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AULA 1 ESTRATÉGIA DE OPERAÇÕES E FATORES COMPETITIVOS Prof. Ruy Peixoto Martins Junior 02 CONVERSA INICIAL As empresas abordam a estratégia de operação a partir de perspectivas diferentes, conforme sua cultura, valores, missão e visão. Na indústria automotiva, são diversos os exemplos de aplicação de estratégias de operações, relacionadas às vezes até a seu próprio surgimento. CONTEXTUALIZANDO Nos dias de hoje, as empresas buscam, cada vez mais, eficiência operacional, já que a quantidade de fornecedoras de um dado produto ou serviço está cada vez maior e, assim, também a competitividade. Desta forma, um olhar sobre as estratégias operacionais pode nos capacitar a realizar e sugerir modificações em nossa empresa. Este estudo torna-se, portanto, fundamental para o aluno e profissional moderno que deseja estar à frente de seu tempo. TEMA 1 – INTRODUÇÃO À ÁREA Uma empresa de embalagens para produtos de consumo decide obter crescimento de volume, acima da lucratividade de curto prazo ou do retorno sobre o investimento. Fica implicado, para a estratégia da produção, que é preciso expandir rapidamente, com investimento em capacidade produtiva (fábricas, equipamentos, consumo de matéria-prima e mão de obra). Essa é a perspectiva “de cima para baixo”, pela qual se deve planejar, organizar, dirigir e controlar todos os recursos de operações, para que eles amparem toda e qualquer nova ideia ou objetivo da estratégia corporativa. Chama-se perspectiva top-down (de cima para baixo), bastante tradicional, algumas vezes até um jargão no dia a dia das empresas. Nos últimos tempos, principalmente com o avanço de conceitos modernos relacionados aos recursos humanos, tem crescido o interesse das empresas de aprender com suas operações e com a experiência acumulada, em grande parte, pelos colaboradores do baixo escalão. Este aprendizado busca criar ou melhorar a estratégia da organização; por derivar da parte mais baixa, recebe o nome de perspectiva bottom-up (de baixo para cima). A ideia de estratégia moldada pela experiência do nível operacional ao longo do tempo é, algumas vezes, chamada de conceito de estratégias 03 emergentes. A estratégia é gradualmente moldada com o tempo e baseada em experiências reais, ao invés de posicionamento teórico. Pense agora que você está num campo de futebol, no calor, e decide tomar uma cerveja. Certamente pagará mais caro do que num supermercado. Trata-se da perspectiva dos requisitos de mercado. Esta estratégia parte do princípio de que a empresa deve produzir e comercializar algo que atenda a demanda do mercado consumidor, com customização em massa, típica dos nossos tempos. Cada mercado tem seus critérios, dentre eles: qualidade, velocidade, confiabilidade, flexibilidade, custo e inovação. Entretanto, tais qualidades podem ser alteradas dependendo do produto, do mercado, das operações internas etc. Logo, sempre é louvável acompanhar e se adaptar aos novos requisitos. Por fim, a perspectiva dos recursos de operações tem em sua natureza um conceito americano muito utilizado por grandes organizações do mundo todo: trata-se do RBV – Resource Based View, que para nós brasileiros seria VBR – Visão Baseada em Recursos. Importante notar que, no gerenciamento de projetos, esta estratégia não é adotada, pois parte-se do princípio de que os recursos são ilimitados. Outra característica importante dos nossos tempos é a necessidade de competitividade em custos. Nesse sentido, a estratégia vista sob o prisma dos recursos de operações entende que uma empresa sempre deve aprimorar sua capacidade; no longo prazo, essa prática resultará em sucesso estratégico. TEMA 2 – GESTÃO ESTRATÉGICA DE OPERAÇÕES Uma empresa hipotética que tenha como estratégia central de operação o tempo de entrega deverá ter na rapidez uma de suas prioridades. Trata-se de um objetivo de desempenho da produção que visa garantir o alinhamento entre o posicionamento estratégico e a estratégia de produção. Uma forma de atestar este fato seria verificando que a empresa impõe de fato a seus funcionários da área operacional metas de redução de 30% ao ano no lead-time produtivo e nos tempos de ciclo. Portanto, temos aqui a associação de estratégias top-down com uma perspectiva de requisitos de mercado. Vejamos, neste temam, como as montadoras organizam suas estratégias de operações (Gobbo, 2010). 04 2.1 Toyota Em 1937, a Toyota produz o seu primeiro protótipo de automóvel e estabelece as bases para fundar a Toyota Motor Company, no Japão. Trata-se da maior fabricante de automóveis do mundo e reconhecida mundialmente pela qualidade de seus produtos. Presente em mais de 160 países e líder no mercado japonês e asiático, a Toyota é o maior vendedor de veículos não americanos nos EUA e a marca japonesa líder na Europa. De acordo com Gobbo (2010), o processo de globalização alterou o tamanho e a forma da Toyota. Em 1980, a Toyota tinha 11 fábricas em nove países; em 1990, eram 20 fábricas em 14 países; em 2010, a empresa tinha 46 fábricas em 26 países. Além disso, há centros de design na Califórnia e na França (Côte d’Azur) e centros de engenharia em Detroit, Bélgica e Tailândia. O presidente da Toyota, Hitoshi Okuda, não escondeu que pretendia ganhar mais 15% do mercado mundial de automóvel. Para alcançar esse objetivo, a empresa colocou metas ambiciosas para motivar os empregados e tirá-los da zona de conforto. Aumentou a produção rapidamente, o que causou uma crise na empresa. Mais de 8 milhões de veículos de sete modelos foram chamados de volta às oficinas, em 2010, por problemas diversos, incluindo sete modelos (entre esses: Corolla, Camry e Prius). Essa crise abalou a Toyota, que em 2009 havia conquistado a liderança mundial na produção de automóveis. A Toyota desenvolveu o sistema TPS (Toyota Production System), focado na eliminação de desperdícios e em qualidade superior, obtida por um processo de melhoria contínua (Kaizen). O princípio do just in time, de produzir ou solicitar peças somente quando são necessárias na linha de produção, é somente uma manifestação da busca incansável pela redução do desperdício no processo de manufatura. A indústria automotiva mundial e muitos outros setores de manufatura rapidamente adotaram os princípios do TPS. Ao longo das últimas duas décadas, houve uma queda no preço dos automóveis, mas pequena, em comparação com as reduções drásticas nos preços de computadores e produtos eletrônicos. Com relação à qualidade dos automóveis, o produto oferecido, hoje, não se compara ao oferecido há cerca de 30 anos atrás. E os principais créditos vão para os japoneses, liderados pela Toyota. A alta dos preços da gasolina e a excelência em qualidade levaram os consumidores americanos e europeus a importarem os automóveis japoneses, por seu menor consumo de combustível. Na Toyota, a 05 qualidade faz parte da cultura da empresa; seu controle envolve os trabalhadores da linha, os quais têm o poder de interrompê-la, a qualquer momento, quando algo estiver errado. Ou seja, ao ser detectado um erro na linha de produção, ela é suspensa até que as causas que o geraram sejam neutralizadas ou eliminadas, visto que não existe uma área de reparo na produção enxuta. Outra característica que diferencia a Toyota dos demais produtores de automóveis é sua capacidade de desenvolver e produzir novos modelos. Hoje, isso é feito em apenas dois anos. Uma análise das estratégias de manufatura adotadas por seis montadoras da indústria automobilística mundial. 2.2 Fiat O grupo Fiat é o maior grupo industrial da Itália, com operaçõesem mais de 60 países, nos cinco continentes. O Brasil ocupa, hoje, um lugar de destaque na estratégia global da empresa, sendo um dos principais grupos industriais do país (maior mercado para o grupo depois da Itália), e atuação diversificada nos segmentos metal-mecânico e de serviços. Segundo The Economist (2008, citado por Gobbo, 2010), o grupo teve uma notável história de recuperação financeira. A Fiat perdeu, entre 2001 e 2004, 8 bilhões de euros em seus negócios de carro. Por muito tempo, a Fiat tem sido sinônimo de indústria italiana, além de ser conhecida, também, pela falta de flexibilidade e por uma gestão burocrática. Em 2004, Sérgio Marchione assumiu o comando do grupo e conseguiu obter apoio de políticos, sindicais e banqueiros, tornando claro, logo de início, que ele poderia recuperar a Fiat. Assim, introduziu uma nova geração de jovens gerentes e uma cultura de transparência e honestidade, com metas claras e o necessário apoio para que a nova equipe atingisse esses objetivos. Outra etapa importante do processo foi a excelente negociação do seu contrato de cinco anos de parceria com a GM, resultando no pagamento de 2 bilhões de dólares para a Fiat. Em contrapartida, a GM se livrou da compra da empresa, pois estava em declínio. Essa negociação foi muito comemorada, tanto que o Sr. Marchione chegou a afirmar que, ao assinar o “divórcio”, a sensação foi de independência, e que planejava fabricar muitos carros pequenos. Então, o próximo passo da Fiat foi o desenvolvimento da “engenharia virtual”; ou seja, a etapa de protótipo foi eliminada, uma vez que todo projeto e também as simulações passariam a ser feitas no computador. Com essa prática 06 de manufatura, a Fiat ganhou vantagem sobre seus concorrentes, devido à sua extraordinária rapidez no desenvolvimento de produtos. Como resultado, a Fiat foi capaz de reduzir o tempo de “design congelado” para a produção do Bravo e do modelo 500 para apenas 18 meses, em comparação aos 26 meses necessários para o desenvolvimento do Stilo. Segundo Herald Wester, da Fiat Alemã, citado pela The Economist (2008, citado por Gobbo, 2010), “a chave foi “confiar no seu mundo virtual”. Na concepção tanto do Bravo quanto do 500, a Fiat optou por confiar inteiramente nas simulações do computador, ao invés de seguir a tradicional e demorada rota de fazer uma série de protótipos”. De acordo com Wester, “com a engenharia virtual, nós podemos testar e validar centenas de configurações diferentes e muito mais soluções do que podíamos com os protótipos”. Em comum com a maior parte dos líderes mundiais, a Fiat está à espera de um bom negócio para o seu crescimento, que provém de mercados emergentes. Em 2006, 37% das vendas dos veículos Fiat vieram de fora da Europa Ocidental. Em 2009, a Fiat aumentou sua participação acionária na Chrysler, dos EUA e, em troca, obteve acesso ao mercado americano, enquanto a Chrysler obteve um empréstimo do governo estadunidense, que a salvou da falência e lhe deu acesso às plataformas e motores econômicos da Fiat. 2.3 Volkswagen Simone Gobbo (2010) também faz menção ao grupo Volkswagen. A sede do grupo Volkswagen (VW) fica em Wolfsburg, na Alemanha. No Brasil, sua chegada se deu em 1955, na cidade de São Paulo. De acordo com dados da montadora, a empresa possui, atualmente, 44 fábricas em 18 países e 325.000 funcionários, com produção de 5,2 milhões de unidades em 2005 e 5,7 milhões em 2006. Para Radler (2004, citado por Gobbo, 2010), a transformação da VW se deu com a utilização de uma mesma plataforma em vários modelos de veículos automotores, o que ocasionou uma redução no custo de desenvolvimento, pois o custo da plataforma é cerca de 60% do custo total de um carro. Em 1998, 47% dos veículos foram construídos na mesma plataforma, com aumento gradual para 80% em 2000. Com essa estratégia de plataformas, a VW tem implantado um sistema de manufatura global, que resultou em um aumento no nível de empregados estrangeiros – de 41%, em 1993, para 51%, em 2001. 07 As similaridades das plataformas proporcionam setups menores e aumentam a flexibilidade. Outro fator importante reside no processo de contribuição das fábricas, ou seja, as plantas ociosas podem buscar produtos em outras unidades. A VW adotou práticas de manufatura inovadoras em suas plantas, ao redor do mundo, conforme dados abaixo: Flexibilidade no horário de produção na Alemanha: a VW trabalhou junto com os sindicatos para introduzir uma maior flexibilidade de produção e programação. O plano chamado para alinhar produção e vendas exige que os empregados trabalhem até 48 horas por semana na alta temporada e significativamente menos durante outros períodos. Mantém-se, assim, o tempo médio de trabalho ao longo de um ano, o que melhora a flexibilidade e a eficiência da produção. Programa 5000 X 5000: a VW iniciou este programa para cumprir sua promessa de reduzir a taxa de desemprego de 50% em Wolfsburg. A VW se ofereceu para contratar 5000 trabalhadores desempregados, garantindo-lhes um salário fixo de 2550 euros. No entanto, os trabalhadores tiveram que concordar em cumprir determinados níveis de qualidade, o que implicava em trabalhar até que o nível exigido de qualidade fosse cumprido. Audi (fábrica de motores na Hungria): inicialmente, eram fabricados motores, mas logo ela se tornou uma fábrica de componentes para o Grupo VW. Em 2000, foram produzidos mais 1 milhão de motores, quando a Hungria se tornou um grande exportador. Devido à combinação da qualificação dos trabalhadores, proximidade da planta com a Alemanha e níveis de qualidade elevados, foi possível gerir este crescimento. Skoda (fábrica de Mlada Boleslav, República Tcheca): esta planta marcou o início da integração dos fornecedores da Europa. A Skoda tem seis fornecedores integrados: fabricantes de tapetes, bancos, dispositivos de escape, eixos traseiros, para-choques e painéis de instrumentos. Esta planta foi considerada a mais eficaz em termos de custos nas fábricas da Europa. Dessa forma, foi capaz de aumentar a produção de 10,1 veículos por trabalhador, em 1994, para cerca de 30, em 1998. Planta da VW, em Resende, no Brasil: esta unidade foi a mais inovadora em todo o mundo. Inaugurada em 1996, a fábrica foi pioneira na utilização de consórcios modulares, de modo a produzir 30000 caminhões e automóveis por ano. A planta foi criada com sete fornecedores principais, 08 que foram responsáveis pela gestão e submontagem final do processo na linha. Em Resende, a VW é gerida apenas pelo controle final de qualidade. Sistema Modular de fabricação: a VW anunciou este sistema em 2000. A empresa identificou 11 módulos, dentre eles os sistemas de travagem e de direção, que podem ser partilhados entre diferentes plataformas. Em termos mundiais, no entanto, Gobbo (2010) cita que a VW Brasil ainda não conseguiu alcançar plenamente os níveis ou padrões de qualidade desejados e praticados internacionalmente pelo grupo VW ao redor do mundo. Na produção do modelo Golf, cuja planta é localizada em São José dos Pinhais (PR), foram adotados sistemas denominados QMD (Quality Measurement Devices) integrados ao processo de manufatura. 2.4 General Motors Fundada em 1908, a General Motors (GM) empregava, em 2010, cerca de 266.000 pessoas em todo o mundo. Com sede mundial em Detroit, nos EUA, tinha fábricas em 35 países. Em 2007, cerca de 9,37 milhões de automóveis e caminhões GM foram vendidos em nível mundial. Apesar de ser a vice-líder em vendas, a GM passou por uma fase difícil nos últimos anos, chegando a perder 3,8 bilhões dedólares. A empresa teve que diminuir a capacidade da fábrica, reduzir o número de empregados e, também, os incentivos aos revendedores, embora venha progredindo na eficiência de sua manufatura. De acordo com um influente estudo de produtividade automotiva, citado pela The Economist (2007, citado por Gobbo, 2010), a GM ostentava quatro das dez mais eficientes plantas de montagem. Ela tinha uma média de 32,36 horas/homem de trabalho para a construção de um veículo, apenas 2,4 mais do que a Toyota. Em 2002, a diferença entre o melhor e o pior das fábricas eram mais de 11 horas, o que representa uma vantagem, em custo, para os japoneses de até 900 dólares por veículo. Para Gobbo (2010), a GM vem passando por um período de deterioração no relacionamento com seus fornecedores. De acordo com um estudo realizado por uma consultoria, do qual participaram os 259 maiores fornecedores da GM, concluiu-se que o custo é o atributo de maior importância na seleção de fornecedores para a GM, ao invés da qualidade. No entanto, os fornecedores preferem negociar com as montadoras japonesas e fixar seus recursos nesta direção, para ganhar maior vantagem competitiva em qualidade. 09 No Brasil, a GM instalou-se em 1930, na cidade de São Caetano do Sul/SP e, posteriormente, abriu mais duas unidades em São José dos Campos/SP e Gravataí/RS. Apesar da unidade de São Caetano do Sul ser uma fábrica com modelo de produção tradicional (com base em produção enxuta), ela é uma das mais complexas e flexíveis fábricas do país. Afinal, em uma única linha são produzidos quatro modelos diferentes de automóveis. Para alcançar o crescimento desejado, a fábrica da GM do Brasil passou por um processo de desverticalização, ou seja, terceirizou alguns processos que eram feitos internamente. Já a GM de Gravataí optou pela implantação do (CI), quando um pequeno grupo de fornecedores diretos da montadora é instalado dentro da planta fabril, participando com uma parte do custo de infraestrutura. Esses fornecedores geralmente fornecem um sistema logístico mais complexo, mas não participam na montagem final, que é feita pela montadora. Atualmente, o grande diferencial da operação é o método criado pela GM dos EUA há cerca de sete anos. Chamado de sistema global de manufatura, esse método prevê a padronização de regras para medir qualidade, prazos, melhorias e participação dos empregados. De acordo com Venanzi (2009, citado por Gobbo, 2010), devido à implantação desse sistema de manufatura, a GM Brasil consegue integrar todos os processos relacionados à produção de automóveis, incluindo desenvolvimento de produtos, manufatura, produção, integração de PLCs robóticos, vendas e distribuição em uma única plataforma inteligente à linha de produção. De modo geral, essa solução melhora a eficiência da fábrica e proporciona uma forte integração entre processos, o que auxilia na tomada de decisões, pois as informações são precisas e atualizadas. Outro fator importante é a flexibilidade necessária para adaptar-se às mudanças, que são mais críticas no chão de fábrica. Quadro 1 – Estratégias de manufatura Montadora Principais estratégias de manufatura Toyota Japão Qualidade – melhoria contínua, just in time. Fiat Itália Engenharia virtual – simulações por computador, eliminando a etapa do desenvolvimento de protótipos. VW Alemanha Sistema de manufatura global, integração de fornecedores, flexibilidade, qualidade e sistema modular de produção. 010 VW Brasil Sistema de manufatura global, consórcio modular (CM), condomínio industrial (CI), sistema modular de produção. GM EUA Reestruturação da fábrica – diminuir a capacidade de produção, reduzir número de funcionários e melhorar o relacionamento com os fornecedores. Adoção de sistema global de manufatura. GM Brasil Desverticalização da fábrica, integração dos fornecedores, sistema global de manufatura, CI e flexibilidade. TEMA 3 – INTERFACES ORGANIZACIONAIS A implantação de estratégias depende certamente da interação com outras áreas da empresa. Marketing e Operações são alguns dos exemplos de funções cujos processos interagem nas atividades estratégicas; na maioria das vezes, são áreas essenciais para o sucesso e a longevidade da organização. Esta interação também é crescente devido ao aumento da velocidade nas mudanças externas aos negócios. Normalmente, as decisões requerem um alto nível de integração entre as operações e o marketing. Elas são altamente relacionadas, pois, ao serem tomadas por uma das funções, terão um impacto direto sobre as decisões e as ações de outra. Quadro 2 – Decisões em áreas diferentes Área de Decisão Manufatura Marketing Desenvolvimento de produto e processo Determinação de mudanças nas capacidades dos processos de produção existentes. Desenvolvimento de novos processos de produção. Determinação de mudanças nas especificações dos projetos de produtos. Desenvolvimento de novos projetos de produto Manufatura e plano de vendas de marketing Determinação da necessidade de capacidades a longo prazo (planejando recursos). Desenvolvimento de planos de produção a longo prazo (planejando a produção). Desenvolvimento da previsão de demanda de longo prazo. Desenvolvimento do plano de vendas. Determinação do tempo de introdução de novos produtos. 011 TEMA 4 – INTEGRAÇÃO ENTRE LOGÍSTICA, PRODUÇÃO E MARKETING Conforme Wanke (2005), existem quatro estratégias principais, associadas entre produção, logística e marketing: 1. descentralizar contra-pedido; 2. descentralizar para estoque; 3. centralizar para estoque; 4. centralizar contra-pedido. A estratégia logística de descentralizar contra-pedido, tratada como postponement, tem sido aplicada em diversos mercados para redução dos prazos de entrega e para obtenção de respostas mais rápidas às variações de demanda. Essa estratégia consiste em postergar etapas da cadeia produtiva para adequação aos requisitos dos clientes. O postponement é usado para proporcionar vantagens competitivas à empresa. É a estratégia da Benetton e da Zara para distribuir roupas ao redor do mundo. Elas fabricam em massa, numa única cor e postergam, o processo de tingir para o país, conforme a moda, época do ano etc. A chamada postponement manufacturing procura combinar eficiência global e especialização receptiva para produzir componentes que sejam padronizados em um local central da economia mundial. Visa realizar o último passo, frequentemente diverso e variado, no processo de manufatura, de maneira descentralizada. Essa estratégia traz várias promessas: redução nos níveis de inventários; benefícios pela distribuição centralizada; cumprimento dos requerimentos de e- business (rápida resposta e entrega de pedidos individualizados); aumento do número de locais de presença; e promoção de serviços logísticos que garantem a satisfação dos clientes. A estratégia logística descentralizar para estoque também é muito comum. Com base em previsões de venda, todas as operações de produção são realizadas antes do envio dos produtos a centros de distribuição. Economias de escala na produção e na distribuição são as principais vantagens dessa política. Apesar da economia de escala, o investimento em estoques é elevado, e os riscos de obsolescência são maiores, além dos gastos com transferência entre instalações. Assim, esta estratégia é mais adequada para produtos de baixa 012 densidade de custos e de alto giro, tais como bens de consumo não duráveis, como alimentos, bebidase produtos de higiene e limpeza. Nesse tipo de estratégia logística, as operações de produção são direcionadas para a formação de estoques a partir de previsões de venda. Daí seu outro nome: estratégia especulativa. Todas as operações de manufatura e logística são concretizadas o mais cedo possível, e os produtos são posicionados próximos aos consumidores, em inventários descentralizados. Há elevado investimento em estoques e os custos logísticos totais podem ser altos, em função da maior quantidade de carregamentos fracionados e da contratação de transporte expresso. Essa política é comum em indústrias de processos contínuos, como petroquímica, celulose e borracha. Essa estratégia também é adotada quando a demanda é previsível; existem poucas opções de produtos e os tempos de entrega são menores que os requeridos para fabricar determinado produto. A estratégia logística centralizar para estoque consiste na centralização das operações de produção/estocagem. Os pedidos são atendidos a partir de estoques centralizados. Esta estratégia reduz os inventários e, consequentemente, o capital necessário. Traz a desvantagem do aumento das despesas com transporte, em decorrência da necessidade de entregas rápidas em pequenas quantidades. Finalmente, existe a estratégia centralizar contra-pedido, na qual as operações de produção são totalmente centralizadas e iniciadas no contra-pedido. Esta estratégia consiste em realizar somente operações de manufatura e logística de contra-pedido dos clientes. O resultado é o baixo custo com inventários de fabricação e logística. A desvantagem é a perda das economias de escala. A partir dos quadros abaixo, é possível estabelecer-se uma matriz de trade- offs (trocas compensatórias) para as diversas estratégias. 013 Quadro 3 – Matriz de Estratégias Logísticas Fonte: Elaborado com base em Pagh; Copper, 1998. Quadro 4 – Custos das Estratégias Logísticas Fonte: Elaborado com base em Pagh; Copper, 1998. TEMA 5 – OS DIFERENCIAIS LOGÍSTICOS E DE MARKETING Os custos logísticos são decorrentes das operações logísticas de uma empresa: suprimentos, conservação física e distribuição. Assim, há despesas a serem relacionadas na hora de elaborar uma estratégia de mercado que não podem ser deixadas de lado. Medições realizadas pelo Banco Mundial indicam a seguinte estrutura dos custos logísticos: Administração: 20,5% Armazenagem: 19%, Estoque: 18,7%, M AN UF AT UR A LOGÍSTICA Produção para Estoque Produção Contra Pedido Inventários Descentralizados - Utilização de Centros de Distribuição Estratégia Descentralizar Para Estoque ou Especulação Estratégia Descentralizar Contra-Pedido ou Postponement de Manufatura ou Postponement de Nível Baixo Inventários Centralizados - Distribuição Direta Estratégia Centralizar Para Estoque ou Postponement Logístico ou Postponement de Nível Médio Estratégia Centralizar Contra-Pedido ou Postponement Pleno ou Postponement de Nível Alto M A N U FA T U R A LOGÍSTICA Produção para Estoque Produção Contra Pedido Inventários Descentralizados - Utilização de Centros de Distribuição Baixos custos de produção Altos custos com estoques Baixos custos de distribuição Altos níveis de serviços Médios e altos custos de produção Médios e altos custos com estoques Baixos custos de distribuição Médios e altos níveis de serviços Inventários Centralizados - Distribuição Direta Baixos custos de produção Baixos e médios custos com estoques Altos custos de distribuição Baixos e médios níveis de serviços Médios e altos custos de produção Baixos custos com estoques Baixos custos de distribuição Baixos níveis de serviços 014 Trâmites Legais: 10,10%, Transporte: 31,8%. Lembramos que, no Brasil, normalmente os custos de transporte são elevados, devido às grandes distâncias a serem percorridas pelo modal rodoviário, com custos elevados (Oliveira, 2011). A partir de uma perspectiva que trata o custo como principal preocupação, é preciso reduzi-lo ao máximo para o sucesso das operações. Para tanto, algumas técnicas são aplicadas com vistas à eficiência operacional. Entre elas, está o crossdocking, que é a transposição da mercadoria em uma doca de um veículo para outra, sem a necessidade de armazenamento prévio. Outra técnica bastante utilizada é a consolidação de cargas, que consiste em compactar a carga em um veículo grande a partir de outros pequenos. Em síntese, pequenos lotes de carga são carregados em um mesmo veículo, e com é possível reduzir o custo do frete, ganhar em escala e melhorar o nível de serviço ao cliente. Outro fator importante é a armazenagem dos produtos e a gestão eficiente da estocagem. Assim como a gestão do transporte, a escolha do armazém varia: pode ser de natureza própria, alugado ou geral, podendo impactar os custos pertinentes às operações. Se for o caso, opta-se por uma relação cuja gestão do serviço fique à cargo da empresa especializada. Também é possível reduzir custos por meio de terceirização, ou outsourcing. Um exemplo prático: muitas empresas terceirizaram a limpeza, enquanto outras terceirizaram a segurança. Então, em vez de controlar a faxineira ou o guarda, passa-se a contratar uma empresa de limpeza, diminuindo as despesas e ampliando o foco no negócio propriamente dito. Em meados de 1987, consultorias estratégicas procuraram a italiana Pirelli, fabricante de fios, cabos e pneus, e levantaram a seguinte questão: “Ao invés de investirem milhões em um sistema de armazenagem, por que não transferir para alguém com competência à gestão da logística?”. A conclusão dos executivos foi que esses milhões deveriam ser investidos em tecnologia de produto; surgia assim, a primeira operação logística terceirizada por uma grande indústria na Europa. A transportadora Fintransporti ficou responsável pelas operações. Esse movimento no Brasil ocorreu por volta de 1989, quando foi criada a Brasildocks, que atendia a Pirelli. Já no final da década de 1990, grandes empresas chegaram ao Brasil, caracterizando a expansão desta atividade. Em 1991, foi a vez da Philips criar uma divisão de distribuição física, denominada DDF. Então, empresas como Ryder, TNT Logistics, Exel e DHL passaram a atuar como operadores logísticos. 015 Segundo Oliveira (2011), o profissional de logística precisa ir além desses conceitos. Ele precisa viabilizá-los concretamente, por meio de transporte adequado, armazéns e depósitos estrategicamente localizados. A logística é muitas vezes confundida com transporte, coleta/entrega, armazenagem etc., mas sua característica principal é a integração sistêmica com o restante da empresa, principalmente o marketing. Enquanto o profissional de marketing se preocupa exclusivamente com a criação de produtos e sua aceitação no mercado, o profissional de logística está focado em operações de distribuição, as quais compreendem outros aspectos que impactam as operações. Assim, produto, preço e promoção fazem parte do universo dos profissionais de marketing, enquanto a praça faz parte do universo do profissional de logística, ainda que ele precise compreender toda a cadeia produtiva, por sua responsabilidade operacional. Trata-se de visões diferentes, mas não há nada de errado nisso. O que existe na verdade é uma visão característica do profissional atuante: a busca deve ser pela harmonização dos conhecimentos e pela aplicabilidade, em prol do sucesso profissional de ambos. FINALIZANDO As quatro abordagens de estratégias de operações dependem da cultura organizacionale do momento de mercado da empresa. Entretanto, devem sempre estar relacionadas com os objetivos da organização. No que se refere à relação entre logística e operações também é possível obter quatro modos de operação. Entre eles, os mais comuns são: descentralizar para estoque, muito comum na indústria de produtos de baixo valor agregado, e centralizar contra-pedido, processo comum na indústria de bens de capital. No entanto, mais recentemente as empresas veem aplicando o postponement, em resposta à nova tendência de customização em massa. Por fim, é preciso associar esses modelos com a estratégia de marketing e vendas. 016 REFERÊNCIAS GOBBO, S. C. de O. Uma análise das estratégias de manufatura adotadas por seis montadoras da indústria automobilística mundial. Revisto Gepros, São Paulo, ano 5, n. 3, p. 11-28, jul./set. 2010. Disponível em: <http://revista.feb.unesp.br/index.php/gepros/article/view/367/313>. Acesso em: 16 nov. 2017. OLIVEIRA, F. M. Visão crítica entre logística e marketing. Portal Administradores, João Pessoa, 11 mar. 2011. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/visao-critica-entre- logistica-e-marketing/53027/>. Acesso em: 16 nov. 2017. PAGH, J. D.; COOPER, M. C. Supply Chain Postponement and Speculation Strategies: How to choose the right strategy. Journal of Business Logistics, v. 19, n. 2, p. 13-33, 1998. WANKE, P. F. Dinâmica da Estratégia Logística em Empresas Brasileiras. Revista de Administração de Empresas, v. 45, n. 4, out./dez. 2005. _____. O impacto das características do negócio nas decisões logísticas e na organização do fluxo de produtos: um estudo exploratório em seis setores econômicos. Revista de Administração Contemporânea, vol. 7, n.3, pp.163- 180, 2003.
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