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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB CAMPUS XVIII – EUNÁPOLIS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS – DCHT COLEGIADO DE LETRAS DISCIPLINA: SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA I DOCENTE: DIEGO RAMON SOUZA PEREIRA 1° SEMESTRE Resenha Crítica DISCENTES¹: LÉSLIE SOARES LÍNICA MACEDO MARCELO BORGES MARIA CLARA ASSUNÇÃO NÚBIA COSTA RAFAELA BALBINO VALÉRIA BRITO Orientadora: Andréia Cristina Freitas Barreto FREIRE, Paulo: A Importância do Ato de ler: em três artigos que se completam. 30. ed. São Paulo: Editora Cortez, 1995. Nascido no ano de 1921, Paulo Freire foi, e ainda é, um dos educadores brasileiros mais citados e referenciados em conteúdos que versam sobre educação, pedagogia e metodologias de ensino. A relação ensino-aprendizagem freireana dá conta de uma educação pautada na reflexão, autonomia e liberdade, dando ao educando possibilidades de chegar à construção do conhecimento. Grande parte de seu acervo de livros, que datam do final da década de 1960 até o final da década de 1990, dão conta de uma pedagogia libertadora, que foge dos padrões normativos da educação da época e que revolucionou metodologias de ensino ao longo do país, com trabalhos desenvolvidos até mesmo em âmbito internacional. Uma dessas obras intitula-se “A importância do ato de ler”, de 1981, que apesar de trinta e sete anos após a publicação de sua primeira edição, ainda se mostra atual e com uma temática relevante para o contexto educacional vigente. Trata-se de compilações de uma palestra de Paulo Freire com o mesmo tema que o livro carrega. A referida palestra ocorreu na República Democrática de São Tomé e Príncipe, localizada no Golfo da Guiné pertencente à porção da África Equatorial. Como está prefaciado, “o presente livro de Paulo Freire constitui-se em uma palestra sobre a importância do ato de ler em uma comunicação sobre as relações da biblioteca popular com a alfabetização de adultos e em um artigo que expõe a experiência de alfabetização de adultos desenvolvida pelo autor e sua equipe em São Tomé e Príncipe.” (FREIRE, 1995, p.7) A obra é dividida em três partes que se integram, complementando o tema central que é justamente como a leitura se mostra como elo fundamental entre a curiosidade e o conhecimento, mostrando como o ato de ler ajuda no desenvolvimento do ser humano, principalmente nas primeiras fases da educação básica, que são justamente a alfabetização e o letramento. Contudo, para o autor a leitura de mundo precede os conhecimentos dos signos alfabéticos, pois existe a leitura sensorial do mundo ao redor, a interpretação das ações do cotidiano e a experiência das práticas diárias. Os três artigos são agrupados na seguinte ordem: “A importância do ato de ler”, “Alfabetização de Adultos e Bibliotecas Populares – uma introdução” e “O povo diz a sua Palavra ou a Alfabetização em São Tomé e Príncipe”. A obra contém oitenta e sete páginas e segue uma ordem cronológica com capítulos que se complementam. Foi escrito de um modo menos formal e apresenta uma linguagem de fácil compreensão, onde é narrado em primeira pessoa, já que, constitui-se em uma palestra realizada em um congresso, no qual o autor aborda acerca da leitura, escrita e sua importância, evidenciando a percepção crítica em relação à alfabetização de adultos e o papel de uma biblioteca popular. No início da obra, Freire aborda sobre suas experiências, retomando a sua infância, no momento em que ainda não lia, relembrando o seu processo de alfabetização, no qual, através do apoio de sua família e da sua rica experiência de leitura do seu mundo, foi alfabetizado no chão do quintal de sua casa. O autor afirma que os professores na sua prática tem que levar em consideração, que a pessoa tem uma leitura do mundo, previamente ao ato de ler palavras, frases e sentenças, no qual, não implica em uma ruptura com a “leitura” do mundo, uma vez que, os dois estão relacionados. Em uma percepção crítica o autor menciona que o ato da leitura deve acontecer de forma natural, pois é necessário despertar a curiosidade dos alunos de uma maneira que seja dinâmica, onde realmente aprendam a sua significação e não a memorização mecânica, sem a compreensão do verdadeiro significado. Mais adiante o autor traz a sua definição de alfabetização e relata sobre a sua concepção, em relação a forma que enxerga o processo de alfabetização de adultos, no qual, ressalta que em qualquer relação de professor e aluno, existe a necessidade do auxílio do mestre, entretanto o educador necessita ser criativo, uma vez que, a teoria e a prática devem está relacionados, pois o educando aprende com maior facilidade quando a sua aprendizagem está relacionada com a sua vivência. Em uma análise crítica do ato de ler, o autor reafirma que antes da leitura da palavra, acontece a leitura do mundo, sendo que um dos aspectos centrais para ele, no processo de alfabetização é o movimento dinâmico, isto é, do mundo à palavra e da palavra ao mundo, ou seja, o letramento caracteriza-se pela leitura do nosso mundo, entendendo o nosso próprio contexto, precedendo ao aprendizado da leitura e escrita de palavras, visto que o ato de ler envolve a noção do leitor acerca de seu entendimento do mundo e sua concepção crítica. Já no segundo capítulo Freire, aponta que é através da percepção crítica da leitura, que acontece a construção do conhecimento. Em seguida trazendo uma visão crítica, relata a impossibilidade da separação, a cerca da política ao processo educativo, pois conforme o autor a educação não pode ser neutra, uma vez que, não é possível refletir sobre a educação sem antes refletir a questão do poder. Mais adiante o autor traz um ponto muito interessante, no qual, aborda sobre uma educação libertadora, ou seja, a importância do mestre em escutar seus alunos, não impondo suas ideologias e respeitando o ponto de vista discordante. “Só educadoras e educadores autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o ato de serem educados pelos educandos; só eles separam o ato de ensinar do de aprender, de tal modo que ensina quem se supõe sabendo e aprende quem é tido como quem nada sabe.” (FREIRE, 1995, p.17.) Ainda neste capítulo o autor discorre sobre a alfabetização de adultos e pós- alfabetização, que requer esforços no sentindo de uma correta compreensão do que é a palavra escrita, a linguagem, as relações como o contexto de quem fala, de quem lê e escreve, compreensão, portanto da relação entre leitura do mundo e leitura da palavra. Daí a importância das bibliotecas populares, o autor critica a posição da biblioteca na sociedade, dizendo que ela deveria ser como um centro cultural, e não como um depósito silencioso de livros. Ele afirma ainda a importância da biblioteca popular apontando como finalidades a estimulação de trabalhos em grupos, a criação de seminários de leituras, e também uma proposta aos leitores de viver uma experiência estética, de que a linguagem popular é intensamente rica. No terceiro capítulo o autor descreve as suas experiências em São Tomé e Príncipe, e sua metodologia utilizada para a alfabetização e pós-alfabetização de adultos. Ele divide o capítulo em duas partes, na primeira parte ele descreve a sua metodologia como desafiadora e não doméstica, desafiadora por que incentivava os alunos a pensarem na realidade em que eles estavam submetidos. Já na segunda parte do capítulo o autor discorre sobre os materiais utilizados para chegar ao seu objetivo, de fazer com que os alunos não aprendessem apenas a leitura do texto, mais que compreendesse também o contexto. O autor utiliza dois cadernos de cultura popular, sendo que o primeiro é aplicado na alfabetização, o caderno é compostode textos claros e de fácil leitura e de incentivos a prática da leitura. No segundo caderno o qual se inicia a pós-alfabetização, é composto por textos maiores do que no primeiro livro mais que corresponde a mesma linguagem, mais que trata de temas ligados à situação atual do país, os textos têm uma pretensão de que o leitor se entregue a curiosidade e desperte o seu lado crítico, fazendo também com que eles não leiam os textos mecanicamente. A presente obra freireana dá conta de uma educação pautada na leitura e compreensão não apenas das letras, frases, orações e textos, mas principalmente uma leitura de mundo, da qual o leitor imerge e começa a refletir sobre o papel da educação na vida de um indivíduo. Obviamente, com a aprendizagem da leitura, todas as dimensões do saber se tornam mais amplas, pois o conhecimento prático se integra ao conhecimento teórico ao dialogar com a experiência vivida. A obra “A importância do ato de ler” de Paulo Freire pode ser recomendada para educadores em geral e estudantes de licenciaturas, pois por ser uma obra reflexiva, incentiva o leitor a ser consciente do seu papel enquanto cidadão e como colaborador dentro da sociedade a qual está inserido, fazendo-o perceber os direitos e deveres do outro como também a ocupar seu lugar e tomar posse dos seus próprios direitos. O livro é muito mais sobre como o indivíduo deve se enxergar no contexto do seu mundo, do que simplesmente sobre aprender a ler e escrever, é sobre compreender a relação da pessoa com o mundo. É importante tanto para quem ensina quanto para quem é ensinado, pois faz refletir que o conhecimento é uma troca entre mestre e aluno. Lemos, Léslie Soares; Rodrigues Línica Macedo; Borges, Marcelo Pereira Gonzaga; Costa, Núbia Silva; Balbino, Rafaela Santos e Nascimento, Valéria Brito. ¹Acadêmicos do curso de letras língua portuguesa e Literatura da Universidade do Estado da Bahia, Campus de Eunápolis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, Paulo: A Importância do Ato de ler: em três artigos que se completam. 30. ed. São Paulo: Editora Cortez, 1995.
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