intimidade da testemunha adolescente e da Vítima fatal. Afirmando que, na hipótese dos autos, é possível, apenas durante o depoimento da testemunha menor de idade, a proibição da presença do público. O apelo não foi admitido e calcado nas seguintes razões de decidir (sem grifos no original): "No caso presente, adianto, não assiste razão o requerente, devendo ser indeferido o pleito. Primeiramente, importante referir que a decisão que determinou a realização da Sessão Plenária a portas fechadas, está devidamente fundamentada na proteção da intimidade de vulneráveis, tanto da vítima [N.], quanto da menor informante [B.], sem olvidar o fato de que o processo tramita em segredo de justiça, nos termos do art. 234-B do CP. Muito embora a regra seja a publicidade dos atos processuais, inclusive no que diz com os julgamentos perante o Tribunal do Júri, cuida a Lei de estabelecer exceções ao princípio da publicidade, que não é de natureza absoluta. E, tratando-se de proteção à criança, o legislador é expresso ao determinar a preservação da intimidade de vulneráveis, vítimas de crimes contra a dignidade sexual. Outrossim, o fato de a vítima ter morrido não afasta a necessidade de proteção da sua imagem e dignidade, sem olvidar o interesse em assegurar um procedimento menos traumático possível à informante, que certamente sofre, ainda na atualidade, com as consequências dos atos perpetrados pelo mesmo indivíduo que estará em julgamento. Consigno que a atuação jurisdicional, em processos desta natureza e gravidade, sem olvidar do envolvimento de menores, deve ser pautado pela sensibilidade dos profissionais envolvidos no julgamento da causa, e, sobressaindo-se a intimidade das crianças em confronto com o interesse de publicização da ação, por se tratar de um fato que, naturalmente, abala o cotidiano de uma localidade, sem olvidar o risco ao acusado, diante da comoção pública que casos desta natureza gera. Assim, compreendo que, baseada nos documentos carreados aos autos eletrônicos, que a decisão que determinou a realização da Sessão Plenária a portas fechadas não viola preceitos constitucionais, uma vez que procedeu a magistrada de acordo com permissivos legais, fulcrada, ainda, no risco à integridade psicológica da menor informante e no interesse de preservar a dignidade da vítima fatal. Portanto, entendo pela manutenção da decisão proferida pelo juízo de origem, não havendo que se falar, neste momento, em reforma. Vale consignar, por fim, que a Correição Parcial tem natureza recursal e visa à reforma de decisões que produzam danos irreparáveis às partes, o que não vislumbro. Frente ao exposto, voto pelo improvimento da correição parcial." Consequentemente foi interposto agravo em recurso especial que posteriormente foi conhecido e negado conforme ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO, ESTUPRO DE VULNERÁVEL E OCULTAÇÃO DE CADÁVER. PLEITO PARA QUE A SESSÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI NÃO SEJA REALIZADA DE PORTAS FECHADAS. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE. PASSÍVEL DE LIMITAÇÕES OU RESTRIÇÕES PARA GARANTIR A INTIMIDADE, O INTERESSE PÚBLICO OU A INTEGRIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Conquanto o princípio constitucional da publicidade dos atos processuais seja a regra, esse é passível de sofrer restrições para, tal qual no caso concreto, preservar o interesse público ou a integridade e intimidade das partes. 2. O segredo de justiça previsto no art. 234-B do Código Penal deve se dar integralmente, se estendendo ao processo como um todo, não prevendo distinção entre Réu e Vítima. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 1676136/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 30/06/2020, DJe 13/08/2020) Por fim, apresentado o caso, vamos fazer uma analise do principio da publicidade que, além da previsão na Constituição Federal, também está previsto no Código de Processo Penal: Art. 792 - As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados. § 1º - Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes. § 2º - As audiências, as sessões e os atos processuais, em caso de necessidade, poderão realizar-se na residência do juiz, ou em outra casa por ele especialmente designada. Apesar de em regra o art. 234-B do CP, determinar o segredo de justiça sem distinção de vítima e acusado, a publicidade pode ser restrita, por exemplo, conforme previsto no art. 217 do CPP, retirando o acusado da audiência quando o juiz verificar a possibilidade de testemunha de a acusação ser por ele intimidada, porém sempre preservando o contraditório e a ampla defesa com a presença dos advogados do réu. O princípio da publicidade pode ser interpretado e manejado de diversas formas no processo, o Ministério Público, por exemplo, vai optar pela publicidade, dando mais visibilidade ao caso e obtendo o clamor do público. Assim como para a defesa do Réu é preferível o segredo de justiça, justamente porque a publicidade pode expor a vítima ao ridículo e afetar sua vida privada, seja pela mídia ou por terceiros. Assim, como traz Guilherme de Souza Nucci (2020, p. 795): “a preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do réu também pode merecer atenção por parte do juiz, afinal, a execração pública não deve se tornar uma regra no processo penal e, muito menos, a pretexto de se sustentar o princípio da publicidade.” Já Vladimir Aras ensina que: “Igualmente relevante é o princípio da publicidade, que se dirige a toda a Administração Pública (art. 37) e também à administração da justiça penal. Decorrência da democracia e do sistema acusatório, o princípio processual da publicidade encontra guarida no art. 5º, inciso LX, da Constituição Federal, que declara: "a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem". A publicidade surge como uma garantia individual determinando que os processos civis e penais sejam, em regra, públicos, para evitar abusos dos órgãos julgadores,