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Estudos Socioantropologicos - UNID1

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Estudos
Socioantropológicos
UN
ID
AD
E 
1
Apresentação 
da Disciplina
Fonte: Flickr
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
2
Bem-vindo à disciplina Estudos Socioantropológicos, que tem por objetivo 
oferecer a você, caro(a) aluno(a), conhecimento adequado para refletir, 
de forma crítica, sobre os acontecimentos da sociedade contemporânea 
e sua dinâmica sociocultural a partir do campo teórico-conceitual das 
Ciências Sociais.
Diante do mundo globalizado do século XXI, nos deparamos com inúmeros 
desafios, com transformações que são cada vez mais rápidas, as quais 
afetam o conjunto das relações sociais, abalam os paradigmas que alicerçam 
os conhecimentos e produzem inovações de todas as naturezas. Essas 
transformações exigem de nós respostas adequadas para que possamos 
ser inseridos no fluxo dos acontecimentos, de forma a compreendê-los e 
transformá-los, enquanto atores sociais e agentes na nossa própria história.
Para tanto, oferecemos, nesta disciplina, uma introdução geral dos conceitos 
básicos da Antropologia, da Sociologia e das Teorias Clássicas delas, que 
consideramos indispensáveis para o entendimento global das transformações 
socioculturais que vivenciamos na contemporaneidade. Abordaremos questões 
que estão presentes no cotidiano na realidade sociocultural contemporânea, 
a fim de permitir que você dialogue com eles em um mundo marcado por 
mudanças, novas tendências e desafios. 
E, para facilitar seu aprendizado, a disciplina está estruturada em quatro 
unidades:
Unidade 1 - Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
Unidade 2 - Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
Unidade 3 - Relações de Trabalho e Sociedade de Consumo
Unidade 4 - O Mundo Globalizado
Ao longo de cada unidade sugerimos leituras a partir de links para textos e 
vídeos.
Desejamos a você um ótimo estudo!
3
Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
Antropologia 
e Sociologia: 
ciências do 
homem e da 
sociedade
Nesta unidade iremos conhecer as transformações sociais, com o advento 
da modernidade, e as origens da Sociologia e da Antropologia e seus 
objetos de estudo, em busca da compreensão do homem e da sociedade. 
Vamos apresentar:
•	 Os precursores dos estudos sociológicos e antropológicos e suas teorias; 
•	 Os conceitos básicos de ambas as disciplinas no que se refere às relações 
sociais e culturais; 
•	 A diversidade sociocultural para uma compreensão crítica da 
contemporaneidade. 
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
4
1
T1
Assim, organizada em tópicos, estudaremos os seguintes assuntos:
T1. A Sociedade Moderna e as Transformações Sociais.
T2. As Bases do Pensamento Sociólogico - Max, Durkhein e Weber.
T3. Antropologia: ciência do homem e da cultura.
T4. Diversidade Sociocultural: etnocentrismo e relativismo.
Desejamos que esses assuntos possibilitem a visão geral das ciências do 
homem e da sociologia, com temas instigantes para um complemento do 
conhecimento.
Vamos lá!
A Sociedade Moderna e as 
Transformações Sociais 
A emergência da sociedade moderna foi uma experiência efetivamente nova 
na história da humanidade, ela está intimamente relacionada à dissolução 
da velha sociedade feudal na Europa, à conquista da Terra pelas caravelas 
lançadas ao mar, bem como às novas concepções de mundo. Vejamos:
1492 1498 1521 1540
Vasco da Gama, ao 
contornar o continente 
africano, descobre um 
novo caminho pelo 
oceano para as Índias 
Orientais.
Magalhães completa 
sua viagem de volta ao 
mundo pelos mares, 
fato que comprovará 
a rotundidade do 
planeta.
Copérnico publica 
seus estudos, que 
descrevem um sistema 
heliocêntrico, ou seja, 
ele descobre que é 
a Terra e os outros 
planetas que giram 
em torno do Sol. “Eis 
portanto os começos 
do que chamamos 
Tempos Modernos, e 
que deveria chamar-se 
Era Planetária” (MORIN, 
2005, p.21). 
Colombo chega 
às Américas.
5
Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
Percebe-se, com a linha do tempo, que estamos diante de acontecimentos 
que desencadearam nos últimos cinco séculos transformações globais e que 
deram origem à sociedade contemporânea globalizada. 
Os modelos societários anteriores à sociedade atual, das sociedades antigas 
à feudal, foram marcados por estruturas sociais rigidamente hierarquizadas, 
nas quais os grupos, castas ou estamentos dominantes possuíam status 
diferenciado e usufruíam de privilégios em relação à população em geral. Os 
direitos civis, políticos e sociais, como os conhecemos na atualidade, foram 
conquistados paulatinamente graças ao advento da modernidade e da luta 
por direitos que ela ensejou. 
A estrutura social da sociedade feudal, que antecedeu a sociedade moderna 
e contemporânea, estava baseada em estamentos (grupos sociais).
Em uma sociedade estamental os indivíduos integram a pirâmide social 
de acordo com a sua origem, na qual é comum permanecerem. Assim, 
passar de um estamento a outro era praticamente impossível. Nessa rígida 
estrutura social predominavam os valores coletivistas e a religiosidade cristã, 
ambos determinantes dos padrões de comportamento e crenças adotados 
e compartilhados entre todos na comunidade feudal.
Estatamentos são 
agrupamentos mais ou 
menos estanques nos 
quais a mobilidade social 
é quase inexistente ou 
extremamente regulada.
A Sociedade Estamental representa a estrutura 
social típica do sistema feudal medieval, 
dividida nos estamentos (grupos sociais), onde 
quase não existe mobilidade social, ou seja, a 
posição do indivíduo na sociedade dependerá 
de sua origem familiar, por exemplo: nasceu 
servo, morrerá servo (TODA MATÉRIA, s.d.). 
Para compreender mais sobre a sociedade 
estamental, leia o artigo “A sociedade estamental: 
as funções de cada estatamento”, de Paulo Silvino 
Ribeiro, no sitio Brasil Escola. Confira abaixo:
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/a-
sociedade-estamental-as-funcoes-cada-
estamento.htm
saiba mais?
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Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
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Segundo Polanyi (2012) o desenvolvimento do comércio e a adoção crescente 
da moeda como meio de intermediação das trocas econômicas foram o 
grande motor da transformação social que nos levou a chegar até os dias de 
hoje. A ampliação das atividades comerciais estimulou os proprietários de 
terra a mudarem suas atividades agrícolas, cercando suas terras e forçando 
as pessoas a se mudarem do campo para a cidade, que floresceu como o 
novo centro econômico, político, social e cultural da sociedade.
O crescimento das cidades e das atividades comerciais e artesãs favoreceu 
o desenvolvimento de uma racionalidade que impulsionou o pensamento 
científico. A vida urbana e a nova economia mercantil foram fundamentais 
para impulsionar a ciência moderna e, consequentemente, o desabrochar 
das Ciências Sociais.
O desabrochar das Ciências Sociais consistiu na Sociologia, para poder 
interpretar mudanças tão importantes para a consolidação da modernidade; e 
com a Antropologia, que por sua vez se debruçou sobre o estudo do homem 
e da diversidade cultural presente nas sociedades humanas.
A Transição para a Sociedade Moderna
A sociedade moderna originou-se na Europa ocidental de um longo processo 
de transformação da antiga sociedade feudal, provocado por mudanças de 
ordem econômica, política, social e cultural. Tais mudanças foram tão profundas 
na mentalidade e no comportamento que, em princípio, se estenderam do 
século XIV ao XVI, com o advento do Renascimento e que, consequentemente, 
favoreceram o desabrochar da Idade Moderna. 
O Renascimento foi um movimento artístico, filosófico/científico e cultural 
notadamente urbano que fomentounão só as artes e as ideias, mas também 
o mercado e o comércio, deslocando para as cidades, à época conhecidas 
como burgos, a centralidade da vida econômica, política, social e cultural. 
Vejamos os elementos e os acontecimentos significativos que contribuíram 
para compor a identidade do Renascimento e para alavancar a modernidade:
Concepção antropocêntrica
O homem e as questões relativas ao ser humano tornam-se referência primeira para a 
sociedade renascentista. Assim, a valorização da razão humana, do potencial artístico do 
homem e do seu livre-arbítrio nas questões referentes à política foram contribuições do 
humanismo presente nas reflexões filosóficas da época. Desenvolveu-se uma concepção 
antropocêntrica do mundo, que tem o homem como o centro de todas as coisas no universo, 
em oposição ao teocentrismo dominante. 
O Homem vitruviano é baseado nas ideias do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio 
exibidas no tratado De Architectura, no qual ele descreve as proporções do corpo humano 
masculino. “Este desenho ilustra a tese filosófica segundo a qual o homem é a medida de 
todas as coisas, própria do Renascimento. Considerado como um símbolo da simetria básica 
do corpo humano e, por extensão, para o universo como um todo” (MARTINS, 2017). 
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Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
As grandes navegações e a descoberta do Novo Mundo
As grandes navegações e a descoberta do Novo Mundo, do continente americano, não só 
impulsionaram a economia mercantil e, consequentemente, a exploração colonial dos novos 
territórios, como também colocaram diante do homem europeu, branco e cristão um sem 
número de povos jamais vistos ou imaginados. O contato com o outro desconhecido, tido como 
estranho, diferente e exótico, suscitou questionamentos sobre quem seriam esses “outros”. 
Segundo Laplantine (2000), a origem da reflexão antropológica sobre o homem tem seus 
fundamentos nessa época. 
Reforma Protestante e a Invenção da Imprensa
Por sua vez, a Reforma Protestante e a Invenção da Imprensa produziram impactos irreversíveis 
de caráter intelectual, religioso, moral e político para a sociedade de então. Ambas contribuíram 
para impulsionar o processo de racionalização do mundo, ou seja, para a construção de uma 
nova realidade na qual a racionalidade técnica, científica e econômica tornou-se predominante. 
HOMEM VITRUVIANO, CERCA DE 1490.
LEONARDO DA VINCI, 1452 – 1519.
GALLERIE DELL'ACCADEMIA, VENEZA, ITÁLIA.
PARTIDA DAS CARAVELAS DO PORTO DE LISBOA, 1592; E DANÇA DOS 
TUPINAMBÁS, 1592. THEODORE DE BRY, 1528 –1598. ILUSTRAÇÕES DE AMERICAE 
TERTIA PARS. SERVICE HISTORIQUE DE LA MARINE, VINCENNES, FRANÇA.
Concepção Heliocêntrica
A Terra deixou de ser o centro do universo e descobriu-se que 
ela era mais um planeta, entre outros, a girar em torno do Sol. 
Assim, a concepção geocêntrica aliada ao teocentrismo deu 
lugar a uma nova visão, a heliocêntrica. Os enigmas do universo 
e do mundo passaram a ser objetos de estudo e de descobertas 
cientificas realizadas pelo homem. 
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Do ponto de vista econômico, o principal fator de desestabilização do 
feudalismo, segundo Sweezy (1977), foi a introdução de uma economia 
mercantil baseada no valor de troca, enquanto a economia feudal estava 
baseada no valor de uso dos bens produzidos. O sistema de produção feudal 
tinha como centralidade econômica a autossuficiência e não a produção 
e comercialização de mercadorias, característica, essa, da nova economia 
mercantil, o que favoreceu a acumulação de capital. 
Assim, o longo período que envolve o processo de transição do feudalismo 
para uma sociedade de economia plenamente capitalista deve ser 
compreendido como um período no qual a economia baseou-se em um 
sistema de produção pré-capitalista de mercadorias. 
Por sua vez, Dobb (1987) defende que o principal motivo do declínio do modo 
de produção feudal deu-se mais às contradições internas presentes nas 
relações entre os servos e os senhores feudais, dado o aumento da exploração 
dos servos pelos senhores, a fim de aumentarem seus ganhos, que ao próprio 
sistema mercantil nascente e ao desenvolvimento das cidades. Tais fatores 
contribuíram para acirrar ainda mais o descontentamento dos servos em 
relação aos senhores feudais, uma vez que o comércio crescente contribuiu 
para a diferenciação social e o desenvolvimento das cidades, que abrigavam 
os que saíam do campo em busca de outras oportunidades de trabalho 
fomentadas pelo sistema mercantil. 
A decadência da economia feudal, representada pelo esgotamento do modelo 
de produção autossuficiente baseado em uma economia rural, favoreceu:
•	 O desenvolvimento dos burgos, assim as cidades passaram a ser o centro 
efervescente da vida social no Renascimento;
•	 O florescimento dos mercados locais e do comércio ultramarino 
alavancados pelo mercantilismo;
•	 A adoção crescente do dinheiro como meio de intermediação das trocas 
econômicas e a consolidação dos bancos, grandes fomentadores das 
companhias de comércio e das expedições comerciais;
•	 A emergência de uma nova classe social, a burguesia mercantil, composta 
por moradores dos burgos que se dedicavam à produção artesanal de 
mercadorias, ao comércio e ao financiamento da nova economia pelos bancos.
PLANO DE FLORENÇA, CIDADE ITALIANA 
COMO CENTRO EFERVESCENTE DA VIDA 
SOCIAL NO RENASCIMENTO.
VISTA DE FLORENÇA, CERCA DE 1470. 
AUTOR DESCONHECIDO. PINTURA.
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Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
A partir do Renascimento, a sociedade europeia adentrou em um ciclo contínuo 
de modificações que sedimentaram a Idade Moderna. Tais transformações 
organizaram-se em torno de três grandes eixos, que deram sustentação para 
a consolidação da sociedade burguesa e capitalista em gestação: 
1º Eixo: Revolução Científica
Consiste no eixo do conhecimento, com a Revolução Científica e seus 
fundamentos científicos e filosóficos.
Conheça os tipos de conhecimentos despertados no período da 
Revolução Científica com o vídeo “René Descartes - Revolução Científica”.
2º Eixo: Revolução Industrial 
O segundo eixo é o da economia, quando o Mercantilismo e, 
consequentemente, a Revolução Industrial alteraram profundamente 
as relações e o modo de produção econômico com a consolidação do 
capitalismo. 
As causas da industrialização que caracterizaram a Revolução Industrial 
podem ser conferidas no vídeo “História - Revolução Industrial”, no link abaixo: 
https://www.youtube.com/watch?v=3MZ4v65aeHM
O QUADRO DE CLAUDE LORRAIN É 
REPRESENTATIVO DO MERCANTILISMO 
AO RETRATAR O INTENSO COMÉRCIO EM 
UM PORTO DO MAR MEDITERRÂNEO NO 
SÉCULO XVII.
PORTO COM VILA MEDICI, 1637. CLAUDE LORRAIN, 1600 – 1682. 
ÓLEO SOBRE TELA, 102 × 133CM.
OS AGIOTAS, DE QUENTIN MATSYS, FAZ 
ALUSÃO ÀS ORIGENS DO SISTEMA FINANCEIRO 
DURANTE O MERCANTILISMO.
OS AGIOTAS, 1520. QUENTIN MATSYS, 1466 – 1530. GALLERIA 
DORIA PAMPHILJ, ROMA, ITÁLIA.
A CENA DO CASAMENTO DOS ARNOLFINI É UMA 
REPRESENTAÇÃO ÍNTIMA DA VIDA BURGUESA 
NA EUROPA MERCANTIL. AS ROUPAS DO CASAL 
REPRESENTAM A ÚLTIMA MODA DA BURGUESIA 
DA ÉPOCA E SÃO INDICATIVOS DE SUA RIQUEZA.
O CASAL ARNOLFINI, 1434. JAN VAN EYCK, 1390 – 1441. 
ÓLEO SOBRE MADEIRA, 82 X 60CM. THE NATIONAL GALLERY, 
LONDRES, INGLATERRA.
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Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
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3º Eixo: Revoluções Burguesas
Conhecido como o eixoda Política, que por meio das Revoluções 
Burguesas, ou seja, da Revolução Inglesa, no século XVII e da Revolução 
Francesa, no século XVIII derrubaram o absolutismo em defesa de novos 
ideais de soberania, em prol das liberdades individuais e econômicas. 
Nos vídeos a seguir conheceremos um pouco sobre a Revolução Inglesa 
e Revolução Francesa, que fazem parte das Revoluções Burguesas. 
https://www.youtube.com/watch?v=ZYelZTa7Lvc
https://www.youtube.com/watch?v=UDFXdQWmQNE&t=264s
Esses eixos abriram o caminho para ascensão da burguesia ao poder, para 
a consolidação do modo de produção capitalista e do Estado liberal e 
constitucional.
Em suma, a sociedade moderna, na qual a Sociologia e a Antropologia 
emergem enquanto Ciências Sociais, se caracteriza por uma organização 
econômica capitalista em que os valores econômicos se impõem sobre 
valores humanos e sociais. 
A nova sociedade adota a racionalidade científica como forma de conhecimento 
do mundo, privilegia as necessidades individuais, investe na produção e 
no consumo de forma massiva e estimula a vida urbana centralizada nas 
metrópoles, o que favoreceu, na contemporaneidade, o avanço do racionalismo 
tecnicista, do individualismo, do consumismo e da indiferença social. 
O Absolutismo é um conceito histórico que se refere à forma de governo em que o poder é 
centralizado na figura do monarca, que o transmite hereditariamente. Esse sistema foi específico 
da Europa nos séculos XVI a XVII. (...) O surgimento do Absolutismo se deu com a unificação 
dos Estados nacionais na Europa ocidental no início da Idade Moderna, e foi realizada com a 
centralização de territórios, criação de burocracias, ou seja, centralização de poder nas mãos 
dos soberanos. (...) No Absolutismo, todavia, rei e Estado se sobrepõem ao povo. Já na Inglaterra, 
o Parlamento muito cedo diminuiu o poder dos monarcas. ...segundo o historiador Christopher 
Hill, ele surgiu no século XVII como uma tentativa da monarquia de importar o modelo francês 
e de se impor a todas as classes sociais inglesas. Tal tentativa, no entanto, fracassou devido à 
revolta das elites, que não aceitaram um soberano que se sobrepusesse de forma hegemônica 
a elas. Essa é a origem da Revolução Inglesa. A decadência do Absolutismo se deu no 
século XVIII com a ascensão política das burguesias nos Estados ocidentais, impulsionando 
o surgimento de novas teorias que defendiam um governo constitucional, representativo e 
uma economia sem a interferência do Estado, como o liberalismo. Por fim, nesse processo, a 
Revolução Francesa, no final do século XVIII, impulsionada por povo e burguesia, derrubou o 
Absolutismo francês, abrindo caminho para que, no século XIX, Espanha e Portugal também 
fizessem movimentos na direção do liberalismo ao imporem constituições a seus reis absolutos 
(SILVA, 2009, p.11-13).
11
Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
O Surgimento da Sociologia e da 
Antropologia
Ao longo do processo de transformação social da sociedade feudal para a 
sociedade moderna, além da Revolução Científica, dois acontecimentos foram 
decisivos para uma mudança radical da realidade: a Revolução Industrial e 
a Revolução Francesa. 
Ambas contribuíram para as transformações econômicas e políticas 
almejadas pela burguesia e que deram forma à sociedade contemporânea. 
Revolução Industrial
A Revolução Industrial revolucionou o sistema produtivo, ao deslocar milhares 
de camponeses para trabalharem nas fábricas das cidades. A mão-de-obra 
tornou-se assalariada, o comércio monopolista internacional se expandiu, uma 
nova forma de colonialismo, o neocolonialismo imperialista, se estabeleceu, 
especialmente sobre a África e a Ásia, com a finalidade de explorar recursos 
naturais, mão-de-obra e mercados consumidores. 
Em defesa do neocolonialismo e do imperialismo, ou seja, do domínio 
político e econômico das jovens nações burguesas europeias do século XIX 
sobre territórios e povos de além-mar, afirmava-se a superioridade do homem 
europeu e da civilização europeia do século XIX sobre os demais povos. Tais 
ideias foram sustentadas pelo darwinismo social, e infelizmente elas acabaram
por justificar a dominação e a subjugação 
econômica, política e cultural de povos e 
sociedades por todo planeta. 
É nesse contexto adverso que o “outro” é tido 
como primitivo e atrasado aos olhos dos europeus. 
É sobre esses “outros” exóticos, que habitam 
os territórios sob o jugo dos empreendimentos 
neocolonialistas, que se debruçaram os pioneiros 
dos estudos antropológicos, a fim de conhecer 
seus modos de organização socioculturais.
Leia o art igo “Darwinismo Social e 
Imperialismo no Século XIX”, de Leandro 
Carvalho, e aprofunde o seu conhecimento 
sobre neocolonialismo, imperialismo e 
darwinismo social. Aproveite:
http ://mundoeducacao.bol .uol .com.
br/histor iageral/darwinismo-social-
imperialismo-no-seculo-xix.htm
saiba mais?
A REVOLUÇÃO 
INDUSTRIAL CONSOLIDOU 
O MODO DE PRODUÇÃO 
ECONÔMICO CAPITALISTA.
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Revolução Francesa
A Revolução Francesa transformou completamente a política ao afirmar os 
princípios da igualdade e da liberdade. As bases do liberalismo econômico e 
do constitucionalismo aos poucos se estabeleceram e asseguraram à nova 
classe dominante, a burguesia, leis e um Estado garantidor dos seus interesses. 
Na Europa, as mudanças caminhavam rumo a acontecimentos tão inusitados 
que a população, em geral, não se atentou para a radicalidade das 
transformações que estavam ocorrendo na sociedade. Porém, tais mudanças 
estimularam os intelectuais, cientistas e filósofos da época a indagarem onde 
essas transformações iriam levar a sociedade. 
A sociologia surgiu dessa necessidade de compreender a lógica das 
transformações sociais na tentativa de prever a direção a que elas nos levariam. 
“A sua criação não é obra de um só homem; representa o resultado de 
um processo histórico, intelectual e científico.” (DIAS, 205, p. 21). O início da 
construção de um pensamento sociológico se dará com Augusto Comte, no 
século XIX, e com o desenvolvimento da sua teoria positivista.
O Positivismo, enquanto corrente filosófica que se voltou ao pensamento 
social, recebeu influências do racionalismo científico e do humanismo 
iluminista dos séculos anteriores. Tinha o pensamento racional e científico 
como a expressão máxima do conhecimento humano e depositava forte 
confiança na capacidade intelectual do homem. 
Sistema filosófico formulado por Augusto Comte tendo como núcleo 
sua teoria dos três estados, segundo a qual o espírito humano, ou seja, 
a sociedade e a cultura, passa por três etapas: a teológica, a metafísica 
e a positiva. As chamadas ciências positivas surgem apenas quando a 
humanidade atinge a terceira etapa, sua maioridade, rompendo com 
as anteriores. Para Comte, as ciências se ordenaram hierarquicamente 
da seguinte forma: matemática, astronomia, física, química, biologia, 
sociologia; cada uma tomando por base a anterior e atingindo um 
nível mais elevado de complexidade. A finalidade última do sistema é 
política: organizar a sociedade cientificamente com base nos princípios 
estabelecidos pelas ciências positivas.
Em um sentido mais amplo, um tanto vago, o termo “positivismo” 
designa várias doutrinas filosóficas do séc. XIX, ...que se caracterizam 
pela valorização de um método empirista e quantitativo, pela defesa 
da experiência sensível como fonte principal do conhecimento, pela 
hostilidade em relação ao idealismo, e pela consideração das ciências 
empírico-formais como paradigmas de cientificidade e modelos para 
as demais ciências. (JAPIASSÚ; MARCONDES. 2001, p.217).
13
Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedadeMesmo que tenha sido Comte o criador do termo sociologia e ter sido ele o 
primeiro a ter desenvolvido um esforço inicial de teorização da vida social, não 
teve importância maior no desenvolvimento da sociologia enquanto ciência. 
Os três grandes pensadores que ficaram conhecidos como os clássicos 
da sociologia são o francês Émile Durkheim (1858-1917) e os alemães Karl 
Marx (1818-1883) e Max Weber (1864-1920), por conferirem-lhe todo o rigor 
analítico, teórico e metodológico para o desenvolvimento da disciplina como 
uma verdadeira Ciência Social. Suas contribuições continuam influenciando 
e inspirando pesquisas e reflexões até hoje.
As Bases do Pensamento 
Sociológico - Marx, 
Durkheim e Weber
Karl Marx: uma teoria crítica do 
capitalismo
Frente à realidade socioeconômica e política da Europa do século XIX, 
Karl Marx voltou-se, especialmente, à compreensão das contradições 
presentes na sociedade do seu tempo. No mesmo século em que Augusto 
Comte deu os primeiros passos rumo a uma ciência da sociedade, Marx, 
com o objetivo de compreender as transformações sociais, debruçou-se 
sobre o modo de produção econômico capitalista e o conjunto de ideias, 
leis e ideologia que o sustentavam. 
Leia o artigo “Augusto Comte, o homem que quis dar ordem ao mundo”, para conhecer 
um pouco mais sobre o pensamento sociológico do pai do positivismo:
https://novaescola.org.br/conteudo/186/auguste-comte-pensador-frances-pai-positivismo
saiba mais?
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Karl Marx (1818–1883) foi um filósofo e revolucionário socialista alemão. Criou as bases 
da doutrina comunista, onde criticou o capitalismo. Sua filosofia exerceu influência em 
várias áreas do conhecimento, tais como Sociologia, Política, Direito, Teologia, Filosofia, 
Economia, entre outras (FRAZÃO, 2016). Conheça um pouco mais sobre a biografia de Marx.
https://www.ebiografia.com/karl_marx/
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
14
KARL MARX E FRIEDRICH 
ENGELS NA GRÁFICA 
DA GAZETA RENANA, 
COLÔNIA – ALEMANHA. 
E. CHAPIRO. ÓLEO SOBRE 
TELA MUSEU MARX & ENGELS, 
MOSCOU, RÚSSIA
Sua obra ultrapassou o campo disciplinar da Sociologia, ao dialogar com a Filosofia, 
a História, o Direito e a Economia. Ele contou com a colaboração e parceria de 
Friedrich Engels na elaboração de uma teoria científica, que se destinava a analisar 
a realidade social e as contradições históricas presentes no modo de produção 
capitalista que, consequentemente, levariam à sua superação. 
Marx e Engels elaboraram suas teses a partir da influência recebida da filosofia 
de Hegel (1770-1831), da qual extraíram o conceito de dialética. Na filosofia 
hegeliana:
A dialética é força motriz das mudanças históricas, assim a dinâmica das 
relações, em um dado contexto histórico, decorre do conflito entre ideias 
antagônicas – a tese e a antítese. 
Do embate entre elas uma síntese emerge superando a etapa anterior e 
produzindo uma nova realidade. A partir desse processo tudo se transforma 
e evolui.
Os socialistas utópicos, Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-
1837) e Robert Owen (1771-1858), também deram suas contribuições, 
especialmente por terem sido pioneiros na crítica à sociedade burguesa 
da época. Porém, Marx os criticou severamente pelo fato de suas ideias e 
propostas não levarem em consideração o papel da classe trabalhadora 
como agente político de transformação da história. 
Friedrich Engels foi “responsável por viabilizar 
a publicação da obra que Marx deixou 
inacabada, O Capital, volumes II e III”. Clique 
no link abaixo e conheça mais sobre a biografia 
desse grande pensador.
https://www.ebiografia.com/karl_marx/
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Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
Há também as leituras críticas que eles fizeram das teorias econômicas 
liberais dos ingleses Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823) e 
das teses sobre o materialismo mecanicista de Ludwig Feuerbach (1804-
1872). O equívoco de Feuerbach, segundo Marx, foi ter desconsiderado a 
dialética na sua concepção materialista da realidade. Devido a isso, não teria 
ele conseguido perceber que a realidade do mundo concreto resulta do 
processo histórico em curso, ou seja, das relações conflitantes entre as forças 
antagônicas, a luta de classes.
A partir dessas ideias e das críticas a elas realizadas, Marx, com a contribuição 
de Engels, desenvolveu o método do materialismo histórico e dialético para 
análise da realidade social, tendo como base as relações materiais de existência 
determinadas pelo modo de produção econômico da sociedade. Nesse contexto 
histórico, o que lhes interessava era desvendar as relações capitalistas. 
O Materialismo Histórico Dialético e a 
Luta de Classes
A história, para Marx, tem um caráter materialista e dialético. 
Materialista Dialético
Porque o motor principal de nossa 
realidade não são as ideias, mas 
as maneiras concretas como 
produzimos e reproduzimos 
materialmente a nossa existência 
por meio do trabalho nas relações 
de produção. 
Porque concebe o conjunto das relações sociais e os 
acontecimentos a partir de suas dinâmicas estruturais 
marcadas por antagonismos, pela luta de classes. O 
método dialético é adequado para a análise dos processos 
históricos, pois nos revela a existência das forças opostas 
em luta em seu interior. Seguindo essa linha de raciocínio, 
Marx e Engels afirmaram que: “A história de todas as 
sociedades que existem até nossos dias tem sido a história 
das lutas de classes” (MARX, 2004, p.23). 
A origem histórica do capitalismo está relacionada a um longo processo de 
acumulação de riquezas que se concentrou na Europa com o mercantilismo e 
a exploração colonial. A substituição do trabalho artesanal e das corporações 
de ofício pelo trabalhador assalariado e pela indústria provocou uma revolução 
no modo de produção econômico.
Na produção artesanal que antecedeu a Revolução Industrial, o artesão era 
dono da oficina, dos instrumentos de trabalho e dos produtos produzidos por 
ele. Com a industrialização da produção, a burguesia passou a ser a proprietária 
dos meios de produção – das instalações fabris, dos instrumentos de trabalho, 
da matéria-prima utilizada – e, consequentemente, dos produtos fabricados 
pelos trabalhadores. 
A generalização das fábricas provocou a falência dos artesãos, que 
passaram a trabalhar nas indústrias em troca do salário. 
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
16
Dessa forma, os antigos artesãos, juntamente com os trabalhadores rurais 
expulsos do campo em decorrência do cercamento das terras, tornaram-
se trabalhadores livres, ou seja, livres por não possuírem mais os meios de 
produção e para venderem a única coisa que lhes restou, a sua força de 
trabalho, em troca de salário. Assim, empregaram-se nas fábricas como 
operários e constituíram uma nova classe social, o proletariado. 
Historicamente, a propriedade foi introduzida na transição do feudalismo para o capitalismo 
para controlar o acesso às terras produtivas, que de  feudo  ou  terra comunal  passaram a 
constituir propriedade [privada]. (...) A transformação das terras comunais em propriedade privou os 
trabalhadores da possibilidade de produzirem seus meios de subsistência obrigando-os a vender 
sua força de trabalho e assim transformou os servos e pequenos produtores independentes 
em assalariados, a relação de produção predominante no capitalismo. (CERCAMENTOS, 2015)
A OFICINA DE UM 
TECELÃO, 1656 - GILLIS 
ROMBOUTS, 1630 – 1672.
MULHERES 
TRABALHANDO EM 
UMA MANUFATURA – 
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
INGLATERRA
INTRODUÇÃO 
DA INDÚSTRIA 
METALÚRGICA - 
SEGUNDA REVOLUÇÃO 
INDUSTRIAL, SÉCULO XIX
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17
Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
Juntos, Marx e Engels escreveram o Manifesto do Partido Comunista, 
publicado em 1848, que contribuiu para despertar a consciência da classe 
trabalhadora da sua condição de classe explorada e oprimida e, portanto, 
revolucionária, capaz de tomar em suas mãos as rédeas da história e pôr 
fim à exploração imposta pela burguesia por meio do modo de produção 
capitalista. 
https://www.infoescola.com/sociologia/manifesto-comunista/
Conheça as primeiras páginas do Manifesto 
A história de todas as sociedades que existem até nossos dias tem sido 
a história das lutas de classes. 
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre 
de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, 
em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora 
franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma 
transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição 
das duas classes em luta. 
Nas primeiras épocas históricas, verificamos, por quase toda a parte, 
uma completa divisão em estamentos distintos, uma escala graduada 
de posições sociais. Na Roma antiga temos patrícios, cavaleiros, plebeus, 
escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, membros de 
corporação, oficiais-artesãos, servos, e ainda, em quase cada uma dessas 
classes, novas gradações particulares.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade 
feudal, não suplantou os velhos antagonismos de classes. Ela 
colocou no lugar novas classes, novas condições de opressão, 
novas formas de luta.
Entretanto, a nossa época – a época da burguesia – caracteriza-se 
por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-
se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes 
classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado (MARX, 
2004, p.23-24).
Com a finalidade de compreender a organização do sistema capitalista e 
transformá-lo, sua obra não se destinou apenas aos estudos dos fenômenos 
sociológicos, econômicos, históricos da sociedade, mas à ação política 
transformadora da sociedade. Tanto que, do século XIX aos dias de hoje, 
suas ideias influenciaram a organização dos trabalhadores na luta contra 
a exploração do capital, as revoluções socialistas, os movimentos sociais 
com ideários anticapitalistas e ecossocialistas que lutam por igualdade, 
direitos e justiça social. 
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18
O Modo de Produção Capitalista e a 
Exploração do Trabalhador
No modo de produção capitalista os trabalhadores, para sobreviverem, se 
veem obrigados a vender a sua própria força de trabalho, uma vez que estão 
alienados dos meios de produção, ou seja, não são os proprietários da matéria-
prima, dos instrumentos de trabalho e das empresas nas quais trabalham, 
tampouco são proprietários daquilo que produzem. 
A principal preocupação na análise marxista é compreender como se 
constituem as forças produtivas e as relações de produção.
As forças produtivas são formadas pelas condições materiais existentes em 
uma determinada sociedade, tais como matérias-primas, instrumentos de 
trabalho, técnicas e tecnologias empregadas no trabalho e a própria mão-
de-obra humana. As relações de produção são definidas de acordo com as 
formas de organização da produção. 
Segundo Marx, as forças produtivas e as relações de produção são constitutivas 
de toda e qualquer atividade econômica, seja qual for a sociedade e a época. 
Ao estudar as relações entre elas, Marx pôde conhecer o funcionamento do 
modo de produção econômico capitalista e suas contradições, bem como a 
sua origem com o desmantelamento da sociedade feudal.
A definição primeira de alienação na obra de Marx está relacionada à expropriação e/ou 
separação dos trabalhadores dos meios de produção. Porém, seu significado é mais amplo 
e complexo:
O homem não só aliena de si mesmo seus próprios produtos, como também se aliena a si 
próprio da atividade mesma pela qual esses produtos são criados, da natureza na qual vive 
e dos outros homens. Todos esses tipos de alienação são, em última análise, a mesma coisa: 
são aspectos diferentes, ou formas, da alienação do homem, formas diferentes da alienação 
que se produz entre o homem e a sua essência ou sua natureza humana, entre o homem e 
sua humanidade.
Assim como o trabalho alienado aliena do homem a natureza e aliena o homem de si mesmo, de 
sua própria função ativa, de sua atividade vital, ele o aliena da própria espécie (…). Ele (o trabalho 
alienado) aliena do homem o seu próprio corpo, sua natureza externa, sua vida espiritual e sua 
vida humana (…). Uma consequência direta da alienação do homem com relação ao produto 
de seu trabalho, a sua atividade vital e à vida de sua espécie é o fato de que o homem se 
aliena dos outros homens (…). Em geral, a afirmação de que o homem está alienado da vida de 
sua espécie significa que todo homem está alienado dos outros e que todos os outros estão 
igualmente alienados da vida humana (…). Toda alienação do homem de si mesmo e da natureza 
surge na relação que ele postula entre outros homens, ele próprio e a natureza. (Manuscritos 
econômicos e filosóficos, Primeiro Manuscrito) (BOTTOMORE, 2013, p.21).
19
Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
Portanto, ao observar como se comportam as forças produtivas e as relações 
de produção no modo de produção capitalista, Marx verificou que o valor 
do salário pago ao trabalhador ao longo de uma jornada não representa a 
quantidade de valor produzida pelo seu trabalho ao longo dela, é sempre 
um valor menor. 
Marx denominou de mais-valia a diferença entre o valor pago ao trabalhador 
e o valor produzido pelo seu trabalho. 
Isso significa que, ao vender a sua força de trabalho, toda a riqueza, ou seja, 
todo o valor excedente produzido pelo seu trabalho, que não se destina a pagar 
o seu salário, é retida pelo patrão. É por meio da mais-valia que a exploração 
do trabalhador se efetiva no capitalismo e garante que a burguesia acumule 
capitais e bens, enquanto o proletariado sobrevive do salário.
Em O Capital, principal obra de Marx, ele demostra que a mais-valia pode ser 
extraída de duas formas:
Mais-valia absoluta Mais-valia relativa
É obtida com o aumento das horas 
trabalhadas, assim se produz mais 
mercadorias, ou seja, mais valor/capital. 
Porém, a mais-valia absoluta esbarra em um 
limite físico, que é a necessidade de descanso 
do trabalhador. 
É obtida com o incremento tecnológico da 
produção, que possibilita ao trabalhador 
produzir mais sem que haja aumento das horas 
trabalhadas e do próprio salário, o que resulta 
em uma produção ainda maior de mercadorias, 
ou seja, de valor/capital. 
No século XXI, a mais-valia relativa predomina no mundo do trabalho. A 
informatização e a robotização das forças produtivas não têm somente 
eliminado vagas de trabalho, mas têm também contribuído para o aumentar 
a acumulação de capital a partir do aumento da capacidade produtiva e na 
geração de valor nas relações de produção.
Nesse século, as evidências sobre o aumento da desigualdade entre os 
mais ricos e os mais pobres estão relacionadas à concentração da riqueza 
produzida no planeta. Isso vem sendo constatado em pesquisas realizadas 
por economistas e pelos relatórios produzidos por instituições financeiras 
internacionais, como o relatório Global Wealth Report (Relatório Global de 
Riqueza), elaborado pelo Instituto de Pesquisas do banco Credit Suisse. 
 Fonte: Ilika
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
20
Apesar da riqueza global ter aumentado, a sua distribuição foi desigual, o que 
indica uma maiorconcentração de riqueza e, consequentemente, a ampliação 
das desigualdades. Não é por menos que Marx afirmou que as desigualdades 
sempre existiram, mas que no capitalismo elas se intensificaram devido ao 
processo de exploração do homem pelo homem.
As Contribuições do Marxismo para a 
Compreensão da Realidade Social 
Em sua teoria, a realidade social é constituída pela infraestrutura e pela 
superestrutura. A infraestrutura diz respeito às relações de produção, à base 
material ou econômica de uma sociedade. A superestrutura, que corresponde à 
consciência social, é representada pelas ideias, ideologias, crenças, conhecimentos 
presentes em uma sociedade, ela é ao mesmo tempo produto da infraestrutura 
econômica e é produtora dos valores ideológicos do sistema econômico vigente. 
Como a base da nossa economia se desenvolve a partir do capitalismo, 
os valores econômicos capitalistas se tornam a ideologia dominante. A 
propriedade, o consumo e a mercadoria são valorizados e legitimam e 
explicam toda a vida social. 
A sociedade capitalista é sustentada pela propriedade privada dos meios 
de produção e voltada para a produção de mercadorias com o objetivo de 
acumular capital, e a ideologia dominante, por sua vez, difunde esses valores 
que influenciam o comportamento. Uma vez que estamos alienados no 
nosso cotidiano no processo de trabalho, perdemos a consciência da nossa 
condição de classe e reproduzimos a ideologia burguesa. Por isso, Marx 
afirmou que no interior do processo de exploração econômica capitalista 
terminamos, todos, nos transformando em mercadorias.
A aplicação do método do materialismo histórico e dialético para entender 
e mudar a sociedade foi inovadora e influenciou o pensamento social e os 
movimentos sociais. Marx tinha como finalidade revolucionar a sociedade, 
porém ele tinha consciência que os homens faziam a história, mas não a 
faziam da forma que desejavam e sim de acordo com as determinações 
materiais de seu tempo. 
Acesse o artigo “Pirâmide global da desigualdade da riqueza”, de José Eustáquio Diniz 
Alves, e compreenda o quadro da má distribuição da riqueza no ano de 2017.
https://www.ecodebate.com.br/2017/11/24/piramide-global-da-desigualdade-da-
riqueza-2017-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
saiba mais?
21
Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
Émile Durkheim - O Método Sociológico e 
seu Objeto de Estudo
Augusto Comte é considerado o precursor dos estudos sociológicos. 
O positivismo defendido por ele não chegou a constituir-se enquanto uma 
ciência social, mas como uma filosofia da ordem e do progresso sociais. 
Karl Marx, por sua vez, desenvolveu uma teoria social e um método de 
investigação da realidade que objetivava não só compreendê-la, mas 
revolucionar o sistema capitalista; suas teses não se voltaram exclusivamente 
para a Sociologia, mas também para a Economia, a História, o Direito, a Filosofia. 
Porém, foi Émile Durkheim quem efetivamente delimitou o campo de estudo 
científico da Sociologia ao publicar, em 1895, As Regras do Método Sociológico. 
https://www.ebiografia.com/emile_durkheim/
Para Durkheim, a Sociologia não deve tomar como objeto de estudo a 
sociedade, uma vez que seria impossível para um sociólogo estudar todos 
os fenômenos sociais existentes nela. O sociólogo deve se concentrar na 
investigação dos fatos sociais, que são identificados por possuírem três 
características básicas: a coercitividade, a exterioridade e a generalidade. 
Coercitividade Exterioridade Generalidade
Consiste em conformar 
os indivíduos às regras da 
sociedade. Ao aprendermos o 
idioma, ao internalizarmos as 
regras e as leis, ao aprendermos 
os hábitos, os costumes e os 
valores de uma sociedade, 
não o fazemos por vontade ou 
escolha própria, mas por meio 
da coerção social. As forças 
coercitivas atuam no processo 
de socialização dos indivíduos, 
que ocorre, especialmente, 
por meio da educação formal 
e informal, integrando-os ao 
meio social. Podemos dizer que 
a sociedade se sobrepõe ao 
indivíduo. 
Os fatos sociais são exteriores 
ao indivíduo porque eles 
existem na sociedade e 
influenciam a cada um de 
nós, independentemente de 
nossa escolha ou vontade. 
A existência das leis, das 
regras e das normas sociais 
não dependem das nossas 
escolhas particulares, elas 
estão presentes na sociedade 
na qual vivemos, possuem 
existência própria, o que 
determina sua exterioridade 
em relação à consciência 
individual. São denominados 
fatos sociais e não fatos 
individuais. 
O fato social é geral porque 
está presente em toda a 
sociedade e se impõe a todos 
os indivíduos, ou, ao menos, à 
grande maioria deles. Dessa 
forma, podemos identificar 
a diferença entre um fato 
social e um fato isolado ou 
particular que não diz respeito 
à toda sociedade. Assim, 
Durkheim pôde identificar 
o fato social, que é o objeto 
de estudo do sociólogo, e 
separá-lo do fato particular 
ou individual, que pode 
interessar a outras áreas do 
conhecimento, mas não à 
sociologia.
Ao estudar um determinado fato social, o sociólogo deve tratá-lo com a 
objetividade própria do método científico, ou seja, como objeto (coisa) que 
pode ser observado concretamente e mensurado estatisticamente. 
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22
Exemplos de Fatos Sociais
O casamento, o homicídio, a natalidade, a corrupção, a mortalidade 
infantil, o emprego e o desemprego são exemplos de fatos sociais 
cujos dados estatísticos podemos observar, descrever e comparar de 
um ano para outro, de uma década para outra, e, assim, conhecer as 
suas regularidades e variações. 
São exemplos de fatos sociais porque estão presentes em toda 
sociedade (generalidade), existem independente da vontade 
individual (exterioridade) e influenciam o comportamento de todos 
(coercitividade).
Ao sociólogo cabe interpretar o comportamento do fato social na sociedade 
ao longo do tempo e compreender a sua importância para a adaptação, para 
o funcionamento da sociedade e para a coesão social quando este consegue 
se manter normal. Porém, se ele apresentar variações e irregularidades em 
seu comportamento, poderá indicar risco de ruptura da coesão social, um 
estado de patologia social. 
Segundo Durkheim, em princípio, todo fato social é considerado normal, seja 
ele o casamento ou o homicídio, uma vez que normal é todo o fenômeno 
social que ocorre com regularidade na sociedade, com frequência, e que se 
repete no cotidiano. Tomemos como exemplo o homicídio. 
Enquanto fato social, o homicídio é considerado um fato normal, porém 
isso não significa que seja normal cometer homicídios, uma vez que ele é 
considerado pela sociedade um ato moralmente inaceitável e passível de 
sanções legais. 
O fato do homicida ser punido pelas leis contribui para reforçar os valores, as 
normas e as regras sociais reforçando os laços dos indivíduos com a sociedade. 
Assim, a função social de todo fato social normal é integrar os indivíduos em 
torno de determinas regras e valores comuns a toda sociedade e garantir o 
consenso social, que é “a vontade coletiva ou o acordo de um grupo a respeito 
de determinada questão” (COSTA, 2010, p.42). 
“Normal é aquele 
fato que não 
extrapola os limites 
dos acontecimentos 
mais gerais de uma 
determinada sociedade.” 
(COSTA, 2005, p.85).
“Função social é um 
conceito que procura 
justificar a existência 
de um determinado 
comportamento por 
sua contribuição na 
manutenção do todo 
[social] no qual se insere.” 
(COSTA, 2010, p.42).
“Patológico é aquele 
[fato social] que se 
encontra fora dos 
limites permitidos 
pela ordem social. (...) 
como as doenças, são 
considerados transitórios 
e excepcionais.” (COSTA, 
2005, p.86).
23
Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedadeEm suma, Durkheim afirma que as sanções legais previstas em leis e aplicadas 
para aqueles que cometem homicídio servem, antes, para influenciar e 
moldar o comportamento e a consciência dos cidadãos, desestimulando-os 
de praticá-lo. Assim, ao se submeterem às leis e temerem as penalidades 
previstas nelas, os indivíduos experimentam a força coercitiva dos fatos sociais. 
A Sociedade, a Consciência Individual e a 
Consciência Coletiva 
Na teoria de Durkheim, as “escolhas” individuais estão submetidas às “escolhas” 
determinadas pela sociedade. Os comportamentos e ideias que parecem ser 
uma opção individual são, na verdade, reproduções de padrões existentes no 
interior da sociedade. 
A consciência individual é modelada pela consciência coletiva, uma vez que 
é determinada pela vontade coletiva que se manifesta nas forças sociais dos 
fatos que a sociedade impõe a todos nós. Desse modo, ele desenvolveu todo 
o seu pensamento, explicando as bases da coesão social.
O que interessava a Durkheim, era conhecer como a sociedade se mantém 
organizada; em especial identificar como os laços sociais entre os indivíduos 
garantiam a organização social da sociedade. Os laços sociais, ou melhor, as 
formas de solidariedade social, como ele denominou, representam os vínculos 
que unem o sujeito na sociedade, e elas se constituem de acordo com a divisão 
social do trabalho, que podem ser: solidariedade mecânica e orgânica.
AS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS E EDUCACIONAIS SÃO EXEMPLOS DAS FORÇAS 
COERCITIVAS DA SOCIEDADE POR ATUAREM SOBRE OS INDIVÍDUOS COM A 
FINALIDADE DE INTEGRÁ-LOS AO MEIO.
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Consciência coletiva é, em 
certo sentido, a moral vigente 
na sociedade. Ela aparece como 
um conjunto de regras fortes e 
estabelecidas que atribuem valor 
e delimitam os atos individuais. (...) 
define o que, numa sociedade, é 
considerado imoral, reprovável 
ou criminoso. (COSTA, 2010, p.43).
Entende-se por divisão social do trabalho a organização 
da sociedade em diferentes funções, exercidas pelos 
indivíduos ou grupos de indivíduos. Nas sociedades 
mais simples, predomina a divisão social do trabalho 
baseada principalmente em critérios biológicos de 
sexo e idade. Em sociedades mais complexas, como 
a industrial, surge uma divisão social mais complexa, 
com a criação de uma imensa gama de funções e 
atribuições diferenciadas. (COSTA, 2010, p.44).
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24
Solidariedade mecânica
Numa sociedade de solidariedade mecânica, o 
indivíduo estaria ligado diretamente à sociedade, 
sendo que enquanto ser social prevaleceria em seu 
comportamento sempre aquilo que é mais considerável 
à consciência coletiva, e não necessariamente seu 
desejo enquanto indivíduo. Nesse tipo de solidariedade 
mecânica de Durkheim, a maior parte da existência do 
indivíduo é orientada pelos imperativos e proibições 
sociais que vêm da consciência coletiva.
Segundo Durkheim, a solidariedade do tipo 
mecânica depende da extensão da vida social 
que a consciência coletiva alcança. Quanto mais 
forte a consciência coletiva, maior a intensidade 
da solidariedade mecânica. Aliás, para o indivíduo, 
seu desejo e sua vontade são o desejo e a vontade 
da coletividade do grupo, o que proporciona uma 
maior coesão e harmonia social (RIBEIRO, s.d.). 
Solidariedade orgânica 
N a s o l i d a r i e d a d e o rg â n i c a o c o r re u m 
enfraquecimento das reações coletivas contra a 
violação das proibições e, sobretudo, uma margem 
maior na interpretação individual dos imperativos 
sociais. Na solidariedade orgânica ocorre um 
processo de individualização dos membros dessa 
sociedade, os quais assumem funções específicas 
dentro dessa divisão do trabalho social. Cada 
pessoa é uma peça de uma grande engrenagem, 
na qual cada um tem sua função e é esta última 
que marca seu lugar na sociedade. 
A consciência coletiva tem seu poder de influência 
reduzido, criando-se condições de sociabilidade 
bem diferentes daquelas vistas na solidariedade 
mecânica, havendo espaço para o desenvolvimento 
de personalidades. Os indivíduos se unem não porque 
se sentem semelhantes ou porque haja consenso, 
mas sim porque são interdependentes dentro da 
esfera social. Não há uma maior valorização daquilo 
que é coletivo, mas sim do que é individual, do 
individualismo propriamente dito, valor essencial para 
o desenvolvimento do capitalismo (RIBEIRO, s.d.).
A SOLIDARIEDADE 
MECÂNICA, MAIS PRESENTE 
NAS SOCIEDADES 
TRADICIONAIS E PRÉ-
CAPITALISTAS, EM QUE OS 
COSTUMES FAMILIARES 
E RELIGIOSOS SÃO MAIS 
PRESENTES. 
Seja pelos fatos sociais ou pela solidariedade social, o indivíduo é fruto do 
seu meio e submetido às forças sociais que o circundam. Caso contrário, 
assistiríamos a um processo de anomia social, quando o desregramento da 
sociedade poderia levá-la ao caos. 
A SOLIDARIEDADE 
ORGÂNICA, CARACTERÍSTICA 
PRÓPRIA DAS SOCIEDADES 
MODERNAS E CAPITALISTAS 
REGIDAS PELA DIVISÃO 
TÉCNICA DO TRABALHO. 
25
Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
Max Weber - O Método Compreensivo e a 
Teoria da Ação Social 
Entre o pensamento revolucionário de Karl Marx e o conservadorismo de 
Émile Durkheim, encontra-se Max Weber, que inaugurou na sociologia uma 
abordagem compreensiva das relações entre indivíduo e sociedade. Sua 
teoria sociológica introduziu novos elementos no estudo da realidade social, 
especialmente, em relação ao indivíduo, que passou a ter um papel central 
na produção da ordem social. 
https://www.ebiografia.com/max_weber/
Weber se voltou para as motivações que levam os homens a agir em busca 
de seus objetivos, buscou compreender os sentidos das ações empreendidas 
pelos indivíduos na sociedade. As ideias e as ações dos indivíduos passaram 
a ter importância para a compreensão da realidade e sua transformação.
É relevante destacarmos a primeira diferença entre os três precursores da 
sociologia no que diz respeito às relações entre indivíduo e sociedade. 
Marx Durkheim Weber
Kal Marx priorizou em suas análises 
as relações ao mesmo tempo 
antagônicas e complementares entres 
as classes sociais. O indivíduo não 
tem lugar de destaque em sua teoria, 
uma vez que as relações sociais 
são determinadas pelas relações 
de produção que revelam a luta de 
classes no interior da sociedade.
Émile Durkheim deu ênfase 
às forças coercitivas da 
sociedade que atuam sobre 
os indivíduos, demonstrando 
assim que a vontade 
coletiva e a consciência 
social prevalecem sobre 
as escolhas pessoais e a 
consciência individual.
Para Max Weber, 
indivíduo e sociedade 
não se opõem, 
tampouco um se 
sobrepõe ao outro. 
Como em Marx, a história para Weber é central para a compreensão da 
sociedade. Nesse ponto ambos se distanciam de Durkheim, uma vez que em 
sua teoria a história particular de cada sociedade não determina a existência 
dos fatos sociais. Para Weber, ter conhecimento da história é pré-requisito 
fundamental, uma vez que cada sociedade possui suas particularidades 
históricas, o que a diferencia das outras. A interpretação dos dados históricos 
pelo sociólogo permite que ele compreenda essas diferenças sociais. 
WEBER, MARX, DURKHEIM
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
26
No lugar do método explicativo, próprio das ciências da natureza, Weber aplicou 
em seus estudos o método compreensivo, que julgou ser mais adequado 
para as ciências humanas e sociais, uma vez que elas “não deviam explicar os 
fatos em si, determinando as suas causas imediatas, mas sim compreender 
os processos da ação humana e dela extrair o seu sentido” (COSTA, 2010, p.51). 
Assim, concentrou seus estudos nas ações sociais realizadas pelos indivíduos.Sua intenção era compreender a lógica social do comportamento humano. 
Na sociologia weberiana o ser humano, enquanto agente da ação social, é 
motivado a agir a partir de valores, sentimentos e ideias de ordem subjetiva; 
consequentemente, as motivações subjetivas é que levam o indivíduo a agir 
e caracterizam o tipo de ação social empreendida. Weber classificou-as como 
ações afetivas, tradicionais e racionais, sendo que as ações racionais podem 
ser subdivididas em ações racionais com relação a valores e em ações racionais 
com relação aos fins. 
Ação social afetiva
Determinada pelas emoções e sentimentos movidos pela paixão, pelo 
ódio, pelo amor, entre outros.
Ação social tradicional
Determinada pelos costumes e hábitos cotidianos arraigados nos 
indivíduos, passados, especialmente, pela família. 
Ação social racional com relação a valores 
É orientada por valores éticos, religiosos, estéticos, não tem como 
objetivo uma finalidade outra que os próprios valores em si. 
Ação social racional com relação a fins
Quando a ação é calculada e voltada para objetivos determinados, e 
escolhem-se os meios para alcançar os objetivos da ação. 
Segundo Weber, todo comportamento humano possui um sentido 
compreensível socialmente, portanto perceptível para outras pessoas. 
Conceito básico da sociologia que designa, de maneira geral, toda ação humana que é 
influenciada pela consciência da situação na qual se realiza e pela existência das ações e 
reações dos outros agentes sociais [indivíduos] que estão envolvidos. Embora reconheça o 
condicionamento social da ação humana, o conceito de ação social remete ao princípio de 
liberdade e participação histórica [dos indivíduos / dos agentes sociais]. (COSTA, 2010, p.51).
27
Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
Em suma, para Weber, as regras, as normas, os valores e a cultura da 
sociedade ao serem internalizadas pelos indivíduos se manifestam enquanto 
forças motivadoras que levam à ação social. Assim, podemos dizer que na 
sociologia weberiana a sociedade age sobre o indivíduo e o indivíduo age 
sobre a sociedade. É uma perspectiva diferente da sociologia durkheimiana, 
que destaca a coerção da sociedade sobre os indivíduos, e também diferente 
da perspectiva marxista, que enfatiza as relações antagônicas entre as 
classes sociais em dado contexto social.
Na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber analisou como 
os valores difundidos pela Reforma Protestante tornaram-se motivações das 
ações sociais empreendidas pelos adeptos do protestantismo que contribuíram 
para a formação de um comportamento adequado para a consolidação do 
capitalismo. Weber partiu da premissa que o capitalismo prosperou mais 
rapidamente em países de tradição protestante e associou este fato a 
existência de uma ética, um modo de viver e pensar, que favoreceu seu 
desenvolvimento. 
O protestantismo valorizava a dedicação ao trabalho, a disciplina religiosa 
e uma vida modesta, assim, o ganho material deveria ser reinvestido no 
trabalho e não no consumo. Tal comportamento teria favorecido o capitalismo 
e a industrialização, em oposição ao catolicismo tradicional que valorizava a 
contemplação e a renúncia ao mundo terreno.
Seu estudo sobre o modo de pensar e agir dos protestantes, em um período 
de transição do feudalismo para o capitalismo, é um exemplo de como 
os motivos presentes na conduta das pessoas permitem revelar para os 
sociólogos os sentidos da ação social e como essa influência transforma a 
sociedade. 
Enquanto a Sociologia voltou-se, desde sua origem, para o estudo das 
sociedades europeias, ou seja, para decifrar a ordem social e as transformações 
no interior da sociedade moderna, a Antropologia, na mesma época, voltou 
o seu olhar para longe, para os territórios coloniais e para as formas de 
organização socioculturais das suas populações nativas. Iniciou-se, assim, a 
aventura em busca da compreensão do homem e da cultura.
Assista ao vídeo “Max Weber e a Ética 
Protestante”, da Sociologia em Cena, sobre a 
ética protestante e o espírito do capitalismo.
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Antropologia: ciência do 
homem e da cultura
É possível afirmar que as primeiras questões que deram origem a um 
saber sobre o próprio homem tenham sido postas desde os primórdios da 
humanidade. Segundo Laplantine (2005), o homem sempre se interrogou 
sobre sua origem, sua condição e seu destino. 
No entanto, somente no século XIX é que se 
consolidou, no campo científico, uma disciplina 
que toma o homem como objeto de estudo, a 
Antropologia. Até aquele século, o conhecimento 
sobre o homem tinha sido de natureza mitológica, 
artística, teológica e filosófica, mas não científica. 
Tratou-se de transformar o sujeito do conhecimento 
– o homem – no próprio objeto de pesquisa e 
estudo científico.
O fato de a Antropologia ter surgido na Europa 
contribuiu para a construção do objeto de estudo 
antropológico a partir de uma diferenciação dualista 
entre as sociedades europeias e as não europeias. A 
proposta inicial da Antropologia baseou-se em uma 
tentativa de análise das populações consideradas 
primitivas, ou seja, que viviam nas ditas sociedades 
simples, porque não pertenciam ao mundo 
exclusivo das sociedades europeias. 
Estabeleceu-se uma dicotomia entre sociedades simples e sociedades 
complexas. De um lado as sociedades primitivas e tradicionais, às quais se 
voltaram os estudos antropológicos; e de outro as sociedades civilizadas e 
cosmopolitas, sobre as quais os sociólogos se debruçaram. 
Ao longo do século XX, no entanto, a antropologia também passou a se dedicar 
ao estudo da cultura nas ditas sociedades complexas, superando assim a 
dicotomia em favor da diversidade cultural e das complexidades existentes 
em todas as formas de organização social. 
Foi nesse contexto que a ciência do homem passou a ser o estudo da cultura 
de todos os povos e sociedades. 
Para a Antropologia, o homem e a cultura constituem-se como conceitos 
básicos, e estabeleceu-se como tarefa dos antropólogos responder às 
questões: O que é o homem? O que é a cultura?
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Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
A Natureza Humana
A partir do século XVII, em meio à Revolução Científica, convencionou-se que o 
homem se distinguia dos outros seres vivos por ser ele o único animal dotado 
de razão, convincente explicação filosófica demonstrada por René Descartes 
(1596-1650), que afirmou a separação existente entre res extensa – corpo, e 
res cogitans – espírito/pensamento. De acordo com Descartes, os corpos de 
todos os animais se assemelhavam ao funcionamento de máquinas biológicas, 
mas no corpo-máquina humano havia um espírito, responsável por fazer do 
homem um animal racional. 
Posteriormente, a ciência, por meio dos estudos da paleontologia humana, 
revelou que a transição da animalidade para a humanidade ocorreu de 
forma processual, em decorrência da evolução da espécie, principalmente 
com o desenvolvimento do bipedismo, da hipercomplexidade cerebral e da 
simbolização – o uso da linguagem. Eis que emergiu desse processo a espécie 
homo sapiens sapiens. 
A Paleontologia é uma ciência que se dedica ao estudo da 
história da vida e sua evolução através do estudo de vestígios 
fósseis e de outros vestígios preservados de seres vivos. A 
Paleontologia Humana ou Paleoantropologia é o ramo que se 
dedica exclusivamente ao estuda da evolução do homem por 
meio do estudo dos vestígios fósseis dos nossos antepassados e 
de seus artefatos.
LINHA DO TEMPO DA EVOLUÇÃO HUMANA COM A ESTIMATIVA DA PRIMEIRA E 
ÚLTIMA APARIÇÃO DE CADA ESPÉCIE.
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Segundo Morin (1975), homem e cultura nascem juntos, pois o que ocorreu 
foi uma retroação entre mutação genética do cérebro e complexificação 
cultural do humano.
Enquanto, por um lado, foi a evolução ‘natural’ do cérebro 
hominídeo que produziu e desenvolveu a cultura, por outro 
lado, foi a evolução cultural que impeliu ou estimulou o 
hominídeo a desenvolver seu cérebro, isto é, a transformar-
se em homem. Assim, o cérebro passou de 500cm³ 
(antropoide) para 600 e 800cm³ (primeiros hominídeos) e, 
em seguida, para 1.100 cm³ (homo erectus), antes de atingir 
1.500 cm³ (homo sapiens neanderthalensis e homo sapiens 
sapiens) (MORIN, 1975, p. 87). 
Esses três fatores, bipedismo, hipercomplexidade cerebral e a linguagem 
simbólica – o uso de palavras, desenhos, grafias, gestos, sons e sinais – para 
comunicação permitiram que nossos ancestrais pudessem, por meio da 
cultura, fazer uso da natureza e transformá-la a seu favor. Assim, desde a 
criação dos machados de pedra, das pinturas rupestres, da organização da 
vida social em tribos, da domesticação das plantas e animais, da criação das 
cidades, da origem das civilizações, da invenção da filosofia à navegação pelo 
espaço a vida do ser humano no planeta se constituiu por meio da cultura. 
É nesse sentido que a Antropologia consiste no estudo da unidade do homem, 
ou seja, na compreensão da integralidade do homo sapiens sapiens, mas 
também no estudo da vida do homem em todas as sociedades e em todas 
as culturas, como afirmou Laplantine (2005). 
Estudar o homem na sua existência física, biológica e psicológica implica 
também conhecê-lo na sua vivência social e cultural, ou seja, devemos 
compreender a unidade biológica e a diversidade cultural da espécie humana. 
Por isso, os estudos antropológicos passaram a ser sinônimo de estudos da 
cultura e acatou-se como verdade inabalável a equação de que o homem é 
humano por ser produtor de cultura.
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Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
Atualmente, a tradicional fronteira definida pela cultura que diferencia 
os primatas humanos dos primatas não-humanos tem sido questionada, 
especialmente pelos estudos da primatologia, que acumulam exemplos de 
como nós somos próximos de outros primatas não humanos.
É difícil encontrar hoje em dia qualquer capacidade 
supostamente racional que os primatólogos não digam 
que está replicada em outros primatas que não os 
humanos: uso da linguagem, fabricação de ferramentas, 
imaginação simbólica, autoconsciência – imagine qualquer 
uma, sempre haverá primatas não humanos que a exercem 
(FERNÁNDEZ-ARMESTO, 2007, p. 9).
Diante desse novo dilema, devemos recolocar as questões: “O que é o 
homem?” “O que é a cultura?” A busca incansável para essas respostas faz 
do estudo do homem e da cultura um campo fértil para o conhecimento de 
nós mesmos e, consequentemente, para o conhecimento das relações entre 
a natureza humana e a cultura; entre as diferentes culturas e sociedades; e 
entre os indivíduos, a sociedade e a cultura. 
A Cultura Humana
O termo cultura é usualmente empregado para designar acúmulo de saberes. 
Ter cultura, para o senso comum, passou a ser utilizado para indicar um 
indivíduo de boa educação, culto, que possui instrução e vasto conhecimento. 
No seu sentido inverso, o temo inculto serve para designar pessoas sem 
cultura. Esses usos do termo cultura e do seu contrário, inculto, não tem 
relação alguma com o conceito antropológico de cultura. 
Outra maneira equivocada de usar o termo cultura é para classificar que 
determinadas sociedades têm cultura mais evoluída do que outra. Infelizmente, 
em seus primórdios, a Antropologia contribui para difundir esse entendimento 
enviesado ao afirmar que os povos primitivos não haviam evoluído. 
Um exemplo clássico desse equívoco é quando ouvimos que os índios 
possuem uma cultura atrasada, mas isso não é verdadeiro, tampouco correto 
de se afirmar. Por fim, também usamos cotidianamente o termo cultura para 
nos referirmos ao universo artístico, porém a cultura não se resume apenas às 
artes. O correto, nesse caso, é compreender que as artes e suas manifestações 
estéticas integram a cultura de uma sociedade. 
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Com base no conhecimento antropológico podemos afirmar que todos os 
seres humanos possuem cultura. 
O surgimento da cultura está intimamente relacionado ao surgimento do 
homem, e não há cultura melhor ou pior, superior ou inferior, atrasada ou 
evoluída; o que existe são culturas diferentes.
Entre os precursores da Antropologia, foi Edward B. Tylor, em 1871, o primeiro 
a criar um conceito de cultura que se tornou clássico: “cultura é aquele todo 
complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou 
qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro 
de uma sociedade” (LARAIA, 2006, p.25). Em suma, todas as invenções e 
criações do homem que são transmitidas e compartilhadas por meio da 
convivência com outros humanos são o que a Antropologia denomina cultura.
Objetos de uso cotidiano, hábitos alimentares, vestimentas, crenças religiosas, 
idiomas, conhecimentos, arquitetura, música são exemplos da produção 
material e imaterial dos homens, já que a cultura compreende tudo aquilo 
que criamos a partir das nossas interações com o meio em que vivemos. Isso 
significa que a cultura de uma sociedade não é transmitida pela hereditariedade 
genética, mas pela convivência social. 
Adquirimos cultura pelo processo de socialização, ou seja, na convivência 
com os grupos sociais dos quais participamos, a começar pelo grupo familiar.
Segundo Marconi (2001), por meio da simbolização os seres humanos podem 
transmitir sua cultura para diferentes gerações. É por meio da simbolização e do 
significado atribuído aos gestos, aos sinais, às palavras, aos comportamentos, 
aos sentimentos e aos objetos que a cultura de uma sociedade pode ser 
facilmente compartilhada e seus significados compreendidos por todos. 
Uma vez que a cultura é uma herança social, 
transmitida pelos grupos sociais com os quais 
convivemos, acabamos assimilando ideias, 
valores, comportamentos, hábitos e crenças 
que influenciam a interpretação que fazemos da 
realidade. Podemos dizer que vemos o mundo 
pela cultura na qual crescemos. Assim, a cultura 
nunca é a mesma para todos, ela varia de um local 
para outro, por isso que existem várias culturas 
e que cada localidade possui a sua, cada qual 
com suas singularidades. Para Dias (2005), essas 
variações ocorrem:
Entre diferentes países: a cultura tradicional 
japonesa é diferente da cultura tradicional chinesa;
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Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
Entre uma região e outra no mesmo país: no Brasil a cultura mineira é diferente 
da cultura baiana;
Entre diferentes grupos étnicos em um mesmo território: a cultura dos índios 
ashaninka é diferente da cultura dos índios enawenê nawê, e ambos vivem 
na Amazônia;
Entre diferentes grupos ou comunidades na mesma cidade: grupos de punks 
diferem nos hábitos e no estilo dos funkeiros. Outro exemplo são as diferenças 
entre comunidades religiosas distintas, como a católica e a umbandista, cada 
qual possuindo sua crença, fé e culto.
A cultura pressupõe ao mesmo tempo a existência de várias culturas, isso é o 
que caracteriza a diversidade cultural. Em outras palavras, a cultura humana é 
composta por inúmeras culturas, e cada umas dessas é composta por outras 
várias culturas. 
Podemos, assim, dizer que a cultura brasileira abriga um conjunto de culturas 
regionais: a caipira, a gaúcha, a nordestina,por exemplo, mas também abriga 
um conjunto de pequenos grupos que podem se identificar pela etnia, ou pelos 
costumes e tradições típicas de determinada comunidade, como caiçaras, ciganos, 
quilombolas, ribeirinhos, entre outras. 
O estudo da Antropologia, ou seja, o estudo do homem e da cultura 
“consiste, portanto, no reconhecimento, no conhecimento, juntamente com 
a compreensão de uma humanidade plural” (LAPLANTINE, 2005, p. 22). Ter 
conhecimento de que agimos e pensamos de formas diferenciadas, porque 
temos culturas diferentes, é o caminho que pode levar o ser humano a ser 
mais compreensivo e a combater os preconceitos. Isso também implica nos 
reconhecermos como pertencentes à mesma espécie homo sapiens sapiens.
Afinal, somos uma só humanidade diferenciada pela cultura e não pela 
genética. Isso quer dizer que a ideia de raça é mais uma construção ideológica 
do que uma constatação científica. Insistir na diferenciação/identificação racial 
dos grupos humanos reforça o sentimento de racismo, cria preconceito e 
estimula a discriminação.
Alan Templeton: “As diferenças genéticas entre etnias são insignificantes”
Encontrar um índio brasileiro não miscigenado ou mesmo um alemão puro da raça ariana é tarefa 
quase impossível. É o que se conclui do trabalho coordenado pelo biólogo norte-americano Alan 
Templeton, da Washington University of Saint Louis, que promete pôr fim ao conceito de raça, em 
nome do qual foram cometidas algumas das maiores atrocidades da história da humanidade. 
A pesquisa de Templeton comparou mais de oito mil pessoas de várias partes do mundo, entre 
elas índios ianomâmis e xavantes do Brasil. “As diferenças genéticas entre grupos das mais 
distintas etnias são insignificantes”, afirma o pesquisador, que, apesar dos seus olhos azuis e 
cabelos louros, pode ter mais genes africanos do que o rei Pelé. Templeton, que esteve no ICB 
participando do IV Seminário de Ecologia Evolutiva, falou com exclusividade ao BOLETIM UFMG.
Fonte: Amino
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BOLETIM (B): Sua pesquisa parece cair como luva para quem quer entender o processo de 
miscigenação ocorrido no Brasil.
Templeton (T): Sim. Curiosamente, foi aqui no Brasil que, há mais de 20 anos eu senti - digo 
senti porque ainda não era algo científico, mas emocional mesmo - o quanto é arbitrária a 
divisão dos seres humanos em raças. Um professor da USP me contou que, numa viagem aos 
Estados Unidos, percebeu que lá, diferentemente do Brasil, as pessoas morenas ou pardas são 
consideradas negras. Foi aí que comecei a compreender que a classificação de pessoas em 
raças é feita a partir de uma vivência cultural. A definição de negro, para o brasileiro, é diferente 
daquela usada por quem mora no Alaska. O conceito de raça, ao contrário do que se acredita, 
não é biológico, mas cultural.
B: Se não existem raças, porque um negro norte-americano é tão diferente de um japonês ou 
de um índio maxacali?
T: Os genes, unidades que carregam todas as informações sobre o organismo de um ser humano, 
determinam as características físicas. Mas as partículas que definem a cor do cabelo ou o 
formato do rosto são tão poucas que perdem seu significado quando comparadas ao número 
total de genes. A cor da pele de uma pessoa pode representar uma adaptação biológica a 
certas condições geográficas ao longo de sua evolução. Na região de origem dos negros, por 
exemplo, o sol é bastante forte. Como o excesso de energia solar prejudica o organismo, a cor 
negra protege a pele contra os raios nocivos. Não importa se há diferenças na cor da pele, nas 
feições do rosto, na estatura ou origem geográfica. Geneticamente, somos todos iguais.
B: Seria possível, então, encontrar mais genes africanos num alemão “puro” do que em um 
negro nascido na África?
T: Sem dúvida. Às vezes, as diferenças mais gritantes aparecem entre indivíduos de um mesmo 
grupo étnico, como os asiáticos. Os resultados da minha pesquisa demonstraram que, quando 
há diferença significativa, 85% ocorre entre pessoas possuidoras das mesmas características 
físicas. Afinal, os nossos genes vêm de todas as partes. Já as diferenças entre os negros africanos 
e os brancos europeus, que serviriam de base para raças bem distintas, são de apenas 15%.
B: Os resultados da sua pesquisa podem contribuir para o fim do preconceito racial?
T: O preconceito é uma questão que preocupa o mundo inteiro. Se não existem raças, porque 
há discriminação? Não faz sentido achar que os negros são melhores ou piores que os brancos 
se os seus genes são praticamente os mesmos.
B: No Brasil, o IBGE divide os indivíduos em negros, brancos, pardos, amarelos e indígenas. 
Como será a divisão se o conceito de raça for extinto?
T: Quando começarem a se ver de maneira diferente, os seres humanos passarão a ser 
tratados como indivíduos e não só como membros de uma categoria. É lamentável que 
essas instituições ainda agrupem as pessoas de forma estanque. Reconheço que produzem 
estatísticas válidas para a definição de determinadas políticas públicas, mas no futuro a 
forma de se categorizar as pessoas terá de sofrer mudanças. Se é que essas classificações 
serão tão importantes assim. 
A Antropologia entende que a humanidade é uma só, constituída da mesma 
espécie, que tem como sua maior aptidão criar modos e estilos de vida 
diferenciados. Assim, o que faz povos e sociedades se distinguirem não é a 
sua condição biológica ou “racial”, mas a capacidade criadora e criativa da 
cultura humana. Para que essa compreensão fosse alcançada, os estudos 
antropológicos passaram por diferentes fases em diferentes períodos.
 
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Unidade 01 Antropologia e Sociologia: ciências do homem e da sociedade
Diversidade Sociocultural: 
etnocentrismo e relativismo
A diversidade sociocultural ou, especificamente, a diferença entre povos e suas 
culturas não é uma descoberta exclusiva da Antropologia em suas origens no 
século XIX. O encontro com o outro, aquele que é diferente, ao longo da história 
da humanidade ocorre há séculos, desde a Antiguidade, principalmente por 
meio das conquistas promovidas pelas antigas civilizações.
Porém, foi a partir das grandes navegações, da expansão colonialista europeia 
sobre o planeta e das transformações sociais decorrentes desse processo que 
a Era Moderna colocou em contato permanente povos, culturas e civilizações, 
ou seja, modos de organização socioculturais distintos. Em suma, trata-se do 
início da Era Planetária, como afirmou Morin (2005), que se desenvolve por 
meio da conquista e exploração de territórios e da dominação e escravização 
atroz de seus povos mundo afora. 
A humanidade, ainda sem saber, se encontrava nos primórdios da globalização, 
em todos os sentidos. Conjuntamente, um processo de ocidentalização do 
mundo se iniciava por meio da imposição do modelo de civilização europeia 
nos quatro cantos do globo. 
Assim, os povos que eram tidos como selvagens passaram a ser vistos, a partir 
do século XIX, como não civilizados, por se encontrarem em estágio evolutivo 
inferior ao da civilização ocidental europeia. 
Para tanto, argumentos que atualmente consideramos racistas e etnocêntricos 
foram utilizados. 
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Fonte: Historiar
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Em defesa da ação civilizadora dos povos atrasados, o discurso de Jules 
Ferry na Assembleia Nacional francesa, em 1885, é revelador da mentalidade 
da época: “As raças superiores têm um direito perante as raças inferiores. Há 
para elas um direito porque há um dever para elas. As raças superiores têm o 
dever de civilizar as raças inferiores” (MESGRAVIS, 1994, p.32). Discurso esse 
que não escondia os interesses econômicos do imperialismo, a nova etapa 
do colonialismo. 
É nesse contexto que os primeiros estudos sobre as culturas das sociedades nativas 
se desenvolveram. Os seus precursores

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