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Há direitos autorais sobre este material, portanto é proibida a sua distribuição em qualquer meio de comunicação. 1 G a b r i e l a G o m e s d a S i l v a | P s i c o l o g i a | 6 º p e r í o d o | @ p s i c o m g a b i RESUMO P1 E P2 PSICOLOGIA ESCOLAR O QUE É? É a prática do psicólogo no atendimento às demandas escolares. Dentro de uma perspectiva crítica em Psicologia, é a clínica ampliada, pois tira o psicólogo do consultório para atuar em outro espaço. Tem o objetivo de trabalhar para evitar ações que medicalizem e judicializem a educação, estudando a patologização do que é pedagógico e prestando orientação à queixa escolar. POR QUE A CRIANÇA NÃO APRENDE? Há um número muito grande de crianças e adolescentes com queixas de aprendizagem na escola. Nesses casos, a escola relata: Problemas de aprendizagem: alfabetização e letramento, come letras, copista (só copia mas não entende o que escreveu), letra feia, dificuldade de interpretação, dislexia, etc; Problemas de comportamento: desatento, apático, agressivo, não faz lição, TDAH, TOD, é muito calado, distraído; Não aprende porque "tem um problema emocional", "de personalidade", "transtorno neuropsicológico", "disfunção cerebral mínima"; Não aprende porque tem uma família disfuncional; Não aprende porque tem problemas de nível socioeconômico, contexto de alta vulnerabilidade; Esse olhar é muito unilateral para intervir nos processos de escolarização. Não se considera o lugar em que essa criança aprende. São concepções patologizantes: "criança anormal", "criança problema", "criança carente cultural", "criança com distúrbio de aprendizagem" (destino selado, criança fadada a nunca aprender). O tirocínio diagnóstico é muito comum: atribuir patologias à criança sem nenhuma investigação científica prévia, acarretando a medicalização da educação e da vida. A criança se sente portadora de uma doença, internalizando uma compreensão sobre si mesma de pessoa doente. COMO A PSICOLOGIA TEM TRATADO ESSE TEMA? Através de: Psicodiagnóstico clínico (anamnese com a família sobre os processos de desenvolvimento, relações familiares, entrevistas com a criança, com a escola, encaminhamento para exames neurológicos, aplicação de questionários); Testes psicológicos; Visita à escola para escuta; Por fim, a elaboração de laudos. O psicólogo é um especialista que legitima a condição de adoecimento, dependendo do que tem no laudo. Dentro do psicodiagnóstico, a escola não é incluída na compreensão da queixa. TRATAMENTO OFERECIDO PARA A CRIANÇA COM PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM Psicoterapia e orientação familiar, atribuindo a criança ou a família como causadores do problema; Educação especial, tirando a criança do contexto de uma escola comum; Psicopedagogia; Educação compensatória e estimulação precoce; Medicamentos, quando o problema é atribuído a um problema neurológico. Todas essas ações são questionadas pela Psicologia Escolar crítica. Demandas que nascem na escola devem ser tratadas na escola, e a escola deve ser incluída na compreensão do problema levantado. CRÍTICAS AO ATENDIMENTO CLÁSSICO TRADICIONAL A compreensão dos problemas escolares é feita a partir da criança e da família, sem incluir a escola, portanto na intervenção psicológica os processos de escolarização ou a dimensão institucional não são levadas em conta como origem das dificuldades da criança. Nós devemos fazer uma análise sistêmica, e para isso é necessário incluir a escola na análise. CRÍTICAS A PARTIR DOS ANOS 70 A partir da década de 70, começou a nascer a compreensão de que é uma rede de fenômenos que compromete a possibilidade de aprender. Surge nesse período a Psicologia Escolar crítica que questiona qual a função social da escola, acompanhada pelo marco que é o livro de Maria Helena Souza Patto – “Psicologia e ideologia”; depois “A produção do fracasso escolar”. A função social da escola é a de formar cidadãos críticos, ampliando seus valores democráticos, e que eles possam desenvolver um pensamento científico. Quando a escola oferece um espaço que favoreça a apropriação do conhecimento, o aluno aproveitará melhor os processos de aprendizagem. Há direitos autorais sobre este material, portanto é proibida a sua distribuição em qualquer meio de comunicação. 2 G a b r i e l a G o m e s d a S i l v a | P s i c o l o g i a | 6 º p e r í o d o | @ p s i c o m g a b i QUEIXA ESCOLAR São os encaminhamentos que chegam da escola para a Psicologia e retratam as dificuldades vividas no processo de escolarização. A queixa escolar é constituída a partir do conjunto de relações individuais, sociais e institucionais. Essa concepção busca romper com o modelo clássico tradicional no sentido de diagnóstico e intervenção, pois o foco da análise é o processo de escolarização, buscando uma compreensão sistêmica do funcionamento escolar. FATORES QUE CONSTITUEM O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO Políticas educacionais; Relações institucionais; Relações escolares; Aspectos pedagógicos; É promovida, nesse sentido, a escuta ao aluno e família e a leitura da escola sobre o caso. COMO INTERPRETAR O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO Através da compreensão dos fenômenos psicológicos, pedagógicos e sociais como produtos do processo de escolarização, da interpretação dos processos de aprendizagem e desenvolvimento como fenômenos interdependentes, e do olhar para o desenvolvimento do aluno e para as situações de aprendizagem. Os processos de avaliação da escolarização devem expressar a complexidade da vida escolar. Levamos em consideração o conjunto de fenômenos que permeiam a relação da criança com a escola. A pergunta “por que a criança não aprende?” muda para “o que acontece no processo de escolarização que faz com que a criança não se beneficie da escola?”. Existem funcionamentos adoecidos e adoecedores na escola, que geram o fracasso e vitimizam todas as pessoas que compõem esse sistema. É o funcionamento institucional que é patológico, não a criança ou a família, portanto a queixa escolar é um sintoma, não uma doença. Vygotsky destaca o nível de desenvolvimento real: o que a criança já sabe fazer; e o nível de desenvolvimento potencial: o sujeito ainda não tem o conhecimento ou precisa de ajuda para fazer. Entre os dois níveis está a zona de desenvolvimento proximal e é nessa parte que atuamos enquanto psicólogos. Nós ajudamos o sujeito a reconhecer aquilo que ele já internalizou e construímos uma rede para elaborar estratégias. CASO “GABRIELA NÃO LHE FICA” Segunda série, repetente, trocou de escola 4x, não sabe ler e escrever; Em 4 anos tem três psicodiagnósticos, fez o WISC pelo menos seis vezes; Família de imigrantes, quatro filhos, sendo Gabriela a mais nova, nas mulheres havia problemas patológicos, nos homens não; Atitude desqualificada e desvalorização da mãe em relação à Gabriela; O problema começou na segunda série, em que Gabriela não conseguia formar frases; A mudança constante de escola a impediu de criar qualquer vínculo; a psicoterapia colocou a criança na condição de incapaz, quando devia ser um instrumento de mediação para introduzir à língua. Nossa intervenção se pauta a partir da visão de que o problema não está nela, e sim no sistema que o produziu. A partir daí, identificamos suas potências, quais conhecimentos estão internalizados nela e em nível real. MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO Quando as questões da vida social que afetam o sujeito fazem com que ele apresente sintomas, no processo de medicalização esse adoecimento é considerado uma patologia do próprio indivíduo. São questões identificadas considerando apenas próprio sujeito. Nesse sentido, os problemas da esfera da vida humana são transformados em questões biológicas. A pessoa é tratada como causa e origemdo problema. Aqui, o contexto não é considerado como produtor do adoecimento, então ele não é tratado, e sim o sujeito. A vida cotidiana é transformada numa doença. Isso produz uma epidemia de diagnósticos. A indústria farmacêutica investe mais em marketing (para vender o medicamento) do que em pesquisa e desenvolvimento, e o medicamento é o instrumento que mantém a cultura da medicalização. SOCIEDADE MEDICALIZADA O Brasil é o 2º país com maior consumo de Ritalina (metilfenidato - droga da obediência); Ano 2000: 71000 caixas; Ano 2008: 1.147.000 caixas. O não aprender é uma denúncia de que algo não está bem na escola Muitas vezes a criança se sente atacada na escola, e começa a agir agressivamente. Aí entra a medicalização por ser “hiperativa”. Há direitos autorais sobre este material, portanto é proibida a sua distribuição em qualquer meio de comunicação. 3 G a b r i e l a G o m e s d a S i l v a | P s i c o l o g i a | 6 º p e r í o d o | @ p s i c o m g a b i A disponibilidade de medicamentos cria a necessidade de automedicação; a precarização dos equipamentos públicos de saúde no Brasil contribui com a cultura da medicalização (demora na marcação de consultas e exames, etc). Além disso, o processo de medicalização nega os direitos conquistados pelo Estatuto da Criança e do Adolescentes (ECA), no sentido de patologizar a criança. Há também uma naturalização dos aspectos sociais patologizantes: trânsito, condições de trabalho precárias, etc. Reducionismo biológico: reduzimos qualquer problema da esfera humana a uma causa biológica, sem considerar os aspectos sociais e do contexto em que o sujeito ocupa. MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO A concepção dominante é de que a questão levantada pela queixa escolar é de ordem individual e orgânica. Existe uma ideologia que explica o fracasso escolar pelos próprios atores da escola; e uma política pública que busca no aluno a causa das suas dificuldades. Projetos de lei na esfera macro » PL 321/2004: Programa Estadual para Identificação e Tratamento da Dislexia na escola (ir até a escola e identificar crianças com dislexia, sem levar em consideração os processos de ensino e aprendizagem); etc; Esfera micro » Boletim escolar » Individualização da queixa e encaminhamento (não se leva em consideração as diferenças individuais no processo de aprendizagem) » Tirocínio diagnóstico » Problemas familiares aparecem como justificativa dos comportamentos desviantes *O primeiro passo do psicólogo escolar é romper com a esfera micro. DA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE É comum que ignorem a história do processo de escolarização, mas se o problema foi identificado na escola, deve ser tratado na escola. É necessário incrementar a formação dos profissionais de saúde quanto a compreensão dos problemas de escolarização. A definição das dificuldades escolares como "transtornos" alivia a família e a escola, porque o problema e solução foram "descobertos". O DSM leva em consideração sintomas externos, e mantém a questão da medicalização, gerando diagnósticos classificatórios e não explicativos. A dislexia, segundo o DSM-5, está ligada ao processo de alfabetização e letramento. No protocolo diagnóstico, não se investigam as questões intraescolares ou a história do processo de escolarização do sujeito. A pergunta que fazemos é: como ocorreu o processo de alfabetização? *Há evidências de que a orientação de pais tem mais eficácia do que a medicalização. Por que patologizar os processos de escolarização?; TDAH, TOD e dislexia são transtornos do aluno ou patologizas produzidas no sistema escolar?; A vida confinada (escola - muros) e longe da natureza contribui com a medicalização e quadros depressivos nos alunos e professores. Aumento de casos de depressão, ideação suicida, automutilação e violência; Professores diagnosticados com síndrome de Burnout (mas não se fala das condições precárias de trabalho que levam ao Burnout). COMO DESMEDICALIZAR A ESCOLA? Compreender que o processo de aprendizado não acontece apenas na sala de aula; Ouvir as crianças; Proporcionar passeios, visitas de campo, excursões e contato com a natureza; Desspatologizar a infância e adolescência; Oferecer alternativas que instiguem o desejo do aluno por permanecer na escola; Reorganizar a rotina da escola, pensando no equilíbrio entre as atividades escolares e o brincar; Tornar o professor menos controlador e mais mediador. JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO A fragilidade do diálogo entre os elementos que integram o processo de escolarização (gestores, professores, pais, alunos) causa problemas na busca por soluções dos conflitos cotidianos da escola, o que faz com que esses conflitos sejam judicializados e resolvidos pela justiça. Exemplos de judicialização da educação: Matrícula; Aceleração de estudos (superdotados que avançam séries só têm esse direito expresso em legislação); Brigas e/ou acidentes no interior da escola: quando acontece algo com a criança e a família processa a Populações que mais sofrem com a medicalização: crianças em idade escolar, adolescentes e adultos em privação de liberdade, usuários que necessitam de atenção em saúde mental, pessoas com mais de 60 anos Análise do processo, não só do produto Há direitos autorais sobre este material, portanto é proibida a sua distribuição em qualquer meio de comunicação. 4 G a b r i e l a G o m e s d a S i l v a | P s i c o l o g i a | 6 º p e r í o d o | @ p s i c o m g a b i escola. Ex: uma criança quebrou o braço e a mãe entrou na justiça. Como consequência, a diretora proibiu que as crianças brincassem no intervalo dali em diante. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NA ESCOLA Resolução nº 9, de 25 de abril de 2018 - CFP Art. 1º - Avaliação Psicológica é definida como um processo estruturado de investigação de fenômenos psicológicos, composto de métodos, técnicas e instrumentos, com o objetivo de prover informações à tomada de decisão, no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas, condições e finalidades específicas. PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DENTRO DA ESCOLA Para determinadas queixas, a avaliação tradicional é necessária. Mas quando a queixa é escolar, o modo de avaliação deve ser crítico, pois na perspectiva clássica o olhar recai para o sujeito; na crítica o olhar contempla toda a rede de relações que produz a queixa. No modelo clássico/tradicional, a criança é o objeto de análise, e busca-se compreender "qual o problema dela", investigando a criança e a relação com a família. A avaliação é feita através de anamnese, entrevistas, sessão lúdica, sessão com os pais, aplicação de testes e encaminhamento. O resultado final é a elaboração de um laudo que atesta alguma patologia e a criança é encaminhada para tratamento com o objetivo de adaptá-la ao funcionamento da escola. Laudos são reducionistas; Numa avaliação crítica, o objetivo é mudar as práticas e processos de escolarização que facilitem o processo de aprendizagem; Quando a queixa não é escolar, os testes são muito importantes. CRÍTICAS DE PATTO AOS TESTES PSICOLÓGICOS Técnico demais, impossibilitando uma intervenção criativa na aplicação; Testes não correspondem à realidade da condição brasileira, sobretudo de crianças pobres; Avaliação pautada na aptidão e quantificação, e esse número concretiza o lugar que a criança ocupa; Rapidez da resposta como definição de inteligência; Uso exclusivo de psicólogos. O QUE OS LAUDOS NÃO DIZEM Os laudos não dizem o quanto o Estado defende os interesses das classes dominantes e nem que o poder público sempre tratou a educação com descaso, promovendo o sucateamento da rede pública; não demonstram a insatisfação dos professores diante das más condições de trabalho; que a escola é produtora deexclusão; que os resultados dos testes dependem e muito do processo de escolarização. Ou seja, os testes psicológicos resultam em um psicologismo que deposita no sujeito a causa das suas dificuldades escolares. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA SOB A PERSPECTIVA CRÍTICA Primeiro de tudo, é necessária uma reinvenção da avaliação psicológica. Na perspectiva da Psicologia escolar crítica, a avaliação psicológica deve investigar a rede de relações que produz a queixa, não tão somente o sujeito. Se a queixa é produzida coletivamente, a intervenção deve se pautar nas relações escolares, potencializando todos os envolvidos. ATENDIMENTO PSICOLÓGICO À QUEIXA ESCOLAR Na perspectiva clássica, após o psicodiagnóstico é produzido um laudo (que muitas vezes legitima uma doença que a criança não tem), e a escola procede a partir desse laudo (encaminha para a terapia; coloca em educação especial; educação compensatória; estimulação precoce). Na perspectiva crítica, não se faz psicodiagnóstico. O olhar do psicólogo vai para a rede que produz a queixa, sendo o aluno apenas um dos elementos; vai para as políticas públicas implantadas na escola e como elas interferem no processo de escolarização; quais as relações institucionais; aspectos pedagógicos para tentar entender o que acontece na sala de aula que produz a queixa. Aprendizagem e desenvolvimento são inseparáveis. Devem existir situações de aprendizagem que possibilitem que o sujeito internalize o conhecimento. Os processos de avaliação da escolarização incluem toda a rede de relações, então se observa toda a complexidade da vida escolar. Existe uma ação reducionista que leva a uma conduta de medicalização: Reducionismo biológico; Tratamento medicamentoso; Diagnósticos classificatórios e não explicativos; Não considerar questões intraescolares, pedagógicas, sociais e econômicas; Não considerar o que acontece dentro da escola. Na crítica a esse processo, se propõe um olhar crítico, a análise do processo de escolarização e condução a partir de uma abordagem histórico-cultural. Dialogar com a escola e inclui-la na investigação e na intervenção Há direitos autorais sobre este material, portanto é proibida a sua distribuição em qualquer meio de comunicação. 5 G a b r i e l a G o m e s d a S i l v a | P s i c o l o g i a | 6 º p e r í o d o | @ p s i c o m g a b i é fundamental; potencializar e fortalecer recursos internos do aluno e do professor; considerar o funcionamento das relações escolares; enfim – entender como um problema coletivo e não individual. A psicologia escolar vê a importância de se investir em ações de melhoria para a escola, em que os processos de escolarização fossem mais bem-sucedidos e diminuísse a tendência de encaminhamentos médicos. Os psicólogos vêm ampliando as intervenções com o intuito de problematizar e reverter funcionamentos produtores de fracasso escolar. LACUNAS NA AÇÃO DO PSICÓLOGO É preciso: Rever o atendimento tradicional às queixas; Desenvolver uma abordagem que supere as dificuldades das práticas tradicionais; Incluir a escola na investigação e intervenção. A escola é parceira na compreensão da queixa e estratégias de enfrentamento; Fazer perguntas como: » Em que tipo de classe ele está? » Quantas professoras teve esse ano? » Onde o aluno se senta na classe? » Com que frequência ocorrem faltas de professores? » Em que momento da trajetória escolar surgiu a queixa? Criar uma interlocução com a escola; Investigar as pertenças sociais do indivíduo (camada socioeconômica, grupo étnico, religião) e seus desdobramentos. ALGUNS FUNCIONAMENTOS DO SISTEMA ESCOLAR QUE PRODUZEM SOFRIMENTO Dos órgãos centrais que regimentam o funcionamento da escola Burocracia que cria problema no cotidiano da escola (ex: professor às vésperas de se aposentar, sai a aposentaria em maio e aí ele vai embora); Políticas públicas implantadas de maneira autoritária e desorganizada que na verdade deveriam ser implementadas. Das unidades escolares Ausência de espaços sistemáticos de reflexão, falta de diálogo; Ausência de um projeto político-pedagógico; Falta de apoio e orientação aos professores e gestores; Saberes desconsiderados; Da relação escola-pais Exclusão de decisões sobre os filhos; Alvo de mitos e preconceitos; Tratados como usuários de favores. Da sala de aula Homogeneidade (todo mundo aprendendo na mesma hora, do mesmo jeito); Pedagogia repetitiva e desinteressante; Encaminhamentos a especialistas. ORIENTAÇÃO À QUEIXA ESCOLAR Os psicólogos devem: Olhar o processo de escolarização e todos os fatores que influenciam a queixa; Contemplar a tríade aluno-escola-pais; Ir contra as práticas adaptacionistas, conquistando uma movimentação que se direcione no sentido de desenvolver todos os agentes ao redor da queixa. PRINCÍPIOS DA ORIENTAÇÃO À QUEIXA Colher e problematizar a versão de cada participante da rede; Circular a compreensão sobre a queixa, oferecendo as diferentes perspectivas sobre a ela, buscando novas leituras e soluções; Identificar e fortalecer as potências de todos; Cuidar das relações dos participantes da rede; Atenção à singularidade, pois não há padronização em procedimentos; Atendimento é breve, 6 a 8 encontros; Atendimento é focal, pois se centra na queixa escolar. Se vê a queixa e o que está por trás dela, dialogando em rede. *Não aplicamos teste e não fazemos psicodiagnóstico. ATITUDE DO PSICÓLOGO A postura do psicólogo deve ser ativa e a manutenção da queixa horizontal, pois não existe uma hierarquia, a intervenção é baseada no diálogo entre todos os agentes. ESTRUTURA DO ATENDIMENTO Triagem (com as famílias; apresentamos a modalidade de atendimento que oferecemos; colhemos informações dos responsáveis sobre as queixas; verificamos se a queixa é ou não de natureza principalmente escolar; é dado um relatório para que a família leve até à escola para um professor responder); Encontros com as crianças (levar jogos; colher a versão da criança sobre a queixa; dar protagonismo Há direitos autorais sobre este material, portanto é proibida a sua distribuição em qualquer meio de comunicação. 6 G a b r i e l a G o m e s d a S i l v a | P s i c o l o g i a | 6 º p e r í o d o | @ p s i c o m g a b i para a criança; perceber suas dificuldades e reinstaurar a esperança; instrumentalizar a criança para a situação de dificuldade que se encontra; fortalecer suas potencialidades); Interlocução com a escola (buscar uma relação horizontal com os educadores; não desqualificar seus saberes; ouvir a versão dos professores; valorizar seus recursos e levar sugestões); Entrevista de fechamento (construir uma releitura do caso; produzir um relatório de avanços); Acompanhamento (3-4 meses depois falamos com a família, escola e criança para buscar saber como estão. Esse tipo de atendimento não tem evasão, e sempre ouvimos que as questões em relação à queixa minimizaram. ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NAS DIFICULDADES DE COMPORTAMENTO A escola reproduz os valores e regras impostos pela sociedade, e nem sempre assegura o exercício de uma cidadania ativa. Os processos de vida se dão nas relações, daí a importância de o psicólogo trabalhar os conflitos e violências muitas vezes produzidos dentro da escola. Não se pode compreender a educação sem inseri-la no contexto de política econômica, pública e social que atravessam o cotidiano da escola. Devemos conhecer as direções éticas e políticas da escola; isso se manifesta nas ações de todos lá dentro. A construção de um projeto político-pedagógico é um desafio para a comunidade. ASPECTOS QUE O DOCUMENTO REFERÊNCIAS TÉCNICAS PARA PSICÓLOGOS APONTA Almejamos um conhecimento científico crítico, criando espaços de problematização e diálogo naescola para responder à exclusão social, violência, discriminação, intolerância, desigualdade; Construção de relações democráticas, rompendo com a medicalização, judicialização, patologização dos professores e estudantes; Não neutralidade da educação/escola como um espaço para reflexões sobre gênero, racismo, LGBTfobia, sexismo, capacitismo, etc; Necessário o envolvimento do psicólogo no controle social das políticas públicas de educação (participando dos conselhos municipais e estaduais). DIFICULDADES QUE PRECISAM SER ENFRENTADAS Políticas públicas são hierarquizadas; Políticas públicas desconsideram a história profissional dos profissionais que estão na escola; Políticas públicas não levam em consideração a infraestrutura da escola; Concepções preconceituosas a respeito de estudantes e famílias; Dificuldade de criar espaços de debates sobre as políticas públicas; Implantação tecnicista das políticas, o que aliena o trabalho pedagógico. POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO Nossa ação é sempre coletiva, com toda a comunidade escolar. Há cinco áreas de atuação: Projeto político-pedagógico: é o mapeamento da organização escolar, sua política de funcionamento (produzido pela escola), é nosso papel a avaliação e reformulação. Recuperar a história da escola, como uma anamnese; Intervenção no processo de ensino aprendizagem: práticas que conduzem o aluno a reconhecer suas potencialidades (através de mediadores culturais - teatro, música, etc), trabalhar prospectivamente (naquilo que o aluno pode se desenvolver - Vygotsky); Formação de educadores: possibilita autonomia no fazer pedagógico; contribuir com o aprimoramento teórico; Educação inclusiva: como construir um plano que atenda a todos os alunos; acompanhamento de estudantes visando inclusão e permanência; mobilizar encontros com a equipe docente para auxiliar no planejamento educacional; etc; Grupos de aluno: 10 a 15 alunos ou dentro da própria sala de aula, para abordar questões que atravessam a infância e adolescência; para realizar ações que caminhem com a finalidade da escola; grupos de apoio psicopedagógico. Enfim, o psicólogo poderá trabalhar em parceria com pais, professores, equipe pedagógica, com atividades que contribuam com o desenvolvimento dos alunos. 9 DESAFIOS PARA O PSICÓLOGO Compor com a equipe escolar criando um vínculo, e a partir do projeto político-pedagógico criar o próprio projeto de atuação; Problematizar o cotidiano escolar; Há direitos autorais sobre este material, portanto é proibida a sua distribuição em qualquer meio de comunicação. 7 G a b r i e l a G o m e s d a S i l v a | P s i c o l o g i a | 6 º p e r í o d o | @ p s i c o m g a b i Construir estratégias de ensino aprendizagem com a comunidade escolar; Considerar a dimensão da produção de subjetividade sem reduzi-la a uma perspectiva individualizante; Valorizar e potencializar os saberes da escola; Buscar conhecimentos técnico-científicos da Psicologia e da Educação; Sair da ação clássica, procurando desenvolver práticas coletivas que acolham as demandas e buscando com elas os procedimentos de enfrentamento; Romper com a patologização, medicalização e judicialização da educação; Formar profissionais críticos para se dedicarem a esse campo de atuação. DIFICULDADES DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA A escola tem a concepção de que essa dificuldade está atrelada a um problema psicológico. O olhar é sempre como um transtorno de ordem biológica. Inclusive no DSM-5. Mas não se trata de uma dificuldade de aprendizagem, e sim de escolarização. O que está acontecendo na escola que propicia a não aprendizagem? Quais os critérios que a escola utiliza em relação ao tempo de aprendizagem de cada um dos alunos? Os alunos são colocados em igualdade, com os mesmos recursos, estratégias e tempo. Mas cada um tem um processo de aprendizagem, Vygotsky diz que a partir das mediações que o meio oferece e também a partir de suas condições internas é que o conhecimento acontece. Respeitar o ritmo de aprendizagem fará com que o aluno aprenda. Olhamos o indivíduo num contexto sócio histórico que interfere diretamente na forma como ele aprende. De que forma esse contexto está possibilitando ou não o processo de aprendizagem do indivíduo? USO DA LUDICIDADE Num primeiro momento, usar apenas do lúdico. Em seguida apresentar os recursos escolares, pois aí a criança já estará mais confiante. Trabalhar ações de cooperação, não de competição. PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA - EMÍLIA FERREIRO Ferreiro estudou como se aprende a ler e escrever. A aprendizagem da língua escrita se dá a partir de mecanismos cognitivos, não motores ou sensoriais, e a alfabetização não se dá por decifrar letra por letra e nem por memorização ou fixismo. É uma tarefa conceitual. PERÍODOS EVOLUTIVOS DA ALFABETIZAÇÃO PERÍODO ICONOGRÁFICO Hipótese de que símbolos gráficos são representações de características físicas ou ideias. *Pré-silábico PERÍODO LINGUÍSTICO A criança já entende que a letra corresponde ao som. Silábico: quando há a hipótese de que cada emissão sonora é uma letra. Ex: cachorro - 3 letras; Silábico alfabético: período de transição em que a criança começa a enxertar letras na escrita silábica, então ela oscila entre a hipótese silábica e alfabética; Alfabético: compreensão de que as sílabas podem ser divididas em unidades menores, os fonemas. E que cada letra representa um fonema, geralmente. Com essa hipótese atingida, ainda há muitos desafios até o bom letramento. CONTROLE DA ESCRITA Nas etapas iniciais do período linguístico, há dois tipos de controle da escrita. CONTROLE QUANTITATIVO Criança preocupada com a quantidade de letras. CONTROLE QUALITATIVO Criança preocupada com a variedade de caracteres. Ex: não pode repetir letra de modo contíguo e não podem haver palavras diferentes representadas do mesmo modo).
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