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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO EM MARKETING DIGITAL TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO. CARLOS ALBERTO NOVAIS FERREIRA FARFETCH: O LUXO NA NET Rio de Janeiro MARÇO 2019 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO EM MARKETING DIGITAL TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO. CARLOS ALBERTO NOVAIS FERREIRA FARFETCH: O LUXO NA NET Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para conclusão do Curso de Pós- Graduação em Marketing Digital Professor Orientador: Me. Raul Fonseca Silva Rio de Janeiro MARÇO 2019 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO EM MARKETING DIGITAL TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Carlos Alberto Novais Ferreira FARFETCH: O LUXO NA NET Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para conclusão do Curso de Pós- Graduação em Marketing Digital Professor Orientador: Me. Raul Fonseca Silva Aprovado em: ........... / ...................... / .............. Nota: ........ ( ...............) Dedicatória À minha família, terrena e espiritual. Agradecimentos Agradeço, em especial, ao Rui Lopes Silva que, ao saber desta pós-graduação, chamou minha atenção para o sucesso desta empresa portuguesa. Agradeço à minha esposa, Ana Paula, que sendo natural de país anglófono, ajudou que as traduções das informações em inglês tivessem um maior rigor na tradução. Agradeço ao Marcelo Costa Santos, que ouvindo meus comentários e desabafos sobre o trabalho, ao longo do desenvolvimento do mesmo, proporcionou a mim a capacidade de um auto diálogo durante as explicações que lhe dava acerca do assunto. Resumo O mercado online ganha a cada ano que passa uma maior fatia do total de vendas das empresas. A massificação permite atingir um maior número de pessoas em todos os lugares: é por demais evidente que esse canal de vendas terá um enorme peso no escoamento dos produtos das empresas. Ainda que os exemplos de sucesso sejam evidentes, a maioria é constituída por produtos fora daquilo que convencionalmente designamos por mercado de luxo. Não se pode dizer que os produtos, transacionados online, não tenham qualidade, muito pelo contrário, porém habitualmente não são oferecidos a preços altíssimos pois visam a venda massificada. O mercado de luxo transaciona produtos que se pretendem exclusivos, proporcionando a seus adquirentes status social e glamour pela posse, uso ou ostentação de determinada marca. Por tratar-se de um mercado mais exclusivo em que a unidade do produto tem um custo muito acima da média, sempre é cercado por cuidados e vicissitudes muito diferentes na oferta e transação de seus congêneres do mercado de massa. Nesse contexto as empresas que atuam no mercado de luxo possuem métodos e marketing próprio característico dos produtos que vendem e têm muita experiência em o fazer pelos canais de venda tradicionais. No entanto, não possuem tradição e Know-How em como atuar no meio digital sem que seus produtos sejam confundidos com outros de menor valor e muito menos têm experiência em atingir o nicho de mercado em que atuam através da internet. Percebendo esse “gap” - a falta de entrosamento desse mercado com o meio digital - um investidor português funda uma empresa que é inovadora, a FARFETCH, e tenta o sucesso numa área inexplorada. Este TCC pretende pesquisar os erros e acertos dessa luta e aprender com a experiência pesquisada. Palavras-chave: Mercado de luxo, produtos de luxo na internet Abstract The Online Market wins each year that spends a larger share of the total sales of the companies. The massification allows to reach a greater number of people everywhere: it is evident that this sales channel will have enormous weight in the disposal of the products of the companies. Although The examples of success are evident, the majority consist of products outside what we conventionally designate by luxury market. It can Not be said that the products, traded online, do not have quality, on the contrary, but usually are not offered at very high prices because they are aimed at the sale massified. The Luxury Market transacts products that are intended exclusively, providing their purchasers with social status and glamour for possession, use or ostentation of a particular brand. Because It is a more exclusive market where the unit of the product has a cost far above the average is always surrounded by very different care and adversities in the supply and transaction of their mass market counterparts. In this context, the companies that operate in the luxury market have own methods and marketing characteristic of the products they sell and have much experience in doing so by traditional sales channels. However they do not have tradition and Know-How in how to act in the digital environment without their products being confused with others of lesser value and much less have experience in reaching the market niche that work through the Internet. Realizing this "gap"-the lack of entrosment of this market with the digital medium-a Portuguese investor founds an innovative company, FARFETCH, and tries success in an unexplored area. This TCC intends to research the errors and successes of this fight and learn from the researched experience. Keywords: luxury market, luxury products on the internet LISTA DE ILUSTRAÇÕES Pag. Figura 1 - pirâmide-de-maslow Figura 2 – CEO José Neves Figura 3 - Instalações no Porto Figura 4 - matriz de segmentação do Cliente Digital 13 15 24 24 9 SUMÁRIO Pag. 1. ESCOLHA DO TEMA 2. PROBLEMATIZAÇÃO 3. JUSTIFICATIVA 4. METODOLOGIA DE PESQUISA 5. INTRODUÇÃO 6. O CONCEITO DE MERCADO DE LUXO 7. EVOLUÇÃO DO E-COMMERCE NO BRASIL 8. CONCEITO DE MARKETPLACE 9. SURGIMENTO DA EMPRESA 9.1 HISTÓRIA DO FUNDADOR 9.2 IDEIA DO CONCEITO DA EMPRESA E POSICIONAMENTO 9.3 NEGOCIAÇÕES COM AS MARCAS 9.3.1 “DAS REDES SOCIAIS” ÀS “REDES SOCIAIS DIGITAIS” 10. A EMPRESA 11. FINANCIAMENTO DA EMPRESA 11.1 CAPITAIS PRÓPRIOS 11.2 INVESTIDORES 12. ESTRATÉGIAS DE MARKETING DIGITAL 13. DESAFIOS A SEREM ULTRAPASSADOS E/OU VIGIADOS 14. PROGNÓSTICOS 15. BENEFÍCIOS LOCAIS DE POSSUIR UMA EMPRESA DE RENOME MUNDIAL 15. CONSIDERAÇÕES FINAIS 16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 10 10 10 11 11 13 14 14 15 16 17 18 19 21 22 22 23 27 29 30 32 10 1. ESCOLHA DO TEMA O Mercado de Luxo: a inserção de um mercado exclusivíssimo num meio massificador. Suas peculiaridades e inovações num canal de vendas inovador e distante da realidade do segmento. A percepção da necessidade de criar um espaço que atenda esse segmento, altamente rentável, mas sem experiência em termos de e-commerce. 2. PROBLEMATIZAÇÃO O mercado de luxo oferece produtos que se pretendem os mais exclusivos possíveis. Ao par de elevada qualidade é instituída uma imagem de glamour pela aquisição da marca específica em detrimento daquilo que o consumidor mediano consome. Atendimentos exclusivos, muitas vezes com serviços que vão do transporte individual ao servir champanhe ou outra bebida mais cara do que a tradicional água ou café, são habituais nesse segmento. Como manter essaseletividade e conseguir cativar o consumidor na internet - um meio de massas, à distância de um “clique” em qualquer lugar do mundo e em qualquer altura do dia – é um desafio para quem atua no setor. 3. JUSTIFICATIVA A empresa pesquisada neste trabalho, FARFETCH, introduziu no meio digital empresas tradicionais que vendem produtos de alta qualidade e alto valor agregado, inovando e estabelecendo a conexão cliente-empresa, habitualmente restrita. A percepção de seu fundador ao constatar a peculiaridade desse segmento e das dificuldades que grandes empresas tinham em aí atuar, proporcionou-lhe a criação de uma empresa onde os processos de comercialização dos produtos tiveram que ser inventados para atender esse nicho. Erros e acertos na construção desse processo, que obviamente nunca estará acabado, mas que ainda não se encontra financeiramente sustentável per si é a justificativa para o estudo desta empresa. O estudo do caso proporciona um conhecimento da trajetória de uma ideia ao resultado final. 11 4. METODOLOGIA DE PESQUISA O método utilizado neste trabalho foi feito com base em pesquisa secundária em sites de revistas e jornais de diversos países. O material utilizado no próprio Curso de Pós-Graduação, bem como dois livros adquiridos para o efeito, suportou o embasamento teórico na análise do percurso da empresa descrita. Procurou-se contar a história, aproveitando a mesma para adquirir e contar experiências que possam ser vivenciadas em situações análogas. Portanto utilizou- se um enredo que respeitou a cronologia dos fatos desde seu surgimento até a atualidade. 5. INTRODUÇÃO A primeira dúvida que poderá ocorrer a quem lê este trabalho será a pertinência do estudo duma empresa estrangeira em detrimento de uma brasileira. A escolha ocorreu numa conversa com um amigo, meio que por acaso pois o autor deste trabalho não é usuário contumaz de produtos de alto padrão. O sucesso da empresa foi referenciado numa conversa com um amigo acerca das possibilidades de negócio no meio digital. Chama atenção a possibilidade de uma empresa poder ser líder global em seu setor ainda que surgida fora de grandes centros de decisão de comando econômico-comercial-financeiro. A obstinação de seu fundador em empreender e na luta pela implementação de uma ideia original, mostra a necessidade de insistir em melhorar e prosseguir sempre na luta em direção ao sucesso. Vários problemas são aqui abordados como: a necessidade de financiamento, a negociação com as marcas representadas, a cativação de pessoas qualificadas para trabalharem, a atenção aos marcos regulatórios, câmbios. Tudo isso concomitante ao natural estudo de cliente alvo: suas preferências, gostos e naturalmente formas de concretizar o negócio de maneira eficiente, segura e eficaz. 12 Os mercados mundiais mostram-se cada vez mais dinâmicos e integrados e o Brasil vem tendo elevadas dificuldades de descolar da posição de fornecedor de commodities que possuem seu valor controlado por cotações internacionais. Não desmerecendo a importância que esse setor tem na economia brasileira, a recente crise nacional - descontados os percalços políticos - é prova da profunda dependência do exterior, além de que nosso país aposta muito pouco na diversificação da matriz econômica, mostrando assim a necessidade premente de agilizar o mais rápido possível condições que possam desenvolver outras áreas de negócio. Nesse sentido o fato de se originar em Portugal - país colonizador de cultura próxima e de mesma língua que a nossa - facilita o entendimento de que é possível vencer ainda que partindo de bases menos sólidas. O Brasil precisa cada vez mais desenvolver legislação e infraestrutura que facilite o empreendedorismo, pois já possuímos uma base econômica suficientemente diversificada para concorrer no mercado nacional sem que, no entanto, isso tenha bons reflexos nos resultados do comércio exterior. O caso apresentado é a implementação de um marketplace a nível internacional onde a empresa pretende nada menos que a liderança em seu setor e esse aspecto faz alimentar a esperança de que o setor do comércio eletrônico poderá ajudar a desenvolver nosso país. Um outro aspecto que ressaltou neste estudo foi - devido às vultosas quantias envolvidas - a necessidade de a empresa ir buscar financiamento em praça especializada para o efeito – a city1 londrina. Tentando transferir e adaptar esse tópico para a Terra Brasilis2, sempre bagunçada em termos financeiros, talvez seja essa a mais complicada e hercúlea tarefa a fazer na implementação de projetos: o financiamento adequado às condições das empresas brasileiras. Mais uma vez ressalta a necessidade de organizarmo-nos mais eficazmente na busca de condições para propiciar o desenvolvimento. 1 Termo que define o bairro onde situa-se o centro financeiro da capital britânica 2 Termo que significa “Brasil” 13 Na expectativa de que este trabalho possa incentivar e oferecer subsídios para um qualquer empreendedor, apresento, humildemente, este trabalho que se segue nas páginas adiante. 6. O CONCEITO DE MERCADO DE LUXO Em termos etimológicos a palavra “Luxo” e “Luz” tem a mesma raiz no latim da palavra Lux. Provavelmente evoca o sentido de “fazer-se aparecer” perante os outros. É da natureza humana querer sobressair perante seus semelhantes: alguns o conseguem por apresentarem talentos que os distingam na sociedade, já outros - por não terem algum tipo especial de capacidade que lhes valha atenção ou não verem reconhecidas suas capacidades - adquirem produtos ou serviços que os possam distinguir dos restantes consumidores. Levando em consideração a “Pirâmide de Maslow” ou “Hierarquia das Necessidades de Maslow”, conceito criado pelo psicólogo norte-americano Abraham H. Maslow, podemos observar as condições necessárias para que cada ser humano atinja a sua satisfação pessoal e profissional. Figura 1 - Pirâmide de Maslow Fonte:http://scriptorium-virtual.blogspot.com/2008/01/pirmide-de-maslow.html Observa-se que à medida que subimos para os escalões superiores da pirâmide, os critérios para satisfação das necessidades ficam cada vez mais subjetivos. É através da ostentação, ainda que sutil, do luxo que se consegue muitas vezes satisfazer essas mesmas necessidades. 14 Com o intuito de satisfazer seus clientes, o marketing de luxo não abordará preços, conveniência ou qualquer outro valor popular. Pelo contrário, visará aumentar o valor percebido da marca e precificará de maneira a valorizar o produto ou serviço oferecido. Valores como exclusividade, tradição, desempenho, herança, status, refinamento e tradição serão explorados e ressaltados para fazer a diferença. 7. EVOLUÇÃO DO E-COMMERCE NO BRASIL De acordo com pesquisa realizada pela Ebit3 juntamente com a Elo4, em 2017, o faturamento do e-commerce foi de R$ 47,7 bilhões: um aumento percentual de 7,5% no faturamento face a 2016. O número de encomendas aumentou 5% face ao ano anterior, o que significa uma maior aderência a esse canal por parte do consumidor. O ticket médio aumentou 3%, para R$ 429. Os clientes ativos (que realizam pelo menos uma compra no ano) chegaram a 55 milhões. Estes números tornam-se ainda mais expressivos quando se leva em conta que o mercado brasileiro sofre com uma crise que ainda ensaia uma ansiada melhoria. 8. CONCEITO DE MARKETPLACE Marketplace é um site onde clientes e fornecedores estão juntos num espaço de compra e venda de produtos ou serviços. São exemplos de marketplaces no Brasil: Mercado Livre, Wal-Mart, Lojas Americanas e Submarino, por exemplo. De um modo geral, as lojas expositoras pagam uma comissão por venda. A vantagem em estar presente num marketplace, ao invés de seguir sozinho em seu site próprio e sem pagar comissões, deve-se ao fato que o fluxo de tráfegoé muito maior no primeiro. O poder de atração ao consumidor é superior devido ao fato de serem oferecido as muitas opções num só sítio. 3 Empresa de pesquisas online que visa entender o comportamento do consumidor virtual 4 Empresa brasileira emissora de cartões de crédito 15 O marketplace é uma ótima chance para firmas pequenas que não possuem estrutura para explorar o mundo virtual: é um conceito “chave na mão” em termos de e-commerce5. 9. SURGIMENTO DA EMPRESA 9.1 HISTÓRIA DO FUNDADOR “O mais importante é termos paixão pelo que estamos a fazer, ter uma ideia clara da nossa missão. É daí que vem a força de vontade que faz com que nada nos pare” José Neves, fundador da Farfetch José Neves, português, tem 45 anos, é formado em Economia e vive entre o Norte de Portugal e Londres. Neto de um industrial de sapatos da cidade de Felgueiras, criou sua primeira empresa, a Grey Matter, na área de produção e desenvolvimento de software; em 1996, aos 22, lançou uma loja de sapatos, a Swear, em Londres. Sua ligação à capital britânica começa desde novo pois quando tinha 13 anos sua mãe fez um doutoramento no Kings College London. Figura 2 – José Neves, CEO da Farfetch Fonte://www.theindustry.fashion/farfetch-unveils-store-future/ 5 Comércio realizado em meios virtuais 16 9.2 IDEIA DO CONCEITO DA EMPRESA E POSICIONAMENTO “Somos uma empresa tecnológica, no nosso âmago, e criamos uma plataforma para o setor da moda de luxo – com três componentes principais: aplicações, serviços e dados” Em 2007, durante a Paris Fashion Week6, constatou três fatos. Através dos contatos estabelecidos nas negociações de sua empresa de calçado, observou que os pequenos retalhistas estavam com dificuldades financeiras apesar de exímia gestão e visão empresarial. E comparou-os aos grupos que haviam lançado uma plataforma na internet e obtinham enorme sucesso. Além disso reparou que centenas de empresas não tinham ideia de como começar ou gerir a venda online. E por fim, reparou que as grandes plataformas existentes – Amazon, eBay, Ali baba – eram incompatíveis com a indústria da moda de luxo, pois possuem abordagem massificadora incompatível com as vicissitudes desse mercado. Foi aí que percebeu a oportunidade de lançamento duma plataforma onde os vendedores pudessem aceder ao mercado global. A ideia da Farfetch começava aí. Um dos maiores conhecedores de marketing do mundo, Philip Kotler, defende a ideia de que todos os bens e serviços podem e devem ser diferenciados, e assegura que a diferença deve levar em consideração critérios objetivos como: 1. Importância 2. Comunicação 3. Sustentabilidade 4. Rentabilidade 5. Distintividade 6. Superioridade Nessa ótica, percebe-se que existe um posicionamento da empresa como uma marca diferenciada das demais surgidas até então, pois a ideia de José Neves 6 Semana de exposição de moda realizada semestralmente na capital francesa 17 atingiu todos os pontos relacionados (o ponto 4 de rentabilidade é algo que ainda não foi atingido, mas a expectativa que o seja é grande). Esse posicionamento foi essencial não só para os clientes finais, mas para as negociações com as marcas a representar e os futuros investidores, como se verá nos tópicos a seguir. O maior desafio da empresa, desde o início, foi lidar com públicos heterogêneos, pois atua em todo o mundo: isso exige uma visão para entender as particularidades dos públicos locais e leva à necessidade de decidir se é necessário regionalizar os posicionamentos da empresa. Ora, definir a Farfetch como um marketplace de luxo, comunicando esse significado ao público-alvo, diferenciando-a de outros conceitos existentes, foi o diferencial de José Neves. 9.3 NEGOCIAÇÕES COM AS MARCAS “Para comerciantes de moda de luxo, facilitamos a ligação com o maior conjunto de consumidores destes produtos em todo o mundo: congregar um grande número de comerciantes de luxo requer um processo longo e cuidadoso de construção de relações. Fomentamos, com todo o cuidado, essas relações ao longo de uma década.” Comunicado da Farfetch No comércio físico, as marcas de luxo posicionam-se sempre em lojas de departamentos de elevado nível, evitando por exemplo supermercados para que seus produtos não dividam prateleiras com produtos mais populares. Os relacionamentos pessoais derivados do Networking feito na empresa de calçado, o projeto aliciante e inovador, a falta de alternativas e o tradicional posicionamento elitista do segmento de luxo levaram a parcerias entre grandes marcas e a nova empresa. Como as empresas não pagam nada, apenas a comissão pelas vendas, em termos financeiros é um investimento atrativo. 18 As evoluções de marketing ocorridas desde a Revolução Industrial foram: 1. Era da Orientação do Comércio (produção artesanal e escambo) 2. Era da Orientação da Produção (foco nos processos produtivos) 3. Era da Orientação de Vendas (foco no escoamento) 4. Era de Orientação de Marketing (foco nas necessidades dos clientes) 5. Era de Orientação de Marketing de Relacionamento (foco na fidelização dos clientes) 6. Era do Marketing Digital (foco no envolvimento contínuo com clientes atuais e potenciais) O avanço da tecnologia fez com que surgissem novas plataformas de marketing, acontecimento que marcas poderosas, mas tradicionais, não dominavam. O reconhecimento desta nova era e a promessa de ocupar este espaço proporcionando rentabilidade foi essencial às negociações das representações. Hoje no portal da Farfetch existem 3.200 marcas. Gucci, Fendi e Valentino são exemplos de marcas que participam do site. Como curiosidade, é de se referir que 19 das 20 maiores marcas de roupa de luxo do mundo situam-se na Europa. 9.3.1 DAS “REDES SOCIAIS” ÀS “REDES SOCIAIS DIGITAIS” É necessário ainda chamar a atenção que as redes sociais onde as marcas de luxo atuavam, sempre foram baseadas no contato físico onde cliente, fornecedor e artigo transacionado encontravam-se geograficamente no mesmo ponto. Paris não é só um ponto de criação de moda, mas um ponto de venda dela. No entanto, como já referido, as plataformas digitais vieram criar um outro tipo de relacionamento muito mais intenso e de base mais alargada. Se, tradicionalmente, sempre existiram redes sociais (embora as mesmas não o sejam teorizadas enquanto tais), as mídias sociais vieram estabelecer redes sociais digitais. Ora, a presença física do comprador já não é necessária para que ele possa 19 ver o produto, saber o preço e eventualmente adquiri-lo. A relação que era reservada, já não o é. O número de potenciais consumidores multiplica-se e o próprio comportamento dos que já o eram transforma-se. As empresas passaram a ter o relacionamento assente nos seguintes pressupostos: • Suportado pela tecnologia; • Resposta em tempo real; • Sem horários de funcionamento; • Maior sinceridade e objetividade no meio digital; • Possibilidade de mensurar instantaneamente os gostos do consumidor; • A plataforma é o intermediário. Para tal é necessário que os conteúdos e o formato das plataformas sejam acessíveis e consigam ir de encontro ao interesse dos clientes. Problemas, dúvidas, sugestões têm de ser rapidamente solucionados e servirem de aprendizado à reformulação dos processos. Ora, como se vê, a Era do Marketing Digital transformou totalmente o modo de transacionar produtos e as marcas de luxo tiveram de se adaptar: a Farfetch surge no momento certo. 10. A EMPRESA “É importante pensar na Farfetch como uma empresa tecnológica e não como um retalhista (varejista)” Katie Smith, EDITED, empresa de análise de dados A empresa ousou conectar dois mundos distintos: moda e tecnologia. Seu valor não advém de vender, mas em conectar as partes. “Facilitar intercâmbio entre dois ou mais grupos independentes, geralmenteconsumidores e produtores”, sem 20 um stock próprio, como explica Alex Moazed, fundador de Applico e coautor de Monopólios Modernos: Como Dominar a Economia do Século 21, Forbes. Seu sistema de parceria com as marcas vendidas baseia-se no pagamento de comissões por venda, que segundo seu fundador tem percentagem iguais em todas as mercadorias, muito embora não divulgue o valor exato. Além da sede londrina possui filiais nos Estados Unidos, Japão, China, Rússia, Portugal e Brasil. Possui mais de 1000 funcionários e sites em 8 línguas locais além do inglês. Em 2013, os clientes da empresa têm já um ticket médio de 645 dólares por compra. O cliente que mais gastou – 698 mil euros em 400 pedidos – adquiriu 30 casacos, 145 vestidos, 88 jaquetas, 42 sandálias, 17 botas e 58 sapatos! A empresa recebia 4,3 milhões de visitas em seu site vendendo para mais de 170 países. Para atingir os públicos específicos, a empresa divide os produtos em duas categorias: • Luxe, que são as marcas de luxo que oferecem produtos high-end 7. • Lab, que incluem marcas novas. Em 2014, um novo departamento - contemporâneo - com mercadoria mais casual foi segmentado, dentro da categoria Lab, para facilitar a escolha do cliente. No Brasil, o site é organizado por marcas nacionais e internacionais. Em termos de estrutura organizacional da empresa: a engenharia e produção de software ficam em Portugal e o marketing online e offline, estão instalados em Londres, operados por pessoas altamente qualificadas. A capital britânica possui uma atratividade muito alta e isso facilita o recrutamento de pessoas: são mais de 300 pessoas de 25 nacionalidades diferentes que lá trabalham. Nesse ponto, observa-se que a contratação de profissionais exige algo mais do que oferecer um bom ambiente de trabalho entre portas, na realidade o local onde a empresa está 7 Expressão derivada dos produtos de alta tecnologia feitos artesanalmente aplicada noutros produtos e serviços como um conceito de exclusividade e qualidade https://www.forbes.com/sites/pamdanziger/2018/08/21/why-farfetch-is-worth-6b-in-its-pending-ipo/#46a195212765 21 instalada impacta na capacidade de contratação de profissionais. Uma das opções de empresas pequenas será então o trabalho remoto, uma vez que grandes metrópoles brasileiras possuem condições de vida que afastam profissionais qualificados. 11. FINANCIAMENTO DA EMPRESA 11.1 CAPITAIS PRÓPRIOS Duas semanas após a criação da Farfetch, o Banco de Investimentos Lehman Brothers fechou: foi a maior falência da história americana, o que provocou uma enorme desconfiança nos investidores. Seu fundador utiliza então capitais próprios para o arranque do negócio. Já havia uma estrutura nas empresas de que era dono, o que facilitou a partilha de espaços entre Portugal e Londres. Tal aposta colocou em risco a saúde financeira das empresas existentes, mas permitiu que a inovadora empresa conseguisse ultrapassar os primeiros tempos. Os primeiros seis meses foram “estressantes” pois as vendas não subiam e sendo um negócio de escala, era necessário que as vendas atingissem as centenas de milhões para que a empresa fosse viável. Durante esse tempo, o funcionamento da empresa baseou-se sobretudo na persistência de seu CEO8, que procurava passar a mensagem à sua equipe de que estava tudo bem, embora obviamente não estivesse. 8 Sigla inglesa de Chief Executive Officer, que significa Diretor Executivo em português 22 11.2 INVESTIDORES Em 2009, após o crescimento nas vendas, firmas de capitais de risco inglesas começaram a entrar em contato com a intenção de investir na companhia. Após negociações a Advent Ventures foi a escolhida em abril de 2010. Yuri Milner é um investidor muito conhecido que carrega em seu currículo a decisão de impedir a venda do Facebook à Yahoo! (atualmente a primeira vale 227 bilhões de dólares contra 42 bilhões da segunda) e que assim multiplicou seu investimento 22 vezes. Esse mesmo investidor, em entrevista ao Financial Times, esclareceu sua aposta na Farfetch por esta possuir “uma equipe forte, um crescimento impressionante e um grande potencial”. Em 2016, a empresa já conseguiu ultrapassar a fase de ser considerada uma startup e então é considerada um unicórnio – termo elaborado por Aileen Lee, fundador da Cowboy Ventures9, para definir empresas que ultrapassassem a casa do bilhão de dólares em valor. Dois anos depois, a empresa estreou na bolsa de Nova York: seu valor de mercado chegou a 5 bilhões de dólares. Este valor foi proporcionalmente três vezes o valor de cada ação da Amazon. O valor impressionou porque a Farfetch não só não paga dividendos como não tem planos de o fazer num futuro próximo, ou seja, o investimento não prometia nenhuma rentabilidade para o capital investido. 12. ESTRATÉGIAS DE MARKETING DIGITAL Por ser uma plataforma que liga o consumidor às marcas representadas a Farfetch apresenta uma estratégia em toda linha. Possui um site com bom design, fotos de alta qualidade, disponibilização de botões de interação com o visitante, políticas visíveis e boa apresentação do produto. Para facilitar o envolvimento o site apresenta também versões em várias línguas locais. Abaixo, uma relação de redes sociais onde atua para promover as marcas: 9 Empresa de Capital de Risco britânica 23 Plataformas digitais onde atua: • FACEBOOK • YOUTUBE • TWITTER • PINTEREST • INSTAGRAM • TUMBLR • SNAPCHAT • FLICKR Como se pode ver, a Farfetch atua em várias redes sociais ao mesmo tempo, possui ainda blog e app: tudo para aumentar a conectividade com o consumidor. Em princípio, isso poderá parecer um pacote digital como tantas empresas praticam atualmente. A diferença reside no fato da Farfetch atuar como um Marketplace, promovendo marcas novas e pequenas e contar com mão de obra altamente especializada nas ações de Marketing baseada em Londres. 13. DESAFIOS A SEREM ULTRAPASSADOS E/OU VIGIADOS 1. Necessidade de motivar colaboradores qualificados para que permaneçam ou ingressem na companhia. A empresa é inovadora e vanguardista, portanto, necessita de funcionários de elevadas qualificações. Tais funcionários são aliciados para iniciar ou manter o trabalho nas empresas não só pela remuneração, mas sobretudo pelo ambiente laboral, tipo de projetos em curso, localização física das instalações e pela liderança. Ou seja, a força de trabalho é altamente volátil e a administração necessita de permanecer em constante alerta para manter presentes e motivados os funcionários. Em sua sede portuguesa, a empresa oferece oportunidades de jogar Playstation, pingue-pongue, Totó, aulas de Kizomba, Salsa e Bachata como meio de integrar melhor os funcionários. Em junho de 2018, a empresa dispunha de 3.009 trabalhadores, onde 375 trabalhavam na área tecnológica. 24 Figura 3 - Uma das sedes da Farfetch, na Boavista, em Portugal Fonte: HTTPS://IMAGES.APP.GOO.GL/FTKXVZCPYGQBTGCK6 2. Vencer ou diminuir a resistência à compra de produtos de luxo através de meios informáticos por parte do consumidor Como já dito, o modelo de negócio assenta na união da tecnologia e alta moda, porém o meio utilizado, o virtual, é intangível e, portanto, torna mais difícil a percepção do produto por parte do consumidor. A matriz de segmentação do Cliente Digital, abaixo representada, mostra os vários tipos de clientes existentes no mundo digital Figura 4 C o n fi a n ça n o C o m p a rt ilh a m en to d e D a d o s A lt o Aspirantes Disseminadores Nômades B a ix o Analógicos Paranóicos Camaleões Limitado Básico AvançadoCapacidade Digital Fonte: O autor 25 Tomando como base duas variáveis, a confiança no compartilhamento de dados e a capacidade digital, é possível delinear seis tipos de clientes potenciais: • Analógicos: baixo conhecimento digital e pouca propensão a partilhar dados pessoais • Aspirantes: que confiam mais na partilha de dados, mas ainda não possuem capacidade digital para o fazer • Paranoicos: Bons utilizadores das redes sociais, mas com elevada desconfiança na utilização de dados. Poderão atacar severamente as empresas que não respeitem sua privacidade • Disseminadores: Perfil mais comum no mercado digital • Camaleões: Perfil mais experiente que só compartilha os dados caso seu benefício seja alto • Nômades: Utilizador que deseja postar seus dados em qualquer lugar para obter benefícios. Serão os maiores defensores da marca caso sejam bem atendidos A empresa tem de lidar, simultaneamente, com os vários perfis de clientes, uma vez que existem muitas pessoas com um baixo perfil de inclusão digital. No entanto, a tendência é francamente promissora porque as novas gerações não só estão mais integradas no meio digital como também estão mais propensas a efetuar mais compras online. 3. Aumentar as receitas de modo a atingir o ponto de equilíbrio financeiro A empresa tem revelado um enorme potencial, porém ainda não conseguiu apresentar lucros. Seu financiamento acontece por conta da expectativa dos investidores em ganhos futuros. Para poder manter-se atrativa, a empresa deverá obter resultados positivos de modo a manter-se viável. A previsão de equilíbrio é em 2020 26 4. A gerir o crescimento de modo adequado aos desafios que aparecem O crescimento foi estrondoso e obrigou a cultura da empresa a mudanças contínuas para se adaptar. É necessário que essa adaptação continue viva para que a empresa vença os desafios que lhe surgem. 5. Aprofundar o relacionamento com as marcas que trabalha O modelo de negócio criado por José Neves é inovador, porém não é irrepetível: concorrentes podem copiar seus processos, cativar funcionários e criar alianças com fornecedores. As marcas tradicionais aderiram incialmente ao projeto de José Neves por ser inovador e faltarem alternativas. No entanto, poderá haver reposicionamentos de algumas marcas e a Farfetch ser preterida na escolha destes. 6. Planejar financeiramente as receitas de modo a mitigar as consequências de oscilações cambiais bruscas A Farfetch atua em vários países e suas informações financeiras estão expressas em dólar. A engenharia financeira para evitar que operações comerciais positivas acabem tendo prejuízos financeiros é primordial. 7. Atentar para a evolução tecnológica e manter a Segurança nos sistemas A empresa atua num setor altamente tecnológico. Utilizar os sistemas mais adequados para melhor atuar nas redes e mantê-las seguras é importante para a empresa: por ser pioneira os métodos e meios utilizados são inovadores e, portanto, primeiramente aí testados. Isso revela-se positivamente na antecipação perante eventuais concorrentes, mas revela a todos os caminhos a serem seguidos sem nenhum custo. 8. Procurar entender os meios políticos nos meios onde atua com vista a evitar surpresas nos marcos regulatórios e fiscais. Por ser uma empresa com filiais em diversos países é necessário atenção às múltiplas leis e regulamentos expedidos pelas mais diversas autoridades nacionais. 27 A sede da empresa é no Reino Unido e não se sabe em que e como o Brexit10 impactará na empresa. Outro exemplo é a aprovação recente do Regulamento Geral De Proteção De Dados Europeu, O RGPD, que protege dados de usuários da internet. 9. Precificação da inovação. O setor tecnológico tem uma estrutural incapacidade de precificar as novidades. O meio online é, em aparência, tendencialmente gratuito. Tenha-se em vista a dificuldade de empresas tradicionais de mídia ou entretenimento como o meio musical, de cobrarem pelo conteúdo. A forma como a Farfetch lucrará e quanto lucrará passará não só pela inovação dos métodos, mas pela inventividade em aproveitar os mesmos para ganhar dinheiro. 10. Redes Sociais O trabalho da Farfetch assenta no desenvolvimento de sistemas e na utilização deles para efetuar o marketing. Ora, existe uma constante utilização de informação de todo tipo. O uso incorreto destes pode criar problemas e danificar a imagem da empresa. Informações podem ser roubadas, polêmicas podem ser amplificadas criando má imagem da empresa rapidamente, justamente no meio em que atua. 14. PROGNÓSTICOS O aumento da inclusão digital por parte das novas gerações e o desenvolvimento da segurança nos meios de pagamento fazem antever uma expansão do comércio digital. Conjuntamente a isso observa-se uma tendência de aumento do comércio de bens de luxo. A intercessão dessas duas variáveis torna bastante positiva a expectativa de um bom desenvolvimento da Farfetch, ou seja: o campo será fértil e a empresa é pioneira. 10 Termo que define o processo de saída do Reino Unido da União Européia. É um diminutivo de Britain Exit. 28 Por outro lado, a expansão atrairá novos atores a participar desse meio e poderá provocar concorrência mais apertada. A renovação sempre ocorrerá, mas a ideia e o eixo principal dos processos criados tenderão a serem conhecidos, copiados e aplicados e a atratividade da empresa por parte dos investidores poderá sofrer perdas devido a isso. Nesse sentido, a empresa deverá antever esse momento e preparar-se para não mais agir como ator único no mercado. Sobre esse aspecto há a considerar que a única concorrente que disputa o cliente da Farfetch é a Net-a-Porter, mas esta é um site varejista que compra e vende o produto, muito diferente da Farfetch que permite aos parceiros da empresa vender de forma global. Curiosamente, a fundadora da Net-a-Porter, Natalie Massenet, trabalha agora com José Neves: isso revela a busca incessante por talentos e experiência que a empresa luso-britânica faz. A empresa celebrou recentemente um acordo com a Chanel11 para desenvolver e implementar tecnologia em suas lojas. O acordo prevê inovar na tecnologia e na ideia de negócio e o objetivo é combinar a melhor experiência do cliente em loja com os serviços digitais. De notar que essa importante empresa apesar de não fazer parte da plataforma, considera a Farfetch digna de confiança no desenvolvimento desse ramo de negócio ou não a teria contratado. O trabalho a ser realizado na Chanel faz parte de uma novidade: o augmented retail. Essa inovação permite ao cliente experienciar um sem número de novidades virtuais na loja. Não existe algo que possa resumi-la: o uso do telefone celular para verificar preços, consultar cores e tamanhos disponíveis, fazer uma montagem da peça numa foto são alguns dos exemplos das inúmeras possibilidades da aplicação da tecnologia virtual nos espaços físicos das lojas. Esse caminho de compatibilizar o mundo online e offline apresenta-se como uma nova linha de negócio a ser explorada. Outra grande novidade foi o anúncio, no final de fevereiro de 2019, de que a Harrods, tradicional loja de produtos de luxo londrina, contratou a Farfetch para criar 11 Empresa de alta moda francesa 29 uma plataforma global de vendas Michael Ward, diretor-geral da Harrods afirma que o objetivo é ”garantir que os clientes...tenham exatamente o mesmo serviço exemplar, seja online ou na loja física”. Essa iniciativa é o exemplo doutro ramo em que pretendem atuar: o desenvolvimento de software para o retalho, projeto já previsto desde pelo menos 2015, quando adquiriram uma loja física, a Browns, com o intuito de funcionar como laboratório para desenvolvimento de software. 15. BENEFÍCIOS LOCAIS DE POSSUIR UMA EMPRESA DE RENOME MUNDIAL A Farfetch é uma empresa com sede em Londres por estratégiade cativar investidores e profissionais para trabalhar no Marketing, mas mantém boa parte de sua estrutura em seu país de origem, Portugal. Nesse país tem instalações em quatros cidades, Porto (Matosinhos), Braga, Guimarães e Lisboa. As maiores instalações, de 15.000 m2 situam-se no Centro Comercial da Lionesa, em Leça do Balio, cidade de Matosinhos, no Grande Porto onde ficam a gestão financeira, gestão de contas das lojas representadas e o desenvolvimento da plataforma. Na cidade onde situam-se os escritórios originais, Guimarães, ocupam mais de 8.000 m2 e o escritório de Braga emprega mais de 150 pessoas. Como se pode facilmente depreender, o desenvolvimento da empresa impactou na região norte de Portugal onde situam-se 3 das 4 cidades onde ocupam posições. O emprego aí criado, de alta especialização, favorece o desenvolvimento profissional das populações, possuindo um efeito disseminador difícil de mensurar, mas que, inquestionavelmente, proporciona melhor qualidade de vida nesse país. 30 16. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante a pesquisa que efetuei acerca do caminho trilhado pela Farfetch, ficou patente a ideia de que o empreendimento embora fosse uma inovação, utilizava as tradicionais ferramentas de gestão com rigor. O que mais chamou a atenção foi a persistência na busca do sucesso. Ou seja: uma boa ideia tem de respeitar a realidade, vencer desafios e acima de tudo ser muito bem implementada com dedicação intensa. A empresa já nasceu com objetivos altos devido à sustentabilidade financeira e conhecimentos que seu fundador possuía previamente e que lhe permitiram ultrapassar os primeiros tempos. O empreendedorismo e a visão de José Neves sobressaíram e atraíram as atenções permitindo-lhe fôlego suficiente para seguir em frente. Ressalta a todos o fato de ser originário de um país pequeno, sem tradição na área tecnológica na escala em que a empresa cresceu. O fato de ir buscar capitais num centro financeiro de renome internacional chama a atenção para outra vertente: a necessidade de haver uma maior maturidade nos mercados locais e na forma como o governo age fiscalmente para com o eventual lucro que possam ter. O governo britânico trata fiscalmente melhor as empresas de tecnologia do que outros países. Por exemplo: no caso de venda da empresa o governo do Reino Unido taxa os primeiros 10 milhões de libras (um pouco menos que 50 milhões de reais) numa taxa de 10%; tratamento muito diferente do governo português onde está o resto da empresa, assim como também o do governo brasileiro. Refira-se que embora esta taxa possa parecer inicialmente desajustada, na realidade ela incentiva os investidores a investir seus capitais aumentando a capacidade de tributação pelo aumento do nível de investimento. Por outro lado, a cultura anglófona admite perfeitamente assumir riscos sem que as pessoas que falham tentando empreender, fiquem com o estigma de perdedor caso algo não dê certo. Nesse ponto até mesmo a tradução do termo inglês “Venture Capital” para a língua portuguesa salientou o lado negativo. Aquilo 31 que poderia ser chamado de “Capital de Aventura” na realidade é conhecido por “Capital de Risco”. Na montagem do negócio em si, observa-se que o recrutamento de talentos para melhor operar o marketing é considerado vital a tal ponto que essa área foi para Londres com vista a maximizar os resultados. O conhecimento da maneira como funciona o mercado de luxo e suas peculiaridades ao pormenor, permitiu melhor compreender as necessidades deste setor em seu funcionamento no mundo virtual. Ou seja: o perigo de errar na aplicação das ferramentas informáticas ao modelo de negócio, diminuiu muito por conta do conhecimento existente do setor de luxo offline. 32 17. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KOTLER, P; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I., Marketing 4.0:Mudança do Tradicional para o Digital, Conjuntura, Lisboa, Actual Editora, 2017 CARRERA, Fil., Marketing Digital na Versão 2.0 – o que não pode ignorar, LISBOA, EDIÇÕES SÍLABO, 2018 Farfetch instala-se na Boavista e ocupa o BOC - o conhecido edifício do Foco <https://www.idealista.pt/news/imobiliario/escritorios/2019/02/28/38915-farfetch- instala-se-na-boavista-e-ocupa-o-boc-o-conhecido-edificio-do-foco> . Acesso em 03/03/2019 Farfetch vai lançar a plataforma de comércio online da Harrods disponível em: < https://observador.pt/2019/02/26/farfetch-vai-lancar-a-plataforma-de-comercio- online-da-harrods/>. Acesso em 03/03/2019 BARBOSA, M.J.,José Neves e outras 10 ameaças para a Farfetch, disponível em: <HTTPS://ECO.SAPO.PT/2018/08/21/JOSE-NEVES-E-OUTRAS-10-AMEACAS- PARA-A-FARFETCH/>. 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