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Resumo: Hanseníase

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VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT 
 
 
--------HANSENÍASE------ 
1) Hanseníase: 
• É conhecida desde as antigas civilizações, China, Egito e Índia, tendo referências do acometimento dos nervos 
periféricos desde 1847 (Browne, 1985), sendo seu agente etiológico o primeiro patógeno associado a uma doença no 
ser humano. 
• História e estigma social: Também conhecida como lepra ou mal de Lázaro, antigamente a enfermidade era 
associada ao pecado, à impureza, à desonra. Por falta de um conhecimento específico, a hanseníase era muitas vezes 
confundida com outras doenças, principalmente as de pele e venéreas. Daí o preconceito em relação ao seu portador: 
a trasmissão da doença pressupunha um contato corporal, muitas vezes de natureza sexual e, portanto, pecaminoso. 
Quando não eram enviados para leprosários e excluídos da sociedade, os doentes não podiam entrar em igrejas, 
tinham que usar luvas e roupas especiais, carregar sinetas ou matracas que anunciassem sua presença. O avanço das 
pesquisas comprovou que a hanseníase nem é uma doença tão contagiosa assim; era muito dissemina na Idade Média 
e em locais onde as condições sanitárias e de habitação não eram adequadas. 
• Doença sistêmica infectocontagiosa crônica, causada pelo Mycobacterium leprae (Bacilo de Hans), parasita 
intracelular obrigatório, com tropismo pelos filetes nervosos periféricos e que gera muitos desafios médicos por não 
ser cultivado em meio de cultura. O período de incubação (intervalo entre exposição/infecção até a manifestação dos 
sintomas) é longo, em média de 3 a 10 anos, e a transmissão ocorre somente entre os seres humanos. Admite-se que 
o contágio se realize pelo aparelho respiratório. Afeta a pele, os nervos periféricos, as mucosas das vias respiratórias 
superiores, os olhos, as vísceras abdominais, linfonodos, medula óssea, testículos e ovários. 
• O M. leprae foi identificado em 1873, na Noruega, como agente etiológico causador da hanseníase. Foi o 
primeiro patógeno bacteriano identificado como agente etiológico de uma doença infecciosa humana. É um patógeno 
intracelular obrigatório que infecta principalmente o endotélio vascular, fagócitos mononucleares e apresenta 
especial afinidade por células de Schwann. A habilidade de invadir e sobreviver nestas células constitui a 
característica notória deste organismo, dando-lhe o status de ser o único patógeno bacteriano capaz deste feito. 
Possui um tempo de geração (é=tempo de incubação?) que varia entre 11e13 dias, multiplicando-se por divisão 
binária. Os mecanismos que permitem ao M. Leprae infectar o homem e causar doença ainda são pouco conhecidos. 
• Graças a recentes técnicas de sequenciamento do genoma humano foi possível estudar melhor o genoma do M. 
leprae, que possui como característica a perda maciça de genes, o que poderia explicar a taxa de crescimento lenta do 
bacilo, assim como sua incapacidade de crescimento in vitro. Somente 49,5% do genoma do M. leprae contêm genes 
que codificam para proteínas, característica não observada em qualquer outro genoma bacteriano até hoje 
sequenciado; há também 1.116 pseudogenes ou genes degenerados, assim denominados devido à perda de regiões 
necessárias para sua transcrição e/ou tradução, ou mudança da fase de leitura aberta do gene por deleções ou 
inserções de bases. Acredita-se que o genoma degenerado do M. leprae seja resultado de erros na replicação 
combinados a uma redução na capacidade de reparo do DNA, o que provocaria um acúmulo de mutações em genes 
não mais essenciais para sobrevivência no ambiente intracelular e perda de função do genoma bacteriano ("evolução 
redutiva”), alterando permanentemente o genótipo e resultando na adaptação ao ambiente em que a bactéria vive. Já 
o conjunto de genes realmente expressos (gene funcional) do M. leprae está associado com +- 400 proteínas. 
• O diagnóstico é essencialmente clínico e inclui os procedimentos diagnósticos de Exame Dermatológico + 
Exame Neurológico + Diagnóstico Laboratorial, que inclui baciloscopia de linfa cutânea e histopatologia de biopsia 
cutânea ou de nervo sensorial. Excepcionalmente exames laboratoriais complementares mais sofisticados como a 
reação de polimerase em cadeia (PCR), ELISA e biopsia de nervo são necessários. Os sinais cardinais da hanseníase 
são lesões cutâneas com alteração da sensibilidade e nervos espessados, podendo haver: 
✓ Máculas, placas, tubérculos, pápulas, infiltrações que podem ser únicas ou múltiplas, hipopigmentadas ou 
eritematosas; 
✓ Alterações neurológicas como hiperestesias/hipoestesias/anestesias, redução da força muscular em 
extremidades com ou sem atrofia, espessamento doloroso de troncos nervosos periféricos (principalmente nos Nn. 
ulnar, radial, mediano, fibular, tibial posterior, auricular e supraorbitário); 
✓ Alterações sistêmicas como artralgias, adenomegalias, rinite, edema de extremidades... 
OBS: A PCR é uma técnica de amplificação in vitro de DNA com alta sensibilidade e especificidade que 
possibilitam a identificação inequívoca de quantidades minutas de ácidos nucleicos de microrganismos em 
fragmentos de tecido, linfa ou sangue periférico devido à utilização de oligonucleotídios específicos aos alvos de 
interesse em um sistema enzimático regido por uma DNA polimerase isolada de Thermus aq_uaticus. Já em testes 
sorológicos como os do tipo ELISA ou imunocromatografia para a detecção de anticorpos anti-PGL-1, anticorpos 
que reagem ao glicolipídio fenólico-1, que é um componente específico da parede celular do patógeno, podem ser 
usados na definição da forma clínica (MB ou PB) dos doentes; os anticorpos IgM podem ser detectados em soro ou 
sangue total, de modo que os níveis detectados por estes ensaios sorológicos podem definir precocemente indivíduos 
com as formas clínicas mais graves, antes mesmo que estes exibam os sintomas clínicos da doença. 
VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT 
 
• As formas clínicas podem ser classificadas de acordo com diferentes critérios: 
✓ A aprovada no VI Congresso Internacional realizado em Madri em 1953, baseada nos critérios de 
polaridade, proposta por Rabello Jr., classificando a doença em formas polares tuberculoide e virchoviana e formas 
interpolares indeterminada e dimorfa; 
✓ A que utiliza o critério laboratorial do resultado do exame baciloscópico nos esfregaços de linfa cutânea 
dos pacientes; são classificados como PB os casos com baciloscopia negativa e MB os com baciloscopia positiva; 
✓ A que se baseia em critérios clínicos, histopatológicos e imunológicos proposta por Ridley e Jopling 
(1966). 
• A OMS (1998) sugere que, para os locais endêmicos onde não estão disponíveis métodos diagnósticos 
laboratoriais, sejam utilizadas classificações essencialmente clínicas com base no número de lesões cutâneas. Por 
este método são classificados como PB (paubacilar) os casos com até 5 lesões cutâneas e como MB (multibacilar) os 
com mais de 5 lesões cutâneas. A legislação sobre o controle da hanseníase no Brasil normaliza a utilização, para 
alocação nos esquemas poliquimioterápicos, da classificação operacional recomendada pela OMS baseada no 
número de lesões cutâneas; a baciloscopia de pele, quando disponível, deve ser utilizada como exame complementar 
(Ministério da Saúde 2000). 
• Formas PB (Paucibacilar)- caracterizadas por: 
✓ Classificação de Madri: formas indeterminadas (I) e tuberculoide (T); 
✓ Classificação de Ridley e Jopling: formas indeterminada (I), tuberculoide-tuberculoide (TT), borderline-
tuberculoide (BT); 
✓ Classificação operacional: casos com até 5 lesões cutâneas. 
✓ Se for utilizado o critério baciloscópico, são os casos que apresentam baciloscopias negativas nos 
esfregaços cutâneos. 
✓ As manifestações clínicas mais frequentes são áreas com distúrbio de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil, 
manchas hipoacrômicas anestésicas ouhipoestésicas, placas eritematoinfiltradas, acometimento de troncos nervosos, 
mono ou polineuroapatia, em geral unilateralsimétrica. 
• Formas MB (Multibacilar)- caracterizada por: 
✓ Classificação de Madri: dimorfa (D) e virchoviana (V); 
✓ Classificação de Ridely e Jopling: borderline-borderline (BB), borderline-lepromatosa (BL), lepromatosa-
lepromatosa (LL); 
✓ Utilizando o critério baciloscópico são todos os casos que apresentem bacilos ácido-álcool-resistentes 
(BAAR) nos esfregaços de linfas cutâneas; 
✓ Classificação operacional: casos com mais de 5 lesões cutâneas. 
✓ As manifestações clínicas mais usuais são manchas, placas, tubérculos, nódulos com ou sem alteração da 
sensibilidade, infiltração eritematosa difusa, acometimento de troncos nervosos: mono ou polineuropatia, em 
geral assimétrica. 
 
• Histopatologia das lesões: a lesão histopatológica básica da hanseníase é um infiltrado inflamatório que pode 
variar na sua constituição conforme a posição do paciente no espectro de Ridley-Jopling. 
✓ O infiltrado inflamatório nos pacientes tuberculoides (TT e BT) se apresenta como um infiltrado 
granulomatoso com células epitelioides circundadas por um halo linfocitário. A presença de células gigantes é mais 
frequente e abundante na forma TT. O infiltrado nessa forma atinge e erode a epiderme e os pequenos ramos 
nervosos são destruídos pelo infiltrado granulomatoso. Esse tipo de infiltrado é mais destrutivo para os filetes 
nervosos e por isso eles são menos frequentemente vistos na derme nas formas T (BT e TT). A presença de BAAR é 
muito escassa e o infiltrado pode atingir positividade de 1+. 
VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT 
 
✓ A forma BB apresenta um granuloma de células epitelioides com aspecto frouxo sem células gigantes e 
menos linfócitos. A quantidade de BAAR é maior do que nas formas TT e BT. Essa forma é mais instável e 
frequentemente desenvolve episódio reacional do tipo 1 (reação reversa). 
✓ As formas L (BL e LL) se apresentam com um infiltrado constituído predominantemente por macrófagos 
repletos de BAAR, exibindo ainda degeneração espumosa (macrófagos virchovianos) em face da degeneração bacilar 
que ocorre dentro dos macrófagos. Nas formas L (BL e LL), os macrófagos em vez de eliminar as micobactérias 
infectadas, funcionam como meio de cultura para o M. leprae, permitindo o crescimento bacteriano em seu 
citoplasma onde são encontradas as aglomerações bacilares conhecidas como globias. Nas formas BB e BL 
encontramos frequentemente os ramos nervosos na derme circundados e invadidos por infiltrado inflamatório próprio 
da forma. Pelo fato de essas formas afetarem o sistema nervoso periférico de uma maneira mais lenta e mais tardia, é 
possível visualizar maior número de ramos nervosos dérmicos em meio ao infiltrado inflamatório. A forma BL pode 
se apresentar com quantidade razoável de linfócitos. 
• A interação do M. leprae com o ser humano pode variar, considerando que apenas uma pequena 
porcentagem (1 a 3%) dos indivíduos expostos desenvolvem a doença, gêmeos monozigóticos têm mais 
frequentemente concordância na doença e nas formas da doença do que gêmeos dizigotos, as formas não estão 
distribuídas aleatoriamente em irmãos doentes e a frequência de doentes em famílias com casamentos consanguíneos 
é maior. Isso porque a vulnerabilidade à hanseníase pode ser herdada. Além disso, trata-se de uma doença de 
natureza poligênica que é influenciada por fatores ambientais. Podem ser citados os promotores dos genes de IL-10 e 
TNF que poderiam estar associados à capacidade individual de produzir níveis aumentados ou diminuídos das 
citocinas, levantando a hipótese de que, na hanseníase, o polimorfismo nos promotores nestes genes TNF estaria 
controlando a suscetibilidade ou a gravidade (inclusive de formas reacionais) dos doentes, pois são genes que 
influenciam o padrão e a intensidade da resposta imune. Há também influências de background genético com 
descrição de genes candidatos envolvidos na regulação da interação neuroimunoendócrina entre patógeno e 
hospedeiro; a região 10p13 está ligada à forma clínica; Um agrupamento no cromossomo 17qll, contendo genes 
como NOS2A e STATSB, foi associado à suscetibilidade tanto para a hanseníase como para a tuberculose; os 
cromossomos 2q33-35, 4q32, 6q22-23, 6p21, 20pl2 estão associados tanto com a hanseníase quanto com a forma 
clínica; a região 6q25, mais especificamente os genes PARKIN e PARCG, também está envolvida fortemente na 
suscetibilidade à hanseníase. A caracterização funcional destes genes nas diversas fases da doença poderia ser 
utilizada como ferramenta para definir marcadores genéticos para diagnóstico precoce na população de alto risco, 
especialmente os contatos domiciliares dos pacientes. 
• O curso da infecção e as formas clínicas são determinadas pela resposta imune específica e, embora as 
imunidades celular e humoral estejam simultaneamente ativadas na hanseníase, o componente celular assume maior 
importância na eliminação bacilar, pois o M. leprae é um patógeno intracelular. Porém, o desenvolvimento dos 
níveis de resposta imune e o aparecimento das formas clínicas da hanseníase parecem depender de fatores ainda não 
completamente estabelecidos, mas sabe-se que a carga bacilar (que se expressa em função do tempo de 
estabelecimento da resposta imune após a exposição), ou seja, a concentração local de M. leprae, assim como a 
resposta imune do hospedeiro podem ser críticas. 
• A forma de infecção subclínica é definida como um estágio no qual nenhum sinal da doença está presente ou a 
imunidade definitiva não se desenvolveu. Já os pacientes lepromatosos apresentam um quadro de anergia específica 
ao M. leprae; as lesões se apresentam principalmente com uma relação CD4/CDS invertida na lesão, ausência de 
organização e diferenciação dos macrófagos para formar granuloma e atrofia da epiderme. Há total afastamento da 
epiderme do infiltrado inflamatório na derme por uma faixa de tecido conjuntivo denso, a faixa de Unna, 
característica desta forma clínica. O aspecto quiescente das lesões lepromatosas sugere que o microambiente tissular 
impede a migração e o acúmulo de linfócitos, especialmente células T CD4+, já que os linfócitos do sangue 
periférico nestes pacientes mantêm uma proporção de células CD4: CDS normal (2:1). Já pacientes tuberculoides 
desenvolvem resposta imune celular que leva à morte e à eliminação da maioria dos bacilos, mas que frequentemente 
provoca danos aos nervos. As lesões tuberculoides apresentam um predomínio de células T CD4+, embora células 
com fenótipo CDS+ também estejam presentes, mantendo uma relação CD4/CDS positiva. Há expressão de 
antígenos HLA-DR em queratinócitos hiperplasiados e presença de linfócitos intraepiteliais. 
• Na hanseníase, a resposta imune depende do padrão de resposta dos linfócitos Th1 e Th2. Os pacientes LL 
apresentaram um perfil predominante de citocinas do tipo Th2 (IL-4, IL-5 e IL-1O), sugerindo suscetibilidade à 
doença; os pacientes tuberculoides apresentaram perfil do tipo Thl (IFN , IL-2). Vários autores descreveram que 
lesões de pacientes tuberculoides apresentam mRNA de IL-12, IL-lS, IFN e TNF aumentado em comparação a 
pacientes lepromatosos. A citocina IL-10 tem sido detectada em altos níveis em pacientes lepromatosos com 
correlações positivas com o IB. A presença de resposta Thl confirmada não só por testes in vitro como pela 
expressão de mRNA de citocinas (IFN, IL-12, TNF) nas lesões tuberculoides opõe-se ao predomínio Th2 (IL-4, IL-
10) nas formas virchovianas. Nas formas borderline se detectam padrões mistos, Thl e Th2; estas formas são as mais 
suscetíveis a apresentarem reações hansênicas. 
• Eventos precoces na infecção podem ser cruciais em determinar qual destas duas vias predominará, marcando 
o padrão da resposta imune. As células apresentadoras de antígeno poderiam desempenhar um papel importante na 
VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT 
 
regulação da resposta imune. Entretanto, o mecanismo pelo qual o modo de apresentação favoreceria a ativação de 
um tipo ou outro delinfócitos Th ainda não está definido. Recentemente demonstrou-se que a imunidade inata, por 
meio da ativação de receptores toll-like (TRL), exerce crucial influência na determinação da resposta imune 
adquirida e, consequentemente, das diversas formas clínicas. Recentes evidências suportam a hipótese de que o perfil 
de citocinas gerado pela resposta imune inata possa regular a subsequente capacidade de resposta imune antígeno-
específica. 
• A partir do momento da infecção, fagócitos mononucleares desempenham um papel importante, tanto na 
resposta imune específica quanto na resposta imune inata. Além de suas funções como célula apresentadora de 
antígeno e de sua capacidade microbicida (morte e destruição do patógeno), estas células secretam um grande 
número de fatores solúveis que interagem não só com células do sistema imune, como também com células dos 
tecidos. As células apresentadoras de antígenos, como macrófagos e células dentríticas, são cruciais para direcionar a 
diferenciação dos linfócitos Th0 para um perfil Thl ou Th2. Dentre os fatores críticos para a diferenciação durante a 
infecção estão também as citocinas presentes no sítio da infecção, o tipo e a concentração, a rota de infecção e os 
fatores genéticos. Já está bem estabelecido que a presença de IL-4 direciona a resposta imune preferencialmente para 
um perfil Th2, caracterizado pela secreção de IL-4, IL-5 e IL-13, importante para a resposta a patógenos 
extracelulares. Por outro lado, a indução do perfil Thl parece essencial para a ação efetiva contra patógenos 
intracelulares. Esta atividade requer ótima produção de IFN pelas células Thl. O IL-12 parece ser um fator 
importante para o desenvolvimento deste fenótipo. Esta citocina é produzida pelas células fagocíticas em resposta a 
patógenos como micobactérias e estimula a produção de IFN que, por sua vez, favorece a erradicação de 
microrganismos intracelulares. No entanto, outros fatores são essenciais para o direcionamento da resposta Thl. Já 
foi demonstrado que a IL-18, embora não induza o fenótipo Thl, tem atividade sinergística com a IL-12 para induzir 
a produção de IFN. 
• Por outro lado, componentes das micobactérias têm a habilidade de modular atividade microbicida dos 
macrófagos LAM, um lipopolissacarídio componente da parede celular de micobactérias e um potente inibidor da 
ativação mediada pelo IFN. Foi também evidenciado que a resistência à ativação com IFN pode ser mediada pela 
prostaglandina E2 e/ou a IL-10. Alguns antígenos exclusivos do M. hanseníase, como PGL-1 (glicolipídio fenólico 
1), presente na membrana da bactéria e encontrado nos tecidos infectados, também podem estar associados à não 
resposta dos pacientes lepromatosos. O PGL-1 regula negativamente a liberação de citocinas como o TNF por 
monócitos, podendo esta substância contribuir para a ativação defeituosa dos macrófagos e para a indução de um 
perfil supressor via células T. Desta forma, M. leprae parece modular a resposta imune desenvolvida nas lesões por 
meio de componentes de sua parede celular e também via secreção de substâncias com atividade supressora sobre os 
macrófagos. Monócitos infectados podem contribuir para a fraca ativação dos linfócitos T nos indivíduos 
lepromatosos, devido à liberação de fatores que possam suprimir a ativação destas células. 
• Estados reacionais hansênicos: são complicações emergenciais com episódios agudos ou subagudos com 
comprometimento neurológico, cutâneo e sistêmico, isolados ou simultâneos, variando de acordo com cada caso e 
com o tipo de reação; ocorrem por alterações no sistema imunológico com fisiopatologia e fatores desencadeantes 
ainda não completamente elucidados. Podem deixar sequelas, por isso devem ser diagnosticados e tratados 
rapidamente. As reações podem ocorrer antes da introdução da poliquimioterapia, na vigência desta e após a alta 
terapêutica. 
• As reações hansênicas são classificadas em: 
✓ Reação tipo 1 ou reação reversa (RR); decorre do aumento da imunidade celular e se exterioriza 
clinicamente por inflamação das lesões cutâneas e dos troncos nervosos periféricos. Mais frequentes em 
pacientes classificados como PB, nos quais as reações não são tão comuns, com formas BB/BL. 
✓ Reação tipo 2 ou eritema nodoso hansênico (ENH); ocorre devido à ativação de citocinas como TNF, IL-2, 
IL-6 e IL-8. A resposta imune celular parece também contribuir para a gênese deste tipo de reação que, além 
dos comprometimentos neurológico e cutâneo, cursa com sintomas sistêmicos. Mais frequente em paciente 
classificados como MB, quando as complicações são frequentes e podem ser observadas até 5 anos após a alta 
terapêutica, e nas formas lepromatosas BL/IL. 
✓ Neurite isolada; nos casos em que a agudização se exterioriza unicamente com comprometimento dos 
troncos nervosos periféricos. Mais frequentes em pacientes classificados como PB. 
• Quanto aos aspetos imunológicos das reações, é bom lembrar que no polo tuberculoide as lesões são poucas e 
localizadas com baciloscopia negativa enquanto no polo lepromatoso as lesões são numerosas e disseminadas com 
baciloscopia positiva. Compondo o espectro, as formas BT, BB e BL mostram gradações progressivas do número e 
da distribuição das lesões e da carga bacilar. Porém, a ocorrência de reações fornece um novo entendimento dos 
mecanismos de regulação imunológica durante a interação hospedeiro-patógeno. As reações parecem representar um 
rompimento de um estado estável alcançado em um curso crônico da doença em pacientes MB anteriormente não 
responsivos que são capazes de reverter para o perfil imunológico altamente responsivo, ocasião na qual os quadros 
clínico e histopatológico se aproximam do polo turberculoide do espectro. A possibilidade de os pacientes 
desenvolverem qualquer tipo de reação depende de variáveis multifatoriais, que necessariamente incluiriam 
características genéticas, haplótipos de HLA, variantes imunológicas e carga bacilar, entre outros. 
VANESSA TELLES- MEDICINA UFMT 
 
• Durante a RR há reemergência ou aumento da resposta imune celular que depende da expansão de células T 
M. leprae-específicas. A RR está consequentemente associada ao aumento da produção de IFN, levando à formação 
de granulomas e ao aumento da atividade microbicida do macrófago. Também há evidências de resposta imune 
celular no ENH que incluem: resposta linfoproliferativa positiva junto à produção aumentada de IFN; detecção da 
expressão de IFN e IL-12 mRNA nas lesões e no sangue de pacientes; envolvimento de células T ativadas na 
produção intensificada de TNF por monócitos estimulados por M. leprae através do contato direto célula-célula. 
• A ocorrência sequencial de ENH e RR no mesmo paciente pode, ainda, indicar um fundo imunológico 
semelhante, compartilhado por ambas as reações. Um perfil de citocina mRNA idêntico foi observado nas lesões do 
mesmo paciente no curso das reações, no entanto as células T somente estavam presentes na RR, quando as lesões 
exibem infiltrado maciço de macrófagos, constituindo granulomas. Já no ENH predomina o infiltrado 
linfoplasmocitário com neutrófilos e vasculites. Neste contexto, IFN somente foi detectado em cultura de PBNC em 
aproximadamente 30% de todos pacientes ENH estudados ao passo que ambos os tipos de pacientes, RR e ENH, 
expressaram IFN e IL-12 mRNA na pele durante a reação. Supõe-se que seja possível que uma produção transitória 
de IFN por células Th2 esteja operante nas lesões de pacientes ENH, enquanto em pacientes RR parece ser uma 
produção mais prolongada e estabelecida de IFN (e TNF) por clones de Thl. 
• Os estados reacionais têm sido relacionados com a produção exagerada de TNF in vivo e in vitro, apontando o 
TNF como mediador-chave na imunopatologia da lesão tecidual, tanto na RR quanto no ENH. Especulou-se que a 
emergência da resposta imune inata ou adquirida em ENH seguida pela produção de IFN, IL-6 e IL-12 in situ 
poderia estar envolvida de forma sinérgicana amplificação da resposta inflamatória e na produção aumentada de 
TNF tanto local como sistêmica. O papel da resposta imune inata na hanseníase foi recentemente confirmado pela 
demonstração de intensa expressão de TLR2 e TLRl em lesões tuberculoides em contraste com lesões lepromatosas. 
Além disso, a estimulação de TLR com a lipoproteína 19 kDa de M. leprae na presença de citocinas Thl aumentou a 
capacidade de matar o M. leprae como também aumentou a secreção de TNF. Ao contrário, citocinas Th2 inibiram a 
produção de TNF pelos monócitos. Estudos recentes demonstraram que M. leprae, a exemplo de M. tuberculosis, 
induz à apoptose em monócitos e ativa o fator de transcrição NFkB. 
• Supõe-se também que a cinética da liberação de TNF e IL-10 em resposta ao M. leprae poderia estar alterada 
em pacientes reacionais. O remodelamento de componentes da matriz extracelular requer a ação de proteases, entre 
elas MMP (metaloproteinases de matriz), que são proteínas ligantes de zinco, aparentemente estimuladas por 
citocinas como IL-1, TNF , e ésteres de forbol. As MMP e seus inibidores também têm um papel importante no 
remodelamento tecidual que acompanha inflamação, cicatrização de feridas, invasão tumoral e reabsorção óssea e 
por muito tempo têm sido considerados como possíveis fatores na patogenia de várias doenças. 
Na hanseníase, expressão aumentada de mRNA de ambos, MMP-2 e MMP-9, foi recentemente detectada em lesões 
cutâneas reacionais. 
• A capacidade do M. leprae de infectar a célula de Schwann é uma característica única do bacilo entre todas as 
bactérias patogênicas para o homem. O envolvimento de pelo menos três diferentes proteínas envolvidas na 
aderência do M. leprae à laminina presente na membrana basal das células ainda não foi demonstrado, embora dados 
preliminares do laboratório sugiram que TNF e outras citocinas estão envolvidos e podem ser os principais 
mediadores da lesão neural. A capacidade de ligantes de M. leprae induzirem apoptose de SC através da ligação de 
TLR-2 proporciona um mecanismo pelo qual a ativação da resposta imune inata contribui para a lesão de nervo na 
hanseníase. 
• O diagnóstico das reações hansênicas é feito com base na análise clínica e laboratorial. As manifestações 
frequentes incluem: 
✓ Reativação das lesões cutâneas preexistentes com eritema, edema, calor e hipersensibilidade e 
aparecimento de novas lesões que podem apresentar as condições inflamatórias referidas ou se exteriorizar 
como máculas RR macular. Espessamento e dor espontânea ou à palpação de troncos nervosos periféricos 
(neurite). Ocasionalmente, surgem edemas de extremidades uni- ou bilateral; distúrbios sistêmicos (febre, mal-
estar geral). Podem ser referidos, antes da exteriorização dos sinais e sintomas reacionais, hipersensibilidade e 
hiperestesia em extremidades (palmas das mãos, plantas dos pés, pavilhões auriculares e nariz) e sensação de 
prurido nas lesões. 
✓ Eritema Nodoso Hansênico é característico dessa doença com nódulos cutâneos de aparecimento súbito e 
sob pele aparentemente normal, eritematosos, dolorosos, móveis, isolados, com distribuição simétrica e bilateral 
principalmente na face e extremidades; o comprometimento sistêmico é comum, em muitos casos grave, com 
características de estado toxêmico; neurite; edema e eritema com características inflamatórias em mãos e pés. 
✓ Laboratorialmente, podem ser detectadas leucocitose e neutrofilia; reação leucemoide, queda abrupta 
do hematócrito; anemia normocítica e normocrômica; níveis elevados de proteína e reativa e fibrinogênio; 
diminuição da atividade fibrolítica; elevação dos níveis de transaminases, aldolases e fosfatases. 
✓ A neuropatia periférica da hanseníase se apresenta com manifestações predominantemente sensoriais e 
autonômicas envolvendo a sensibilidade térmica, tátil e dolorosa e comprometendo também as secreções 
sudoríparas, sebáceas, o trofismo e a ereção do pelo, comprometimento da função motora, paresias, paralisias e 
hipotrofia muscular. 
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OBS: A lesão do nervo periférico é representada por infiltrado 
inflamatório que ocupa os compartimentos do nervo (endoneuro, 
perineuro e epineuro), podendo o infiltrado ser constituído por granuloma 
epitelioide com pouco ou nenhum bacilo e por infiltrado formado por 
macrófagos que se tornam vacuolados contendo bacilos álcool-ácido-
resistentes em seu interior. O infiltrado inflamatório do nervo acaba por 
destruir as fibras nervosas mielinizadas e não mielinizadas, 
comprometendo gravemente a função neural dos pacientes. Os 
mecanismos de lesão do nervo periférico na hanseníase são controversos, 
sendo a fase inicial da interação do M. leprae com os componentes do 
nervo. Essa interação que ocorre antes da invasão do nervo pelo infiltrado 
inflamatório é fundamental para os eventos subsequentes, pois ela resulta 
na modificação estrutural e biológica do órgão, alterando a sua barreira protetora, permitindo a detecção do bacilo 
pelo sistema imunológico do hospedeiro e a consequente ocupação do nervo pelo infiltrado imunoinflamatório que é 
altamente destrutivo para esse órgão. Foi registrado que o M. leprae tem o poder de induzir aumento de expressão de 
mRNA e de proteínas correspondentes a MMP9, MMP2, TIMPl e de TNF em células de Schwann, o que explica a 
patogenia da lesão neural da hanseníase, pois o aumento da expressão de MMP9 está implicado no processo de 
ativação de TNF, na ruptura da barreirahematoneural e no processo de desmielinização da fibra nervosa com a 
consequente dor neuropática. A isso se soma o efeito de linfócitos citotóxicos sobre células de Schwann infectadas, 
diminuição da fosforilação das proteínas de neurofilamentos e atrofia axônica. 
• Tratamento: a OMS recomenda a associação de quimioterápicos no tratamento de todos os pacientes de 
hanseníase objetivando a prevenção de cepas do M. leprae quimiorresistentes, eliminação da população bacteriana 
viável no menor tempo possível, diminuição do risco de recidivas e do número de casos de abandono. A utilização 
dos esquemas poliquimioterápicos se dá pela associação dos seguintes medicamentos: 
✓ Rifampicina: antibiótico semissintético dos grupos das rifaminas possui a propriedade de atravessar 
membranas lipídicas mantendo a atividade antimicrobiana em ambiente ácido, propriedade 
particularmente útil no caso de bactérias intracelulares; 
✓ Clofazimina: Seu componente ativo é um corante imunofenazínico e é o único medicamento no 
tratamento da hanseníase que possui propriedades anti-inflamatórias relacionadas com a diminuição da 
mobilização de neutrófilos e da transformação linfocitária induzida por mitogênese. 
✓ Dapsona: Foi o primeiro quimioterápico a ser utilizado no tratamento da hanseníase e persiste até os dias 
atuais em virtude de seu baixo custo e boa tolerabilidade com reduzidos efeitos colaterais graves. 
✓ Ofloxacino: Antibiótico do grupo das fluoroquinolonas é efetivo contra o M. leprae na dose de 400 mg. 
Estudos laboratoriais demonstram que 22 doses de 400 mg eliminam 99,9% da população viável do M. 
leprae. Possui como efeitos colaterais manifestações gastrintestinais (náuseas, diarreia) e no sistema 
nervoso central (cefaleia, tonturas, insônia e alucinações). 
✓ Minociclina: Antibiótico do grupo das tetraciclinas, possui significativa atividade bactericida frente ao 
M. leprae, porém consideravelmente menor do que a da RMP. Estudos clínicos demonstraram que a dose 
de 100 mg/dia é eficaz. Possui como efeitos colaterais alteração permanente da coloração do 
esmalte dentário em crianças, distúrbios gastrintestinais e no sistema nervoso central (tonturas, tremores). 
• Esquemas poliquimioterápicos para hanseníase: 
✓ Pacientes PB: Rifampicina - 600 mg uma vez ao mês com supervisão + Dapsona - 100 mg/dia, 
autoadministrados. Duração: 6 doses em até 9 meses. 
o Deve ser feito contato quinzenal, preenchimento de fichas com revisão dermatológica na 6ª dosee 
avaliação do grau de incapacidade. 
o Receberão alta por cura, os pacientes que completaram as 6 doses de PQT (poliquimioterapia) 
supervisionada, em até 9 meses, independentemente do número de faltas consecutivas. 
o Os doentes com alta por cura sairão do registro ativo e devem retornar anualmente, por 3 anos, 
quando serão liderados com orientação para retornar para sua unidade, caso desenvolvam sinais e 
sintomas sugestivos de atividade da doença 
✓ Pacientes MB: Rifampicina 600 mg - uma vez ao mês com supervisão + Clofazimina 300 mg - uma vez 
ao mês com supervisão 50 mg - diários autoadministrados + Dapsona 100 mg - diários autoadministrados. 
Duração: 12 doses com supervisão (período máximo de 18 meses). 
o Deve ser feito contato quinzenal, preenchimento de fichas com revisão dermatológica na 6ª e 
12ªdoses e avaliação do grau de incapacidade. 
o Receberão altas, por cura, os pacientes que completaram as 12 doses de PQT 
supervisionada, em até 18 meses, independentemente do número de faltas consecutivas. Sairão do 
registro ativo, devendo retornar anualmente, por 3 anos, para acompanhamento. 
• Tratamento das reações hansênicas: visto que as manifestações hansênicas são emergenciais, deve-se tratar 
adequadamente. Os corticosteroides, por suas ações imunossupressora e anti-inflamatória, são as medicações de 
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escolha, pois inibem a resposta inflamatória, desencadeada tanto por estímulos imunológicos como por não 
imunológicos. A talidomida pode ser considerada como o fármaco mais efetivo no tratamento do ENH e que reduz 
os níveis séricos do TNF sem afetar a produção de IL-1 e IL-6. A pentoxifilina é uma metilxantina com ação na 
viscosidade sanguínea, fibronólise, coagulação e cicatrização. As evidências entre os níveis séricos elevados de TNF 
e o desenvolvimento do ENH também sugerem que a melhor opção terapêutica para o ENH é a utilização de 
anticorpos anti-TNF. Lembrando que o tratamento das reações deve estar associado ao tratamento 
poliquimioterápico na eventualidade de o paciente ainda não ter completado o número de doses preconizadas; nos 
casos que apresentar reação após a alta, somente utilizar as substâncias antirreacionais. 
2) Farmacologia da Hanseníase: 
Rifampicina: 
• Faz parte de um grupo de antibióticos macrocíclicos chamado Rifamicinas. É derivada do fungo do solo 
Streptomyces, tem atividade antimicrobiana mais ampla do que a isoniazida e é usada no tratamento de inúmeras 
infecções bacterianas causadas por micobactérias intra e extracelulares. Como rapidamente surgem cepas resistentes 
durante o tratamento, nunca é usada como fármaco único para tratar a tuberculose ativa. A resistência à rifampicina 
pode ser causada por mutação na afinidade da RNA-polimerase DNA-dependente da bactéria pelo fármaco ou por 
diminuição da permeabilidade. 
• Seu mecanismo de ação se dá por bloqueio da transcrição através da interação com a subunidade beta da 
RNA-polimerase DNA-dependente bacteriana, mas não a humana. Assim, o fármaco é específico contra procariotos 
e inibe a síntese de RNAm suprimindo a etapa inicial. 
• Ela é eficaz contra vários microrganismos gram-positivos e gram-negativos e é usada profilaticamente por 
indivíduos expostos a meningite causada por meningococos ou Haemophi/us influenzae. A rifabutina, um análogo da 
rifampicina, tem alguma atividade contra o complexo Mycobacterium avium-intracellulare, mas é menos ativa contra 
tuberculose. 
• Com administração oral, é distribuída por todos os órgãos e líquidos corporais, sendo captado pelo fígado e 
sofre circulação entero-hepática. A rifampicina pode causar indução das oxidases hepáticas de função mista (ver p. 
14), reduzindo sua meia-vida e promovendo numerosas interações com fármacos. A sua eliminação e a dos 
metabólitos é pela bile nas fezes ou pela urina. 
• Embora bem tolerada, pode haver efeitos adversos como náuseas, êmese e urticária, raras hepatites e morte 
devido à insuficiência hepática, por isso não deve ser adm sozinha ou ionizada em alcoolistas, idosos e hepatopatas. 
Quando a rifampicina é dosificada intermitentemente ou quando as doses diárias são de 1,2 g ou mais, ocorre uma 
síndrome tipo gripe, com febre, calafrios e mialgias e às vezes associada com insuficiência renal aguda, anemia 
hemolítica e choque. Como a rifampicina pode induzir inú meras enzimas citocromo P450 (ver p. 14), ela pode 
determinar a redução da meia-vida de outros fármacos que são coadministrados e biotransformados por esse sistema. 
Também pode haver coloração de urina, fezes e outras secreções de vermelho-alaranjado. 
 
Dapsona: 
• É estruturalmente relacionada com as sulfonamidas e de modo similar inibe a síntese de folato via inibição 
da di-hidropteroato sintetase. Ela é bacteriostática contra Mycobacterium leprae, mas cepas resistentes são 
encontradas. A dapsona também é empregada no tratamento de pneumonia causada por Pneumocystis jiroveci em 
pacientes infectados com HIV. 
• É bem absorvida do TGI e se distribui por todo o organismo, com níveis elevados concentrados na pele. O 
fármaco entra na circulação entero-hepática e sofre acetilação hepática. A dapsona e seus metabólitos são eliminados 
pela urina. 
• As reações adversas incluem hemólise, especialmente em pacientes com deficiência de glicose-6 fosfato 
desidrogenase, bem como metemoglobinemia, neuropatia periférica e a possibilidade de desenvolver "eritema 
nodosum leprosum" (uma complicação cutânea séria e grave da hanseníase, combatida com corticosteroides ou 
talidomida). 
 
Clofazimina: 
• é um corante fenazina que se liga ao DNA e evita que sirva de modelo para futuras replicações de DNA. Sua 
propriedade redox pode levar à formação de radicais de oxigênio citotóxicos que também são tó 
xicos para a bactéria. A clofzimina é bactericida contra o M. leprae e tem alguma atividade contra o complexo M. 
avium-intracellulare. 
• Com adm oral, o fármaco se acumula nos tecidos, permitindo o tratamento intermitente, mas não entra no 
SNC. 
• Podem haver coloração vermelho-marrom na pele e Enterite eosinofílica. O fármaco também tem alguma 
atividade anti-inflamatória. 
 
3) Prevenção e controle da Hanseníase: 
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• A principal prevenção consiste em diagnóstico precoce, tratamento poliquimioterápico adequado e tratamento 
das neurites com corticoterapia, principalmente durante os estados reacionais. É importante orientar o paciente para 
que realize o auto-exame diário e evite traumatismos, calos, ferimentos e queimaduras. As atividades de prevenção e 
tratamento de incapacidades não devem ser dissociadas do tratamento PQT/OMS. Desenvolvidas durante o 
acompanhamento de cada caso, devem ser integradas na rotina dos serviços da unidade de saúde, de acordo com seu 
grau de complexidade. A adoção de atividades de prevenção e tratamento de incapacidades será baseada nas 
informações obtidas através da avaliação neurológica, no diagnóstico da hanseníase. Estas informações referem-se ao 
comprometimento neural ou às incapacidades físicas identificadas, as quais merecem especial atenção tendo em vista 
suas conseqüências na vida econômica e social dos portadores de hanseníase, ou mesmo suas eventuais sequelas 
naqueles já curados. 
• Em Rondonópolis, são 03 polos de atendimento que visam melhorar a qualidade de vida e bloquear a 
disseminação da doença. Isso inclui unidades de referência farão biópsia, entrega de material para coleta de linfa, 
notificação e relatório mensal, tratamento e alta dos casos diagnosticados, bem como o controle dos comunicantes 
intradomiciliares de todos os doentes da área de abrangência das mesmas. As demais Unidade Básicas de Saúde, 
serão responsáveis pelo acompanhamento das doses supervisionadas e pelo controle de todos os comunicantes 
intradomiciliares, bem como pelo relatório destas atividades e o encaminhamento destes ao Sistema de Informação. 
• Para a efetividade de medidas de prevençãoe controle, é papel das Unidades Básicas de Saúde, dentre outras 
coisas: examinar o paciente com sinais suspeitos; acompanhar e encaminhar casos de incapacidade grau II; 
Preencher ficha de notificação com entrega semanal; examinar os comunicantes intradomiciliares e encaminhar 
relatório para o Sistema de Informação; dar todas as informações sobre Hanseníase e prognósticos sem e com o 
tratamento aos doentes; alertar a comunidade para a suspeita de Hanseníase, informando a eficácia do tratamento, 
importância do diagnóstico e tratamento precoce e trabalhando no sentido de superar preconceitos; investigar em 
todos os usuários atendidos na U.S, a presença de lesões suspeitos de Hanseníase, encaminhando para consulta 
médica. 
• Além disso, devem ser feitas a identificação determinantes fundamentais da qualidade de vida: trabalho/renda e 
consumo de bens e serviços; das características genéticas, ambientais, socioeconômicas e culturais, que interferem 
sobre a saúde... 
 
4) Epidemiologia da Hanseníase: 
• A hanseníase é amplamente distribuída no hemisfério sul, estando presente em quase todos os países da África, 
da América Latina e da Ásia. Entretanto, somente 7 países são considerados endêmicos e apresentam prevalência 
acima de 1 por 10.000 habitantes (Brasil, Índia, Madagascar, Moçambique, Nepal, Tanzânia). A taxa de prevalência 
no Brasil é de 4,52 pacientes para 10.000 habitantes (MS, 2003). 
• Dados obtidos a partir de um estudo descritivo do perfil epidemiológico dos casos novos de hanseníase no 
Brasil, no período de 2012 a 2016. As fontes utilizadas para a obtenção dos dados foram: (i) as notificações dos 
casos de hanseníase registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan); e (ii) as estimativas 
populacionais para o ano de 2014 elaboradas pelo Ministério da Saúde/SVS/CGIAE segundo regiões e Unidades da 
Federação (UFs). 
• O Estado do Mato Grosso possui 11 municípios prioritário para a hanseníase, que são: Alta Floresta, Barra do 
Garças, Cáceres, Cuiabá, Diamantino, Juara, Rondonópolis, Sinop, sorriso, Tangará da Serra e Várzea Grande. 
• No período de 2012 a 2016, foram diagnosticados 151.764 casos novos de hanseníase no Brasil, o que equivale 
a uma taxa média de detecção de 14,97 casos novos para cada 100 mil habitantes. Nesse período, observou-se que a 
taxa de detecção por 100 mil habitantes na população masculina foi maior que na população feminina em todas as 
faixas etárias, sobretudo a partir dos 15 anos de idade. Além disso, essa proporção é crescente com o aumento da 
faixa etária, apresentando, na população masculina de 60 ou mais anos de idade, uma taxa média de detecção cerca 
de oito vezes maior que na população menor de 15 anos. 
• Classifica-se o caso de hanseníase como incapacidade grau 0, quando a força muscular e a sensibilidade desses 
segmentos estão preservadas; grau 1, quando há diminuição da força muscular e/ou diminuição de sensibilidade; e 
grau 2, quando há deformidade visível nas mãos e/ou pés e/ou olhos. Assim, em relação à detecção de casos novos 
com grau 2 de incapacidade física, o estudo revelou uma taxa média de 10,53 casos para cada 1 milhão de habitantes 
do Brasil, no período de 2012 a 2016. Com isso, há uma constatação de que as deformidades visíveis são uma das 
principais causas do estigma social e do isolamento de pessoas na sociedade. Este trabalho mostra que esta situação 
afeta a vida de milhares de brasileiros, porque compromete mecanismos de defesa, como a capacidade de sentir dor, 
a visão e o tato, tornando-os mais vulneráveis aos riscos de acidentes, queimaduras, feridas, infecções e amputações, 
entre outros. 
• A análise dos indicadores por macrorregião mostrou que as regiões Centro-Oeste (37,27/100 mil hab.) e Norte 
(34,26/100 mil hab.) exibiram as maiores taxas médias de detecção geral no período analisado (2012-2016), 
enquanto as menores foram registradas nas regiões Sul (3,75 por 100 mil habitantes) e Sudeste (5,31 por 100 mil 
habitantes). Observa-se que todas as UFs, exceto o Rio Grande do Norte, apresentaram maiores taxas de detecção no 
sexo masculino. Os maiores valores deste indicador no sexo masculino foram registrados nos estados de Mato 
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Grosso, Maranhão, Tocantins e Rondônia, enquanto nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Alagoas as 
taxas médias de detecção foram mais próximas entre os sexos. 
• No período 2012-2016, a proporção dos casos novos com classificação operacional multibacilar foi prevalente 
no sexo masculino (62,7%), enquanto a classificação paucibacilar prevaleceu no sexo feminino (58,6%). 
• Nos cinco anos de análise (2012-2016), 95,7% dos casos novos diagnosticados no país declararam sua raça/cor 
no momento da notificação. Destes, 58,9% corresponderam à raça/ cor parda, 26,8% à branca, 12,8% à preta, 0,9% à 
amarela e 0,4% à indígena. Isso reflete o contexto histórico da população negra no Brasil, pois este segmento, além 
de representar a maior parte da população do país, é o que mais padece com as desigualdades em diversos aspectos 
da vida social, inclusive na saúde, assim como ocorre quando se observa a predominância de hanseníase em homens 
com baixa escolaridade pode sugerir a influência dos determinantes sociais, que assumem papel importante no 
processo de adoecimento da população. Vale ressaltar a importância dessa informação para o planejamento das 
atividades, principalmente nos aspectos relacionados à educação em saúde, sobretudo na abordagem de autocuidado. 
• A hanseníase virchowiana ocorre nos indivíduos que apresentam imunidade celular menos eficaz contra o 
Mycobacterium leprae e representa importante foco infeccioso nos casos não tratados. A forma dimorfa acomete 
pessoas com instabilidade imunológica contra o bacilo, constituindo tais indivíduos um grupo mais sujeito às reações 
hansênicas, que são uma das principais causas de surgimento de incapacidades físicas em hanseníase. 
 
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• Apesar da hanseníase ser um problema relativamente 
maior entre os homens, esse grupo populacional 
provavelmente comparece menos às unidades de saúde 
para o controle de comunicantes. Destaca-se que a vigilância de contatos é a principal estratégia de detecção ativa 
para a descoberta de casos, uma vez que facilita o diagnóstico precoce, contribuindo para a queda da cadeia de 
transmissão e reduzindo, consequentemente, as de!ciências que surgem em decorrência do atraso no diagnóstico. Em 
relação ao percentual de exame de contatos por UF, observa-se que os estados de Rondônia, Amapá, Sergipe, 
Alagoas e Mato Grosso apresentaram maiores percentuais de contatos examinados, entre os contatos dos casos novos 
registrados em mulheres.

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