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Atelier de Projeto de Arquitetura VI Carolina Cardoso © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidência Rodrigo Galindo Vice-Presidência de Produto, Gestão e Expansão Julia Gonçalves Vice-Presidência Acadêmica Marcos Lemos Diretoria de Produção e Responsabilidade Social Camilla Veiga Gerência Editorial Fernanda Migliorança Editoração Gráfica e Eletrônica Renata Galdino Supervisão da Disciplina Sandra Leonora Alvares Revisão Técnica Adriana Cezar Estela Regina De Almeida Ruy Flávio De Oliveira Sandra Leonora Alvares Thamiris Mantovani CRB-8/9491 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Cardoso, Carolina C268a Atelier de projeto de arquitetura VI / Carolina Cardoso. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. 208 p. ISBN 978-85-522-1586-8 1. Projeto de arquitetura. 2. Unidade de Pronto Atendimento (UPA). 3. Arquitetura hospitalar. I. Cardoso, Carolina. II. Título. CDD 720 Sumário Unidade 1 Atelier VI: pesquisa e levantamento de dados sobre a temática .............. 7 Seção 1 Atelier VI: temática do projeto ......................................................... 9 Seção 2 Atelier VI: metodologia de projetos de arquitetura hospitalar ...........................................................................................24 Seção 3 Legislação vigente e normas pertinentes .......................................38 Unidade 2 Concepção do projeto .................................................................................57 Seção 1 Análise do terreno ............................................................................59 Seção 2 Programa de necessidades ...............................................................75 Seção 3 Conceito do projeto e a concepção do partido arquitetônico ....89 Unidade 3 Desenvolvimento do projeto ...................................................................107 Seção 1 Pré-dimensionamento do edifício ...............................................109 Seção 2 Sistema estrutural ..........................................................................130 Seção 3 Desenhos técnicos .........................................................................145 Unidade 4 Desenhos e apresentação do projeto ......................................................161 Seção 1 Detalhamento de projeto ..............................................................163 Seção 2 Elaboração de maquete física e virtual .......................................177 Seção 3 Apresentação do anteprojeto........................................................189 Palavras do autor Olá!Bem-vindo(a) à disciplina de Atelier de Projeto de Arquitetura VI. O que seria de um arquiteto, se não soubesse como projetar? Caminhamos ao longo de toda a trajetória acadêmica estudando sobre formas, proporção, elementos construtivos e metodologia de projeto para nos tornarmos aptos para exercer a profissão. No entanto, devemos consi- derar que existem inúmeros tipos de edificações, cada qual com a sua função e particularidade. Conhecer as características que diferenciam os edifícios é fundamental para criar soluções que atendam às necessidades e aos desejos de quem usufruirá do espaço. Por isso, esta disciplina tem como objetivo respaldar o futuro profissional nas mais variadas situações. Desta vez, abordaremos a ampla e complexa temática da arquitetura hospitalar. Este livro trata desde a evolução histórica dos hospitais e a concepção do projeto de edifícios de saúde até o detalhamento e a apresen- tação do projeto arquitetônico. Em síntese, temos como foco orientar o aluno na compreensão da temática dos edifícios de saúde e na metodologia de análise de projetos e fazer com que ele conheça a legislação vigente e entenda a concepção do projeto de edifícios de saúde, que vai desde o pré-dimensio- namento, o sistema estrutural e os detalhamentos até as técnicas de apresen- tação do projeto arquitetônico. A Unidade 1 tem caráter introdutório e versará sobre assuntos gerais para que você possa compreender, de forma efetiva, como funciona um edifício da área da saúde. Nas Unidades 2, 3 e 4, relacionaremos a temática com o processo projetual já desenvolvido pelo(a) aluno(a) em disciplinas anteriores. Tópicos como análise do entorno, programa de necessidades, partido arqui- tetônico, pré-dimensionamento, desenhos técnicos e apresentação de projeto serão abordados ao longo do material. Este livro funciona como um guia, mas não se limite a ele! Busque por conhecimento em outras fontes, como livros, palestras e pesquisas científicas, a fim de vivenciar a arquitetura com olhos mais atentos. Aprofunde-se nos conteúdos tratados neste material didático e conte com a ajuda do(a) professor(a) neste processo de aprendizagem. Bons estudos! Unidade 1 Carolina Cardoso Atelier VI: pesquisa e levantamento de dados sobre a temática Convite ao estudo Olá, aluno(a)! Nesta unidade, teremos como foco a temática da arquitetura hospitalar. Você sabe quando surgiram os primeiros médicos e hospitais? Qual era a confi- guração desses espaços e quais as modificações que aconteceram no decorrer da história? Existe leis e normas que regem o funcionamento destes edifícios? Para responder a essas questões, introduziremos o assunto e conhece- remos a temática do projeto de arquitetura hospitalar, buscando referências projetuais a partir de análises de projetos correlatos. Além disso, conhece- remos as normas que regem o projeto dos edifícios de saúde. Por fim, teremos conhecimento sobre o histórico do tema do projeto e a legislação vigente e criaremos um repertório de referências arquitetônicas. Imagine a situação na qual você foi contratado(a) por um escritório de arquitetura especializado em construções da área da saúde. A prefei- tura da sua cidade, localizada no interior do estado, está em um acelerado processo de expansão que envolve a abertura de novos loteamentos. Dessa forma, a prefeitura lançou um edital para um concurso municipal de projeto arquitetônico para uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do novo bairro recém-aprovado. Este edital apresenta como requisitos a apresentação de um projeto arqui- tetônico, no nível de anteprojeto, de um Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS), com capacidade entre 2.400 e 4.000 pacientes e que atenda aos critérios estabelecidos pelo Manual de Estrutura Física das Unidades Básicas de Saúde, publicado pelo Ministério da Saúde. Na Seção 1.1, você iniciará uma pesquisa sobre a temática de projeto e analisará algumas edificações voltadas para o uso da saúde, a fim de conhecer melhor as características dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS). Com isso, você compreenderá a setorização e circulação entre os ambientes necessários em uma edificação da área de saúde. Na Seção 1.2, identificará as tipologias existentes e compreenderá o processo de concepção do projeto arquitetônico. Nesse contexto, terá contato com o Plano Diretor Hospitalar e qual é o processo projetual que envolve a criação de uma edificação. Para terminar, na Seção 1.3, você se aprofundará na legislação vigente sobre edifício de saúde, que norteará o desenvolvimento do projeto que deverá atender a todas as normativas. Com os conteúdos apresentados nestadisciplina, será possível entender que a arquitetura pode influenciar no processo de cura dos doentes, atuando, inclusive, como um tratamento auxiliar. Está pronto(a) para descobrir os poderes do projeto arquitetônico? 9 Seção 1 Atelier VI: temática do projeto Diálogo aberto Hospitais, clínicas médicas, postos de saúde e laboratório de análises clínicas; o projeto de edifícios voltados para a área da saúde exige atenção especial, pois nestas construções existe a aglomeração de pessoas enfermas, infectadas e debilitadas, o que aumenta o risco de contaminação e disseminação de doenças. Devemos considerar ainda que os Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) prestam serviços de atendimento para indivíduos abatidos, e que a maneira com que o projeto de arquitetura destas edificações for ideali- zada impacta diretamente sobre o bem-estar da pessoa que precisa ser curada. Pense em um cenário em que você faz parte de um escritório de arquitetura especializado em projetos de EAS e a sua equipe trabalhará em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no bairro novo da cidade onde mora. Você gostaria de compreender mais sobre a temática para apresentar maior segurança e melhores escolhas no momento de começar a projetar. Sendo assim, decidiu estudar o processo histórico que moldou as edificações de atendimento à saúde no Brasil, além de buscar por referências de projetos de arquitetura hospitalar e analisar as soluções que foram utilizadas para atingir o resultado final. Analise o processo histórico das construções de edifícios de saúde. Quais foram as transformações e influências que culminaram na tipologia construtiva que vivenciamos hoje? Quais dos elementos identificados devem estar presentes no seu projeto arquitetônico? Que referências arquitetônicas poderão auxiliá-lo no processo criativo, enriquecendo seu projeto? Sua pesquisa acerca das edificações de arquitetura hospitalar executadas no Brasil fez com que você identificasse alguns nomes que se destacaram no projeto de edifícios de saúde, dentre eles, João Filgueiras Lima. Nesse contexto, vcê opta por analisar uma obra completa do arquiteto para auxili- á-lo na elaboração de um processo metodológico para EAS. Inicie observando quais são os setores que compõem o projeto, os ambientes e suas respec- tivas funções. Existem várias especialidades médicas atuando em conjunto? Analise como os espaços se relacionam e os fluxos de circulação. O fluxo de pacientes se cruza com o fluxo de médicos e funcionários? Observe também fotografias dos ambientes internos. Este edifício é inteiramente branco ou apresenta cores? Como são os móveis? Existe paisagismo? Estes são alguns dos questionamentos que você deve levantar ao analisar a obra. 10 Para tanto, veremos, nesta seção, a evolução histórica dos hospitais, contextualizando a temática da arquitetura hospitalar. Nesse sentido, desco- briremos como eram os hospitais da antiguidade e quais acontecimentos os transformaram nos complexos de saúde atuais. Compreender como ocorreu a evolução destas edificações auxilia na criação de um panorama geral que possibilitará o entendimento acerca da função e das percepções dos edifí- cios de saúde. A análise de projetos arquitetônicos atuais lhe permitirá criar um repertório de referências que poderão ser utilizadas futuramente, no momento de projetar um edifício de saúde. Está curioso(a) para descobrir como a arquitetura pode influenciar no tratamento dos pacientes? Vamos começar nossa jornada de aprendizagem sobre a arquitetura hospitalar! Não pode faltar Não se sabe com precisão a origem da medicina e dos hospitais como conhecemos hoje. Entretanto, existem registros de locais destinados ao tratamento de doentes que datam de épocas anteriores ao cristianismo. A cura dos enfermos já se mostrava uma preocupação desde a antiguidade, nas primeiras cidades da civilização (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1944). Conforme a população crescia, os indivíduos que antes se preocupavam apenas com a sua vitalidade e de sua família passaram a atentar à saúde coletiva das sociedades urbanas primitivas. Saiba mais A profissão de médico foi estabelecida na Babilônia, sendo dissemi- nada para o Egito. Os registros encontrados nos pergaminhos egípcios mostram uma variedade de especialidades médicas, como olhos, dentes e distúrbios internos. A remuneração era farta e os tratamentos eram custeados pelo governo. Imhotep, considerado o primeiro arquiteto que já existiu e responsável pela construção da pirâmide mais antiga, era também um excelente médico (GÓES, 2004, cap. 2). Os médicos da Antiguidade e Idade Clássica recebiam muito prestígio, sendo relacionados aos sacerdotes egípcios e gregos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1944). Nestes períodos, assim como na Idade Média, o exercício da medicina era associado à divindade e ao cristianismo. A função do hospital não se restringia ao tratamento de doenças e se caracterizava por locais que recebiam não só os enfermos, mas também os pobres e peregrinos 11 Vocabulário Por esse motivo, a palavra hospital tem origem no latim hospitalis, adjetivo derivado de hospes, que significa hóspedes. O termo como conhecemos hoje tem a conotação de nosocomium, do grego, que signi- fica “tratar os doentes”. Os primeiros locais que concebiam a função da cura de doenças estavam associados aos templos. Na Grécia, surgiram as Asclepéia, templos dedicados ao culto de Esculápio, um ser com habilidades médicas excepcionais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1944). Estes templos eram edificados em locais propícios ao tratamento médico. As construções deveriam ser implantadas nas colinas, abrigadas contra os ventos fortes, e próximas à floresta e a uma fonte de água mineral. A preocupação com a higiene e alimentação já acontecia naquela época. Antes que os enfermos adentrassem nos santuários, estes eram subme- tidos a processos de purificação com banhos, massagens e unções. A medicina e os médicos gregos ganharam importância e conquistaram espaço em Roma. O prestígio era tanto que o imperador Júlio César concedeu a cidadania romana a todos os médicos. No período governado pelo seu sucessor Augusto, o arquiteto romano Marcus Vitruvius escreveu um livro que ficou conhecido como Tratado de Arquitetura. No compilado, Vitruvius (2007) apresenta como reconhecer um local saudável para implantação das cidades e a escolha do ambiente de implantação das edificações, resgatando os princípios utilizados pelos gregos: localidades altas, com boa ventilação, evitando áreas pantanosas e nebulosas. Além disso, relembra a relação com o alimento e com a água, fatores que indicam a salubridade dos locais. O autor incorpora os conceitos de conforto térmico, indicando a orientação solar mais adequada, evitando insolações extenuantes. Pesquise mais O livro De Architectura Libri Decem, de Marcus Vitruvius Pollio, intro- duziu os princípios da arquitetura clássica que influenciaram as construções do Renascimento e são utilizados até os dias atuais. Este compêndio está dividido em dez volumes, que apresentam aspectos arquitetônicos, desde a escolha do local para implantar uma cidade até a decoração do interior das construções. O artigo escrito pela profes- sora Giselle Luzia Dziura apresenta mais detalhadamente quais foram as contribuições dos escritos de Vitruvius. Leia o intervalo de páginas de 20 a 26 e saiba mais. DZIURA, G. L. Três tratadistas da arquitetura e a ênfase no uso do espaço. Da Vinci, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 19-36, 2006. 12 A Idade Média ficou conhecida como Idade das Trevas por diferentes razões, por exemplo, a infestação de pestes que culminou em grandes epide- mias, aumentando a necessidade de implantação de locais para quaren- tena. Assim, acelerou-se o processo de construção de hospitais, localizados próximos aos mosteiros e às igrejas, reforçando o poder do cristianismo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1944). Um dos marcos da arquitetura hospitalar está associado à construção de dois Hotéis Dieu, em Lyon e emParis (Figura 1.1). A planta baixa destes estabelecimentos abrigava uma capela e deveria permitir que todos os pacientes observassem os atos religiosos enquanto repousavam em suas camas (GÓES, 2004). Porém, em meados do século XII, surgiram diversos concílios que proibiram o exercício da medicina pelo clero, incluindo as operações com derramamento de sangue. Apenas as doenças da alma deveriam ser tratadas pelo clero, enquanto o exercício da medicina ficou nas mãos de leigos. Figura 1.1 | Catedral de Notre-Dame com o antigo Hotel Dieu à direita (Paris). Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: https://fr.wikipedia.org/wiki/H%C3%B4tel-Dieu_de_Paris. Aces - so em: 5 jul. 2019. O advento das universidades e da invenção do microscópio serviu de impulso para o desenvolvimento da ciência. Durante o Renascimento, os concílios da igreja foram abandonados, o que permitiu avanços nos proce- dimentos cirúrgicos que foram determinantes para o melhoramento dos hospitais. A medicina deixou de ter um caráter monástico para ser reconhe- cida como parte da física, o que culminou na municipalidade dos hospitais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1944). https://fr.wikipedia.org/wiki/H%C3%B4tel-Dieu_de_Paris 13 Após o incêndio do Hotel Dieu em Paris, no ano de 1772, ocorreram mudanças significativas acerca da construção e do planejamento dos estabe- lecimentos de saúde. O hospital era imenso para a época, com capacidade de 2.500 leitos, e apresentava diversos problemas de contaminação e disse- minação de doenças (GÓES, 2004). A Academia de Ciências de Paris ficou encarregada pela sua reconstrução. Diversos projetos foram apresentados e cada um deles previa atender 5.000 leitos. Contudo, a comissão se opôs às propostas e estabeleceu novos parâmetros para a construção, incluindo, dentre outros aspectos, a redução do número de leitos por hospital (1.200); a disposição em pavilhões, nos quais as enfermarias ficariam isoladas e não haveriam salas contínuas; e a utilização de, preferivelmente, apenas um pavimento, com o máximo de dois ou três, conforme a concessão. Estes princípios foram utilizados para direcionar a construção de vários hospitais durante mais de um século (GÓES, 2004). Reflita A preocupação com a contaminação e infecção, dispersa pelos próprios doentes, acarretou mudanças na estrutura física das edificações hospita- lares. Quais outros aspectos podem ser influenciados pela arquitetura? Portugal foi influenciado pelas características propostas pela Academia de Ciências e transferiu sua cultura para a colônia, assim como o fez em diversos outros aspectos. O Brasil recebeu edificações para assistência hospi- talar desde o seu descobrimento. Em 1543, foi construído o primeiro hospital nacional na cidade de Santos, sendo sucedido pela construção de instala- ções em Olinda e São Paulo antes do final do século XVI. Desde então, não houveram novas normas para a construção de edificações de saúde até a Revolução de 1930. Neste período já estavam sendo construídos, nos Estados Unidos, edifí- cios hospitalares em um único bloco de inúmeros pavimentos, funcionando em perfeitas condições de salubridade, que sobrepunham aos princípios da Academia de Ciências (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1944). Estes parâmetros foram utilizados pelos arquitetos brasileiros para construir as novas instala- ções de saúde do país. Alguns exemplos são: o Hospital da Brigada Militar em Recife (1934), projetado por Luís Nunes; a Faculdade de Medicina de São Paulo (1944) (Figura 1.2), do arquiteto Ramos de Azevedo; e o Hospital Israelita Albert Einstein (1954), idealizado por Rino Levi. 14 Figura 1.2 | Faculdade de Medicina de São Paulo (1978) Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Faculdade_de_Medicina_da_Unie- versidade_de_S%C3%A3o_Paulo. Acesso em: 5 jul. 2018. A partir daí, podemos traçar um repertório de referências em arquite- tura hospitalar no Brasil. Além dos arquitetos já citados, nomes como Jarbas Karman, João Filgueiras Lima, João Carlos Bross e Carlos Eduardo Pompeu se destacam no projeto dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS). Saiba mais A denominação Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) é dada a qualquer edifício destinado a prestar serviços de assistência à saúde para a população. Independentemente do nível de complexidade do projeto, todos eles devem garantir o acesso do paciente, seja em regime de internação ou não. As obras dos hospitais da Rede Sarah Kubitschek se destacam dentre o acervo de projetos realizados por João Filgueiras Lima, conhecido como Lelé. O primeiro hospital foi inaugurado em Brasília no ano de 1980, o que levou à criação do Centro Tecnológico Sarah Kubitschek (CTRS) que originou a Rede Sarah. Para a terceira unidade, construída em 1994 na cidade de Salvador (Figura 1.3), o arquiteto utilizou um sistema muito particular para o conforto térmico. A iluminação e ventilação natural foram incorporadas ao projeto por meio do sistema de cobertura denominado shed, que permitiu a redução do uso de aparelhos de ar condicionado e, consequentemente, o gasto energético. Os elementos, que se assemelham a ondas, permitem a entrada da luz do sol de forma indireta e direciona os ventos para o interior da edificação. Existem, https://pt.wikipedia.org/wiki/Faculdade_de_Medicina_da_Universidade_de_S%C3%A3o_Paulo https://pt.wikipedia.org/wiki/Faculdade_de_Medicina_da_Universidade_de_S%C3%A3o_Paulo 15 ainda, outros fatores que se unem ao elemento da cobertura para contribuírem com a melhor eficiência do edifício, como o sistema de galerias de manutenção, que funcionam também como dutos de ventilação natural e que canalizam os ventos, favorecendo a circulação do ar; e o resfriamento evaporativo, que usa a nebulização de água para diminuir a temperatura do ar. Este último também funciona como um filtro para as partículas de poeira. Figura 1.3 | Hospital Sarah – Unidade Salvador Fonte: Rede Sarah. Disponível em: http://www.sarah.br/media/1368/a_redeSARAH_unid_salvadorgrande2. jpg?anchor=center&mode=crop&rnd=130536445810000000. Acesso em: 5 jul. 2018. Depois da capital baiana, diversas outras cidades receberam obras da Rede Sarah que utilizavam a cobertura em sheds e seguiam os mesmos princí- pios de conforto térmico. A última unidade foi construída em 2009 no Rio de Janeiro (Figura 1.4). É possível notar a evolução arquitetônica de Lelé no decorrer dos 15 anos que separam as duas obras. A cobertura da construção carioca é mais alta e foi desassociada das paredes, permitindo mais flexibi- lidade na organização dos ambientes, diferente da unidade de Salvador, na qual os sheds eram limitados à largura das salas. Assimile Os sheds são aberturas zenitais (ou seja, posicionadas na cobertura) com um formato característico que se assemelha aos dentes de uma serra, muito utilizados na construção de fábricas. As obras de Lelé popularizaram este elemento no Brasil, que se transformou e originou uma estrutura única em cada obra na qual fora empregado. O shed favorece o efeito chaminé, com o qual o ar quente é dissipado pela abertura por meio da diferença de densidade do ar. Mas, cuidado! O posicionamento da abertura deve calcular a incidência solar para que http://www.sarah.br/media/1368/a_redeSARAH_unid_salvadorgrande2.jpg?anchor=center&mode=crop&rnd=130536445810000000 http://www.sarah.br/media/1368/a_redeSARAH_unid_salvadorgrande2.jpg?anchor=center&mode=crop&rnd=130536445810000000 16 ela não se transforme em um canalizador dos raios solares e prejudique o conforto térmico do edifício. Outra diferença é percebida na composição da cobertura, isto é, existe uma externa, feita com telha e forro de alumínio com um vão entre eles, da mesma forma como acontece em Salvador, e uma interna, produzida com estrutura metálica e policarbonato alveolar translúcido, que envolve os ambientes. Esta estrutura apresenta aberturas basculantes automatizadas que permitem alternar entre os sistemas de ventilação natural eartificial, já que o Hospital Sarah, do Rio de Janeiro, é o único que tem ar condicionado devido às suas condições climáticas. Figura 1.4 | Hospital Sarah – Unidade Rio de Janeiro Fonte: Rede Sarah. Disponível em: http://www.sarah.br/media/1401/a_redeSARAH_unid_riogrande.jpg?an/- chor=center&mode=crop&rnd=130537087220000000. Acesso em: 5 jul. 2018. A partir da análise das obras de arquitetos renomados na área da saúde, é possível identificar as características essenciais para o projeto destas edifi- cações. Em primeiro lugar, deve-se considerar que o paciente está ali para ser curado e, para isso, precisa de um local que lhe ofereça, além do trata- mento médico necessário, ambientes agradáveis e humanitários que contri- buam para o seu bem-estar. Os recursos naturais, como iluminação, venti- lação e vegetação, tornam-se aliados no momento de compor espaços que apresentem conforto ambiental. Exemplificando Os elementos vegetais apresentam influência sobre as sensações do usuário. Estudos apontam a contribuição da vegetação para uma http://www.sarah.br/media/1401/a_redeSARAH_unid_riogrande.jpg?anchor=center&mode=crop&rnd=130537087220000000 http://www.sarah.br/media/1401/a_redeSARAH_unid_riogrande.jpg?anchor=center&mode=crop&rnd=130537087220000000 17 melhor saúde mental, com menos estresse e ansiedade (BARTON; PRETTY, 2010; LEE; JORDAN; HORSLEY, 2015; AKPINAR, 2016). Dessa forma, o paisagismo pode ser incorporado aos espaços hospitalares como tratamento auxiliar ao paciente. Um exemplo é a proposta do projeto de extensão do Hospital de Helsin- gborg na Suécia. Note que existe uma grande porção da área destinada às localidades verdes. Figura 1.5 | Implantação da proposta vencedora da extensão do Hospital de Helsingborg, Suécia Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-107796/proposta-vencedora-da-extensao-do-hospitals- -de-helsingborg-slash-schmidt-hammer-lassen-architects/514b7e02b3fc4b095e0000c5-helsingborg-hospi- tal-extension-winning-proposal-schmidt-hammer-lassen-architects-image. Acesso em: 5 jul. 2018. O arquiteto pode – e deve! – projetar espaços confortáveis, seja ele de uma residência, um comércio, uma indústria, entre outros. No entanto, devemos nos lembrar de que um EAS não é como uma edificação. Existem normas e fluxos que precisam ser respeitados para que tudo funcione corretamente e de forma segura. Falaremos sobre a metodologia e as orientações para elabo- ração de um projeto de arquitetura hospitalar na próxima seção. Sem medo de errar O escritório de arquitetura do qual você faz parte participará de um concurso público para projetar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no bairro novo da cidade em que você mora. Antes de iniciar o projeto, você https://www.archdaily.com.br/br/01-107796/proposta-vencedora-da-extensao-do-hospital-de-helsingborg-slash-schmidt-hammer-lassen-architects/514b7e02b3fc4b095e0000c5-helsingborg-hospital-extension-winning-proposal-schmidt-hammer-lassen-architects-image https://www.archdaily.com.br/br/01-107796/proposta-vencedora-da-extensao-do-hospital-de-helsingborg-slash-schmidt-hammer-lassen-architects/514b7e02b3fc4b095e0000c5-helsingborg-hospital-extension-winning-proposal-schmidt-hammer-lassen-architects-image https://www.archdaily.com.br/br/01-107796/proposta-vencedora-da-extensao-do-hospital-de-helsingborg-slash-schmidt-hammer-lassen-architects/514b7e02b3fc4b095e0000c5-helsingborg-hospital-extension-winning-proposal-schmidt-hammer-lassen-architects-image 18 optou por buscar referências em obras desenvolvidas por outros arquitetos que lhe auxiliarão na elaboração do anteprojeto. A pesquisa histórica desenvolvida mostrou que a preocupação com a saúde da população existe desde os primórdios da civilização. Nesse contexto, você identificou características como a escolha correta do local de implantação, o aproveitamento da insolação e ventilação natural e a organização dos ambientes visando a funcionalidade da edificação. Neste momento, deverá enriquecer o seu projeto com referências arquitetônicas de projetos correlatos. Além disso, terá como função escolher uma obra do arquiteto João Filgueiras Lima dentro da temática apresentada na seção. Comece pesqui- sando em revistas, livros e sites o acervo desenvolvido pelo arquiteto durante a sua carreira e selecione uma obra da área da saúde para ser analisada. Faça uma ficha técnica da edificação, na qual deve constar o nome da obra, local de implantação, data do projeto e de início e fim da construção. Inclua também dados referentes ao tamanho da edificação (em m²). Com estas informações, você poderá procurar pelos desenhos técnicos (plantas baixas, cortes, eleva- ções) e por fotografias da obra. Primeiramente, analise uma escala macro, verificando como o sol incide sobre a edificação: identifique a direção do Norte e quais as faces de maior e menor insolação. Obtenha a informação dos ventos dominantes; por exemplo, no Rio de Janeiro, estes são provenientes da direção leste. Observe a existência de áreas vegetadas no terreno ou se ele é todo pavimentado. Depois de analisar o entorno, e com a planta baixa em mãos, identi- fique os setores que fazem parte da construção. Quais são eles? Recepção, ambulatório, maternidade, centro cirúrgico, patologia clínica, Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e administração. Consegue reconhecer algum deles? Você pode usar lápis de cor ou canetas hidrocor para identificar os ambientes que fazem parte de um mesmo setor. Identifique também como são distribuídos os fluxos. Use linhas e setas com cores de acordo com cada setor, e classifique-os como fluxo interno (dos médicos e enfermeiros) e externo (dos pacientes e visitantes). Esses fluxos se cruzam? Veja o exemplo a seguir (Figura 1.6), que analisa o Centro de Apoio ao Grande Incapacitado Físico, uma das unidades da Rede Sarah em Brasília, DF. Veja como a planta baixa colorida facilita a visualização de como foram organizados os ambientes em setores ou unidades funcionais 19 Figura 1.6 | Exemplo de análise de obra (o Centro de Apoio ao Grande Incapacitado Físico, Brasília, DF) Fonte: adaptado de WESTPHAL (2007). Utilizando os cortes e detalhamentos, verifique quais foram as soluções construtivas empregadas ao edifício. Como é a estrutura? De que material ela é composta? Analise os detalhes construtivos que foram desenvolvidos para este projeto. Por fim, identifique os ambientes internos a partir das fotografias, anali- sando quais foram os revestimentos empregados, como é o design do mobili- ário, além das cores utilizadas. Como a luz se comporta nesse ambiente? O paisagismo está presente? 20 Faça uma descrição de todas as características que você achar pertinente e organize-as em pranchas que serão anexadas ao memorial descritivo do projeto, o qual será entregue ao final da disciplina. Por fim, vale acrescentar que você pode colocar imagens para ilustrar o texto e facilitar a compreensão. Avançando na prática Hospital: do passado ao presente As doenças que acometiam as primeiras civilizações estavam forte- mente relacionadas com a falta de saneamento básico. Portanto, as instala- ções hospitalares apresentavam características que auxiliavam o tratamento dessas enfermidades, no sentido de fornecer condições sanitárias salubres, como água potável, ventilação e iluminação adequados. A evolução da urbanização ocasionou o desenvolvimento de redes de abastecimento de água e sistemas de esgoto sanitário, o que reduziu deter- minados tipos de doenças características da Idade Média. Atualmente, os problemas de saúde enfrentados pela população são outros e requerem recursos diferentes e mais abrangentes. Pela vasta experiência do seu escritório em desenvolver projetos de edifi- cações de saúde, você foi convidado a palestrar para estudantes de arquitetura na universidade próxima à sua cidade. Neste sentido, faça uma retrospectiva histórica e identifique quais características dos edifícios de saúde se manti- veram ao longo dos anos, e quaisforam incorporadas ou modificadas para se adequar à nova realidade. Observe o que mudou na configuração dos hospi- tais: onde estão localizados? Quem prestava o serviço e qual o público que ele atende? Como era o sistema construtivo? Quais equipamentos são utilizados? Utilize o conhecimento adquirido para relacionar a arquitetura hospitalar com o período histórico. Resolução da situação-problema Faça um quadro para te ajudar a organizar as características de cada período. Na linha de cabeçalho, escreva os períodos históricos que deseja comparar. A primeira coluna determinará qual característica será analisada. Utilize algumas das citadas anteriormente e crie o seu quadro. Veja um exemplo: 21 Quadro 1.1 | Modelo de quadro comparativo dos edifícios de saúde ao longo da história Antiguidade Idade Média Renascimento Atualidade Localização Público Médicos Sistema construtivo Equipamentos Fonte: elaborado pela autora. Preencha as colunas com as informações referentes a cada período. Fique à vontade para adicionar outros períodos e características. Ao completar o quadro, observe se alguma das informações se repetiram em mais de um período. Faça um texto pontuando quais foram as principais mudanças ocorridas ao longo do tempo. Faça a valer a pena 1. Esculápio foi um médico grego que possuía habilidades de cura excepcionais. Segundo a história, este médico foi destruído por Zeus, que temia que ele tornasse os homens imortais. A partir de então, surgiram templos dedicados à preservação da memória de Esculápio e seu legado, denominados Asclepéia. Assinale a alternativa que melhor descreve as características das Asclepéias. a. Localizadas próximas ao mar, que facilitava o transporte dos médicos. b. Construídas no centro da cidade, no qual todos pudessem ter acesso. c. Localizadas sobre áreas rochosas, nas quais havia abundância de matéria- -prima. d. Construídas nas colinas, próximas às florestas, e abrigadas contra os ventos fortes. e. Localizadas próximas às montanhas, nas quais os sacerdotes invocavam o poder curativo dos deuses. 2. No início do século XX surgiu uma tipologia construtiva das edificações hospita- lares nos Estados Unidos. A estas construções dava-se o nome de monobloco. As afirmativas a seguir indicam características destas construções: 22 I. Economia na construção e manutenção, a partir da concentração de instala- ções hidráulicas, elétricas, de esgoto, etc. II. Menor isolamento por pavimento do que em pavilhões térreos. III. Possibilidade de serviços operatórios como raio X, laboratórios clínicos e fisiodiagnóstico. IV. Facilidade na administração e mais cooperação entre o setor técnico. Com base no texto, assinale a alternativa correta. a. Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. b. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. d. Apenas as afirmativas II e IV estão corretas. e. Todas as afirmativas estão corretas. 3. A Rede Sarah consiste em uma série de unidades hospitalares distribuídas em várias cidades do Brasil. João Filgueiras Lima, o arquiteto que projetou os edifícios, incorporou características muito peculiares em sua arquitetura. A figura a seguir mostra o desenho técnico do corte da última unidade implantada na cidade do Rio de Janeiro. Figura 1.7 | Corte do hospital Sarah do Rio de Janeiro Fonte: adaptado de Lukiantchuki (2010). Observe o corte apresentado e avalie as afirmativas a seguir: I. O arquiteto utilizou a cobertura do tipo shed em todos os hospitais da Rede Sarah, visando aproveitar a luz e ventilação natural. II. A cobertura em forma de ondas foi utilizada apenas para conferir ao edifício um apelo estético com forte identidade visual. 23 III. A cobertura da unidade do Rio de Janeiro está desassociada das divisórias, permitindo maior flexibilidade dos ambientes. Assinale a alternativa que contém apenas as afirmativas corretas. a. Apenas a afirmativa I está correta. b. Apenas a afirmativa II está correta. c. Apenas a afirmativa III está correta. d. As afirmativas I e III estão corretas. e. As afirmativas I, II e III estão corretas. 24 Seção 2 Atelier VI: metodologia de projetos de arquitetura hospitalar Diálogo aberto Para que o arquiteto seja capaz de desenvolver um projeto arquitetônico eficiente no setor de saúde, é necessário que se tenha conhecimento acerca do funcionamento dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) e da metodologia aplicada ao projeto. Neste sentido, o Plano Diretor Hospitalar (PDH) se transforma em um documento norteador das ações e soluções voltadas para o desenvolvimento das edificações de saúde. Voltemos ao cenário profissional em que você trabalha em um escritório de arquitetura especializado em projetos de EAS, e a equipe da qual faz parte participará de um concurso público para um projeto de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no bairro novo da cidade na qual você mora. Já foi criado um repertório de referências arquitetônicas que lhe auxiliará na criação do projeto arquitetônico do EAS. Agora, você iniciará o processo projetual a partir do desenvolvimento de um PDH e da adoção de uma metodologia que indicará algumas técnicas que poderão ser utilizadas no decorrer do projeto. Para isso, será necessário que você identifique: como são classificados os EAS? Quais informações devem constar no PDH? Quais são as etapas metodoló- gicas a serem seguidas no processo criativo de elaboração do projeto? Nesta seção, apresentaremos um embasamento teórico sobre a rede de saúde no Brasil, que nos permitirá conhecer e caracterizar os tipos de edifí- cios de saúde. Versaremos também sobre o PDH e sua importância para o levantamento de soluções técnicas e organizacionais que influenciarão o funcionamento do EAS. Ainda, estudaremos a metodologia de projeto que define as etapas que envolvem a concepção de um projeto arquitetônico. Vamos diferenciar os conceitos de “máquina de curar” e “máquina de cuidar” a partir da utilização de recursos de humanização da arquitetura hospitalar. Está pronto para compreender o que está por trás da elaboração de um projeto arquitetônico? Não pode faltar No ano de 1978 foi realizada a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, com o objetivo de estabelecer ações para a promoção da 25 saúde. O resultado da conferência ficou registrado em um documento denomi- nado Declaração de Alma-Ata, no qual foram determinados dez tópicos acerca dos cuidados primários em saúde. Dentre eles, é enfatizado o caráter multifato- rial do conceito de saúde, entendido não só pela ausência de enfermidades, mas também pelo “estado de completo bem-estar físico, mental e social” (ALMA- ATA, 1978). Ainda, a declaração afirma: “é direito e dever dos povos participar individual e coletivamente no planejamento e na execução de seus cuidados de saúde” (ALMA-ATA, 1978). Neste contexto entra o papel do arquiteto: projetar e planejar um ambiente propício para a promoção da saúde, envolvendo todos os aspectos que ela abrange (físico, mental e social). O Ministério da Saúde surgiu a partir da fragmentação do Ministério de Educação e Saúde, no ano de 1953. Nas décadas seguintes, foram desenvol- vidos planos e políticas de promoção de saúde, dentre as quais destaca-se: • A III Conferência Nacional da Saúde (CNS), realizada em 1963 pelo ministro Wilson Fadul, que defendia a municipalização dos serviços de saúde. • A criação do Plano Nacional de Saúde, instituído pelo ministro e médico Lionel Miranda no ano de 1967 a partir das diretrizes estabe- lecidas pela III CNS. A Constituição Federal de 1988 incumbiu ao poder público a responsa- bilidade da saúde da população, sendo dever do Estado a garantia da saúde. A partir disso, o governo criou o Sistema Único de Saúde (SUS), regulamen- tado pela Lei Orgânica da Saúde (BRASIL, 1990). Reflita Dentre os assuntos abordados pela Constituição Federal, estão as políticas públicas acerca do sistemade saúde. O Artigo 196 diz que: a saúde é direito de todos e dever do Estado, garan- tido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1988, [s.p.]) Ainda, a Constituição instaura o sistema único de saúde, provido com os recursos do governo e complementado pelas ações da iniciativa privada. Entretanto, devemos analisar como isso funciona na prática. As insti- tuições privadas realmente atuam como complemento ao tratamento 26 oferecido pelo SUS? Ou aqueles que tem menos recursos estão fadados ao atendimento, muitas vezes precário, da rede de saúde pública? A rede de saúde no Brasil pode ser classificada de três formas: esferas de atuação, níveis de atendimento e tipos de estabelecimentos. • A esfera de atuação diz respeito à integração dos serviços ofere- cidos a partir da hierarquização da gestão. São identificados pela escala nacional (regida pelo Ministério da Saúde), escala estadual (administrada pelas Secretarias de Saúde correspondentes, consiste no nível vertical de atuação) e escala municipal (corresponde ao nível horizontal de atuação e está sob a responsabilidade dos órgãos equivalentes) (BRASIL, 1990). • Já os níveis de atendimento têm relação com as atividades realizadas pelo EAS. São classificados em: nível primário, secundário e terciário. O nível primário é responsável por promover os serviços de assistência à saúde e ambulatório. Realiza atividades relacionadas ao saneamento e de diagnóstico básico. O nível secundário, além das atividades do nível primário, também oferece atendimento clínico nas áreas médica, cirúrgica, ginecológica, obstétrica e pediátrica. São realizados atendi- mentos ambulatoriais que apresentam o suporte dos laboratórios de patologia clínica e radiodiagnóstico para determinar o diagnóstico. Por fim, o nível terciário abrange os casos mais complexos, prestando serviços ambulatoriais, de urgência e internação. • Quanto ao tipo dos estabelecimentos, estes são hierarquizados de acordo com os níveis de atendimento. O nível primário está relacio- nado com estruturas físicas correspondentes aos postos e centros de saúde, também chamados de Unidade Básica de Saúde (UBS). O nível secundário corresponde às unidades mistas, ambulatórios gerais e hospitais, enquanto o nível terciário é abrangido pelos ambulatórios, hospitais regionais e especializados. Alguns estabelecimentos têm o Serviço de Apoio Diagnóstico Terapêutico (SADT) como comple- mento ao diagnóstico, a partir da realização de exames. O Quadro 1.2 descreve os tipos de estabelecimentos. Quadro 1.2 | Tipos de estabelecimentos de saúde NÍVEL TIPOLOGIA DESCRIÇÃO 1 Posto de saúde Unidade destinada à prestação de assistência a uma determinada população, de forma programada ou não, por profissional de nível médio, com a presença intermitente, ou não, do profissional médico. 27 1 Centro de saúde/ Unidade Básica de Saúde Unidade para realização de atendimentos de atenção básica e integral a uma população, de forma programada ou não, nas especialidades básicas, podendo oferecer assistência odontológica e de outros profissionais de nível superior. A assistência deve ser permanente e prestada por médico generalista ou especialista nestas áreas, podendo, ou não, oferecer: SADT e pronto atendimento 24 Horas. 2 Unidade mista Unidade destinada à prestação de atendimento em atenção básica e integral à saúde, de forma programada ou não, nas especialidades básicas, podendo oferecer assistência odontológica e de outros profissionais, com unidade de internação, sob administração única. A assistência médica deve ser permanente e prestada por médico especialista ou generalista. Além disso, pode dispor de urgência/emergência e SADT básico ou de rotina. 2 Pronto-socorro Unidade destinada à prestação de assistência a pacientes com ou sem risco de vida, cujos agravos necessitam de atendimento imediato, podendo ter, ou não, internação. 2 Hospital geral Hospital destinado à prestação de atendimento nas especialidades básicas, por especialistas e/ou outras especialidades médicas. Além disso, pode dispor de serviço de urgência/emergência e de SADT de média complexidade. 2 Unidade de apoio de diagnose e terapia Unidades isoladas nas quais são realizadas atividades que auxiliam a determinação de diagnóstico e/ ou complementam o tratamento e a reabilitação do paciente. 3 Hospital especializado Hospital destinado à prestação de assistência à saúde em uma única especialidade/área. Dispõe serviço de urgência/ emergência e SADT, podendo ter, ou não, SIPAC. Por fim, vale acrescentar que este tipo de hospital é, geralmente, de referência regional, macro regional ou estadual. 3 Ambulatório especializado Clínica destinada à assistência ambulatorial em apenas uma especialidade/área da assistência. Fonte: adaptado de CNES (2008). Para que cada um destes tipos de EAS funcionem de maneira correta e condizente com a função a qual se propõe executar, é necessário que haja um planejamento dos métodos e das estratégias que nortearão o desenvolvi- mento do projeto arquitetônico. Para isso, a elaboração de um Plano Diretor Hospitalar (PDH) é fundamental para o funcionamento do EAS. Assim como o Plano Diretor Municipal (PDM) orienta e dá diretrizes para o desempenho adequado das cidades, o PDH é o documento que organizará os aspectos físicos e criará ações operacionais do edifício hospitalar (MENDES, 2007). 28 Assimile Os hospitais são instituições complexas que abrangem, além do trata- mento médico, diversos setores, podendo desempenhar a função de hotel, restaurante, lavanderia, farmácia, laboratório, empresa (adminis- tração), dentre outros. Por isso, o planejamento é imprescindível para que todos os setores funcionem dentro da sua própria individualidade, além de se relacionar e trabalhar em conjunto. Considerando a multidisciplinaridade de um EAS, o planejamento pode ser subdivido em áreas, por exemplo, o planejamento econômico, o plane- jamento tecnológico e a área na qual o arquiteto se torna o protagonista: o planejamento físico-espacial. O arquiteto será responsável por projetar um edifício que permite a integração dos diversos setores que compõem o EAS, garantindo que seu funcionamento esteja de acordo com o modelo assisten- cial definido pela equipe. De acordo com Fabrício (2002), existem sete etapas em um processo de projeto de arquitetura, explanadas na Figura 1.6. Cada uma delas envolve um aspecto arquitetônico da obra e o cumprimento e a realização de suas orien- tações garantem a eficiência projetual do empreendimento. Figura 1.6 | Principais serviços e atividades do processo de projeto 29 Fonte: Mendes (2007, p. 82). No decorrer da disciplina, abordaremos de forma mais enfática o produto da segunda etapa deste processo: o projeto arquitetônico. Este, por sua vez, é subdi- vidido em três etapas: estudo preliminar, projeto básico e projeto executivo. • O estudo preliminar é a representação gráfica do partido arquitetô- nico por meio de desenhos técnicos. Este estudo utilizará os aspectos levantados no PDH como base e deverá consolidar o programa de necessidades definido previamente. Também faz parte do estudo preli- minar a elaboração do memorial justificativo, no qual são descritas todas as soluções escolhidas, fundamentadas em algum aspecto que deve ficar claro neste relatório. • O projeto básico consiste na apresentação técnica de tudo o que foi definido no estudo preliminar, incluindo os projetos complementares, como elétrico, hidráulico e estrutural. • Já o projeto executivo detalha, de forma precisa e clara, todos os elementos construtivos sem os quais seria impossível executar a obra. 30 O conteúdo destas etapas será retomado e aprofundado nas unidades seguintes deste material. Você pode estar se perguntando: mas qual caminho devo seguirpara atingir o resultado, que é o projeto arquitetônico? Christopher Alexander, arquiteto austríaco, desenvolveu o design methodis, um método que sistematiza o processo de criação (ALEXANDER, 1964; GÓES, 2004). Quando aplicado à arquitetura, o método é decomposto em meta-projeto e projeto (Figura 1.7). Figura 1.7 | Sistematização da metodologia de projeto Fonte: adaptado de Góes (2004). O conceito surgirá das discussões acerca do empreendimento, de pesquisas bibliográficas, análise de projetos correlatos (lembre-se do reper- tório de referências que criamos na seção anterior) e experiências acumu- ladas ao longo da carreira. A elaboração do PDH pode sugerir alguns dos aspectos que serão considerados no momento de conceituação do projeto. Com o conceito definido, o próximo passo é a geração de requisitos, isto é, a verificação das atividades que serão realizadas no projeto e consequente determinação do programa de necessidades. Estas atividades deverão ser hierarquizadas de acordo com a sua prioridade. A matriz de requisitos identificará a relação entre os requisitos definidos anteriormente com a finalidade de resolver o problema, ou seja, eliminar os conflitos e favorecer a conexão das partes complementares. Esta matriz corresponde às etapas de zoneamento funcional e fluxograma que serão apresentadas em um outro momento. A última etapa antes da concepção final do projeto consiste no diagrama espacial, no qual o arquiteto desenvolverá desenhos esquemá- ticos para facilitar a leitura da estrutura do problema, definido na matriz de requisitos. Os diagramas podem estar relacionados às partes do problema ou à estrutura como um todo. Essa sequência esquematizada fornece os meios pelos quais será possível determinar soluções do problema e atingir o resultado. A partir do momento em que o arquiteto internaliza as etapas 31 do processo criativo, ele poderá desenvolver as suas próprias técnicas e seus próprios métodos para concepção de projetos. Exemplificando Existem exemplos nacionais de profissionais que atuam na promoção de novos processos e normas que regem a arquitetura hospitalar, dentre eles: Sylvia Caldas Ferreira Pinto, que participa dos trabalhos escritos pelo Ministério da Saúde; João Carlos Bross, que estuda sobre técnicas de gerenciamento do projeto; e João Filgueiras Lima (Lelé), que desenvolveu processos de padronização e industrialização aplicada aos edifícios hospitalares. A Rede Sarah é um exemplo de aplicação dos conceitos de pré-fabri- cação desenvolvidos por Lelé durante seus estudos na Europa. Todos os hospitais da rede utilizam sistemas pré-fabricados, desde a superes- trutura até os objetos hospitalares (LUKIANTCHUKI et al., 2011). A expansão da rede permitiu o aperfeiçoamento das técnicas, garantindo estruturas mais leves e funcionais. Um destes materiais consiste na argamassa armada, utilizada nas lajes da estrutura do Hospital Sarah do Rio de Janeiro (Figura 1.8). Figura 1.8 | Hospital Sarah do Rio de Janeiro Fonte: Arcoweb. Disponível em: https://www.arcoweb.com.br/finestra/tecnologia/ecoeficienb- cia---arquitetura-bioclimatica. Acesso em: 8 jul. 2019.Novos métodos devem ser criados a fim de resolver os problemas enfrentados, sejam eles de ordem geográfica, física-estrutural, social ou econômica. Novos métodos devem ser criados a fim de resolver os problemas enfrentados, sejam eles de ordem geográfica, física-estrutural, social ou econômica. https://www.arcoweb.com.br/finestra/tecnologia/ecoeficiencia---arquitetura-bioclimatica https://www.arcoweb.com.br/finestra/tecnologia/ecoeficiencia---arquitetura-bioclimatica 32 Um dos problemas enfrentados pela grande parte dos EAS modernos e que merece destaque é a desumanização dos ambientes hospitalares. Na seção anterior, vimos como os princípios da Academia de Ciências de Paris transformaram o modo de projetar os edifícios de saúde. Nesse contexto, surgiu o modelo construtivo pavilhonar, no qual a preocupação com a conta- minação (até então acreditava-se que esta seria contida por meio de barreiras físicas) originou uma estrutura que utilizava a ventilação, a iluminação e a redistribuição das unidades funcionais como fatores dificultadores da disse- minação de doenças. Desse modo, as construções eram concebidas sob os princípios do conforto ambiental, provendo maiores quantidades de ar por leito e pátios ajardinados para separação dos enfermos de acordo com a patologia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1944). A partir do século XIX, os avanços tecnológicos permitiram identificar os microorganismos (até então desconhecidos) como a causa da dissemi- nação de doenças, além da adoção de técnicas de assepsia que se tornaram mais eficazes que a disposição de barreiras físicas para eliminar os fatores de contaminação (TOLEDO, 2008). Uma vez que o confinamento do ar e a concentração de gás carbônico deixaram de ser responsáveis pela insalu- bridade, surgiu um novo modelo arquitetônico denominado monobloco, que concentrou todas as funções em um único bloco construtivo com vários pavimentos. A preocupação excessiva com o rigor funcional dos hospitais levou a uma abdicação de qualquer fator que não fosse necessário do ponto de vista da clínica médica, o que afastou a prática terapêutica dos hospitais modernos (TOLEDO, 2008). Dessa forma, a humanização se apresenta como a maneira de tratamento do paciente a partir da qual ele é visto como ser humano, e não apenas como um doente. O foco do atendimento à saúde não deverá ser simplesmente curar, e sim cuidar, por meio do conforto físico e psicológico oferecido ao indivíduo. Este aspecto deve ser incorporado em todos os EAS, indepen- dente do nível de complexidade, visando universalizar o tratamento humani- tário na arquitetura hospitalar. Pesquise mais O seguinte artigo, de Júlio Nardino, descreve algumas ações de humani- zação da arquitetura hospitalar e aponta as características a serem observadas no PDH. NARDINO, J. C. dos S. Planejando o hospital do futuro: a importância do Plano Diretor Hospitalar. In: XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação (SEPesq). 2016. 33 Dessa forma, encerramos mais uma etapa de aprendizado sobre a arqui- tetura hospitalar. Na próxima seção, compreenderemos as normas e leis aplicadas ao projeto arquitetônico de edifícios da área da saúde. Sem medo de errar O escritório de arquitetura no qual você trabalha participará de um concurso para o projeto de um Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS) no bairro novo que está sendo construído. Agora que você já tem um reper- tório de referências arquitetônicas, poderá iniciar o processo projetual. Você deverá partir da elaboração de um Plano Diretor Hospitalar (PDH) que orientará a execução do projeto arquitetônico. O PDH deverá conter um breve histórico da cidade na qual o EAS será implantado, relacionando com os dados de saúde do município (você poderá obter essas informações nos órgãos públicos como o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Além disso, você deverá descrever e caracterizar o tipo de EAS a ser desen- volvido: a Unidade Básica de Saúde (UBS). Verifique quais atividades ela se propõe a realizar, qual o público atingido e os funcionários envolvidos. O edital do concurso público prevê a construção de uma UBS com capacidade de atendimento para 2.400 a 4.000 pacientes, ou seja, terá uma Equipe Saúde da Família (ESF). Esta acompanhará o paciente provindo do Sistema Único de Saúde (SUS) desde a sua chegada ao estabelecimento e terá contato perene com o indivíduo. O Ministério da Saúde desenvolveu o Manual de Estrutura Física das Unidades Básicas de Saúde, que poderá ser utilizado para identificar as atividades oferecidas pela UBS. Este estabelecimento deverá resolver 85% dos problemas de saúde da comunidade, e o encaminhamento dos pacientes para centros especializados só deverá ocorrer na menor parte dos casos, apenas quando necessário. Dessa forma, a UBS deverá oferecer serviços como recepção (registroe marcação de consultas), consultas médicas e de enfermagem, trata- mentos odontológicos, procedimentos como imunização, inalação e curativos, atendimento de urgência básico e, apenas em casos de maior complexidade, o encaminhamento para centros de urgência ou especializados. Além disso, a ESF é responsável pelo mapeamento das características da saúde da população e pelo planejamento de ações individuais ou coletivas, visando a promoção da saúde e recuperação de doenças. Após descrever as atividades realizadas na UBS, você deverá realizar a caracterização do edifício. Uma vez que não existem edificações prévias e o projeto será concebido por completo, não é necessário fazer a descrição dos elementos físicos existentes. Dessa forma, você poderá analisar e refletir sobre quais ações devem nortear o funcionamento e a elaboração da UBS. Faça uma descrição de todas as diretrizes que orientarão a elaboração do projeto. 34 Você poderá incluir princípios como humanização, economia e tecnologias neste texto. Por fim, este relatório será anexado ao memorial descritivo do projeto e entregue ao final da disciplina. Desenvolvido o PDH, partiremos para a conceituação do projeto, primeira etapa descrita no método de projeto. Relacione o seu repertório de referên- cias, o PDH, e as discussões acerca do assunto para criar um conceito próprio deste projeto de arquitetura hospitalar. Tenha em mente que o conceito é o aspecto no qual a edificação se destaca e no qual será fundamentada. Deve ser algo palpável, como elaborar um projeto sustentável com base nas certi- ficações, ou utilizar a industrialização para facilitar o processo construtivo. O conceito não precisa representar apenas uma face do projeto e pode ser destrinchado em vários fatores. Um exemplo é o Dell Children’s Medical Center (Figura 1.9), no Texas (EUA), que usou a sustentabilidade como um dos conceitos do projeto. Este hospital foi o primeiro a obter a certificação LEED Platinum, que consiste em uma espécie de selo de edificação sustentável utilizado globalmente. Figura 1.9 | Dell Children’s Medical Center, Texas, EUA Fonte: Polkinghorn Group Architects. Disponível em: http://www.polkinghorngrouparchitects.com/work/hee- althcare/dell_childrens_medical_center.php Acesso em: 8 jul. 2018. O PDH deverá ser redigido em forma de relatório e a conceituação do projeto deverá ser demonstrada em uma folha sulfite tamanho A3. Para ilustrar http://www.polkinghorngrouparchitects.com/work/healthcare/dell_childrens_medical_center.php http://www.polkinghorngrouparchitects.com/work/healthcare/dell_childrens_medical_center.php 35 os conceitos escolhidos, você pode utilizar imagens. Além disso, não se esqueça de diagramar a prancha para melhorar a apresentação do projeto. Anexe estes documentos no memorial descritivo que será entregue ao final da disciplina. Avançando na prática Exemplos de humanização na área da saúde Você e a equipe do seu escritório de arquitetura trabalharão em um projeto de uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Você reconhece a importância de um bom atendimento ao paciente e da influência que a arquitetura tem no tratamento das doenças e, por isso, apresenta interesse em conhecer os princípios de humani- zação dos espaços e alguns exemplos práticos. Sendo assim, você decide fazer uma pesquisa que enriquecerá o seu repertório de referências, permitindo a incorpo- ração do princípio básico da humanização em seu projeto. A leitura do seguinte artigo intitulado poderá lhe ajudar a entender o processo de humanização. TOLEDO, L. C. de M. Humanização do edifício hospitalar, um tema em aberto. Rede HumanizaSUS, [s. d.]. Resolução da situação-problema Para aprofundar o seu conhecimento sobre a humanização, leia o artigo apresentado e anote os principais pontos de uma edificação humanizada. Em seguida, pesquise por referências e exemplos da prática de humanização em livros, revistas, sites na internet e artigos ou trabalhos acadêmicos, como teses e dissertações. Escolha uma edificação hospitalar humanizada ou retire os exemplos de princípios humanizadores de várias referências. Um exemplo é o Hospital Miguel Piltcher, do arquiteto Irineu Breitman (Figura 1.10), construído em 1973. As obras de Irineu muito se assemelham aos projetos de João Filgueiras Lima, apesar de terem suas divergências técnicas. A valorização da iluminação e ventilação naturais por meio do uso de sheds é um dos pontos em comum dos arquitetos. Figura 1.10 | Hospital Miguel Piltcher, Pelotas (RS), Brasil 36 Fonte: Toledo (2008, p. 205). Apresente a caracterização da edificação humanizada e a análise de projetos correlatos em uma prancha tamanho A3. Não se esqueça de identi- ficar a(s) obra(s) (nome, local, data e arquiteto responsável) e utilizar imagens para ilustrar os exemplos. Por fim, anexe a prancha ao memorial descritivo que será entregue ao final da disciplina. Faça a valer a pena 1. A rede de saúde pode ser caracterizada de acordo com o nível de atendimento em: nível primário, nível secundário e nível terciário. Com base nisso, analise as afirmações a seguir: I. O nível primário é responsável pelos atendimentos de assistência à saúde e ambulatório, com ações de saneamento e diagnóstico básico. II. O nível secundário engloba o atendimento cirúrgico e ambulatorial com diagnósticos baseados em exames laboratoriais. III. O nível terciário está relacionado com os hospitais especializados e serviços mais complexos de urgência e internação. Assinale a alternativa que contém apenas as afirmações corretas. a. Apenas as afirmações I e II estão corretas. b. Apenas as afirmações II e III estão corretas. c. Apenas as afirmações I e III estão corretas. d. Todas as afirmações estão corretas. e. Nenhuma das alternativas está correta. 37 2. O Plano Diretor Hospitalar (PDH) é um instrumento utilizado como suporte para a elaboração de um projeto arquitetônico na área da saúde. Seu desenvolvimento é fundamental para que a edificação seja concebida de forma adequada e apresente uma funcionalidade eficiente. Assinale a alternativa que melhor descreve o Plano Diretor Hospitalar (PDH). a. Contém a legislação e normas vigentes para os edifícios de saúde. b. Relaciona os itens do Plano Diretor Municipal (PDM) à arquitetura hospi- talar. c. Apresenta o conceito do projeto arquitetônico da edificação de saúde. d. Cria diretrizes para as ações e soluções do projeto de arquitetura hospitalar. e. Descreve a metodologia de projeto utilizada no processo criativo. 3. A metodologia tem como finalidade a estruturação do processo criativo que envolve a criação de um projeto arquitetônico. O arquiteto austríaco Christopher Alexander desenvolveu o design methodis, que envolve as seguintes etapas: 1. Diagrama espacial. 2. Matriz de requisitos. 3. Conceituação. 4. Geração de requisitos. 5. Solução arquitetônica. Assinale a alternativa que apresenta a ordem correta das etapas do método. a. 1 – 2 – 3 – 4 – 5. b. 3 – 4 – 2 – 1 – 5. c. 4 – 2 – 1 – 3 – 5. d. 3 – 1 – 2 – 4 – 5. e. 2 – 4 – 3 – 1 – 5. 38 Seção 3 Legislação vigente e normas pertinentes Diálogo aberto As leis e normas são fundamentais para a regulamentação e determinação de critérios de segurança, conforto, funcionalidade e higiene, necessários em um Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS). As atividades exercidas em um EAS requerem situações específicas para que possam atuar de maneira eficiente. Voltemos ao cenário em que você é um dos arquitetos que compõem a equipe responsável por projetar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no bairro novo da cidade na qual o escritório está instalado. Neste ponto, você já criou um repertório de referências e desenvolveu o Plano Diretor Hospitalar do EAS. O próximo passo é conhecer a legislação vigente para que você tenha subsídio técnico no momento de projetar. A atividade desta seção propõe uma análise de um projeto correlato, em formato de pranchas, no qual você poderá verificar a relaçãoentre a legislação e o projeto. Você sabe qual é a função das leis e qual é o impacto que elas causam no desenho de um projeto? Como uma lei pode determinar algumas diretrizes? Quais elementos e soluções deverão estar contidas no projeto para que atenda às normas do corpo de bombeiro? Nesse sentido, conheceremos nesta seção as normas, as leis, os manuais e outros documentos relacionados ao projeto de arquitetura hospitalar. Além disso, discutiremos sobre o Ministério da Saúde e seu papel na promoção de condições básicas para a população, as características de edificações e as normas técnicas voltadas para os EAS. O descumprimento de qualquer uma destas normas resultará na não aprovação do projeto arquitetônico ou, ainda pior, em falhas funcionais e proce- dimentais do EAS, que podem prejudicar a saúde e o bem-estar da população. Prepare o papel e a caneta, pois o estudo da legislação vigente requer que você identifique e anote as instalações necessárias a determinado ambiente, dimensões mínimas de circulação, procedimentos e processos envolvidos nas atividades médicas e de serviços, entre outras situações necessárias nos ambientes hospitalares. Está pronto para começar? 39 Não pode faltar O Ministério da Saúde é o setor governamental responsável pelos assuntos relacionados à saúde pública no Brasil. A primeira iniciativa em criar um órgão público para a gestão da saúde surgiu com o governo de Getúlio Vargas, no ano de 1930 (SILVA, 2017). Este presidente fundou o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, que passou a se chamar apenas Ministério da Educação e Saúde alguns anos depois. Durante dezesseis anos, a gestão da saúde e da educação ficou sob a responsabilidade de um único ministério, até que, em 1953, houve uma fragmentação em Ministério da Educação e Cultura e Ministério da Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). A função do Ministério da Saúde é promover condições adequadas de saúde a partir da redução de enfermidades, do controle de doenças endêmicas, da vigilância dos setores de saúde, entre outros aspectos, garan- tindo a melhora da qualidade de vida da população. A Lei nº 6.229, de 17 de julho de 1975, instituiu o Sistema Nacional de Saúde e determinou as compe- tências do Ministério da Saúde, por exemplo, “fixar normas e padrões para prédios e instalações destinados a serviços de saúde” (BRASIL, 1975b). No mesmo ano, surge o Decreto nº 76.973, de 31 de dezembro, que regulariza a aprovação dos projetos relacionados à saúde. A evolução das normas de saúde teve como ponto de partida uma publi- cação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) com o título “Padrões Mínimos Hospitais” no final da década de 1940. Este livro tinha como base um manual elaborado pelo Departamento de Saúde Americano. Em 1954, o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) publicou o título “Planejamento de Hospitais”, uma obra literária que se originou do I Curso de Planejamento de Hospitais do IAB-SP. Em 1965, o Ministério da Saúde publicou o livro “Projeto de Normas Disciplinadoras das Construções Hospitalares”, um aprimoramento das técnicas e modelos disponibilizados pelo SESP. Estas normas foram utilizadas para a elaboração de projetos hospitalares até 1974, quando o Ministério da Saúde publicou as “Normas de Construção e Instalação do Hospital Geral”, que tinha por finalidade a orientação dos profissionais com relação às normas hospitalares sem, no entanto, limitar as inovações de técnicas construtivas e partido arquitetônico. Estas normas foram revisadas pela Portaria nº 400/BSB, de 6 de dezembro de 1977, e novamente pela Portaria nº 1.884/GM, de 11 de novembro de 1994, a qual está em vigor atualmente. A portaria originou o manual intitulado “Normas para Projetos Físicos de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde”. É sobre estas normativas que trataremos nesta seção. 40 Assimile A aprovação de um projeto de arquitetura hospitalar é semelhante a qualquer outro projeto. Assim como na aprovação de um projeto de uma residência, por exemplo, o arquiteto deverá seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) referentes à apresentação do projeto arquitetônico (NBR nº 8402, 8403 e 8404 de 1984; NBR nº 10126 e 10068 de 1987; NBR nº 10582 de 1988; e NBR nº 10067 de 1995), bem como as diretrizes determinadas pela prefeitura da cidade na qual será implantado, como o Código de Obras e o Plano Diretor Municipal. A diferença é que os Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) deverão obedecer às normativas impostas pelo Ministério da Saúde, que abrangem aspectos de circulação, conforto ambiental, controle de infecções e contaminação, além de combate a incêndios. De acordo com ao manual de Normas para Projetos Físicos de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (BRASIL, 1994a), podemos estabe- lecer os seguintes critérios: circulações externas e internas, condições ambien- tais de conforto, controle de infecção hospitalar e combate a incêndios. Circulações externas e internas As circulações externas e internas compreendem os acessos, o estaciona- mento e as circulações horizontais e verticais e deverão estar em conformi- dade com a Norma de Acessibilidade nº 9050/2015. Os acessos devem ser o mais restrito possível. A setorização destes pode ser realizada a partir de seis categorias: • Paciente externo ambulante, doador e acompanhante. • Paciente externo transportado e acompanhante. • Paciente a ser internado - ambulante ou transportado. • Cadáver, acompanhante e visita. • Funcionário e residente, vendedor, fornecedor e prestador de serviço, etc. • Materiais e resíduos. O número de acessos depende do tamanho do EAS. Um EAS de pequeno porte pode atender a várias categorias em um único acesso físico, enquanto um mais complexo e de maior porte poderá ter vários acessos físicos de uma mesma categoria. 41 A quantificação das vagas de estacionamento deve seguir as orientações previstas na legislação municipal, sendo prevista ao menos uma vaga (ou 12,00 m²) para cada quatro leitos. Além disso, devem ser reservadas as áreas de estacionamento das viaturas de serviço (ambulâncias, por exemplo). As circulações horizontais correspondem aos corredores, que devem ter largura mínima de 2,00 metros em casos de circulação de pacientes (seja ambulante, cadeirante, transportado em maca ou cama) ou de tráfego intenso de materiais ou pessoas. Ambos devem servir exclusivamente para circulação e a largura mínima deve permanecer livre caso seja instalado um equipamento como bebedouro, telefone público, extintores ou lavatórios. Corredores para tráfego baixo de pessoas ou cargas podem ter largura mínima de 1,20 metros. A dimensão das portas também deve ser observada. Com exceção das portas utilizadas para passagem de macas, que devem ter largura mínima de 1,10 metros, e em caso de portas de acesso às unidades de diagnóstico e terapia, que requer largura mínima de 1,20 metros; as demais aberturas podem apresentar largura de 0,80 metros. A altura de qualquer uma das aberturas deve apresentar, no mínimo, 2,10 metros. As portas dos sanitários de pacientes devem abrir para fora ou permitir a retirada da folha pelo lado externo, caso o paciente esteja dentro do banheiro e precise de socorro. As circulações verticais compreendem as escadas e rampas. Neste caso, além das normativas referentes à prevenção de incêndio, à NBR nº 9050:2015 e aos órgãos municipais, as circulações verticais devem atender a critérios específicos. As escadas de uso dos pacientes devem ter uma largura mínima de 1,50 metros, enquanto que as de uso exclusivo do pessoal pode ter largura mínima de 1,20 metros (Figura 1.11). Nenhum lance de escada pode vencer mais de 2,00 metros, e não é permitido a utilização de degraus em leque. A largura mínima das rampas deverá ser 2,00 metros ou, em caso de circulação restrita a funcionários, 1,20 metros. O número máximo de pavimentos a ser vencido pelas rampas é dois, e as inclinações devem obedecer às regrasda NBR nº 9050:2015. Figura 1.11 | Exemplo de dimensionamento de circulação vertical Fonte: elaborado pela autora. 42 Os elevadores devem obedecer às normas da NBR nº 14712:2013 e ser instalados em um EAS no qual as atividades de unidade de internação, centro cirúrgico, centro obstétrico, unidade de terapia intensiva e radiologia estejam em um pavimento diferente do térreo e não acessíveis por meio de rampas. Condições ambientais de conforto O conforto ambiental dos edifícios parte de duas situações: a endógena, na qual a construção garante o conforto do usuário por meio da eliminação ou atenuação dos efeitos dos fatores externos (temperatura, umidade do ar, poluição, entre outros), e exógena, que avalia o impacto causado pela edificação no ambiente externo. A dimensão endógena deve ser garantida desde que não interfira negativamente no entorno. As normas técnicas de conforto ambiental (térmico, luminoso, acústico), de higiene e de segurança do trabalho regem o funcionamento da dimensão endógena, enquanto documentos como Código de Obras e Plano Diretor Municipal e leis do Código Florestal estão relacionados à dimensão exógena. As soluções encontradas para o conforto térmico e qualidade do ar dependerá do tipo da unidade funcional. Ambientes que não exijam condi- ções especiais de temperatura, umidade e qualidade do ar podem optar pela iluminação e ventilação direta ou indireta. Já espaços que exigem o controle da qualidade de ar devem ter soluções adequadas. Por exemplo, lugares nos quais são realizadas atividades poluentes ou que emitem odores devem ser dotados de exaustão mecânica. Algumas unidades funcionais demandam soluções especiais devido ao tempo de permanência dos pacientes (como as áreas de internação). Neste caso, as condições de temperatura, umidade e qualidade do ar deverão prever a insolação (com o devido controle de exposição), ventilação e exaustão diretas. Outros ambientes demandam condições especiais devido aos equipamentos e às atividades realizadas. Um exemplo são as salas de cirurgia, que necessitam de climatização artificial e exaustão mecânica. O conforto acústico também levará em consideração as unidades funcio- nais do EAD. Partindo do princípio que para se obter o conforto térmico é necessário isolar as fontes de ruído, os ambientes nos quais são realizadas atividades produtoras de ruído (como as áreas de manutenção, lavanderia e cozinha) deverão ser isolados acusticamente. Da mesma forma, os espaços que abrigam pacientes e usuários que precisam de níveis mínimos de ruído (como as salas de atendimento de emergência e urgência) também devem apresentar tratamento acústico. 43 O conforto luminoso será atingido a partir do cumprimento das regula- mentações dispostas na norma NBR ISO/CIE nº 8995-1:2013 e das diretrizes do Código de Obras e Posturas do município. Algumas unidades funcionais, em especial, necessitam da incidência da luz solar direta, como os ambula- tórios, os consultórios, as salas de exame e observação, internação, materni- dade e berçário, os laboratórios e as salas para diálise. A iluminação natural deve ser complementada pela luz artificial em todos os ambientes nos quais há a manipulação de pacientes. Reflita Relembre as obras de João Filgueiras Lima para a Rede Sarah de hospitais e identifique as características utilizadas pelo arquiteto para promover o conforto ambiental e o bem-estar dos pacientes e usuários. Observe a Figura 1.12 que mostra um dos ambientes da unidade de Brasília. Figura 1.12 | Hospital Sarah de Brasília, DF, Brasil Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rede_Sa/- rah_modelo_de_excel%C3%AAncia_na_gest%C3%A3o_de_hospitais_%C3%A9_refer%C3%A- Ancia_para_a_cria%C3%A7%C3%A3o_da_Abram_(30611248367).jpg. Acesso em: 10 jul. 2019. Além da iluminação e ventilação natural, o paisagismo também está muito presente nas obras de Lelé. De que forma a vegetação pode atuar na qualidade de vida da população? Controle de infecção hospitalar A infecção hospitalar é aquela contraída dentro do EAS, proveniente de falhas operacionais e de planejamento. O controle de contaminação e infecção hospitalar está relacionado a dois princípios: os procedimentos, que se referem ao manuseio de utensílios, roupas e resíduos; e o projeto arquitetônico, no qual https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rede_Sarah_modelo_de_excel%C3%AAncia_na_gest%C3%A3o_de_hospitais_%C3%A9_refer%C3%AAncia_para_a_cria%C3%A7%C3%A3o_da_Abram_(30611248367).jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rede_Sarah_modelo_de_excel%C3%AAncia_na_gest%C3%A3o_de_hospitais_%C3%A9_refer%C3%AAncia_para_a_cria%C3%A7%C3%A3o_da_Abram_(30611248367).jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rede_Sarah_modelo_de_excel%C3%AAncia_na_gest%C3%A3o_de_hospitais_%C3%A9_refer%C3%AAncia_para_a_cria%C3%A7%C3%A3o_da_Abram_(30611248367).jpg 44 o arquiteto tem papel fundamental. Diversos fatores interferem no controle da contaminação, por exemplo: fluxos e padrões de circulação; transportes de materiais, equipamentos e resíduos sólidos; sistemas de renovação de ar; facili- dade de limpeza das superfícies e materiais; entre outros. No que diz respeito aos critérios do projeto, um dos primeiros pontos a se considerar a fim de evitar a infecção hospitalar é o zoneamento das unidades funcionais. Isto implica no isolamento das áreas críticas (com risco maior de infecção, como ambientes para internação de pacientes pós-cirúr- gico ou no pós-parto, recém-nascidos, diálises, preparo de alimentos, entre outros), áreas semicríticas (compartimentos ocupados por pacientes que não se enquadram nas categorias de alto risco de infecção) e áreas não críticas (ambientes não ocupados por pacientes). O segundo aspecto a ser considerado é a adoção de barreiras físicas a partir da compartimentação das etapas do procedimento. Qualquer atividade que envolva a separação de objetos contaminados e não contaminados deve prever salas ou equipamentos que permitam esse isolamento. Por exemplo, os centros cirúrgicos, obstétricos, lactário, entre outros, recebem vestíbulos acoplados a eles que funciona como uma barreira ao acesso direto a estes ambientes. Estes vestíbulos são classificados em área limpa (sem contato com material contaminado) e área suja (apresenta contato com material contami- nado) e devem ser dispostos de maneira estanque e com acessos separados. Exemplificando A lavagem de roupas é outro processo que necessita de separação entre a área limpa e a suja. Primeiro, existe a classificação da roupa suja, cujo ambiente é tratado como altamente contaminado e deve apresentar uma série de requisitos arquitetônicos (exaustão mecanizada, processo de recepção da roupa por meio de carros ou tubulões, pisos e paredes laváveis, entre outros). O processo de lavagem da roupa também neces- sita de setorização. Uma das maneiras de solucionar esta situação é por meio da adoção de uma máquina de lavar com porta dupla, uma delas voltada para a área suja, na qual a roupa será depositada, e outra voltada para a área limpa, na qual outro operador recolherá a roupa já lavada. A comunicação entre estes compartimentos deverá ser feita por meio de visores e interfones. A adoção de barreiras físicas deve estar associada ao fluxo de trabalho de determinados procedimentos, como nutrição e dietética, processamento de roupas e central de esterilização de material. Por exemplo, o processo de nutrição apresenta duas etapas: preparação (preparo dos alimentos 45 > envaze de refeições > distribuição) e lavagem (recepção > lavagem de recipientes e utensílios > esterilização). A compartimentação deve se adequar a este fluxo para garantir o funcionamento do processo. As ativi- dades de recepção, desinfecção e separação de materiais são consideradas áreas sujas, portanto devem ser realizadas em ambientes para uso exclusivo e com paramentação adequada. Os acabamentos e materiais utilizados no projeto devem permitir a sua higienização.
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