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Estudos Socioantropologicos - UNID2

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Estudos
Socioantropológicos
UN
ID
AD
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Sociedade
e Cultura:
sociodiversidade e 
multiculturalismo
Nesta unidade, abordaremos a complexidade das relações entre o homem 
e o mundo, com a finalidade de compreender a diversidade social e cultural 
das sociedades contemporâneas. 
Iniciaremos com o estudo das Instituições e Grupos Sociais, com o objetivo 
de explorar as interações entre indivíduo e sociedade, a fim de apreender 
a dinâmica das relações sociais. Em seguida, abordaremos as questões 
relativas à cultura, com intuito de conhecer os processos de mudanças 
culturais, tais como aculturação, assimilação, sincretismo, hibridação e 
transculturação em um contexto socio-histórico dinâmico marcado pelos 
processos de mundialização.
Na sequência, trataremos das migrações, da urbanização e da violência, da 
inclusão/exclusão e dos novos movimentos sociais, objetivando compreender 
as desigualdades no contexto marcado pela sociodiversidade. Por fim, 
estudaremos o multiculturalismo, para entender a lógica dos pertencimentos 
e das identidades. 
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
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2
T1
Assim, organizados em tópicos, estudaremos os seguintes assuntos:
T1. Instituições e Grupos Sociais.
T2. A Cultura e as Sociedades Humanas.
T3. Dinâmicas Sociais Complexas: migrações, urbanização, violência, inclusão/
exclusão e novos.
T4. Cultura Contemporânea, Pertencimentos e Identidades: o local e o global, 
etnicidades.
Desejamos que esses assuntos possibilitem a visão geral da sociedade e 
cultura, com temas instigantes para um complemento do conhecimento.
Vamos lá?
Instituições e Grupos Sociais
A Sociologia surgiu em um contexto marcado por um longo processo 
de transformações sociais, que culminou com o advento da sociedade 
moderna assentada no modo de produção capitalista. Nesse contexto 
conturbado, marcado pelas revoluções que modificaram as ideias, as 
relações econômicas e as formas de organização política, os três principais 
precursores da Sociologia, Marx, Durkheim e Weber, voltaram suas reflexões 
para essa nova realidade, a fim de compreender as relações sociais que a 
partir de então se estabeleceram. 
Enquanto ciência social, a Sociologia procura estudar e compreender como 
as relações sociais se dão no interior da sociedade, como os indivíduos 
são inseridos no meio social em que vivem, como ocorre o processo de 
socialização.
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É FUNDAMENTAL, PORTANTO, COMPREENDER O PAPEL E A FUNÇÃO 
DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS NA SOCIALIZAÇÃO 
DOS INDIVÍDUOS E NAS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL. 
3
Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
Os cientistas sociais, ao se debruçarem sobre a realidade, não ignoraram a 
relação indivíduo e sociedade. Vimos que Marx deu prioridade às relações 
antagônicas entre as classes sociais no interior da sociedade capitalista e 
como essas determinam a existência de ambos. Durkheim deu ênfase às 
forças coercitivas da sociedade sobre os indivíduos e como estas os ajustam 
às normas, às regras e aos valores das instituições sociais. Weber, pelas ações 
sociais, demostrou como os indivíduos são influenciados pelo meio em que 
vivem e como, ao agirem, modificam a própria sociedade. 
Em suma, o ser humano, enquanto indivíduo, é compreendido pela Sociologia 
a partir de sua inserção nas instituições e grupos sociais e a partir das relações 
sociais que estabelece na sociedade. Portanto, voltaremos, especificamente, 
às Instituições Sociais e aos Grupos Sociais.
A Sociedade e as Instituições Sociais 
Viver juntos não é tarefa simples, mas complexa. Cada um de nós enquanto 
indivíduo possui sonhos, desejos, objetivos distintos na vida, porém para realizá-
los necessitamos da sociedade, ou seja, das relações que desenvolvemos com 
outros indivíduos, com os grupos dos quais participamos e as instituições que 
integram a sociedade.
Caso pudéssemos viver sós, fôssemos autossuficientes, não necessitássemos 
do meio social para nos socializarmos, não haveria necessidade dos laços 
sociais e das formas de solidariedade social, e tampouco trataríamos da 
interdependência que nos liga uns aos outros, tão fundamental para tecer 
os fios que tramam o tecido social e que caracterizam a complexidade da 
sociedade. 
O que é a complexidade? A um primeiro olhar, a complexidade é um tecido 
de constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o 
paradoxo do uno e do múltiplo. Num segundo momento, a complexidade 
é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, 
determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico (MORIN, 
2007, p.13). Ou seja, para o autor, complexo, na perspectiva da natureza da 
sociedade, é tudo aquilo que é tecido junto.
Antagônico é um adjetivo masculino 
que significa contrário, adverso, 
incompatível, contraditório, divergente, 
rival. Exemplo de antagonismos: 
guerra e paz, amor e ódio.
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Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
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A Sociologia, enquanto ciência da sociedade, interessa-se em desvendar as 
relações que os indivíduos tecem no interior dos grupos e das instituições 
sociais a fim de revelar a complexidade do real. Estudar os fenômenos sociais 
do nosso mundo permite-nos compreender melhor as dinâmicas sociais, ou 
seja, os mecanismos de produção, conservação e reprodução sociocultural para 
transmiti-los às futuras gerações, bem como compreender os processos de 
mudança e transformação resultantes da ação dos atores sociais em seu meio. 
Frente ao complexo sistema de relações sociais que os indivíduos tecem em 
sociedade, muitas dessas relações são estruturadas de forma duradoura e 
definidas por comportamentos padrões, por vezes repetitivos e rotineiros, 
regidos por normas, hábitos e valores específicos de um grupo, de uma 
comunidade ou de uma sociedade. 
Essas relações rotineiras, que se repetem com regularidade, são características 
próprias das instituições sociais presentes em uma sociedade. Segundo 
Dias (2010, p.201), a “instituição social é um sistema complexo e organizado 
de relações sociais relativamente permanente, que incorpora valores e 
procedimentos comuns e atende a certas necessidades básicas da sociedade”.
Determinadas instituições sociais são consideradas fundamentais para 
organização da vida social e para o funcionamento das sociedades, dentre 
elas destacamos a instituição familiar, a religiosa, a educacional, a econômica, 
a política, que são consideradas básicas. 
Além das instituições sociais consideradas básicas há outras, como as 
instituições voltadas para a saúde, o esporte, o lazer, a cultura, a comunicação, 
mas que não deixam de ser tão importantes quanto as primeiras.
As instituições sociais surgem espontaneamente ao longo do tempo, se 
desenvolvem de forma gradativa de acordo com as necessidades de um 
determinado povo ou sociedade. Assim, em determinadas sociedades, podemos 
encontrar instituições sociais que exibem maior complexidade nas formas de 
organização e de institucionalização das relações sociais que em outras.
Em suma, nas instituições sociais as atividades se tornam rotineiras e comuns a 
todos; nelas estão implicadas uma série de normas, regras e comportamentos 
que determinam as relações sociais entre os indivíduos que delas participam. 
É por meio das instituições sociais que a sociedade, no seu conjunto, procura 
atingir os seus objetivos. 
Denominamos institucionalização o processo pelo qual certas atividades vão 
adquirindo padrões e rotinas. [...] A institucionalização desenvolve um sistema 
regular de normas, status e papéis sociais que são aceitos pela sociedade. Com 
a institucionalização o comportamento espontâneo e imprevisível é substituído 
pelo comportamento regular e previsível (DIAS, 2010, p.203).
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
As Instituições Sociais e Suas Funções
Segundo Dias (2010) é importante ressaltar que asinstituições sociais possuem 
funções comuns e específicas. 
Funções Comuns
As funções comuns possuem a atribuição de difundir modelos de 
comportamentos, familiarizar os indivíduos com os papéis sociais, garantir 
a estabilidade social e regulamentar/controlar o comportamento dos 
indivíduos.
Difundir 
modelos de 
comportamento
São aqueles a serem seguidos pelos indivíduos em determinadas 
situações na sociedade, de maneira que contribuam para a sua 
socialização. 
Por exemplo: como devemos nos comportar em uma cerimônia 
fúnebre; em uma celebração de casamento; em um tribunal. 
Familiarizar os 
indivíduos
Familiarizar os indivíduos com os papéis sociais a serem 
desempenhados ao longo da vida. 
Por exemplo: aprendemos na família quais são os papeis sociais 
dos filhos, dos pais dos avós, entre outros; aprendemos na escola 
os papéis sociais destinados os alunos, aos professores, aos 
coordenadores, aos diretores.
Garantir 
estabilidade social
Garantir estabilidade social, tanto para os grupos sociais quanto para os 
indivíduos, mediante a institucionalização dos comportamentos. 
Por exemplo: acatar as leis constitucionais por garantirem a todos 
os cidadãos os mesmos direitos e por assegurarem, à sociedade, 
segurança jurídica.
Regulamentar 
e controlar o 
comportamento
Regulamentar e controlar o comportamento dos indivíduos por meio de 
normas e sanções que serão atribuídas àqueles que violarem as regras 
estabelecidas. 
Por exemplo: não realizar as atividades avaliativas ou não comparecer 
às aulas em uma instituição de ensino pode acarretar em reprovação.
Funções Específicas
Além das funções comuns, cada instituição social possui funções específicas 
na sociedade. Para exemplificá-las tomamos como exemplo as instituições 
sociais consideradas básicas na sociedade, o que não quer dizer que se 
limitam a elas.
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
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Casamento endogâmico ocorre quando os indivíduos devem se casar com indivíduos do mesmo 
grupo ou comunidade. Casamento exogâmico ocorre quando os indivíduos, obrigatoriamente, 
se casam com indivíduos de fora do grupo ou da comunidade a qual pertencem.
Casamento monogâmico ocorre quando a conjugalidade é constituída por apenas um 
casal, independentemente do sexo, gênero e orientação sexual. Casamento poligâmico 
ocorre quando a conjugalidade é constituída por mais de duas pessoas. Os casamentos 
poligâmicos podem ser definidos pela poliginia – quando o homem possui mais de 
uma esposa; ou pela poliandria – quando a mulher possui mais de um esposo. Mais 
recentemente, uniões estáveis têm assumido os mais diversos formatos; essas uniões 
são denominadas poliafetivas e são caracterizadas pela consensualidade e igualdade 
entre todos que integram a união afetiva/sexual, independentemente do sexo, gênero e 
orientação sexual de seus integrantes.
Instituição familiar 
É responsável pela proteção e socialização das crianças, pelo cuidado 
dos idosos, bem como pela proteção e segurança física, psicológica 
e econômica de seus membros. Determina quem são os herdeiros 
necessários e salvaguarda seus direitos de acordo com o ordenamento 
jurídico de uma nação ou com base na tradição de um povo.
Estrutura-se de acordo com os costumes da sociedade. O formato da 
organização familiar é definido pelas relações de parentesco, pelas 
regras de proibição do incesto, pelas regras de casamento, que variam 
de uma cultura para outra, podendo ser o casamento endogâmico ou 
exogâmico e monogâmico ou poligâmico. 
Assim, é fundamental destacar que nas sociedades tribais e nas 
comunidades tradicionais predomina um modelo estrutural de família 
que é comum a todos, enquanto que nas sociedades marcadas pela 
hipercomplexidade das relações sociais os arranjos familiares tendem 
a ser diversificados, mais plurais. 
Instituição religiosa 
Responde pelo âmbito daquilo que é considerado sagrado. Busca 
explicar, por meio da fé, os fenômenos sobrenaturais, confortando os fiéis 
ao buscar dirimir as incertezas e as inseguranças diante da inevitabilidade 
da morte ao fornecer respostas sobre de onde viemos e para onde vamos 
depois da vida. Além de promover a convivência em comunidade e a 
coesão social de um grupo por meio da fé e do compartilhamento da 
crença e da moral religiosas. 
É importante ressaltar que as estruturas elementares da vida religiosa, 
como os mitos, os ritos, as crenças, as celebrações e os dogmas variam 
de um local a outro, de uma cultura a outra. Quanto maior a complexidade 
social de uma sociedade, maior é a diversidade de práticas religiosas 
fundadas em tradições e crenças as mais distintas.
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
Instituição educacional 
Tem como função promover a aprendizagem dos conhecimentos de 
natureza filosófica e científica, bem como aqueles relativos ao patrimônio 
artístico, cultural e histórico da sociedade e transmiti-los às futuras 
gerações. Além disso, prepara os indivíduos para papéis ocupacionais 
e profissionais; estimula os relacionamentos sociais; e promove o 
conhecimento técnico-científico por meio do incentivo à pesquisa e à 
inovação objetivando a transformação social. 
Instituição econômica 
Determina o modo de produção e o sistema econômico vigentes 
em uma sociedade; define a forma de divisão social e técnica do 
trabalho; estabelece as regras de produção, circulação e distribuição 
de bens e serviços; é responsável pelo consumo de mercadorias 
e serviços. 
Instituição política 
É aquela que por meio da autoridade legítima exerce o poder com 
base no consentimento no âmbito de um território ou nação. Além 
disso, define as formas e os sistemas de governo; determina a função 
e o papel dos poderes executivo, legislativo e judiciário; promove a 
solução de conflitos, a proteção e a segurança de sua população e 
território; e põe em execução as leis criadas e aprovadas pelo poder 
legislativo; implementa políticas sociais, econômicas, entre outras, de 
um determinado governo. 
De modo geral, as instituições sociais não têm vida própria, sua existência 
está relacionada às interações e relações sociais estabelecidas entre 
os indivíduos na sociedade. Para tanto, os grupos sociais são de suma 
importância, pois é por meio dos grupos que os indivíduos estabelecem 
relações e atuam como atores sociais produtores, reprodutores e 
transformadores da sociedade. 
As famílias são consideradas como grupos primários por serem a 
base que dá início ao processo de socialização, educação e formação 
para o mundo. Confira tal informação no artigo “Família: não apenas 
um grupo, mas um fenômeno social”, de Ribeiro, publicado no site 
Brasil Escola.
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/familia-nao-apenas-
um-grupo-mas-um-fenomeno-social.htm
importante!
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
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Os Grupos Sociais
Para a Sociologia, a importância do estudo dos grupos sociais reside no fato 
de que é no interior desses grupos que as relações sociais acontecem, uma 
vez que não há grupo social sem as relações estabelecidas entre os indivíduos, 
da mesma forma que não haveria relações sociais sem a existência de grupos. 
Segundo Weber (2002), as relações sociais se estabelecem a partir do 
momento em que os indivíduos compartilham dos mesmos objetivos, possuem 
interesses comuns. Para alcançá-los, os indivíduos atuam em conjunto, por 
meio dos grupos sociais dos quais fazem parte e se identificam. Assim, para 
Dias (2010, p. 132):
Grupo social é um conjunto de indivíduos que partilham algumas 
características semelhantes – normas, valores e expectativas –, que interagem 
conscientemente e apresentam algum sentimento de unidade.
Ao nascer em sociedade, o ser humano passa a fazer parte de um grupo social 
e ao logo da vida integrará muitos grupos. A família é, geralmente, o primeiro 
grupo social do qual se participa, assim ela é responsável pelo processo de 
socialização dos indivíduos. Cabe à família a transmissão de ensinamentosessenciais para o convívio social, como o idioma, os costumes, os valores, ou 
seja, a transmissão da cultura da sociedade na qual o indivíduo vive.
No decorrer da vida, os indivíduos acabam integrando outros grupos sociais. 
Dentre os grupos que podem fazer parte, além da família, estão os amigos 
do bairro, os colegas de escola, os membros da comunidade religiosa, os 
integrantes da torcida organizada, a turma da faculdade, os companheiros 
de partido e militância política, os colaboradores no trabalho, entre outros. 
Em alguns grupos os indivíduos permanecem a vida toda, mas em outros 
podem integrá-los por determinado período.
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
Grupos Sociais: formas de classificação
Os grupos sociais são classificados em duas grandes categorias: 
Grupos internos ou de dentro Grupos externos ou de fora
São os grupos dos quais participo – minha 
família, meus amigos, meus colegas de 
trabalho, entre outros.
São aqueles dos quais não participo, como 
por exemplo outras religiões, outras famílias, 
outras torcidas, outras turmas de amigos, 
outros partidos, e assim por diante. 
Os indivíduos reconhecem seus interesses nos grupos dos quais participam, 
expectativas e sentimentos são compartilhados, por isso identificam-se com 
eles. Em relação aos grupos externos ocorre o inverso, não há identificação com 
eles, tampouco interesses, sentimentos e objetivos compartilhados. Assim, 
em relação aos integrantes dos grupos dos quais fazemos parte, tendemos 
a ser mais colaborativos, solidários, compreensivos, empáticos; enquanto 
que diante dos grupos exteriores podemos exibir um comportamento mais 
competitivo, hostil, intolerante, indiferente. É comum sermos colaborativos com 
nossos colegas de trabalho ou da comunidade religiosa na preparação de uma 
confraternização, porém não é incomum sermos com a torcida do time rival. 
Os grupos exteriores geralmente são vistos como agrupamentos homogêneos, 
como se os seus integrantes não apresentassem qualidades ou características 
distintas. Ao tratarmos do etnocentrismo, vimos o quanto podemos ser 
intolerantes em relação a outros povos e culturas. Assim, a construção da 
imagem que possuímos dos outros, os de fora, é comumente estereotipada, 
distorcida e, quase sempre, negativa. 
É fundamental que atentemos para o quanto podemos ser preconceituosos, 
depreciativos ou mesmo violentos com os grupos dos quais não participamos 
e com os quais não nos identificamos.
Grupos Primários e Secundários 
Os grupos sociais, além de serem classificados entre os internos e os 
externos, também são subdivididos em grupos primários, nos quais 
prevalecem as relações afetivas, informais, duradouras, estreitas; e grupos 
secundários, nos quais predominam as relações de interesse, formais, 
temporárias, impessoais. 
Os grupos primários são geralmente pequenos, seus membros estabelecem 
um nível de conhecimento íntimo, desenvolvem interesse pessoal uns pelos 
outros, se relacionam de forma descontraída, realizam diversas atividades 
juntos, compartilham interesses comuns e a convivência com os integrantes 
do grupo pode durar a vida toda. 
 
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
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Diante da proximidade e do estreitamento dos laços de solidariedade entre os 
integrantes de um grupo primário, é comum a eles permanecerem mais unidos 
que os membros de um grupo secundário frente às adversidades do mundo, 
perante mudanças bruscas na sociedade ou mesmo diante de problemas 
pessoais que possam vir a afetar um de seus membros.
Entre os integrantes dos grupos secundários, os contatos humanos que se 
estabelecem entre os colaboradores de uma empresa, entre professores e 
alunos, entre os condôminos de um edifício residencial baseiam-se mais na 
formalidade. Os relacionamentos são utilitaristas, predominam o papel e a 
função que os indivíduos desempenham socialmente, sua ocupação, seu 
trabalho, suas obrigações e direitos, e não propriamente seus sonhos, desejos, 
problemas pessoais, paixões, ou seja, sua vida pessoal cotidiana. 
Enquanto no grupo primário a convivência afetiva predomina, no grupo 
secundário a tarefa e as obrigações que realizam em comum prevalecem. 
Porém, no interior dos grupos secundários, que costumam ser bem maiores 
e marcados pela impessoalidade, constituem-se grupos menores, marcados 
pelos laços afetivos e solidários de amizade, seja nas empresas, nas escolas, 
nos condomínios, nos partidos, nas igrejas, nos clubes. Logo, o indivíduo 
pode relacionar-se de maneira mais íntima e pessoal no interior dos grupos 
secundários, fato que vem a contribuir para que os objetivos dos grupos 
secundários sejam alcançados mais facilmente.
A importância dos grupos sociais consiste nas interações sociais estabelecidas 
entre os indivíduos que permitem, antes de tudo, a sua socialização. As 
formas de convivência, os relacionamentos, as colaborações, os laços, os 
compartilhamentos são fundamentais para o desenvolvimento das relações 
sociais, para a produção e reprodução da vida sociocultural, enfim, para a 
composição do tecido social complexo que denominamos sociedade.
Dessa forma, não podemos ignorar que tanto os sociólogos como os 
antropólogos, ao procurarem compreender os meios pelos quais as sociedades 
humanas buscam manter seus membros integrados em torno de determinados 
valores da vida social em comum, voltaram-se para a compreensão da cultura. 
Assim, é da cultura, mais especificamente, que trataremos a seguir. 
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A FAMÍLIA E OS AMIGOS 
SÃO EXEMPLOS DE 
GRUPOS PRIMÁRIOS.
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
A Cultura e as 
Sociedades Humanas
As sociedades humanas não seriam as mesmas sem a presença da cultura; 
as interações e as relações estabelecidas entre os indivíduos e grupos não 
existiriam como as conhecemos, tampouco haveria instituições sociais. 
Vimos que a cultura é transmitida pela convivência social pelo processo de 
socialização dos indivíduos, ou seja, por meio da convivência com os grupos 
sociais dos quais participamos.
Logo, podemos inferir que é a cultura que distingue, em decorrência de 
sua complexidade, as formas de organização das sociedades humanas em 
relação às outras formas de organização social existentes entre primatas 
não humanos, como chimpanzés e bonobos, bem como entre insetos, como 
abelhas, formigas e cupins. Divisão de tarefas, hierarquia entre seus membros 
e formas de dominação estão presentes em todas elas, como também exibem 
padrões comportamentais e formas padronizadas de organização. 
No entanto, nas sociedades humanas esses padrões são definidos pela 
cultura da sociedade. 
Devemos ressaltar que o mundo cultural dos humanos, diferentemente 
do mundo natural, é permeado por um sistema de significados e de 
representações simbólicas já estabelecidos. Ao nascermos, encontramos um 
mundo já codificado pela linguagem, cada coisa tem seu nome e significado 
próprio, mesmo as formas de pensar, de agir e de expressar os sentimentos 
possuem significados e formas de representação simbólica específicas para 
cada cultura. 
Assim, um símbolo é portador de um significado específico atribuído por uma 
determinada cultura, enquanto que em outra cultura o símbolo é diferente. 
Por exemplo, a cor preta é símbolo de luto no Brasil, enquanto a cor branca 
sinaliza luto na China. 
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Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
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As culturas são plurais, se modificam de uma sociedade para outra e 
exibem padrões comportamentais distintos para cada sociedade. Segundo 
o antropólogo Ralph Linton (1893-1953), os padrões culturais presentes em 
uma sociedade determinam as relações sociais e asseguram a reciprocidade 
entre os indivíduos. “A cultura proporciona aos membros de uma sociedade um 
guia indispensável em todos os campos da vida. [...] A existência de padrões 
culturais é necessária tantopara o funcionamento de qualquer sociedade 
como para sua conservação” (LINTON, 1983, p.98-99).
Vimos que a Antropologia, com Malinowski, passou a ser a ciência que se 
dedica ao estudo das lógicas particulares de cada cultura, ou seja, dos padrões 
culturais presentes em cada sociedade, que são reproduzidos socialmente 
e culturalmente na vida cotidiana, bem como nos rituais, cerimônias, festas, 
entre outros eventos. Tomemos como exemplo o Kuarup, ritual de homenagem 
aos mortos, celebrado por vários povos indígenas do Alto Xingu, no Brasil. No 
Kuarup podemos identificar um padrão cultural próprio daquelas sociedades, 
que é fundamental para a reprodução da vida social e sua preservação cultural. 
Nesse sentido, a cultura age como um mecanismo de adaptação do indivíduo 
ao meio, que ocorre devido à internalização dos padrões culturais presentes 
na sociedade e que são reproduzidos pelos indivíduos na sua interação em 
grupos e instituições sociais. 
Em virtude de as pesquisas antropológicas, em princípio, terem se voltado 
exclusivamente para o estudo dos povos indígenas, as teorias desenvolvidas 
sobre a cultura enfatizavam que as sociedades formavam um todo integrado, 
capazes de manter a homogeneidade cultural e a coesão social devido à 
repetição e reprodução dos padrões culturais de geração a geração. 
Porém, é preciso destacar que as culturas não são estáticas, o que prevalece 
é a dinâmica cultural, ou seja, a capacidade de reinvenção, renovação e 
adaptação de um grupo ou sociedade a uma nova realidade sociocultural. 
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
Por mais que aos olhos de um leigo as culturas das sociedades indígenas 
pareçam não mudar enquanto as culturas das sociedades urbano-industriais se 
transformam, para os antropólogos essa é uma falsa evidência, “[...] as sociedades 
indígenas isoladas têm um ritmo de mudança menos acelerado do que o de uma 
sociedade complexa, atingida por sucessivas inovações tecnológicas” (LARAIA, 
2006, p.95). Logo, podemos dizer que todo sistema cultural se transforma.
Deve-se pensar a cultura, portanto, como um conjunto não 
homogêneo e, muitas vezes, não harmonioso de tendências 
que conflitam e disputam espaço na sociedade. Assim, por 
mais que certos padrões culturais vigentes gozem de certa 
preferência, há no interior da sociedade forças conflitantes 
e antagônicas que expressam essa dissidência, embora 
inúmeros recursos sejam usados no sentido de garantir a 
integração da sociedade (COSTA, 2010, p.197). 
Os hábitos alimentares presentes em nossa sociedade demonstram que 
mesmo que haja um padrão cultural alimentar vigente, uma dieta alimentar 
que inclui no cardápio dos brasileiros o consumo de carnes, há na sociedade 
aqueles que se opõem e veem nesse padrão um ato de violência e brutalidade 
contra a vida dos animais. O mesmo exemplo serve também para demostrar 
que o crescimento do vegetarianismo aponta para uma mudança nos hábitos 
alimentares da população, revelando a dinâmica da cultura. 
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ATIVISTAS FAZEM 
PROTESTO CONTRA 
CONSUMO DE 
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PAULISTA.
Você sabia que 30 milhões de brasileiros se dizem vegetarianos? 
Nas regiões metropolitanas, o percentual de veganos sobe 
para 16%? Confira a reportagem completa de Marcela Cota 
no site Folha Vitorias.
https://novo.folhavitoria.com.br/geral/noticia/05/2018/30-
milhoes-de-brasileiros-se-dizem-vegetarianos
saiba mais?
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
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A dinâmica cultural de uma sociedade deve-se aos processos históricos 
de mudança e transformação social. O contato com diferentes grupos e 
sociedades, bem como as contradições e conflitos internos de uma cultura 
acabam por modificá-la. Portanto, desde o início da Era Planetária essa 
dinâmica se intensificou, o que revelou que não existem culturas estáticas 
e homogêneas, tampouco harmônicas e sem contradições. 
Nesse sentido, devemos compreender que a cultura de uma sociedade 
é sempre marcada pela lógica da conservação, transmissão e 
compartilhamento do idioma, dos valores, dos hábitos, dos costumes, 
dos conhecimentos, bem como pela lógica da mudança, marcada, 
especialmente, pelas relações interculturais entre os povos em tempos 
globalizados.
A Dinâmica da Cultura 
Da mesma forma que o homem transforma a natureza modificando-a 
para sobreviver, criando assim um ambiente cultural, é também capaz de 
transformar o meio cultural já existente com a finalidade de atender a novas 
necessidades.
Isso quer dizer que tanto o meio natural como o meio social são modificados 
pelos homens para neles viverem. 
Logo, a cultura se modifica e promove mudanças na sociedade, da mesma 
forma que mudanças no campo da política e da economia, por exemplo, 
podem vir a modificar a cultura.
A mudança cultural ocorre quando há qualquer alteração na cultura, seja 
em um simples traço cultural específico ou em padrões estabelecidos. 
Segundo Marconi (2001), são muitos os fatores que levam às mudanças 
culturais: contatos com outras culturas, fluxos migratórios, processos 
de colonização, invenções, inovações, conflitos políticos como guerras, 
invasões e revoluções. Aculturação, assimilação, sincretismo e 
hibridismo, transculturação são vários processos de mudança cultural 
que se processam por meio da dinâmica e do contato entre povos e 
sociedades. 
Traços culturais – são elementos simples, geralmente unitários, que permitem 
identificar uma cultura. Eles podem ser reconhecidos e descritos isoladamente, 
mas um traço cultural está sempre relacionado a outros traços que juntos 
constituem uma cultura. Exemplos de traços culturais: a batina identifica um 
padre, a burca identifica uma mulher muçulmana, o uso de hashi (palitos) 
como talheres usados para alimentação é hábito de vários povos orientais. 
Todos esses traços isolados quando associados a outros remetem a uma 
cultura específica.
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
Aculturação
A aculturação, segundo o antropólogo estadunidense Herskovits (1969), 
é, dentre os processos de mudança cultural, aquele que ocorre quando 
determinada cultura entra em contato permanente e direto com uma ou mais 
culturas e todas acabam se transformando. Emerge desse processo uma 
cultura híbrida, mestiça, totalmente diferente das originárias. 
O processo de aculturação também pode ocorrer quando duas culturas 
distintas em contato não impõem completamente a cultura de uma sobre a 
outra. Nesse caso, ambas são modificadas pelas influências e intercâmbios 
culturais entre elas, mesmo que tais trocas ocorram de forma desigual. 
No entanto, é comum que os processos de aculturação ocorram em situações 
adversas, em contextos socio-históricos marcados por invasões, colonizações 
e migrações. Assim, os processos de aculturação costumam impor a cultura 
dos invasores/colonizadores sobre a cultura dos povos subjugados. 
Assimilação
A assimilação ocorre quando os grupos sociais tidos como minoritários ou 
subordinados assumem definitivamente os padrões da cultura predominante. 
Segundo Costa (2010), nos contatos entre culturas e povos diferentes, a 
assimilação seria o processo de mudança cultural mais profundo, uma vez que 
o grupo ou a sociedade abandonam as características distintivas de sua cultura 
para adotar outra. Herskovits (1969) a entende como uma fase do próprio 
processo de aculturação, quando grupos originários de lugares distintos e 
culturas diferentes vivem em território comum e integram-se plenamente.
Sincretismo e hibridismo
São conceitos próximos quando o assunto são os processos de fusão, mistura 
ou miscigenação cultural, porém exibem certas particularidades. Ambos estão 
presentes na reflexão antropológica sobre dinâmica e mudança cultural. 
A ideia de sincretismo, semelhante à ideia de aculturação, assumiu uma 
perspectiva positiva, por vezes harmonizadora, dos conflitos e integradora 
das diferenças.O FUTEBOL FOI 
ABSORVIDO POR 
INÚMERAS CULTUAS 
DIFERENTES
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Inicialmente, os estudos sobre sincretismo deram ênfase aos processos de 
fusão ou mistura de crenças religiosas diferentes. Nesse contexto, a umbanda, 
por exemplo, por juntar e associar elementos do catolicismo, do espiritismo, 
do candomblé, e de tradições indígenas e orientais, sempre foi tida como 
uma religião sincrética.
Por outro lado, as ideias de sincretismo e de aculturação escondem processos de 
dominação política, de exploração econômica e imposição cultural ao tentarem 
harmonizar os processos de mudança cultural, deixando de fora as contradições 
e os conflitos inerentes aos contatos entre grupos subordinados a grupos 
dominantes. Costa (2010) destaca que em países onde ocorreram processos 
de colonização associados à escravidão, o sincretismo pode ser percebido 
em diversas manifestações culturais, uma vez que ele implica um processo 
de contato e miscigenação profundos entre distintas etnias e suas culturas. 
“Tal princípio (sincretismo) abandona a noção de purismo ou de originalidade, 
fazendo prevalecer a ideia de que o ser humano em suas incontáveis migrações 
trocou visões, palavras e significados” (COSTA, 2010, p.265). 
O antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro tratou dos processos dinâmicos da 
cultura presentes na formação da sociedade brasileira em sua obra O povo 
brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. Segundo Ribeiro (1995), sob 
comando do invasor português um povo novo emerge da confluência e do 
confronto entre distintas matrizes étnicas, tradições culturais e formas de 
organização social. 
Ele considera o brasileiro um povo novo, especialmente, “porque surge como 
uma etnia nacional (brasileiro), diferenciada culturalmente de suas matrizes 
formadoras, fortemente mestiçada, dinamizada por uma cultura sincrética e 
singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos” (RIBEIRO, 2005, 
p.19). No entanto o considera, ao mesmo tempo, um povo que traz consigo algo 
de velho, uma vez que a origem do Brasil e do brasileiro se deu por meio de um 
processo violento de dominação humana e exploração econômica.
Em O povo brasileiro ele procurou demonstrar que o processo de miscigenação 
étnica e cultural, ou seja, processo que podemos identificar por meio das ideias 
de aculturação, assimilação, sincretismo ou de transculturação, não ocorreu 
de forma harmônica, mas marcada por uma série de conflitos, distensões e 
reacomodações.
Conheça a ideia fundamental do livro “O Povo Brasileiro”, de Darcy 
Ribeiro, que tenta traçar os pilares fundamentais do Brasil e suas relações 
entre os múltiplos povos, com o vídeo “Clássicos para Desvendar o Brasil: 
o povo brasileiro”, apresentado por Saulo Goulart.
https://www.youtube.com/watch?v=b4Am2bvCMfc&feature=youtu.be
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
Na atualidade, em virtude da intensificação dos processos de intercâmbio 
cultural e dos fluxos migratórios, o conceito de hibridação ou hibridismo 
ganhou destaque frente ao conceito de sincretismo, que ao longo do século XX 
ficou muito associado ao processo de mistura e fusão de diferentes tradições 
religiosas. Nesse contexto a hibridação cultural é tida como um processo 
incessante de trocas, misturas e entrelaçamentos de elementos culturais 
distintos. Em Sincretismo e hibridismo na cultura popular, Ferreti (2014) revisita 
algumas definições de hibridação cultural apresentadas por autores expoentes 
das Ciências Sociais, como:
Néstor García Canclini
Segundo o antropólogo argentino Néstor García Canclini, as culturas 
híbridas ultrapassam as dicotomias entre tradicional e moderno, rural 
e urbano, popular e erudito, culto e massivo; rompem com categorias 
estanques e apontam para um processo de inter-relação crescente 
entre elas, o que promove a miscigenação cultural em uma realidade 
heterogênea, complexa e multicultural. Assim, o hibridismo ou hibridação 
trata dos processos de mestiçagem cultural próprios das culturas 
urbanas contemporâneas. 
Peter Burke 
Para o historiador da cultura, o britânico Peter Burke, todas as culturas são 
híbridas, com o avanço da globalização é possível verificar a hibridação 
cultural em diversas manifestações culturais, como na música, na 
religião, na arte, nas festas, nas celebrações, entre outras. As formas 
híbridas resultam da multiplicidade de encontros, dos entrelaçamentos 
entre distintas culturas.
Stuart Hall
Stuart Hall, sociólogo jamaicano, vê o hibridismo como uma forma 
de transculturação, nos quais elementos culturais heterogêneos se 
combinam, se misturam, se entrelaçam e produzem uma nova síntese 
cultural. Para ele o hibridismo é uma característica das culturas mistas 
próprias ao multiculturalismo das sociedades contemporâneas. 
Transculturação
O conceito de transculturação foi proposto pelo antropólogo cubano Fernando 
Ortiz para analisar as transformações ocorridas nos padrões culturais nativos/
locais. Ele considera que a ideia de transculturação expressa de forma mais 
complexa o processo de mudança cultural que a ideia de aculturação, que 
consiste na adoção de padrões culturais distintos pelos grupos em contato. 
Segundo Ortiz (1940), a transculturação implica na aquisição de novos 
elementos culturais; no desenraizamento dos padrões culturais originários; e, 
além disso, na criação de novos fenômenos culturais nascidos da inter-relação 
entre as distintas culturas. 
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É um processo dinâmico de troca cultural recíproca, marcado por intercâmbios, 
conflitos, acomodações, reinvenções, transformações. 
Segundo o sociólogo brasileiro Octávio Ianni (1996), ao longo da história 
da humanidade as interações culturais entre tribos, povos, nações e 
confederações ocorreram em decorrência de alianças, dominações, fusões, 
conflitos, explorações, competições, acordos ou trocas. Logo, o fenômeno da 
transculturação é constituinte dos incontáveis encontros entre os povos que 
a história promoveu. 
Nessa perspectiva, a história do mundo moderno e 
contemporâneo pode ser lida como a história de um vasto 
e intrincado processo de transculturação, caminhando 
de par em par com a ocidentalização, a orientalização, a 
africanização e a indigenização. Desde as grandes viagens 
marítimas dos fins do século XV, quando os povos de todo 
o mundo iniciaram um novo, amplo e intenso ciclo de 
contatos, intercâmbios, trocas, tensões, lutas, conquistas, 
destruições, acomodações, recriações e transformações, 
são muitas as transculturações em curso no Novo Mundo, 
África, Ásia, Oceania e Velho Mundo (IANNI, 1996, p.142).
A Era Planetária, inaugurada pelos intercâmbios conflituosos entre povos e 
culturas de todos os continentes, se depara na atualidade com um franco 
processo de hibridação cultural e transculturação. “Não apenas cada parte 
do mundo faz cada vez mais parte do mundo, mas o mundo enquanto 
todo está cada vez mais presente em cada uma de suas partes. Isso se 
verifica não só para as nações e os povos, mas também para os indivíduos” 
(MORIN, 2005, p.35). 
Culturas e povos que eram anteriormente tidos como extremamente 
diferentes e distantes, passaram a integrar o grande mosaico policultural e 
a compor o tecido multiétnico das sociedades humanas. 
Populações e culturas misturam-se e apresentam modos e estilos de vida 
cada vez mais convergentes, logo os estudos antropológicos e sociológicos 
aproximam-se, e juntos olham para as questões das relações interculturais e 
da transculturação das sociedades contemporâneas. 
Conheça um pouco mais sobre o pensamento de Darcy 
com o artigo “O Povo Brasileiro”, de Adelia Miglievich Ribeiro.
http://periodicos.ufes.br/sinais/article/view/2753/2221
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
Dinâmicas Sociais Complexas: 
migrações, urbanização, violência,inclusão/
exclusão e novos movimentos sociais 
A diáspora do Homo sapiens – a ocupação e distribuição dos grupos 
humanos pelo planeta –, iniciada há mais de 100 mil anos, espalhou-nos 
pela África, Ásia, Europa, Oceania e Américas. As evidências da ocupação 
do planeta são atribuídas à antiguidade da datação dos vestígios fósseis dos 
nossos antepassados encontrados em todos os continentes. A formação 
das sociedades humanas com a consequente diversificação das formas de 
organização societárias e a multiplicidade de configurações culturais tiveram 
origem com a diáspora humana. 
[...] a despeito das diferenças físicas de tamanho, cor, 
forma dos olhos, do nariz, a despeito das diferenças de 
culturas e de linguagens..., por toda parte houve mito, 
por toda parte houve racionalidade, por toda parte houve 
estratégia e invenção, por toda parte houve dança, ritmo e 
música, por toda parte houve – certamente expressos ou 
inibidos de maneira desigual conforme as culturas – prazer, 
amor, ternura, amizade, cólera, ódio, por toda parte houve 
proliferação imaginária (MORIN, 2005, p. 58). 
A história da Torre de Babel, presente no Livro dos Gênesis (11:1-9), é ilustrativa 
desse processo. Segundo a passagem bíblica, a construção da Torre permitiria 
aos homens alcançar o céu, bem como manterem-se reunidos em um mesmo 
lugar, evitando que se espalhassem pelo mundo. Deus, ao ver o empreendimento 
que estava sendo erguido, decidiu misturar as línguas para que os homens não 
entendessem um ao outro, interrompessem a construção e partissem mundo 
afora. A Torre de Babel é uma narrativa, dentre os muitos mitos de origem da 
humanidade, que trata, ao mesmo tempo, da diáspora humana sobre a Terra e 
da diversidade cultural nascida com o embaralhamento das línguas.
T3
Fonte: manuelacasasoli.altervista.org
MAPA-MÚNDI 
DA DIÁSPORA 
DO HOMO 
SAPIENS 
AO LONGO 
DA PRÉ-
HISTÓRIA DA 
HUMANIDADE 
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
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As narrativas míticas, religiosas ou históricas, bem como as ciências do 
homem, da sociedade e da cultura, todas apontam para a constituição da 
diversidade sociocultural governada por dinâmicas complexas nas relações 
entre o homem e o meio ambiente. 
As andanças do homem pelo planeta não são um fato recente, os fatores 
que impulsionam esses deslocamentos são muitos. Porém, é certo que com 
o advento da Era Planetária, em decorrência das grandes navegações a partir 
do século XV, os intercâmbios entre os povos se intensificaram, especialmente 
movidos pelos empreendimentos de conquista e colonização com vistas 
à exploração econômica, e, com ela, um significativo número de pessoas 
aventurou-se pelo planeta. 
Nesse processo, os povos nativos dos territórios explorados são escravizados 
nos empreendimentos coloniais, um grande número de corpos-mercadoria, 
destituídos de sua humanidade, é trasladado à força das circunstâncias de uma 
região a outra ou de um continente ao outro, como ocorreu principalmente 
com os povos capturados na África e comercializados como escravos no 
continente americano.
Com o advento da Revolução Industrial e a expansão das trocas econômicas 
globais, os fluxos migratórios se intensificaram. Em um primeiro momento, 
produziu-se um grande deslocamento interno na Europa, levando as 
pessoas a saírem do campo para buscar trabalho nas fábricas das cidades, 
fato que agravou a questão social e transformou as cidades industriais em 
grandes bolsões de miséria; já, em um segundo momento, um exército de 
desempregados deixou a Europa rumo a outros continentes em busca de 
oportunidades de trabalho e sobrevivência. 
Das primeiras décadas do século XIX às primeiras décadas do século XX, 
a humanidade testemunhou um imenso deslocamento de pessoas do 
velho continente europeu para as Américas e a Oceania, especialmente. 
Cerca de 70 milhões de pessoas deixaram a Europa em busca de 
oportunidades nesses continentes. Tamanho deslocamento de pessoas 
revela o impacto causado pela Revolução Industrial. Desde então, os 
fluxos migratórios, a urbanização e os problemas sociais se intensificaram 
no bojo da globalização.
A questão social é determinada pela exploração capitalista na relação entre capital e trabalho. 
Para Iamamoto, deve-se compreender a questão social como o conjunto das expressões das 
desigualdades que possui uma origem comum: a apropriação e monopolização da produção 
social coletiva, fruto do trabalho da sociedade, por uma pequena parcela da população, a 
classe dominante. A questão social traduz as desigualdades econômicas, políticas, culturais e 
sociais entre as classes, e o agravamento dessas desigualdades em decorrência das relações 
assimétricas entre gêneros, grupos étnico-raciais e formações regionais, o que contribui para 
ampliar as contradições sociais marcadas pela lógica da inclusão/exclusão. (In: IAMAMOTO, 
Marilda V. O Serviço Social na contemporaneidade; trabalho e formação profissional. 2. ed. 
São Paulo: Cortez, 1999).
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
Transformações Socioeconômicas: 
migrações, urbanização e a questão social
As migrações são motivadas, especialmente, por fatores econômicos e 
políticos, como crises, desempregos, guerras e revoluções, ou por interesses 
em regiões de desenvolvimento econômico dinâmico ou recente; mas também 
ocorrem devido a fatores naturais como secas, desertificações, inundações, 
terremotos, erupções vulcânicas e outros. Em suma, as migrações são 
alimentadas, geralmente, por esperanças de uma vida melhor em lugares 
prósperos ou a serem explorados.
Os fluxos migratórios compõem a dinâmica da distribuição territorial das 
populações na sociedade. Assim, de acordo com as mudanças econômicas 
e políticas regidas pelas forças do processo de ocidentalização e, mais 
recentemente, pelas forças da globalização, as direções e orientações dos 
fluxos migratórios se alteram. Enquanto no século XIX os europeus saíam da 
Europa em busca de uma vida melhor no Novo Mundo, na segunda metade 
do século XX tivemos um fluxo migratório intenso em direção aos países do 
hemisfério norte, principalmente EUA e Europa Ocidental, em virtude das 
oportunidades econômicas. Assim, as metrópoles cosmopolitas dos países 
do Norte, os considerados desenvolvidos, caracterizam-se pela pluralidade 
étnica e cultural em decorrência das migrações. 
Atualmente, vivenciamos um processo ativo de 
fluxos migratórios interiores e exteriores, em 
sintonia com a realidade dinâmica do mundo 
contemporâneo. Juntamente com o fluxo de 
deslocamentos das populações Sul-Norte, 
especialmente em direção aos países da Europa 
e da América do Norte, identificam-se outras 
tendências migratórias, tais como as migrações 
Sul-Sul, que se caracterizam por fluxos migratórios 
entre países de economia emergente ou por 
ocorrerem no interior do mesmo continente, 
como, por exemplo, os imigrantes que partem 
em direção ao Brasil e Argentina saídos de países 
sul-americanos. 
Apesar das migrações intercontinentais continuarem em alta, é crescente o 
número de migrações intracontinentais que vêm ocorrendo entre países na 
América Latina e Caribe, mas principalmente no interior da própria África, Ásia 
e Oriente Médio.
A ocidentalização é um processo marcado tanto pela imigração de europeus para todos os 
continentes - principalmente para as antigas áreas de colonização nas Américas e Oceania - bem 
como pela implementação do modelo de civilização europeia nesses territórios, juntamente 
com o processo de expansão e dominação econômica imperialista.
Fonte: Colours of Europe
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Migrações intercontinentais ocorrem quando os migrantes partem de seu país 
de origem para um país em outro continente. Já as migrações intracontinentais 
ocorrem quando os migrantes partem de seu país de origem para outro país 
no mesmo continente.
Em um mundo cada vez mais globalizado, as cidades e suas regiões 
metropolitanas têm se tornado o local paraos quais se dirige grande parte 
dos migrantes, sejam eles estrangeiros ou não. Segundo Sassen (2010), a 
globalização econômica tem contribuído para a desenho de um novo mapa 
da economia mundial, em virtude da centralização das decisões e dos 
investimentos econômicos nas metrópoles do planeta.
Estas cidades-mundo, cosmopolitas e globais, concentram os serviços 
administrativos e financeiros, bem como a produção de conhecimento e de 
alta tecnologia. Assim, elas atraem, ao mesmo tempo, trabalhadores migrantes 
altamente qualificados, bem como aqueles migrantes sem qualificação, uma 
vez que nelas há um grande leque de oportunidades econômicas, mesmo que 
estas estejam associadas ao trabalho mal remunerado, informal ou temporário. 
Segundo a Organização Internacional para as Migrações – OIM da ONU, as 
cidades-mundo, cosmopolitas e globais, se destacam no contexto atual 
devido à grande importância que possuem em relação aos assuntos sociais 
e econômicos e na configuração das rotas de migração, tanto internacional 
quanto nacional. Diante desse cenário, exige-se uma atenção maior sobre a 
questão por parte dos formuladores de políticas públicas, dos profissionais do 
planejamento urbano e dos estudos acadêmicos sobre as migrações, uma vez 
que elas produzem impactos positivos e negativos nas cidades receptoras-
acolhedoras dos migrantes. 
Ao longo século XX, especialmente a partir da década de 1950, os países 
de industrialização tardia experimentaram o mesmo fenômeno ocorrido na 
Europa no século XIX – migração interna provocada pelo grande deslocamento 
populacional do campo para a cidade, com consequente agravamento da 
questão social e urbanização desordenada. No Brasil, por exemplo, o fluxo 
migratório interno rumo às cidades ocorreu, principalmente, entre as décadas 
de 1950 e 1980, quando mais da metade da população passou a residir em 
áreas urbanas em todas as regiões do país. 
Acesse o espaço de Leitura Complementar na 
sua Sala de Aula Virtual e conheça os fluxos 
migratórios internos no Brasil e os fluxos 
migratórios externos na atualidade.
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
Taxa de Urbanização das Regiões Brasileiras (IBGE)
Região 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007 2010 
Brasil 31,24 36,16 44,67 55,92 67,59 75,59 81,23 83,48 84,36 
Norte 27,75 31,49 37,38 45,13 51,65 59,05 69,83 76,43 73,53 
Nordeste 23,42 26,4 33,89 41,81 50,46 60,65 69,04 71,76 73,13 
Sudeste 39,42 47,55 57 72,68 82,81 88,02 90,52 92,03 92,95 
Sul 27,73 29,5 37,1 44,27 62,41 74,12 80,94 82,9 84,93 
Centro-Oeste 21,52 24,38 34,22 48,04 67,79 81,28 86,73 86,81 88,8
Fonte: educação.globo.com
Juntamente com o processo de industrialização, especialmente concentrado 
na região Sudeste do Brasil, a migração campo-cidade, também conhecida 
como êxodo rural, se acelerou; junto com ela o fluxo migratório interno se 
intensificou e a ocupação das cidades ocorreu de forma desordenada, uma 
vez que a massa de migrantes campo-cidade foi absorvida sem que houvesse 
um planejamento urbano estruturado para receber os novos moradores das 
cidades. Atualmente, no Brasil, a porcentagem da população que habita as 
áreas urbanas já se aproxima de 90%. 
O processo de urbanização acelerada e desordenada trouxe com ele uma série 
de problemas socioambientais para as cidades brasileiras, especialmente para 
os grandes centros urbanos que passaram por um processo de metropolização. 
Tal fenômeno acentuou no contexto urbano as desigualdades, visibilizou 
os contrastes, as contradições e os conflitos sociais, além de desencadear 
problemas tais como, violência urbana, habitações precárias, poluição e 
degradação ambientais:
A violência urbana 
É um fenômeno complexo e pode possuir múltiplas causas, dentre elas a elevada concentração 
demográfica associada à segregação social, econômica e espacial; a ausência de oportunidades, 
o desemprego e a baixa oferta de emprego qualificado; o agravamento da questão social, que 
implica concentração de renda, ampliação das desigualdades e exclusão socioeconômica; a 
ausência de políticas públicas e de acesso a bens e serviços; a negação e/ou violação de diretos; 
a degradação socioambiental. 
A precarização das habitações e a favelização nas áreas urbanas
Ocorrem desde meados do século XX; porém, esse processo foi intensificado com o fluxo 
migratório interno rumo às cidades a partir da segunda metade do século XX. Nascidas das 
ocupações das encostas, morros, mangues, prédios abandonados e terrenos baldios ou 
alagadiços, as favelas, as habitações precárias e as provisórias erigem-se diante da ausência 
de planejamento urbano; da falta de política habitacional para a população de baixa renda 
ou de sua insuficiência; da mercantilização do território urbano e consequente segregação 
socioespacial. Em suma, é uma consequência da própria questão social, produtora e reveladora 
das desigualdades socioeconômicas.
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A degradação socioambiental urbana 
Decorre da produção industrial e da grande circulação de automóveis que impactaram 
consideravelmente a poluição do ar; da impermeabilização do solo pelo asfalto, do desmatamento 
e da redução das áreas verdes que contribuíram para que as enchentes se tornassem frequentes. 
O esgoto e o lixo, tanto residencial quanto industrial, provocaram a poluição e a morte de rios e 
córregos urbanos, além de contaminarem nascentes e lençóis freáticos. O excesso de imagens, 
luzes e ruídos, ou seja, a poluição visual e a sonora contribuem, juntamente com a poluição 
atmosférica, para o adoecimento físico e psíquico dos indivíduos. 
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O rápido processo de urbanização em nosso país, decorrente do intenso 
processo de migração campo-cidade, não foi acompanhado, com a mesma 
intensidade, por políticas públicas promotoras de acesso a serviços e direitos, 
a oportunidades econômicas e a inclusão social para as pessoas, fato que 
contribuiu para gerar tais mazelas. Problemas semelhantes ocorreram, e 
ainda ocorrem, em vários países de industrialização/modernização tardia, os 
denominados países do Sul. 
No entanto, os fluxos migratórios, que impulsionaram o processo de 
urbanização e metropolização, provocaram transformações nas cidades, 
nos estilos e formas de vida de seus moradores, nas instituições sociais 
contemporâneas e nas relações sociais entre os indivíduos. 
Leia a entrevista com Sérgio Adorno que trata de reflexões sobre a 
violência e a intolerância na sociedade brasileira.
http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/102026/103981
saiba mais?
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
A confluência de gentes, de cores, de odores, de sabores, de sonoridades, 
de gestos, de estéticas, de línguas, de crenças, de ideias é propícia para os 
fenômenos de transculturação ou de hibridação cultural. Esses entrelaçamentos 
da Era Planetária, suscitados pelos interesses econômicos dos processos de 
globalização que dinamizam os fluxos migratórios, também possuem seu viés 
positivo no curso das transformações sociais contemporâneas. 
Os estudos sobre migrações internacionais trabalham com o conceito 
de comunidade transnacional ou transnacionalismo e o conceito de 
transmigrante.
A ideia de uma comunidade transnacional foi elaborada a partir das relações 
que os imigrantes estabelecem com a sua comunidade/localidade de origem 
e, mesmo, com outras comunidades; não importando qual seja a distância 
geográfica ou as fronteiras internacionais, os relacionamentos se intensificam 
em escala planetária. 
Nesse sentido, os imigrantes são transmigrantes, uma vez que eles mantêm 
e promovem vínculos entre as distintas comunidades, a de origem e a atual. 
Influenciados pela cultura e pelas instituições das cidades/sociedades que 
os acolheram, os transmigrantes influenciam suas comunidades de origem, 
modificando-as. 
Eles não estão desenraizados, circulam, mesmo que virtualmente,entre 
fronteiras, entre sistemas sociais, culturas e realidades distintas. 
O transnacionalismo se concretiza por meio das relações sociais regulares 
que os transmigrantes estabelecem ao longo do tempo, pelas fronteiras 
internacionais, com sua comunidade de origem, seja pelas remessas 
financeiras, mas, especialmente, pelas remessas sociais. Influencia a sua 
comunidade de origem com novas ideias, comportamentos, práticas sociais 
e identidades culturais distintas que impactam e modificam as relações 
familiares, entre os gêneros, as classes sociais, bem como influenciam o 
comportamento político, a moral, os valores do grupo.
Os fluxos migratórios, contudo, movem-se de acordo com as contradições 
socioeconômicas e socioespaciais; migra-se de um hemisfério a outro, de um 
continente a outro, de um país a outro, de uma região a outra, ou ainda dentro 
de uma mesma cidade ou área metropolitana – são as migrações intraurbanas, 
também provocas pelas disparidades locais e desigualdades sociais.
Logo, as migrações internas ou externas, enquanto processo social, têm 
ocorrido ao longo do tempo devido às desigualdades verificadas no mundo. 
Assim, o principal fator dos deslocamentos humanos deve-se à questão social, 
que concentra e monopoliza a riqueza em determinadas regiões e classes 
sociais, enquanto que nas outras regiões e classes desfavorecidas prevalece a 
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ausência de oportunidades, os entraves às mudanças, a escassez e a pobreza. 
As contradições do capitalismo promovem, dessa forma, os mecanismos de 
inclusão e exclusão social.
Nesse processo, especialmente as cidades-mundo, metrópoles cosmopolitas 
e globalizadas, atraem para si os migrantes internos e externos. A ocupação 
dos territórios dessas cidades obedece à lógica da segregação socioespacial, 
neles acomodam-se as múltiplas comunidades étnicas, culturais ou 
regionais, geralmente formadas por migrantes nacionais e estrangeiros, que 
se deslocaram de suas localidades originárias em busca de oportunidades 
econômicas, principalmente. 
Em Os estabelecidos e os outsiders, o sociólogo Norbert Elias, ao estudar a 
ocupação dos bairros de uma cidade inglesa por migrantes e forasteiros, 
identificou que o grupo definido como os estabelecidos, moradores que viviam 
há mais tempo nos bairros e mantinham laços entre si, tratavam com hostilidade 
os novos habitantes, os outsiders, ou seja, aqueles que eram de fora. 
Geralmente vistos como uma ameaça pelos moradores estabelecidos, os 
outsiders sofrem com a estigmatização, o preconceito, a segregação e a 
xenofobia, que atuam como mecanismos de exclusão. 
Segundo Elias (2000), os próprios indivíduos dos grupos vindos de fora 
acabam internalizando a imagem depreciativa atribuída pelos estabelecidos, 
agravando, assim, o sentimento de inferioridade e a exclusão social dos outsiders. 
Nesse contexto, marcado pela violência simbólica, os atos de vandalismo e 
delinquência podem eclodir e agravar ainda mais a violência urbana. 
Frente aos conflitos e aos mecanismos de segregação socioespacial, 
formam-se bairros chineses, comunidades bolivianas, zonas de comércio 
árabes, bem como surgem aglomerações com habitações precárias em 
terrenos invadidos ou moradias provisórias em prédios ocupados. Além 
do caráter multicultural e pluriétnico dessas cidades, as desigualdades 
A  segregação socioespacial 
refere-se à periferização ou 
marginalização de determinadas 
pessoas ou grupos sociais por 
fatores econômicos, culturais, 
históricos e étnicos no espaço 
das cidades. 
O conceito de violência simbólica foi elaborado 
pelo sociólogo Pierre Bourdieu com a finalidade 
de elucidar as relações de dominação, que não 
pressupõem a violência física ocorrida entre as 
pessoas e entre os grupos na sociedade. A violência 
simbólica descreve o processo pelo qual a classe ou 
o grupo dominante impõe sobre o outro a sua visão 
de mundo, os seus valores e as suas formas de viver. 
É um tipo de violência exercida, em parte, com o 
consentimento de quem a sofre e que ocorre por meio 
da estigmatização, da inferiorização e da segregação.
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
econômicas, a estigmatização das minorias, as dificuldades de acesso aos 
bens e serviços essenciais e a negação ou violação dos direitos acabam 
estimulando os movimentos sociais e os ativismos urbanos.
As contradições do sistema capitalista, agravadas pela questão social, 
aprofundam as desigualdades e acabam por ferir os princípios de igualdade 
em uma sociedade democrática, logo, nem o Estado, tampouco os governos 
conseguem assegurar para todos os mesmos direitos. Diante disso, os grupos 
minoritários, os desfavorecidos economicamente, aqueles que têm seus 
direitos não assegurados encontram no ativismo político e nos movimentos 
sociais um espaço de luta em defesa de seus direitos e de mudança.
Movimentos de moradia, organizações de defesa dos imigrantes, coletivos 
pelo direito à cidade, frentes solidárias de apoio aos refugiados, grupos de 
proteção das áreas verdes e nascentes de rios urbanos, associações contra 
as remoções de favelas, entre muitos outros, formam o conjunto de novos 
movimentos sociais que atuam no contexto urbano defendendo causas 
específicas, porém com um objetivo comum: o de promover transformações 
na sociedade e nas suas instituições por meio de ações políticas concretas e 
diretas – um outro mundo é possível. 
Nesse contexto efervescente das cidades-mundo, nas quais eclodem 
inúmeros ativismos e movimentos sociais, múltiplos pertencimentos e diversas 
identidades contribuem para colorir ainda mais o tecido complexo das relações 
sociais no século XXI. É sobre eles que trataremos a seguir.
Leia o artigo “Refugiados” que trata a outra face das migrações ou 
deslocamentos forçados.
http://www.acnur.org/portugues/quem-ajudamos/refugiados/
saiba mais?
Fonte: EBC
NÃO ÀS REMOÇÕES: 
MANIFESTAÇÃO DE 
MORADORES E AMIGOS 
DAS COMUNIDADES 
CARIOCAS AMEAÇADAS 
DE REMOÇÃO PELO 
PODER PÚBLICO, RIO DE 
JANEIRO-RJ
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
28
Cultura Contemporânea, 
Pertencimentos e Identidades:
o local e o global, etnicidades, 
minorias e diversidades
As transformações sociais e as dinâmicas culturais estão presentes na nossa 
discussão e têm guiado nossas reflexões desde a primeira Unidade. Vimos que 
elas contribuíram para a consolidação do Estado-nação moderno juntamente 
com a emergência do sistema capitalista e do conjunto de modificações 
ocorridas nos últimos cinco séculos de história. 
Enquanto instituição social, o Estado-nação consolidou o conceito de identidade 
nacional e de cidadão frente aos estrangeiros, ou seja, aos considerados de 
fora. Erigiram-se fronteiras, limitaram-se os territórios, teceram-se identidades 
nacionais por meio da cultura e da educação. Assim, as Ciências Sociais, no 
amplo sentido, preocuparam-se em pensar a educação nacional, a cultura 
nacional, a economia nacional, a política nacional.
Esse modelo de administração política [Estado-nação], 
que teve início com a modernidade e foi responsável 
pelo desenvolvimento do capitalismo, espalhou-
se pelos diversos continentes. [...]. A identidade dos 
cidadãos com a nação floresce graças às políticas 
culturais e educativas que afirmam e oficializam a 
unidade linguística da nação e criam um imaginário 
comum que os aproxima. É a cultura nacional que se 
impõe, enfraquecendo as diferenças regionais (COSTA, 
2010, p.260).
Ao longo do século XX, o desenvolvimento das Ciências Sociais acompanhou 
o processo de transformação sociocultural, ou seja, as mudanças geradas 
com a industrialização, a urbanização, o avanço dos meios de comunicação, 
a internet e a globalização que modificaram plenamente as sociedades, 
aproximando-as, misturando-as, interligando-as em um grande sistema-
mundo e fazendo-as participar dos mesmos processos globais. Dessa 
forma, a Antropologia e a Sociologia depararam-se com novasrealidades 
em decorrência da complexidade sociocultural, o que levou os cientistas 
sociais a estudarem o multiculturalismo e a sociodiversidade em uma 
sociedade mundializada.
Nesse cenário, a ideia de uma cultura nacional, local e tradicional se depara 
com as transformações socioculturais decorrentes da globalização marcadas, 
ao mesmo tempo, pelas forças da homogeneização cultural, por um lado, e 
pela mistura, confluência e multiculturalidade, por outro. 
T4
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
A Era Planetária, como a definiu Morin (2005), apresenta sua pior face: destrói 
as singularidades das culturas locais ou de povos nativos, homogeneíza os 
hábitos e os costumes nos quatro cantos do mundo por meio do consumo de 
produtos culturais padronizados. Por outro lado, exibe o que tem de melhor: 
entrelaça povos, conhecimentos, saberes, práticas e técnicas ao romper os 
limites das fronteiras étnicas, religiosas e nacionais, o que tem contribuído 
para dissolver determinadas formas de incompreensão entre indivíduos, 
povos e culturas. 
Segundo Costa (2010), nessa interface entre padronização e diferenciação 
em um mundo globalizado agrava-se a crise de identidade dos indivíduos, 
fazendo-os aderir mais rapidamente a novos grupos e a movimentos sociais 
que lhes garantam um sentimento de pertencimento. Emergem novos 
movimentos que se agrupam em torno de determinadas causas vinculadas 
às questões de identidade e pertencimento grupais. Assim, minorias étnicas, 
“raciais”, de gênero, entre outras, constituem-se enquanto movimentos 
ativistas, multiplicam-se os grupos defensores de causas sociais específicas. 
Na relação entre o global e o local eclodem as tensões e os conflitos, mas 
também se articulam novas formas de cooperação e de lutas sociais. É preciso 
saber lidar com as ambivalências e compreender as contradições para poder 
desvendar as dinâmicas socioculturais da sociedade contemporânea. 
O Local e o Global
Nos últimos cinco séculos os Estados nacionais emergiram e se consolidaram, 
com eles as culturas nacionais se destacaram, tornaram-se hegemônicas e 
forjaram as identidades nacionais. O processo histórico de formação dos Estados 
nacionais modernos e de suas respectivas identidades nacionais constituiu-se 
por meio de um processo marcado pela dominação, pela exploração, pelo 
uso da força e da imposição de uma cultura sobre as outras. Buscou-se por 
meio da unificação da língua, dos hábitos, dos costumes, das crenças, das 
festas, das datas comemorativas e do sentimento de pertencimento a uma 
nacionalidade apagar a diversidade étnico-cultural presente no interior dos 
limites do Estado-nação. Assim, nos tornamos brasileiros.
Segundo Costa (2010), especialmente nas últimas décadas do século XX, a 
importância dos Estados nacionais, enquanto referência nacional-identitária, 
ou seja, enquanto base para o nacionalismo e para a identidade cultural de 
um povo-nação, começa a enfraquecer mediante as transformações globais 
provocadas pela descolonização, pelo neoliberalismo, pelas migrações e pela 
própria globalização: 
[...] a descolonização do mundo, que deu novo alento aos 
grupos étnicos e às culturas nativas; o neoliberalismo, 
que privilegiou os interesses do mercado sobre os 
protecionismos nacionais; a intensa migração dos povos 
pelo mundo; e a globalização, que acelerou a troca de 
informações, mercadorias e mensagens entre as nações 
(COSTA, 2010, p.261).
Fonte: forensicmag
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Esses acontecimentos contribuíram para afrouxar os sentimentos de 
pertencimento a uma cultura nacional, como elemento balizador da identidade 
dos indivíduos. Uma multiplicidade de sentimentos de pertença e identidade 
ganhou força revelando a pluralidade de culturas no interior da cultura nacional. 
No fluxo dessas transformações, denominadas por muitos autores de pós-
colonialismo e pós-nacionalismo, há um movimento de descolonização ou 
decolonização do pensamento, dos modelos de sociabilidade, da cultura e das 
relações de poder que valoriza e fortalece as identidades étnicas, os múltiplos 
pertencimentos minoritários e as culturas locais. Ao mesmo tempo uma 
cultura nova, de âmbito mundial, se espraia para além das fronteiras tecendo 
identidades/pertencimentos globais. “De um lado, reforça-se o localismo; de 
outro, o cosmopolitismo (global)” (COSTA, 2010, p.261).
A presença de uma cultura global e cosmopolita se fortalece, especialmente, 
nas cidades densamente povoadas – as cidades-mundo. As grandes 
metrópoles passam a ser os polos promotores e difusores das trocas 
econômicas e culturais; nelas as novas gerações assumem estilos e modos 
de vida cosmopolitas, globais, marcados pela hibridação cultural.
Descolonizar ou decolonizar não deve ser confundido com o mero processo de deixar de 
ser colônia, de deixar de ser um país ou território colonial. Mais do que isso, é o processo de 
decolonialidade (descolonialidade) segundo a cientista política brasileira Luciana Ballestrin 
(2013), que remete ao que ela denomina de giro decolonial: “O giro decolonial procura responder 
às lógicas da colonialidade do poder, ser e saber, apostando em outras experiências políticas, 
vivências culturais, alternativas econômicas e produção do conhecimento obscurecidas, 
destruídas ou bloqueadas pelo ocidentalismo, eurocentrismo e liberalismo dominantes. Concebe 
a importância da interação entre teoria e prática, buscando dialogar com a gramática das lutas 
sociais, populares e subalternizadas dos povos que compuseram e compõem a invenção da 
ideia de América Latina.” 
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BRÔ MC’S, BANDA INDÍGENA DE RAP, QUE MISTURA 
O RAP NORTE-AMERICANO COM LETRAS EM GUARANI. 
AS COMPOSIÇÕES RELATAM OS PROBLEMAS 
ENFRENTADOS PELOS GUARANI KAIOWÁ.
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
Porém, a globalização atinge a todos de forma diferenciada. Enquanto 
para uns a integração dos mercados, as novas tecnologias virtuais e o 
cosmopolitismo da cultura propiciam status, renda, trabalho e inclusão 
sociocultural, para outros as consequências desse processo são nefastas. 
Indivíduos, grupos e localidades sofrem com o desemprego, com a falta 
de oportunidades e de acesso ao conhecimento que ampliam a exclusão 
e a segregação.
Nesse contexto, os fluxos migratórios avançam, grandes contingentes 
de pessoas se deslocam pelo planeta em direção, especialmente, às 
cidades-mundo cosmopolitas, centros da globalização, em busca de uma 
vida melhor e de oportunidades. As pessoas e as culturas se misturam, 
mas também se atritam. Esse encontro entre diferentes povos e culturas, 
segundo Costa (2010, p.311), “vem causando grandes conflitos étnicos e 
culturais e, ao mesmo tempo, cria grupos que vivem nas fronteiras entre 
duas identidades diferentes, a do lugar de origem e aquela que começa 
a se desenvolver na sociedade receptora”.
Além das identidades transnacionais que se constituem nas comunidades 
formadas pelos transmigrantes, ou seja, pelos estrangeiros que migraram 
de sua terra natal para outros países.
Novas demandas identitárias eclodem no interior de um povo-nação, etnias 
reivindicam o binacionalismo ou até mesmo o plurinacionalismo, ao mesmo 
tempo que se miscigenam línguas e traços culturais.
Binacionalismo: Estado-nação constituído por dois povos etnicamente distintos que 
reconhece e assegura o direito de ambos os povos ao seus idiomas, culturas e tradições. 
Para determinados autores, o binacionalismo poderia ser uma saída pacífica para a 
formação do Estado binacional Israel-Palestina. Acreditam que assim seria possível garantir 
a coexistência de ambos povos e suas respectivas culturas e tradições em um mesmo 
território.
Plurinacionalismo: o reconhecimento de várias etnias com seus respectivos idiomas, 
culturas e tradições como povos constituintes de um único Estado-nação, ou seja, de um 
Estado plurinacional. Em 2009, a Bolívia, em novaConstituição, refundou-se enquanto 
Estado plurinacional e intercultural. As várias etnias, com suas respectivas línguas, culturas 
e tradições passaram a integrar um único Estado, porém com autonomia reconhecidas 
e garantidas pela Constituição. Cerca de 65% da população da Bolívia é constituída por 
povos indígenas, especialmente quéchua e aymará, ao todo são 36 etnias no país.
No Brasil, ganham destaque na sociedade as nomenclaturas que garantem 
reconhecimento da pluralidade de identidades e de pertencimentos a 
determinados grupos sociais como os afro-brasileiros, os quilombolas, 
os guaranis e demais etnias indígenas, os que se denominam periféricos, 
Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 
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as pessoas LGBTI+, entre outros. Enfim, uma diversidade de grupos que 
buscam, por meio da força aglutinadora das identidades e dos sentimentos 
de pertencimento grupal, reconhecimento, espaço e autoafirmação em um 
mundo cambiante, ou seja, em permanente transformação. A busca por uma 
identidade convive com novas formas de sociabilidade.
Etnicidades, Minorias e Diversidades
Na contemporaneidade, as identidades formatadas pela nacionalidade 
cedem lugar para a tessitura de múltiplas identidades, ou seja, identidades 
e sentimentos de pertença associados ao grupo étnico, ao gênero, à 
sexualidade, entre outras. Stuart Hall (2006) afirma que vivemos em uma 
época na qual a fragmentação identitária é uma realidade, em um tempo em 
que tudo parece ser movente, cambiante e flexível, o que não significa que 
as antigas identidades nacionais eram estáveis, uma vez que as identidades 
são produzidas em contextos socioculturais dinâmicos. 
Ainda segundo Hall (2006), a identidade em uma sociedade pós-moderna é 
formada e transformada continuamente, os indivíduos assumem identidades 
distintas em diferentes fases da vida. 
LGBTI+ sigla para designar Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais 
/ Transgêneros / Travestis, Intersexuais e o sinal de + representa 
outras orientações sexuais.
Assista ao vídeo “Identidade Periférica”, do Observatório da Criança e 
Adolescente (OCA), e conheça a estratégia de como uma periferia buscou 
o seu reconhecimento, espaço e autoafirmação em um mundo em 
permanente transformação.
https://www.youtube.com/watch?v=qM8FojOzsi4
Além disso, confira a entrevista com a professora Luciana Ballestin, cedida 
à IHU On-line (GALLAS; MACHADO, 2013), que procura esclarecer a ideia de 
decolonialidade (ou descolonidade), que permanece operando ainda nos dias 
de hoje em um padrão mundial de poder. 
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view
=article&id=5258&secao=431
saiba mais?
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
A identidade está sempre em construção, é inacabada, nunca está concluída. 
Assim, não cabe afirmar que a identidade é algo estático, que se constitui 
de forma imutável. 
Nesse sentido é que os sentimentos de pertença a determinados grupos 
étnicos e culturais são resultantes do processo ativo de construção permanente 
das identidades. Em suma, o processo identitário é um elemento constitutivo 
da dinâmica social que interfere na construção das etnicidades, dos gêneros, 
das sexualidades e das expressões culturais gerais de um grupo.
Poutignat e Streiff-Fenart (1998) afirmam que a etnicidade não é adquirida no 
nascimento, tampouco se resume a um conjunto de padrões culturais transmitidos 
de geração para geração como as crenças, os valores, os símbolos ou o idioma. A 
etnicidade é dinâmica, sofre transformações como a cultura; assim, o sentimento 
de pertença a uma identidade étnica é determinado por um processo relacional, 
ou seja, reconhecer o pertencimento a determinada identidade étnica implica 
reconhecer a existência de outros grupos distintos ou diferentes. 
Nas últimas décadas, especialmente com a redemocratização do país nos anos 
80, ganharam espaço e destaque no Brasil inúmeros movimentos regidos pela 
força aglutinadora da identidade étnica, como aqueles que se identificam com 
as causas das comunidades indígenas, negras e quilombolas, por exemplo. 
O movimento negro, que possui um longo histórico de luta e está relacionado 
com as origens dos quilombos formados ainda no período colonial como 
territórios de resistência à opressão e à escravidão, é um movimento complexo 
e plural que engloba inúmeros grupos, coletivos, organizações e pessoas que 
lutam contra o racismo, contra as muitas formas de discriminação, por direitos 
não efetivados na prática e por equidade para a população afrodescendente. 
As demandas do movimento negro estão relacionadas à identidade étnica 
e ao sentimento de pertença ao grupo.
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O mesmo ocorre com os movimentos quilombolas, com uma especificidade, 
lutam pelo reconhecimento de seus territórios como espaços vivos para 
preservação de suas tradições. Assim sendo, as comunidades quilombolas 
trazem consigo as marcas incontestes da resistência e da luta pelos direitos 
à cidadania, à posse da terra tradicional, aos bens imateriais e materiais de 
sua cultura e às formas de organização social e política de suas comunidades 
baseadas na identidade étnica.
Com os povos indígenas, não é diferente. A luta por demarcação das terras 
em todo o país não é recente, as ameaças à preservação de seus territórios 
são constantes, especialmente na Amazônia. Em outras regiões do país, 
muitos territórios indígenas estão reduzidos à área das aldeias, em virtude 
da invasão de suas terras pelo agronegócio. Segundo a Comissão Pró-Índio 
de São Paulo (2013), boa parte da população indígena vive nas cidades. E de 
acordo com o último censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro 
de Geografia e Estatística – IBGE em 2010, cerca de 325 mil indígenas moram 
em áreas urbanas. Em relação à educação, é garantido por lei uma educação 
bilíngue e intercultural, direito geralmente violado nas escolas das cidades. A 
luta pela garantia dos direitos dos povos indígenas nas cidades está também 
relacionada às questões identitárias e socioculturais. 
Em meio aos movimentos fundados nas etnicidades há também os movimentos 
identitários baseados nas questões de gênero e orientação sexual, como os 
movimentos feminista e o LGBTI+. Ambos são complexos e plurais, porém têm 
em comum a luta pela igualdade de gênero contra o machismo e o patriarcado, 
enquanto força simbólica e exercício do poder. 
O movimento feminista no Brasil é oriundo do movimento de emancipação 
feminina surgido na segunda metade do século XIX que reivindicava o 
direito à educação e à instrução para mulheres. Nas primeiras décadas do 
século XX, a luta se organizou em defesa do trabalho da mulher e do direito 
ao voto, conquistado pelas brasileiras em 1932. Porém, somente nos anos 
70, em virtude da modernização da sociedade e das transformações e da 
mudança de mentalidade, o movimento feminista no país ganhou novo 
impulso. Inúmeras bandeiras foram levantadas pelas mulheres desde então: 
contra as formas de opressão e dominação masculina e patriarcal, contra 
a misoginia e a desigualdade de gênero, pelo controle das mulheres sobre 
sua própria sexualidade e reprodução, pela descriminalização do aborto, 
pela igualdade de direitos e contra a violência doméstica. 
Leia o artigo “São Paulo encurrala os índios 
guarani que ainda resistem na cidade”, do jornal 
El País, que trata da população indígena que 
luta para que suas terras sejam demarcadas. 
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/01/
politica/1504276246_722967.html
saiba mais?
Assista ao vídeo “Igualdade de Gênero” que 
ressalta a importância de se construir uma 
cultura de mais igualdade, mais direitos mais 
oportunidades para todos e todas.
https://www.youtube.com/watch?v=ZCGLC-
vziRc
saiba mais?
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Unidade 02 Sociedade e Cultura: sociodiversidade e multiculturalismo
Também foi a partir dos anos de 1970 que os movimentos baseados na 
identidade sexual e afetiva,

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