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DOENÇA RENAL CÍSTICA Introdução • São cavidades com conteúdo líquido e revestido por epitélio; • Cistos renais podem ter origem por processos genéticos ou não genéticos; simples ou complexos; • Os mais comuns são os cistos SIMPLES; • Doenças genéticas que levam ao acometimento cístico: o Síndrome de Von-Hippel Lindau; o Nefronoftise; o Esclerose tuberosa; o Rim esponjoso medular. • Nos adultos tem um prognóstico melhor do que nas crianças e recém-nascidos; Cistos simples • Benignos; • Assintomáticos; • Aumentam a incidência com a idade; • Raramente precisam de biópsia > baixo risco de neoplasia; • Nos exames de imagem: o Parede fina: camada simples de células epiteliais; o Sem septações: redondos ou ovalados; o Sem realce ao contraste: não tem componentes em seu interior; o Densidade (HU) = água (menor que 20 HU) = conteúdo anecoico; o Sem parte sólida/calcificação; o Variam de tamanho: podem ser menores que 1 cm até maiores que 10 cm; o Reforço acústico posterior evidente. • 60 a 70% das massas renais são mais comuns em pacientes idosos e podem chegar a mais de 30% naqueles com mais de 70 anos de idade; IMPORTANTE: caso essas características estejam presentes, já consideramos como um cisto simples e não é necessária investigação adicional. Se alguma estiver ausente, precisa-se da investigação > e então começamos a considera-lo como complexo > solicitamos então uma TC de abdome com contraste. Com a TC em mãos, definiremos a conduta de acordo com a classificação de Bosniak, que determina a probabilidade de malignidade. Diagnóstico • Normalmente é um achado incidental em exame de imagem, não causando sintomas ao paciente; • USG, TC ou RNM: procurar os achados que indicam a presença ou possibilidade de malignidade; • Geralmente não é possível diagnosticar clinicamente apenas, mas, com cistos muito grandes, é possível através da palpação abdominal; Complicações • Em pacientes com longa data de cistos renais; o Obstrução do trato urinário: compressão local pelo cisto; o Ruptura do cisto renal: simulando um quadro de abdome agudo; o Infecção/abcesso renal; o Hemorragia: inclusive choque hemorrágico por ruptura do cisto. Seguimento e tratamento • Normalmente não precisam mais do que observação do paciente e seguimento ambulatorial; Classificação de Bosniak • Para avaliar os cistos renais complexos > determina a probabilidade de malignidade da doença pelo estudo de imagem Tratamento • Paciente assintomático (maior parte dos casos): acompanhamento periódico com exames de imagem, não sendo necessária nenhuma terapia de imediato; • Paciente sintomático: como dor lombar, primeiro deve-se excluir outras causas para a queixa e depois buscar possíveis complicações relacionadas ao cisto. o Se a queixa ocorrer devido ao cisto e o paciente for refratário ao tratamento clínico, considera-se a aspiração guiada por imagem como uma alternativa (USG ou TC). • Se prença de infecção: preferir antibióticos lipofílicos (ciprofloxacino, sulfametoxazol-trimetropim, clindamicina, vancomicina) > penetram melhor nos cistos > não são totalmente eficazes. o Se mais de 72h de sinais e sintomas de infecção, mesmo com tratamento antimicrobiano > sugere complicações (abcesso renal, obstrução urinária) > realizar TC contrastada para diagnosticar corretamente. o Abcessos maiores que 3 cm devem ser drenados (punção percutânea ou abordagem cirúrgica) > tratamento deve ser estendido por 3 a 6 semanas > alterar o antibiótico de acordo com o germe isolado. Cistos complexos • Risco de malignidade; • Podem cursar com complicações como: ruptura, infecção e hemorragia; • Precisa de biopsia para confirmar o risco de neoplasia; • Nos exames de imagem: o Maiores que 3 cm; o Realce ao contraste; o Com septações finas/grosseiras; o Contornos irregulares; o Conteúdo de partes moles (como tecido necrótico no interior). COMPLICAÇÕES • Não é comum um cisto complicar; • 3 complicações mais frequentes: o Ruptura (espontânea ou pós traumática): dor lombar e hematúria; o Infecção do cisto: abcesso renal > necessita de drenagem percutânea e antibioticoterapia. Os principais agentes que causa infecção nesse caso são E. coli (que infecta o parênquima após ascenção pela via urinária) e S. aureus (se dissemina por bacteremia) > urinocultura normalmente é negativa, porque geralmente o cisto não se comunica com o sistema coletor; o Compressão do parênquima renal adjacente: hipertensão angiotensina dependente > compressão de múltiplas pequenas artérias intrarrenais pode levar à secreção de renina em quantidades significativas. Doença renal policística autossômica dominante (DRPD) • Ocorre 1 a cada 400 a 1000 nascimentos; • Causa importante de DRC; • 80% relacionada à mutação do gene PKD1 > mais grave! • 15% possui mutação do gene PKD2 (sintomas mais brandos que PKD1); • No restante, nenhum gene é identificado; • A maioria dos pacientes não tem perda de TFG até a 4ª década de vida; • A idade do diagnóstico varia muito: dos 15 aos 50, principalmente > evolução de forma lenta, quase sempre > oligossintomático; • Fatores que levam a piora da função renal: o Alteração genética do PKD1; o Muitos cistos, levando ao aumento do tamanho dos rins; o Hipertensão arterial; o Início precoce dos sintomas; o Sexo masculino; o Proteinúria. Achados clínicos Se dividem em renais e extrarrenais RENAIS: hematúria, ITU de repetição, dor lombar, proteinúria, nefrolitíase de repetição (mais comuns: cálculos de ácido úrico); EXTRARRENAIS: risco de aneurisma cerebral > pacientes podem se apresentar inicialmente com algum acometimento neurológico; doença valvar cardíaca (prolapso da valva mitral); doença diverticular (maior risco de perfuração nesses pacientes), doença cística hepática ou pancreática, hérnia ventral ou inguinal, aneurisma de aorta ou coronárias. Cistos renais aos exames de imagem > muitos cistos. • Dor no flanco (ruptura de cistos, cálculo renal); • Hemorragia (ruptura de cistos, ITU, obstrução urinária); • Proteinúria e perda de função renal por sintomas compressivos. IMPORTANTE: lembrar que é uma doença sistêmica, então, um dos principais achados no paciente será a hipertensão arterial, por ativação do SRAA e expansão do volume extracelular. Hipertensão contribui para a progressão da insuficiência renal > gera nefroesclerose hipertensiva. CONCLUSÃO: HAS que precede o surgimento de IRC. Diagnóstico • Normalmente realizado através de USG. Critérios para estabelecer: o Até 30 anos: pelo menos dois cistos no total; o 30 a 60 anos: dois em cada rim; o Acima de 60 anos: quatro cistos em cada rim. • Obter história familiar de forma adequada: o Se algum dos membros da família, de 1º grau, tiver a mesma patologia, o diagnóstico é fechado > após realização de exame de imagem demonstrando a presença de cistos (US ou RNM para casos duvidosos); o Se paciente sem histórico: lançar mão de exame de imagem. Se houver 10 ou mais cistos maiores que 5 mm bilateralmente, podemos estar diante da patologia. Outros achados sugestivos: ▪ Hepatomegalia e nefromegalia; o Formas de rastreio de acordo com a idade: • Até ¼ dos pacientes com a patologia não tem histórico familiar > importante uma pesquisa rigorosa. • Em pacientes sem histórico familiar, também é possível realizar testes genéticos para fechar o diagnóstico; • Outras condições em que se pode aplicar os testes genéticos: o Paciente com DRC sem rins aumentados de tamanho; o Quando há discordância dentro da família > quando se suspeita de outra patologia renal que pode estar acomentendo o paciente, como: ▪ Síndrome de Von-Hippel Lindau; ▪ Esclerose tuberosa; ▪ Outras menos frequentes. o Quando há assimetria de gravidade entre os rins (um mais grave que o outro); o Indivíduos jovens e com história familiar de DRPD, mesmocom ANGIORNM ou TC normais desejarem doar um de seus rins. IMPORTANTE: o seguimento desses pacientes normalmente é ambulatorial e precisa-se fazer o aconselhamento familiar sobre o teste genética para a doença. Tratamento • Até o momento não existe tratamento específico; • Controle e combate das complicações; o Hipertensão: alvo é 130x85 mmHg de pressão arterial > IECA ou BRA > estimular a ingesta hídrica; o Se houver hipervolemia > tiazídicos se função renal normal/furosemida se IRC; o Pode-se abordar com múltiplas drogas; o Se infecção: antibioticoterapia + drenagem de abcessos + ingesta hídrica + tratamento específico de distúrbios (se houver), comoreposição de citrato de potássio na hipocitratúria; o Em caso de hematúria: repouso, hidratação e analgesia; o Manuseio da dor refratária aos analgésicos: aspiração percutânea dos cistos; o Nefrectomia raramente é indicada > pode beneficiar ITU de repetição > preferência por remoção laparoscópica dos cistos. ▪ Pode ser feita bilateralmente no receptor de transplante renal que apresente: nefromegalia maciça e sintomática ou episódios prévios de infecção dos cistos renais. Doença renal policística autossômica recessiva (DRPR) • Dilatações císticas renais; • Associada a defeitos nos ductos hepatobiliares (cirrose biliar por obstrução da drenagem de bile pelos cistos); • Hipoplasia pulmonar > até 30% dos pacientes morrem pode complicações pulmonares; • Bem menos comum que a dominante (1 a cada 20 mil pessoas); • Mutações nos genes PKHD1 e DZIP1L; Achados clínicos • Sintomas variam muito; • Diagnóstico pode ser feito no pré-natal; o Rins aumentados de tamanho; o Perda da diferenciação cortiço-medular; o Semelhante à dominante; • Maior risco de complicações neonatais (devido ao oligodrâmnio por aumento dos tamanhos dos cistos na mãe); o Bebês com desconforto respiratório; o Compressão pulmonar (hipoplasia) > secundária ao oligodrâmnio > devido à grave disfunção renal intrauterina; o Compressão do TGI; o HAS; o Síndrome de Potter: insuficiência renal, que ocorre antes do nascimento do bebê, seja por causa do desenvolvimento insuficiente dos rins (agenesia renal bilateral) ou por outros tipos de doenças renais que provocam a insuficiência dos órgãos. • Outros sinais: o Surgimento de DRC precocemente na infância; o Manifestações hepatobiliares; ▪ Hipertensão portal; ▪ Fibrose hepática; ▪ Colangites de repetição. Diagnóstico • A história familiar é frequentemente negativa, uma vez que a doença é recessiva; • Normalmente é feito quando se identifica uma criança, que evolui com IR e, ao realizar USG, demonstra-se rins policísticos e de tamanho aumentado. • Exames de imagem: o Presença de pequenos cistos renais; o Rins aumentados de tamanho; o Hepatomegalia e hiperecogenicidade hepática; o Dilatação dos ductos biliares; o Presença de cistos hepáticos. • Testes moleculares (genéticos): o Diagnóstico incerto após a imagem; o Diagnóstico pré-natal; o Aconselhamento genético para portadores da mutação; Tratamento • Segue a base do DRPD; • Diferença: aqui a progressão da IR ocorre com maior intensidade; • Único tratamento definitivo: transplante renal > pode ser necessário transplante hepático associado. Outras doenças renais císticas Rim multicístico displásico • Causa mais comum de massa abdominal em RN > incompatível com a vida; • Diferença da DRPR: nesse caso, é unilateral e não tem relação genética; • Diagnóstico: USG + cintilografia renal para demonstrar ausência de função naquele rim; • Tratamento: controverso. Pode ser clínico para as complicações, até nefrectomia se o paciente desenvolver hipertensão arterialou aumento dos cistos e do estroma entre eles > indício de neoplasia. Doença renal cística adquirida • Em pacientes dialíticos de longa data > geralmente mais de 10 anos; • Sexo masculino, negros e idosos; • Diagnóstico: cistos renais em paciente dialítico crônico que antes não apresentava tal achado em exames de imagem anteriores; • Envolvimento bilateral e presença de mais de 4 cistos; • Problema: evolução para carcinoma de células renais (risco de até 200 vezes maior quando comparado ao restante da população) > por isso precisa de acompanhamento radiológico seriado > hematúria pode indicar evolução maligna > se confirmado o câncer: nefrectomia; Doença cística medular • Rim esponjoso medular (Doença de Cacchi-Ricci): o Dilatação dos túbulos coletores + múltiplos cálculos de oxalato de cálcio; o Achado clássico: urografia excretora com rim em buquê de flores ou pincel; o Tratamento: profilaxia habitual de cálculos de cálcio > boa ingesta hídrica. • Nefronoftose: o Doença renal cística da infância; o Nefropatia tubulointersticial grave > leva à fibrose > cistos medulares e IR. o Cistos as vezes são muito pequenos > não aparecem no USG > normalmente precisa-se de biópsia, que demonstra nefrite tubulointersticial grave + microcistos.
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