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Mutação Constitucional 1. Conceito A alteração formal da Constituição só pode ser feita mediante emenda constitucional, revogando, acrescentando ou enumerando dispositivos. No entanto, nem sempre é possível que o processo reformador acompanhe as mudanças da sociedade, e daí surge a mutação. A mutação constitucional é a mudança informal da Constituição, à luz dos novos fatos e da nova realidade, havendo mudança de sentido ou contexto sem alteração formal do dispositivo, o que permite que a Constituição esteja conectada com a realidade do país. Também é conhecida como manifestação de poder constituinte difuso, transição constitucional, mudança informal da Constituição ou interpretação evolutiva. 2. Manifestações É um fenômeno que pode se manifestar de várias formas. No Brasil, diante do papel constitucional exercido pelo Supremo, e considerando que as questões mais difíceis e sensíveis são de responsabilidade desse Tribunal, é o STF que normalmente realiza as grandes mutações constitucionais. A mutação constitucional costuma ocorrer por meio das “viradas jurisprudenciais” do STF. Ou seja, um dispositivo da Constituição é interpretado de determinada forma durante um período e, então, há uma virada de jurisprudência fazendo com que o mesmo dispositivo seja interpretado de maneira completamente distinta. Por nossa Constituição ser muito jovem, ainda não houve tempo hábil para delinear completamente os limites da mutação constitucional. No entanto, sabemos, em rol não taxativo, que a mutação precisa respeitar as cláusulas pétreas, os princípios fundamentais e a própria essência da Constituição. 3. Virada Constitucional Julgamento de Governador– Até maio de 2017, o STF entendia que, para que o STJ pudesse julgar o Governador era necessária a autorização da Assembleia Legislativa do Estado por 2/3 de seus membros, mesmo quórum exigido para admitir a denúncia contra o Presidente da República pela Câmara dos Deputados. Ou seja, admitia-se que o artigo 86, caput c/c 51, I, da CRFB/88 existissem no plano dos Estados para julgamento do Governador, em nome do princípio da Simetria. No entanto, no julgamento de algumas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (4798, 4764 e 4797, por exemplo) o Supremo decidiu pela impossibilidade de autorização prévia para que o STJ pudesse julgar o Governador. 4. Virada Constitucional Julgamento de Parlamentares Federais– Recentemente houve mutação constitucional por meio da AP 937, em maio de 2018, que reinterpretou o Art. 53, §1º. Anteriormente, o STF era competente para julgar parlamentares que tivessem cometido crimes antes ou depois da diplomação. Por meio da mutação, o Supremo decidiu que só é competente para processar e julgar os parlamentares federais que tenham praticado crimes após a diplomação e desde que eles estejam relacionados ao exercício das funções. Ou seja, decidiu pela restrição da prerrogativa de foro funcional de deputados federais e senadores. 5. Exemplos de Virada Constitucional • Reconhecimento da fidelidade partidária • Vedação à prisão civil do depositário infiel • Equivalência entre as uniões homoafetivas e as uniões estáveis heterossexuais • Não-obrigatoriedade de defesa da norma pelo AGU na ação de controle concentrado • Vedação ao nepotismo Situações que legitimam uma mutação constitucional e superação da jurisprudência consolidada → Mudança na percepção do Direito Entendia-se que havia simetria entre Governador e Presidente. No entanto, esta não existe e, inclusive, questão processual deve ser regida por lei federal, não estadual. → Modificações na realidade fática Há o aumento no combate à corrupção. Na prática, não se aceitava a acusação contra o Governador, que não era levado a julgamento. → Consequências práticas negativas de uma determinada linha de entendimento Muitos Governadores corruptos não estavam sendo julgados. Obs.: Na prática, não é necessário que todos os 3 requisitos da mutação constitucional estejam preenchidos, embora todos existissem na virada acerca do julgamento de Governador.
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