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Andressa Marques – medicina UFR ROTURA PREMATURA DE MEMBRANAS OVULARES INTRODUÇÃO →As membranas e o líquido amniótico funcionam como uma barreira protetora, que gera um ambiente estéril, principalmente em relação à microbiota bacteriana vaginal, e exercem funções essenciais para a proteção, o crescimento e o desenvolvimento do feto. →A alteração da integridade da cavidade amniótica interfere nessas funções. →A integridade da cavidade amniótica também propicia uma tensão adequada sobre o tórax fetal, o que é muito importante para a boa formação dos pulmões fetais, logo, em caso de RPMO pode haver comprometimento da formação pulmonar e consequente hipoplasia dos pulmões fetais (principalmente nos rompimentos muito precoces) →A RPMO em mulheres com IG inferior a 37 semanas é um dos problemas mais comuns atualmente e existem vários pontos controversos em relação à conduta frente ao diagnóstico, como a questão de adotar ou não conduta expectante, necessidade de hospitalização, administração de antibioticoprofilaxia, o uso de tocolíticos e corticosteroides, os métodos utilizados para diagnosticar infecção e a época ideal do parto. DEFINIÇÃO DE RPMO →É definida consensualmente como a rotura espontânea das membranas coriônica e amniótica comprovadamente antes do início do trabalho de parto. →Essa definição independe da idade gestacional; ou seja, pode-se ter uma RPMO antes de 37 semanas de gestação e após (rotura pré-termo e rotura a termo). →O período de latência é definido como o intervalo entre a rotura das membranas e o início do trabalho de parto. (é considerado prolongado se for superior a 12 – 24 horas) →Na rotura prematura das membranas ovulares que ocorre no termo, 90% dos casos evoluem para o parto em até 24 horas, enquanto nas pré-termo o período de latência é inversamente relacionado com a IG em que ocorreu a rotura. →A rotura de especial interesse em função das maiores dificuldades é aquela que ocorre antes das 34 de IG, devido a imaturidade pulmonar dos fetos nesses casos. Andressa Marques – medicina UFR ETIOLOGIA →Pode ser dividida em espontânea ou iatrogênica, sendo a última decorrente, principalmente, de cirurgias cervicais durante a gestação ou de procedimentos invasivos intrauterinos, como amniocentese, biópsia de vilosidades coriônicas e laser terapia. →Todavia, no Brasil, devido à baixa prevalência dos procedimentos invasivos, em especial amniocentese citogenética, a participação desses procedimentos como etiologia é pouco relevante. →A rotura iatrogênica possui bom prognóstico na maioria dos casos. →Já a RPMO espontânea é complexa e multifatorial, envolve fatores que alteram a estrutura das membranas, cujo principal componente é o colágeno, sendo os mais importantes: ➢ Sobredistensão uterina (polidrâmnio e gestação múltipla) ➢ Fatores mecânicos (contrações uterinas e movimentação fetal) ➢ Alteração da integridade cervical (incompetência cervical e circlagem) ➢ Fatores intrínsecos às membranas (deficiência de alfa-1-antitripsina e síndrome de Ehlers- Danlos). ➢ Alteração da oxigenação tecidual (tabagismo) ➢ Diminuição da atividade imunológica bactericida do líquido amniótico. →Esses fatores estão relacionados com infecção ascendente da microbiota vaginal, sendo esta a causa identificável mais frequentemente associada a RPMO. →Os principais agentes envolvidos são: estreptococos do grupo B; Gardnerella vaginalis; Neisseria gonorrhoeae; Escherichia coli; Bacteroides spp; Peptoestreptococcus spp. e enterecocos. →A presença desses agentes determinaria a produção de colagenases e proteases, com alteração da estrutura das membranas, provocando a rotura. COMPLICAÇÕES ➢ MATERNAS →Corioamnionite – infecção ovular ou intra-amniótica →Endometrite →Bacteremia →Essas são as mais frequentes; estudos demonstram que 70% das RPMO pré-termo apresentam sinais histopatológicos de corioamnionite. ➢ FETAIS → As 3 mais importantes são: hipoplasia pulmonar, prematuridade e infecção neonatal. Andressa Marques – medicina UFR AVALIAÇÃO DA GESTANTE →Deve adotar uma sequência semiológica: 1. Confirmação do diagnóstico 2. Determinação da IG / Avaliação ultrassonográfica 3. Avaliação da presença de infecção materna e/ou fetal 4. Avaliação da vitalidade fetal e 5. Hospitalização CONFIRMAÇÃO DIAGNÓSTICA →É feita clinicamente em 90% dos casos. →A gestante relata perda de líquido e, ao exame especular, observa-se escoamento de líquido pelo orifício externo do colo uterino. →Pode-se lançar mão da compressão do colo uterino em algumas vezes ou solicitar que a gestante realize a manobra de Valsalva para observar o escoamento. →Em função da ausência de estudos que comprovem a segurança do toque vaginal em suspeitas de RPMO, o toque não deve ser realizado pelo risco inerente de infecção. →Em caso de dúvida no diagnóstico, podem ser realizados testes que verificam a mudança do pH vaginal de ácido (4,5 a 6) para alcalino (7,1 a 7,3). Os testes são: ➢ Papel de nitrazina: o papel fica azul quando em pH alcalino. ➢ Teste do fenol vermelho: após deixar um tampão na vagina da mulher por algum tempo, ele muda de uma coloração laranja para vermelho quando se pinga algumas gotas de reagente. ➢ Avaliação direta do pH. ➢ Arborização do muco cervical (cristalização do LA): após rotura das membranas, o líquido amniótico, rico em estriol, passa pelo canal cervical e entra em contato com o muco cervical; esse muco, quando aquecido sobre uma lâmina, apresenta fenômeno de arborização, que pode ser constatado ao microscópio óptico comum; na ausência de arborização do muco, infere-se que não houve contato dele com o estriol presente no líquido amniótico. (aspecto de samambaia) Andressa Marques – medicina UFR ➢ Outros: (mais caros, pouco disponíveis ainda!) →O exame ultrassonográfico também é fortemente sugestivo de RPMO quando há diminuição do volume do líquido, entretanto, insuficiência placentária grave, agenesia renal fetal e uropatia obstrutiva também ser aventadas. (US não é confirmatório então) DETERMINAÇÃO DA IDADE GESTACIONAL/AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA →É realizada pela história clínica da gestante – data da última menstruação (DUM) e confirmada por exame ultrassonográfico de primeiro trimestre. →Avaliar a apresentação fetal e estimar o peso fetal, visto o risco de prematuridade →Avaliar o ILA (índice de líquido amniótico) →Avaliar o bem-estar fetal com o perfil biofísico fetal, com atenção aos movimentos respiratórios (FCF, movimentos respiratórios, movimentos fetais, tônus fetal e ILA) AVALIAÇÃO DA PRESENÇA DE INFECÇÃO MATERNA/FETAL →A avaliação da presença de corioamnionite é FUNDAMENTAL para a conduta na RPMO, uma vez que após o diagnóstico de infecção, a conduta é resolutiva, independentemente da IG. →A via de infecção pode ser ascendente a partir da microbiota vaginal ou hematogênica. →Fatores de risco que aumentam a chance de corioamnionite: • Número de exames vaginais durante o trabalho de parto (seis ou mais) • Duração do trabalho de parto (maior que 12 horas) • RPMO há mais de 24 horas • Colonização materna por estreptococos do grupo B • Líquido meconial Andressa Marques – medicina UFR →Afastando-se outros focos de infecção, o diagnóstico de corioamnionite se baseia na presença de: UM CRITÉRIO MAIOR (FEBRE ≥37,8°C) ou pelo menos DOIS DOS SEGUINTES SINAIS: -Taquicardia materna (FC > 100 bpm) -Taquicardia fetal (FC basal > 160 bpm) -Útero irritável (contrações irregulares) -Saída de secreção purulenta pelo orifício externo do colo uterino -Leucocitose (>15000/mm3 ou aumento de 20%, especialmente se houver desvio a esquerda) -Diminuição abrupta da quantidade de líquido amniótico -Diminuição de movimentos fetais e, principalmente, ausência de movimentos respiratórios no perfil biofísico fetal -Aumentomaior que 20% da proteína C reativa (observar que há aumento na gravidez) AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL →DIARIAMENTE! →Deve ser realizada por meio da cardiotocografia e do perfil biofísico fetal; →Um parâmetro importante na avaliação do perfil biofísico fetal é a presença de movimentos respiratórios; estudos relatam que a ausência de movimentos respiratórios ocorre de 24 a 48 horas antes dos sinais clínicos de corioamnionite. →Principal parâmetro = MOVIMENTOS RESPIRATÓRIOS → quando ausentes são considerados indicativos de infecção materna e ou/ fetal HOSPITALIZAÇÃO →As mulheres com diagnóstico de RPMO que apresentam fetos viáveis devem permanecer em regime de internação hospitalar até o parto, com poucas situações de exceção. →As gestantes são mantidas em repouso com monitorização dos sinais clínicos e laboratoriais de infecção e da vitalidade fetal. →A Clínica Obstétrica da HC-FMUSP recomenda conduta expectante em regime hospitalar, no entanto, em situações especiais, pode-se adotar conduta expectante em regime domiciliar desde que alguns critérios sejam observados: Andressa Marques – medicina UFR ASPECTOS CONTROVERSOS →A conduta na RPMO se mostra controversa em alguns tópicos e isso dificulta a ação do obstetra no seu seguimento. →Aspectos discutidos: efetuar ou não tocólise; administrar ou não a corticoterapia para a acelerar a maturação pulmonar fetal; há necessidade ou não de antibioticoprofilaxia. →De início ressalta-se que em IG < 26 semanas não está recomendada a administração de antibioticoprofilaxia, de corticosteroides ou a tocólise. CONDUTA →Diante do diagnóstico de RPMO, interna-se a gestante e a conduta inicial preconizada pela Clínica Obstétrica do HC-FMUSP baseia-se em: ➢ Confirmação da idade gestacional ➢ Pesquisa de sinais de corioamnionite no momento da internação ➢ Avaliação da vitalidade fetal →Diante da normalidade dos 2 últimos tópicos, adota-se a conduta a seguir: Andressa Marques – medicina UFR CONDUTA EM GESTAÇÕES ABAIXO DE 36 SEMANAS →Conduta expectante →Diante dessa conduta, é imprescindível o controle da vitalidade fetal e a pesquisa de corioamnionite. →Mantem-se a paciente internada e a condução ambulatorial não é rotina no HC-FMUSP →Na internação, realiza-se o exame especular e colhe-se o conteúdo cervical para pesquisa de gonococo e Chlamydia trachomatis, cultura de secreção vaginal para Escherichia coli e, principalmente, cultura de introito vaginal e perianal para estreptococos do grupo B. →Em seguida inicia-se a antibioticoprofilaxia, que deverá ser mantida por 48 horas, podendo ser interrompida antes se houver resultado de cultura negativo. →Utiliza-se a penicilina G cristalina, em dose de ataque de 5 milhões de UI por via IV e, depois, 2,5 milhões de UI por via IV a cada 4 horas. →Caso haja evolução para trabalho de parto, e o resultado da cultura seja positivo ou não esteja disponível, a antibioticoprofilaxia é mantida até o nascimento. →O resultado da cultura é válido por 5 semanas, logo, nova coleta deve ser feita após esse período ou entre 35 e 37 semanas. →Deve-se realizar diariamente cardiotocografia e perfil biofísico fetal para avaliação da vitalidade fetal, em razão do maior risco de sofrimento fetal na RPMO. O exame ultrassonográfico permite a avaliação da quantidade de líquido amniótico, e quanto menor for o volume, maior será a correlação com infecção e menor o período de latência, o que pode levar a um pior prognóstico. →Caso não haja sinais de corioamnionite, de trabalho de pano ou de sofrimento fetal, a interrupção da gestação é feita com 36 semanas, baseada na melhor evolução do recém-nascido no berçário. A via de parto é obstétrica e dá-se preferência à via vaginal, em razão da menor morbidade materna associada. Andressa Marques – medicina UFR CONDUTA DIANTE DO DIAGNÓSTICO DE CORIOAMNIONITE →A conduta é ativa (indução do parto), independentemente da IG. →A via de parto preferencial é vaginal, e a antibioticoterapia deve ser iniciada. →Utiliza-se na corioamnionite 2 tipos de esquemas terapêuticos, dependendo da disponibilidade no serviço: 1. Ampicilina na dose de 2g, por via intravenosa, a cada 6 horas + gentamicina na dose de 1,5 mg/kg, por via IV, a cada 8 horas + metronidazol 500 mg por via IV a cada 8 horas. (A ampicilina e a gentamicina devem ser administrados a partir do momento do diagnóstico, ao passo que a utilização do metronidazol é iniciada após o clampeamento do cordão umbilical.) 2. Clindamicina na dose de 900 mg, por via IV, a cada 8 horas + gentamicina, 1,5 mg/kg, por via IV, a cada 8 horas. →A antibioticoterapia deve ser mantida até 48 horas após o último episódio de febre, e a ampicilina já constitui boa opção para profilaxia contra a infecção neonatal por estreptococos do grupo B. CONDUTA NA RPMO APÓS 36 SEMANAS →Conduta ativa – indução do parto ou realização de cesárea imediatamente, caso tenha contraindicação para indução. →Optando-se por resolução por via alta (cesárea), a proteção da cavidade peritoneal com colocação bilateral de compressas úmidas nas goteiras peritoneais é preconizada. →Em casos de trabalho de pano no termo da gestação com rotura prematura de membranas por mais de 18 horas ou em casos de trabalho de parto prematuro, preconiza-se a profilaxia da infecção neonatal por estreptococos do grupo B, para todas as gestantes com cultura do conteúdo vaginal e perianal positiva ou quando não foi realizada a cultura também. →Utiliza-se para tanto, antibioticoterapia durante o trabalho de parto, com dose de ataque de 5 milhões de UI de penicilina C cristalina por via intravenosa e, depois, 2,5 milhões de UI, por via IV, a cada 4 horas até o nascimento; ou dose de ataque de 2 g de ampicilina, por via intravenosa, e, depois, 1 g, por via intravenosa, a cada 4 horas até o nascimento. →É necessária a administração de antibióticos por pelo menos 4 horas antes do nascimento para que a profilaxia seja considerada adequada. Caso haja alergia a penicilina, pode-se utilizar a clindamicina na dose de 900 mg, também por via intravenosa, a cada 8 horas. Andressa Marques – medicina UFR REFERÊNCIAS Zugaib, obstetrícia – 3ª edição, seção 5, capítulo 37. Slides da aula do professor.
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