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[FISIOLOGIA DO SISTEMA GENITO URINÁRIO] [2020] [FILTRAÇÃO GLOMERULAR] DENILSON DUARTE [MÓDULO GENITOURINÁRIO] | [UFCA] 1 | P á g i n a Sumário Fisiologia Renal ..................................................................................................................................... 2 Múltiplas funções dos rins ................................................................................................................ 2 Anatomia fisiológica dos rins ............................................................................................................ 2 Vascularização renal ..................................................................................................................... 2 Néfron: a unidade funcional do rim .............................................................................................. 2 Formação da urina: filtração glomerular .......................................................................................... 4 Regulação do fluxo sanguíneo renal ............................................................................................. 5 Autorregulação da FG e fluxo sanguíneo renal ............................................................................. 6 2 | P á g i n a Fisiologia Renal Múltiplas funções dos rins A função de grande importância dos rins é a regulação homeostática da concentração de água e eletrólitos no sangue – realizar equilíbrio hidroeletrolítico. Além dessa principal atividade, os rins exercem outras funções homeostáticas importantes, como: 1. Excreção de metabolitos indesejáveis e substâncias química estranhas; a. Os rins eliminam produtos indesejáveis do metabolismo, como a ureia, creatinina, ácido úrico, produtos finais da degradação da hemoglobina e metabólitos de vários hormônios. Além dos metabólitos corporais, os rins eliminam substâncias exógenas, como pesticidas, fármacos e aditivos alimentícios. 2. Regulação da osmolalidade dos líquidos corporais e da concentração de eletrólitos; 3. Regulação da pressão arterial; 4. Regulação do balanço acidobásico; 5. Secreção, metabolismo e excreção de hormônios; 6. Gliconeogênese; 7. Regulação da produção de eritrócitos – secreção de eritropoetina. Anatomia fisiológica dos rins Vascularização renal Os dois rins encontram-se situados na parede posterior do abdômen, fora da cavidade peritoneal. Cada rim pesa em média 150 gramas e tem um tamanho aproximado de uma mão fechada. O fluxo sanguíneo corresponde a cerca de 242mL/min do débito cardíaco. A irrigação do rim é feito pela artéria renal, que, ao passar pelo hilo, se divide progressivamente para formar as artérias interlobares, artérias arqueadas, artérias interlobulares e arteríolas aferentes, que terminam nos capilares glomerulares. As extremidades distais dos capilares, de cada glomérulo, coalescem para formar a arteríola eferente, que forma uma segunda rede de capilares, os capilares peritubulares, que circundam os túbulos renais. Os capilares peritubulares se esvaziam nos vasos do sistema venoso que cursam paralelos aos vasos arteriolares. Os vasos venosos progressivamente forma a veia interlobular, veia arqueada, veia interlobar e veia renal, que deixa o rim pelo hilo, paralelo à artéria renal e ao ureter. Néfron: a unidade funcional do rim Cada rim possui cerca de 800.000 a 1 milhão de néfrons, cada um capaz de formar urina. Após os 40 anos de idade, o número de néfrons funcionais diminui cerca de 1% por ano. Essa perda não põe risco à vida porque alterações adaptativas nos néfrons remanescentes os permitem exercer as funções normalmente. Cada néfron contém grupo de capilares glomerulares chamado de glomérulo, onde ocorre a filtração do sangue, e um longo túbulo, no qual o líquido filtrado é convertido em urina, no trajeto para a pelve renal. O glomérulo possui rede de capilares que se unificam e se anastomosam, com pressão hidrostática alta – 60mmHg. Esses capilares são recobertos por células epiteliais, e todo o glomérulo é envolvido pela cápsula de Bowman, assim, a junção do glomérulo com a cápsula de Bowman forma o corpúsculo renal. O líquido filtrado dos capilares flui para o interior da cápsula e daí para o interior 3 | P á g i n a do túbulo proximal, que se situa na zona cortical renal. A partir do túbulo proximal, o líquido flui para a alça de Henle, que “mergulha” na medula renal. A alça de Henle consiste em um ramo descendente e um ramo ascendente, respectivamente. Logo após o ramo ascendente, está a mácula densa, que responsável por regular a taxa de filtração glomerular a partir da concentração de Na+. Após o filtrado passar pela mácula densa, ele passa para o túbulo distal, que se situa no córtex renal, assim como o túbulo proximal. O túbulo distal é seguido pelo túbulo conector e ducto coletor cortical. As partes iniciais de 8 a 10 ductos coletores corticais se unem para formar um único ducto coletor maior que se dirige para a medula e passa a se chamar ducto coletor medular. Resumindo, o sangue chega aos capilares glomerulares e: • Flui para o interior do túbulo proximal através da cápsula de Bowman; • Após passar pelo túbulo proximal, passa para a alça de Henle, que se encontra na medula renal; • Após passar pelo ramo descendente e o ascendente da alça, o filtrado passa pela mácula densa, que “analisa” a concentração de sódio para regular a filtração; • Em seguida, o líquido entra no túbulo distal, localizado no córtex renal; • Do túbulo distal, passa para o túbulo conector e ducto coletor cortical; • Vários ductos coletores corticais se unem para formar um único ducto, o ducto coletor medular. Embora cada néfron tenha todos os componentes descritos acima, existem algumas diferenças, dependendo de quão profundo o néfron se situe no interior do parênquima renal. Dessa forma, existem dois tipos de néfrons: 1. Néfrons corticais: localizados na zona cortical externa, possuem alça de Henle curtas que penetram apenas em pequena extensão no interior da medula. Todo o sistema tubular é envolvido por extensa malha de capilares peritubulares. Tornam a urina fluida. 2. Néfrons justamedulares: São cerca de 20% a 30% dos néfrons totais, com glomérulos mais profundos no córtex renal, perto da medula. Tem longas alças de Henle que mergulham no interior da medula, em direção às papilas renais. Longas arteríolas eferentes se estendem dos glomérulos para a região externa da medula, se dividindo em capilares peritubulares especializados, chamados de vasa recta. Torna a urina concentrada. 4 | P á g i n a Formação da urina: filtração glomerular A soma de três processos são responsáveis por produzir a urina: filtração glomerular, reabsorção de substâncias dos túbulos renais para o sangue e, por fim, secreção de substâncias do sangue para os túbulos renais. Assim, a excreção de urina pode ser representando como: Excreção = Filtração – Reabsorção + Secreção A formação de urina começa quando grande quantidade de liquido é filtrado dos capilares glomerulares para o interior da cápsula de Bowman. Então, o líquido filtrado, livre de proteínas e elementos celulares como as hemácias, passa da cápsula de Bowman para os túbulos, onde será modificado através da reabsorção de água e solutos específicos, para os capilares peritubulares, ou pela secreção de outras substâncias, também pelos capilares peritubulares. A filtração glomerular se dá por meio das fenestrações e dos prolongamentos de células epiteliais – podócitos – presentes na membrana capilar glomerular. Assim, a barreira de filtração é formada pelo endotélio capilar, membrana basal e podócitos. O endotélio é perfurado por milhares de pequenos orifícios chamados fenestrações. Revestindo o endotélio, está a membrana basal, que consiste em trama de colágeno e fibrilas proteoglicanas comgrandes espaços, permitindo a passagem de água e de pequenos solutos. A última parte da membrana glomerular é a camada de células epiteliais que recobre a superfície externa do glomérulo, essas células não são continuas e possuem longos processos semelhantes a pés. Figura 1 Ultraestrutura básica dos capilares glomerulares. A membrana capilar glomerular é mais espessa que a da maioria dos outros capilares, mas também é muito mais porosa. Assim, filtra líquidos com mais alta intensidade e, apesar dessa alta intensidade, a barreira de filtração glomerular é seletiva com base no tamanho e na carga elétrica das moléculas. Moléculas grandes, como a albumina, possuem baixa filtrabilidade, já moléculas como a água ou a glicose, são livremente filtradas. Assim como o tamanho molecular interfere na capacidade de filtração, as cargas elétricas também interferem. Moléculas com carga positiva são filtradas muito mais Figura 2 Efeito do tamanho e carga elétrica da dextrana (polissacarídeos) sobre a sua filtrabilidade pelos capilares glomerulares. 5 | P á g i n a rapidamente do que as moléculas com carga negativa. Polímeros neutros também são filtrados mais prontamente que polímeros com carga negativa. Como em outros capilares, a filtração glomerular é determinada pelo balanço das forças hidrostáticas e coloidosmóticas, atuando através da membrana capilar, e pelo coeficiente de filtração capilar (Kf), que é o produto da permeabilidade e da área de superfície de filtração dos capilares. Com isso, a pressão efetiva de filtração representa a soma das forças hidrostáticas e coloidosmóticas que favorecem ou se opõe à filtração através dos capilares glomerulares. A pressão hidrostática exercida pelos capilares do glomérulo faz com que o liquido e pequenos metabolitos tendam a passar pelas fenestrações, ao passo que as proteínas são mantidas nos vasos pela pressão oncótica de sentido contrário às fenestrações, mantendo o máximo possível de proteínas na luz dos vasos. A autorregulação mantém o suprimento sanguíneo e a FG (filtração glomerular), o que previne de um aumento da pressão renal. A alta pressão hidrostática necessária nos capilares glomerulares é devido às: • Arteríolas aferentes serem largas e curtas; • Arteríolas eferentes serem estreitas e longas; Aumentando-se a pressão hidrostática na cápsula de Bowman, reduz-se a FG, enquanto ao se diminuir essa pressão, a FG aumenta. Formado então o filtrado, devido à dificuldade imposta pela pressão oncótica, muitos metabolitos não conseguem retornar ao vaso sanguíneo. Daí a importância da reabsorção tubular, que faz com que, em nível dos túbulos renais, alguns metabolitos e uma parte da água sejam ativamente trazidos de volta para o sangue. Regulação do fluxo sanguíneo renal Os determinantes da FG mais variáveis e sujeitos ao controle fisiológico incluem a pressão hidrostática glomerular e a pressão coloidosmótica capilar glomerular. Essas variáveis, por sua vez, são influenciadas pelo sistema nervoso simpático, por hormônios e por autacoides e outros controles por feedback intrínsecos aos rins. 1. A ativação do sistema nervoso simpático diminui a FG a. A forte ativação dos nervos simpáticos renais pode produzir constrição das arteríolas renais e diminui o fluxo sanguíneo renal, o que consequentemente reduz a filtração glomerular. É importante frisar que os nervos simpáticos renais são mais importantes para realizar redução da FG. 2. Controle hormonal e autacoides da circulação renal a. Hormônios que provocam constrição das arteríolas aferentes e eferentes, causando reduções no fluxo sanguíneo renal, incluem a norepinefrina e epinefrina, liberadas pela medula adrenal. A dopamina, outra catecolamina, também realiza a vasoconstrição renal. A endotelina, peptídeo liberado por células endoteliais vasculares lesionadas dos rins também pode provocar vasoconstrição. Figura 3 Forças que causam filtração pelos capilares glomerulares. 6 | P á g i n a 3. Angiotensina II a. A angiotensina II é um poderoso vasoconstritor renal e pode ser considerada como hormônio circulante ou como autacoides produzido localmente. No entanto, vasos sanguíneos pré-glomerulares, especialmente a arteríola aferente, aparentam ser relativamente protegidas da constrição mediada pela angiotensina II. Essa proteção se deve à liberação de vasodilatadores, especialmente óxido nítrico e prostaglandinas, que neutralizam o efeito vasoconstritor da angiotensina II. As arteríolas eferentes, no entanto, são muito sensíveis à angiotensina II. Os mecanismos da angiotensina II na arteríola eferente será explicado mais adiante. 4. Prostaglandinas, Bradicininas e Óxido Nítrico a. O óxido nítrico é um autacoides que diminui a resistência vascular renal e é liberado pelo endotélio vascular de todos os capilares do corpo. b. Prostaglandinas (PGE2 e PGI2) e bradicinina, em condições normais, podem amenizar os efeitos vasoconstritores renais dos nervos simpáticos ou da angiotensina II. As prostaglandinas podem ajudar a evitar reduções excessivas na FG e no fluxo sanguíneo renal. Autorregulação da FG e fluxo sanguíneo renal Mecanismos de feedback intrínsecos dos rins normalmente mantêm o fluxo sanguíneo renal e a FG relativamente constantes, mesmo com alterações acentuadas da pressão sanguínea renal. Essa relativa constância da FG e do fluxo sanguíneo renal é conhecida como autorregulação. Normalmente, a FG é de cerca de 180L/dia e a reabsorção tubular é de 178,5L/dia, deixando 1,5L/dia de líquido para ser excretado na urina. Na ausência de autorregulação, o aumento relativamente pequeno na pressão sanguínea (de 100 a 125mmHg) poderia causar aumento semelhante de 25% da FG (de 180L/dia a 225L/dia). Caso a reabsorção tubular permanecesse constante (178,5L/dia), isso aumentaria o fluxo de urina para 46,5L/dia. Portanto, as variações da pressão arterial costumam exercer muito menos efeito sobre o volume de urina por dois motivos: 1. A autorregulação renal evita grandes alterações da FG; e 2. Existem mecanismo adaptativos adicionais nos túbulos renais que os permitem aumentar a intensidade da reabsorção, fenômeno conhecido como balanço glomerulotubular. Para realizar a função de autorregulação, os rins têm um mecanismo de feedback que relaciona as mudanças na concentração de cloreto de sódio na mácula densa com o controle de resistência arteriolar. Esse mecanismo de feedback sobre a concentração de cloreto de sódio autorregula o fluxo sanguíneo renal e em paralelo a FG. Esse mecanismo de feedback tubuloglomerular tem dois componentes que agem em conjunto para controlar a FG: Figura 4 Estrutura anatômica do aparelho justaglomerular. 7 | P á g i n a 1. Mecanismo de feedback arteriolar aferente; 2. Mecanismo de feedback arteriolar eferente. Esses mecanismos dependem da disposição anatômica especial do complexo justaglomerular. Esse complexo consiste de células da mácula densa na parte inicial do túbulo distal e de células justaglomerulares nas paredes das arteríolas aferentes e eferentes. As células da mácula densa detectam alterações do volume que chega ao túbulo distal através da concentração de cloreto e sódio. A redução da concentração de sódio desencadeia sinal que tem dois efeitos: reduz a resistência ao fluxo sanguíneo nas arteríolas aferentes, elevando a pressão hidrostáticas glomerular, e aumentando a liberação de renina, pelas células justaglomerulares das arteríolas aferentes e eferentes. A renina irá contribuir para formar angiotensina II, que não provoca efeitos significativos na arteríola aferente, mas atua fortemente na arteríola eferente. Dessa forma, a angiotensina irá contrair as arteríolas eferentes, aumentando também a pressão hidrostática glomerular. Figura 5 Mecanismo de feedback da mácula densapara autorregulação da pressão hidrostática glomerular e da taxa de FG.
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