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Definições básicas: - O pensamento se constitui a partir de elementos sensoriais, que podem fornecer substrato para o processo do pensar: são as imagens perceptivas e as representações. Conceitos: - Os conceitos se formam a partir das representações. - O conceito não apresenta elementos de sensorialidade, não sendo possível contemplá-lo, nem imaginá-lo. Trata-se de um elemento puramente cognitivo, intelectivo. - Não é possível visualizar um conceito, ouvi-lo ou senti-lo. Nos conceitos, exprimem-se apenas os caracteres mais gerais dos objetos e dos fenômenos. Passos fundamentais para a formação dos conceitos: - Eliminação dos caracteres de sensorialidade, ficando apenas a dimensão puramente conceitual. - Generalização, assim, o conceito resulta da síntese, por abstração e generalização, de um número considerável de fenômenos singulares. ○ O conceito é o elemento estrutural básico do pensamento. Juízos: - Formar juízos é o processo que conduz ao estabelecimento de relações significativas entre os conceitos básicos. - Afirmação de uma relação entre dois conceitos. Por exemplo, ao tomar-se os conceitos “cadeira” e “utilidade” (ou seja, qualidade de ser útil), pode-se formular o seguinte juízo: a cadeira é útil. Raciocínio: - A função que relaciona os juízos recebe a denominação de raciocínio. - Modo especial de ligação entre conceitos, de sequência de juízos, de encadeamento de conhecimentos, derivando sempre uns dos outros. O processo do pensar: - No processo de pensar distinguem-se: o curso do pensamento, a forma ou estrutura do pensamento e o conteúdo ou temática do pensamento. - O curso do pensamento: É o modo como o pensamento flui. - A forma do pensamento: É a sua estrutura básica, sua “arquitetura”, preenchida pelos mais diversos conteúdos e interesses do indivíduo. - O conteúdo do pensamento pode ser definido como aquilo que dá substância ao pensamento, os seus temas predominantes, o assunto em si. Alterações dos elementos constitutivos do pensamento: - Alterações dos conceitos: Desintegração dos conceitos: Os conceitos sofrem um processo de perda de seu significado original. Uma mesma palavra passa a ter significados cada vez mais diversos. A desintegração dos conceitos é bastante característica da esquizofrenia e pode ocorrer também nas síndromes demenciais. Condensação dos conceitos: Dois ou mais conceitos são fundidos, o paciente involuntariamente condensa duas ou mais ideias em um único conceito, que se expressa por uma nova palavra. - Alterações dos juízos: Juízo deficiente ou prejudicado: A elaboração dos juízos é prejudicada por deficiência intelectual e pobreza cognitiva do indivíduo. Aqui, os conceitos são inconsistentes; e o Elementos constitutivos do pensamento. Processo de pensar. ≠ O conceito, o juízo e o raciocínio. Curso, forma e conteúdo do pensamento. raciocínio, pobre e defeituoso. Às vezes, é difícil diferenciar um juízo deficiente de um delírio. Juízo de realidade ou delírio: As alterações do juízo de realidade ou delírio são, de fato, as alterações do juízo mais importantes em psicopatologia. Por sua importância e extensão, esse tema será tratado em capítulo específico. - Alterações do raciocínio e do estilo de pensar: ○ O que caracteriza o pensamento normal é ser regido pela lógica formal e orientar-se segundo a realidade e os princípios de racionalidade da cultura na qual o indivíduo se insere. Segundo a visão aristotélica, os princípios básicos do pensamento lógico-formal que orientam o pensamento tido como normal são: ○ Princípio da identidade. Também é denominado princípio da nãocontradição. Trata- se de um princípio muito simples e essencial do pensamento lógico, o qual afirma que: se A é A, e B é B, logo, A não pode ser B. ○ Princípio da causalidade. Este princípio afirma que se A é causa de B, A não pode ser ao mesmo tempo efeito de B; ou, dito de outra forma, se A é causa de B, então B não pode ser ao mesmo tempo causa de A. ○ Lei da parte e do todo: Se A é parte de B, então B não pode ser parte de A. De acordo com o filósofo Hegel, as principais leis da dialética que se contrapõem aos princípios da lógica aristotélica são: 1. Lei da transformação da quantidade em qualidade. 2. Toda afirmação encerra em si mesma o princípio de sua negação. 3. Tudo é, a um só tempo, causa e efeito de si mesmo. Tipos básicos de pensamento: indutivo e dedutivo. O pensamento ou método indutivo parte da observação dos fatos elementares, da experimentação e da comparação entre fenômenos para chegar a conclusões e concepções mais gerais. O pensamento ou método dedutivo parte de esquemas, axiomas, definições e teoremas já bem-arquitetados, para, por meio de demonstrações lógicas, deduzir a sua verdade. Além disso, presta-se mais às ciências matemáticas, à lógica formal. Já o método indutivo é mais adequado às ciências naturais e, em parte, às ciências sociais. - Define-se intuição ou pensamento intuitivo como a apreensão de uma realidade de forma direta e imediata. - Há, assim, uma tendência nas pessoas em distorcer inconscientemente os dados e as percepções da realidade para confirmar hipóteses previamente formuladas no início de um raciocínio. Tipos alterados de pensamento: - Uma série de crenças preconceituosas, sociais ou pessoais, é mantida de forma insistente por um número considerável de pessoas (Yager; Gitlin, 1995). Tudo isso torna difícil a discriminação entre pensamento normal e patológico. Pensamento mágico: - Fere frontalmente os princípios da lógica formal, bem como os indicativos e imperativos da realidade. - Leis e particularidades do ato e do pensamento mágico: Lei da contiguidade. É a base da magia de contágio, que utiliza o preceito de que “coisas que estiveram em contato continuam unidas”. Assim, se o ato mágico agir sobre um objeto que pertenceu a uma pessoa (roupa, adorno, móvel, etc.), há a crença de que estará, de fato, agindo sobre a própria pessoa. Lei da similaridade. É a base da chamada magia imitativa. Nesse caso, domina a ideia de que “o semelhante produz o semelhante”. A ação ou o pensamento mágico pensa produzir efeito desejado por imitação da ação real. Por exemplo, ao queimar um boneco com alguma semelhança com um inimigo, estará queimando o próprio inimigo. ○ Também pode-se verificar a ocorrência de tal forma de pensar em alguns transtornos da personalidade, como os transtornos esquizotípico, histriônico, borderline e narcisista. ○ Nos quadros obsessivo-compulsivos, ocorrem com frequência pensamentos mágicos e rituais compulsivos dominados pelas leis da magia. Na esquizofrenia e na histeria, também podem ser detectados pensamentos mágicos. Pensamento dereístico: - É um tipo de pensamento que se opõe marcadamente ao pensamento realista, o qual se submete à lógica e à realidade. Aqui, o pensamento só obedece à lógica e à realidade naquilo que interessa ao desejo do indivíduo, distorcendo a realidade para que esta se adapte aos seus anseios. - Pode ocorrer nos transtornos da personalidade (esquizotípica, histriônica, borderline, narcisista, etc.), na esquizofrenia, na histeria e, eventualmente, em crianças e adolescentes (e mesmo em adultos) normais. Pensamento concreto ou concretismo: - O indivíduo não consegue entender ou utilizar metáforas, o pensamento é muito aderido ao nível sensorial da experiência. - O indivíduo não consegue entender ou utilizar metáforas, o pensamento é muito aderido ao nível sensorial da experiência. Pensamento inibido: - Aqui ocorre a inibição do raciocínio, com diminuição da velocidade e do número de conceitos, juízos e representações. - Ocorre em quadros demenciais e depressivos graves. Pensamentovago: - Um pensamento muito ambíguo, podendo mesmo parecer obscuro. Não há propriamente o empobrecimento do pensamento, mas, antes, a marcante falta de clareza e precisão no raciocínio. O pensamento vago pode ser um sinal inicial da esquizofrenia ou ocorrer em quadros demenciais iniciais, transtornos da personalidade (p. ex., esquizotípica) e neuroses graves. Pensamento prolixo: - No pensamento prolixo, o paciente dá longas voltas ao redor do tema, e mescla, de forma imprecisa, o essencial com o supérfluo. - A tangencialidade (pensamento tangencial) e a circunstancialidade (pensamento circunstancial) são tipos de pensamento prolixo. - A tangencialidade ocorre quando o paciente responde às perguntas de forma oblíqua e irrelevante, não sabendo discriminar o supérfluo do essencial. - A circunstancialidade descreve o raciocínio e a digressão do paciente como “rodando em volta do tema”, sem entrar nas questões essenciais e decisivas. - Esses tipos de pensamento ocorrem em pacientes com transtornos da personalidade (associado à epilepsia com crises parciais- complexas ou a patologias do lobo temporal), em indivíduos com lesões cerebrais, em deficientes mentais limítrofes, naqueles que se acham no início de um processo esquizofrênico e em alguns neuróticos graves (incluindo pacientes com quadros obsessivo-compulsivos) Pensamento deficitário (ou oligofrênico): - O indivíduo tende ao raciocínio concreto; os conceitos são escassos e utilizados em sentido mais literal que abstrato ou metafórico. - No pensamento deficitário não há distinção pormenorizada e precisa de categorias como essencial e supérfluo; necessário ou acidental; causa e efeito; o todo e as partes; o real e o imaginário; o concreto e o simbólico. - Esse fenômeno de extensa memorização mecânica é denominado ilhotas de memória, ocorrendo geralmente em deficientes mentais e autistas, que, em função de tal habilidade, eram chamados de idiotas-sábios. Pensamento demencial: - Trata-se também de pensamento pobre, porém tal empobrecimento é desigual, ao contrário do que ocorre no pensamento deficitário, no qual o empobrecimento é mais homogêneo. Ao se deparar com a dificuldade em encontrar as palavras (aspecto característico no início das demências), procura termos mais genéricos, evita os adjetivos e os substantivos específicos. Por exemplo, “Não consigo encontrar aquela coisa, o meu... (batom), aquilo para pintar a boca...”; “Vou pedir ao... àquele homem (o guarda), que me ajude a atravessar... aqui (a rua)”. Pensamento confusional: - Verifica-se, devido à turvação da consciência, um pensamento incoerente, de curso tortuoso, que impede que o indivíduo apreenda de forma clara e precisa os estímulos ambientais e possa, assim, processar seu raciocínio adequadamente. - Ocorre principalmente nas síndromes confusionais agudas. Pensamento desagregado: - Trata-se de pensamento radicalmente incoerente, no qual os conceitos e os juízos não se articulam minimamente de forma lógica. - Uma mistura aleatória de palavras, que nada comunica ao interlocutor. - Ocorre nas formas graves e avançadas de esquizofrenia. Pensamento obsessivo: - No pensamento obsessivo, predominam idéias ou representações que, apesar de terem conteúdo absurdo ou repulsivo para o indivíduo, se impõem à consciência de modo persistente e incontrolável. - Com certa freqüência, em pacientes gravemente obsessivos, aspectos do pensamento mágico também estão presentes (p. ex., “Se eu tocar na roupa de uma prostituta ficarei contaminado”, ou “Se eu repetir a palavra santo cinqüenta vezes impedirei que meu pai morra”). Alterações do processo de pensar: Curso do pensamento: As principais alterações do curso do pensamento são a aceleração, a lentificação, o bloqueio e o roubo do pensamento. Aceleração do pensamento: - O pensamento flui de forma muito acelerada, uma idéia se sucedendo à outra rapidamente. Ocorre nos quadros de mania, na esquizofrenia, nos estados de ansiedade intensa, nas psicoses tóxicas (sobretudo por anfetamina e cocaína) e na depressão ansiosa. Lentificação do pensamento: - Há certa latência entre as perguntas formuladas e as respostas. Ocorre principalmente nas depressões graves. Bloqueio ou interceptação do pensamento: - Verifica-se o bloqueio do pensamento quando o paciente, ao relatar algo, no meio de uma conversa, brusca e repentinamente interrompe seu pensamento, sem qualquer motivo aparente. O doente relata que, sem saber por que, “o pensamento para”, é bloqueado. Trata-se de alteração quase que exclusiva da esquizofrenia. Roubo do pensamento: - O indivíduo tem a nítida sensação de que seu pensamento foi roubado de sua mente, por uma força ou ente estranho, por uma máquina, uma antena, etc. - O roubo do pensamento é uma alteração típica da esquizofrenia. Forma do pensamento: Fuga de ideias: - É uma alteração da estrutura do pensamento secundária à acentuada aceleração do pensamento, na qual uma ideia se segue a outra de forma extremamente rápida, perturbando-se as associações lógicas entre os juízos e os conceitos. - Na fuga de ideias, as associações entre as palavras deixam de seguir uma lógica ou finalidade do pensamento e passam a ocorrer por assonância, e as ideias se associam muito mais pela presença de estímulos externos contingentes. - A fuga de ideias é uma alteração muito característica dos quadros maníacos. Dissociação do pensamento: - É a designação cunhada por Bleuler (1985) para a desorganização do pensamento encontrada em certas formas de esquizofrenia. - Os pensamentos passam progressivamente a não seguir uma seqüência lógica e bem- organizada, e os juízos não se articulam de forma coerente uns com os outros. Afrouxamento das associações: - Neste caso, embora ainda haja concatenação lógica entre as idéias, nota-se já o afrouxamento dos enlaces associativos (Nobre de Melo, 1979). As associações parecem mais livres, não tão bem-articuladas. Manifesta-se nas fases iniciais da esquizofrenia e em transtornos da personalidade (sobretudo no da personalidade esquizotípica). Descarrilhamento do pensamento: - O pensamento passa a extraviar-se de seu curso normal, toma atalhos colaterais, desvios, pensamentos supérfluos, retornando aqui e acolá ao seu curso original. Geralmente está associado a marcante distraibilidade. Se o descarrilhamento for muito acentuado, e os desvios, muito freqüentes e longos, pode-se não mais captar a seqüência lógica do pensamento. O descarrilhamento é observado na esquizofrenia e, eventualmente, nos transtornos maníacos. Desagregação do pensamento: - É a designação cunhada por Bleuler (1985) para a desorganização do pensamento encontrada em certas formas de esquizofrenia. Os pensamentos passam progressivamente a não seguir uma seqüência lógica e bem-organizada, e os juízos não se articulam de forma coerente uns com os outros. Afrouxamento das associações: - Neste caso, embora ainda haja concatenação lógica entre as idéias, nota-se já o afrouxamento dos enlaces associativos (Nobre de Melo, 1979). As associações parecem mais livres, não tão bem-articuladas. Manifesta-se nas fases iniciais da esquizofrenia e em transtornos da personalidade (sobretudo no da personalidade esquizotípica). Descarrilhamento do pensamento: - O pensamento passa a extraviar-se de seu curso normal, toma atalhos colaterais, desvios, pensamentos supérfluos, retornando aqui e acolá ao seu curso original. Geralmente está associado a marcante distraibilidade. - O descarrilhamento é observado na esquizofrenia e, eventualmente, nos transtornos maníacos. Desagregação do pensamento: - Sobram apenas “pedaços” de pensamentos, conceitos e idéias fragmentadas, muitas vezes irreconhecíveis,sem qualquer articulação racional, sem que sejam detectadas uma linha diretriz e uma finalidade no ato de pensar. Trata- se de alteração típica de formas avançadas de esquizofrenia e de quadros demenciais. - Na esquizofrenia, de modo geral, o progredir da desestruturação do pensamento segue esta seqüência (em ordem de gravidade): afrouxamento das associações, descarrilhamento do pensamento e, finalmente, desagregação do pensamento. Conteúdo do pensamento: - O conteúdo do pensamento é aquilo que preenche a estrutura do processo de pensar. - Nesse sentido, o conteúdo corresponde à temática do pensamento. Assim, não se pode falar propriamente em alterações patológicas do conteúdo do pensamento. A observação clínica indica que os principais conteúdos que preenchem os sintomas psicopatológicos são: 1. Persecutórios 2. Depreciativos 3. Religiosos 4. Sexuais 5. De poder, riqueza, prestígio ou grandeza 6. De ruína ou culpa 7. Conteúdos hipocondríacos - A persecutoriedade (ou vivências de perseguição) é provavelmente muito importante pelo fato de a sobrevivência em um mundo potencialmente ameaçador ser tema onipresente em quase todos os grupos sociais. - À luz da sociedade vitoriana e conservadora a grande importância da sexualidade para a vida mental e social do ser humano. Tal importância deriva de fatores instintivo-biológicos (sobrevivência da espécie) e psicológicos, pois, paralelamente ao desenvolvimento das relações afetivas. - Os temas religiosos e místicos também são muito comuns na psicopatologia, o que se justifica pelo fato de que não há cultura ou grupo social humano em que a religião não desempenhe papel central. - Os temas hipocondríacos revelam a importância que o corpo tem na experiência humana. Também estão implicados, com esses temas, o narcisismo relacionado às vivências corporais, o desejo de bemestar físico, os temores relacionados ao risco permanente que todo ser humano tem de adoecer fisicamente, sofrer e falecer.
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