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BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO Título IV – Do Concurso de Pessoas CONCURSO DE PESSOAS Art. 29º CP: Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. Todos aqueles que ajudarem, conciliarem, contribuírem ou colaborarem, incidem nas penas a ele consignadas, na medida de sua culpabilidade. Nota-se que fala no crime no singular. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe- á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Exemplo: Duas pessoas combinam de assaltar uma casa, imaginando que esta está sem ninguém. Um fica vigiando enquanto o outro entra. O que entrou encontrou uma mulher dentro da casa e a estuprou. O que vigiou (concorrente) não responde pelo estupro. Adequação típica de subordinação mediata, por extensão ou ampliada. Na adequação típica de subordinação imediata o fato se enquadra na norma penal sem que seja necessária outra disposição. Na mediata, o fato não se enquadra imediatamente na norma penal incriminadora considerada, necessitando para isso do concurso de outra disposição. Exemplo: Y entra em propriedade alheia para furtar, enquanto X vigia. A conduta do Y se encaixa no tipo penal de subtrair coisa alheia móvel (art. 155 CP). A conduta do X de vigiar não está escrita na lei. Pelo princípio da legalidade ele responderia por nenhum fato, porém nesse caso há legis (art. 29 CP). Natureza jurídica do concurso de pessoas: a) Teoria unitária ou monística: Unidade de crime e pluralidade de agentes. Todos que contribuem para a integração do delito cometem o mesmo crime. É corolário da teoria da equivalência das condições (CP, art. 13), não faz ela qualquer distinção entre autor, co-autor e partícipe. Todos os que concorrem para o crime são autores dele. Teoria adotada pelo código penal. Um só crime, pluralidade de agentes que não respondem igualmente. Pluralidade de penas, cada um responde na medida da reprovabilidade individual de sua conduta (culpabilidade). BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO b) Teoria dualística: Há dois delitos, um para os autores e outro para os partícipes. c) Teoria pluralística: Pluralidade de pessoas e de crimes. Requisitos do concurso de pessoas: a) Pluralidade de pessoas e de conduta; Exemplo: Homicídio, pode haver uma ou mais pessoas. Delito de concurso necessário é diferente pois exige-se mais de uma pessoa para ocorrer, como a bigamia. b) Relevância causal de cada uma: A participação deve ter contribuído; c) Liame subjetivo: Vinculo, ligação, convergência de vontades, unidade de desígnios (vontade); Princípio da convergência, os participantes devem atuar com vontade homogênea (crimes dolosos), no sentido de todos visarem a realização do mesmo tipo penal. Exemplo: X, Y e Z planejaram e realizaram suas condutas com consciência e vontade, objetivando a concretização de um resultado comum. Houve convergência de vontades em prol de algo comum pretendido (resultado). - Não se exige o prévio acordo entre os agentes, apenas uma adesão de vontade. Exemplo: Empregada deixa a porta da casa dos patrões aberta de propósito para roubarem. Ela pode não ter furtado, mas facilitou o furto dolosamente. - Homogeneidade do elemento subjetivo. Dolo, dolo e dolo, todos com o mesmo propósito. - Não há participação dolosa em crime culposo. - Não há participação culposa em crime doloso. d) Identidade de infração para os participantes: Todos praticam o mesmo crime; Há casos de exceções pluralística da teoria unitária em que não há concurso de pessoas por faltar a identidade de infração para todos os participantes (unidade de crime). Exemplo: Gestante vai em clinica clandestina e o médico realiza o aborto. Médico e gestante “trabalham” juntos, com final pretendido por ambos. Entretanto são tipificados em artigos diferentes, art. 124 e 126, com penas e crimes diferentes. TEORIAS SOBRE AUTORIA Teoria objetiva-formal: Autor é aquele que realiza a ação típica, executa a ação conforme prevista no núcleo do tipo. Partícipe é aquele que, não executando diretamente o núcleo do tipo, apenas induz, instiga ou auxilia a sua realização, concorrendo, de qualquer modo, para o crime. Cria na mente do autor a ideia do crime, instiga ou auxilia dando informação por exemplo. Executou o tipo é autor, não executou é partícipe. BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO Teoria objetiva-material: Considera a maior gravidade da autoria, ou seja, em virtude da relevância da contribuição do autor em relação ao partícipe. Não se contenta com a mera remissão típica, lançando mão de critérios diferentes relativos ao sujeito. Executou o tipo é autor, não executou é partícipe, mas pode vir a ser autor se foi o “chefe”. Teoria objetiva-subjetiva ou do domínio do fato: Adotada no sistema penal brasileiro. Autor é aquele que tem o domínio final do fato. Partícipe não o tem. Tem o domínio do fato quem tem as rédeas da situação na mão, o poder de controle sobre a ação realizada. O domínio do fato se expressa no domínio da vontade (autor direto e mediato) e domínio funcional do fato (coautor). Na coautoria, o domínio do fato é comum a várias pessoas. Assim, todo coautor (que é também autor) deve possuir o co-domínio do fato – princípio da divisão de trabalho. Conceitos de autor: a) Objetivo-formal: Autor é aquele que realiza a ação típica, executa a ação conforme prevista no núcleo do tipo. b) Subjetivo de autor: Autor é aquele que age como se o fato fosse próprio e partícipe aquele que queira o fato como algo alheio, de outro. Exemplo: Um homem contrata outro para entrar e roubar uma casa e fica vigiando. Seu principal defeito é que não dá relevância à realização da conduta típica. Exemplo: O que vigia quem comandou o roubo, e o que roubou pode ter ficado com esse papel por ser menor, mais rápido e etc. Parte da teoria da equivalência das condições e, portanto, não vislumbra qualquer diferença objetiva entre as contribuições dos autores e dos partícipes. Aqui, a diferença entre autor e partícipe pode ser fixada apenas na esfera subjetiva. c) Finalista de autor (domínio do fato): Autor é todo aquele que tem o domínio finalista do fato (delito doloso). No caso de delito culposo, autor é todo aquele que contribui para a produção do resultado que não corresponde ao cuidado objetivamente devido. Todo aquele que participa da finalidade e toma parte na divisão de trabalho é coautor. Separa-se em termos conceituais a noção de autor e de executor. No caso, por exemplo, de autoria mediata, o autor não executa a tarefa, utiliza-se, para tanto, de outro. Tem-se como preferível a adoção de um conceito misto, sendo autor aquele que realiza a conduta típica, ou uma fração dela, complementado por um critério material, representado pelo conceito finalista de autor. Figuras de autoria: a) Autor direto ou imediato: É aquele que pratica o fato punível pessoalmente. Pode ser autor executor (realiza materialmente a ação típica) e autor intelectual (sem realizá-la de modo direto, domina-a completamente). BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO b) Coator: É aquele que realiza o delito juntamente com outros autores. Coautoria é a realização conjunta, por mais de uma pessoa, de uma mesma infração penal. É, em última análise, a própria autoria. A atuação consciente (liame psicológico) dá o caráter de crime único, por unir a todos em torno de um objetivo. c) Coautoria parcial ou funcional: Ocorre com a divisão de tarefas (funções), em que um dos criminosos realiza parte da conduta típica e o comparsa, a outra. Exemplo: Coautoria no roubo quando um dos envolvidos segura a vítima para que o comparsasubtraia a carteira dela. d) Autoria mediata ou indireta: Ocorre quando alguém, possuindo o domínio do fato, serve-se de terceiro que atua como instrumento (utilizando o inimputável, mediante coação moral irresistível, obediência hierárquica, erro de tipo/erro de proibição, ou servindo-se de pessoa amparada por causa de justificação). Pode resultar de menoridade penal; inimputabilidade por doença mental; obediência hierárquica; coação moral irresistível; erro de tipo ou de proibição escusável determinado por terceiro; utilização de terceiro amparado por causa de justificação (legítima defesa, estado de necessidade, etc.). TEORIAS SOBRE PARTICIPAÇÃO O agente não executa diretamente o núcleo do tipo, nem tem o domínio do fato (senão seria autor), mas apenas induz, instiga ou auxilia a sua realização (material, emprestando uma arma, casa e etc.), concorrendo, de qualquer modo, para o crime. É a colaboração dolosa em um fato alheio. Teoria adotada é a monística/unitária. Teoria dualista: Há dois delitos, um para os autores e outro para os partícipes Teoria pluralística: Pluralidade de pessoas e de crimes. Teoria causal: Não há diferença entre agentes principais e secundários (princípio da equivalência das condições antecedentes). O delito é consequência da ação de cada um e de todos, sem distinção objetiva. Todo aquele que ajuda causa o resultado. Teoria da acessoriedade: A participação é acessória de um fato principal. Os atos de participação não integram elemento algum de realização da figura típica e, portanto, não são puníveis por si mesmos, a sua punibilidade não pode deixar de ser uma acessão à punição do fato do autor ou executor. Art. 31 CP: O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO Classes da acessoriedade: a) Acessoriedade mínima: Basta que o partícipe concorra para um fato típico, ainda que este não seja antijurídico. Não adotada. Exemplo: Legítima defesa. b) Acessoriedade limitada: Há crime do partícipe se o fato for típico e antijurídico. c) Acessoriedade extremada: Só existe crime se o autor principal tiver cometido fato típico e antijurídico e desde que seja culpável. Não adotada. Exemplo: Maior de idade auxilia um menor de idade a matar alguém, o menor não é culpável e não responderá. d) Hiperacessoriedade: Para a punição do partícipe, é preciso que o autor seja culpável, que tenha cometido fato típico e antijurídico, e, ainda, que seja puní- vel. Não adotada. Espécies de participação: a) Moral ou intelectual: O agente se limita a induzir ou instigar alguém a cometer um crime. b) Material (cumplicidade): O agente presta auxílio ao autor do crime (atos preparatórios e executórios). Exemplo: Emprestar o dinheiro para a compra de remédio abortivo; vigiar o local do crime para o agente executar o roubo; aconselhar ou passar instruções ao autor. c) Participação por omissão: Quando uma pessoa que tem o dever jurídico de evitar o resultado, por exemplo um policial, toma ciência do cometimento de um crime por terceira pessoa e, podendo evitar‐lhe a execução ou seu prosseguimento, resolve nada fazer para que o crime siga seu curso. d) Conivência: Consiste na omissão voluntária de fato impeditivo do crime, na não informação à autoridade pública a fim de evitar seu prosseguimento, ou na retirada do local onde o delito está sendo cometido, quando ausente o dever jurídico de agir. AUTORIA E PARTICIPAÇÃO Concurso de pessoas em delitos omissivos: Delitos de dever não dão lugar ao concurso de pessoas (nem coautoria nem participação). Não é concebível que alguém omita uma parte enquanto os outros omitam o restante, pois o dever de atuar a que está adstrito o autor é pessoal, individual. Cada qual transgride seu particular dever ou obrigação. Exemplo: Se 50 nadadores assistem impassíveis ao afogamento de uma criança, todos ter-se-ão omitido de prestar-lhe salvamento, mas não comunitariamente. Cada um será autor do fato omissivo, ou melhor, autor colateral da omissão. Concurso de pessoas em delitos culposos: É admissível a coautoria em crimes culposos (doutrina majoritária). É impossível a participação nos delitos BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO desta natureza, pois toda e qualquer pessoa que tenha agido culposamente será tratada como autora do delito. Exemplo: O passageiro de um veículo incentiva o motorista a empregar velocidade excessiva e este, aceitando a sugestão, passa a dirigir de forma incompatível com o local, vindo a causar um atropelamento culposo em que a vítima morre. O motorista e o passageiro são coautores do delito porque os dois agiram de forma culposa contribuindo para o evento. A conduta do passageiro foi de incentivo ao excesso de velocidade. Agiu também com imprudência. Participação da participação: Ocorre quando uma pessoa induz ou instiga outra a, posteriormente, convencer ou auxiliar o executor a cometer o crime. Exemplo: João convence Pedro a induzir Antônio a matar Paulo. Antônio é autor do homicídio. Pedro é partícipe, e João é partícipe da participação. Autoria colateral: Ocorre quando os agentes, desconhecendo cada um a conduta do outro, realizam atos convergentes à produção do evento a que todos visam, mas que ocorre em razão do comportamento de um só deles. Inexiste vínculo subjetivo entre os agentes, não há concurso de pessoas. Exemplo: A e B, emboscados, um desconhecendo o comportamento do outro, atiram na vítima, que vem a falecer em decorrência do comportamento de um só deles (A). A realiza homicídio consumado e B tentativa de homicídio. Autoria incerta: Dá-se quando, na autoria colateral, não se sabe quem produziu o resultado. Ou seja, autoria incerta é espécie de autoria colateral. O CP não resolve o problema. Não são coautores (falta de vínculo subjetivo). Ambos respondem por tentativa de homicídio. Punição no concurso de pessoas: a) Princípio da culpabilidade: Cada um responde na medida da sua culpabilidade, de acordo com a reprovabilidade de sua conduta, que é mensurável. b) Princípio da individualização da pena: Cada um realiza a sua parte do injusto que é mensurável, e cada um tem suas condições pessoais (motivos, parentesco, capacidade, circunstancias e etc.). c) Princípio da proporcionalidade: A pena deve ser dosada na medida da culpabilidade de cada coautor ou partícipe, respeitando-se a proporcionalidade da reação penal à gravidade da conduta praticada. Unidade de crime não conduz à identidade de pena, não é porque todos respondem pelo mesmo crime que vão ter a mesma pena. Art. 29 CP: Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. Participação de menor importância: Causa de diminuição de pena, cujo objetivo é amenizar os efeitos causais da equiparação advinda da adoção da teoria da conditio sine qua non (todas as causas se equivalem). É decorrência lógica da orientação do caput do artigo 29, uma vez que os agentes devem responder na medida de sua culpabilidade. Participação mínima é a de leve eficiência causal, deve ser analisada caso por caso. O critério de redução é, quanto maior a contribuição para a execução do núcleo do tipo, menor a redução da pena e vice-versa. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe- á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Cooperação dolosamente distinta: Desvio subjetivo de conduta, suavização da teoria monística (equivalênciados antecedentes causais), ressaltando-se o caráter individual da culpabilidade. Dispositivo aplicável quando o autor principal cometer crime mais grave que o pretendido pelo partícipe. Exemplo: X contrata Y para ferir Z (convergência de vontade) só que Y resolve matar Z enquanto X permanece da vontade de apenas ferir. Já não há mais liame subjetivo. Os desvios subjetivos entre os participantes são regidos pela regra de que o instigador responde unicamente pela conduta realizada dentro da esfera de seu dolo. Quando o crime mais grave, embora não querido, é previsto e aceito pelo partícipe, responde por esse ilícito a título de dolo eventual. Exemplo: A determina B a espancar C. B age com tal violência que produz a morte de C. A responde por lesão corporal, cuja pena deverá ser aumentada até a metade se previsível o resultado. Mas se A tivesse assumido o risco da morte de C, ser-lhe-ia imputado o homicídio, a título de dolo eventual (não se importa do resultado, assume o risco de ocorrer). Art. 30 CP: Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Elementares são componentes fundamentais e essenciais do tipo. Comunicabilidade das condições e circunstâncias: As condições e circunstâncias de caráter pessoal não se comunicam entre os coautores ou partícipes. Assim, cada sujeito responderá de acordo com as suas condições (menoridade – menor de 21, reincidência, parentesco) e motivos (motivo fútil, de relevante valor social ou moral, de prescrição, etc.). BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO Requisitos: a) Não se comunicam as condições ou circunstâncias de caráter pessoal (de natureza subjetiva); b) A circunstância objetiva não pode ser considerada no fato do partícipe se não ingressou na esfera de seu conhecimento (dolo tem que abranger o todo, o objetivo final e modo de execução); Exemplo: Pessoas invadem casa e usam chave falta. Quem tinha conhecimento do uso dessa chave responde por furto qualificado. c) As elementares, sejam de caráter objetivo ou pessoal, comunicam-se entre os fatos cometidos pelos participantes, desde que tenham ingressado na esfera de seu conhecimento. Exemplo: O funcionário público conta com ajuda de um particular qualquer para esconder o que ele roubou no trabalho. Sua condição de funcionário público é uma condição pessoal, portanto seguindo o art. 312 do CP ele responde por peculato. “Funcionário público” nessa lei é elementar, portanto, a condição do funcionário público se comunica com a do particular qualquer, que deverá responder por peculato também seguindo a exceção art. 30 e a teoria unitária do art. 29 (todos respondem pelo mesmo crime, mesmo injusto culpável, mesmo injusto, mesmo fato típico, mesmo tipo e pelas mesmas elementares). Se ele não tivesse conhecimento não se comunicaria, responderia por furto. Art. 312 CP: Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio. Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
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