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e da filosofia, das atividades econômicas, da tecnologia, da literatura, arte e ciência, da religião, dos hábitos e costumes e de muitos outros aspectos da vida humana. Há também a etnologia e a antropologia, desde que não seja uma parte da biologia, e há ain- da a psicologia enquanto não seja fisiologia, nem epistemologia, nem filosofia. existe ainda a linguística, enquanto não seja lógica nem fisiologia do idioma.1 o tema de todas as ciências históricas é o passado. elas não nos podem ensinar algo que seja aplicável a todas as ações humanas, ou seja, aplicável também ao futuro. o estudo da história torna um ho- mem sábio e judicioso. mas não proporciona conhecimento e habili- dade que possam ser utilizados na execução de tarefas concretas. 1 A história econômica, a economia descritiva e a estatística econômica também são história. o termo socio- logia é empregado com dois significados diferentes. A sociologia descritiva lida com os fenômenos históri- cos da atividade da ação humana que não são abordados pela economia descritiva; de certo modo, invade o campo da etnologia e da antropologia. Por outro lado, a sociologia geral aborda experiência histórica de unir o ponto de vista mais universal de vista do que os outros ramos da história. A própria história, por exemplo, se ocupa de unir determinada cidade ou cidades num período especifico, ou de um determinado ou de certa geografia. max Weber em seu tratado principal (Wirtschaft und Gesellschaft Tülingen, 1922, p. 513-600) trata da cidade em geral, isto é, com toda a experiência histórica relativa às cidades, sem qualquer limitação de períodos históricos, áreas geográficas, individual ou povos, nações, raças e civilizações. 58 Ludwig von mises As ciências naturais também lidam com eventos passados. Toda experiência é uma experiência de algo que já se passou; não há experi- ência de acontecimentos futuros. mas a experiência à qual as ciências naturais devem todo seu sucesso é aquela em que os elementos espe- cíficos que sofrem alteração podem ser observados isoladamente. As informações assim acumuladas podem ser usadas para indução, um processo peculiar de inferência que já deu evidência pragmática de sua utilidade, embora ainda necessite de uma satisfatória caracteriza- ção epistemológica. A experiência com a qual as ciências da ação humana têm de li- dar é sempre uma experiência de fenômenos complexos. no que diz respeito à ação humana, não se pode realizar experiência em labora- tório. nunca temos condição de observar a mudança em um elemen- to isolado, mantendo-se todos os demais inalterados. A experiência histórica, na condição da experiência de fenômenos complexos, não nos fornece fatos, no sentido com que as ciências naturais empregam este termo, para designar eventos isolados testados em experiências. A informação proporcionada pela experiência histórica não pode ser usada como material para a construção de teorias ou para previsão de eventos futuros. Toda experiência histórica está aberta a várias inter- pretações e de fato, é interpretada de diversas maneiras. os postulados do positivismo e escolas metafísicas congêneres são, portanto, ilusórios. É impossível reformar as ciências da ação hu- mana obedecendo a padrões da física ou de outras ciências naturais. não há possibilidade de estabelecer a posteriori uma teoria de con- duta humana e dos eventos sociais. A história não pode provar nem refutar qualquer afirmação de caráter geral, da mesma maneira que as ciências naturais aceitam ou rejeitam uma hipótese, com base em experiências de laboratório. neste campo, não é possível provar por experiências que uma hipótese seja falsa ou verdadeira. os fenômenos complexos para cuja existência contribuem diver- sas causas não nos permitem afirmar que uma teoria esteja certa ou errada. Pelo contrário, esses fenômenos só se tornam inteligíveis através da interpretação que lhes é dada com base em teorias já exis- tentes e que foram desenvolvidas a partir de outras fontes. no caso dos fenômenos naturais, a interpretação de um evento não pode contrariar teorias já satisfatoriamente testadas por experiências. no caso de eventos históricos, não há tal restrição. os analistas desses eventos estão livres para recorrer a interpretações bastante arbitrárias. onde existe algo a ser explicado, a mente humana sem- pre conseguiu inventar ad hoc alguma teoria imaginária, desprovida de qualquer justificação lógica. 59os Problemas epistemológicos da ciência da Ação Humana no campo da história, é a praxeologia que proporciona uma li- mitação semelhante à representada pela experimentação no caso das teorias que tentam interpretar e elucidar eventos físicos, químicos ou fisiológicos. A praxeologia não é uma ciência histórica, mas uma ci- ência teórica e sistemática. Seu escopo é a ação humana como tal. in- dependentemente de quaisquer circunstâncias ambientais, acidentais ou individuais que possam influir nas ações efetivamente realizadas. Sua percepção é meramente formal e geral, e não se refere ao conteúdo material nem às características peculiares de cada ação. Seu objetivo é o conhecimento válido para todas as situações onde as condições correspondam exatamente àquelas indicadas nas suas hipóteses e in- ferências. Suas afirmativas e proposições não derivam da experiência. São como a lógica e a matemática. não estão sujeitas a verificação com base na experiência e nos fatos. São tanto lógica como temporal- mente anteriores a qualquer compreensão de fatos históricos. É um requisito necessário para qualquer percepção intelectual de eventos históricos. Sem sua ajuda, nossa percepção do curso dos eventos his- tóricos ficaria reduzida ao registro de mudanças caleidoscópicas ou de uma desordem caótica. 2 o caráTer formal e aPriorísTico da Praxeologia É moda na filosofia contemporânea a tendência de negar a existência de qualquer conhecimento a priori. Todo conhecimento humano, afir- mam, deriva da experiência. esta atitude pode ser facilmente compreen- dida como reação excessiva contra as extravagâncias da teologia ou con- tra filosofias espúrias da história e da natureza. os metafísicos estavam ansiosos para descobrir, de modo intuitivo, os preceitos morais, o signifi- cado da evolução histórica, as propriedades da alma e da matéria e as leis que governam eventos físicos, químicos e fisiológicos. Suas especulações etéreas manifestavam uma alegre indiferença por conhecimentos corri- queiros. estavam convencidos de que a razão poderia explicar todas as coisas e responder a todas as questões, sem recorrer à experiência. As ciências naturais modernas devem seu sucesso ao método de ob- servação e experimentação. não há duvida de que o empirismo e o pragmatismo estão certos, na medida em que simplesmente descrevem os processos das ciências naturais. mas também é certo que estão intei- ramente errados ao pretender rejeitar qualquer tipo de conhecimento a priori e considerar a lógica, a matemática e a praxeologia como discipli- nas empíricas e experimentais ou como meras tautologias. 60 Ludwig von mises no que diz respeito à praxeologia os erros dos filósofos se devem a sua completa ignorância em economia2 e, frequentemente, à sua indecorosa insuficiência de conhecimentos de história. Aos olhos do filósofo, o tratamento de temas filosóficos têm uma vocação no- bre e sublime que não deve ser colocada no mesmo baixo nível de outras ocupações lucrativas. o professor ressente o fato de que ele obtém um rendimento com a filosofia; ele se ofende com a ideia de que ganha dinheiro da mesma maneira que um artesão ou um lavrador. Assuntos pecuniários são coisas desprezíveis, e o filósofo, investigando os transcendentes problemas da verdade e dos valores absolutos eternos, não deveria conspurcar sua mente, dando