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Capítulo 1 O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO E O CAMPO DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO; PERSPECTIVA HISTÓRICA Em qualquer discussão sobre Psicologia do Desenvolvimento impõe-se a tarefa difícil de definição. As fronteiras que delimitam o campo da Psicologia do Desenvolvimento são bastante vagas e fluidas, tendo sido freqüentemente objeto de contestação (Ausubel, 1958; Harris, 1957: inhelder, 1957; Nash, 1970; Ziegler, 1963). Embora a Psicologia do Desenvolvimento tenha sido freqüentemente equacionada com a Psicologia da Criança, ou Psicologia Infantil, muitos especialistas em Desenvolvimento objetam a isso, como salienta Ziegler (1963), argüindo que o desenvolvimento não se restringe a determinadas faixas de idade e que devemos estudar o desenvolvimento de comportamentos no decorrer da vida do indivíduo. Inicialmente, os estudiosos de Psicologia do Desenvolvimento parecem tê-la conceituado como o estudo de mudanças de comportamento que ocorrem em função do tempo. Mas o tempo, em si, não é uma variável psicológica. O que pode causar mudanças em comportamentos são os eventos que ocorrem durante determinado segmento de tempo. Da mesma forma, considerar que a essência da Psicologia do Desenvolvimento é o estudo de mudanças que ocorrem em função da idade cronológica não é adequado, pois ter dois anos de idade significa apenas que dois anos decorreram entre o nascimento e o momento atual, nada tendo sido, pois, acrescentado ao tipo de conceituação anterior. O tempo deve ser, para o psicólogo do desenvolvimento, apenas uma escala conveniente na qual são ordenados os comportamentos e assinaladas as mudanças. O que interessa à Psicologia do Desenvolvimento são as mudanças de comportamento que ocorrem não em função do tempo, mas em função de processos intra-organísmicos e de eventos ambientais que ocorem dentro de determinada faixa de tempo. Podemos dizer então que o objeto de estudo da Psicologia do Desenvolvimento atual consiste nos processos intra-individuais e ambíentais que levam a mudanças de comportamento. Assim conceituada, a Psicologia do Desenvolvimento torna-se uma divisão extremamente arbitrária da Psicologia, pois toda a Psicologia diz respeito à compreensão de processos de mudança de comportamentos. Vemos então que a Psicologia do Desenvolvimento abrange, ou incorpora, a Psicologia da Personalidade, a Psicologia da Aprendizagem, a Psicologia Social, a Psicopatologia, a Percepção, a Psicologia Fisiológica, e ainda ciências afins, como a Genética, a Antropologia e a Sociologia, entre outras. Por exemplo, quando se estuda o desenvolvimento da ansiedade, ou da motivação para o sucesso, está havendo uma superposição com a Psicologia da Personalidade. Toda a corrente dominante em Psicologia do Desenvolvimento, chamada Aprendizagem Social, representa uma aplicação de princípios derivados das teorias de aprendizagem pura, tais como condicionamento clássico (de Pavlov) e condicionamento operante (de Skinner), ao estudo do desenvolvimento de comportamentos humanos. Quando se estuda o papel da imitação na aquisição de comportamentos na criança, ou quando se estudam os efeitos da pressão social do grupo sobre o desenvolvimento de determinados comportamentos na criança ou no adolescente, estamos no campo da Psicologia Social. Quando estudamos distúrbios de comportamento, suas origens na infância e métodos de terapia visando remediálos, estamos na área da Psicopatologia. A compreensão do de- desenvolvimento fisiológico, por exemplo, do funcionamento de glândulas endócrinas e seus efeitos sobre o comportamento, ou o estudo do efeito de drogas como o LSD ou a heroína sobre o comportamento, enveredamos pelo campo da Psicologia Fisiológica. O estudo do desenvolvimento da percepção a partir do recém-nascido leva-nos à área experimental de Percepção; o estudo da linguagem na criança não pode prescindir da Psicolingüística. Além de englobar quaee todas as áreas da Psicologia, a Psicologia do Desenvolvimento está, como já vimos, vinculada a ciências afins, como a biologia, a Genética, a Antropologia e a Sociologia, entre outras. Quanto à Biologia, é inquestionável o papel de fatores biológicos em comportamentos emocionais. Entre muitos outros podemos citar os estudos de Jones e Mussen (1958) sobre as relações entre precocidade da maturação física em adolescentes e o ajustamento psicológico. Quanto à Genética, uma das fascinantes linhas de pesquisa é a possibilidade de predisposição genética de comportamentos até então considerados de causação psicossocial (vejam-se os estudos sobre a possibilidade de relação entre agressividade psicopática e anomalias cromossômicas (Jarvik, Klodin e Matsuvama, 1973). A antropologia, com seus estudos de costumes de tribos primitivas, tem contribuído enormemente para a investigação de efeitos de diferentes técnicas de "criar crianças" e seus efeitos no comportamento das mesmas (Whiting e Child, 1953). Quanto à Sociologia, tem contribuído bastante para a compreensão de efeitos da sociedade global sobre o desenvolvimento, como por exemplo estudos relacionados a preconceitos raciais. O que resta então de específico à Psicologia do Desenvolvimento? Em primeiro lugar, podemos dizer que ela se caracteriza pelo interesse em mudanças de comportamento que ocorrem durante um longo período enquanto que outras áreas da Psicologia focalizam mudanças de comportamento geralmente a curto prazo. O psicólogo do desenvolvimento freqüentemente se interessa por estágios e seqüências ordenadas no desenvolvimento. Grande parte dos experimentos na área de aprendizagem estuda modificações nas respostas dos sujeitos em função de algumas tentativas, tudo se passando numa sessão experimental com duração talvez de uma hora. Porém, quando um psicólogo, como Piaget (1932) ou Kohlberg (1963), estuda os estágios de desenvolvimento da maturidade de julgamento moral, fala-se mais propriamente de um estudo de desenvolvimento. Isto não quer dizer que um estudo de desenvolvimento precise necessariamente envolver muito tempo. Os estudos de Bandura e seus colaboradores (1973), sobre imitação e reforçamento de comportamentos agressivos, embora estudos experimentais, de laboratório, e de curta duração, são também excelentes exemplos de estudos de Psicologia do Desenvolvimento, pois têm em vista a compreensão do desenvolvimento de comportamentos agressivos em crianças, comportamentos que podem se generalizar em um traço estável de agressividade. O segundo ponto específico que caracteriza a Psicologia do Desenvolvimento é que ela tem focalizado mudanças de comportamento que ocorrem em períodos de transição rápida e de instabilidade, como a infância, a adolescência e, mais recentemente, a velhice. É fácil compreendermos como, no estudo do desenvolvimento da linguagem, por exemplo, as mudanças que ocorrem entre um e três an"s de idade são muito mais interessantes, do ponto de vista da compreensão de fatores que atuam na aquisição e desenvolvimento da linguagem, do que as mudanças ocorridas entre 31 e 33 anos, por exemplo, outro período de duração absoluta de dois anos, tal como o primeiro (a não ser que o adulto estudado tenha se tornado afásico ou esteja aprendendo uma língua estrangeira ou qualquer outro fato fora da rotina!). Embora muitos psicólogos do desenvolvimento (Nash, 1970, e outros) recentemente tenham argumentado que o desenvolvimento deve ser estudado em todas as fases do ciclo vital, na prática a Psicologia do Desenvolvimento tem focalizado a infância e a adolescência, fato plenamente justificável, uma vez que quase todas as teorias de importância no campo, embora afirmando que o desenvolvimento se processa através de toda a vida, realmente não enquadram essa idéia convincentemente em suas teorias. Vemos assim que os estágios de desenvolvimento psicossexual postulados por Freud são completados na adolescência, quandoé atingido o estágio mais amadurecido, o genital, além do qual Freud não fala em evolução. Piaget, também, apesar de afirmar que os processos que explicam as mudanças cognitivas (assimilação, acomodação, equilíbrio) atuam durante toda a vida, coloca como estágio mais avançado de desenvolvimento intelectual o de operações formais, típicamente atingido cedo na adolescência. A posição que enfatiza o desenvolvimento ao longo de toda a vida quer mudar a ênfase tradicional e focalizar a mudança ao longo de todo o ciclo da vida humana. Enfatiza que tais mudanças podem ter muitos pontos de partida diferentes e muitos pontos de chegada e podem levar a várias direções ao mesmo tempo. Embora a visão tradicional, com base na biologia, retrate a mudança como levando a uma única direção, em direção a um único ponto de chegada, em determinado período da vida, o enfoque da vida inteira não aceita essa concepção. A inteligência, por exemplo, tradicionalmente tem sido considera- da como aumentando durante a infância e a adolescência, permanecendo estável na vida adulta, e "enferrujando" com a velhice. De acordo com essa nova perspectiva, a inteligência é um amálgama de muitas qualidades, algumas das quais aparecem cedo na vida e enfraquecem mais tarde, outras que aparecem mais fortemente na vida adulta média ou tardia, e pouco, se é que aparecem, durante a infância. Os psicólogos que trabalham dentro deste enfoque compartilham com outros autores contemporâneos um comprometimento com a análise dos contextos sociais e históricos dentro dos quais os eventos psicológicos se desenrolam. Mas eles colocam especial ênfase nos efeitos de relações sociais, histórias individuais de vida, e mudança histórica no desenvolvimento psicossocial. Assim, em sua pesquisa, os autores dessa corrente realmente seguem determinada corte ou grupo de idade, para avaliar o papel de eventos históricos no desenvolvimento. Em um estudo do desenvolvimento da personalidade do adolescente, 1800 adolescentes de sexo masculino e feminíno entre 12 e 17 anos de idade fizeram uma bateria de testes de personalidade em 1970, 1971, e novamente em 1972 (Nesselroade e Baltes, 1974). Esses pesquisadores encontraram efeitos de coorte, tempo, idade e sexo em muitas dessas dimensões. Por exemplo, não apenas os escores de rendimento escolar de coortes caíram de 1979 para 1972, mas os que tinham 14 anos em 1972 tiraram notas mais baixas do que os que tinham 14 anos em 1970. Os pesquisadores especularam que "a mudança em traços de personalidade ocorreu de 1970 a 1972 por causa do contexto de socialização dos adolescentes que mudou nesse período" (p. 59). Paul Baltes, um dos co-autores desse estudo, é considerado um dos maiores nomes dessa corrente. De interesse para a compreensão das polêmicas em torno da definição da área de Psicologia do Desenvolvimento é o artigo de Spiker (1966) intitulado "O conceito de desenvolvimento: questões relevantes e irrelevantes". Entre as irrelevantes, Spiker discute: a) Preferências por determinadas orienta ções teóricas: Tem-se argumentado q u e o psicólogo experimental acredita que o mesmo conjunto de princípios é suficiente para explicar o comportamento de ratos e de homens, ao passo que o psicólogo do desenvolvimento não o faz; que o psicólogo experimental evita conceitos finalistas e o psicólogo do desenvolvimento os aceita; que o psicólogo experimental recusa a postulação de estágios, ao passo que o psicólogo do desenvolvimento freqüentemente os utiliza. Estas controvérsias deveriam ser irrelevantes, uma vez que no estado incipiente em que se encontra a Psicologia nenhuma teoria pode reclamar grande superioridade em relação à outra, e enquanto uma teoria atende aos requisitos mínimos de uma teoria científica, integra fenômenos estudados em seu âmbito e estimula novas pesquisas, ela é útil. b) Preferências por determinados métodos: Uma diferença freqüentemente citada é a de que a Psicologia do Desenvolvimento usa predominantemente a observação controlada, enquanto que o psicólogo teórico- experimental prefere o método experimental. Como veremos a seguir, a tendência atual na própria Psicologia do Desenvolvimento é a de utilizar o método experimental sempre que possível. Indubitavelmente o método experimental é superior, mas há situações em que o psicólogo do desenvolvimento não pode manipular as variáveis com que está lidando. Como, por exemplo, poderia ele manipular idade cronológica? Mas, como afirma Spiker, a situação não é muito diferente da do psicólogo experimental que manipula fome, ou sede, ou peso corporal de ratos. O qüe ambos podem fazer, no caso, é apenas esperar. É verdade que o psicólogo do desenvolvimento não poderia manipular idade cronológica e manter todas as outras variáveis constantes. Mas quem quereria fazer isso? Como já vimos, não se esperaria mudança alguma de comportamento, se todas as variáveis, menos idade, fossem constantes, pois o que pode causar mudança não é a simples passagem do tempo, mas o que acontece durante este período de tempo. Evidentemente o método experimental representa o ideal em ciência natural, mas vários autores importantes têm reclamado recentemente contra a profusão de pesquisas cujo rigor metodológico é impecável, mas que exatamente para possibilitar esse rigor metodológico estudaram problemas insignificantes, abandonando problemas importantes em razão da dificuldade de estudá-los com o rigor desejado. Como criticam Nash (1970), Devereux (1970), Bronfrenbrenner (1970), Spiker (1966), vemos então uma profusão de pesquisas publicadas, apresentando resultados estatisticamente insignificantes a respeito de problemas insignificantes. O rigor científico é procurado como um ideal, mas quando este é impossível o pesquisador poderá aceitar, com a devida cautela, métodos menos precisos. Por exemplo, em se tratando de problemas como privação de estimulação ambiental extrema, em que motivos éticos proíbem a experimentação com seres humanos, podemos considerar lícito tirar conclusões, ainda que menos seguras, baseadas em estudos de observação de fenômenos naturais ou estudos correlacionais. c) Preferências por aplicação: Diz-se também que o psicólogo experimental se interessa pela pesquisa pura, visando conhecer as relações funcionais entre variáveis do comportamento, ao passo que o psicólogo do desenvolvimento se inclina para a pesquisa aplicada, que tem utilização imediata. Esta também é uma questão irrelevante, pois tanto o psicólogo experimental como o do desenvolvimento, em última instância, deverão beneficiar a sociedade. Aquilo que no momento parece o luxo de uma pesquisa pura poderá vir a ter uma aplicação não sonhada. A tendência atual parece ser a de enfatizar as aplicações do conhecimento científico em todos s ramos, para o bem da humanidade (Baron, 1971; Sheriff, 1970). Nash (1970), entre várias questões, discute se a Psicologia do Desenvolvimento deve ser uma Psicologia do Desenvolvimento como este se apresenta ou como este deveria ser. Por exemplo, ao constatar os deficits intelectuais de crianças criadas em orfanatos inadequados, deve o psicólogo do desenvolvimento apenas constatar o fato, ou interferir para que o desenvolvimento seja como deveria ser? Todas estas são questões às quais os psicólogos especializados em Psicologia do Desenvolvimento deverão dedicar sua atenção. EVOLUÇÃO DO CAMPO DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Analisando a evolução da área da Psicologia do Desenvolvimento, Ziegler (1963) nota as inter-relações entre conteúdo, metodologia e teoria, mostrando como o conteúdo estudado, ou o objeto de interesse de uma ciência ou de determinada área de uma ciência, de certa forma condiciona o tipo de metodologia usado, e esta, por sua vez, conduz a determinados tipos de conceitos teóricos Podemos distinguir na evolução da Psicologia do Desenvolvimento três fasesem que conteúdo, metodologia e teoria, entrelaçados em cada fase, todos evoluem no transcorrer das três fases. Este processo, esquematizado na Tabela 1, é discutido a seguir. 1" FASE: Abrange as décadas de 1920 e 1930, aproximadamente. Conteúdos: Os conteúdos estudados nessa fase eram essencialmente concretos, como demonstra Bronfrenbrenner (1963) em uma análise de livros-textos representativos de três diferentes épocas. Bronfrenbrenner compara os livros de Murchison (1931), Carmichael (1946) e de Stevenson (1963), mostrando como pelos títulos dos capítulos se pode ver uma evolução no sentido do concreto para o abstrato. TABELA 1 EVOLUÇÃO DO CAMPO DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Por exemplo, "Desenhos de crianças", "Brincadeiras, jogos e divertimertos de crianças", "Sonho de crianças". Alimentação, sono, eliminação, são títulos de capítulos de Murchison que ilustram a orientação concreta dessa época. Mais espe Ao leitor não familiarizado com esta terminologia, recomendase a leitura do cap 2, neste ponto expecificamente, vemos que o conteúdo ou o objeto de interesse da Psicologia foram mudanças de comportamentos concretos, observadas com o aumento de idade. Metodologia: Ao tipo de conteúdo descrito acima prestava-se o método descritivo, baseado em observação natural, isto é, uma descrição dos fenômenos, sem interferência do pesquisador no que estava ocorrendo. Isto conduziu a estudos normativos, isto é, ao estabelecimento de normas ou padrões daquilo que é típico para crianças de cada faixa de idade. As técnicas estatísticas usadas geralmente Hmitavam- se a técnicas da estatística descritiva, como o cálculo de medidas de tendência central (média, mediana, moda) e de medidas de variabilidade (desvio padrão). Como exemplo dessa metodologia vemos estudos sobre desenvolvimento de linguagem que consistiam essencialmente de dados normativos apresentando o número médio de palavras constantes do vocabulário de crianças de várias faixas de idade. Este tipo de estudo tem a utilidade de fornecer normas ou padrões com os quais se comparam casos individuais, a fim de determinar se uma criança está na média, acima ou abaixo da mesma, mas não contribuiu para uma compreensão dos mecanismos de aquisição da linguagem. O enfoque moderno no estudo da linguagem, como veremos no capítulo vii, é totalmente diferente, focalizando a investigação dos processos que entram na aquisição da linguagem. Teoria: O tipo de conteúdo e de metodologia descritos acima não podiam praticamente deixar de gerar uma teoria meramente descritiva e não explanatória. É o que vemos com a teoria de Gesell, representativa dessa época da evolução da Psicologia do Desenvolvimento. O conceito central na teoria de Gesell - maturação - não passa de mero rótulo que sumariza e descreve observações, mas não explica as causas das mudanças nos comportamentos. Se, da observação de que uma criança tipicamente se senta aos seis meses, caminha aos doze, etc., usamos o conceito de maturação, estamos apenas constatando que houve um aumento das capacidades do organismo, mas não estamos tentando dizer nada a respeito dos fatores (internos ou ambien 26 EVOLUÇÃO DO CAMPO DA PSICOLOGIA DO DENSEOLVIMENTO Fase Conteúdo Metodologia Teoria 1ª Fase - 1920 - 1939 Concreto Murchison (1931) Descritiva, normativa Gesell – maturação 2ª Fase - 1940 - 1959 Intermediario Carmichael (1946 Correlaciona l Estudos Funcionais 3ª Fase - 1960 - Abstrato Stevenson (1963) Reese e Lippsitt Experimental Aprendizage m social (Sears, Miller Dollard, Mower, Banduva, Bijou tais) que geraram esse aumento. A concepção maturacionista freqüentemente leva a atitudes pessimistas e à inércia. Se o indivíduo "amadurece", para que tentarmos propiciar-lhe um nível ideal de estimulação ambiental para que ocorra o desenvolvimento? 2 FASE: A segunda fase abrange as décadas de 1940 e 1950, aproximadamente. Conteúdos: Os conteúdos tratados nessa época representaram um ponto intermediário entre o concreto da fase anterior e o abstrato da fase seguinte, como se vê pelo livro de Carmichael (1946): "A criança Superdotada", "Debilidade Mental" e "A Psicologia do Desenvolvimento de Gêmeos". Metodologia: Insatisfeitos com a mera descrição de fenômenos e obtenção de dados normativos, os psicólogos começaram a tentar chegar a estabelecer relações entre variáveis. Proliferaram então estudos sobre as relações entre inteligência e nível socioeconômico, ajustamento e nível socioeconômico (Hollingshead e Redlich, 1958), permissividade materna e ajustamento dos filhos (Sears, Maccoby e Levin, 1957), entre muitos outros. As técnicas estatísticas mais freqüentemente usadas eram as medidas de associação, como coeficiente de correlação de Pearson, Qui quadrado, coeficiente 0, etc. Teoria: Quanto a conceitos teóricos, esta época é relativamente pobre, pois estudos funcionais do tipo mencionado acima tendem a fornecer um acervo de dados empíricos, mas dificilmente uma teoria que os integre. Não obstante, esta foi a época em que as teorias de Freud e de Piaget, embora não se enquadrando no tipo de metodologia da época, começaram a exercer influência na Psicologia do Desenvolvimento. 3 FASE: Abrange desde o início da década de 1960 aproximadamente, até a era atual. Conteúdos: Os conteúdos, conforme analisa Bronfrenbrenner (1963), a partir do livro de Stevenson (1963) e conforme podemos acrescentar atualmente os de Reese e e Lipsitt (1970), Spencer e Kass (1970), Nash (1970) e muitos outros livros recentes, são mais abstratos. Por exemplo, estes livros mencionados e a maior parte dos livros atuais contêm capítulos cujos temas são construtos abstratos como "agressão, ansiedade, pensamento, dependência, aprendizagem, etc.". Metodologia: Nessa fase, a Psicologia do Desenvolvimento caracteriza-se pelo interesse em explicar as causas das mudanças de comportamento, ao invés de permanecer na mera descrição, ou na associação de variáveis, em que não se sabe qual delas a independente, qual a dependente, ou se ambas dependem de uma terceira. Predomina então o método experimental propriamente dito, utilizado em estudos de laboratório ou em situações naturais em que variáveis independentes são manipuladas, observando-se os efeitos em variáveis dependentes. As variáveis irrelevantes são controladas através da formação aleatória de grupos experimentais e de controle, ou diretamente controladas através da inclusão da análise de outros fatores, além dos manipulados. Há grupos experimentais e de controle, e todos os cuidados são tomados para que as medidas operacionais das variáveis sejam válidas e fidedignas. Técnicas estatísticas são utilizadas para comparações entre grupos. Teoria: A teoria predominante nesta fase é a de aprendizagem social, rótulo amplo que inclui vários enfoques em que modelos de aprendizagem são aplicados para explicar o desenvolvimento dos comportamentos humanos. Predominam modelos neo-huilianos (Mowrer, Sears, MilIer, Dollard) e skinneriarios (Bandura, Bijou e outros). De importância possivelmente tão grande quanto a corrente de aprendizagem social é a de Piaget, especialmente tendo-se em vista os trabalhos experimentais mais recentes de colaboradores de Piaget e de outros autores (capítulo 3), testando experimentalmente hipóteses derivadas das teorias de Piaget. Cabe notar aqui que Piaget é muitas vezes rotulado de maturacionista, no sentido de Gesell, mas isto não se justifica, pois, na teoria de Piaget, a chave para a progressão através de estágios é a estimulação ambiental. Diversas tendências recentes têm surgido depois que Zigler e Bronfrenbrenner analisaram a evolução da Psicologia do Desenvolvimento. Clarke-Stewart, Friedman e Koch (1984) apontam como tendências para a década de 80 o processamento de informação, a psicologia dialética, a psicologiaecológica e a sociobiologia. Como as teorias clássicas (Piaget, psicanalítica e aprendizagem social) são aprofundadas em capítulos a elas dedicados, exporemos aqui as linhas gerais dessas novas teorias, deixando as clássicas para os capítulos 3, 4 e 5. PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÃO Talvez a teoria mais importante dentre as emergentes seja a de processamento de informação. Essa perspectiva cresceu muito rapidamente desde o início da década de 70. O processamento de informação chegou à Psicologia através da Lingüística, das ciências da computação, e da teoria de comunicações. Da Lingüística vieram questões intrigrantes a respeito de como a gramática e a sintaxe são construídas e compreendidas e a respeito de como as pessoas entendem sentenças que nunca ouviram antes. Das ciências da computação veio o reconhecimento de que tanto o computador quanto o ser humano são manipuladores de símbolos. Da teoria de comunicações vieram as noções de codificação e capacidade dos canais. Os psicólogos aplicam princípios de processamento de informação quando estudam como o cérebro humano acrescenta e apaga conhecimentos, onde e como armazena e processa a informação, como a memória funciona, e sob que condições o cérebro recebe sinais claros ou confusos (Siegler, 1983). É estudando o fluxo da informação que entra e sai da memória que os psicólogos do desenvolvimento têm aplicado a teoria de processamento da informação com mais freqüência. Crianças menores e crianças mais velhas têm equipamento mental semelhante, ambas têm "computadores" que processam informação. Para lembrar coisas, as crianças de todas as idades focalizam a atenção no "input" (entrada) sensorial, percebem ou reconhecem padrões, e retêm e armazenam informação. Ao enviar coisas para a memória, as crianças devem primeiro retirar tudo o que podem das impressões sensoriais. Estas são mantidas na memória sensorial como imagens breves que a mente nota e passam para a memória a curto prazo. Na memória a curto prazo, que dura menos de um minuto, a maioria das impressões são usadas brevemente e depois são perdidas. A mente seleciona algumas impressões excepcionais para lembrar. Estas devem ser classificadas e legadas à informação que já está na memória a longo prazo, ou elas também serão perdidas. Algumas impressões vão diretamente para a memória a longo prazo, mas a maioria do que é retido deve ser preparado como se fosse para ser arquivado. O sistema de arquivo da memória a longo prazo põe a informação em armazenagem organizada, de forma que mais tarde possa ser encontrada. O ponto de vista do processamento de informação reconhece que as crianças mais novas não pensam tão bem quanto as crianças mais velhas. Mas as limitações da criança menor não são atribuídas a diferenças em processos mentais. Enquanto Piaget explicou o desenvolvimento cognitivo como progresso ao longo de um conjunto de estágios, cada um com seus processos mentais e estratégias qualitativamente diferentes, a teoria de processamento de informação o vê como a acumulação de quantidades de conhecimento e expansão da memória. PSICOLOGIA DIALÉTICA Outra visão teórica que começou relativamente há pouco a influenciar a Psicologia do Desenvolvimento no mundo ocidental é a visão dialética. A moderna análise dialética de eventos, sejam eles psicológicos, sociais, ou políticos por natureza, deriva-se dos teóricos do filósofo alemão Georg Hegel (1770- 1831). Hegel propôs que um evento, ou tese, sempre produz uma reação oposta ou antítese. Na medida em que estas interagem, produzem um novo evento, uma síntese. Essencialmente, a visão dialética concebe o desenvolvimento humano - e especifica- mente processos como o desenvolvimento da comunicação, linguagem ou solução de problemas, processos como o desenvolvimento da comunicação linguagem, ou solução de problemas - como um processo de mudança, de tese, antítese e síntese. A visão dialética focaliza mais o fluxo inevitável e a mudança no desenvolvimento humano de que os períodos de estabilidade ou equilíbrio. Também focaliza as origens sociais da aprendizagem ao invés de predisposições inatas ou biológicas. Originariamente rejeitada pelos psicólogos do mundo ocidental como sendo ideologicamente opressora, a visão dialética é agora considerada como um instrumento analítico útil. Um dos psicólogos mais influentes da escola dialética foi Lev Semanovich Vygotsky (1896-1934). Importante na União Soviética logo depois da Revolução, Vygotsky afirmava que os seres humanos aprendem na medida em que interagem com outros. O conhecimento, acreditava ele, deriva-se da cultura humana. Assim como alguns psicólogos do desenvolvimento afirmavam que processos psicológicos do desenvolvimento avançados, tais como a lembrança, a percepção, a solução de problemas, ou a atenção emergiam em uma série de estágios universais, Vygotsky afirmava o oposto. O pensamento é determinado pelas pressuposições sociais e históricas daqueles que povoam o mundo da criança. Vygotsky não ignorava inteiramente as contribuições da natureza, ou predisposições biológicas, e acreditava que, antes de as crianças desenvolverem a fala, a maior parte de suas respostas derivam-se de dados básicos, biológicos. A cultura, disse, ele "não cria nada; ela simplesmente modifica o ambiente natural para se conformar aos objetivos humanos" (Vygotsky, 1979, p. 166). Vygotsky escolheu estudar ações sociais para entender o comportamento individual. Ele não acreditava que as pessoas fossem meros recipientes passivos de conhecimento e insistia em que as crianças aprendem ativamente. As crianças são influenciadas por seus ambientes, acreditava ele, mesmo quando elas por sua vez influenciam aquele ambiente. Na dialética de Vygotsky, as crianças são afetadas e também os adultos e companheiros de seu ambiente. Especificamente, a criança se desenvolve cognitivamente, à medida que se comunica com as figuras significativas com quem tem contacto. O conhecimento que é compartilhado pelas pessoas no mundo da criança - conhecimento a respeito de como falar, resolver problemas, lembrar, ou prestar atenção - é transmitido à criança que está ativamente buscando esse conhecimento. Os adultos não ensinam conhecimento ou habilidades, mas gradualmente guiam a criança a funcionar de maneira independente. Para Vygotsky, o desenvolvimento poderia ser descrito por meio da palavra russa obuchnie, que significa ensinar e aprender; as crianças se desenvolvem e são desenvolvidas. O processo de aprender ou desenvolver funções psicológicas avançadas é um processo no qual as crianças inicialmente partilham com outros e depois internalizam as interações sociais, acreditava Vygotsky. As crianças primeiro são expostas à fala e às ações compartilhadas de outros. Elas são guiadas e reguladas por adultos ou crianças que tenham mais experiência na cultura. As crianças tomam então esse conhecimento e habilidades compartilhadas, especialmente a fala, enquanto aprendem a guiar e regular suas próprias ações. As crianças começam seu funcionamento a um nível social (interpsicológico) e partem para um nível independente (intrapsicológico) quando internalizam certas funções psicológicas. Vygotsky acreditava que a distância entre esses dois níveis de funcionamento, que ele chamava de zona de desenvolvimento próximo, era a área dentro da qual a aprendizagem da criança se realiza. O nível real de funcionamento da criança é descrito pelos processos mentais que ele ou ela já pode regular, pelas situações em que ele ou ela pode agir de maneira independente e autônoma. O nível potencial de desenvolvimento dessa mesma criança é descrito pelas funções psicológicas que ele ou ela está começando a dominar. Neste nível de funcionamento potencial, a criança ainda precisa da ajuda de alguém. A zona de desenvolvimento próximo representa a área entre os níveis real e potencialde funcionamento, uma área de prontidão e sensibilidade. Quando um adulto faz exigências à criança, exigências um pouco além da capacidade da criança - talvez perguntando questões investigadoras ou problemas intrigantes - a criança tem que "se esticar" mentalmente para resolver ou fazer sentido do problema. A criança ativamente luta pela solução e eventualmente internaliza o caminho para a solução. Obviamente se o adulto torna a tarefa fácil demais ou difícil demais, a criança não luta pela solução e não faz progresso. Uma criança ficará excitada se a professora lhe der problemas de adição ou subtração que estão bem na fronteira de sua compreensão, mas ficará decepcionada se os problemas forem simples demais ou avançados demais. Um imigrante alemão no Canadá, Klaus Riegel (1925- 1977), pôs sua própria marca na psicologia dialética. Tem-se sugerido (Birren, 1978) que Riegel, que cresceu na Alemanha nazista, estava reagindo a uma sociedade que exigia adesão rígida a verdades recebidas em sua crença de que contradições, fluxo e mudança estão no cerne do desenvolvimento humano. Riegel reagiu à rigidez de sua infância com um senso da injustiça que essa rigidez faz aos seres humanos. Foi com certa paixão que ele escreveria mais tarde: "Eu rejeito. . . a preferência por equilíbrio ou estabilidade, ao invés de dirigir nossa atenção para a questão de como a tranqüilidade da mente ou da situação social é alcançada, por exemplo, de como os problemas são resolvidos ou as respostas são encontradas. Pelo menos igual ênfase deveria ser devotada à questão de como os problemas são criados e as questões levantadas" (Riegel, 1976, p. 689). Riegel acreditava que no surgimento do trabalho muito influente de Piaget, as ciências do comportamento tinham adotado um modelo de equilíbrio para o desenvolvimento. Para um dialético como Riegel, todo desenvolvimento necessariamente evolui de um estado de desequilíbrio. Perturbação e desequilíbrio são inteiramente necessários. Estabilidade e calma - síntese - são meramente passos temporários no fluir turbulento do desenvolvimento humano. Riegel criticou a tendenciosidade de Piaget: "Ele (Piaget) investiga como as crianças resolvem situações conflitivas, evidência contraditória, ou impressões chegam a questionar seus julgamentos anteriores, ou como criam seus próprios problemas" (Riegel, 1976, p. 691). Riegel acreditava que Piaget não foi suficientemente longe, que a extensão lógica das idéias de Piaget sobre cognição era a mente fechada. Ele propôs que há um estágio cognitivo para além da resolução de contradições. Nesse estágio, a mente humana não apenas tolera, mas manipula contradições e as elabora através de outras contradições. Este estágio dinâmico, para Riegel, é verdadeiramente dialético, na medida em que encarna transformação evolutiva. Consistente com essa visão, ele insistiu que as crises não devem ser sempre interpretadas negativamente; uma crise pode também fornecer uma base positiva para o desenvolvimento individual e social. Riegel queria que os estudiosos do comportamento humano estudassem as ações concretas de pessoas em situações sociais concretas. Da mesma forma que Vygotsky, ele enfatizou o social ao invés da base abstrata da vida humana. Riegel acreditava que diálogos entre duas pessoas, mãe e filho, por exemplo, forneciam protótipos para os psicólogos do desenvolvimento analisarem. Diálogos são grão para o moinho do dialétíco disse Riegel, porque eles existem no tempo e preenchem o vão entre dois seres humanos. Diálogos requerem que os participantes coordenem suas falas, para que não degenerem em meros monólogos alternados. À medida que as crianças se desenvolvem, seus diálogos com suas mães vão desde trocas de olhares, sons e expressões faciais até trocas de sinais compartilhados em particular, e finalmente para sinais - a própria linguagem - que são compartilhados com os membros.da sociedade. Em seu Manifesto por uma Psicologia Dialética (1976), Riegel lança dois princípios norteadores para a psicologia ocidental: o primeiro, "A psicologia dialética é comprometida com o estudo de ações e mudanças"; o segundo, "A psicologia dialética se preocupa com mudanças situacionais a curto prazo bem como desenvolvimentos individuais e culturais a longo prazo". Riegel terminou seu manifesto dialético incitando os psicólogos a rejeitarem a ênfase tradicional dos psicólogos do desenvolvimento na infância, a favor de uma ênfase na vida inteira. Sua recomendação tem recebido cada vez mais apoio nos últimos anos. Sob a tutela de autores como Baltes e Schaie (1973), a escola evolutiva do desenvolvimento ao longo de toda a vida apareceu decisivamente na década de 70 e continua a influenciar os teóricos na década de 80. Além dos psicólogos, esse enfoque tem afetado biólogos, economistas, sociólogos e outros (Baltes, 1978). O enfoque da vida inteira tenta, por seus métodos e ideologia, corrigir certas tendenciosidades da Psicologia do Desenvolvimento tradicional. Assim, por exemplo, a Posição tradicional tem consistido em usar um modelo biológico de maturação para o desenvolvimento psicológico. Em tal modelo, ossos e músculos amadurecem em certo ritmo e numa certa direção - mais longos, maiores, mais pesados - junto com a cognição, a percepção, a memória, etc. A infância e a adolescência têm sido retratadas tradicionalmente como períodos de crescimento e desenvolvimento a vida adulta como um período essencialmente estático de mudanças quantitativas e não qualitativas, e a velhice como um período de perda e declínio. O modelo tradicional de desenvolvimento infantil tem sido criticado por equacionar o desenvolvimento com ganhos ao invés de perdas, por encarar o desenvolvimento como acumulativo, e por pressupor que o desenvolvimento do indivíduo não é afetado pela época sócio-histórica em que ele cresce. ENFOOUE ECOLÓGICO Em sua ênfase em estudar como as pessoas interagem dentro de seus ambientes e ao estudar as pessoas em todas as idades, o enfoque ecológico é primo irmão das concepções dialéticas e "lifespan". Conforme proposta por Une Bronfrenbrenner, da Universidade de Comeu, uma concepção ecológica do desenvolvimento humano consideraria como as pessoas se acomodam ao longo de suas vidas a ambientes em mudança, nos quais eles crescem e vivem. Bronfrenbrenner tem criticado o que ele percebe como estreiteza e artificialismo dos delineamentos de pesquisa tradicionais: "A maior parte da Psicologia do Desenvolvimento tradicional é a ciência do estranho comportamento de crianças em situações estranhas, interagindo com um adulto estranho, pelo período de tempo mais breve possível" (Bronfrenbrenner, 1977, p. 513). Embora ele não queira dispensar o rigor do experimento-tradicional de laboratório em favor apenas da imediatez e relevância da observação natural de sujeitos, Bronfrenbrenner quer adaptar as virtudes de cada um a um novo enfoque: "a ecologia do desenvolvimento humano". Central à ecologia do desenvolvimento humano é o exame de "sistemas multipessoais de interação não limitados a um único ambiente, que leva "em conta aspectos do ambiente para além da situação imediata que contém o sujeito" (p. 514). Bronfrenbrenner acredita que o desenvolvimento humano é melhor esclarecido quando os psicólogos sistematicamente comparam pelo menos dois sistemas ambientais com os quais o ser humano em crescimento se adapta e se acomoda. "Sistemas", além disso, existem simultaneamente em vários níveis. Um microssistema é composto de uma rede de ligações entre uma pessoa e o ambiente imediato, como a escola ou um escritório. Um mesossistema é composto da rede de ligações entre os principais ambientes em que a pessoa vive. Por exemplo, o mesossistema de uma americana de 12 anos poderia incluir ligações entre família, escola, igreja e acampamento. Finalmente, um macrossistema é composto não porambientes impingidos diretamente sobre a pessoa, mas de ambientes amplos, gerais, institucionais na cultura da pessoa, tais como os sistemas legal, político, social, educacional e econômico. Os macrossis. temas são importantes em análises do desenvolvimento da criança: "(Eles são) transmissores de informação e ideologia que, tanto explícita coma implicitamente, dotem de significado e motivação determinadas agências, redes sociais, papéis, atividades, e suas inter-relações. Que lugar ou prioridade as crianças e os responsáveis por seu cuidado têm em tais macrossistemas é de especial importância na determinação de como uma criança e seus responsáveis são tratados e interagem uns com os outros em diferentes tipos de ambientes" (p. 515). Bronfrenbrenner propôs que os especialistas em desenvolvimento analisem as estruturas ambientais como sistemas independentes. Consistente com seu enfoque sistêmico, ele propôs que o experimento ecológico: 1) Permita os efeitos recíprocos entre variáveis. O experimento tradicional examina o efeito de A sobre B; o modelo ecológico examina também o efeito de 8 sobre A. 2) Reconheça todo o sistema social que opera dentro do ambiente de pesquisa, não apenas todos os participantes presentes, mas também o experimentador. 3) Avalie sistemas grandés (aqueles que incluem mais de duas pessoas) e todos os seus subsistemas Por exemplo, uma investigação da interação mãe-criança poderia explicar também a interação da mãe com o pai e a interação do pai com a criança. 4) Reconheça como o ambiente físico pode indiretamente afetar os processos sociais dentro do ambiente. 5) Reconheça os efeitos combinados de, e a interação entre ambientes. Na concepção ecológica, os resultados mais importantes de qualquer pesquisa são provavelmente as interações. Enquanto que no experimento clássico se tem a isolar uma única Variável de comportamento e "controlar" todas as outras variáVeis, o delineamento da pesquisa ecológica irá "controlar deixando dentro" tantas variáveis relevantes quanto for possível ou prático. Assim como o ecológico nas ciências naturais, que investiga a vida e os tempos dos golfinhos estudando todas as criaturas do mar bem como os barqueiros e pescadores humanos e poluidores das águas que afetam o mundo do golfinho, o ecológico nas ciências do comportamento examina muitos fatores diferentes, ou sistemas, no ambiente humano. Por exemplo, Bronfrenbrenner sugere que o psicólogo que estuda a socialização das crianças poderia, como é tradicional, controlar a classe social das crianças que estuda. Mas o planejamento da pesquisa também poderia incluir estrutura da família e tipo de cuidado infantil (por ex.: em casa ou na creche). Um enfoque ecológico tenderia a mostrar padrões complexos de interação entre crianças e vários de seus ambientes. SOCIOBIOLOGIA Os psicólogos do desenvolvimento, de todas as orientações, estão interessados na relação entre biologia e comportamento, mas essa tendência não tomou feição tão controversa em lugar nenhum quanto na sociobiologia. Essencialmente, os sociobiólogos propõem que o comportamento social tem uma base genética - uma mudança radical no velho debate natureza versus cultura. Teóricos como Edward Wilson, da Universidade de Harvard, um entomólogo, e Robert Trivers, um biólogo, têm teorizado que o comportamento humano é o produto da evolução e, além disso, que o comportamento que melhora as chances de sobrevivência será passado geneticamente para a geração seguinte. "A sociobiologia emergiu do reconhecimento de que o comportamento, mesmo o comportamento social complexo, tem evoluído, e é adaptativo. Sua importância deriva do reconhecimento de que a evolução tem muito a dizer a respeito do comportamento; é a linha sublacente que unifica todas as coisas vivas, não apenas em termos de relação genealógica, e portanto da unidade última, mas também como o mecanismo primário ao qual toda a vida está sujeita. Se usada corretamente, a teoria de evolução é um instrumento preditivo e analítico de enorme poder. A força da sociobiologia se deriva de seu fundamento nas universidades da biologia evolutiva. Sua promessa para o estudo do comportamento está na esperança de um bom paradigma" (Barash, 1977, p. 8). Os sociobiólogos têm tentado resolver, entre outras coisas, o quebra-cabeças que deixou perplexo mesmo a Darwin: Por que alguns indivíduos ajudam outros, com grande risco pessoal, se a sobrevivência dos mais aptos predispõe cada indivíduo a lutar egoisticamente por sua própria vantagem reprodutiva? A resposta do sociobiólogo é que o comportamento de ajuda realmente promove a sobrevivência genética, mas de outros membros da espécie do altruísta. Assim, a formiga e o soldado que morrem para proteger seu território efetivamente promovem a sobrevivência dos membros de sua espécie que, é claro, compartilham seus gens (irmãos, irmãs etc.). Além de fornecer esta explicação do altruísmo, os socíobiólogos têm oferecido análise de várias outras qualidades humanas. Eles sugerem, por exemplo, que as pessoas que se recusam a ajudar outras e as pessoas que tomam sem dar nada em retorno não são selecionadas; que se a seleção natural tornou os homens bons de roubar, também os fez bons em detectar o roubo; que a evolução humana favoreceu o auto-engano porque as pessoas que podem mentir a si mesmas bem como aos Outros são realmente mentirosos convincentes. Alguns dos psicólogos do desenvolvimento acharam a perspectiva sociobiológica útil para se entender questões importantes a respeito do desenvolvimento infantil, tais como porque há diferenças entre os sexos, como os grupos sociais infantis são organizados em hierarquias de dominância, quais as bases para a ligação entre pais e filhos, e como e quanto os pais investem seu tempo e energia em cuidar dos filhos (comparando o investimento dos pais nos filhos versus nas filhas e em filhos biológicos versus adotivos). O campo dos sociobiólogos está dividido em facções internas; alguns como Freedman (1979), da Universidade de Chicago, um psicólogo do desenvolvimento que advoga um enfoque sociobiológico acreditam que o foco adequado é em grupos ao invés de indivíduos ou gens individuais que Wilson e Trivers discutem. Mas as divisões internas não são tão graves como o debate apaixonado entre crentes e não-crentes Para seus críticos, a sociobiologia é perigosa, um credo político que se mascara em roupagem científica. Os críticos acreditam que a sociobiologia é uma nova variedade de Darwinismo social, o ramo do Darwinismo que tentava atribuir (no séc. XIX) "traços raciais é herança genética. Seus críticos mostram que a sociobiologia pode ser usada para justificar o racismo ou a dominância masculina como "natural". Para eles, é um instrumento político pelo qual os poderosos podem justificar-se e impedir a mudança social. A utilidade da sociobiologia para a compreensão do desenvolvimento humano ainda é uma questão aberta. Em resumo, as perspectivas que descrevemos são muito diferentes umas das outras e muito diferentes das teorias mais tradicionais de desenvolvimento. De muitas maneiras, elas parecem estar mudando o tom da Psicologia do Desenvolvimento. As mudanças que esses enfoques - processamento de informação, dialética, sociobiologia e ecologia - trazem para o estudo do desenvolvimento humano durante a década de 80 irá por sua vez moldar o trabalho das gerações futuras de psicólogos do desenvolvimento. Análises críticas dos três enfoques teóricos clássicos têm surgido, distinguindo-se já na década de 70 o livro de Langer (1969) que cognominou o modelo de aprendizagem como o "espelho mecânico", e o cognitivista de "lâmpada orgânica", embora se posicione a favor deste. A dimensão atividade-passividade, tábula rasa versus construtivismo perpassa obviamente sua análise. Mais recentemente, SuIlivan (1985), em seu livro PsicologiaCrítica, também rotula o modelo behaviorista de aprendizagem social de "metáfora mecânica" e o cognitivista de "metáfora orgânica", propondo sua "metáfora pessoal", que é um misto de dialética com fenomenologia, criticando nesta última a ênfase no individualismo subjetivista, enfatizando a díade, a relação "eu-tu)>, bem como uma perspectiva emancipatória fundamentada em grande parte no trabalho dos filósofos da escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Marcuse, Habermas). *